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Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem aula 6 a 10

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Aula 06 –  A Criança de Dois a Seis Anos
A 1ª Infância, denominada por Piaget de Estágio Pré-Operatório, tem como característica mais significativa o aparecimento da linguagem, que traz modificações nos aspectos afetivo e social da criança. A interação e a comunicação com o outro são, sem dúvida, as consequências mais evidentes da linguagem.
O desenvolvimento do pensamento se acelera em decorrência do aparecimento da linguagem. No início do período o pensamento não tem objetividade, a criança transforma o real em função dos seus desejos e fantasias (jogo simbólico). Mais tarde utiliza-se do pensamento para explicar o mundo ao seu redor, as suas próprias ações, seu eu e seus valores morais.
Inicialmente grande parte do repertório verbal da criança é usado de forma imitativa sem ter domínio do significado das palavras. Tem dificuldade de reconhecer a ordem em que mais de dois ou três eventos ocorrem, não possui o conceito de número. Tem dificuldade de trabalhar em grupo, por ainda estar centrado em si mesma, ocorrendo a primazia de seu ponto de vista. No final do estágio passa a questionar o porquê de tudo. Seu pensamento passa a se adaptar melhor ao outro e ao real.
No aspecto afetivo surgem os sentimentos interindividuais nutrindo respeito àqueles que julga superiores a ela, misturando amor e temor.
Com relação às regras, mesmo nas brincadeiras, Piaget a princípio concebe como algo a ser reproduzido e determinado externamente. Mais tarde elabora uma noção mais elaborada da regra, vendo-a como necessária para organizar suas atividades, porém não a discute.  
Na medida em que amplia seu domínio no mundo, a criança amplia seus interesses por diferentes atividades e objetos. Constrói uma escala de valores próprias, utilizando-a para avaliar suas ações.
Neste período a maturação neurofisiológica completa-se, permitindo o desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação motora fina: pegar pequenos objetos com as pontas dos dedos, segurar o lápis corretamente e conseguir fazer os movimentos exigidos pela escrita.
Desenvolvimento Biossocial
O cérebro, aos dois anos de idade, já alcançou 75% de seu desenvolvimento e aos sete anos está totalmente desenvolvido. Em consequência disto, várias áreas experimentam expansão, especialmente aquelas dedicadas ao controle e à coordenação do corpo, às emoções e pensamento. Assim, a criança reage com mais rapidez aos estímulos, bem como tem maior controle de suas reações.
Devido ao desenvolvimento do cérebro, as crianças da educação infantil mais velhas são melhores nos jogos que exigem raciocínio rápido seguido de uma ação deliberada, ou seja, primeiro têm que pensar para depois agir. O desenvolvimento do cérebro também permite que as crianças passem a enxergar bem melhor a partir dos 4 anos, permitindo melhorar a coordenação entre mãos e olhos.
Aos 5 anos, o corpo caloso conecta os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, tornando a comunicação entre eles mais eficiente, permitindo as crianças coordenar as funções que envolvem ambos os lados do cérebro e o corpo e também ações mais complexas.
Aos 5 anos a expansão do corpo caloso, do desenvolvimento do lobo frontal e outras mudanças qualitativas, permite a criança interligar a linguagem falada com a escrita. Neste período que antecede o aprendizado formal, ler em voz alta, contato com as letras, escrita, papel, lápis etc., são fundamentais.
Vale a pena ressaltar que as crianças entre 2 e 6 anos movimentam-se com maior velocidade e equilíbrio, sendo capaz de dirigir e aperfeiçoar suas atividades. Correr, subir, saltar, arremessar melhoram sensivelmente. As habilidades motoras finas como segurar o lápis ou amarrar o cadarço dos sapatos, melhoram nesta 1ª infância.
Desenvolvimento Cognitivo
Piaget destacou que as crianças na 1ª infância têm a capacidade de pensar simbolicamente. O pensamento simbólico se baseia no emprego de símbolos como palavras ou objetos para representar outros objetos, comportamentos, experiências. Elas não podem pensar operacionalmente, ou seja, não podem desenvolver um pensamento ou ideia de acordo com princípios lógicos. Isso se dá por vários motivos.
Tendência de focalizar o raciocínio em um único aspecto de uma questão com a exclusão dos demais.
A presença do egocentrismo, que faz da criança contemplar o mundo apenas sob sua perspectiva.
Foco na aparência com exclusão de outros atributos.
Tendência a serem estáticos no raciocínio, pensando que o mundo é imutável e permanece sempre no estado em que se encontra no presente.
Irreversibilidade, ou seja, não conseguem entender que a reversão de um processo traz de volta as condições que existiam antes que a transformação ocorresse.
Vygotsky considerava o desenvolvimento cognitivo um aprendizado, no qual as crianças adquirem habilidades cognitivas por meio da participação dirigida nas experiências sociais que estimulam o crescimento intelectual. Ele e outros teóricos socioculturais sustentam que o grau em que as crianças dominam as habilidades potenciais depende em grande parte da disposição e da capacidade das outras pessoas e da cultura para participarem da aprendizagem.
A habilidade da linguagem na 1ª Infância inclui a aprendizagem de 10.000 palavras ou mais. Enriquecem por demais seu vocabulário e evoluem no conhecimento das formas gramaticais básicas. O seu potencial de aprendizagem é significativo.
Desenvolvimento Psicossocial
O autoconhecimento ajuda as crianças a aperfeiçoar seu conhecimento social e seu relacionamento com o outro.
Elas começam a aprender a controlar suas emoções em relação a si, ao meio e ao outro. Aprendem as habilidades sociais por meio das interações, particularmente mediadas pelas brincadeiras. Os pais e educadores têm um papel fundamental nesse desenvolvimento, particularmente passando autoconfiança, elevando a autoestima, sendo afetuosos, estabelecendo limites razoáveis etc.
Entre dois e seis anos, as crianças começam adotar papéis de gênero.
“Cada uma das principais teorias tem uma explicação para as diferenças de gênero. Os teóricos da Psicanálise descrevem os temores e as fantasias que motivam as crianças a adorarem o genitor do sexo oposto e a se identificarem com o genitor do mesmo sexo. Os teóricos da aprendizagem enfatizam o reforço, a punição e a modelagem que são particularmente fortes para o sexo masculino. A teoria cognitiva tem como ponto de partida a ênfase no fato de que a compreensão da criança em idade pré-escolar se faz através de estereótipos simplificados. (...) A teoria sociocultural observa a abrangente influência dos padrões culturais. A teoria dos sistemas epigenéticos ressalta as tendências biológicas que são herdadas por meio de transmissão genética e explica de que maneira essas tendências podem afetar os padrões cerebrais da criança e outros aspectos do comportamento.” (BERGER, 2003, p. 190)
Caberá na educação da criança fortalecer, dirigir ou superar as influências e estereótipos que a biologia e a sociedade em geral, passam sobre diferenças de sexo e gênero, apesar das tendências inatas das crianças.
Exercício: Considerava o desenvolvimento cognitivo um aprendizado, no qual as crianças adquirem habilidades cognitivas por meio da participação dirigida nas experiências sociais que estimulam o crescimento intelectual. 
Resp: VYGOTSKY
Aula 07 –  Desenvolvimento Humano dos Sete aos Onze Anos – Parte I
Desenvolvimento Biossocial
A fase escolar, entre os sete e os onze anos de idade da criança, é uma época de novos desafios para elas, porque são os anos em que suas potencialidades e fragilidades estarão expostas no ambiente escolar dos primeiros anos do fundamental.
A maioria das crianças em idade escolar é bastante saudável. Em geral, nos países desenvolvidos, as crianças entre sete e onze anos são os seres humanos mais saudáveis de todos, com menor probabilidade de vir a falecer, de contrair doenças graves ou de sofrer lesões físicas.
Mesmo os acidentes e os maus tratos sérios, que são as principais causas de mortalidade e morbidezdurante esses anos, ocorrem muito menos do que nos anos pré-escolares ou na adolescência. Entretanto, as crianças se tornam mais conscientes de suas limitações e as dos outros.
A frequência escolar e o desempenho estável são aspectos importantes nesta fase, no sentido de tornar cada criança capaz de dominar o currículo básico. A prevenção destes problemas deve ser preocupação relevante de todo o educador. No Brasil este fato é prioritário, na medida em que as fases de idade posteriores têm sido vulneráveis ao abandono escolar.
Desenvolvimento das Habilidades
Toda habilidade motora envolve diversas aptidões, algumas exigindo apenas prática, outras envolvendo dimensões corporais, desenvolvimento cerebral ou talento. Por exemplo, o tempo de reação é um componente de diversas habilidades atléticas, mas as reações rápidas exigem um desenvolvimento mental que só é alcançado na adolescência.
A coordenação entre mãos e olhos, o equilíbrio e a noção de movimento são outras capacidades fundamentais que ainda estão se desenvolvendo durante os anos escolares. Crianças de doze anos são melhores que as de seis em todas essas aptidões.
No que se refere à diferença de gênero, um aspecto a ressaltar é o de que enquanto os meninos tendem a ter uma força maior nos braços, as meninas têm maior flexibilidade geral, por isso as meninas levam vantagem em esportes como ginástica e os meninos têm vantagem em futebol. Entretanto, na maior parte das atividades físicas não há fortes diferenças nesta faixa de idade.
Em relação aos aspectos culturais, a política nacional também afeta o desenvolvimento das habilidades motoras. As diferenças hereditárias (diferenças genéticas) também são fundamentais. Algumas crianças, por mais que tentem, nunca conseguem arremessar nem chutar uma bola com força e precisão quanto outras, fato que os pais, os professores, os treinadores e os companheiros de equipe às vezes esquecem.
Os programas esportivos precisam incluir todos, talentosos ou não, para que as crianças vivam com alegria, sejam meninos ou meninas, gordos ou magros, talentosos ou desajeitados. O mesmo é válido para as habilidades finas. Algumas crianças escrevem naturalmente com mais capricho do que outras, e essas são as crianças com menos habilidades naturais.
Os adultos precisam proporcionar motivação e tempo extra para as crianças com menos habilidades naturais.
Para a verificação do desenvolvimento cerebral durante os anos escolares, geralmente são utilizados testes de aptidão que focalizam o uso da linguagem, a capacidade de raciocínio e a memória.
Esses testes são medidas de desempenho que é definido como o comportamento que um sujeito apresenta em circunstâncias reais e que é possível ser medido. A aptidão, que é definida como potencial inato para a aprendizagem, geralmente é medida por testes de inteligência, os denominados testes de QI (quociente de inteligência). Tais testes são utilizados na previsão do desempenho escolar. Por exemplo, uma discrepância de dois anos entre a aptidão e o desempenho é um indicador de que existem problemas de aprendizagem.
Gardner criou a teoria das inteligências múltiplas na qual descreveu, inicialmente, sete inteligências distintas e, posteriormente, acrescentou mais uma. Segundo o autor, toda pessoa pode ter aptidão básica para cada tipo de inteligência, mas cada um de nós é mais forte em algumas delas do que em outras.
Distúrbios de Aprendizagem
Os problemas de atraso no desenvolvimento cognitivo podem ocorrer de forma total ou parcial. Entre esses problemas temos a dislexia e a discalculia como veremos a seguir.
A dislexia é a dificuldade com a leitura. 
As crianças que apresentam dislexia parecem brilhantes e felizes durante os primeiros anos escolares, dão respostas espontâneas a perguntas às vezes difíceis, e realizam, normalmente, seus trabalhos. Entretanto, à medida que o tempo passa, fica evidente que estão lendo com grande dificuldade e por muitas vezes adivinham até mesmo palavras simples e explicam o que acabaram de “ler” falando sobre as figuras. Crianças com dislexia têm problemas de leitura e de escrita e, muitas vezes, também de aritmética, porque podem confundir acima e abaixo, esquerda e direita.
A dislexia pode fazer parte de uma deficiência de linguagem mais geral. Supõe-se que a maioria dos casos de dislexia são resultados de um problema neurológico no processamento dos sons e da fala.
A dislexia caracteriza-se por uma incapacidade de reconhecer que as palavras consistem de unidades menores de som, que são representadas por letras impressas.
Imagens cerebrais revelaram diferenças nas regiões cerebrais ativadas durante tarefas fonológicas em leitores disléxicos comparados com leitores normais. Em um desses estudos, para realizar tarefas linguísticas, meninos disléxicos utilizaram uma área cerebral cinco vezes maior que a utilizada por meninos que não sofrem de dislexia.
A discalculia é a dificuldade de fazer cálculos, ela é um distúrbio de aprendizagem muito frequente. Este distúrbio aparece, geralmente por volta dos oito anos, quando mesmo operações numéricas simples como 3+3=6 são memorizadas em um dia e esquecidas no outro.
Há, ainda, o transtorno de desenvolvimento pervasivo que se caracteriza por deficiência nas capacidades de comunicação e de interação social e pela presença de interesses e atividades repetitivos e estereotipados.
O transtorno de hiperatividade e déficit de atenção (TDAH) é aquele em que a criança tem grande dificuldade de se concentrar por mais de alguns instantes de cada vez e, na verdade, está quase constantemente em movimento.
Este distúrbio se caracteriza por persistente desatenção, distração, impulsividade, baixa tolerância à frustração e excesso de atividade no momento e no lugar errados, como por exemplo, na sala de aula.
Embora os sintomas possam diminuir com a idade, é comum que as crianças com TDAH sejam problemáticas para os adultos e rejeitadas pelos colegas. A medicação, a terapia psicológica e as mudanças nos ambientes familiar e escolar podem ajudar algumas crianças.
Crianças acometidas de TDAH costumam desviar o olhar, fazer perguntas irrelevantes, levantar-se para pegar um copo de água, sentar, agitar-se, contorcer-se, tamborilar na mesa, sacudir as pernas e levantar-se de novo, insistir que precisa ir ao banheiro se um adulto tentar contê-la. Muitas vezes essa necessidade de distração e diversão é acompanhada de excitação e impulsividade. A criança tem grande dificuldade de concentrar-se para ler e recordar uma passagem de um livro, por exemplo.
Aula 08 – Desenvolvimento Humano dos Sete aos Onze Anos – Parte II
Desenvolvimento Cognitivo
Nesta etapa da vida, as crianças fazem progressos constantes em suas habilidades de processar e de reter informações. Compreendem mais sobre como a memória funciona, e esse conhecimento permite a ela utilizar estratégias ou planos deliberados para ajudá-las a lembrar.
Uma criança de 9 a 10 anos pensa de maneira diferente de um pré-escolar de 4 ou 5.
As crianças mais velhas sabem mais coisas e também usam a mente de modo muito mais eficaz quando precisam resolver um problema ou recordar um fragmento de informação.
Estágios do Pensamento
Segundo Piaget, por volta dos 5 anos muitas crianças começam a mudar para o pensamento operacional concreto, quando podem utilizar operações mentais para resolver problemas concretos.
As crianças são capazes de pensar com lógica, porque podem levar múltiplos aspectos de uma situação em consideração. Entretanto, as crianças ainda são limitadas a pensar em situações reais no aqui e agora.
Nos estágios de operações concretas, as crianças podem realizar muitas tarefas em um nível mais elevado do que no estágio pré-operacional. Elas possuem uma melhor compreensão dos conceitos espaciais, de causalidade, de categorização, de conservação e de número.
Como a criança nesta idade pode compreender melhor as relações espaciais, é possível, por exemplo, confiar que elas saibam ir e voltar da escola. Elas possuemuma ideia mais clara de distância entre um lugar e outro e de quanto tempo leva para chegar até lá, têm mais facilidade para se lembrar do trajeto e de seus pontos de referência.
Outro aspecto aperfeiçoado nesta idade é a capacidade de fazer julgamentos sobre causa e efeito. A consciência de quais variáveis têm efeito, entretanto, parece não ter relação com a consciência de quais não têm efeito. Esses dois processos mentais desenvolvem-se separadamente à medida que a experiência ajuda as crianças a revisar suas teorias intuitivas sobre como as coisas funcionam.
Nesta idade a criança é capaz de compreender a categorização através da seriação, da inferência transitiva e da inclusão de classe.
Seriação ( É a capacidade de dispor objetos em uma série de acordo com uma de suas dimensões
Inferência Transitiva ( É a capacidade de reconhecer uma relação entre dois objetos, conhecendo-se a relação entre cada um deles e um terceiro.
Inclusão de Classe ( É a capacidade de identificar a relação entre o todo e suas partes.
Outra capacidade importante nesta idade é a de resolver diversos tipos de problemas de conservação, ou seja, a criança pode encontrar as respostas mentalmente sem precisar medir ou pesar objetos.
Aos seis ou sete anos muitas crianças já sabem fazer contas mentalmente e também sabem contar adiante. Por exemplo, para somar cinco e três, elas começam no cinco e então contam seis, sete e oito para acrescentar o três.
Entre os sete e onze anos, as crianças aprendem os princípios lógicos e os aplicam em situações concretas, isto é, situações que lidam com coisas visíveis, tangíveis e reais.
Segundo Piaget, existem duas estruturas lógicas que explicam o lugar do pensamento operacional concreto: identidade e reversibilidade.
Identidade ( É a ideia de que certas características de um objeto permanecem as mesmas ainda que outras características se modifiquem.
Reversibilidade ( É a compreensão de que às vezes uma coisa que foi modificada pode voltar ao estado original revertendo-se o processo de mudança.
Aprendizagem e Educação Escolar
A criança em idade escolar é capaz de focalizar sua atenção, lembrar fatos inter-relacionados, dominar operações lógicas e utilizar vários códigos linguísticos.
Essa descrição é universal e ocorre com crianças entre os sete e os onze anos do mundo inteiro e desperta numerosos esforços dos adultos para treiná-las, educá-las e ensiná-las. As técnicas de ensino variam muito, dos métodos estritos de preleção à educação aberta.
Desenvolvimento Psicossocial
As crianças em idade escolar desenvolvem uma visão multifacetada das interações sociais. Ampliam, assim, sua esfera social, superando sua inabalável autossatisfação. Erikson denomina esta fase de época de atividade e Freud vai afirmar ser a época das preocupações sexuais latentes. Com isso, as crianças passam a ter cada vez mais ciência das diferenças e complexidade nas personalidades, motivações e emoções subjacentes ao comportamento dos outros, tornando-se cada vez mais capazes de se ajustarem a elas.
Por isso, também são capazes de se autoavaliarem comparando-se aos demais, desenvolvendo mais  a autocritica e diminuindo muitas vezes a sua autoestima. Segundo Erikson, um importante determinante da autoestima é a ideia de que as crianças têm sua capacidade para o trabalho produtivo. A questão a ser resolvida na crise da terceira infância é de “produtividade versus inferioridade”. A virtude que se desenvolve com a resolução desta crise é a competência, a ideia de si mesmo como capaz de dominar habilidades e de concluir tarefas.
O Grupo de Colegas
É na terceira infância que o grupo de amigos se revela. Os grupos formam-se naturalmente entre crianças que moram perto uma das outras ou que frequentam a mesma escola. As crianças que brincam juntas geralmente têm idades semelhantes. Os grupos geralmente são só de meninos, ou só de meninas.
O grupo de colegas torna-se cada vez mais importante à medida que as crianças adquirem sua independência dos pais em muitos aspectos, passando a se tornar mais dependentes dos amigos em termos de ajuda, compartilha lealdade de interesses mútuos.
As crianças se beneficiam fazendo coisas com os amigos. Elas desenvolvem as habilidades necessárias para a sociabilidade e a intimidade, promovendo os relacionamentos e adquirindo um senso de afiliação. São motivadas a realizar, além de adquirirem um senso de identidade. Também adquirem habilidades de liderança e de comunicação, de cooperação, de papéis e de regras
Os pais continuam a influenciar as crianças, principalmente quando agravam ou apaziguam problemas na escola ou comunidade.
As amizades são mais selecionadas à medida que as crianças ficam mais velhas. Ter alguns poucos amigos íntimos, ou pelo menos um melhor amigo é um indicador de saúde psicossocial. O grupo de amigos ajuda as crianças a se relacionar em sociedade e também oferece segurança emocional.
Um grupo de amigos também pode ter efeitos negativos. Para ser parte de um grupo de amigos, uma criança deve aceitar seus valores e suas normas de comportamento, ainda que estes possam ser indesejáveis, as crianças podem não ter força para resistir. Alguma medida de obediência aos padrões grupais é saudável. Ela é inadequada quando se torna destrutiva ou quando estimula as crianças a agirem contra seu próprio juízo.
Conheça mais características das crianças de sete aos onze anos.
Nesta idade as crianças distinguem entre melhores amigos, bons amigos e amigos ocasionais baseadas na intimidade que possuem e em quanto tempo passam juntas. As meninas preocupam-se menos em ter muitas amizades, privilegiam algumas amizades íntimas com as quais possam contar. Os meninos têm mais amizades, mas estas amizades tendem a ser menos íntimas e carinhosas.
Mesmo crianças impopulares fazem amigos, mas em menor quantidade e, geralmente tendem a fazer amizade com crianças mais novas. A rejeição dos amigos e a falta deles nesta fase da vida podem influenciar a socialização a longo prazo.
Aula 09 – Desenvolvimento Biossocial na Adolescência
A adolescência é fase de transição da infância para a vida adulta e marca o início da puberdade, denominada por Piaget de Período das Operações Formais.
É um período acidentado, porém rápido. A adaptação às mudanças pode ser difícil e desgastante. Embora não devamos caracterizar esse período como sendo um período de problemas, todos os adolescentes passam por momentos de dificuldades, confusões, irritação e até depressão. Alguns cometem sérios deslizes em busca da maturidade. Mas essas mudanças que causam tantas dificuldades, também produzem entusiasmo, desafios e crescimentos.
É bom lembrar que grande parte dos problemas na adolescência, são mais problemáticos para os adultos que convivem com os adolescentes, do que para eles em si.
As mudanças ocorridas no início da adolescência são universais, mas sua expressão varia de acordo com o gênero, genes, alimentação etc.
A puberdade é o período inicial da adolescência, de rápido desenvolvimento físico e sexual. A idade em que a puberdade começa pode ser influenciada pelo sexo, genes e tipo físico. As meninas e as crianças mais gordas atingem a puberdade antes dos meninos e das crianças mais magras.
A seguir, vamos ver as mudanças ocorridas nas meninas e nos meninos.
A maturação sexual geralmente se conclui 3 ou 4 anos após o início da puberdade. Essas mudanças são provocadas por uma sequência invisível de produção de hormônios. Alguns fatores interferem na produção de hormônios.
Genética ( A influência genética é visível na menarca, que é o primeiro período menstrual das meninas (ocorre entre 9 e 18 anos), visto que a idade da menarca da filha está relacionada com a idade da menarca da mãe.
Físico ( Os indivíduos mais baixos tendem a entrar na puberdade mais cedo. O início se correlaciona com o acúmulo de gordura em ambos os sexos, embora mais evidentes nas meninas. Meninas com pouca gordura no corpo tendem a menstruarem mais tarde.
Estresse ( Crianças sob estressetendem a crescer mais lentamente. Os homens e as mulheres adultas também são menos propensos a produzirem esperma vivo e óvulos férteis quando estão sob estresse.
O surto de crescimento é um salto súbito, desequilibrado e imprevisível no tamanho de quase todas as partes do corpo, que parte das extremidades para o centro.
Os dedos das mãos e pés dos adolescentes ficam mais longos antes das mãos e dos pés, contudo  as mãos e os pés crescem antes dos braços e as pernas. O tronco é o último a crescer.
Os ossos crescem, as crianças se alimentam mais e ganham peso com mais rapidez do que antes, para fornecer energia às mudanças que estão ocorrendo. Com isso, a gordura começa a acumular. O surto de crescimento na altura ocorre logo após o início do aumento de peso, queimando um pouco da gordura armazenada.
Em seguida, tem o crescimento muscular, que vai ocupando os espaços de gordura queimada.
Umas das últimas partes do corpo a assumir forma final é a cabeça. As orelhas, lábios e nariz crescem antes do crânio, às vezes dando uma aparência irregular, que incomoda os adolescentes.
Enquanto o tronco cresce, os órgãos internos, também. Os pulmões aumentam de tamanho e capacidade.
O coração dobra de tamanho e o ritmo cardíaco diminui, aumentando o volume total de sangue.
Essas mudanças aumentam a resistência física tornando possível aos adolescentes exercícios que exijam muito fôlego como correr quilômetros ou dançar durante horas, sem descansar. Isso exige dos educadores atenção e orientação aos adolescentes, para verificar se os exercícios físicos praticados por eles são apropriados ao peso, altura, a fim de evitar a exaustão e as lesões.
Essas mudanças orgânicas exigem aumento de sono, bem como modificar ciclos dia-noite. Muitos adolescentes sentem necessidade de dormir de dia e ficar acordados a noite.
Para alimentar o crescimento da puberdade, os adolescentes têm uma demanda nutricional aumentada em termos de vitaminas e minerais, além de calorias – mais do que em qualquer outro período da vida. Sal em excesso, pouco ferro e insuficiência de legumes e verduras são problemas comuns.
A adolescência é um período de muitas transformações.
A adolescência é um período saudável. Embora as doenças sejam raras, os adolescentes estão sujeitos a riscos de saúde de outras naturezas, tais como: doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce indesejada, suicídios, delinquências, sequelas de abuso sexual, consumo excessivo de álcool, fumo e outras drogas que inspiram cuidados e orientações dos educadores: pais e professores.
Os adolescentes são menos propensos a doenças respiratórias, por que o sistema linfático, que inclui as amígdalas e as adenoides, diminui de tamanho. Por outro lado as glândulas sebáceas, sudoríparas e odoríferas da pele tornam-se mais ativas, tendo como consequências a acne, a oleosidade do cabelo e o odor mais intensificado do corpo. O globo ocular se alonga, acarretando miopia em muitos adolescentes.
As rápidas mudanças corporais exigem combustível em forma de calorias, bem como vitaminas e minerais adicionais.
As mudanças fisiológicas da puberdade tornam inevitável uma revisão da imagem corporal dos adolescentes.
Os adolescentes precisam gostar do seu corpo. Se ele tem uma autoimagem negativa pode ter um forte impacto na autoestima. Em consequência desse intenso foco na aparência física, muitos adolescentes passam horas na frente do espelho, preocupando-se com seu penteado, a forma do rosto, o jeito da roupa etc.
“É evidente que a maneira como um determinado adolescente responde às mudanças no seu corpo depende de muitas coisas, inclusive do conhecimento do que está acontecendo; de conversar com os pais e com os colegas sobre puberdade; do ritmo do amadurecimento sexual em relação a outros do grupo de colegas; e dos valores culturais mais amplos no que diz respeito à maturação sexual. Em algumas culturas, por exemplo, a menstruação é anunciada, com rituais elaborados, quando a jovem entra na vida adulta. (...) (BERGER, 2003, p.25
No momento em que a criança está confortável com as mudanças físicas da puberdade e seu impacto psicológico, o abuso sexual na adolescência pode ser danoso. Seus efeitos dependem muito da natureza do abuso.
Abuso sexual é qualquer situação que a pessoa se envolva com outra em atividade sexual, verbal ou física sem que esta última tenha dado seu livre consentimento.
O adolescente sexualmente molestado pode se tornar deprimido, viciado em drogas ou agressor sexual, também.
O uso abusivo de álcool, fumo e outras drogas é capaz de prejudicar o bem estar do usuário, em termos biológicos ou psicossociais. O vício em drogas ocorre quando a pessoa deseja uma quantidade maior de uma droga para se sentir física ou psicologicamente bem.
O vício e o uso em excesso trazem muitas complicações, inclusive a morte. O uso ou a experimentação de drogas ocorre com a maior parte dos adolescentes, e quase todos eles sabem como obter cigarro, bebida alcoólica e outras drogas.
“O uso ou a experimentação de drogas ocorre com a maioria dos adolescentes, e quase todos eles sabem como obter cigarro, bebida alcoólica e outras drogas. (...) O vício, principalmente em cigarros, é um risco que parece ser subestimado pela sociedade e pelos próprios adolescentes. Não obstante, leis, lembranças e atitudes podem e têm se modificado de geração em geração, de modo que o uso de drogas pela corte seguinte pode ser significativamente reduzido ou aumentado, dependendo do contexto social”. (BERGER, 2003, p.260)
Aula 10 –  Adolescência e Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial
O desenvolvimento cognitivo dos adolescentes varia, muitos adolescentes são egocêntricos, enquanto outros raciocinam lógica, hipotética e teoricamente.
As mudanças psicossociais são significativas também, já que os adolescentes desenvolvem suas próprias identidades, escolhendo os inúmeros caminhos sexuais, morais, políticos e educacionais. 
Embora haja diferenças nos contextos sociais e culturais dos adolescentes, todos eles se deparam com os mesmos 
desafios desenvolvimentais: eles precisam se adaptar ao tamanho e forma do corpo que se modifica, ao despertar da 
sexualidade e as novas maneiras de pensar.
Todas as habilidades básicas de raciocínio, de aprendizagem e memória continuam a progredir na adolescência. Desenvolvem-se a atenção seletiva, a capacidade de memória e a base de conhecimentos aumenta conceitos aos já existentes, possibilitando ao adolescente investigar novas ideias. O vocabulário aumenta e passa a compreender melhor as sutilezas da gramática. Novas capacidades intelectuais surgem. O pensamento operacional formal tratado por Piaget, em sua teoria do desenvolvimento, dá origem a uma combinação de fatores maturacionais e da experiência. Com o aperfeiçoamento da memória e processamento cognitivo eleva o nível de cognição. Isso caracteriza que o seu pensamento é a capacidade de raciocinar na possibilidade e não apenas na realidade, fazendo com que o adolescente comece a pensar soluções possíveis aos problemas até definir a solução real.
A criatividade atinge a maturidade em relação aos demais estágios. Isto acontece porque as imagens são elaboradas, reelaboradas e combinadas mentalmente, sem deixar de serem confrontadas com uma realidade objetiva, claramente delineada pelo adolescente.
Assim o adolescente apresenta capacidade de pensamento hipotético, que envolve raciocínio sobre proposições que podem ou não, refletir a realidade.
Reflexões provocadoras, por parte do adolescente, pode levá-lo a  pensamentos novos, às vezes assustadores. Ele passa a analisar a vida, a religião, a Deus, a moral, a educação, os valores, os pais, e até a si próprio. Adquire capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios, desenvolvendo a autonomia.
“Essa capacidade de pensar em termos de possibilidades permite que os adolescentes fantasiem, especulem e formulem hipóteses mais rapidamente e em umaescala mais global do que as crianças que ainda estão presas à realidade tangível do aqui-e- agora. Os adolescentes podem, e o fazem, libertar-se do raciocínio rasteiro e tradicional da criança, elevando-se às ideias contraditórias e aos sonhos etéreos distantes do saber convencional.” (BERGER, 2003, p.262)
As crianças utilizam um raciocínio que parte do particular para o geral, denominado raciocínio indutivo.
Já os adolescentes, à medida que desenvolvem a capacidade de raciocínio hipotético se tornam capazes de raciocínio dedutivo, ou seja, partem de uma premissa genérica ou de uma teoria, raciocina através de uma ou mais etapas lógicas para chegar a uma conclusão específica e depois testa a validade de sua conclusão. A dedução e o raciocínio partem do geral para o particular.
É capaz de raciocínio científico e de lógica formal e pode aceitar a forma de um argumento, embora deixe de lado seu conteúdo concreto, de onde se origina o termo "operações formais".
Que tipo de escola estimularia mais o crescimento intelectual dos adolescentes?
É necessário superar as exigências comportamentais rígidas, a competição intensa e atenção e procedimentos menos individualistas, pois estas características impedem o ajuste adequado entre as características do adolescente e a estrutura da escola. A cultura e o contexto da escola podem dar suporte ao aprendizado dos adolescentes. As escolas que buscam uma aprendizagem cooperativa contribuem mais para o crescimento acadêmico de seus alunos.
O adolescente está preparado para tomar decisões como preparo para a vida adulta? Escolha da profissão? Escolha de parceiros para iniciar sua atividade sexual?
Fatores cognitivos e motivacionais podem tornar difícil para os adolescentes fazerem julgamento criterioso nas suas escolhas existenciais. O contexto social e o apoio dos educadores podem ser fatores preponderantes para essas escolhas serem mais acertadas. Contribuir para que o adolescente possa construir um projeto de vida é fundamental, para nortear o adolescente em sua adaptação ativa da realidade, que ocorre através de sua inserção no mundo do trabalho ou na preparação para ele, bem como no mundo social em geral.
O projeto de vida traduz sonhos, viabilizando possibilidades da realidade, pois dá oportunidade ao adolescente de pensar o que quer, como quer, e os seus passos de viabilização. Os passos que precisa dar na direção de seus sonhos, nos diferentes campos: pessoal, profissional e cidadão.
Assim, ele poderá escolher melhor a profissão, suas relações pessoais e sexuais, reduzindo as incidências de atividades sexuais prematuras, comportamentos sexuais de risco, gravidez indesejada, frustrações profissionais, entre outros.
É importante que, associado ao projeto, ele tenha a orientação dos pais e educadores, que precisam estar sempre presentes e comprometidos com o desenvolvimento saudável do adolescente.
O desenvolvimento psicossocial se traduz na busca do autoconhecimento, de respostas à pergunta: “Quem sou eu?” E todas as mudanças que desafia o adolescente a encontrar sua identidade, sua autodefinição, alinhando a emoção, o pensamento e o comportamento. 
	
Muitas vezes sob a pressão para resolver a crise de identidade em vez de explorar papéis alternativos, antecipam suas opções adotando valores de outrem. Outros podem assumir uma identidade negativa, desafiando as expectativas da família e comunidade.
Segundo Erickson (apud BERGER, 2003), essa busca da identidade que ele denomina identidade e confusão de papéis, leva a principal crise da adolescência, onde o adolescente luta para conciliar “um sentimento consciente de exclusividade individual” com o “esforço inconsciente por uma continuidade da experiência e solidariedade com os ideais de um grupo”.
Os pais têm uma influência sobre os adolescentes, embora possam surgir conflitos nos relacionamentos por pequenos desentendimentos sobre coisas como roupa, comportamento, comunicação, apoio, controle etc.
O grupo de colegas é uma fonte de informações e incentivo. Embora a pressão do grupo possa levar os adolescentes a se envolver com problemas, sua influência muitas vezes é construtiva.
Além do suicídio, um outro problema que podemos identificar entre os adolescentes é a violação da lei.
Na escola cabe ao educador também investigar o envolvimento dos adolescentes com bullying.  
Segundo Berger (2003), a prevenção da criminalidade na adolescência inclui a identificação de crianças em risco, que tem poucos amigos, consomem drogas precocemente, são tiranas, maltratadas ou negligenciadas.
Assim, se uma boa educação de base se estabelecer, a maioria dos adolescentes estarão adequadamente preparados para a vida adulta tão esperada, onde a complexidade e a diversidade fazem parte das suas vidas, na busca de duas necessidades básicas: a intimidade e a produtividade trabalho e parentalidade.

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