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2018 TEMA 09 TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 1 TEMA 9 – A EXPERIÊNCIA DE HAWTHORNE E O CONCEITO DE HOMEM SOCIAL Caro estudante, como visto na apresentação do tema anterior, a Teoria das Relações Humanas representou um grande avanço na administração da época, pois deixou de enxergar o homem como um ser único e exclusivamente econômico, como uma peça da engrenagem organizacional e passou a ter uma visão que dava maior crédito à natureza humana. Obviamente que tal avanço não aconteceu sem que fossem conduzidos estudos que dessem embasamento para as afirmações dadas pelos estudiosos da corrente humanística. Dentre esses estudos, os de maior destaque, são os desenvolvidos na fábrica de Hawthorne, situada na cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América. Suas atividades foram iniciadas em 1927 pelo psicólogo organizacional, Elton Mayo e tinha como finalidade entender as condições de trabalho, a fadiga humana e a rotatividade de pessoal na produtividade humana. Durante esses estudos ficou evidenciado que os resultados da pesquisa sempre eram alterados e prejudicados por aspectos psicológicos do operário. Por não conseguirem eliminar as variáveis psicológicas da pesquisa os estudos se prolongaram muito, tornando-se mais complicado de analisar. Importante registrar que os experimentos em Hawthorne foram realizados na montagem de peças (relés) produzidas por mulheres em tarefas repetitivas e que tiveram como resultados grandes descobertas acerca do comportamento humano no trabalho. LUCIANO SOUSA DE CASTRO2 Figura 1 – operárias em linha de produção. Disponível em: http://teoriarelacoeshumanas.blogspot.com/2012/11/a-experiencia-de- hawthorne.html. De acordo com Silva (2002, p. 203) os experimentos em Hawthorne foram divididos em quatro fases complementares, tratando basicamente do comportamento humano e seus resultados na produtividade. • Fase 1: Chamada de fase da iluminação. Considerava-se nessa época que as pessoas se motivavam unicamente pelo fator econômico. No estudo foi separado dois grupos de trabalhadores, colocados em ambientes preparados, que podiam ter a iluminação do local de trabalho controlada, de forma que os avaliadores pudessem TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 3 identificar/associar o melhor nível de iluminação para a produtividade perfeita. Cada grupo foi submetido a um tipo específico de iluminação, uma com alternância e a outra não. Eles desejavam perceber como a iluminação afetava o desempenho profissional. Após o estudo, foi percebido que não houve variação significativa entre os grupos que pudessem garantir que a iluminação aumentava a produtividade em grande escala. • Fase 2: Chamada de fase de montagem dos relés. Isolou- se um grupo de seis moças para trabalhar com processos relacionados à montagem de relés (espécie de interruptor). Esse grupo foi chamado de grupo de observação. A divisão dos trabalhos desse experimento aconteceu da seguinte forma: cinco mulheres montavam os relés, sendo que a sexta integrante durante o processo de montagem fornecia as peças necessárias à montagem. Os equipamentos de trabalho eram os mesmos da linha regular de produção. A diferença entre o grupo de observação e a produção regular era que, no grupo de observação a funcionária servia a outras cinco mesmas colegas, enquanto que na produção regular servia normalmente sete colegas que podiam variar no seu posicionamento na montagem. Os estudiosos pretendiam comparar a produção da linha de observação e a da linha regular. Todas as participantes foram informadas sobre os objetivos da pesquisa, que visavam, segundo os estudiosos, determinar os efeitos das condições de trabalho na produção. As montadoras do grupo experimental foram orientadas a trabalhar normalmente, nas condições de tempo de descanso determinadas pelo supervisor da pesquisa, sem muita pressão. Houve também mudança nas condições de LUCIANO SOUSA DE CASTRO4 pagamentos dos salários; no grupo experimental o cálculo da produção e respectivo pagamento abrangiam apenas seis mulheres, qualquer aumento na produção aumentava o salário de forma mais significante do que na linha de produção regular, que era composta por um número de pessoas muito alto, normalmente superior a cem pessoas. No final dessa fase foi identificado que houve aumento na produção do grupo experimental, por ter sido dada uma supervisão mais flexível ao grupo e assim diminuindo o stress. As participantes desenvolveram uma relação de trabalho mais afetuosa, pois estavam sempre perto uma das outras. Houve mais integração entre as meninas e a supervisão, exercida de forma mais harmoniosa o que proporcionou maior compromisso com o trabalho. • Fase 3 – Chamada de fase de entrevistas. Após os resultados colhidos na fase de montagem de relés ficou evidenciada a influência que a supervisão tinha na produção. Diante disso, para entender o pensamento dos colaboradores acerca de tal questão, foi desenvolvido um processo de entrevistas com os funcionários para saber as suas opiniões sobre os processos organizacionais, incluindo o comportamento da supervisão. Após realização dos questionários foi percebido que as condições sociais do trabalhador, mesmo fora do ambiente de trabalho, poderiam determinar sua satisfação no ambiente organizacional. As entrevistas identificaram também que os funcionários estavam se organizando informalmente para se resguardar de práticas empresariais, que eram consideradas por eles como abusivas. Esse comportamento coletivo dos funcionários visava controlar a produção a níveis que eles achassem TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 5 justos e sem grandes desgastes físicos. Os colegas que não atendessem a esse acordo e produzissem acima do combinado eram considerados sabotadores e seriam cobrados pelos demais colegas, como forma de punição. A entrevista identificou ainda a externalização coletiva da insatisfação com os salários; posicionamento de aceitação e não aceitação sob o comportamento da supervisão. Os grupos informais, criados pelos funcionários tinham ainda uma característica intrigante, provocava conflitos entre eles uma vez que ficavam divididos entre atender a empresa e atender aos seus próprios anseios. • Fase 4: Chamada de fase de montagem de terminais. Visava entender os grupos sociais existentes na organização. Criou-se novamente um grupo de observação. A tarefa dessa equipe era a montagem de bobinas para terminais de uso na telefonia. A sala onde o grupo de observação trabalhava era semelhante à sala da equipe de produção regular. Existia um supervisor nos trabalhos destinados a passar as ordens para a equipe acerca das metas de produção. Entretanto, percebeu-se que as metas da empresa não eram atendidas, na medida em que os funcionários entendiam que esta estava acima do que deveriam fazer. Foi percebido que os funcionários pesquisados produziam sempre a mesma quantidade, com variação mínima. Observou-se ainda que informalmente eles também determinavam entre si a quantidade ideal de terminais que deviam fazer. Tal situação acontecia mesmo com o salário sendo pago por produção. Se os grupos informais determinassem certa quantidade, todos deveriam atender a essa ordem, mesmo havendo perda nos ganhos. Esse estudo foi importante, pois permitiu LUCIANO SOUSA DE CASTRO6 que se buscasse um maior equilíbrio entre o interesse informal (dos grupos de trabalhadores) e o interesse formal (da organização). Com esses estudos, os pesquisadores da Teoria Humanística fizeram algumas constatações: 1. Aspectos sociais possuem forte ligação com a produtividade; 2. A produção não é determinada exclusivamente pela capacidade física; 3. A supervisão possui relação direta no aumento da produtividade.Quando exercida com respeito e interação, ocasiona um bom ambiente de trabalho; 4. A satisfação com a tarefa desenvolvida afeta diretamente a produtividade; 5. Grupos informais podem interferir diretamente na produtividade; 6. A produção não estava relacionada apenas à habilidade do funcionário, mas também às determinações do grupo informal ao qual pertencia; 7. Os funcionários tinham restrições a novas metodologias de trabalho, pois achavam que ela os obrigaria a produzir mais com a empresa pagando o mesmo salário; 8. Os relacionamentos interpessoais são indispensáveis para o sucesso organizacional. Um ponto interessante na Teoria Humanística é que ela rompe o conceito do Homo Economicus, vista na Abordagem Clássica. A ideia de que pagamento de salário seria a única razão para os funcionários desenvolverem suas tarefas adequadamente foi completamente dissolvida. TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 7 Os experimentos desenvolvidos em Hawthorne indicaram que os níveis de produção dentro das fábricas possuíam grande oscilação dependendo da integração dos seus membros, não se restringindo à capacidade física dos funcionários. Figura 2 – Principais conclusões de Mayo. Consumo de Água por atividade Quantidade (em litros) Efeito Hawthorne A qualidade do tratamento dispensado pela gerência aos trabalhadores influencia fortemente no desempenho. Bom tratamento por parte da administração, reforçando o sentimento de grupo, produz bom desempenho. O efeito positivo do tratamento da administração sobre o humano ficou conhecido como o efeito Hawthorne, por causa do nome do experimento. Lealdade ao grupo O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do indivíduo, que pode ser mais leal ao grupo do que à administração. Alguns grupos não atingem o nível de produção desejado pela administração, porque há entre seus membros uma espécie de acordo que define uma quantidade “correta”, a ser produzida. Assim, o efeito Hawthorne não funciona em todos os casos. LUCIANO SOUSA DE CASTRO8 Esforço Coletivo Por causa da influência do sistema social sobre o desempenho individual, a administração deve entender o comportamento dos grupos e fortalecer as relações com os grupos, em vez de tratar os indivíduos como seres isolados. A responsabilidade da administração é desenvolver as bases para o trabalho em equipe, o autogoverno e a cooperação. Conceito de Autoridade O supervisor de primeira linha deve ser não um controlador, mas um intermediário entre a administração superior e os grupos de trabalho. O Conceito de autoridade deve basear-se não na coerção, mas na cooperação e na coordenação Fonte: Maximiano (2002). A figura 2 apresentada acima evidencia, principalmente, uma característica marcante da Teoria das Relações Humanas, que é a importância que os grupos informais têm no contexto organizacional, tendo poder de determinar alterações em níveis de produção de acordo com o seu sentimento. Após os estudos de Elton Mayo, vários aspectos voltados para o relacionamento humano foram identificados como possuidores de valores importantes para a motivação dos funcionários. Identifica-se que os funcionários querem ser remunerados adequadamente pelo seu salário e que isso é algo importante, mas que isso não atua isoladamente. É necessário haver um clima organizacional elevado, boa liderança, justiça e equilíbrio nas relações. TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 9 Segundo Chiavenato (2000, p. 126) Hawthorne demonstrou que o pagamento de salários justos não é o único fator motivacional no ambiente organizacional. As experiências obtidas em Hawthorne permitiram o desenvolvimento da teoria das Relações Humanas, dando maior ênfase às relações sociais dentro do ambiente de trabalho. Segundo Maximiano (2002, p. 237) por conta dos experimentos conduzidos por Mayo nasceu a escola das relações humanas, porque demonstrou que um dos fatores mais importantes do desempenho humano são as relações sociais entre colegas de trabalho e os administradores. A Teoria das Relações Humanas desenvolveu a partir daí o conceito de Homo Social (homem social). Ou seja, o conceito de que o homem não trabalha apenas por dinheiro, mas também para se sentir satisfeito, feliz no trabalho, para crescer socialmente, se relacionar bem com os demais membros organizacionais. A Teoria das Relações Humanas é uma corrente administrativa que enfatiza as pessoas, a organização informal e os agentes existentes na organização, opondo-se às Teorias Clássica e Burocrática que focavam com grande propriedade as funções e a estrutura organizacional. Surgiu com a Experiência de Hawthorne, realizada em uma fábrica que possibilitou à organização industrial deixar de lado a antiga preocupação com as estruturas e processos, para dar espaço às questões com as pessoas e suas relações. (ROSSÉS, et al. (2010, p. 1). A Teoria das Relações Humanas deu origem a uma abordagem mais comportamentalista, mais voltada, como o próprio nome diz, ao comportamento humano nas organizações. LUCIANO SOUSA DE CASTRO10 Diante desse cenário, a administração deveria dar mais ênfase aos grupos nas organizações, analisando aspectos psicológicos. A motivação, liderança, comunicação organizacional, dinâmica entre os grupos, dentre outros aspectos tornam-se fundamentais no pensamento humanístico. TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I 11 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Campus, 2000. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana a revolução digital. São Paulo: Atlas, 2002. ROSSÉS, Gustavo Fontinelli; GELATTI, Cristiane Braida; SILVA, Andriele da; PASSOS, Letícia Jaques dos; AMARAL, Luriane Santos do. Teoria das relações humanas e economia solidária: o caso do projeto esperança/Cooesperança. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/289_Artigo%20 Seget% 20TO.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019. SILVA, Reinaldo O. da. Teorias da administração. São Paulo: Thomson Learning, 2002.
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