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Prof. Dr. Fernando Oliveira A Ética em Espinosa UNIDADE I Espinosa (1632-1677) nasceu em Amsterdã. Era de família tradicional judia. Interessou-se muito pela filosofia moderna, como Bacon, Hobbes e Descartes. Foi acusado de heresia por se mostrar irredutível em suas opiniões. Fez uma análise histórica da Bíblia, colocando-a como fruto do seu tempo. Critica os dogmas rígidos e rituais sem sentido. Vida e Obra de Espinosa Tratado Teológico-Político (1670) Tratado de Correção do Intelecto Princípios da Filosofia Cartesiana Pensamentos Metafísicos Ética (1675-1677) Tratado Político (1676-1677) Correspondência (1671-1674) Principais obras de Espinosa Baruch Spinoza, 1665. Pintura de autor desconhecido Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_ Espinoza#/media/File:Spinoza.jpg A vida de Espinosa foi marcada pela sua concepção de Deus. No Tratado Teológico-Político defende uma interpretação da Bíblia diferente da visão dogmática de judeus e cristãos. O ponto principal do pensamento de Espinosa é a comunhão entre Deus e a natureza. Espinosa critica a religião porque ela está alimentada pelo medo e a superstição. A diferença entre filosofia e religião é que a primeira busca a verdade e a segunda precisa da obediência para ser realizada. Tópicos na obra de Espinosa Espinosa defendeu o liberalismo político. Direitos naturais são as regras do ser e as leis naturais, que são divinas e eternas. O objetivo do Estado não deve ser tirânico (como em Hobbes), mas libertário. O direito natural em Espinosa é compatível com a democracia. Pensamentos Metafísicos trata dos entes e afecções de um ponto de vista metafísico. Tópicos na obra de Espinosa O poder do espírito agitava a atmosfera europeia. O impulso emergia do humanismo, renascença e reforma protestante. O nascimento do discurso sobre o homem moderno e uma liberdade das garras de uma sociedade marcada pelo teocentrismo davam lugar a um antropocentrismo claro, que culminaria no pensamento iluminista do século XVIII (das luzes ou da razão). De Francis Bacon, pai do empirismo, ao compatriota Thomas Hobbes, seguiu-se uma geração de pensadores e cientistas modernos, todos contemporâneos de Espinosa. Em 1642 morria o italiano Galileu; em 1645, o holandês Grócio; em 1650, o francês Descartes. Nesse contexto rodeado de inúmeras estrelas da humanidade, nascia e vivia Espinosa. O Sopro do Espírito Vivendo numa união de duas épocas, Espinosa surgiu como um pensador sobre questões emblemáticas ainda não solucionadas e discutidas, como Deus, ética e natureza. Como filósofo, Espinosa alienou muitos contemporâneos religiosos ao remover as ideias bíblicas a respeito de Deus e muitas crenças religiosas (tais como a crença em milagres) da esfera sobrenatural. Além disso, deixou de lado os empiristas com sua ênfase geométrica e na sua negação de que os fatos físicos são a base das generalizações verdadeiras a respeito da realidade. O pensamento de Espinosa O método de Espinosa consiste em chegar à verdade a partir de axiomas, mediante o emprego de lógica dedutiva. No lugar das explicações cristãs tradicionais, vinham ideias racionalistas a respeito da natureza e da razão: a natureza tomou o lugar de Deus (ou Deus tornou-se natureza), e a razão tomou o lugar da revelação divina. O método de Espinosa Na Parte I da obra de Espinosa (Ética), seu discurso gira em torno de Deus. Não como mera apologia, mas como abordagem distinta dos autores da época. Aponte a alternativa correta sobre suas considerações acerca de Deus na presente unidade. a) Deus, a substância única ou a natureza naturante, é não só o ser de onde tudo emana, mas também a razão inteligível. b) Deus é causa de si mesmo. Isso implica afirmar que somente Deus existe por si e que tudo o mais existe pela essentia actuosa de Deus. c) Deus é a própria racionalidade, o ser absoluto e infinito, isto é, a substância constituída por infinitos atributos. d) Para ele, o universo é Deus, isto é, o ser único, infinito, eterno e necessário, desenvolvendo-se e manifestando- se segundo leis inerentes à sua própria natureza. e) Todas as alternativas anteriores estão corretas. Interatividade A forma de viver de Espinosa tinha os seguintes princípios: desapego de riquezas e bens materiais; existência sem ostentação; moderação nos prazeres; desenvolvimento baseado na reflexão e no conhecimento. Para Espinosa, essa conduta era um meio de elevar e expandir o pensamento filosófico, com ampliação da visão e compreensão da vida, trazendo um estado de felicidade e contentamento. A Filosofia de Espinosa Espinosa se opôs, com sua filosofia: ao racionalismo de Descartes; aos dogmas e mandamentos religiosos; ao despotismo (poder absoluto) dos governos; ao moralismo religioso dos seguidores das principais instituições religiosas. Temas abordados por Espinosa em sua filosofia: potência do ser; ciência dos afetos; cinco remédios dos afetos; A Filosofia de Espinosa cinco virtudes do homem livre; virtude e beatitude; o que pode o corpo; desejo; ética; Deus e a natureza. A Filosofia de Espinosa Sua trajetória no judaísmo tradicional e conservador vai ser substituída por um judaísmo mais livre, isento das garras conservadoras de pensamento que não permitiam uma análise mais dialética e hermenêutico-fenomenológica. Mas o que é a substância? Para Aristóteles, a substância é aquilo que é e que existe necessariamente, diferente dos acidentes, que só existem em decorrência da substância. A metafísica aristotélica concebe, ainda, uma multiplicidade de substâncias e uma hierarquia entre elas: matéria (substância num sentido fraco, pois matéria é indeterminação); sínolo (substância num sentido forte, pois o sínolo é o composto de matéria e forma); forma (substância por excelência, pois é princípio, causa ou fundamento do sínolo); e a substância suprassensível (pura forma, Deus e as inteligências celestes). Ruptura com a Tradição A filosofia medieval, principalmente a escolástica, retomará as reflexões aristotélicas e reafirmará o caráter de necessidade, polivalência de sentidos e multiplicidade de substâncias. Descartes, mesmo apresentando concepções diferentes de substância, também se manifestará a favor da multiplicidade (as três substâncias cartesianas: Deus, res cogitans e res extensa). Espinosa romperá com a metafísica antiga e medieval e também com a metafísica cartesiana ao afirmar que só existe uma única substância, que é causa de si mesma, causa sui, isto é, não é causada por outra coisa, porque é absolutamente infinita e indivisível. Por ser concebida por si mesma, é única, totalmente independente, e sua essência envolve sua existência e esta é necessária. Em sua obra, Espinosa rompe com a metafísica antiga e medieval, bem como com a metafísica cartesiana. A Filosofia de Espinosa O tipo de governo com maior probabilidade de respeitar e preservar essa autonomia, emitir leis baseadas na razão sólida e servir aos fins para os quais o governo é instituído, é a democracia. É a forma mais natural de governo, decorrente de um contrato social – já que em uma democracia o povo obedece apenas leis que emanam da vontade geral do corpo político – e o menos sujeito a vários abusos de poder. Em uma democracia, a racionalidade dos comandos do soberano está praticamente assegurada, já que é improvável que a maioria de um grande número de pessoas concorde com um desígnio irracional. A monarquia, por outro lado, é a forma menos estável de governoe a mais provável de se degenerar em tirania. É difícil imaginar uma defesa mais apaixonada e fundamentada da liberdade e da tolerância do que a oferecida por Espinosa. O Estado para Espinosa O objetivo ostensivo do Tratado Teológico-Político (TTP), amplamente difamado em sua época, é mostrar que a liberdade de filosofar não só pode ser concedida sem prejuízo à piedade e à paz da comunidade, como também a paz da comunidade britânica e a piedade estão ameaçadas pela supressão dessa liberdade. Mas a intenção última de Espinosa é revelar a verdade sobre as Escrituras e a religião e, assim, reduzir o poder político exercido nos Estados modernos pelas autoridades religiosas. Ele também defende, pelo menos como ideal político, a política tolerante, secular e democrática. O Tratado Teológico-Político Espinosa inicia o TTP alertando seus leitores, por meio de uma espécie de história natural da religião, para apenas as crenças e comportamentos supersticiosos que o clero, jogando com as emoções humanas comuns, estimula em seus seguidores. Uma pessoa guiada pelo medo e pela esperança, as principais emoções de uma vida dedicada à busca de vantagens temporais, tem, em face dos caprichos da fortuna, comportamentos calculados para assegurar os bens que deseja. O Tratado Teológico-Político Para Espinosa, o seu pensamento divergia diametralmente do pensamento da Igreja e da política. Dessa maneira, muitas de suas argumentações visavam corrigir o pensamento da época e buscar uma análise dialética acerca das coisas. Sendo assim, assinale a alternativa incorreta em seus pressupostos acerca do pensamento de seu contexto histórico e político. Interatividade a) Em uma democracia, a racionalidade dos comandos do soberano está praticamente assegurada. b) A monarquia, por outro lado, é a forma menos estável de governo e a mais provável de se degenerar em tirania. c) A monarquia é a forma mais estável de governo e menos provável de se degenerar em tirania. d) O soberano deve governar de tal maneira que seus comandos reforcem a lei de Deus. A justiça e a caridade, assim adquirem a força do direito civil, apoiada pelo poder do soberano. e) Ninguém pode limitar ou controlar os pensamentos de outra pessoa de qualquer maneira, e seria imprudente e destrutivo para a política de um soberano tentar fazê-lo. Interatividade Central à análise de Espinosa da religião judaica – embora seja aplicável a qualquer religião – é a distinção entre a lei divina e a lei cerimonial. A lei de Deus ordena apenas o conhecimento e amor de Deus e as ações necessárias para atingir essa condição. Tal amor deve surgir não do medo de possíveis penalidades ou da esperança de qualquer recompensa, mas apenas da bondade de seu objeto. A lei divina não exige ritos ou cerimônias em particular, como sacrifícios, restrições alimentares ou observâncias festivas. A Bíblia para Espinosa Quanto à questão de qual Deus, o exemplo da verdadeira vida, realmente é, se ele é fogo, ou espírito, ou luz, ou pensamento, ou algo mais, isso é irrelevante para a fé. E assim também é a questão de por que ele é o exemplar da vida verdadeira, seja porque ele tem uma disposição justa e misericordiosa ou porque todas as coisas existem e agem por meio dele e consequentemente nós também entendemos por ele, e por meio de sua visão, vemos o que é verdadeiro, justo e bom. Deus para Espinosa O ponto de partida da Ética de Espinosa é Deus, a justificação racional da fruição da eternidade. O filósofo sistematizou sua concepção do mundo e da vida como parte de uma noção de Deus. Para ele, o universo é Deus, isto é, o ser único, infinito, eterno e necessário, desenvolvendo-se e manifestando-se segundo leis inerentes à sua própria natureza. Dessa forma, ao contrário dos demais filósofos, cuja problemática centra-se no homem, no campo de suas discussões afetivas ou racionais que precisam ser esclarecidas, Espinosa dirige suas reflexões para a razão de ser do mundo e da fenomenalidade, para o que lhes dá existência e torna racionalmente pensáveis todas as coisas. Introdução à Ética A razão e a ética são duas consequências do pensamento espinosano. A primeira foi objeto de muita discussão no século em que ele viveu. Para Espinosa, a razão é a única via de compreensão e a norma exclusiva da ação. Segundo Espinosa, só Deus é causa de si mesmo. Isso implica afirmar que somente Deus existe por si e que tudo o mais existe pela essentia actuosa de Deus. Introdução à Ética Para Espinosa, a noção de axioma, em si mesma, é mais extensa que a de definição, uma vez que aquela abrange as verdades eternas, enquanto esta somente é aplicável à essência das coisas ou às afecções delas. As definições e os axiomas da Ética contêm termos de antiga e contínua aplicação, como causa de si, substância, atributo, modo, essência, existência, eternidade e liberdade. Os axiomas na obra de Espinosa A Ética é uma obra póstuma, ou seja, foi publicada depois da morte de Espinosa, é escrita em Latim e é demonstrada segundo a ordem geométrica e dividida em cinco partes: I. Primeira parte – Deus II. Segunda parte – A Natureza e a Origem da Mente III. Terceira parte – A Origem e a Natureza dos Afetos IV. Quarta parte – A Servidão Humana ou a Força dos Afetos V. Quinta parte – A Potência do Intelecto ou a Liberdade Humana A obra é dividida em definições, axiomas, proposições e demonstrações. Não podemos dizer que é um livro sobre a moral por se chamar Ética. Alguns espinosistas o encaram como uma forma de ver o mundo. A Filosofia de Espinosa Alguns homens notáveis da época de Espinosa exerceram uma contribuição significativa, de forma dialética (divergente), para a produção de suas obras, em que suas respostas eram formas de adquirir o conhecimento a partir de outro viés (ponto de vista). Dois desses notáveis que se destacaram são: a) Descartes e Thomas Hobbes. b) Descartes e Foucault. c) Platão e Rousseau. d) Thomas Hobbes e Galileu. e) Galileu e Descartes. Interatividade O leitor precisa tomar consciência do verdadeiro significado das palavras-chave de Espinosa: substância, perfeito, ideal, objetivamente e formalmente. Substância é o mesmo que realidade; perfeito significa completo; ideal é o mesmo que objeto; objetivamente quer dizer subjetivamente; formalmente significa objetivamente. Sobre os cuidados a ter no estudo da Ética de Espinosa, Will Durant avisa: “Em resumo, Espinosa não é filósofo para ser lido, mas sim estudado”. O sistema ético de Espinosa inclui três palavras-chave: substância, atributo e modo. O vocábulo modo significa toda a forma ou figura particular que passageiramente a realidade assume (MARQUES, s/ano, p.2). O cuidado com a leitura de Espinosa a) A virtude e a potência; b) Os afetos e a alegria; c) Deus e a Razão. A filosofia de Espinosa tinha como principais fundamentos: Em sua Ética, Spinoza explora o importante tema da servidão, especialmente na quarta parte do livro. Já na primeira frase dessa quarta parte da Ética, Espinosa esclarece o que entende por servidão, que é então definida como impotência: a) Divina para organizar e gerenciar os afetos. b) Divina para organizar e gerenciar as razões. c) Humana para regular e refrear os afetos. d) Humana para regular e refrear as razões. e) Humana para aniquilar e exterminar os afetos. Qual a alternativa correta? Interatividade Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_Espino za#/media/File:Spinoza.jpg ATÉ A PRÓXIMA!