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Gestão Social e Ambiental 38Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 O objetivo desta unidade é compreender a relação entre a busca pela cidadania e as tentativas de minimizar a exclusão social. Neste sentido, este tópico aborda desde as primeiras indagações acerca de quem deveria ter o status de cidadão (na Grécia antiga) até os novos rumos que a cidadania e o problema da exclusão social apresentam na atualidade. Além disso, chamou-se a atenção para o papel desempenhado pelas organizações, especialmente no Brasil, na construção de alternativas para a manutenção do exercido da cidadania e na construção de ações diretas ou indiretas com o intuito de minimizar o problema da exclusão social. Ao estudar esta unidade de aprendizagem, você poderá: ● Compreender historicamente a construção do conceito de cidadania; ● Analisar a questão da exclusão social e da cidadania a partir das iniciativas das organizações. No decorrer deste material você conhecerá diferentes temas. Confira abaixo: ● Cidadania; ● Exclusão social; ● ONGs; ● Organizações privadas. Introdução Objetivo Tópicos Abordados Gestão Social e Ambiental 39Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 Cidadania Exclusão Social Uma das principais questões que colocam em risco os regimes políticos e as relações entre Estado, sociedade e mercados, é o fato de que a questão social continua sendo um dos principais problemas a serem enfrentados. A desigualdade entre homens livres e escravos, permitida pelo Direito Romano, também aceitava a desigualdade entre os próprios homens livres. Neste momento, institucionalizou-se a exclusão social. Com a queda do Império Romano, a sociedade passou por inúmeras transformações em sua estrutura. Neste período, a sociedade assumiu uma estrutura estamental, baseada na hierarquia de classes (clero, nobreza e servos), a Igreja cristã assumiu o controle sobre as questões políticas (controlando a relação entre o cidadão e o Estado). O feudalismo, na condição de estrutura política que mediava as relações sociais, tinha como característica fundamental a dependência pessoal entre senhores e vassalos. Por este motivo, a dimensão da cidadania se perdeu ao longo da Idade Média, uma vez que a relação de dependência pessoal, na qualidade de condição fundamental daquela sociedade, não permitia a idéia de exercício pleno de cidadania, nem mesmo entre aqueles que, de alguma forma, ocupavam status privilegiado. Historicamente, o exercício da cidadania passou por várias fases. A exclusão social e a busca pelo exercício da cidadania não é apenas obrigação do Estado. Na atualidade, a sociedade civil, devidamente organizada, também atua no sentido de buscar alternativas para minimizar os problemas sociais. Na Grécia Antiga, era considerado cidadão apenas aquele que podia deliberar sobre as questões da cidade (polis). Além disso, este homem deveria possuir determinadas condições para ser considerado cidadão: ser livre e não precisar exercer qualquer tipo de trabalho para sobreviver. Os demais membros daquela sociedade (mulheres, crianças, estrangeiros e indivíduos que exerciam algum tipo de trabalho) não possuíam o status de cidadão grego. No Império Romano, a dinâmica social dividia-se em três classes: os patrícios, os plebeus e os escravos. Os plebeus, apesar de livres, não eram considerados cidadãos, pois apenas os patrícios podiam usufruir dos direitos civis, políticos e religiosos. Do ponto de vista das leis, o chamado Direito Romano ao passo em que protegia as liberdades individuais e permitia a autonomia da família (na condição de pátrio poder), não institucionalizou a igualdade entre os homens. Ao contrário: justificava a necessidade da escravidão e não reconhecia os homens que não tinham posse da terra ou algum outro bem. Gestão Social e Ambiental 40Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 Em meados do século XIV, a estrutura feudal começou a apresentar indícios de crise. As inúmeras guerras, a peste negra e dificuldade do clero para manter a ordem social, levaram a nobreza (na figura do Rei) a fazer parte efetiva do corpo Estatal. Na transição entre os séculos XV e XVI, o declínio do feudalismo era irreversível e a nobreza assumiu o poder político. Este período, conhecido como Estado Moderno, apresentou a dinâmica social, política e econômica (Mercantilismo), baseada no poder do Rei (monarquias absolutas) e na necessidade de fazer comércio e acumular riquezas no seu território. As monarquias absolutas, devidamente organizadas, exerciam o poder sobre os demais membros da sociedade. Entretanto, uma série de incoerências na atuação das monarquias, desencadeou o surgimento de intelectuais (entre os quais, Jean-Jacques Rousseau, Barão de Montesquieu, Diderot, Volteire), que discutiam e defendiam um governo em moldes democráticos, a igualdade, a participação popular, a defesa dos direitos do homem e a divisão do poder político em três instancias (Executivo, Legislativo e Judiciário). Gestão Social e Ambiental 41Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 O exercício da cidadania, embora ainda não fosse uma grande preocupação ao longo desse período (do século XVI ao XVIII), reaparecerá no contexto da formação dos Estados Nacionais, a partir do advento da Revolução Francesa (1789) e da Revolução Industrial (no final do século XVIII e início do século XIX). No contexto do século XIX, especialmente na Europa industrializada, o problema encontrava-se na relação conflituosa entre duas classes específicas: burguesia (detentores dos meios de produção) e proletariado (donos apenas de sua força de trabalho). Esta nova formação social apresentava como característica básica a desigualdade entre as classes sociais. No caso da América Latina, a discussão sobre cidadania e exclusão social apresenta algumas diferenças. Ao longo do século XIX, a maioria dos países estava em processo de independência e de construção de seus Estados. No caso do Brasil, a busca pela cidadania foi marcada por vários embates ao longo de todo período colonial e do Império. Entretanto, somente no século XX, as discussões sobre cidadania e o problema da exclusão social tornaram-se um tema de grande relevância. Por este motivo, entre os inúmeros problemas sociais gerados por esta nova estrutura, o exercício da cidadania e os transtornos gerados pela nítida exclusão social que atingia a classe operária, foi alvo de diversos estudos e o surgimento de correntes ideológicas (entre elas, o socialismo). Após a proclamação da República, em 1889, a discussão sobre os rumos da sociedade foram intensos. ● Indagou-se de que forma a liberdade e o exercício da cidadania poderia ser construído, uma vez que a sociedade brasileira, recém saída do regime escravocrata, não apresentava uma população devidamente instruída para esta finalidade. ● Os altos índices de pobreza e analfabetismo, ambos resquícios do processo de colonização baseado na exploração e na escravidão, dificultavam a formação de uma sociedade apta para a cidadania e resolução dos problemas sociais. Gestão Social e Ambiental 42Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 No Brasil, o uso do termo cidadania apareceu pela primeira vez na Constituição Imperial de 1824 e, em seguida, na primeira Constituição Republicana de 1891. Entretanto, o termo estava vinculado à idéia de nacionalidade (aqueles que exercem direitos políticos) e naturalidade (os que nasceram no território). Nas constituições posteriores, o termo se afirmou e, ao longo do século XX, foi amplamente debatido, e seus resultados estão expressos na formulação do código civil, apresentandoos direitos e deveres do cidadão. Também, ao longo do século XX, a exclusão social apresentouse como uma preocupação, tanto intelectual como para as diretrizes a serem tomadas pelo Estado. É fato que todo país subdesenvolvido ou em desenvolvimento, como o Brasil, encontra pelo caminho inúmeros fatores que impedem a resolução dos graves problemas sociais. De meados do século XX em diante, os índices de pobreza, desemprego, ausência de um amplo programa de saúde e educação, má distribuição de renda, entre outros, deixaram, aos poucos, de ser preocupação apenas do Estado. Tornaram-se alvo de intensos debates promovidos pela sociedade civil (através do surgimento de movimentos sociais, e a criação de organizações não governamentais – ONGs) e de entidades de classe (como, por exemplo, a classe empresarial). Gestão Social e Ambiental 43Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 ONGs Organizações Privadas Nos anos 1980, a promulgação da Constituição de 1988 foi um passo importante para a reconfiguração política, econômica e social do país, pois restabeleceu a ordem democrática e a abertura de novos canais de participação política. Do ponto de vista político, o poder legislativo ganhou mais força e autonomia e, por este motivo, vários representantes da sociedade civil organizada promoveram suas estratégias para utilizar este canal para fazer valer suas expectativas. É comum observar, na atualidade, um processo constante de construção de uma consciência cidadã através da formulação de políticas e de iniciativas dos setores privados. A elite empresarial, por exemplo, investiu e investe amplamente em candidatos que possam exercer influência no poder legislativo (federal, estadual e municipal) nos assuntos de seu interesse através da formação de grupos de pressão. Além disso, a partir da dificuldade resolver as demandas sociais, o Estado investiu na formulação de legislações onde as demais organizações da sociedade civil deveriam participar do processo de diminuição da exclusão social e no crescimento do exercício da cidadania. A Rede Globo de Televisão, por exemplo, promove uma vez por ano um evento intitulado “Ação Global”, cujo objetivo é oferecer gratuitamente determinados serviços (obtenção de documentos de identidade, educação alimentar, serviços médicos, entre outros), destinado aos membros da sociedade que, normalmente, encontram dificuldade na obtenção desses benefícios. Outra iniciativa é a campanha “Amigos da Escola”, que tenta conscientizar o cidadão acerca da importância da manutenção do espaço escolar público não apenas como responsabilidade integral do Estado, mas necessariamente um bem que a sociedade deve participar e preservar. Exemplo Exemplo Gestão Social e Ambiental 44Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 Dos anos 1990 em diante, as discussões em torno da construção e do exercício pleno da cidadania e o combate à exclusão social tornaram tema relevante nas iniciativas das organizações. Entidades de representação de classe, como as federações das indústrias, entre as quais: ● FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ● FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) ● CNI (Confederação Nacional das Indústrias) Estas federações promovem inúmeros debates, análises e estudos voltados para a questão social. Nesta perspectiva, é importante destacar que as empresas tendem a assumir papéis importantes. No Brasil, dos anos 1990 em diante, o Estado estabeleceu uma legislação para que as empresas pudessem institucionalizar sua atuação social. A Responsabilidade Social Empresarial, neste sentido, tornou-se um componente essencial para que as empresas, além de atuar na minimização dos problemas de exclusão social e na construção da cidadania passaram a receber incentivos fiscais de acordo com o grau de atuação e de números de projetos com tais finalidades. A FIRJAN, por exemplo, financia alguns projetos de ordem social, para atender algumas demandas sociais do Estado do Rio de Janeiro: inclusão digital, cursos técnicos, projetos sociais, entre outros. Exemplo Gestão Social e Ambiental 45Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 Avaliação a Distância É o momento de testar os seus conhecimentos. 1. De que forma as questões da cidadania e da exclusão social foram postas no século XIX? 2. Com a Constituição de 1988, o que mudou na sociedade brasileira com relação ao exercício da cidadania e o combate à exclusão social? Respostas: Acesse o ambiente e veja as respostas comentadas. Gestão Social e Ambiental 46Cidadania e Exclusão Social U N ID A D E 04 Atividade Obrigatória Faça um resumo dos principais pontos discutidos no texto desta unidade. Síntese Em síntese, pensar a cidadania e exclusão social não é algo recente. A construção da cidadania e o combate aos inúmeros problemas provocados pela exclusão social, embora tema de discussão intensa nos dias de hoje, especialmente nos países em desenvolvimento como o Brasil, está longe de uma resolução. A sociedade civil, devidamente organizada através das ONGs e de organizações privadas, embora tentem estabelecer iniciativas para a resolução dessas questões, ainda há um longo caminho a ser percorrido. ● Reis, Elisa Pereira, e Schwartzman, Simon. Pobreza e exclusão social: aspectos sócios políticos. (disponível em: http://www.schwartzman.org.br/simon/pdf/exclusion.pdf, acessado em 03/02/2010) Bibliografia Recomendada
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