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Universidade Paulista – UNIP
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia - 7º Semestre
Reflexão sobre o Filme: Estamira
Disciplina: Psicopatologia Geral
Professora: Andréa Poppe
Aluna:
Ariane Rodrigues R.A: D12147-2
SANTOS
2019
O documentário nacional “Estamira” foi produzido em 2016 e nos trás a história de uma senhora, com seus mais de 60 anos, com um diagnóstico de Psicose Crônica. 
Estamira vivia e trabalhava no aterro sanitário de Jardim Gramacho (na época em que foi produzido o filme), local que recebe os resíduos produzidos na cidade do Rio de Janeiro.
Quando fazemos uma reflexão de tal documentário à luz das teorias do livro “Encontro marcado com a Loucura” de Tânia Cociuffo, encontramos a semelhante história de Maria e ambas nos trás a pensar: Será que tratar Maria ou Estamira é apenas medicá-las?
Estamira demonstra inquietação e mal estar ao uso dos remédios, hora resistente e hora conformada.
No livro, a autora nos fala da importância de alguém que nos ajude a pensar as questões da vida (COCIUFFO, 2001). Estamira sofrera com dois maridos, estupros, a morte da mãe, a solidão, o abandono de uma sociedade capitalista e excludente e todos os tropeços de uma vida pesada de carregar.
O livro não nega os benefícios do uso de psicofármacos, porém, nos deixa claro que como um recurso isolado não trás mudanças na perspectiva (COCIUFFO, 2018). Faz-se necessário o pensar, ter um projeto de vida.
 Eugen Bleuler (1857-1939) contemporâneo de Kraepelin e Freud (1856-1939) vão falar da importância de escutar o paciente na introdução do livro “Tratado de Psiquiatria”:
“Quando um médico se defronta com a grande tarefa de ajudar uma pessoa psiquicamente enferma, vê a sua frente dois caminhos: ele pode registrar o que é mórbido, irá, então, a partir dos sintomas da doença, concluir pela existência de um dos quadros mórbidos impessoais que foram descritos (...) ou pode trilhar outro caminho: como escutar o doente como se fosse um amigo de confiança e, nesse caso, dirigirá sua atenção menos para constatar o que é mórbido, para anotar sintomas psicopatológicos e a partir disso chegar a um diagnóstico impessoal, e mais para tentar compreender uma pessoa humana na sua singularidade e covivenciar suas aflições, temores, desejos e expectativas pessoais.”
 	Será que se houvesse um profissional para ouvir Estamira e entender suas aflições, o tratamento então, não seria mais eficaz?
Freud considerava os sintomas como uma mensagem a ser interpretada, de um indivíduo que não tem outra forma de expressão a não ser a que se apresenta (COCIUFFO, 2001). Será que a doença de Estamira poderia ser também uma resposta ao seu sofrimento e exaustão?
Estamira demonstra melancolia e até algum desejo de morte, porém ao mesmo tempo, proximidade afetiva pelas pessoas. Em uma sena ela diz: “Visivelmente, se eu me desencarnar eu tenho a impressão que serei muito feliz e talvez eu poderia ajudar alguém. Porque o meu prazer sempre foi esse: ajudar alguém” (ESTAMIRA, 2005).
Ela também relembra o pai com e amor quando diz: “meu pai chamava eu de um tanto de nomezinho, ‘merdinha’, ‘neném’, ‘fiinha de papai’”. Em outra sena ela brinca com o colega do lixão fazendo proposta de casamento para ele. Estamira chora pelo amor do ex-marido e depois o xinga de sujo e porco (ESTAMIRA, 2005).
O livro “Encontro marcado com a loucura” nos ensina sobre o início da compreensão da concepção psicopatológica, onde a loucura era atribuída à ação dos deuses, e depois mais a frente na concepção medieval (476-1453 d.C) associada à possessão diabólica (COCIUFFO, 2001). Vemos que tais concepções persistem ainda até os dias de hoje, temos como exemplo o caso do filho de Estamira que confere os delírios da mãe a demônios.
O capítulo III do livro fala da importância de “caminhar com o paciente”. Não acredito que seja possível realmente entender Estamira, sem nunca ter estado naquele lixão, sem entender o contexto das pessoas que vivem naquele lugar, sem compreender o luto sofrido pela perda da mãe, a dor das traições vazias e das violências sexuais sofridas. Para entender seu quadro clínico se faz necessário uma pesquisa de campo, para que de maneira mais profunda, possa compreender suas angústias. Deve-se resgatar a identidade através da relação social, livre de preconceitos e retraimentos.
Seria de extrema importância analisar as recordações reprimidas de Estamira, seus conflitos psíquicos e uma possível sexualização precoce.
 Wilfred Bion (1897-1979) dizia que o traço que mais se destaca na parte psicótica da personalidade é a intolerância a frustração, Estamira deixa transparecer em suas falas por diversas vezes tais intolerâncias: “Neste mundo de maldades não tem mais o inocente. O que tem, isto sim, por todo lado, é o esperto ao contrário” (ESTAMIRA, 2005).
Tal documentário da à voz a Estamira e nos coloca na posição de ouvinte, onde a mesma, com uma vocação quase poética, numa mistura de loucura e extrema lucidez, nos trás para o seu mundo e nos faz pensar, o quanto tem de “Estamira” em cada um de nós.  Em um trecho ela diz: “Eu sou à beira do mundo, a visão de cada um”(ESTAMIRA, 2005).
Estamira é, sobretudo, um convite, a uma reflexão sobre as questões sociais, a exclusão e a subjetividade de cada um.
Bibliografia:
COCIUFFO, T. Encontro marcado com a loucura: ensinando e aprendendo psicopatologia. 4° edição. São Paulo: Luc Editora, 2001.
ESTAMIRA. Direção: Marcos Prado. 121min. IMDb. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IcUKQNj3HEg>. Acesso em: 20 fev. 2019.

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