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1 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS: Orçamento Base Zero como ferramenta de gestão de custo e geração de vantagem competitiva da AMBEV. João Launé Pereira. 1 Luis Carlos Vilena. 2 Resumo O presente artigo aborda a Gestão Estratégica de Custos por meio da utilização do Orçamento Base Zero como instrumento de controle, redução de custos e geração de vantagem competitiva. Expõem conceitos e classificações de custos bem como seus processos de mensuração e acumulação dos mesmos. Explora a experiência da AMBEV, empresa reconhecida como referência em gestão de custos. Relaciona as principais bases e indicadores de custos utilizados no Orçamento Base Zero e comenta sua metodologia de implantação. Analisa e relaciona os resultados alcançados com a implantação do Orçamento Base Zero na AMBEV Palavras ‐ chaves: Gestão estratégica, custos, Orçamento Base Zero, AMBEV. Abstract This article covers the costs of Strategic Management through the use of zero-based budgeting as cost reduction tool and generate competitive advantage using the experience of AmBev, now recognized as a benchmark in cost management . Sets out the main concepts and classification of costs and methods of identification and accumulation thereof. Explores concepts, main bases and cost indicators used in the zero-based budgeting. Analyzes the results achieved with the implementation of Zero Base Budget in AMBEV Keywords: Strategic management , cost , zero-based budgeting , AmBev . 1- INTRODUÇÃO Assumir posição de destaque em qualquer segmento de mercado exige habilidades de gestão como: visão de mercado, eficiência em marketing, formação de equipes, foco em resultados, entre outras apontadas vastamente pela literatura especializada. Não se pode negar que foco nos resultados tem se mostrado extremamente necessário se a empresa tem em seu plano estratégico o propósito da permanência no mercado. Apresentar bons resultados econômicos e financeiros exige constante atenção nas duas variáveis que mais impactam nesse objetivo, quais sejam: receitas e custos. De fato, não 1 João Launé Pereira, graduado em Ciencias Contábeis, mestrando em gestão de organizações; 2 Luis Carlos Vilena, Graduado em Administração, mestrando em Gestão de Organizações; 2 é possível imaginar uma empresa gerando resultados positivos que não seja resultante da equação: Lucro = Receitas > Custo e despesas. A conclusão que se chega é que para gerar lucros, só há as seguintes alternativas: a) Aumentar receitas mantendo-se os custos e despesas constantes; ou b) Aumentar receitas e diminuir custos e despesas; ou c) Manter receitas e diminuir custos; Assim, na atualidade, gerar lucros não é garantia de sucesso e exige-se que um negócio não apenas produza bons resultados, mas que esses sejam constantes. Entretanto, para que isso aconteça, as empresas enfrentam concorrentes cada vez mais preparados no que fazem. Esse canário requer planejamentos bem elaborados e estratégias bem definidas. Atendendo aos anseios de acionistas que exigem gestão privilegiando a maximização de lucros e um mercado em que a maioria dos preços de produtos e serviços são ditados pelo mercado, resta às empresas ter atenção voltada para gestão dos custos e das despesas. Surge nesta perspectiva, a gestão estratégica de custos para possibilitar a geração de informações necessária ao apoio à gestão da empresa e que tem se revelado uma vantagem competitiva. Por essa razão é justificada a relevância do tema objeto da pesquisa que será orientada pelo seguinte questionamento: O orçamento Base Zero Contribui para redução de custos e formação de vantagem competitiva para empresas? Para busca da resposta, o trabalho analisará a experiência de implantação e utilização do Orçamento Base Zero na Ambev, empresa reconhecida mundialmente como referencia na gestão de custos. O trabalho está dividido em cinco partes. Na primeira parte, faz-se uma introdução e contextualização do tema abordado. A seguir, na segunda parte, abordam-se os custos, sua classificação e as formas de identificá-los e acumulá-los. A gestão estratégica dos custos é tratada na terceira parte. Na quarta parte, será abordada a experiência da utilização do Orçamento Base Zero na Ambev e os resultados alcançados, por fim, na quinta parte, são feitas as considerações finais. 2 – IDENTIFICAÇÃO E MENSURAÇÃO DOS CUSTOS Objeto de constante exigência de cortes, embora, muitas vezes nem mesmo sejam conhecidos e mensurados em uma empresa, os custos, precisam antes de tudo serem mensurados. Na tentativa de subsidiar decisões cada vez mais acertadas na gestão de custos e no processo de tomada de decisões gerenciais há diversas classificações, formas de rastrear e mensurar os custos. 3 Segundo Horngren (2008, P.26) custo é definido pelos contadores como recurso sacrificado para conseguir um objetivo específico. Esse objetivo em geral diz respeito a um bem ou serviço ofertado como meio de aquisição de receitas para empresa. Identificar e medir com precisão o valor do sacrifício para obtenção de um produto ou serviço é essencial para estabelecer o preço de venda e compreender a rentabilidade que cada produto ou até mesmo cada cliente proporciona à empresa. Crepaldi 2010 classifica os custos, quanto à forma que são apropriados aos produtos: em diretos e indiretos e quanto ao nível de atividade: como fixos, variáveis e semi-fixos ou semi-variáveis. Classificação idêntica à adotada por Eliseu Martins e Silvério das Neves. Dentre inúmeras outras classificações utilizadas para os custos, tem ganhado bastante atenção a que enfoca os custos ocultos ou invisíveis, devido a constatação de que esses podem representar oportunidades para uma empresa tornar-se mais competitiva, quando há conhecimento e controle deles. Essa classificação foi apontada, segundo a ABCustos Associação Brasileira de Custos, nos estudos de Miller e Vollmann em 1985 que destacavam a necessidade das empresas considerarem os fatores geradores dos custos invisíveis. Ferreira 2009 distingue os custos diretos e indiretos através da utilização ou não de rateio para apropriá-los aos produtos, sendo diretos os que não fazem uso do rateio, ao passo que os indiretos são os que necessitam dele para serem apropriados aos produtos. Outra classificação dada pelo autor é em relação ao volume produzido como fixos ou variáveis. Fixos são os que não possuem relação com o volume produzido, enquanto os que variam acompanhando o volume produzido são as variáveis como exemplo a matéria prima. A preocupação maior dos gestores e estudiosos é voltada aos custos indiretos pela necessidade do uso de rateios, necessários para identificar e acumular esses custos para então atribuí-los aos produtos fabricados em uma linha de produção quando fabrica mais de um produto. O problema que gera tamanha preocupação é o fato de que esse dispositivo gera distorções nos custos por isso foi necessário buscar novas alternativas para mensuração, acumulação e alocação desses custos na tentativa de assim eliminar os efeitos produzidos pelos rateios. Surgiram então meios como: o Custeio por Absorção, o Custeio Variável, o Custeio Baseado em Atividades, o Custo Padrão, o Custo Meta dentre outros. O Custeio por Absorção ou Custeio Global consiste em atribuir ao produto todos os custos incorridos para a sua fabricação sejam esses custos fixos ou variáveis, englobando desde o custo da matéria prima até o custo de transformação. 4 O Custeio Variável, por sua vez, considera como custos apenas aqueles que guardam relaçãocom volume produzido, ou seja, os custos variáveis, enquanto que os custos fixos são tratados como despesas do período. Na tentativa de amenizar as distorções provocadas pelos rateios, surgiu o Custeio ABC – Activity Based In Costing ou Custeo Baseado em Atividades. Nesse sentido, Martins (2003, p. 87), informa que o Custeio Baseado em Atividades “é uma metodologia de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos”. O foco dessa metodologia de acumulação de custos é identificar os custos atribuídos às atividades necessárias para produção dos produtos e por fim distribuir os valores das atividades aos produtos. Em uma perspectiva mais ampla e agora visando reduzir o valor dos custos e proporcionar lucros maiores, surgiu a adoção de métodos que estipulavam previamente custos ideais a serem praticados, é caso do Custo Padrão e Custo Meta. Por essa concepção são estabelecidos os custos referenciais e todo trabalho visa manter os custos praticados dentro dos limites estabelecidos. Essa concepção possibilitou uma idéia ainda mais abrangente de identificar custos em um completo sistema de produção e surgem teorias como a Teoria das Restrições (Theory of Constraints – TOC) analisando a empresa como um sistema que poderia ser comprometido por uma área ou setor específico, denominado gargalo. Assim passa-se à idéia de controle de custos em uma cadeia mais ampla, embora ainda restrito ao ambiente interno de produção. A gestão de custos com foco na cadeia de valores é recente e pautada na concepção de que existe ligação entre as empresas com áreas internas e externas. Assim, nessa concepção a análise de gestão de custos estende-se a clientes e fornecedores todos direcionando esforços para maximização dos resultados e fortalecimento de toda a cadeia, constituído um diferencial de competitividade uma vez que toda a cadeia é fortalecida por decisões que visam a sustentabilidade de todos envolvidos. 3 - GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS Tradicionalmente, as formas utilizadas para análise, identificação e controle dos custos eram voltadas para o ambiente interno da empresa e isso não levava em consideração custos que afetam a instituição, mas ocorrem no ambiente externo de atuação da mesma. A Gestão Estratégica de Custos surgiu para corrigir essa lacuna deixada por essa forma de análise dos custos. O principal fundamento da gestão estratégica de custos é a 5 análise de um contexto mais amplo para se entender melhor as estratégias e decisões no nível empresarial transformando-a em uma vantagem competitiva. Nesse sentido Hansen (2013, p. 432) assinala que “a gestão estratégica de custos é o uso de dados de custos para desenvolver e identificar estratégias superiores que produzirão uma vantagem competitiva sustentável”. Como vantagem competitiva o autor descreve tratar de um valor melhor para o cliente por um custo igual. Para Hansen; Mowen (2001, p. 423) a gestão estratégica de custos "é o uso de custos para desenvolver e identificar estratégias superiores que produzirão uma vantagem competitiva". A gestão estratégica de custos é apontada como resultado de três temas subjacentes tirados de literaturas especializadas em gestão de custos são eles; a) Análise da cadeia de valor; b) Análise de posicionamento estratégico; c) Análise de direcionadores de custos. Como cadeia de valor pode-se entender um sistema de produção logicamente estruturado para concepção de um produto contemplando as atividades de produzir, comercializar, entregar e dá sustentabilidade a esse produto. Na execução desse ciclo pode haver várias empresas envolvidas formando uma cadeia que envolve desde fornecedores dos fornecedores, a clientes dos clientes até o consumidor final. Logo, verifica-se que as ações de uma empresa vão além dos limites internos. Um estudo fazendo análise estratégica de cadeia de valores, realizado por alunos da Universidade de São Paulo, assim concluem ser correta a definição de cadeia de valor: Cadeia de Valor é uma sequência de atividades que se inicia com a origem dos recursos e vai até o descarte do produto pelo último consumidor. Uma cadeia de Valor bem estruturado deve: a) Conhecer suas receitas, custos e despesas; b) Analisar seus direcionadores de custos de cada uma de suas atividades, c) Controlar os direcionadores de custos melhor que seus concorrentes ou reconfigurar a cadeia. Já o posicionamento estratégico está relacionado ao nicho de mercado em que uma empresa deseja figurar diante do mercado. Há empresas que figuram para um o tipo específico de cliente ou classe de cliente. Como direcionador de custos podemos entender que são as bases utilizadas para apropriar os custos dos recursos consumidos no processo produtivo de uma empresa como salários, 6 telefone. Para uma gestão de forma estratégico em custos é necessário conhecer as implicâncias e conseqüências de cada decisão que afete qualquer uma dessas variáveis. 3.1 O ORÇAMENTO BASE ZERO (OBZ) O Brasil vive um momento de instabilidade econômica muito grande e as empresas devem entender que não basta somente planejar. Elas devem saber o que fazer e de que forma fazer. Para que se tenha início a um orçamento, primeiramente devem priorizar duas ações básicas: Quanto devem Gastar? e Quando devem gastar? A eficiência do planejamento das operações e a preocupação com as informações corretas fazem com que os gestores busquem cada vez mais novas metodologias e ferramentas de controle em suas empresas. O OBH (Orçamento Base Histórica) é um modelo clássico aplicado, que segundo Lunckes (2003), tendem a perpetuar as ineficiências do passado visto que são elaborados com base nas informações dos anos anteriores. Um dos métodos de controle gerencial de custos que tem como objetivo principal minimizar ou até acabar com esta inconsistência é conhecido como Orçamento Base Zero (OBZ). Grippa apud Padoveze (2000, p. 384) diz que “a filosofia do orçamento base zero está em romper com o passado, ou seja, nunca deixar o orçamento partir da observação dos dados do passado, pois estes podem conter ineficiências que poderiam ser perpetuadas”. O Orçamento Base Zero é uma ferramenta operacional de planejamento que faz com que os gestores da empresa tenham uma grande responsabilidade e muito cuidado na criação do orçamento. Deverá ser elaborado baseado em possibilidades de melhorias, sem levar em consideração as receitas e despesas realizadas no passado. Deverá também abranger, devido suas particularidades, todos os setores e mobilizar um grande número de colaboradores. Segundo Grippa apud Silva (1991) os objetivos do Orçamento Base Zero são: a) Desenvolver um planejamento operacional e Orçamentário para o próximo ano; b) Conduzir a uma redução de custos; c) Diagnosticar o que realmente está acontecendo na organização para realizar melhorias no processo de planejamento estratégico; d) Alocar recursos com uma base mais real; e) Validar o planejamento em longo prazo; f) Auditar a efetividade das atividades/programas. Uma das principais filosofias do Orçamento Base Zero (OBZ) é gerenciar e controlar a redução de despesas, que explora sistematicamente todos os departamentos da empresa e um 7 grande número de colaboradores dos diversos níveis organizacionais buscando otimizar as atividades e a orçamentação. O Orçamento Base Zero foi usado pela primeira vez no final da década de 60, pela empresa americana Texas Instruments, para orçamentação do setor de Assessoria e Pesquisa. Após esta experiência, o método foi expandido para toda a empresa no preparo do orçamento de 1971. Posteriormente,em vista do êxito obtido nesta experiência, o ex-presidente Jimmy Carter, então governador do Estado da Georgia, contratou executivos que haviam desenvolvido esta técnica na Texas Instruments para implantá-la em seu estado, o que foi feito com grande sucesso. 3.1.1 Metodologia do Orçamento Base Zero (OBZ). É uma ferramenta que parte do princípio de que nem todos os eventos ocorridos no ano atual irão se repetir no próximo ano. Ou seja, na sua empresa você não terá necessariamente gastos com as mesmas funções e operações nos exercícios seguintes. O Orçamento Base Zero (OBZ) tem como principal metodologia fazer com que as empresas gerem a previsão orçamentária. Nesta metodologia são analisadas premissas relacionadas com a função de cada despesa e as necessidades estratégicas da empresa. Não é um orçamento em que são utilizadas previsões históricas ou índices de reajustes de despesas, como é feito no modelo tradicional. As despesas são analisadas, revisadas e avaliadas, de forma a obter um parâmetro a ser seguido para o próximo período. Devem-se orçar as despesas baseadas em cada processo, projeto e atividade necessários para atingir as metas e objetivos definidos pela empresa, e cada despesa deve ser discutida e justificada pelos gestores. Desta maneira, garantem-se somente as despesas essenciais para o ano seguinte. Em um evento com todos os departamentos são estabelecidas metas de redução aliadas às estratégias de negócio, transformando premissas em um plano de ação orçamentário. Todas as atividades e projetos complementares são orçados em separado e avaliados individualmente, surgindo assim uma matriz com as prioridades de ação do orçamento. Assim, a Organização ganha qualidade nas decisões de investimento e analisa os resultados matricialmente. Nesta metodologia os esforços dos grupos de trabalho se traduzem em um conjunto de ações benéficas para a Empresa, tornando o orçamento uma ferramenta de controle extremamente eficaz. As soluções do Orçamento Base Zero (OBZ) inclui as análises das despesas, das estruturas departamentais, dos processos, das estratégias e das premissas, tornando o processo 8 orçamentário integrado entre todos os departamentos da empresa. Além disso, o orçamento passa a ser direcionado conforme as premissas da alta gestão. Uma coisa importante a ser citada é que pelas características do Orçamento Base Zero, a utilização do mesmo se deve principalmente quando se deseja realizar uma reestruturação na empresa. Deveria ter um item 3.1.2. ou então eliminem o item 3.1.1. 4 – ORÇAMENTO BASE ZERO NA AMBEV. A criação da AmBev se deu com a fusão da Brahma e a Antarctica, na época avaliada em R$ 3,7 bilhões (TEIXEIRA, 2008, p.92), dez anos antes da fusão, em 1989, a Brahma, então uma empresa familiar, teve seu controle acionário adquirido pelo grupo fundado do Banco de Investimento Garantia. Ao longo dos anos, a cultura da instituição bancária foi se integrando cada vez mais ao dia a dia da cervejaria. Em 2004 a Ambev se associou à Interbrew (Cervejaria Belga), numa operação que resultou na formação da InBev (Interbrew + AmBev) e tinha o compromisso de transferir à nova empresa o seu jeito de fazer as coisas. A empresa passou a ser a cervejaria mais eficiente do mundo em gestão de custos. Já em 2008 a InBev passou a ser o maior grupo cervejeiro mundial com operações nos quatro continentes e números impressionam, pois a companhia responde por 70% do mercado nacional de cerveja. Atualmente tem mais de 35 mil funcionários no país. É detentora mais de 30 marcas. (por que reduziu a fonte?) Reconhecida no mercado pelo modelo agressivo de gestão, A AMBEV gerencia com atenção especial aos custos. Segundo executivos da empresa, custos e despesas são como unhas que sempre estão crescendo e periodicamente devem ser aparados. O reconhecimento da empresa como referencia em gestão de custos é fruto de algumas ferramentas amplamente divulgadas por ela e que se revelam eficazes para esse fim. Dentre algumas, a mais divulgada pela empresa é o Orçamento Base Zero. 4.1 – USO DO ORÇAMENTO BASE ZERO NA AMBEV Esse instrumento é divulgado como maior fonte do sucesso da administração dos custos na Companhia. A Brahma já trabalhava com o programa Orçamento Base Zero (OBZ) e com a criação da AmBev, todo o conhecimento adquirido pelo pessoal da Brahma teve de ser repassado ao pessoal da Antarctica. Foi criado um projeto chamado “Volta às Origens” que tinha como objetivo iniciar o processo de implantação do OBZ, onde os custos e despesas 9 eram reavaliados para atingir as metas no final do ano de 1998. Serviu também para levantar as informações e dados dos gastos nos anos de 1997 e 1998. Inicialmente as seguintes etapas faziam parte da elaboração do OBZ: coleta dos dados, avaliação dos esforços e das alternativas para montar o orçamento de 1999; negociação do orçamento e consolidação do orçamento no mês de novembro de 1998. Em seguida todos os gestores conheceram os dados que serviria como base para criação do orçamento e começaram a elaborar buscando esforços e alternativas de maximizar o resultado da empresa. Detalhar cada gasto realizado com as atividades geradoras e justificar cada atividade foi os passos iniciais para a elaboração do orçamento. Foram criados alguns pontos para nortear a elaboração e o acompanhamento do orçamento. a) Linguagem exclusivamente contábil: não é permitido qualquer ajuste extra-contábil para justificar uma variação orçamentária. Esta premissa reforça a importância da Contabilidade no processo e ajuda no controle de sua qualidade. (margem esquerda fora do padrão) b) Valores históricos: Em determinadas situações, sobretudo em épocas inflacionárias, costumava-se valorizar principalmente os materiais a preço de reposição e não pelo valor histórico. Os cálculos de provisões, como encargos trabalhistas, por exemplo, anteriormente eram utilizados em forma de percentual sobre o salário base. Com a metodologia do OBZ os únicos valores aceitos são os valores históricos. c) Garantir a correta alocação dos lançamentos contábeis (contas x centro de custo): na metodologia do OBZ cada conta tem um dono e cada centro de custo também. Eis alguns conceitos importantes utilizados na metodologia do OBZ implantado na Brahma: a) Os pacotes são agrupamentos de contas com características similares, como, por exemplo, Pacote de Terceiros composto pelas contas de Fretes e Carretos; b) Entidades são as Unidades de Negócio, como por exemplo, a Entidade Centro de Distribuição (CD) de Fortaleza; c) Gestores Corporativos, cujo papel é analisar detalhadamente as entidades, elaborar e/ou revisar os padrões e políticas corporativas e identificar oportunidades de ganhos; d) Gestores de Unidades, que são gestores pertencentes às unidades de negócio da empresa (Centros de Distribuição, Fábricas, Áreas Comerciais, etc; e) Variável Base Zero (VBZ), que XVII Congresso Brasileiro de Custos – Belo Horizonte - MG, Brasil, 3 a 5 de novembro de 2010 equivale a uma conta contábil ou a um grupo de contas contábeis de naturezas similares; 10 f) Nível Base Zero (NBZ), que é o menor nível onde será realizado o levantamento de dados; g) Matriz do OBZ, que representa graficamente as inter-relações dos conceitos mencionados, sendo que as atividades que compõem uma VBZ correspondem ao seu detalhamento que, conforme avaliação do dono da VBZ pode sugerir a criação de uma conta específica para controlar determinado gasto. Para a construção do Orçamento Base Zero (OBZ) faz-se necessária a utilização de parâmetros. Estes parâmetros seguem a seguinte seqüência lógica: NaCriação do OBZ devem ser levados em consideração os Níveis de Esforços correspondentes aos percentuais de redução em relação aos valores de referencia baseados no que foi realizado no ano anterior. Para cada Nível de Esforço sugerido é apresentada a consequência do esforço. Quando ha uma redução consciente dos gastos, todas as ideias devem ser levadas em consideração, ou seja, por mais arrojada que seja a ideia, a mesma deverá ser analisada quanto as suas consequências. Todo processo analítico deve ser embasado pelas informações contábeis. Depois de implantado o processo do OBZ, adquiriu-se uma experiência significativa sobre controle de gastos e estendeu-se a metodologia para o processo produtivo objetivando controlar também os custos variáveis. Foi denominado de CBZ (Custo Base Zero), criado em 2000 com objetivo de aprimorar o controle dos custos de produção. O Controle é feito por um sistema próprio que serve para acompanhar os resultados diariamente através de comparações com a meta definida pelo usuário. No sistema verificam- se os motivos pelos quais as VBZs não tiveram suas metas atingidas e os mesmos devem justificar de forma incisiva se houve ganhos ou perdas. Ao final de cada mês são realizadas reuniões para discutir o OBZ, antes disso os responsáveis por cada entidade realiza reuniões na própria unidade com os gestores dos pacotes que detalham o comportamento da VBZ durante o mês. O dono da entidade apresenta 11 os números para o Diretor Regional. O Diretor Regional consolida os números de suas unidades e apresenta no corporativo o desempenho atingido no mês. Foi criado um grupo de trabalho com a finalidade de auditar o OBZ onde o papel principal é garantir que todas as orientações do Orçamento sejam cumpridas com o acompanhamento e monitoramento dos valores mensais orçados e realizados e passando as informações à Diretoria. A Cada ano são estabelecidas metas desafiadoras para o controle de despesas e custos, focando sempre ampliar as margens. O OBZ (Orçamento Base Zero) e o CBZ (Custos Base Zero) tem como princípio que cada equipe é responsável pelo gerenciamento do seu orçamento e o alcance das metas é recompensado por um agressivo programa de remuneração variável. Assim a empresa procura estimular o comprometimento e o direcionamento de todas as equipes ao rigoroso controle de custos. Todos fazem parte da dimensão estratégica que procura reduzir os custos e na empresa existem programas de excelência que visam recompensar as melhores práticas. Desta forma, a empresa consegue aumentar a produção reduzindo o consumo e diminuindo o desperdício de matérias-primas. Por fim, a busca pela eficiência em custos é complementada pelo processo de verticalização, ou seja, a própria AmBev produz parte de seus insumos consumidos como: o malte, uma fábrica de rolhas metálicas, uma unidade de pré-forma de garrafas PET, uma fábrica de garrafas de vidro, além de quatro unidades de adjuntos sólidos (grits de milho, flakes de milho e milho germinado). Segundo dados contábeis do ano de 1999 a implantação do OBZ propiciou uma redução de despesas de R$ 152 milhões, ou 16% sobre o total do exercício anterior. (em se tratando de citação longa, abra antes com um texto) “...O objetivo principal da OBZ é questionar permanentemente a estrutura de despesas buscando eficiência em todas as atividades elevando a capacidade de geração de lucros.” Essa frase foi divulgada no Relatório Anual da Companhia Cervejaria Brahma (Brahma, 1999, p.18) , houve um processo de comunicação muito intenso visando a mobilização de todos os colaboradores e apesar de todas as dificuldades o orçamento do ano de 1999 foi implantado e assimilado em praticamente cinco meses seguindo rigorosamente a nova metodologia. Não tinha como implantar essa nova ferramenta sem que houvesse a participação maciça de todos os colaboradores, Atitude simples como preocupar-se com as folhas de papéis gastas em impressões, apagar a luz e desligar o ar condicionado quando a sala estava desocupada, falar ao telefone somente o indispensável, usar cartucho reciclado, etc. passaram a fazer parte do jeito de agir de cada colaborador. 12 Outro aspecto importante também nessa mudança cultural é o envolvimento e comprometimento da alta administração da organização, sobretudo dando exemplos para todos. Dar o exemplo é inclusive um dos itens que fazem parte da cultura empresarial da AmBev (AMBEV, 2005, p. 13). Alguém só participa de alguma coisa, vendo sentido naquilo, e as pessoas, apesar da natural resistência inicial, começaram a ver algum sentido no OBZ. Apesar de tudo o choque cultural decorrente da forma como o orçamento funcionava antes e de como passou a funcionar foi inevitável. A implantação do OBZ e do CBZ serviu como elemento motivador dos colaboradores, dentre outros fatores, por propiciar que aos que apresentassem boas ideias traduzidas em retorno financeiro para empresa fossem de alguma forma recompensados. Os programas de excelência, que são uma das formas de receber a remuneração variável, o não cumprimento da meta especificada no OBZ compromete 50% da remuneração variável para a unidade de negócio, ou seja, mesmo que o colaborador seja bem avaliado, não receberá o bônus integral. Para as equipes ou colaboradores responsáveis por alguma meta de orçamento não alcançada, não há remuneração variável (AMBEV, 2007, p. 31). 4.2 – ANÁLISE DOS RESULTADOS DA AMBEV Para analisar se utilização do Orçamento Base Zero pode contribuir com o desempenho da gestão de custos na Ambev, foi feita a análise dos números divulgados pela companhia nos últimos anos comparando a evolução da peformance em alguns indicadores de desempenho que avaliam a eficiência em gestão de custos e despesas. Os indicadores utilizados foram: Margem Bruta, Ebit e Ebitda por ser possível permitir uma análise em três pontos cruciais de desempenho de rentabilidade na Demonstração de Resultados de Exercícios. A Margem Bruta mede a receita deduzida dos impostos incidentes sobre as vendas e custo dos produtos vendidos sendo possível analisar quanto da receita total das vendas fica comprometida com os custos necessários para produção dos produtos vendidos. Já o Ebit e o Ebitda medem o desempenho operacional após incluir os gastos da empresas mesmo que não estejam diretamente aplicados aos produtos como é o caso das despesas. O Ebit mede o lucro antes dos impostos e tributação já o Ebitda exclui além dos impostos, os efeitos da depreciação, amortização e exaustão, neutralizando-se assim os efeitos meramente contábeis. As margens desses indicadores são mais consistentes para análise porque indicam a quanto do lucro ficou na empresa por cada real vendido e para obtê-las basta dividir o valor encontrado em cada indicador pela receita líquida. 13 Com base nos relatórios divulgados pela Ambev de 2007 há 2014 foram coletadas as seguintes informações para subsidiar a análise de gestão de custos na empresa: INFORMAÇÃO DE DESEMPENHO AMBEV 2007 A 2014 Fonte: Dados divulgados no relatório anual da Ambev. Fonte: Dados divulgados no relatório anual da Ambev. Do período abordado na análise é possível observar que apenas 2008 apresenta desempenho significativamente inferior à 2007. A explicação da companhia aos resultados e que são decorrentes de uma elevação de 7,8% nos custos, motivados pelo aumento das commoditeis de milho e cevada, usados como matérias-primas e ao número significativo de inovações apresentadas ao mercado, juntamente com uma elevação nas despesas nas áreas de vendas, gerais e administrativas provocado pelo aumento na distribuição direta. Entretanto, ao comparar o percentualda margem bruta verifica-se que com, exceção de 2008 ela nunca esteve abaixo de 66%, atingindo valores superiores a 68% o que indica controle dos custos variáveis e diretamente ligados ao processo produtivo, embora alguns sejam de difícil controle. Mantendo a margem bruta percentualmente constante, o expressivo desempenho de gestão é constato nos índices de Ebitda em que o crescimento é superior a 3% no período, com variações anuais superiores a 5% e no índice de Ebit evolução numérica superior a 12 pontos percentuais saindo. Finalmente o índice margem líquida representando crescimento superior a 100% nos 08 anos. A análise demonstra o bom desempenho e contribuiu para ratificar o reconhecimento como referencia em controle e gestão estratégica de custos pela Ambev. Certamente só seria possível sua operacionalização com instrumentos como Orçamento Base Zero. Período 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Receita Líquida 19.648.220 20.899.468 23.194.048 25.233.310 27.126.719 32.231.027 34.791.391 38.079.786 Lucro bruto 13.102.190 13.735.622 15.476.326 16.784.263 18.333.412 21.939.509 23.393.590 25.265.198 EBITDA 8.763.187 9.060.318 10.994.404 11.590.301 13.164.664 15.629.110 17.467.316 18.236.489 EBIT 5.778.941 5.787.834 9.617.918 10.023.094 11.709.923 13.860.479 15.375.110 15.843.981 Margem Bruta 66,7% 65,7% 66,7% 66,5% 67,6% 68,1% 67,2% 66,3% Marg. EBITDA 44,6% 43,4% 47,4% 45,9% 48,5% 48,5% 50,2% 47,9% Margem EBIT 29,4% 27,7% 41,5% 39,7% 43,2% 43,0% 44,2% 41,6% Margem líquida 14,3% 14,6% 25,8% 30,0% 31,9% 32,6% 27,4% 31,7% 14 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS A gestão de custos tornou-se uma questão vital para que as empresas conquistem e mantenham-se no mercado. Esse cenário justifica o surgimento de novas técnicas, procedimentos e formas para identificar e mensuração os custos e então gerenciá-los. As empresas que melhor compreenderem e exercerem o controle e redução dos custos, contarão com uma vantagem competitiva, uma vez que nem sempre é possível aumentar as receitas, já que há segmentos em que os preços são pré estabelecidos pelo próprio mercado, restando, como alternativas para manter-se competitivo ou mesmo diferenciado dos concorrentes, apresentar menor custos aos produtos e serviços vendidos. O orçamento Base Zero pode ser contextualizado como uma ferramenta de gestão estratégica de custos em que todos os gastos são estruturados em pacotes e variáveis medidas por indicadores, desconsiderando qualquer experiência do passado cada gasto deve ser precedido de justificativa e memória de cálculos. Essa forma de orçamento acaba rompendo com as formas tradicionais de orçamento. A experiência de utilização do Orçamento Base Zero pela Ambev ratifica a idéia da eficácia dessa ferramenta para controle e redução tanto de custos como de despesas revelando aspectos relevantes e diferenciados como o fato de haver maior comprometimento com gestão dos gastos uma vez que grande número de colaboradores está comprometido e não apenas alguns gestores. Segundo divulga a própria empresa, O orçamento Base Zero é um dos grandes responsáveis pelos resultados e reconhecimento da empresa como referencia em gestão de custos. Por outro lado, é importante frisar que a posição alcançada pela empresa é resultado de um considerável tempo de utilização e aprimoramento da ferramenta de gestão e que tornou a utilização dessa técnica de orçamento em cultura organizacional. Por fim, é possível constar a possibilidade do ganho de vantagem competitiva com a utilização do Orçamento Base Zero como instrumento de gestão estratégica de custos e despesas. Da experiência na Ambev pode-se verificar como resultado a obtenção de margens de contribuições maiores e constantes, sinalizando controle eficaz de custos e despesas. Por outro lado, destaca-se que a implantação desse instrumento de gestão requer comprometimento de toda instituição, o que não se consegue instantaneamente, mas que poderá ser acelerado com um bem estruturado sistema de remuneração variável atrelado aos resultados. 15 RERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS. Ambev. Relatório anual informações sobre trajetória/histórico, estilos de gestão, operação, mercados de atuação, participação de mercado/Disponível em HTTP>WWW.ambev.com.br. Acesso em 18 Mar.2015. Barbosa, C. Da fusão Antárctica/Brahma à fusão com a Interbrew: uma análise da trajetória econômico-financeira e estratégica da Ambev. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 47-63, julho/setembro 2005. Costa, A.M., Moritz, G.O., & Machado, F.M. (2008). Contribuições do Orçamento Base Zero (OBZ) no Planejamento e Controle de Resultados em Organizações Empresariais. Florianópolis: UFSC; Crepaldi, S. (2010). Curso Básico de Contabilidade de Custos. (5ª Edição) São Paulo: Editora Atlas; Grippa, D.B. (2005). Proposta de uma sistemática orçamentária para o controle e redução de despesas: O Gerenciamento Sistêmico de Despesas (GESIDE). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Horngren, C. (2004). Teoria da Contabilidade de Custos. (Vol. 1. 11) São Paulo: Ed. Pearson; Martins, E. (2003). Contabilidade de custos. (9ª Edição). São Paulo: Atlas; Lunkes, R.J., (2003). Contribuição à Melhoria do Processo Orçamentário Empresarial. Florianópolis: Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Catarina; Rocha, W., & Borinelli, L. (n.d.). Análise Estratégica de Cadeia de Valor: Um estudo exploratório do segmento industrial-Varejo. 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