Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Claudia Magalhães Caparro Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira Sumário 03 CAPÍTULO 4 – Planejamento de Carreira ..........................................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 4.1 Carreira Profissional .................................................................................................05 4.1.1 Modelos de carreira ........................................................................................06 4.1.2 Estrutura da carreira ........................................................................................08 4.1.3 Carreira sem fronteiras ....................................................................................11 4.1.4 Carreira proteana............................................................................................12 4.2 Ciclos de Carreira ....................................................................................................13 4.2.1 Ciclos com base na idade ................................................................................13 4.3 Âncoras profissionais ................................................................................................15 4.3.1 Âncoras de carreiras ........................................................................................15 4.3.2 Inventário de âncoras ......................................................................................16 4.4 Gestão de carreira pelas organizações .......................................................................18 4.4.1 Sistema de administração de carreiras ...............................................................19 4.4.2 Aconselhamento de carreira .............................................................................20 Síntese ..........................................................................................................................22 Referências Bibliográficas ................................................................................................23 Capítulo 4 05 Introdução Provavelmente, você já pensou sobre vários aspectos da sua carreira profissional, certo? Isso acon- tece com certa frequência, até porque, na nossa sociedade, a demanda pela definição da carreira costuma surgir cedo, muitas vezes desde quando somos crianças. Mas, você já parou para pensar em algo muito essencial, como a definição de carreira? Neste capítulo, vamos tratar desse conceito, de forma a abranger as premissas da palavra, as estruturas da carreira e os modelos existentes. Além de tudo isso, vamos analisar o que motiva as pessoas a pensarem suas carreiras. Para isso, utilizaremos uma metodologia desenvolvida, cujo nome é âncora de carreira. Caso não tenha ouvi- do falar nesse modelo, não se preocupe, pois, aqui, você verá toda a explicação e ainda aprenderá como aplicá-lo. Você também vai verificar um paralelo entre os ciclos da carreira com o ciclo de vida das pessoas. Bom, até aqui, pensamos a carreira com o prisma da sociedade e das pessoas, mas, e as organiza- ções? Será que elas ficam de fora disso? É claro que não! O planejamento de carreira é uma função importante da área de Gestão de Pessoas, visto que desenvolver um sistema que esteja em harmonia com as estratégias da empresa é um fator relevante de competitividade para as organizações. Esse é, então, mais um aspecto que você vai estudar. Por fim, você conhecerá melhor o papel dos profis- sionais que trabalham para orientar as pessoas em suas carreiras. Será um importante aprendizado! Bom estudo! 4.1 Carreira Profissional Você sabia que a etimologia da palavra “carreira”, que tem sua origem no latim, refere-se a caminho e estrada para carruagem? E isso faz todo o sentido, pois a carreira profissional pode ser entendida como uma trajetória que recebe influências internas e externas. As motivações e convicções que fizeram os indivíduos construírem esse caminho indicam aos gestores de pessoas como desenvolver melhor as práticas nas organizações, além de orientarem o próprio sujeito na compreensão de suas atuações profissionais (LUIZARI, 2006). Para Malvezzi (1999), carreiras são metamorfoses que ocorrem na vida profissional da pessoa, mudanças que retratam o crescimento, a estagnação ou a marginalização. Os autores Medeiros, Medeiros e Junior (2014) afirmam que carreira não pode ser considerada como uma linha reta, pois ela sofre constantes influências da pessoa, da organização e da sociedade. Planejamento de Carreira 06 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira Um dos estudos de Peter Drucker foi compreender o que motivava as pessoas a tra- balharem em organizações sem fins lucrativos ou desenvolver trabalhos voluntários (MUSSAK, 20015). Em suas pesquisas identificou que as pessoas buscam um sentido além do valor financeiro para suas ações profissionais. O autor percebeu que as pessoas conseguem e se dedicam a trabalhos que não trazem sentidos a vida, mas essa dedicação sempre será incompleta e será sempre um obstá- culo para pessoa manter um bom empenho. Necessitamos de sentido em nossas vidas, uma vida vazia sempre teremos a sensação de que falta algo, por isso muitas pessoas acabam a se dedicar a algum trabalho voluntário. Esse estudo foi apresentado por Eugênio Mussak na Revista Você S/A do dia 26 de outubro de 2015. Disponível em: <http://vocesa.uol.com.br/noticias/carreira/como-encontrar-sentido-no-trabalho. phtml#.VkJCmberTIU>. VOCÊ SABIA? Observe que o valor da carreira varia de cultura para cultura. Para você entender o sentido de cada uma, você precisa compreender seus valores, seu sistema educacional, entre outros aspec- tos. Conforme afirma Chanlat (1995, p. 68), a noção de carreira tem relação com “as estruturas socioeconômicas, as características do mercado de trabalho, os valores dominantes, a cultura na qual a empresa está mergulhada e o contexto histórico dentro do qual os encaminhamentos profissionais se inscrevem”. 4.1.1 Modelos de carreira Chanlat (1995) ressalta que, por mais que cada país tenha sua cultura e seus valores, existem alguns modelos de carreira que superam essas diferenças. Ele apresenta dois modelos, sendo que cada um deles possui suas características fundamentadas na nossa sociedade industrializa- da. Vamos conhecê-los! Conforme o Modelo Tradicional – que representa uma sociedade sexualmente separada - existia uma uniformidade entre as pessoas, a instrução era para poucos e as organizações ofereciam emprego e estabilidade. Com as mudanças sociais que marcaram a sociedade a partir dos anos 70, aparece um novo modelo de carreira, denominado Modelo Moderno. Este é marcado pela feminilização do mer- cado de trabalho, por maior acesso da população à educação, pela flexibilização das relações de trabalho, pela globalização da economia e pela ampliação dos direitos humanos. 07 Modelo Tradicional Um homem - Pertencente aos grupos socialmente dominantes; - Estabilidades; - Progressão linear vertical. Modelo Moderno Um homem e/ou uma mulher - Pertencente a grupos sociais variados; - Instabilidades; - Progressão descontinuada vertical e horizontal. Figura 1 – Modelos de carreira. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Ainda em Chanlat (1995), o autor apresenta quatro tipos de carreira, os quais representam as possibilidades que uma organização oferece às pessoas. Confira esses tipos no quadro a seguir: Tipos de carreira Burocracia Pro�ssional Empreendedora Sociopolítica Recursos principais Posição hierárquica Avanço de uma posição hierárquica à outra Pro�ssão, perícia e habilidades pro�ssionais Criação de novos valores, de novos produtos e serviçosConhecimento; relações; parentesco; rede social Saber e reputação Capacidade de criação e inovação Habilidades sociais, capital de relações Elemento central de ascensão Tipos de organização Organizações de grande porte Organização de peritos, burocracia, pro�ssional Pequenas e médias empresas; empresas artesanais, culturais, comunitárias e de caridade Familiar; comunitária; de clãs Limites O número de escalões existentes O nível de perícias e de reparação A capacidade pessoal e as exigências externas O número de relações conhecidas e ativas Tipos de sociedade Sociedade de empregados Sociedade de peritos Sociedade que valoriza a iniciativa individual Sociedade de clãs Quadro 1 – Tipos de carreira. Fonte: Elaborado pelo autor, 2015. VOCÊ QUER VER? Você já ouviu falar na Bel Pesce? Essa jovem ficou conhecida como a Menina do Vale, em referência ao Vale do Silício, onde trabalhou e desenvolveu sua carreira. Com pouca idade, ela já fundou importantes empresas, foi funcionária de outras e hoje é proprietária da FazInova. O vídeo disponível no link abaixo mostra a palestra que Pesce ministrou no Colégio Etapa – do qual ela é ex-aluna – na qual ela conta como planejou sua carreira. Vale a pena conhecê-la! Acesse: < https://www.youtube.com/watch?v=_dSoo7p8BfQ>. 08 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira 4.1.2 Estrutura da carreira Você sabe de que forma as carreiras se estruturam? Como será que as organizações planejam as direções que seus funcionários podem seguir? Daqui a pouco, você verá aqui alguns tipos de estruturas de carreira e poderá compreender bem essas questões. Dutra (1996) relata que, em seus estudos, identificou algumas formas em que se estruturam as carreiras dentro da organização. O que irá definir esses desenhos são as influências que as orga- nizações sofrem, o que pode ser medido pelos valores da organização, as estratégias de Gestão de Pessoas, o momento pelo qual a organização passa, entre outros. Segundo os estudos de Dutra (1996) sobre as estruturas de carreiras, foi possível identificar estes três tipos de desenhos: • Carreira em linhas: os cargos da organização são alinhados em uma direção, em que cada grau tem suas atribuições e responsabilidades. Esse tipo de carreira não oferece oportunidades às pessoas, a não ser seguir nessas direções. Veja que esse modelo é caracterizado como simples para a administração da organização, porém, existem ressalvas para a sua eficácia. Uma delas é a falta de escolha para o colaborador, o qual necessita seguir as regras de carreira imposta por essa estrutura. Profissionais que optam por uma carreira mais técnica ficam sem escolhas, pois nesse modelo o auge são sempre cargos de gestão. • Carreira em redes: oferece múltiplas oportunidades aos colaboradores e permite que as pessoas definam sua trajetória com base no trabalho e na estrutura organizacional. As opções de carreira têm seus critérios pré-definidos e permite ao colaborador escolher qual o agrada mais. Essa estrutura de carreira permite maior versatilidade, porém existem algumas objeções que devem ser consideradas. Para o funcionário, esse modelo também é pré-estabelecido pela organização, sem permitir que a pessoa seja autora de sua trajetória. Para a empresa, a dificuldade dessa estrutura de carreira é associar a expectativa do profissional às necessidades da empresa. 09 1 1 1 Gerente de processos industriais Analista de processos industriais sênior Analista de processos industriais júnior Analista de suporte de vendas júnior Analista de desenvolvimento júnior Analista de sistemas trainee Analista sênior de suporte de vendas Representante técnico de vendas Analista sênior de desenvolvimento Gerente de produção Gerente de vendas Gerente de desenvolvimento Gerente de Sistemas Coordenador de Grupo Analista de Sistema Sênior Analista de Sistema Pleno Analista de Sistema Júnior Figura 2 – Modelo de estrutura de carreira em linha e estrutura de carreira em rede. Fonte: Dutra, 1996. • Carreira em Y: formulada como o desenho da letra Y, a base dessa carreira é comum para todos e, quando chega a um limite da estrutura hierárquica, permite ao colaborador escolher, de acordo com sua preferência, seguir o caminho técnico ou gerencial. A extensão da base dessa estrutura de carreira fica a critério da necessidade da organização. No final dessa base, o colaborador tem a oportunidade de escolher entre a carreira técnica e uma carreira de gestor, sendo que ambas oferecem uma política de remuneração apropriada para os dois casos. 10 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira BRAÇO GERENCIAL BRAÇO TÉCNICO Diretor de laboratório Pesquisador associado Gerente de Projetos Pesquisador Líder de grupo Cientista de pesquisa sr. Cientista de pesquisa Cientista de projeto Cientista Cientista Júnior Cientista Trainee Figura 3 – Carreira em Y. Fonte: Dutra, 1996. Entenda que, com essas possibilidades de estruturar as carreiras dentro da organização, fica a critério da empresa definir o melhor modelo ou estrutura para administrar a carreira de seus funcionários. O que a organização precisa ter claro é que o sucesso e as vantagens competitivas virão com o investimento em seus colaboradores e com o uso de planejamento que dê oportuni- dade e crescimento para seus funcionários. Crítico do modelo social centrado na idolatria do trabalho, Domenico de Masi, em seu livro O Ócio Criativo, apresenta temas da sociedade pós-industrial, do desenvolvimen- to sem emprego, da globalização, da criatividade e do tempo livre. A obra permite ao leitor refletir sobre um novo modelo social baseado na sincronia entre trabalho, estudo e lazer. O autor é professor e fundador da Universidade La Sapienza, de Roma, onde assume a cadeira de sociologia do trabalho, e diretor da S3 Studium (escola de espe- cialização em ciências organizacionais). VOCÊ QUER LER? Para obter o melhor desempenho do profissional e que ele desenvolva suas atividades com efi- cácia, faz-se necessário mais do que treinar. Saiba que uma boa performance é resultado não 11 só da capacidade física, motora e mental da pessoa, mas também de toda a ação, ou seja, considera-se também as relações e sentimentos dos colaboradores como pontos motivadores. Boog (1999 apud LUIZARI, 2006) afirma que os desempenhos das pessoas não aparecem como resultados de suas capacidades motoras ou mentais. Para ele, é o conhecimento que permite às pessoas descobrirem seus próprios caminhos a fim de obterem o resultado esperado e usarem sua criatividade para desenvolverem alternativas para solucionar os problemas da organização. Saiba que essa forma promove um maior envolvimento dos funcionários com os resultados das tarefas e, consequentemente, com os resultados da organização. 4.1.3 Carreira sem fronteiras Anteriormente, o conceito de emprego era considerado o vínculo empregatício com base em uma jornada, em relações de trabalho legalmente estabelecido e em funções previamente determina- das, com um plano de carreira já definido pelas organizações. E hoje em dia? O que será que mudou? Veja que, na atualidade, com o capitalismo avançado, o modelo de trabalho possui novas formas e o emprego não é mais sinônimo de estabilidade, proteção e, muito menos, de carreira. Antunes (2003, p. 59) define essas transformações como a “metamorfose do mundo do traba- lho”. Para ele, as reestruturações do processo produtivo são acompanhadas por uma diminuição das oportunidades de trabalho e de carreira e pela flexibilização das leis trabalhistas e levam a um cenário emque os interesses da organização prevalecem em relação aos direitos do trabalho. Pode-se dizer que o conceito de carreira sofreu grandes mudanças ao longo das últimas quatro décadas. Porém, vamos voltar um pouco mais no tempo, a partir da década de 1970, inicia-se um modelo denominado de “carreira sem fronteiras”, esse modelo de carreira ultrapassa os limi- tes da organização, a relação de trabalho passa a ser independente da organização e o intuito é desenvolver o trabalho (retomamos a esse conceito alguns parágrafos abaixo). Até aproximadamente 1980, as carreiras dos indivíduos eram basicamente geridas pelas organi- zações, uma vez que a sua ascensão em uma única organização era a forma mais comum de se chegar a posições mais elevadas. Saiba que a carreira podia ser entendida como carreira orga- nizacional (ARTHUR, 1994). Essas rupturas e metamorfoses do mundo do trabalho transformam a forma de pensarmos seu conceito. Porém, em meados de 1980, os estudos sobre carreira que se referiam, geralmente, às grandes organizações passaram a focar também pequenas e médias empresas. Essa tendência seguiu o que ocorria nos mercados europeus, nos países chamados Tigres Asiáticos e no Vale do Silício, nos Estados Unidos, em que pequenas firmas se mostraram competitivas junto às maiores or- ganizações. Assim, veja que, com o surgimento de diversas organizações de menor tamanho, passou-se a ter maior número de subcontratos e contratos de trabalho mais flexíveis. Estudiosos começaram, então, a se interessar mais pela dinâmica de redes sociais de pequenas organiza- ções do que pelas grandes organizações de estruturas verticais. Esses efeitos, juntamente com o surgimento da concorrência japonesa nos mercados mundiais, fizeram com que os ambientes socioeconômicos, que eram relativamente estáveis, se tornassem turbulentos (ARTHUR, 1994). A partir de então, passamos a viver em um mundo mais incerto: aparecem cada vez mais novas tecnologias, intensifica-se o comércio global, a alocação de serviços, a produção de bens manu- faturados por todo o mundo e o rápido crescimento do comércio eletrônico. Agora que já nos contextualizamos sobre o processo histórico dos estudos sobre carreira, retoma- mos ao modelo de “carreira sem fronteiras”, este marcado por uma instabilidade, descontinuida- de e horizontalidade. Para o autor Magalhães (2005), o conceito de carreira sem fronteiras (bou- ndaryless) determina as trajetórias profissionais que avançam as fronteiras de uma organização, 12 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira ou seja, desenvolvem-se e se ampliam com base em projetos e competências individuais. Tenha em mente que a carreira passa a ser uma relação independente entre a empresa e a pessoa, sen- do que o foco é o desenvolvimento do trabalho, seja ele um emprego, um projeto ou contratos. Arthur (1994, p. 296) define algumas características próprias das carreiras sem fronteiras. Para ele, esse modelo ultrapassa as fronteiras das organizações e/ou do empregador e permite que a carreira continue existindo além do empregador atual. O que a sustenta são redes sociais e infor- mações externas a organização. Além disso, esse conceito desconsidera o modelo de ascensão profissional por obediência hierárquica, e a pessoa se permite negar oportunidades de carreira, priorizando motivos pessoais e familiares. Em outras palavras, a pessoa é autora de sua carreira independente de uma organização. As críticas que envolvem esse modelo levam em consideração, principalmente, a insegurança financeira, a falta de estabilidade e o fato de, normalmente, demandar mais horas de trabalho e causar problemas psicológicos para os trabalhadores que seguem essa carreira, conforme afirma Moraes (2011). 4.1.4 Carreira proteana Antigamente as carreiras tinham como base os cargos e ofícios, e o gerenciamento delas era de responsabilidade das próprias organizações. Atualmente a gestão de carreira é comandada pela própria pessoa, cuja satisfação deve prevalecer e não o sucesso externo. Até aqui, deve estar tudo claro para você. Mas, o que significa o título deste item? O modelo de carreira proteana foi criado por Hall (1996 apud MOURA; SOARES, 2010), que se baseou na mitologia grega, a partir do mito de Proteu. Representado pelo Deus marinho que vivia conforme a correnteza, como manda a cultura onde está, sua forma é passível de mudança de acordo como a maré, é volúvel e totalmente mutável. O Deus Marinho tinha o dom de adivinhar, como se fosse uma premonição do futuro, e suas formas físicas eram mutáveis - ele se transformava em animais perigosos para fugir das pessoas que o incomodavam. E o que isso tem a ver com o assunto deste capítulo? Veja que o profissional de carreira proteana tem as mesmas premissas do Deus Marinho. Para o autor Martins (2001), essa pessoa planeja sua carreira com vistas no futuro, sem perder o foco de seus objetivos profissionais e de vida. Esse profissional precisa ser versátil, flexível e de fácil adaptação. Entenda que, quando o trabalho o distancia de seus objetivos de vida e profissionais, ele muda de emprego ou planeja novamente toda sua carreira e usa suas competências para alcançar esses objetivos. No artigo Carreiras e cidades: existiria um melhor lugar para se fazer carreira?, os autores Moisés Balassiano, Elvira Cruvinel Ferreira Ventura e Joaquim Rubens Fontes Filho discutem sobre as mudanças do conceito de carreira e fazem um comparativo entre a carreira tradicional e a carreira proteana. Para desenvolverem o estudo, eles utilizaram uma pesquisa para identificar e ordenar as cidades onde essas perspectivas de carreira encontram maior intensidade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ rac/v8n3/v8n3a06>. VOCÊ QUER LER? 13 4.2 Ciclos de Carreira A carreira profissional tem um ciclo conforme a vida dos homens e das organizações: ela nasce, cresce, amadurece e morre. Cada fase tem suas características e dinâmicas específicas, sendo que conhecê-las e compreendê-las permite um melhor domínio de cada uma delas (SAVIOLI, 1991). Perceba que os ciclos da carreira profissional possuem etapas com as quais é possível associar algumas características, como a relação profissional, idade, entre outras. Cada fase tem seu período, mas não podemos usá-lo como padrão rígido, pois varia de acordo com a profissão e a pessoa que a exerce. 4.2.1 Ciclos com base na idade Luizari (2006) relaciona esses ciclos da carreira profissional com base nas idades das pessoas, mas, atenção: relacionamos somente as idades da vida profissional, descartamos aqui a infân- cia. Acompanhe: • Idade do adulto jovem (18 a 30 anos): essa é, normalmente, a fase de definição da escolha profissional. No início dessa fase – que se dá logo na saída da adolescência - a pessoa não possui uma maturidade suficiente para estabelecer essa escolha. Além do obstáculo de decidir sobre a profissão, esse período também é marcado pela busca do primeiro emprego. • Idade do vigor da vida (30 a 42 anos): nesse período a carreira é marcada pelo apogeu profissional, e a maioria das pessoas tem esse momento como o mais produtivo de todo o ciclo. Apresenta um acúmulo de conhecimentos e experiências que, consequentemente, vem acompanhado de um aumento de responsabilidades, o qual, algumas vezes, é seguido por uma recompensa financeira compatível. • Meia idade (42 a 60 anos): esse período pode ser marcado pelo sucesso e ganhos profissionais. Fase pertinente a uma auto - avaliação pessoal e profissional, para o autor, esse período inicia novos interesses e motivações que, dependendo da pessoa, podem aprimorar sua vida profissional ou pessoal. • Idade da velhice (mais de 60 anos): fase importante para ser vivida de forma positiva, a produtividade vai acompanhar a qualidade da vida da pessoa. O conhecimento pode seradquirido em qualquer fase do ciclo da vida, inclusive na velhice. Quishida (2007) critica as fases de carreira determinadas acima. Para a autora, essa relação é rígida em idades e desconsidera influências e transições que podem acontecer na vida das pessoas, ou seja, considera essa forma de análise incoerente com a individualidade e histórico de vida. Em virtude disso, Quishida (2007) propõe o seguinte modelo de estágios de carreira: 14 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira Estágio de carreira Descrição (a) Fundamentação (b) Entrada (c) Avanço (d) Reavaliação (e) Reforço ou nova entrada (f) Declínio (g) Aposentadoria As experiências da infância e da adolescência podem ajudar a plantar as sementes das aspirações de carreira. Frequentemente acontece a pro�ssionalização. Pode ocorrer vai estágio, treinamento na própria função, por meio de um curso de ensino superior em faculdade ou universidade. Inclusive para os indivíduos mais quali�cados, esta etapa geralmente favorece o estabelecimento pro�ssional. Diz respeito ao desenvolvimento pro�ssional e hierárquico na(s) organização/organizações ou expansão do próprio negócio. Este estágio pode ser caracterizado pelo contínuo avanço ou atingimento de um platô. De acordo com os conceitos e o ambiente de carreira atual, este estágio é tipicamente associado às várias mudanças de empregador. Ao invés de se buscar a realização, neste estágio ocorre o repensar sobre o trabalho/papel/ carreira. Pode ter origem em forças internas como sentimentos ou necessidades (aborrecimento por falta de desa�os, crise pessoal), ou forças externas (trabalho repetitivo, demissão, obsolescência da pro�ssão). Pode culminar com a decisão de permanecer ou de mudar a direção da carreira, retornando para o estágio (b). Após a tomada da decisão, acontece o reforço da carreira atual ou o retorno para o estágio (b), visando o reestabelecimento pro�ssional. A maioria dos indivíduos (exceto aqueles que continuam avançando na carreira até o �m da vida pro�ssional) começará a visualizar o encerramento das atividades pro�ssionais, que pode ocorrer imediatamente ou no decorrer dos próximos anos. Retirada do mercado de trabalho (não necessariamente aos 65 anos). Tabela 1 – Modelo integrado de estágios de carreira. Fonte: Quishida, 2007. Luizari (2006) em seus estudos apresenta os ciclos da carreira associando a idade com o intuito de apresentar ao leitor todos os conceitos estudados, mas ressalta que concorda com Quishida (2007) que o conceito que atrela à idade aos ciclos de carreira não deve ser utilizado, pois cada indivíduo tem sua singularidade e seu processo histórico. Entenda que muitas dessas teorias foram formuladas em períodos antigos, o que muda drasticamente ao analisarmos a sociedade atual, que conta com um significativo aumento da longevidade, o que tarda a aposentadoria. VOCÊ QUER VER? No vídeo A nova composição do trabalho, produzido pela CPFL Cultura em parceria com a TV Cultura, o cientista político e professor Giuseppe Cocco fala sobre a nova composição do trabalho: com a internet em nosso cotidiano, a vida e as relações com o trabalho mudaram. É possível verificar ainda uma discussão sobre a questão do em- prego, pois, hoje, para trabalhar é preciso “ser empregável”, visto que os pré-requisitos profissionais são insuficientes e é preciso ter mobilidade, flexibilidade e conectividade. Disponível em: <http://www.cpflcultura.com.br/2015/04/22/a-nova-composicao-do- -trabalho-com-giuseppe-cocco-versao-tv-cultura/>. 15 4.3 Âncoras profissionais O estudo de âncoras de carreira foi desenvolvido no período de 1961 a 1973 por Edgar Schein, que analisou 44 estudantes do sexo masculino do curso de MBA na Universidade de Massa- chusetts. Com o uso de entrevistas ocorridas em períodos destacados como importantes pelo professor, ele tinha como objetivo examinar a história de trabalho de cada um e o que levou os estudantes a definirem certas decisões em suas carreiras. A seguir, você verá o conceito de ânco- ras de carreiras e entender melhor essa pesquisa. 4.3.1 Âncoras de carreiras Âncora de carreiras foi a denominação dada para conceituar uma forma com que as pessoas ilustram os motivos que as levam a decidir suas escolhas profissionais. Confira também a defini- ção nas palavras Schein (1996, p.37): O rótulo ponto de referência ou inclinação profissional indica uma área de tamanha importância que a pessoa não abre mão dela e acaba definindo sua auto-imagem em função dessa área, a qual vai predominar em cada etapa da carreira. Para compreender claramente esse conceito, é preciso examinar cada um dos pontos de referência e verificar como pessoas com inclinações divergentes diferem uma das outras. Âncora de Carreira Conceito Motivação Promoção Aptidão Técnico Funcional Aptidão Administrativa Geral Autonomia/ Independência Segurança/ Estabilidade Criatividade Empreendedora Vontade de Servir/ Dedicação a uma causa Puro Desa�o Estilo de Vida Exercer suas aptidões com a certeza de que são peritos em sua área de atuação, dedicando-se a vida todas à especialização e o trabalho deve desa�ar suas capacidades e aptidões. Valorizam o reconhecimento formal, ou seja, o reconhecimento vindo de colegas ou outros membros, além de prêmios, distinções, publicidade, que atestem sua capacidade como um especialista conceituado. Fazer as coisas do seu modo, dentro de um ritmo pessoal, seguindo seus padrões e, por isso, preferem carreiras mais independentes. Deve representar maior autonomia, obtendo mais liberdade que possuía no cargo anterior. A melhor forma de reconhecimento para estes indivíduos é móvel, como cartas de recomendação e prêmios. Realizar trabalhos estáveis e previsíveis, preocupando-se mais com o contexto do que com a natureza do trabalho. Deve se basear em tempo de serviço e bom desempenho, com classi�cações hierárquicas bem de�nidas. Criar novas organizações, produtos ou serviços que tenham estreita relação com os esforços do empresário, sobrevivam por si e sejam economicamente bem-sucedidos. As duas formas mais importantes de alcançar reconhecimento para este grupo são fazer fortuna e criar empreendimentos notáveis, almejando projeção e reconhecimento público. Desejam incorporar valores fundamentais ao seu trabalho, norteando-se mais por estes valores do que por seus verdadeiros talentos ou competências. Neste caso, valores como trabalhar com pessoas, servir a humanidade e ajudar a nação são exemplos representativos. Vai além da recompensa monetária e deve considerar a contribuição da pessoa. Assim, os indivíduos desta âncora desejam obter reconhecimento e apoio tanto dos colegas quanto dos superiores, além de sentir que seus valores são compartilhados por todos. Transpor obstáculos impossíveis ou vencer adversários muito fortes e, deste modo, a progressão na carreira exige desa�os cada vez maiores e mais difíceis. Ficam subarternos à condição do emprego proporcionar oportunidades constantes do indivíduo provar sua capacidade. Há uma forte necessidade pela �exibilidade, exigindo uma atitude organizacional que respeite os interesses individuais e familiares do funcionário e integre as necessidades pessoais, da família e da carreira. Trabalhos que permiteam a integração de suas necessidades. Subir os degraus hierárquicos da empresa, com foco em cargos de alto escalão. Deve basear-se em mérito, desempenho reconhecido e resultados. Quadro 2 – Âncoras de carreira. Fonte: Medeiros, Medeiros e Júnior, 2014. Note que a maioria das pessoas não tem consciência de quais âncoras dão base a sua carreira profissional. Normalmente, com a maturidade profissional ou em momentos críticos, elas desco- brem quais dessas oito âncoras é a principalque permeia sua carreira (LUIZARI, 2006). 16 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira CASO Os autores Eduardo Soares da Costa Faro, Maria Cristina Sanches Amorim; Leonardo Trevisan e Luciano A. Prates Junqueira (estudantes e docentes da PUC –SP) em seu artigo Âncoras de carreira e transformações no modelo de administração: estudo de caso do Tribunal de Contas da União (TCU) (FARO et al, 2010) tiveram o intuito de compreender a dificuldade em implementar o modelo gerencial para os servidores do TCU com base no inventário de âncoras de carreira. O modelo gerencial caracteriza-se por um reconhecimento da pró-atividade, da autonomia dos servidores e com foco nos resultados. Os autores utilizaram do inventário de âncoras para identificar os fatores que dificultam a im- plementação do modelo de gestão gerencial. Com aplicação do questionário de inventário de âncoras puderam perceber que os servidores, em sua maioria, são motivados próximos da âncora de estabilidade e segurança, evidencia-se três comportamentos: baixa ambição, baixa competitividade e baixo vigor. O estudo apresentou que, entre os servidores do TCU, suas motivações são incompatíveis com o modelo de gestão gerencial, se usarmos base as âncoras de carreira, para essa gestão recomen- da-se que as motivações dos servidores sejam voltadas para competência gerencial, puro desafio e criatividade empreendedora. 4.3.2 Inventário de âncoras Para identificar as inclinações profissionais predominantes nas pessoas, Schein (1996) elaborou um inventário composto por 40 questões e, em cada uma, o profissional avaliado pontua a al- ternativa que mais se aproxima com as suas características pessoais e/ou profissionais. Para desenvolver a pontuação das questões, utiliza-se uma escala de 1 a 6, sendo 1 o valor a se dar às respostas que menos se aproximam aos valores do avaliado e 6 o valor para as respostas que mais se aproximam. Observe com atenção: • Avalia-se com o número 1 as respostas que não são verdadeiras. • Avalia-se com 2 ou 3 se a resposta é verdadeira ocasionalmente. • Avalia-se com 4 ou 5 quando frequentemente a resposta é verdadeira. • Avalia-se com 6 se a resposta for totalmente verdadeira. Para completar o inventário, o avaliado deve analisar as afirmativas elaboradas por Schein (2006 DUTRA; ALBUQUERQUE, 2004, p. 2-3) e responder de acordo com as escalas de valores apresentados anteriormente. Confira a seguir! 1. Sonho em ser tão bom no que faço, de tal forma que meus conhecimentos especializa- dos sejam constantemente procurados. 21. Sinto-me realizado em minha carreira quando tenho a oportunidade de construir alguma coisa que seja resultado unicamente de minhas próprias ideias e esforços. 2. Sinto-me mais realizado em meu trabalho quando sou capaz de integrar e gerenciar o esforço dos outros. 22. Utilizar minhas habilidades para tornar o mundo um lugar melhor para se viver e tra- balhar, é mais importante para mim do que alcançar uma posição gerencial de alto nível. 17 3. Sonho em ter uma carreira que me dê a liberdade de fazer o trabalho à minha maneira de no tempo por mim programado. 23. Sinto-me mais realizado em minha car- reira quando solucionei problemas insolúveis ou venci o que aparentemente era impossível de ser vencido. 4. Segurança e estabilidade são mais importan- tes para mim do que liberdade e autonomia. 24. Sinto-me bem sucedido na vida apenas quando fui capaz de equilibrar minhas ne- cessidades pessoais, familiares e de carreira. 5. Estou sempre procurando ideias que me per- mitam iniciar meu próprio negócio. 25. Preferiria deixar meu emprego do que aceitar uma tarefa de rodízio que me afaste da minha área de experiência. 6. Sinto-me bem em minha carreira apenas quando tenho a sensação de ter feito uma con- tribuição real para o bem da sociedade. 26. Tornar-me um gerente geral é mais atra- ente para mim do que tornar-me um gerente técnico em minha área de especialização. 7. Sonho com uma carreira na qual eu possa solucionar problemas ou vencer com situações extremamente desafiadoras. 27. Para mim, poder fazer um trabalho à minha própria maneira, sem regras e restri- ções, é mais importante do que segurança. 8. Preferiria deixar meu emprego do que ser colocado em um trabalho que comprometa minha capacidade de me dedicar aos assun- tos pessoais e familiares. 28. Sinto-me mais realizado em meu traba- lho quando percebo que tenho total segu- rança financeira e estabilidade no trabalho. 9. Sinto-me sucedido em minha carreira ape- nas quando posso desenvolver minhas habi- lidades técnicas ou funcionais a um nível de competência muito alto. 29. Sinto-me bem sucedido em meu trabalho apenas quando posso criar ou construir al- guma coisa que seja inteiramente de minha autoria. 10. Sonho em dirigir uma organização comple- xa e tomar decisões que afetem muitas pessoas. 30. Sonho em ter uma carreira que faça uma real contribuição à humanidade e à sociedade. 11. Sinto-me mais realizado em meu trabalho quanto tenho total liberdade de definir minhas próprias tarefas, horários e procedimentos. 31. Procuro oportunidades de trabalho que desafiem fortemente minhas habilidades para solucionar problemas. 12. Preferiria deixar meu emprego do que acei- tar uma tarefa que possa colocar em risco mi- nha segurança na organização. 32. Equilibrar as exigências da minha vida pes- soal e profissional é mais importante do que alcançar alta posição gerencial. 13. Montar meu próprio negócio é mais impor- tante para mim do que atingir uma alta posição gerencial como empregado. 33. Sinto-me plenamente realizado em meu trabalho quando sou capaz de empregar mi- nhas habilidades e talentos especiais. 14. Sinto-me mais realizado em minha carrei- ra quando posso utilizar meus talentos a ser- viço dos outros. 34. Preferiria deixar minha organização do que aceitar um emprego que me afastasse da trajetória de gerência geral. 15. Sinto-me realizado em minha carreira apenas quando enfrento e supero desafios ex- tremamente difíceis. 35. Preferiria deixar minha organização do que aceitar um emprego que reduza minha autonomia e liberdade. 16. Sonho com uma carreira que me permita integrar minhas necessidades pessoais, fami- liares e de trabalho. 36. Sonho em ter uma carreira que me dê senso de segurança e estabilidade. 17. Tornar-me um gerente técnico em minha área de especialização é mais atraente para mim do que tornar-me um gerente geral. 37. Sonho em iniciar e montar meu próprio negócio. 18 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira 18. Sentir-me-ei bem sucedido em minha car- reira apenas quando me tornar um gerente geral em alguma organização. 38. Preferiria deixar minha organização do que aceitar uma tarefa que prejudique minha capacidade de servir aos outros. 19. Sentir-me-ei bem sucedido em minha car- reira apenas quando alcançar total autonomia e liberdade. 39. Trabalhar em problemas praticamente insolúveis para mim é mais importante do que alcançar uma posição gerencial de alto nível. 20. Procuro trabalhos em organizações que me deem senso de segurança e estabilidade. 40. Sempre procurei oportunidades de tra- balho que minimizassem interferências com assuntos pessoais e familiares. Quadro 3 – Asserções a serem avaliadas pelo candidato. Fonte: Schein, 2006. Para verificar o resultado obtido no questionário, você vai adicionar quatro pontos aos três itens mais pontuados pela pessoa avaliada, de acordo com o critério definido pelo avaliador. Observe que a tabulação dos dados deve seguir a distribuição das questões de acordo com a âncora correspondente, conforme ilustra a figura 7. Você deve somar as colunascom a pontuação infor- mada no questionário (sem esquecer o acréscimo dos quatro pontos dado aos três itens de maior pontuação) e, em seguida, dividir o resultado por cinco com o objetivo de calcular a média das inclinações profissionais. 1. 9. 17. 25. 33. 2. 10. 18. 26. 34. 3. 11. 19. 27. 35. 4. 12. 20. 28. 36. 5. 13. 21. 29. 37. 6. 14. 22. 30. 38. 7. 15. 23. 31. 39. 8. 16. 24. 32. 40. TF Total GG AI SE CE SD DP EV Figura 4 – Categorização do inventário de âncoras de carreira. Fonte: Luizari, 2006. 4.4 Gestão de carreira pelas organizações A carreira para as pessoas ou mesmo para as organizações é uma sequência de acontecimentos inesperados. Para Dutra (2002), a carreira precisa ser pensada como uma estrada sempre em construção, de forma que, quando olharmos para ela, veremos sempre uma desordem que pre- cisa de construção e, ao olharmos para trás, observaremos essa trilha já construída. Procure compreender que, para a organização, o plano de carreira é a construção de várias estradas, uma vez que é complexo conciliar as perspectivas de cada um harmonizando-as com a 19 estratégia das organizações. Para que tenha êxito, a organização precisa elaborar um sistema de administração de carreiras, um instrumento da gestão de pessoas com diretrizes estabelecidas. Atente-se ao fato de que isso não significa que esse sistema seja uma “moldura” em que os cola- boradores vão se adaptar e, sim, opções estruturadas pela organização que permitam às pessoas planejarem sua trajetória profissional dentro daquela organização. (DUTRA, 2002, p. 110). O empresário americano Dan Price, CEO da empresa Gravity Payments, aumentou para setenta mil dólares a remuneração mínima de seus colaboradores. Price fundou a empresa, de processamento de cartões de crédito, aos 19 anos, hoje com 30 anos a empresa possui 120 funcionários, com um lucro de US$ 2,2 milhões por ano. O que motivou o CEO a fazer toda essa mudança foi uma pesquisa da Universidade de Priceton, o estudo concluía que para ser feliz a pessoa precisa ganhar em média US$ 70 mil por ano, ao comparar com os ordenados de seus funcionários, percebeu que muitos não tinham essa remuneração. Para alcançar o objetivo de remunerar todos os seus colaboradores, ele diminuiu seu salário e equiparou ao de seus funcionários. VOCÊ SABIA? 4.4.1 Sistema de administração de carreiras Desde já, tenha em mente que o sistema de administração de carreiras elaborado pela organi- zação precisa ter sua base em princípios que vão demonstrar o acordo realizado entre o cola- borador e a organização. É a partir desses princípios que o sistema cria corpo e demonstra sua solidez. Mas, atenção! Isso é diferente de ser um sistema rígido, pois é preciso ter a possibilidade de acompanhar as mudanças da organização e do mercado. Outro ponto que é elaborado pela Gestão de Pessoas na organização consiste em como as car- reiras de seus colaboradores serão estruturadas. Saiba que, nesse ponto, define-se a ordem de sucessão das posições, os critérios e requisitos para acessá-las, bem como o desenho que essas carreiras terão - se as estruturas serão em forma de linha, paralela ou em Y. Para a gestão de carreira dos colaboradores, as organizações precisam ainda elaborar instru- mentos que vão permitir a troca de informação sobre as pessoas e as organizações, bem como incentivar os colaboradores a planejar sua carreira ofertando a organização como uma base. Entenda que, com o uso desses instrumentos, a organização terá a possibilidade de definir as oportunidades de carreira e os critérios de escolhas das pessoas a ocuparem esses cargos. Além disso, poderá planejar um espaço e períodos de negociação entre pessoas e empresa sobre as expectativas e revisão desse sistema de administração de carreiras. Dutra (2002) afirma que o papel das organizações no planejamento de carreira é amplo e, para fins didáticos, utiliza estas três categorias para conceituar as decisões da organização: • Definição estratégica: nesse grupo o autor concentra as decisões ligadas ao negócio, que correspondem à estratégia da organização e ao sistema de administração de carreiras. Como exemplos dessas definições, considere a trajetória de carreira e os aperfeiçoamentos necessários para manutenção da vantagem competitiva da organização. • Definição do sistema de administração de carreira: nessa categoria o autor agrupa as decisões com base na configuração do sistema. Note que elas precisam estar em harmonia com a estratégia da organização. Fazem parte dessa categoria as decisões sobre os graus 20 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira dentro de cada estrutura hierárquica da organização, os critérios e requisitos para acessar os cargos e a opção pelos instrumentos para a gestão de carreira. • Definição de metodologia de concepção, implementação e atualização do sistema: nessa categoria o autor une as decisões que vão influenciar diretamente o funcionamento do sistema sem perder de vista a cultura da organização, o processo histórico e as necessidades reais. Nessa categoria, estão incluídas as decisões sobre as pessoas que serão contempladas com o sistema e o quanto o sistema de administração de carreira está estrategicamente organizado de acordo com as outras práticas de gestão de pessoas. Apesar de todo esse planejamento do sistema de administração de carreiras, saiba que é muito comum identificar resistências tanto das empresas quanto das pessoas para o planejamento. Essas metodologias são respostas de uma coação para que o futuro profissional seja planejado e desenvolvido de acordo com as estratégias organizacionais. É interessante que você compreenda também que todo processo de planejamento não parte como responsabilidade única das pessoas nem das organizações - é uma responsabilidade mú- tua. Existem diversos fatores que influenciam as pessoas e as organizações e levam-nas a essas resistências. Nas empresas, é constante identificarmos a relutância com justificativas de ser um trabalho moroso, custoso e com baixo retorno. Dutra (2002) ressalta que são necessários cinco anos para obtenção de um resultado do sistema de administração de carreira. “As resistências serão cada vez mais brandas à medida que as pessoas forem pressionadas a fazer uma revisão da própria posição em relação à carreira e que as empresas descobrirem o paralelismo que há entre seu sucesso e o sucesso das pessoas que para elas trabalham” (DUTRA, 2002, p. 113). Joel Dutra é Professor-Livre Docente da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde ministra cursos de graduação e pós-gradu- ação, com mestrado na Fundação Getúlio Vargas FGV-SP e doutorado na FEA-USP. Ele atua como consultor em gestão de pessoas para as principais empresas do país. Entre suas publicações, estão os livros Gestão de Carreiras na Empresa Contemporânea, publicado pela Editora Atlas em 2009, e Administração de Carreiras em 1996 pela mesma editora. VOCÊ O CONHECE? 4.4.2 Aconselhamento de carreira O tema que você verá agora foi inicialmente abordado na obra de Parsons (1909 apud EVAN- GELISTA, 2006) - publicada em 1909 (aproximadamente um ano após sua morte) - inaugurando, dessa forma, a discussão sobre orientação vocacional (career vocation) e aconselhamento de car- reira (career counseling). Isso valeu a Parsons o reconhecimento do caráter seminal de sua obra. Os dois enfoques tratam tanto da incerteza dos jovens ingressantes no mercado de trabalho, quanto dos profissionais no decurso de suas carreiras. Ao mesmo tempo, chamam a atenção para a tomada de consciência do trabalhador sobre fatos como a necessidade de novas com- petências na execução e condução das atividadesatinentes à atividade profissional. Para Evan- gelista (2006), foi Parsons o primeiro a apresentar de forma organizada uma abordagem para o aconselhamento de carreira, fundamentada a partir de metodologia científica. O aconselhamento de carreira pode ser classificado em função do público ao qual se destina. Nesse caso, classifica-se em: 21 • Orientação profissional, em que o público-alvo são jovens que estão escolhendo uma carreira. A opção por uma carreira pode acontecer a partir da escolha de um curso de nível superior ou de um curso profissionalizante. Essa categoria se aplica também na revisão de escolhas já efetuadas, por exemplo: a pessoa que efetuou uma escolha inadequada e percebe que, embora saiba o que não quer, não consegue definir com clareza o que quer. Esteja ciente de que o momento da escolha profissional gera nas pessoas muita ansiedade e que a forma de ajudá-las normalmente envolve ações que ofereçam suporte à pessoa em seu autoconhecimento, na ampliação de sua visão de alternativas e possibilidades profissionais e no contato com pessoas que já vivenciam as situações profissionais almejadas. • Início da carreira profissional, em que o público é formado por pessoas que estão entrando no mercado de trabalho. Geralmente, são pessoas que terminaram seus cursos de nível superior ou profissionalizante e têm que enfrentar um ambiente novo. • Oficinas para planejamento de carreira, nas quais as pessoas que participam realizam uma autoavaliação por meio de conversas no grupo de trabalho, família e amigos sobre seus objetivos profissionais e de carreira. • Suporte de consultores especializados. Profissionais especializados em aconselhamento de carreira utilizam instrumentos possíveis para auxiliar as pessoas em desenhar suas carreiras. O suporte de consultores de carreira é normalmente oferecido pelas organizações, frequente- mente junto ao desligamento do profissional, ou pode ser contratado por profissionais especiali- zados na área. Existem alguns tipos: • Mentoring: esse profissional passou a ser atuante nas organizações, com mais profundidade, nas últimas três décadas. Vem da palavra mentor, ou seja, um professor que atua para aprimorar o desenvolvimento intelectual e as habilidades da pessoa. Ele utiliza sua influência para alavancar a carreira do indivíduo. • Coaching executivo: o conceito de coaching - da palavra inglesa coach, que significa treinador - surgiu nas universidades dos Estados Unidos para denominar os tutores particulares dos alunos. A proposta é o treinador (ou coach) auxiliar a pessoa (coachee) a alcançar seus objetivos de carreira, com definições de metas identificadas pelos dois. Entenda que, com esse trabalho, ele objetiva desenvolver um desempenho melhor, uma satisfação pessoal e, consequentemente, melhorias para a organização. VOCÊ QUER VER? A coach Jacqueline Weigel, no vídeo “Os erros de planejamento de carreira”, da TV Exame, orienta as pessoas sobre alguns erros básicos no plano de carreira. Que tal aprender um pouco mais com ela? Disponível em: <http://exame.abril.com.br/videos/ sua-carreira/os-erros-de-planejamento-de-carreira/>. 22 Laureate- International Universities Síntese • Abordamos o conceito de carreira profissional, seus modelos e estruturas e conhecemos os tipos de carreira na atualidade. • Acompanhamos os ciclos de carreira com base na idade e compreendemos as críticas a esse modelo de análise. • Verificamos a pesquisa de Edgar Shein sobre as âncoras profissionais e os instrumentos para aplicá-las. • Discutimos sobre o papel das organizações no planejamento de carreira de seus colaboradores. Síntese 23 Referências ALBUQUERQUE, L.; DUTRA, J.S. Âncoras de Carreira. Erudito FEA-USP. 2004. Disponível em: <http://www.erudito.fea.usp.br/portalFEA/Default.aspx?idPagina=1599>. Acesso em: 10 nov. 2015. ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. Campinas: Cortez, 2003. ARTHUR, M. B. The boundaryless career: a new perspective for organizational inquiry. Journal of Organizational Behavior. John Wiley & Sons Ltd, Reino Unido, v. 15 p. 295-306, 1994. CHANLAT, J-F. Quais carreiras e para qual sociedade? (I). Revista de Administração de Em- presas, São Paulo, v. 35, n. 6, nov./dez. 1995p. 67-75,. DUTRA, J. S. Administração de Carreiras: uma proposta para repensar a gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 1996. ______. A Gestão de Carreira. In: As pessoas na organização. Editora Gente. São Paulo: 2002. EVANGELISTA, L. Choosing a Vocation. 2006. Disponível em: <http://www.orientamento.it/ indice/parsons-f-1909-choosing-a-vocation/>. Acesso em: 15 de out 2015. FARO, E. S. da C. et al. Âncoras de carreira e transformações no modelo de administração: es- tudo de caso do Tribunal de Contas da União (TCU). Cadernos EBAPE.BR [online], 2010, v.8, n.4, p. 710-733. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1679-39512010000400010>. Acesso em: 10 de nov. 2015. LUIZARI, D.C.M. Estudo dos ciclos de vida e de carreira, inclinação profissional e cren- ças pessoais, 2006. Dissertação (Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional) – Univer- sidade de Taubaté, São Paulo. MAGALHÃES, M. de O. Personalidades vocacionais e desenvolvimento na vida adulta: generatividade e carreira profissional. Artigo de Pós-Graduação em Psicologia Universidade Fe- deral do Rio Grande do Sul, 2005. MALVEZZI, S. Empregabilidade e carreira. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. São Paulo, v.2, n. 1, 1999, p. 55-72. MARTINS, H. T. Gestão de carreiras na era do conhecimento: abordagem conceitual & resultados de pesquisa. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. MEDEIROS, C. R. de O.; MEDEIROS, L.; JÚNIOR, V. M. V. Âncoras de carreira e geração Y: um estudo com consultores de empresas juniores. v. 4, n. 3. São Paulo: RECAPE, 2014. MORAES, M. B. A percepção dos estudantes de administração de empresas acerca dos modelos de carreira. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação em Administração de Em- presas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Porto Alegre, 2011. MOURA, M. A. de; SOARES, F. A Sustentabilidade da Carreira dos Profissionais no Século XXI: Reflexões sobre as Competências Baseadas no Comportamento de Entrega e o Mito Proteu. Revista Gestão & Tecnologia, [S.l.], v. 9, n. 2, p. 1-16, dez. 2010. Disponível em: <http:// revistagt.fpl.edu.br/get/article/view/243/265>. Acesso em: 19 out. 2015. Bibliográficas 24 Laureate- International Universities Avaliação de Desempenho e Planejamento de Carreira QUISHIDA, A. Adaptação à transição de carreira na meia-idade: um estudo exploratório sob o enfoque do Locus de controle. Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007. SAVIOLI, N. Carreira – Manual do Proprietário. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1991. SCHEIN, E.H. Identidade profissional: como ajustar suas inclinações a suas opções de tra- balho. Tradução de Margarida D. Black. São Paulo: Nobel, 1996. _______. Career Anchors: Self Assessment. 3 ed. San Franciso: Pfeiffer, 2006.
Compartilhar