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Aula 06 - Principais documentos internacionais do sistema global ONU

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AULA 06: PRINCIPAIS DOCUMENTOS DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
1) Declaração Universal dos Direitos Humanos:
- É o principal instrumento do sistema global de DH. É a fonte de onde irradia todo o direito internacional dos DH. Foi adotada no dia 10/12/1948 pela Assembleia Geral da ONU.
- Foi o marco político que a comunidade internacional estabeleceu para listar os direitos essenciais à proteção da dignidade humana. 
- Adota como fundamento a dignidade da pessoa humana, prevendo que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. 
- Universalizou a proteção ao ser humano, dizendo que os direitos devem ser reconhecidos a todos, sem discriminação.
- Houve polêmica na definição do conteúdo da declaração. Era o período conhecido como Guerra Fria e o cenário internacional estava dividido em dois blocos: o dos EUA e o da União Soviética. Não houve consenso quanto aos direitos de 2ª geração. Chegou a se falar que os direitos de primeira geração (civis e políticos) seriam superiores em relação aos sociais. Mas prevaleceu a tese de que todos os DH estão no mesmo patamar e há entre eles unidade e indivisibilidade. Assim, todos os direitos (de 1ª e 2ª geração) foram reconhecidos em paridade hierárquica, ou seja, NÃO existe superioridade de uns em relação aos outros. 
- Os direitos de 3ª geração não foram previstos, pois na época ainda não se falava neles. 
- Natureza da DUDH: foi aprovada como Resolução (e não como tratado). Ou seja, do ponto de vista formal, não é juridicamente obrigatória. Mas, para que não se tornasse um texto vazio, incapaz de obrigar aos Estados, foi reconhecida como dotada de valor jurídico material. Isso significa que a DUDH possui força jurídica no sentido de ser fonte de interpretação das outras normas. É entendida como um consenso internacional em torno dos direitos humanos e um compromisso dos Estados em garantir tais direitos.
Então, a DUDH, apesar de não ser formalmente obrigatória, possui valor jurídico, servindo como fonte de interpretação de todo o direito internacional dos direitos humanos.
- Conteúdo da DUDH: 
Universalidade, igualdade e não discriminação;
Deveres;
Direito à vida, à liberdade e à segurança;
Integridade pessoal;
Direito de ir e vir e proibição da prisão arbitrária;
Liberdade de pensamento, de consciência, de religião, de expressão e de associação;
Presunção de inocência;
Proibição de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante;
Proibição de escravidão e servidão;
Direito de asilo;
Nacionalidade;
Proteção da vida privada;
Família;
Propriedade;
Trabalho;
Direitos políticos;
Qualidade de vida;
Educação, cultura e proteção da propriedade intelectual (arts. 26 e 27);
Tutela do processo judicial (arts. 8, 10 e 11); 
- Desvantagem: não se refere à autodeterminação dos povos, que é vista como um requisito para o exercício dos outros direitos. 
- Como foi aprovada como Resolução, surgiu a ideia de se elaborar um tratado reafirmando os direitos da Declaração. Novamente, houve impasse com relação ao conteúdo do tratado no sentido de definir se os direitos sociais seriam ou não previstos. Mais de 20 anos depois, somente em 1966, o impasse foi resolvido com a elaboração de dois tratados: Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais.
2) Os pactos internacionais de Direitos Humanos de 1966:
- Dois pactos que desenvolveram e ampliaram o conteúdo da Declaração de 1948: Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Entraram em vigor no Brasil em 1992.
- Os direitos estão separados em dois pactos por causa de questões diplomáticas, pois as potências ocidentais eram a favor só do reconhecimento das liberdades individuais, e os países do bloco comunista e países africanos preferiam destacar os direitos econômicos e sociais.
- Os dois pactos foram adotados com fórmulas diferentes quanto à aplicação dos direitos: os direitos civis e políticos têm aplicação imediata; os direitos econômicos, sociais e culturais, têm aplicação progressiva;
- O fato de terem sido adotados dois pactos fez ressurgir a discussão quanto à unidade e indivisibilidade dos DH. Falava-se que os direitos civis e políticos estariam num patamar mais elevado, sendo verdadeiros direitos, enquanto os econômicos, sociais e culturais seriam somente metas ou diretrizes. Apesar dessa discussão, manteve-se o posicionamento de que os DH deveriam ser considerados como um conjunto único e indivisível, pois há relação de interdependência entre os direitos. Ou seja, para o exercício dos direitos civis e políticos, é necessário que o Estado garanta também os direitos econômicos, sociais e culturais.
- Omissões dos Pactos de 1966: direito à propriedade privada, direito à nacionalidade e o direito de asilo ou refúgio.
- O direito à autodeterminação dos povos é reconhecido nos dois Pactos: significa a independência dos povos coloniais e soberania de cada Estado sobre as riquezas e recursos naturais do seu território. Os povos têm direito de determinar seu estatuto político e assegurar livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
- Os dois pactos e mais a declaração (DUDH) formam o que se denomina Declaração Internacional de Direitos: são destinados ao ser humano em geral, diferentes da maioria dos outros tratados que se referem a sujeitos específicos, como criança, mulher, portadores de deficiência, etc.
2.1. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 
- Impõe aos Estados o dever de respeitar os direitos enunciados, que se dirigem a todos os indivíduos que se achem em seu território e sujeitos à sua jurisdição, sem qualquer discriminação por motivo de raça, sexo, cor, religião, opinião, origem, situação econômica, nascimento ou outra condição.
- Possui aplicação imediata, ou seja, os direitos podem ser exigidos desde o momento em que o Estado passou a fazer parte do Pacto.
- Direitos:
Igualdade e proteção das minorias: além da igualdade em si (tratamento não desigual, não discriminatório), é consagrado o direito à diferença, segundo o qual as minorias têm direito ao respeito e preservação da sua identidade. A referência do Pacto é às minorias étnicas, religiosas ou linguísticas (art. 27). Não podem ser privadas do direito de ter, juntamente com outros membros do grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua religião e de usar sua própria língua.
Direito à vida: o Pacto fala apenas da questão da pena de morte, não enfrentando os problemas do aborto e eutanásia (morte provocada)/ortotanásia (suspensão dos cuidados médicos). Interpreta-se que o Pacto não proíbe o aborto e a eutanásia, desde que sejam reguladas pelo direito interno de cada país.
Quanto à pena de morte: o pacto não a aboliu, mas impôs restrições: apenas para os crimes mais graves, conforme a legislação em vigor no momento do cometimento do crime; o condenado tem direito de solicitar perdão ou comutação da pena; não pode haver pena de morte quando o agente cometeu o crime com menos de 18 anos; mulheres grávidas não podem ser executadas. 
Proibição da tortura, penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Proibição de submeter uma pessoa sem o seu consentimento a experiências médicas ou científicas.
Proibição da escravidão e trabalhos forçados: a interpretação deve levar em conta não somente as experiências passadas de escravidão, mas também formas contemporâneas como o tráfico de mulheres e crianças. Quanto ao trabalho forçado, o pacto considera a possibilidade, quando a legislação do país prevê, de punir certos crimes com trabalho forçado. Além disso, não considera trabalho forçado:
- quando decorre do cumprimento de decisão judicial;
- serviço de caráter militar;
- serviço exigido em casos de emergênciaou calamidade;
- trabalho que faça parte das obrigações cívicas (ex. eleições, júri, etc);
Regras sobre prisão: o Pacto leva em conta que a finalidade do sistema penitenciário deve ser a reabilitação dos presos. Fala sobre tratamento diferenciado entre criminosos adultos e juvenis;
Livre circulação no território: o Pacto garante esse direito somente às pessoas que estejam em situação regular. Exclui da proteção os imigrantes clandestinos.
Garantias processuais: o texto fala do acesso à justiça e da presunção de inocência. Porém, outras garantias processuais que a Constituição Federal prevê para todos os processos, como a assistência judiciária gratuita e o duplo grau de jurisdição (= garantia de que nos processos cabe recurso, há sempre um segundo julgamento) o Pacto trata apenas no caso de processos criminais. 
Direito à privacidade;
Liberdade de pensamento, consciência, religião, expressão, associação e reunião;
Proteção da família e da criança;
Direito à democracia: participação direta ou por meio de representantes na condução dos negócios públicos; direito de votar e ser votado;
- Suspensão das obrigações previstas no Pacto: em situações excepcionais que ameacem a existência da nação e sejam oficialmente proclamadas, os Estados podem adotar medidas de restrição a direitos previstos no pacto (essas medidas não podem acarretar discriminação). Alguns direitos não podem ser objetos de suspensão: vida, proibição da tortura, proibição da escravidão e servidão, proibição de prisão por descumprimento de obrigação contratual, tipicidade penal, personalidade jurídica, liberdade de pensamento, de consciência e de religião.
- Ao Pacto Internacional sobre direitos civis e políticos foram anexados 2 protocolos facultativos (protocolo facultativo é um outro tratado que complementa o assunto do tratado anterior): um deles para atribuir ao Comitê de Direitos do Homem criado pelo Pacto a competência para receber denúncias individuais sobre violações de DH (em 1966) e outro visando à abolição da pena de morte (em 1989). O Brasil aderiu a ambos em 2009. Mas quanto ao último, fez reserva admitindo a pena de morte em caso de guerra declarada, como estabelece a Constituição Federal.
2.2. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS:
- Também incorporado pelo Brasil em 1992. 
- Direitos que têm por objeto políticas públicas ou programas de ação do governo.
- Objetivo: condições sociais de vida digna a todos.
- O Pacto não criou nenhum órgão de fiscalização e controle do cumprimento das suas normas. 20 anos depois foi criado o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais para fiscalizar sua aplicação.
- Importante: a aplicação das medidas do Pacto deve ser feita progressivamente pelos Estados, de acordo com as possibilidades, até o máximo de recursos que tenham disponíveis. Assim, o Pacto indica que os direitos previstos não seriam imediatamente exigíveis, diferente do Pacto dos Direitos Civis e Políticos. O que é exigível é o comprometimento do Estado de adotar medidas que efetivem os direitos. Exemplo: o pacto prevê que o ensino primário obrigatório e gratuito é dever do Estado. Mas se o Estado não tiver condições de garantir esse direito, tem um prazo de 2 anos para apresentar as medidas que serão adotadas num prazo razoável. Assim, não precisa fornecer o ensino imediatamente, mas se compromete a apresentar o plano em 2 anos. 
- Essa regra é diferente da Constituição Federal, onde todos os direitos fundamentais têm aplicação imediata. Ou seja, na nossa Constituição a proteção ao indivíduo é mais ampla.
- Direitos previstos:
Não-discriminação: os Estados devem garantir os direitos sem discriminação por motivo de raça, sexo, cor, língua, religião, origem nacional ou social, etc. Mas o Pacto diz que, dependendo da situação econômica, nos países em desenvolvimento, os direitos podem ser limitados para aqueles que não são nacionais do Estado.
 Direito ao trabalho e a condições dignas de trabalho: é garantido, por exemplo, às mulheres, que tenham a mesma remuneração dos homens por trabalho igual; segurança e higiene no trabalho; descanso; salário que garanta uma existência decente, etc.
Liberdade sindical e direito de greve;
Direito a todas as pessoas à previdência social;
Proteção à família, à maternidade e à criança (contra a exploração do trabalho infantil, por exemplo);
Qualidade de vida e segurança alimentar: moradia adequada, garantia de uma renda mínima, por exemplo. O Pacto prevê cooperação internacional para garantir esses direitos.
Direito à saúde física e mental: diminuição da mortalidade infantil, melhoria das condições de higiene, prevenção e tratamento de doenças, assistência médica, etc.
Direito à educação: educação primária (ensino fundamental no Brasil) obrigatória e gratuita, ensino secundário e superior com gratuidade progressiva, educação para adultos, bolsas de estudo, etc.
Direito à cultura: participação de todos da vida cultural (um dos direitos menos observados no mundo), acesso de grupos carentes às manifestações culturais, acesso ao progresso científico, etc.
3) Convenção para a prevenção e repressão do crime de genocídio (1948):
- Consequência do holocausto da Segunda Guerra Mundial. A comunidade internacional pretendia evitar outros atos de extermínio a grupos étnicos.
- Ratificada pelo Brasil em 1952.
- A Convenção define o genocídio como um crime internacional e tem por objetivo preveni-lo e punir os agressores. Esse crime não está necessariamente ligado ao estado de guerra, ou seja, pode ser cometido em tempo de guerra ou de paz.
- O artigo 2º define como genocídio os atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como:
Assassinato de membros do grupo;
Grave atentado à integridade física e mental de membros do grupo;
Submissão do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial;
Medidas destinadas a impedir nascimentos no grupo;
Transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
- A conspiração e incitação ao genocídio, assim como a sua tentativa também são objetos da punição (ex: livros e panfletos nazistas que foram lançados após a Primeira Guerra Mundial).
- Os autores desse crime não podem invocar a imunidade, caso sejam membros do governo de um país. 
- Podem ser autores do genocídio: governante, funcionário público ou um particular.
- Embora a definição seja ampla, possui uma falha grave: as vítimas são grupos nacionais, étnicos, raciais ou religiosos. Ou seja, não menciona a perseguição a grupos políticos que, por isso, não pode ser punida como genocídio. O século XX foi marcado por massacres de populações civis por razões meramente políticas. Foi o que aconteceu na Indonésia em 1965 e no Camboja em 1975. Mas como dito acima, esses episódios não se enquadraram na definição de genocídio dada pela Convenção. 
- Para corrigir essa omissão, em 1998, pelo Estatuto de Roma, foi criado o Tribunal Penal Internacional, que pode punir outros crimes contra a humanidade (como os massacres por razões políticas), além do genocídio.
- Segundo a Convenção de 1948, as pessoas acusadas de genocídio respondem ou perante um tribunal do Estado onde o ato foi cometido ou em algum tribunal internacional com jurisdição reconhecida pelos Estados-membros da convenção. Não havia nenhum tribunal reconhecido, mas em algumas hipóteses foram criados tribunais pela ONU para casos específicos de genocídio, a pedido de Estados-partes do Tratado. É mais comum a punição ocorrer no Tribunal Internacional, pois é difícil que num país onde foi possível o genocídio, os tribunais sejam independentes. A partir de 1998, há o TPI (Tribunal Penal Internacional), como tribunal permanente com competência para julgar casos de genocídio.
 - A Convenção de 1948 estabeleceu um prazo de vigência determinado, que vem sendo renovado sucessivamente e permitiu que os Estados-partesdenunciem (manifestem interesse em sair do tratado) o tratado. Dependendo do número de denúncias, a Convenção pode perder sua vigência. Essas regras não são compatíveis com a proteção dos DH, que são considerados irrevogáveis.
 
4) Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (1965)
- Aprovada em 1965 pela Assembleia Geral da ONU. Ratificada pelo Brasil em 1968.
- A Convenção proíbe tanto a discriminação direta (há manifesta intenção de discriminar) quanto a discriminação indireta (há uma discriminação mascarada). 
- Os Estados-partes condenam a segregação racial e se obrigam a prevenir, proibir e eliminar essas práticas, objetivando a efetiva igualdade.
- A expressão “discriminação racial” abrange: “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”.
- A Convenção não proíbe distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado-parte entre cidadãos e não-cidadãos, ou seja, entre nacionais e estrangeiros.
- Para garantir a efetiva igualdade, a Convenção consagra tanto o aspecto punitivo (proibição da discriminação) quanto o aspecto promocional (adoção de ações afirmativas).
- As ações afirmativas são medidas especiais e temporárias que têm por objetivo eliminar desigualdades acumuladas historicamente e compensar os danos causados pela discriminação e marginalização de certos grupos, garantindo igualdade de tratamento e oportunidades. Exemplo: cotas raciais. Assim as ações afirmativas possuem 2 (duas) dimensões:
a) Dimensão Retrospectiva: visa atenuar/eliminar as consequências de um passado discriminatório.
b) Dimensão Prospectiva: visa à construção de um presente e de um futuro marcados pela pluralidade e diversidade étnico-racial.
- A Convenção veda qualquer tipo de propaganda ou organização racista.
- Os Estados devem investir em educação no sentido de combater o preconceito.
- No direito interno, o racismo é tratado pela Constituição Federal como crime inafiançável e imprescritível, conforme artigo 5º, XLII.
5) Convenção Internacional contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (1984)
- Ratificada pelo Brasil em 1989.
- Elementos que constituem o conceito de tortura:
1º) Causar intencionalmente dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais;
2º) Ato destinado a uma finalidade (informações, confissão, castigo, intimidação, coação, discriminação, etc).
3º) Vinculação direta ou indireta do agente ao Estado. OBS: a lei brasileira que trata da tortura (9.455/97) não prevê esse requisito.
- A Convenção não considera como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequências de sanções legítimas (assim, legislações penais para o castigo corporal, principalmente em países islâmicos, não são proibidas pela convenção). 
- A garantia da proibição da tortura não pode ser afastada ou suspensa em nenhuma circunstância. A Convenção obriga os Estados-partes a tomarem medidas legislativas, administrativas, judiciais ou outras que sejam eficientes para impedir a tortura em todas as suas áreas de jurisdição. Mesmo em caso de guerra, ameaça de guerra, estado de sítio ou de defesa não pode ser invocada justificativa para a tortura.
- Cada Estado-parte pode se considerar competente para julgar casos de tortura: quando praticada em seu território, quando o autor da tortura for nacional desse Estado, quando a vítima for nacional do Estado. Pela interpretação do item 4 do artigo 6º da Convenção, deduz-se que o Estado que realizar a investigação preliminar deve comunicar aos outros se pretende ou não exercer a jurisdição, ou seja julgar o caso. 
- O Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura estabeleceu um sistema preventivo de visitas regulares por órgãos nacionais e internacionais a locais de privação da liberdade. O Brasil ratificou o Protocolo em 2007.
6) Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (1979):
- Foi adotada no Brasil por um decreto primeiramente em 1984, quando fez reservas a artigos da Convenção. Depois, em 2002 aprovou de novo a Convenção, dessa vez retirando as reservas. 
- A ONU sempre deu importância à questão da igualdade da mulher. Houve conferências mundiais sobre os direitos da mulher e outras convenções específicas (direitos políticos da mulher, em 1952; nacionalidade de mulheres casadas, em 1957, etc). Mas a mais importante é a Convenção de 1979.
- É o instrumento que recebeu o maior número de reservas formuladas pelos Estados. A grande maioria destas reservas é referente a cláusulas de igualdade entre homens e mulheres na família, e foram feitas pelos países árabes e mulçumanos, com base em argumentos religiosos e em aspectos culturais.
- Discriminação contra a mulher: qualquer distinção, exclusão ou limitação estabelecida devido ao gênero que tenha como resultado a frustração do reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres ou o exercício dos direitos humanos pelas mulheres.
- A Convenção proíbe tanto a discriminação direta (há manifesta intenção de discriminar) quanto a discriminação indireta (ações aparentemente neutras que impactam negativamente a mulher). Os Estados-partes se obrigam a, progressivamente, eliminar a discriminação quanto ao gênero, objetivando a efetiva igualdade.
- A Convenção obriga os Estados-partes a: consagrar em suas Constituições o princípio da igualdade entre homens e mulheres; adotar as medidas adequadas, com as sanções cabíveis, contra a discriminação; garantir por meio dos tribunais e outras instituições a proteção efetiva da mulher contra a discriminação; abster-se de praticar qualquer ato de discriminação contra a mulher; tomar as medidas para modificar a legislação que constitua discriminação; revogar todas as disposições penais que constituam discriminação contra a mulher.
- A Convenção traz a possibilidade de adoção de ações afirmativas, como forma de acelerar o processo de igualdade. Ex: Lei Maria da Penha. São obrigações positivas para eliminar a discriminação.
- Há também disposições sobre a eliminação do tráfico de mulheres e da prostituição.
- A Convenção demonstra a preocupação em garantir às mulheres plena liberdade de reprodução, ou seja, direito de planejar como bem entender quanto ao momento e à forma de ter filhos, assim como quanto à quantidade de filhos.
- A Convenção, em si, não enfrenta a questão da violência contra a mulher de forma explícita. Isso só se deu em 1993, com a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a mulher, que combate este tipo de violência tanto em âmbito público quanto em âmbito privado. 
- A Convenção dispõe que o casamento da mulher com estrangeiro, ou a mudança de nacionalidade do marido durante o casamento não influenciarão na sua nacionalidade, que só poderá ser alterada mediante seu requerimento.
- A Convenção fala ainda do direito da mulher ao trabalho e ao ensino.
- Nos termos da Convenção, será considerado nulo todo contrato ou instrumento privado de efeito jurídico que limite a capacidade jurídica da mulher.
- Segundo a Convenção, o noivado e o casamento de crianças não terão qualquer efeito legal. Devem ser tomadas medidas legislativas pelos Estados para estabelecer uma idade mínima para casar.
7) Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989):
- Como grupo vulnerável, as crianças precisam de proteção especial. Em 1959, a ONU adotou uma Declaração dos Direitos da Criança. Contudo, devido à grande quantidade de violações aos direitos das crianças, foi necessário elaborar um tratado internacional para preservar esses direitos (pois o tratado tem natureza vinculante, obrigatória).
- A Convenção foi aprovada em 1989pela Assembleia Geral da ONU e entrou em vigor um ano depois. É a Convenção de direitos humanos da ONU com maior abrangência. Foi adotada no Brasil em 1990.
- Conceito de Criança para a Convenção: é o ser humano com menos de 18 anos de idade, abrangendo crianças e adolescentes, a não ser que pela legislação aplicável a maioridade seja atingida mais cedo.
- É um tratado que envolve direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e que trata também do direito humanitário internacional (para as vítimas de conflitos armados).
- Por um lado, destaca-se a vulnerabilidade especial das crianças e por outro lado, defende-se que a criança desenvolva sua identidade e autodeterminação. 
- São impostas obrigações positivas ao Estado para garantir à criança um padrão de vida digno. Ex: a Convenção obriga os Estados a oferecer educação primária compulsória e gratuita.
- Princípios gerais: não discriminação, direito à vida e ao desenvolvimento ideal, direito à participação (direito da criança opinar sobre questões que lhe dizem respeito, levando em conta sua idade e maturidade), orientação ao bem-estar da criança (todas as ações legislativas ou administrativas sobre o assunto devem considerar o interesse maior da criança).
- Embora a Convenção tenha regras detalhadas, não foi aprofundada quanto à proteção das crianças contra exploração.
- Por isso, foram criados 2 (dois) Protocolos Facultativos à Convenção:
1º) Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis (2002): estabelece a obrigatoriedade dos Estados de criminalizar tais condutas. Ratificado pelo Brasil em 2004.
Venda de crianças: ato ou transação pela qual a criança é transferida para uma pessoa ou grupo de pessoas em troca de remuneração ou outra forma de compensação.
Prostituição infantil: uso de criança em atividades sexuais em troca de remuneração ou outra forma de compensação.
Pornografia infantil: qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança envolvida em atividades sexuais explícitas reais ou simuladas, ou qualquer representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins primordialmente sexuais.
2º) Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados (2002): proíbe que menores de 18 anos sejam utilizados pelos Estados em conflitos armados, exceto voluntariamente a partir dos 16 anos (foi necessário colocar essa regra, pois em alguns países não é oferecida nenhuma outra opção de trabalho aos jovens). Ratificado pelo Brasil em 2004, que declarou que pessoas maiores de 16 anos podem aderir às forças armadas, desde que voluntariamente.

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