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Resumão - Conjugal e familiar

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1. TIPOS DE FAMÍLIAS E ARRANJOS FAMILIARES
Indo em direção oposta a algumas profecias que pensavam na extinção da família ou em sua banalização, várias manifestações e arranjos nos sistemas familiares começaram a surgir, como adotiva, descasada, reconstituída, mono ou pluriparental, heterossexual, homo afetiva, entre outras sem deixar de serem consideradas famílias.
A família que consideramos como tradicional é a Família Nuclear (FN) que segundo Galano (2006) aparece como a consolidação de uma nova maneira de relacionamento familiar surgida com a chegada da Era Industrial. Ela é composta pelo marido, esposa e filhos, que obedeciam econômica e afetivamente ao pai. “Esse novo arranjo familiar consolida definitivamente o espaço privado e o individualismo” (p.124). Dessa configuração derivou-se a noção de família idealizada que é pensada a partir desse modelo tradicional.
Outras denominações importantes para designar os tipos de família são:
Família de Origem (FO) ligada aos conceitos de ascendência e descendência, e que pressupõe laços consanguíneos: inclui os pais de um indivíduo e os pais desses, numa ascendência progressiva.
A denominação Família Atual (FA) refere-se à família ou arranjo familiar em que as pessoas estão vinculadas no presente de suas vidas. Dessa forma, a FA pode-se enquadrar em qualquer das outras formas existentes. 
Família Extensa (FE) pressupõe parentesco sanguíneo ou afinidades de pessoas ligadas entre si no tempo e no espaço e que se articulam com o presente.
Cerveny (1994) ainda se refere à Família Substituta (FS) como a família que assume a criação de uma ou mais pessoas com as quais não tem laços de parentesco.
Picosque (2014) apresenta a Família Credenciada (FC) como aquela que é escolhida pelas pessoas, como uma opção afetiva de pertencimento e convivência.
Vemos que essas definições são muitas e os modelos bem variados, numa tentativa de descrever e caracterizar alguns padrões que pudessem facilitar o estudo desse tema tão complexo: o que é família?
As Famílias Monoparentais podem ser femininas ou masculinas e essa denominação, como já citada na introdução, é usada na atualidade para designar famílias chefiadas por um adulto, pai ou mãe, que vive com seus filhos. No Brasil, em 2000, ao redor de 12,7 milhões famílias tinham essa configuração, sendo que muitas mulheres não eram casadas com os pais de seus filhos e não recebiam ajuda para criá-los (GALANO, 2006).
No censo de 2010, levantado pelo IBGE, numa amostra de 12.084.021 famílias, um número de 6.093.226 eram monoparental feminina, em comparação com 881.716 de monoparental masculino. 
Famílias Homoparentais masculina e feminina...
A família de Liliene poderia se encaixar nesse tipo de família por conta do abandono de um dos pais, mas não é o que acontece aqui, pois, a figura materna está presente embora afastada do convívio diário, através dos esforços do pai. Este, assumiu juntamente com a avó paterna as tarefas que seriam da mãe e as tem desempenhado a contento, inclusive mantendo a ligação entre seus filhos e a mãe, com visitas e conversas sobre a volta dela. Assim sendo, este é um arranjo que poderia ser identificado como “Família Monoparental Masculina Provisória”.
 A família de Anny, denominamos de “Família de Criação” como um desdobramento do que propõe Valente (2013) ao descrever a dinâmica das famílias com “filhos de criação”. A “família de criação” é um tipo de família substituta comum em nossa sociedade e sempre funcionou como uma alternativa à família de origem, que está sem condições financeiras ou psicológicas de cuidar de suas crianças. Nesta situação, as crianças são cuidadas por um parente, vizinho, amigo ou mesmo um conhecido, sem que a mãe tenha perdido sua guarda.
A família de Mônica, chamamos de “Família Distribuída” em que os adultos substitutos: avó materna, avó paterna e pai, assumiram totalmente o cuidado e educação de seus filhos, tendo inclusive a guarda provisória. Essa distribuição criou como que subsistemas familiares, conectados com a mãe em situação de encarceramento. Nos três segmentos da família, seus filhos foram bem cuidados e bem-sucedidos na vida, não apresentando problemas em seu desenvolvimento. “Não tenho nenhum filho na marginalidade” diz Mônica com orgulho. 
A Família de Célia, nomeamos como “Família Institucionalizada”, visto que ela se encontra presa há 14 anos e seus filhos foram abrigados em 2 casas acolhedoras, o que amplifica o impacto e merece um estudo mais aprofundado.
A família de Tânia, pode ser identificada como “Família Pseudo Tradicional”, pois ela e o marido, foram um casal, durante 28 anos, que educou e tratou os filhos com ensinamentos consistentes e consequências punitivas bem claras para o não cumprimento dos mesmos.
Família Camaleão: Carlos Temperini construiu um novo entendimento: o “ciclo de vida das famílias Camaleão. No interacionismo simbólico entre as famílias homoparentais e a sociedade, elas vivenciam constantes mudanças, adaptações e desafios impostos pela homofobia, pelo preconceito de dentro e de fora de casa, pela discriminação no trabalho, na escola e em outros espaços de interação social. 
2. FAMÍLIA E CASAL: DA TRADIÇÃO À MODERNIDADE
- A constituição da identidade pessoal tem como referência a própria história de vida, a identificação com outros significativos e a história familiar. Individualizar-se é um imperativo social permeado pelo processo de transmissão entre gerações. Podemos compreender a família como um processo de passagem entre gerações.
- Com a ideia de transmissão geracional, a hipótese do declínio do grupo familiar deve ser relativizada. Desde que não se eleja somente o critério biológico, a família continua a existir como um grupo afetivo, independente de sua configuração. 
- No processo de transmissão geracional é notável a presença e a influência da história das relações sobre a vida dos sujeitos.
A relação entre as gerações está sendo cada vez mais estudada, devido a 3 fatores:
O aumento da população idosa (convivência maior entre gerações);
Aumento da importância de avós e outros parentes que ocupam funções parentais;
Forte presença da solidariedade entre gerações, na ausência de estabilidade socioeconômica.
- A manutenção da relação entre gerações permite a sobrevivência da ligação entre pais e filhos, mesmo que o núcleo se desfaça, como o divórcio ou o recasamento. 
- Os pais continuam sendo um ponto de referência, inserido em uma densa rede social. A partir de uma compreensão geracional, o casal é um importante ponto de ligação entre as gerações, transmitindo valores, crenças e emoções que compõem as escolhas individuais de seus filhos.
- As escolhas dos filhos, dentre elas a conjugal, são influenciadas pela história de seus pais como par conjugal ou parental.
- No laço conjugal o encontro entre os parceiros gera um projeto conjugal alicerçado na história familiar de ambos e na metabolização das subjetividades. O projeto conjugal pressupõe ainda uma perspectiva de futuro a dois. Desde o momento da concepção o sujeito está marcado pelo olhar dos pais, pelos ideais e mitos familiares, quando o bebê nasce e se constitui como sujeito esse olhar se perpetua de geração para geração, como um processo contínuo.
- A transmissão geracional se refere ao pertencimento a um grupo familiar e as formações intermediárias, que articulam os espaços psíquicos intra e intersubjetivas. A tarefa do sujeito assim como da família e do casal é construir, organizar e transformar suas heranças.
- Na transmissão psíquica geracional ressalta-se o mito do progresso, a busca da continuidade e da evolução do sujeito e do grupo. A transmissão é necessária, a vida deve ser transmitida.
- Cada sujeito ao adquirir sua herança é mediado por uma cadeia de relações e deve realizar um trabalho de ligações, transformação e diferenciações, deixando sua marca singular neste percurso. Quando há fissuras no processo de transmissão o sujeito se torna alienado, o processo não cumpre a sua função estruturante e o material herdadose impõe em seu estado bruto aos descendentes. 
A duas modalidades de transmissão:
Intergeracional: onde o que é transmitido é transformado na passagem de gerações;
Transgeracional: o que é transmitido não pode ser modificado e integrado psiquicamente.
- A identificação com as figura parentais e o processo de transmissão geracional são fundamentos importantes para o estudo das relações que existem entre as concepções, motivações e projetos dos jovens para o casamento e o sentido dado à vivencia da conjugalidade dos pais.
Casal e família: Transformações sócio-históricas 
- Cada sujeito está imerso em um contexto sócio-histórico que define um modo de ser família. No contexto que antecede a modernidade, encontra-se a família tradicional, que é hierárquica e patriarcal, caracterizando-se pela subordinação ao homem. Quando se nasce mulher ou filho caçula a submissão é ainda maior. Todos os direitos são cedidos ao pai e na ausência deste ao filho primogênito. O indivíduo só tem uma existência real nessas famílias a partir do momento em que cumpre seu papel social.
- A modernidade flexibiliza esses papéis, reinventando a família, principalmente ao oferecer a mulher maior oportunidade de autonomização.
- Um modelo diferente de família nasce juntamente com a moderna ideologia individualista. Ainda que mantenha a força da determinação social dos comportamentos individuais, essa ideologia preconiza a igualdade entre seus membros, gerando um processo de democratização das relações familiares. A nova família é pautada na liberdade de escolha.
Assim, da sociedade tradicional à moderna a transformação da família pode ser vista através de dois fenômenos:
O fenômeno da retração: diminuindo o número de seus membros;
Processo de crescente intimidade
- A família diminuída é saturada de emoções e sentimentos diferenciados, assim a responsabilidade de pais como modelos para seus filhos aumenta. No processo de psicologização das relações familiares, passa a ser exigido de cada membro o desenvolvimento de reflexibilidade, da construção do eu, ao lado da submissão à história do grupo familiar.
- A nucloearização e o surgimento de formas diferentes de família não tem como consequência necessária a diminuição dos vínculos relacionais e geracionais. A ligação entre gerações é um importante fato de fortalecimento da família em sua função social e psicológica.
- A união conjugal hoje pode ser considerada um pacto social que cria para cada sujeito uma organização. Cada elemento do casal adquire sentido para sua vida a partir do relacionamento conjugal possibilitando a construção da realidade. Estar livre e dividir a vida com alguém delimitando espaços de existência pessoais e relacionais, edifica a combinação do individual com o conjugal, de tal modo que seja dada continuidade a um processo de construir-se a si mesmo na relação.
- Mesmo em uma sociedade individualista a relação forma a identidade pessoal. O individualismo é uma característica da modernidade, mas também são encontrados aspectos não individualistas ligados à permanência de elementos tradicionais como a família. É interessante aproveitar essa oposição entre família (não moderno) e indivíduo (moderno) para que se possa pensar a tensão entre eles, o que faz com que as relações estejam em constante transformação, entre o velho e o novo.
- Apesar da distância da tradicional, na família moderna também se encontra a necessidade de que determinados papéis sejam cumpridos. Esses papéis porém são comtempozirados pela elaboração de um indivíduo a partir do que lhe foi dado de herança.
- O individualismo aumentado o seu espoco de influência torna paradoxal a relações de pais e filhos, fazendo com que os pais se sintam comprometidos e submetidos à autonomia dos filhos, muitas vezes em detrimento de sua própria autoridade. A criança é vista como um indivíduo digno de respeito, uma parreira, com a qual se deve negociar. A noção de respeito é transformada.
- Esta nova família configura a tarefa de educar como uma oportunidade para a construção de cada sujeito, sendo revelado e construído pela história das relações. A família tradicional, cuja função não é afetiva e sim moral, perde espaço para um novo tipo de família	 que encontra seu papel no estabelecimento do sucesso relacional. O diálogo entre gerações é marca da cultura psicológica que fundamenta a família moderna. A questão moral não desaparece, porém quanto ao certo e errado fundamenta-se na negociação entre os sujeitos que compõem a família.
- As relações são cada vez mais valorizadas pelas satisfações que casa sujeito do grupo familiar procura e obtém
Conjugalidade contemporânea
- O processo de transformação pelo qual passou o casamento nos últimos séculos, o destaque dado à autonomia na escolha do parceiro e o caráter de exclusividade da relação amorosa levaram à exaltação da intimidade e ao aumento das expectativas de complementaridade entre os membros de um casal.
- O laço conjugal contemporâneo é marcado pelo individualismo e pelas transformações na intimidade. Giddens destaca a busca pelo relacionamento puro, no qual os parceiros se vinculam tendo em vista apenas a própria relação, à medida que for vantajosa e prazerosa para ambos. Destaca também as mudanças e fragmentação que o amor romântico vem sofrendo em função da emancipação e autonomia feminina.
- O amor romântico tem como base a identificação projetiva. O parceiro se sente atraído por algo que projeta no outro. Essa projeção cria uma sensação de totalidade com o parceiro e é intensificada pelas diferenças existentes entre a vivencia feminina e masculina na relação amorosa.
- Com a exacerbação dos valores individualistas, delineia-se uma nova tendência amorosa, o amor confluente, caracterizado pela abertura de um parceiro em relação ao outro, pela igualdade no dar e receber afeto. É um amor ativo e entra em conflito com os conceitos de “para sempre” e “único” do amor romântico.
- As relações conjugais contemporâneas são constituídas a partir das identidades singulares dos parceiros	e se mantém a medida que contribuem para a promoção e crescimento pessoal. O casamento moderno é marcado pela intensidade do desejo mútuo e pela expectativa de mergulhar plenamente na intimidade do outro. 
- A absorção e a entrega sem limites trazem sérias consequências na manutenção da relação. A relação tende a se tornar simbiótica à medida que oscila entre plenitude e esvaziamento, são observados o aumento de expectativas no parceiro, a extrema idealização da relação amorosa e a alta exigência em relação a si mesmo. O resultado são fortes tensões na relação conjugal, devido a impossibilidade de responder a demandas tão poderosas.
- O laço conjugal na contemporaneidade cria espaço constante para autoquestionamento. Os parceiros se perguntam sobre como cada um se sente em relação ao outro, como o outro se sente ao seu respeito e se os sentimentos são suficientemente profundos para suportar um envolvimento prolongado. O pensamento conjugal deve constantemente ser repensado e revalorizado.
- Mesmo sendo um ideal, o amor ainda é considerado um fato importante para a noção de Conjugalidade. O amor romântico exige um afastamento da rede social mais ampla, uma retração na Conjugalidade. O amor reforça o sentimento mútuo de pertencer existente entre os parceiros e compensa o afastamento da rede social. A Conjugalidade contemporânea, embora ofereça um suporte para a construção da identidade de cada parceiro, torna-se cada vez mais fluida, perdendo a característica de indissolubilidade. Desde que se instaura o laço conjugal s sujeitos consideram possível ou provável a sua dissolução, ainda que haja o sentimento amoroso envolvido.
- A família continua tendo um papel central no processo de vinculação psíquica e sociocultural, que constitui a formação de cada sujeito.
- A família contemporânea tenta conciliar a tradição e modernidade. A transformação dos legados é promovida pelas trocas intersubjetivas. A família processa e reinventa seus legados no confrontoentre tradição e modernização.
- A transmissão geracional tem suporte na autoridade paterna reconhecida e legitimada pelo sociocultural. 	Tal autoridade tem sido questionada, relativizada e enfraquecida. A autoridade dos pais necessita de um contrato implícito de respeito mútuo entre os familiares.
- Dentre os receios da atualidade estão: a eliminação do pai, o naufrágio da autoridade, o ilimitado poder materno e a clonagem dos seres humanos, caracterizando a extinção da diferença.
- A partir de uma compreensão geracional, o casal (conjugal ou parental) e a família são confirmados em seu papel de ligação entre as gerações, transmitindo valores, crenças e emoções que compõem as escolhas autônomas. 
3. O MODELO SISTÊMICO
Princípios básicos
Teoria geral dos sistemas: desenvolvida por Von Bertallanfy, a família pode ser considerada como um sistema aberto, devido ao movimento de seus membros dentro e fora de uma interação uns com os outros e com sistemas extrafamiliares, num fluxo reciproco constante de informação, energia e material. A família tende também a funcionar como um sistema total. As ações e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são influenciados pelos comportamentos de todos os outros.
Propriedades do sistema:
Globalidade: toda e qualquer partem de um sistema está relacionada de tal modo com as demais partes que, mudança em uma delas provocará mudanças nas demais. Isto é, um sistema comporta-se não apenas como um conjunto de elementos independentes, 	mas como um todo coeso, inseparável e interdependente. 
Retroalimentação ou feedback: a retroalimentação e a circularidade são um modelo causal para uma teoria de sistemas interacionais, ao qual pertence o sistema familiar. A família, segundo o modelo sistêmico, pode ser encarada como um circuito de retroalimentação, dado que o comportamento de uma pessoa afeta e é afetado pelo comportamento de cada uma das outras partes. 
- O conceito central desta nova epistemologia é a ideia de circularidade em oposição a ideia de causalidade linear. A doença mental, que tradicionalmente é pensada como linear, histórico e causal, seja dentro do modelo médico ou psicodinâmico, passa a ser considerada com bases no modelo sistêmico, dentro da concepção de circularidade. Nessa concepção, todos os elementos de um dado processo movem-se juntos. A descrição do processo então é feita em termos de relações, informações e organização entre esses membros.
- No modelo clássico da ciência, a causalidade é considerada linear. Causa e efeito são compreendidos quando as variáveis são alteradas gradualmente até que se isole o que produz um evento específico. A teoria geral dos sistemas formula que nós não encontramos essa ordem clara e nítida de causa e efeito, sem que a imponhamos artificialmente. O conceito de causalidade circular afirma que um todo não possui começo nem fim e qualquer tentativa do terapeuta de transferir responsabilidade para onde o problema começou é tão inapropriado como a família de atirar sobre um membro sintomático a culpa de ser a fonte dos problemas.
- É a cibernética que oferece subsídios para melhor entender as propriedade de retroalimentação e circularidade do sistema familiar.
- Para Bateson a família poderia ser análoga a um sistema homeostático ou cibernético. Cada família desenvolve formas básicas, específicas de transações, ou seja, uma 	sequencia padronizada de comportamentos, de caráter repetitivo, que garantem a organização familiar e que permitem um mínimo de previsibilidade sobre a forma de agir de seus membros. Essas formas de comportamentos são governadas por regras, regras que não são em sua maioria verbalizadas, mas que podem ser inferidas a partir da observação das transações da família. Regras que em parte são vinculadas a valores de nossa cultura, mas que em grande medida se originam da vivencia do casal. 
- A família pode ser vista como um sistema que se auto-governa através de regras, as quais definem o que é ou não permitido.
- O sistema familiar oferece resistência a mudanças além de um certo limite, mantendo tanto quanto possível os seus padrões de interação, sua homeostasia. Existem padrões alternativos disponíveis dentro de um sistema, mas qualquer desvio que vai além de seu limite de tolerância aciona mecanismos que restabelecem o padrão usual. O mecanismo utilizado na família para restabelecimento da homeostase, do equilibrio é denominado retroalimentação negativa ou feedback negativo.
- A concepção de família como um sistema homeostático, opôs-se a noção de coerência, elaborada por Paul Dell, para ele a família, como qualquer outro ser vivo, pode ser conceitualizada como uma entidade evolutiva capaz de transformações súbitas. 
-Esses dois paradigmas, um estático, mantendo o status quo familiar (homeostase) e o outo evolutivo, que conduz a família a transformações em seus padrões de interação, sofreram no decorrer do tempo certa integração, e hoje parecem ser aceitos como momentos alternantes do funcionamento do ciclo familiar.
- Ao lado da necessidade de ser estável, a estrutura familiar precisa se adaptar as mudanças. Há uma série de eventos, tais como a inserção de um novo membro na família, nascimento ou casamento, a perda por morte ou separação, a entrada de um filho na adolescência, que exigem a reorganização nas formas de transações, a fim de estabelecer novo equilíbrio que garanta a sobrevivência da família.
- Estabilidade e equilíbrio não significam necessariamente sanidade. A família pode também equilibrar-se em torno de padrões disfuncionais. Quando existem obstáculos a transformação, quando existe a dificuldade de se reorganizar um novo equilíbrio vê-se frequentemente que as transações existentes eram disfuncionais. É em geral na ocasião de eventos marcantes que a disfunção vem a tona e muitas vezes nessas ocasiões que a família procura um terapeuta familiar.
- Um sistema familiar disfuncional mantem rigidamente o seu status quo interacional, mesmo quando uma mudança em suas regras é essencial para o desenvolvimento de seus membros ou para a adaptação de novas condições extrafamiliares.
- Homeostasia e transformação são portanto processos básicos para a manutenção da família.
- Don Jackson descreveu a família como um sistema fechado de informações	no qual variações de comportamento de um membro provocaria, através de um processo de feedback, modificação corretiva na resposta dada pelo sistema. Quando uma pessoa apresenta mudança em relação a outra, esta outra atuará sobre a primeira de forma a diminuir e modificar a mudança que foi apresentada. 
- O conceito de transformação significa que o sistema deve mudar sua estrutura, e isso se faz possível através do feedback positivo. Na manutenção de um sistema familiar está presente uma cadeia de feedback negativo, que não provoca mudanças. Por outro lado, na mudança de um sistema familiar deverá existir sequencia de feedback positivo, no sentido de ampliar desvios de padrões rígidos e imutáveis de interação que a família quer manter. Esse conceito envolve a noção de que somente quando um membro ou evento faz com que haja um desvio das normas da família, o sistema familiar pode produzir novas informações e evoluir para novas estruturas.
Família e organização social
- O sistema familiar nuclear participa de um processo de influência recíproca com outros sistemas humanos, ele também tem sua própria suborganização, os subsistemas. No interior de uma família encontramos os subsistemas dos pais, esposos, dos filhos, dos irmãos, cada um com funções específicas dentro da família.
- Cada família, no entanto, possui organização e estrutura específicas dependendo da forma que seus subsistemas interagem entre si e com os sistemas comunitários. Considera-se que cada subsistema da família tem características especificas quanto a sua natureza e funções, as quais estão vinculadas aos valores de nossa sociedade e cultura.
- Casa subsistema possui uma delimitação própria, um contorno próprio que se desenvolve na dependênciade suas interações ou trocas com os outros subsistemas familiares. Para que se mantenham as características e diferenciação de cada subsistema, as fronteiras que os delimitam devem ser respeitadas.
Família e conflito
- Uma família funcional conta com força aliança entre os pais, que lidam com seus conflitos através de colaboração e satisfação mutua de suas necessidades. Os cônjuges são flexíveis em sua maneira de lidar com os conflitos, utilizando diferentes métodos em momentos diferentes.
- Em qualquer relacionamento duradouro, seja ele marital ou relacionamento entre pai e filho, a família como um todo, ou relacionamento da família com outros sistemas, podemos encontrar estilos persistentes de conflitos submersos e portanto não resolvidos. 
- Conflitos submersos em um casamento podem levar a distância emocional, a solidão, a disfunção física e psicológica de um dos cônjuges. Encontramos frequentemente em famílias disfuncionais envolvimento de uma ou mais crianças no conflito marital, o que serve normalmente para distrair os pais de um conflito não resolvido. A criança então torna-se emaranhada, fundida com um ou ambos os pais e as fronteiras geracionais são rompidas.	E importante ressaltar que a criança não é uma vítima passiva na situação.
Green nos fornece um sumário elegante de formas específicas de triangulação da criança com a família:
A criança superprotegida (a criança se torna um receptáculo de proteção, cuidados e preocupação excessiva dos pais);
O bode expiatório (a criança torna-se alvo de tentativas agressivas por parte dos pais, para reformar, disciplinar, punir e controla-la);
Competição entre os pais (a criança é pressionada a tomar partido no conflito marital, frequentemente para decidir quem está certo ou errado no conflito).
Coalisão cross-generacional rígida (um dos pais e a criança formam um pacto especial, pelo qual existe uma aliança consistente entre eles contra a outra figura parental).
Família a comunicação
- Não existe uma mensagem simples, as pessoas constantemente enviam e recebem uma multiplicidade de mensagens, através de canais verbais e não verbais essas mensagens modificam ou capacitam umas às outras. Quando duas pessoas interagem, elas constantemente reforçam e estimulam o que está sendo dito, de tal forma que o padrão de comunicação entre os participantes de uma interação define o relacionamento entre eles.
- A importância da mensagem não está apenas em seu significado, mas na influencia que ela exerce sobre o comportamento, nas atitudes das pessoas em interação.;
Jackson descreve 3 modalidades básicas de comunicação entre duas pessoas
A complementar;
A simétrica;
A recíproca.
4. FAMÍLIA COMO MODELO - GENOGRAMA
1. A Pesquisa
 Este trabalho fundamentou-se numa pesquisa qualitativa baseada no estudo de casos.
 Um caso clínico, atendido em 17 sessões de Terapia Familiar, durante 13 meses, serviu como base para a aplicação do modelo teórico, por nós construído, a respeito da transmissão de padrões interacionais familiares principalmente no nível Inter geracional.
 Outros casos clínicos serão apresentados como exemplo da transmissão de padrões interacionais específicos.
 Sempre que trabalhamos com o estudo de restrito número de casos, temos a convicção de que não haverá a abrangência universal em termos de objeto. Em nosso caso, algumas famílias-participantes não representariam a imensa gama de modelos de sistemas familiares que atendemos na prática clínica.
 É importante, nesse momento, determo-nos em aspectos da observação do atendimento clínico. É corrente na Terapia Familiar Sistêmica a impossibilidade de o terapeuta colocar-se fora do sistema com o qual está trabalhando. Por isso, como dissemos, trabalhamos com o Sistema Terapêutico (Minuchin, 1982) que é o sistema integrado pelo terapeuta e pelo Sistema Familiar.
 Essa impossibilidade de separar o sistema observado preconizado pela totalidade dos teóricos de família não é algo de propriedade dos sistêmicos. Assim, sobre a observação científica, Bleger (1977) assume a seguinte posição: "Na observação científica é onde confluem as antinomias e os equívocos mais seculares sobre o método do científico. Toda ciência parte da observação de fatos, sobre os quais se elabora uma hipótese que logo pode ser verificada, manejando os ditos fatos. O processo de investigação, assim tão simples e claramente exposto, sob se dá lamentavelmente no papel. É a metodologia do Psicólogo puro, do que não investiga mas conhece as normas com as quais quer que os outros investiguem" (p. 227).
 De certa maneira, foi a essa conclusão que os terapeutas de família, que pensam a família como um sistema, chegaram em suas observações,
 Quando Anzieu e Martin (1968) disseram que, nação de grupos, é necessário pensar que os mesmos não são realidades fixas, evoluem de acordo com o seu dinamismo interno e com o com texto exterior e que a própria observação podia ser um desses Fatores, não estavam se referindo propriamente ao grupo familiar. No entanto, esse princípio básico da investigação ativa é o mesmo daquele que chamamos de observação participante.	 
 Para saber qual é a nossa epistemologia no primeiro sentido indicado por Keeney, tomamos como fato que o nosso pensamento se dá dentro de um pressuposto sistêmico e o que pensamos é na repetição de padrões interacionais os quais estão dentro dessa perspectiva e com a nossa experiência peculiar de perceber esse fenômeno, Aliás, Keeney remete-nos a um aspecto que pode ser uma característica nossa ou, talvez, algo comum a outros clínicos que militam dentro da terapia familiar de base sistêmica, que é a do modelo na prática e a dificuldade de separar a epistemologia dessa mesma prática. Escrever sobre a epistemologia é, para nós, escrever a prática. 
 Keeney ainda nos diz que "o observador primeiro distingue e logo descreve e que toda pergunta, ao propor uma distinção, constrói sua própria resposta". Cita também Laing que afirma: "Aquilo que a ciência empírica denomina Fatos, para ser mais honesto, deveríamos chamá-los capto?' (No sentido do que é captado).
 Usando tais afirmações, podemos dizer que a forma pela qual os dados são captados na prática clínica ocorre dentro de uma visão sistêmica, por meio da qual essa prática também se dá.
Isso pode ser aquilo que Bateson (1968) chama de logica recursiva própria da relação entre a teoria e a prática clínica, e pertence ao inundo da cibernética, onde, segundo Keeney, a ação e a percepção, a descrição e a prescrição, a representação e a construção estão entrelaçadas.
2. INSTRUMENTOS
Além da análise das sessões de Terapia Familiar, usaremos, para detectar os padrões interacionais que se repetem intergeracionalmente, o genograma e a linha de tempo familiar (LTF).
2.1. O GENOGRAMA 
 O genograma é uma representação gráfica multigeracional da família que vai além da simples genealogia, pois inclui também as relações e interações familiares.
Nosso primeiro contato com este instrumento foi a ração do nosso próprio genograma e sem dúvida uma das mais ricas experiências pessoais. As coincidências, as repetições, alianças, e dos os Processos que cada um de nós sabe existir no contexto familiar surgem e se concretizam no desenho do genograma. A história reaparece e podemos fazer sua leitura ou releitura.
 O genograma recolhe informações estruturais vinculares e funcionais de um sistema familiar que pode ser analisado horizontalmente, por meio do contexto familiar atual e verticalmente através das gerações.
Para elaborar um genograma pressupõe-se 3 níveis: [1] traçado da estrutura familiar, [2] registro informativo da família e [3] representação das relações familiares.
 Para McGoldrick e Carter (1980) a família é o sistema primário e, com raras exceções, o mais poderoso ao qual o indivíduo pertence. Para eles, o Funcionamento emocional, físico e social dos membros de um sistema familiar são interdependentes. Assim, as interações e relações familiares tendem a ser altamenterecíprocas, pautadas e reiterativas. Dentro do propósito do nosso trabalho que é a de pesquisar os padrões interacionais que se repetem intergeracionalmente, o genograma evidencia-se como um instrumento fundamental e ponderam-te.
 Em nossa prática clínica, o genograma é elaborado em diferentes fases da terapia, dependendo do momento de cada família em particular, ao contrário do que é proposto por McGoldrick. Que recomenda a feitura do genograma nas primeiras sessões.
 Às vezes, começamos a elaboração do genograma com a família numa sessão e na seguinte surge algum assunto ou tema emergencial. Podemos suspender o trabalho com o genograma e retomá-lo em outra sessão posterior, sem que isso acarrete quebra ou problema na sua elaboração.
Costumamos fazer o genograma em cartolina ou outro tipo de papel encorpado usando pincéis atómicos. A cartolina é fixada na parede ou num quadro de forma que fique visível a todo grupo familiar.
 O genograma, sendo peça fundamental para o diagnóstico do grupo familiar, quanto maior o número de pessoas envolvidas na sua elaboração, melhor.
 Os símbolos que usamos no genograma são os propostos por McGoldrick e Gerson.
Começamos a elaboração do genograma sempre pela família nuclear que é, geralmente, a família consultante. Colocamos então o símbolo “quadrado” para designar o homem, e um “circulo” para designar a mulher e o traço de união — ligando, os dois, conforme modelo abaixo.
 
 Dentro das figuras, colocamos a idade de cada um e abaixo o nome ou a inicial do mesmo, como se segue.
	 
 Aqui já podemos perguntar sobre apelidos ou como as pessoas são chamadas em casa, o porquê disto e quem deu o apelido e assim por diante no traço de união — colocamos o número indicativo do tempo que o casal vive junto.
 
 Da linha horizontal de união, conforme modelo abaixo, saem linhas verticais correspondentes aos filhos, usando-se a mesma sistemática para anotar sexo e idade, nome, apelidos
 
 Neste ponto nos detemos e exploramos as relações existentes nesse primeiro grupo familiar, os fatos significativos, a aliança 4s aspectos físicos e assim por diante.
Indagamos a cada um dos membros sobre si mesmo e também usamos questões circulares, perguntando para D sobre C, por exemplo.
 O genograma funciona para nós, em nível de diagnóstico, como o desenho da família e, nesse sentido, a mesma técnica: durante o desenho da família, vamos perguntando ao sujeito como é a pessoa que ele está desenhando.
Um dos cuidados que se deve tomar é que a sessão do genograma não se torne uma sessão de queixas e acusações entre os membros da família.
Quando o diagrama familiar estiver pronto o terapeuta pode perguntar a respeito do funcionamento da família: regras, limites, como reagem em determinadas situações, o lema da família, as características principais.
 O uso do genograma tanto com famílias como com pacientes individuais, em nossa prática clínica, demonstrou ser um instrumento de grande eficácia que pode, ao mesmo tempo, ser uma descoberta agradável, satisfatória e instigante, mas também revelar repetições e acontecimentos de grande impacto emocional.
 Voltando à elaboração do genograma com a família, detemonos na família nuclear o tempo que for necessário, enquanto a família estiver envolvida, interessada e fornecendo dados que são relevantes para a terapia.
Em famílias com filhos casados, como no exemplo abaixo:
	
 o genograma é feito primeiro com os filhos antes de passar para as famílias de origem.
 Passamos, a seguir, para a família de origem dos cônjuges. A escolha de qual família se representará primeiro, em nossa experiência, faz parte do processo terapêutico e transmite informações do tipo:
— Competitividade entre o casal;
— Qual a família de origem que está mais próxima da família nuclear;
— Qual a família de origem mais considerada;
— Qual a família de origem designada como mais problemática; qual a família de origem mais fácil ou difícil de lidar e assim por diante.
Quando o genograma está pronto ele é discutido com toda a família da mesma forma que foi feito com a família nuclear, neste momento colhemos o maior número de informações referentes a padrões interacionais familiares.
 A descoberta pela família das repetições de padrões que vieram num processo transgeracional torna-se, por si só, um fator de mudança significativa para algumas famílias. Em outros casos é aí que começa o trabalho de terapia e em outros ainda, a família não consegue sair do sistema e sequer perceber o que acontece em ternas de repetição.
2.2. A LINHA DE TEMPO FAMILIAR (LTF)
Usamos a linha do tempo familiar junto com o genograma, fazemos uma linha horizontal com a fmilia nuclear, onde colocamos as datas e os fatos mais importantes, tem a finalidade de mostrar a ocorrência dos fatos em uma sequencia de tempo.
 Traçamos uma' linha e dizemos ao grupo familiar que vamos fazer a linha de tempo da família. Perguntamos, então: Em que ano começa esta família? Em que data começa a história de vocês? A resposta mais comum é começar pela data do casamento dos pais, mas outras respostas também podem aparecer, do tipo: a família começar com o nascimento do primeiro filho, com o namoro dos pais, ou quando o casal se conheceu. 
EXEMPLO DE LTF DA FAMÍLIA S
1974 casamento e nascimento de A 
 1975 período bom
1976 pai inicia negócio próprio 1977B operação de A e tempo que é marcado por doenças das filhas
1980 período. Feliz
1986 viagem ao Exterior com toda a família mãe começa a trabalhar com o pai
1988 acidente automobilístico com pai operado 
1989 fechamento da empresa do familiar
1990 início de novo empreendimento
1991 início da fase ruim do casal início da terapia
Com algumas famílias fazemos a linha do tempo da família nuclear e da família de origem, Existem as vezes coincidências que são importantes para o diagnóstico e para as repetições de padrões intergeracionais.
Apesar de suas vantagens, GLT apresenta algumas desvantagens, como a dificuldade de sua construção e a pouca flexibilidade para colocar pessoas e distribuir acontecimentos.
 A grande vantagem do genograma tradicional, como instrumento para registro da estrutura. e dos padrões de relacionamento das famílias, é a possibilidade de ser construído junto com as famílias, durante as sessões ou mesmo fora dela e a facilidade de leitura relacional. O GLT, embora tenha a vantagem de dar a relação temporal, pode dificultar esses dois aspectos que foram citados.
 Quando propomos a construção da Linha de Tempo Familiar, separada do genograma, nossa intenção era, além de definir aspectos da temporalidade da família, obter dados diagnósticos e também relacionais. Quando indagamos para família ou casal: "Quando esta família começou?", estamos cientes de que o tempo e as datas são aspectos importantes, mas não são os únicos que investigamos
A Linha de Tempo Familiar, como a apresentamos, dá a possibilidade ainda de comparar, quando feitas as linhas de tempo das famílias de origem, e perceber as coincidências e repetições.
A Linha de Tempo Familiar, como a concebemos e usamos no com texto terapêutico, tem-se mostrado um instrumento simples, prático, de fácil elaboração, que complementa b genograma e sobretudo tem função diagnóstica e terapêutica.
É difícil estabelecer um procedimento estanque para a aplicação do LTF, o terapeuta deve eleger o melhor momento para a aplicação da técnica.
O genograma e a LTF constituem, além da análise clínica, instrumentos fundamentais para o estudo da repetição de padrões interacionais horizontal e verticalmente. Na aplicação usamos de ambos questionamentos circulares, usamos as perguntas reflexivas, elaboramos a releitura dos dados da família, conotamos positivamente.Ambos ajudam a construir a realidade das famílias.
 5. PRÁTICAS EDUCATIVAS FAMILIARES: FAMÍLIA COMO FOCO DE ATENÇÃO PSICOEDUCACIONAL
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a necessidade de se considerar a família como objeto de atenção psicoeducacional, no sentido de um apoio para o desempenho da função educativa que lhe foi expressamente delegada pela sociedade1.
 Essa atribuição, entretanto, ao contrário do que se observa nas demais instituições também educativas (como a escola), é imposta e vivida2 no quotidiano de suas relações com outras instituições, sem que essa mesma sociedade se preocupe em apoiar os responsáveis para sua importante função. Este modo de “tratar” a família está calcado em um modelo que inclui o mito do “dom” feminino para educar crianças, destinando às mulheres a maior carga de responsabilidade nessa missão. Essa crença no “dom” dispensou a sociedade de oferecer um acompanhamento no que se refere às suas atribuições, em especial às famílias que não tiveram acesso a uma educação formal adequada e àquelas que vivem em condições socioeconômicas desfavoráveis.
O processo de socialização se dá no convívio familiar e, em especial, por meio das práticas educativas desenvolvidas com a finalidade de transmitir hábitos, valores, crenças e conhecimentos que se acredita serem úteis para a inserção dos filhos na sociedade. Trata-se de um agir que, em geral, é aprendido por imitação e tende a repetir padrões vividos pelos pais em suas famílias de origem. Essas crenças refletem um pensamento naturalizante, ou seja, que atribui à biologia a forma patriarcal de organização familiar e as relações entre os gêneros, e defendem a idéia de que as “...funções reprodutoras diferentes de homens e mulheres automaticamente constroem diferenças essenciais nos comportamentos paterno e materno. Essa perspectiva, chamada de essencialista e neoconservadora por Silverstein & Auerbach (1999), desconsidera a família como um fenômeno social e histórico, em que há uma igualdade biológica para a relação de cuidado com o filho.
A visão “essencialista” de família propõe estrutura, organização e valores definidos, no sentido de ser o “melhor” modo de se viver. É intensamente veiculada pelos meios de comunicação, livros didáticos e por instituições da sociedade, implicando um tratamento dessas instituições em relação às famílias, que por muito tempo foi aceito, sem questionamentos, até mesmo entre educadores e psicólogos.
Essa família aparece representada, na grande maioria das vezes, como sendo branca, de classe média, composta de pai, mãe, filhos (dois) e avós; pai provedor, ocupando a posição mais alta na hierarquia do poder, e a mãe doméstica, responsável pelo bem-estar e educação da prole. É a família pensada, o modelo de família ideal oferecido por nossa sociedade. Pensada porque permanece subjacente ao projeto de construção de uma família. Apresenta-se como parâmetro para avaliação e promete constituir-se em passaporte para a felicidade.
As “falhas” nesse processo são atribuídas a “patologias” ou “deficiências” morais, intelectuais ou psicológicas dos pais. Instituições educacionais como escolas e creches aproveitam-se dessa ideologia para culpar a família pelas dificuldades escolares e de relacionamento que crianças e jovens.
Uma forma abrangente de definir a família vivida é: um grupo de pessoas que convivem, reconhecendo-se como família, propondo-se a ter entre si uma ligação afetiva duradoura, incluindo o compromisso de uma relação de cuidado contínuo entre os adultos e deles com as crianças, jovens e idosos. Essa proposta abre espaços para os mais diferentes arranjos e protagonistas, mas tem no cuidado o seu sentido de existir.
Família como contexto de desenvolvimento
É na família que a criança encontra os primeiros “outros” e com eles aprende o modo humano de existir. Seu mundo adquire significado e ela começa a constituir-se como sujeito. Isto se dá na e pela troca intersubjetiva, construída na afetividade, e constitui o primeiro referencial para a sua constituição indenitária.
 A criança, ao nascer, já encontra um mundo organizado, segundo parâmetros construídos pela sociedade como um todo e assimilados pela família, que, por sua vez, também carrega uma cultura própria. Essa cultura familiar que lhe é específica apresenta-se impregnada de valores, hábitos, mitos, pressupostos, formas de sentir e de interpretar o mundo, que definem diferentes maneiras de trocas intersubjetivas e, consequentemente, tendências na constituição da subjetividade.
Esses procedimentos de inserção do jovem membro no mundo, ou o processo de humanização do mesmo – seu nascimento social e existencial –, manifestam-se em ações, com um sentido definido, que constituem as oportunidades de desenvolvimento para as crianças e adolescentes.
O conceito de desenvolvimento está cada vez mais assumindo um caráter relacional, que... “leva em conta as influências nos múltiplos níveis de proximidade da criança” (Mc Loyd, 1998: 188), o que acaba por desafiar a concepção de “... unilinear idade do desenvolvimento cognitivo, social e moral” (Nunes, 1994: 9).
 Esse caráter relacional está presente na definição de desenvolvimento humano apresentada por Bronfenbrenner: “...uma mudança duradoura na maneira como uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente”6 (1996: 5). Nessa definição, pode-se perceber o quanto o ser em desenvolvimento é ativo nesse processo de trocas recíprocas com o mundo em que vive, e também em relação com outros ambientes, num contínuo processo de mudança.
 Para Bronfenbrenner (1996), o mundo em torno é provocador, desperta disposições, tem aspectos atraentes e negativos. Relevante, na sua concepção, é a importância que atribui ao significado que existe para a pessoa em desenvolvimento das atividades, papéis sociais e relações interpessoais, experiências nas interações face a face.
 O ambiente familiar é propício para oferecer inúmeras atividades que envolvem a criança em ações intencionais, numa situação de trocas intersubjetivas, que vão se tornando mais complexas ou envolvendo mais intencionalidades, em uma perspectiva temporal. Famílias que oferecem às crianças e adolescentes mais atividades organizadas, gradualmente aumentando sua dificuldade, nas quais possam se engajar por períodos de tempo mais longos, facilitam, na proposta de Bronfenbrenner, os processos de desenvolvimento. Essas atividades não só ampliam suas habilidades cognitivas e sociais, como também vão consolidando sua posição na constelação familiar. As trocas intersubjetivas na família, numa situação de apoio mútuo, oferecem oportunidade de desenvolvimento para todos os envolvidos, não só para as crianças.
 Esse autor lembra que, tanto o trabalho cooperativo como a brincadeira, são situações que propiciam desenvolvimento. Refere-se ao fato de que jovens da classe média crescem sem jamais terem cuidado de ninguém, sem jamais terem “ ...aprendido as sensibilidades, motivações e habilidades envolvidas na ajuda e atendimento de outros seres humanos” (Bronfenbrenner, 1996:43). Essa é uma oportunidade que as famílias das classes trabalhadoras (e não as de classe média) frequentemente oferecem às suas crianças e que pode ser uma situação de aprendizagem de valores.
Para dar conta das expectativas do grupo social, os pais oferecem uma condição de desenvolvimento favorável tanto no ambiente físico como no tipo de ações que criam, nas oportunidades que oferecem aos filhos e nos objetivos e estratégias que desenvolvem para enfrentar essa tarefa.
Estamos considerando aqui os aspectos sociais e educacionais do desenvolvimento da criança e do adolescente. Citando Nunes (1994), deve ser lembrado “... o conceito de reatividade no desenvolvimento infantil: as sociedades estabelecem ambientes para o desenvolvimento de modos específicos de comportamento que se espera que as crianças apresentem e, no geral, elas crescem da maneira esperada” (Nunes, 1994: 7).
Ao se pensar em famílias como locus de desenvolvimento, deve-se lembrar queelas divergem quanto à concepção de infância e, em consequência, irão possibilitar diferentes oportunidades à criança. Além do mais, podem não ocorrer as condições de desenvolvimento
que ela poderia, saberia ou gostaria de oferecer, por razões internas e externas, ligadas a sistemas sociais mais próximos ou mais amplos. Ao levar-se em conta a família como um contexto de desenvolvimento, não se pode olhá-la como atuando isoladamente das demais instituições sociais. 
 As pesquisas de Szymanski (1999), Malavasi (1996), Molnar (1996) e Gandolfo (1998), numa comunidade de baixa renda da periferia de São Paulo, confirmaram que os efeitos da discriminação social tiveram como resultado práticas educativas defensivas, no sentido de desenvolver um processo indenitário na negatividade ou medo de serem alvo de discriminação, o que levou os pais a adotarem práticas violentas para evitar que os filhos se tornassem “marginais”
Como se pode ver, a família, como contexto de desenvolvimento, é um fenômeno muito complexo, cuja compreensão é dificultada pelo número de condições envolvidas, internas e externas a ela, interdependentes, e que apresentam efeitos cumulativos ao longo do tempo. A relação com o ambiente social mais amplo tem efeitos no modo como age com seus filhos e interfere no tipo de desenvolvimento que promove. 
O desenvolvimento psicológico da criança é afetado: (a) pela ação recíproca entre os ambientes mais importantes nos quais a criança circula (ex.: família/creche; família/escola); (b) pelo que ocorre nos ambientes frequentados pelos pais (ex.: trabalho, organizações comunitárias); (c) pelas mudanças e/ou continuidades que ocorrem com o passar do tempo no ambiente em que a criança vive, e que têm efeito cumulativo (Brofenbrenner, 1986). Nesse sentido, é ingênuo achar que medidas pontuais na família possam reverter uma situação que foi engendrada na relação com um contexto mais amplo.
Isso não significa, porém, que não se deva aprofundar o conhecimento do ambiente de desenvolvimento que as famílias oferecem e buscar a compreensão de fatores constitutivos do processo educativo que têm lugar entre elas. Esse conhecimento é necessário, em especial em relação àquelas de baixa renda ou abaixo da linha da pobreza, não só para estudar os efeitos prejudiciais dessa carência no seu desenvolvimento, mas também para conhecer as contribuições que oferecem. Trata-se de buscar informações necessárias para a aplicação de programas de atenção a essas famílias, que não podem partir do pressuposto preconceituoso de que são incompetentes em sua tarefa formadora.
 Mas, como lembra Bronfenbrenner (1986), nos estudos a serem desenvolvidos com a finalidade de promover políticas públicas de atenção às famílias, não se trata de focalizar tão somente os processos intrafamiliares referentes à interação pais e filhos, mas também como os processos intrafamiliares são afetados por condições extrafamiliares.
A Dinâmica Intrafamiliar 
Entre esses processos intrafamiliares, está a dinâmica relacional e afetiva entre os membros da família, que constitui uma área do conhecimento sistematizado pela psicologia clínica, em especial na área de terapia familiar, que oferece vários referenciais para análise e compreensão sobre o assunto nessa dimensão intersubjetiva. Trata-se de um fenômeno muito complexo, e as diferentes linhas teóricas focalizam diferentes aspectos do mesmo. Esbarra-se, aqui, com um problema: definir o que é uma família funcional ou uma família que oferece condições de desenvolvimento emocional adequado para seus membros. É um conceito, sem dúvida, difícil de explicar, tanto pelas implicações teóricas e metodológicas como ideológicas, sociais e culturais. Essa definição, talvez, poderá emergir da consideração de família como um contexto de desenvolvimento, sendo funcionais aquelas que oferecem condições para que seus membros atinjam esses objetivos.
 As várias linhas teóricas, entretanto, definem funcionalidade e adaptação conforme os aspectos que consideram relevantes na sua concepção de família. Ackermann (1978), um dos precursores dos estudos de família em Psicologia, define uma família adaptada como sendo “... capaz de cumprir e harmonizar todas as funções essenciais [de garantir a sobrevivência e plasmar a humanidade essencial do homem] de forma apropriada à identidade e às tendências das famílias e de seus membros, de forma realista em relação aos perigos e oportunidades que prevaleçam no meio circundante”. Como se pode notar, a relação com o meio social mais amplo não pode ser desconsiderada. Ackerman (1978) aponta para sentimentos como afeto, devoção e lealdade como sinais de unidade familiar, além de preocupação com o bem-estar do outro.
 A partir de estudos empíricos, numa perspectiva sistêmica, Olson(1986) define a funcionalidade da família segundo duas dimensões: adaptabilidade e coesão. Adaptabilidade é definida como “a habilidade do sistema familiar em mudar sua estrutura de poder, relações de papéis e regras de relacionamento em resposta a exigências situacionais ou de desenvolvimento”. A adaptabilidade pode ser rígida (pouca mudança), flexível, estruturada ou caótica (muita mudança). O equilíbrio está na família estruturada e flexível, que ofereceria condições adequadas para o desenvolvimento social e emocional de seus membros, segundo Olson.
A coesão refere-se à ligação emocional que os membros da família têm uns em relação aos outros. Também se distribui num continuum, desde o desligamento entre os membros até o superenvolvimento. O equilíbrio está no meio-termo e é lá que as trocas afetivas fluem mais facilmente, tanto no ambiente familiar como também fora dele.
Minuchin (1982), na sua visão sistêmica, aponta para a necessidade de limites bem estabelecidos entre os subsistemas: pais, filhos, irmãos, com papéis e funções claramente definidos para um ambiente propício ao desenvolvimento. Vê a família com um duplo objetivo de proteção psicossocial a seus membros, via a condição de pertencer que oferece e a de promover uma condição de independência gradual, que prepara os jovens membros para a vida em sociedade. É nesse sentido que a extrema coesão dificulta a independência e o desligamento, não promove o sentimento de fazer parte, essencial para o desenvolvimento da identidade pessoal. 
Teóricos da comunicação definem a família, assim como qualquer sistema humano, como um sistema linguístico, gerador de significados. Satir (1980) vê a comunicação como um processo verbal e não-verbal de se fazer solicitações e tentativas de influenciar o receptor em alguma direção. Numa família considerada funcional nessa perspectiva, as comunicações são congruentes, isto é, o verbal e o não-verbal estão na mesma direção, há transparência entre a comunicação de intenções e o respeito à autonomia do outro.
Nessas perspectivas descritas brevemente, deve ser levado em conta que processos intrafamiliares são perpassados por extrafamiliares, e as famílias, no decorrer da vida, vão construindo soluções para os desafios trazidos pelo mundo, que nem sempre oferecem situações desfavoráveis ao desenvolvimento de seus membros, mas que podem ser passíveis de mudança.
Fatores extrafamiliares e sua influência na dinâmica familiar
 Em Psicologia, a contribuição dos vários teóricos na área de estudos da família tem sido no sentido de apontar aspectos que são importantes no contexto da vida familiar e que podem dar indicações de como os processos extrafamiliares estão influenciando os intrafamiliares. Tal conhecimento é fundamental para o planejamento de programas de atenção a famílias, juntamente com os dados trazidos pela pesquisa na área de desenvolvimento humano.
 A pobreza é uma condição extrafamiliar, que tem influência direta nas relações intrafamiliares. McLoyd (apud Nunes, 1994) destaca algumas das formas como a pobreza pode afetar o desenvolvimento de crianças, focalizando especificamente as relações conjugais e entre pais e filhos:
a) a pobreza e a privação econômica diminuem a capacidadede uma orientação consistente e protetora por parte dos pais; 
b) um mediador importante entre dificuldade econômica e sofrimento dos pais é o sofrimento psicológico, resultante de um acúmulo de acontecimentos negativos na vida, condições crônicas indesejáveis e a ausência e ruptura dos elos conjugais; 
c) privação econômica e pobreza afetam as crianças indiretamente, mediante seu impacto no comportamento dos pais; 
d) as relações pais/filhos, sob condições de dificuldade econômica, dependem da qualidade das relações entre o pai e a mãe”.
II– A família como locus educacional
Práticas familiares com as crianças e adolescentes podem se constituir em atos educativos.
Práticas educativas são aqui entendidas como expressão da solicitude nas ações contínuas e habituais realizadas pela família ao longo das trocas intersubjetivas, com o sentido de possibilitar aos membros mais jovens a construção e apropriação de saberes, práticas e hábitos sociais, trazendo em seu interior, uma compreensão e uma proposta de ser-no-mundo com o outro. Isto inclui o processo reflexivo de desenvolvimento pessoal de todos os membros da família.
Tais práticas envolvem saberes que, mesmo não sendo sistematizados, são o resultado de uma aprendizagem social transmitida de geração para geração; manifestam-se em procedimentos e estratégias de ação; utilizam “material pedagógico”; carregam ideologia, supõem competências e comportam avaliações. São complexas e interdependentes, envolvendo todos os membros da família; não são lineares, comportam ambivalências e ocorrem em meio a uma vasta gama de disposições afetivas. Elas têm o sentido de preparar as novas gerações para a vida social, para a vida no mundo.
 Como lembra Lahire (1997), tal processo de socialização é mais eficiente quando há por parte dos mais velhos “tempo e oportunidade de produzir os efeitos de socialização”... “de maneira regular, contínua e sistemática” (p.338). Essa oportunidade traduz-se numa disponibilidade dos adultos em serem intermediários no processo de transmissão do capital cultural12 por meio de trocas intersubjetivas e no desenvolvimento do que Lahire chama de estratégias de apropriação, ou seja, de atividades que possibilitem o contato da criança com o conhecimento em questão.
Durning propõe a consideração de dois elementos constitutivos do processo educativo na família: os valores dos pais e os aspectos cognitivos. Quando a direção da socialização familiar coincide com a da escola, a criança, em geral, segue seu caminho sem grandes dificuldades. No momento em que há uma ruptura, porém, acontece o que Nunes (1994) aponta com muita clareza: “... o sucesso de um sistema pode engendrar o fracasso de outro, no qual se aplicam critérios diferentes para a obtenção de bons resultados de desenvolvimento infantil” (p. 9). Muitas crianças que vêm de ambientes que não favorecem a educação escolar aprendem muito e conseguem muito, mas comparadas com crianças que preenchem todas as expectativas do modelo dominante, são injustamente classificadas como ‘fracassadas’, simplesmente porque foram avaliadas segundo outro critérios.
Em síntese, as práticas educativas são ações que carregam valores, portanto têm um sentido, influem no desenvolvimento das crianças e adolescentes e podem ajudar ou prejudicar a inserção destes nas demais instituições da sociedade
IV – Considerações finais: a família como objeto de atenção psicoeducacional
A educação familiar pode ter tanto o sentido de uma prática social – no seu trabalho de atenção às famílias – como o de um campo de conhecimento – no trabalho de pesquisa que vem sendo realizado (Durning, 1999). Trata-se de uma especialidade recente e que está de acordo com a proposta de que pais, na sua função educativa, tanto quanto outros educadores, beneficiam-se de programas de formação. Ao se afastar de uma visão naturalizada de família e olhando-se os pais como educadores, não há como negar a contribuição do conhecimento científico, em especial da psicologia e da educação, para o desempenho da tarefa educativa com os filhos.
A consideração da família como um fenômeno histórico, social, psicológico e educacional leva à consideração da necessidade de um trabalho multidisciplinar para o atendimento da mesma, incluindo a possibilidade de atendimento individualizado e incluindo também as redes socais das quais a (s) família (s) faz (em) parte. Além do mais, para preservar a família como um contexto de desenvolvimento, o planejamento de um programa de atenção deverá contemplar tanto fatores intrafamiliares como extrafamiliares.
Por estarem em jogo crenças e valores arraigados, pode-se supor que projetos de intervenção devam ter uma perspectiva de mudanças a médio e longo prazo, e surge, cada vez mais, a necessidade de pesquisas longitudinais, que avaliem, ao longo do tempo, tanto a eficácia de programas de intervenção, como seu impacto no desenvolvimento dos membros da família, em especial, crianças e adolescentes.
6. SER FAMILIA E... FAMÍLIA E COMUNICAÇÃO
- Indivíduos que não se sentem ouvidos ou entendidos, que não conseguem expressar seus sentimentos e desejos, que se submetem ou violentam por causa da comunicação, que se pautam mais pelo que não e dito, que não confiam nas palavras, são apenas alguns dos inúmeros problemas de comunicação nas relações humanas.
Em 1948 Norbert Wiener propôs um esquema de comunicação: um emissor (E) envia uma mensagem (M) a um receptor (R), por meio de um canal (C), e forma-se então um sistema retroativo pelo feedback (FB).
- A entrada do feedback no esquema comunicacional abriu uma série de possibilidades que deu origem a importantes estudos na área.
- Em 1949 Shannon, aluno de Wiener divulga sua teoria matemática da comunicação: Shannon diz que a fonte de informação (FI) produz uma mensagem que o emissor (E) transforma em sinais, e por meio de uma canal (C), é enviada ao receptor (R), que a manda a um destino (D).
- Em 1960 Jakobson considera em seu esquema um emissor (E) envia uma mensagem mediante a um código a um receptor (R) dentro de um contexto e por meio de um contato. 
- Esquema que a autora utiliza, derivado de Wiener, Shannon e Jakobson: um emissor (E) envia uma mensagem (M) a um receptor (R), por meio de um canal (C), havendo um feedback (FB). Quando essa mensagem vai do E para o R ocorre os obstáculos no nível do emissor (OE) que são constituídos por seus valores, julgamentos, crenças, experiências anteriores, estado emocional, que fazem com que a M transmitida seja diferente da que se pretendia ser transmitida. Quando R recebe M, estas passam pelos obstáculos no nível do receptor (OR) que fazem com que ela também seja recebida de uma maneira particular. 
- Os obstáculos, tanto no nível do emissor como do receptor abrangem uma série de ruídos na comunicação dos quais podemos destacar:
a. Em muitas ocasiões ouvimos aquilo que queremos ouvir e não o que realmente está sendo dito (é muito comum na comunicação de casais, nas famílias as queixas dos filhos podem ser ouvidas de diferentes maneiras);
b. Temos a tendência a ignorar informações, principalmente as novas, que entram em conflito com as nossas crenças, opiniões e predisposições (sabemos que a família procurar operar dentro de uma homeostase, e assim fatos que colocam em risco esse equilíbrio são evitados e desconsiderados).
c. Quando nos comunicamos, não estamos isentos de avaliar a fonte de onde vem a mensagem e para quem vamos transmitir (é muito comum ouvir a frase “Não adianta falar com fulano porque ele não vai entender mesmo”).
d. Um mesmo fato pode comunicar coisas diferentes para diferentes pessoas (ver um membro da família sorrir, cantar ou chorar pode significar coisas diferentes para pais, irmãos e amigos).
e. Assim também, as mesmas palavras podem ter significados diferentes para as pessoas (a palavra “logo” pode ter sentido de alguns minutos, algumas horas ou algumas semanas).
f. Enviamos e também recebemos comunicações que não paradoxais e contraditórias (ex: uma menina de 10 anos falapara os pais “Decidam se eu sou criança ou mocinha porque vai ajudar com casa já sou uma moça e para ficar brincando com meus amigos no salão do prédio sou criança!”)
g. Temos linguagens especializadas que tornam nossos quadros de referência desiguais (as gírias, a internet, a mídia contribuem para que tenhamos quadros de referências distanciados);
h. Muitas vezes podemos ter a comunicação verbal incoerente com a não verbal. Dissemos sim com a voz e não com a cabeça.
i. Não percebemos o momento oportuno para falar ou calar.
j. Somos a vezes mais especialistas nas comunicações dos outros do que nas nossas próprias (em experiência clinica com casais é comum ouvir “Já sei o que ele(ela) quer dizer com isso”!)
OE e OR podem ser superados com alguns cuidados:
- OE e OR devem ser considerados dentro de um contexto, ou seja, é a experiência de cada um que dá significado aos obstáculos. 
- Então o que não é comunicação? A resposta para essa pergunta é o primeiro axioma proposto por Watzlawick, Beavin e Jackson. Não se pode não comunicar.
- O segundo axioma diz que “uma comunicação tem um aspecto de conteúdo e um de relação tal que o segundo classifica o primeiro” – uma comunicação não transmite apenas informação, mas impõe também um comportamento.
- O terceiro axioma afirma que a natureza de uma relação está na contingência da pontuação de sequencias de eventos entre os comunicantes.
- O quarto axioma diz que os indivíduos se comunicam de forma digital e analógica.
- As pessoas se comunicam pelo verbal e não verbal, sendo que o não verbal inclui mais do que simplesmente o corporal, pois abrange tom de voz, inflexões, expressões faciais, posturas, gestos, vestuários, dentre outros.
- A comunicação digital transmite mais o aspecto do conteúdo e tem um grau maior de complexidade, versatilidade e abstração. Permite correções e controle. A comunicação analógica é mais espontânea e não permite correções, e os especialistas dizem que tem mais credibilidade que a digital.
- O quinto axioma diz que todas as permutas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo se baseiam na igualdade ou na diferença.
- Poderíamos dizer que se um individuo reflete o comportamento do outro, a interação é simétrica, e se complementa o comportamento do outro, a interação é complementar.
7. CICLO VITAL
Concorda com a definição de Andolfi (1984) “ ...A família é um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes”
Necessidade de diferenciação & necessidade de coesão e manutenção da unidade. Indivíduo é uma parte e um todo de um sistema maior que pertence a sistemas maiores. Necessário compreender o indivíduo e a família simultaneamente.
Família enquanto sistema vivo opera com certos princípios:
Homeostase- processo auto-regulador que mantem a estabilidade no sistema e protege-o de desvios e mudanças.
Morfogênese- potencial para mudança e a morfogênese designa uma mudança dentro da ordem estrutural e funcional do sistema, de modo que este adquire nova configuração qualitativamente diferente da anterior – adaptabilidade e flexibilidade.
Não somatividade- sistema é maior que a soma de suas partes. Para compreender os indivíduos só compreendendo os contextos interacionais nos quais funcionam.
Feedback- positivo aumenta a atividade do sistema, negativo revertem-no ou pedem correção. Nos sistemas humanos tem duas funções principais: a primeira é fornecer informações e a segunda é definir o relacionamento entre os membros do sistema.
Causalidade circular- mudança em um membro do sistema altera todo sistema. Para Macedo (1991) a circularidade é uma característica padrão em um sistema que envolve uma espiral de feedbacks recursivos, ao contrário da relação linear.
Necessário considerar a família em seu contexto mais amplo, incluindo o social, o cultural, o econômico e o temporal entre outros...
O que é uma família?
A família pensada é igual à família vivida?
Definição de família: espaço físico? Consanguinidade? Pai e mãe? Função?
Enfoque na estrutura: regras, definição de hierarquia e papéis assumidos
Dinâmica: relações entre os membros, vínculos, rituais
Enfoque na etapa em que a família está em seu desenvolvimento: perspectiva do ciclo vital
Em 1995 – Cerveny propõe uma caracterização de ciclo vital inserindo a família em seu contexto e refletindo os aspectos sócio-econômicos-culturais do mesmo e em 1996/1997 comprova e analisa essa proposta através de pesquisa desenvolvida por Cerveny, Berthoud e colaboradores.
1- Família na Fase de Aquisição
2- Família na Fase Adolescente
3- Família na Fase Madura
4- Família na Fase Última
Classificação partiu da experiência da autora – coincidências que circunscreviam as diferentes etapas do desenvolvimento das famílias. Literatura disponível: coincidências e diferenças dentro da realidade brasileira.
“Conhecimento se valida através da experiência que transforma novamente em conhecimento que pode ser discutido e co-construir novos significados” 
FASE DE AQUISIÇÃO: 3 Fenômenos – Unindo-se
					 Construindo a vida a dois
					 Vivendo a parentalidade
Unindo-se: Conquistando
 Vivendo o processo inicial da união
	 Preparando-se para o novo
 Adaptando-se
	 Vivendo um novo casamento
Vida a dois: Vivendo a adaptação
	 Iniciando a família
	 Relacionando-se com as famílias de origem
	 Relacionando-se socialmente
	 Vivendo sem filhos
Vivendo a parentalidade: Filhos???
				 Vinda do filho
				 Vivendo com filhos pequenos
				
FASE ADOLESCENTE: Reajustando as lentes: reconfigurando as relações pais/filhos
		 Vivendo novo ritmo na vida em família
FASE MADURA: Remodelando relações
		 Adaptando-se às mudanças
		 Acomodando a estrutura e funcionamento da família
		 Enfrentando desafios e olhando para o futuro
FASE ÚLTIMA: 3 fenômenos - Fazendo retrospectiva
		 Vivendo o presente
		 Fechando o ciclo
Fazendo retrospectiva: Até que a morte nos separe – atravessando crises
				 Persistindo na relação
			 Acompanhando os filhos preparando p/ o futuro
				 Formando os filhos
			 Crescendo profissionalmente - Sendo provedor/profissional
Vivendo o Presente – Exercendo a parentalidade- Consolidando papéis
				 Convivendo com novos valores
				 Convivendo com vários modelos
				 Relacionando-se com os filhos
			 Exercendo a função de casal – Relacionando-se com o cônjuge
Fechando o ciclo: Ficando por perto – Voltando-se para si
			 Voltando-se p/ a própria história
		 Perdendo/ressignificando papéis - Sentindo os efeitos da aposentadoria
							 - Desfazendo-se dos bens
							 - Ficando viúva
							 - Perdendo amigos
							 - Diminuindo atividades
		 Invertendo a parentalidade - Sendo cuidado
						 - Ficando só
		 Esperando o futuro - Fazendo planos
					 - Preparando-se para partir

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