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AULA 2 AMBIDESTRALIDADE E RBV Prof. Alexandre Celaro 2 CONVERSA INICIAL A inovação é arriscada. Mas atravessar a rua para ir ao supermercado também pode ser arriscado. Uma grande dúvida que muitas empresas enfrentam nos dias atuais é: inovar ou não inovar? Para o mercado atual já não basta apenas reduzir custos e baixar os preços; as empresas precisam se adaptar e ter algum investimento em inovação para não se tornarem obsoletas, ou até mesmo para não desaparecerem do mercado. Se perguntarmos para alguém que viveu nos anos 1970 e 1980 sobre marcas como Olivetti e Kodak, é bem provável que digam terem sido líderes nos mercados de máquinas de escrever e filmes fotográficos, respectivamente. Empresas que foram ultrapassadas pelos seus concorrentes enquanto ondas de inovação em seus mercados mudaram os produtos e o comportamento dos consumidores. A questão principal então passa a ser quando, quanto e como inovar. É preciso que a inovação agregue algum valor para quem mais importa: o mercado. Um levantamento da percepção de líderes empresariais que atuam no Brasil feito pela ABDI em 2015 a respeito do cenário de inovação aponta para a criatividade e para o potencial do mercado interno como facilitadores para a inovação. Praticamente todos (99% dos entrevistados) afirmam que a inovação faz parte da estratégia da empresa, motivados a buscar competitividade, crescimento e sustentabilidade. Estudo feito pelo IPEA em 2006 com mais de 72 mil empresas brasileiras mostra que as empresas que inovam e diferenciam produtos faturam mais, geram mais e melhores empregos (salários mais elevados e maior tempo de permanência no emprego), crescem mais, exportam mais e são mais produtivas (ver Tabela 1). 3 Tabela 1 – Desempenho das firmas brasileiras conforme estratégias Fonte: ABDI, 2010. A Tabela 1 mostra que o grupo de empresas que inovam e diferenciam produtos, composto por apenas 1,7% do universo total de empresas pesquisadas é o que apresenta maior produtividade. Já a grande maioria das empresas, composta por 77,1% do total das empresas, não diferencia e tem produtividade menor e, como consequência, apresenta a produtividade mais baixa. Vimos a importância da inovação empresarial, tema desta aula em que abordaremos como acontece o ciclo de inovação dentro da empresa, o que os gestores precisam considerar nas suas tomadas de decisão na hora de inovar, como pesquisar e estar atento às tendências. CONTEXTUALIZANDO No fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 o setor de relógios suíços vivia uma grande crise por conta da entrada da concorrência asiática. Naquele tempo, os relógios de qualidade eram feitos de metal, transmitiam durabilidade e segurança, que eram consideradas características muito importantes para o consumidor. E foi nesse mercado em crise que a fabricante de relógios Swatch inovou, com uma proposta completamente inversa à de seus concorrentes, criando relógios de plástico, material que na época era descartável. Esses relógios de plástico, coloridos e mais baratos, revolucionaram o mercado. No final dos anos 80, a empresa atingiu então seu pico de popularidade, pois conseguiu acrescentar inovação e modernidade a um setor dominado por história e tradição, usando o modelo estético como maior destaque, sem deixar a desejar em qualidade e durabilidade. 4 O segredo é investir de forma continuada na gestão e em inovação e abordar os processos de inovação de forma continuada. Observando o caso citado, percebemos que a Swatch, ao notar que não teria forças ou chances significativas para competir num mercado cujas características de produto eram bem definidas e rígidas, com público exigente e com a entrada de um concorrente com preços muito competitivos, ela resolveu inovar, pensando “fora da caixa” e criando um produto que, para os padrões da época, parecia insano. Dessa forma, a inovação muitas vezes se faz necessária para a própria sobrevivência no mercado. Saiba mais GUIMARÃES, T. A; RESENDE JÚNIOR, P.C. Inovação em Serviços: o Estado da Arte e uma Proposta de Agenda de Pesquisa. XXVI Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, Vitória, 28-30 nov. 2010. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/simposio187.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2018. TEMA 1 – INOVAÇÃO EMPRESARIAL A ideia de inovação como impulsionadora do capitalismo foi primeiramente introduzida por Schumpeter (1942). Com a economia mais globalizada e complexa a cada dia a inovação é fundamental para o bom desempenho das empresas e nações. Dois aspectos devem ser pontuados (ABDI, 2010): a. As atividades produtivas imateriais, ou seja, aquelas que não estão diretamente relacionadas à transformação de matérias-primas e à fabricação de produtos, têm importância cada vez maior para a geração e apropriação de valor econômico. Expande-se a parcela do produto econômico mundial gerada pelo setor de serviços, ao mesmo tempo em que a geração e apropriação de valor pelas empresas se desloca da manufatura para as atividades de engenharia, gestão de marca, design, gestão de cadeias de suprimentos e canais de distribuição, projeto etc. Mais e mais, são as empresas que estruturam e coordenam redes de negócios, fazem o projeto de produtos e controlam marcas e canais de distribuição que abocanham a maior parcela do valor gerado pela produção e comercialização de bens e serviços. Torna-se chave o controle de ativos intangíveis (conhecimento, metodologias de projeto, tecnologia, relações de mercado, marcas etc. b. Surge uma nova geografia mundial da produção e do consumo. Se de um lado encontramos a estagnação dos mercados de consumo dos países ditos desenvolvidos e suas economias, de outro, observamos os países emergentes terem participação crescente na economia mundial em função da expansão dos seus mercados internos. Com a estagnação dos mercados dos países desenvolvidos, a expansão das vendas das empresas passa a depender, mais e mais, das suas capacidades de oferecer produtos novos e/ou diferenciados, que 5 tornem os antigos obsoletos e/ou atendam necessidades específicas de clientes individuais, nichos ou segmentos específicos de clientes. Surge daí a necessidade por diversificação, diferenciação e inovação. (ABDI, 2010) Inovação: é a introdução de um bem (produto ou serviço), processo, modo de gestão (organizacional) ou marketing, com sucesso no mercado (esta definição é uma mescla do Manual de Oslo, [2005], com Schumpeter [1932], que dizia que só é inovação aquilo que dá resultado) Inovação pode ser visualizada como uma nova ideia que, por meio de ações definidas ou implementações, vai resultar em uma melhoria, um ganho ou lucro para a organização. É o mesmo conceito adotado pela empresa 3M, onde inovação é representada por uma equação algébrica: Idéia + Ação = Resultado. (Machado; Vasconcellos, 2007) Num cenário cada vez mais competitivo e mais globalizado, a importância da inovação, de maneira geral, se torna essencial para a sobrevivência no mercado e para geração de valor ao produto. Muitas empresas mudam seu negócio por conta da inovação. Especialistas na área de inovação apontam que devemos focar mais no “como” e não tanto no “o que” fazer. Inovar é sempre um desafio, então não se deve ficar preso a uma única ideia, como se existisse uma receita pronta. Deve- se buscar ser grande, atuando em mercados específicos, pesquisando, fazendo busca intencional e consciente de oportunidades para inovar, pois poucas ideias de inovação bem-sucedidas brotam do acaso. E, para inovar, é preciso deixar de fazer as mesmas coisas do mesmo jeito. Mas normalmenteprecisamos de uma razão para a mudança, e muitas vezes o mercado exige uma mudança rápida. Assim, precisamos entender o mundo que nos cerca, como se conversássemos continuamente com ele, para entender as suas constantes e mutantes necessidades, interpretar essa necessidade constante por novidade. Inovar no início pode ser caótico, pois é como “saber onde se quer ir, sem conhecer o caminho” Fazendo uma analogia, é como se tivemos como optar por duas ferramentas para se chegar a um destino: um mapa em papel e o aplicativo Waze. Ambos indicam o caminho. O primeiro mostra a rota que deve ser seguida, sem considerar qualquer mudança repentina e recente nesta rota, que possa ter até mesmo inviabilizado temporariamente a passagem por ali. Na empresa, pode ser um caminho que se seguiu no passado e deu bons resultados, o que não garante que continuará assim no futuro. 6 Já o Waze também vai indicar um caminho para se chegar ao destino desejado, porém ele atualiza a rota em tempo real, mostrando qual é o melhor caminho a ser seguido naquele momento e naquelas condições, o que dá muito mais chances de se chegar em segurança e em menor tempo ao destino. Seja crítico, analise o terreno, veja as condições e, caso seu mapa esteja diferente do seu caminho, esqueça o mapa. Inove! Quanto à abrangência as inovações podem ser: a. Para o mundo (normalmente as radicais são mundiais); b. Para o mercado em que a empresa atua; c. Intraempresarial (normalmente inovações em gestão e processos); Lembremos que inovação tem a ver com a produção de valor econômico no mercado e tem a empresa como objeto. Inovação não está necessariamente ligada a altas tecnologias e a grandes investimentos. Inovação diz respeito à capacidade de se criarem novas formas de gerar e apropriar valor no mercado (ABDI, 2010). Por fim, apresentamos um resumo dos fatores condicionantes do meio inovador interno, resumidas no quadro abaixo: Quadro 1 – Fatores condicionantes do meio inovador interno: resumo de fatores Fonte: Gestão, 2007. 7 A Tabela 1 apresenta, na coluna da esquerda, os fatores condicionantes do meio inovador interno. Quando há incerteza sobre a inovação (coluna 1, linha 3), ou seja, quando há dificuldade e variabilidade das ideias inovadoras percebidas pelas pessoas envolvidas com o processo, a tabela indica que quanto maior a incerteza, menor o índice de eficiência da inovação. Assim, pode-se transitar pela Tabela 1 para entender os fatores, as influências e formas de avaliação. TEMA 2 – APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E AS MUDANÇAS Vamos entender primeiramente o que é aprendizagem. Numa visão leiga, podemos dizer que é o que fazemos indo para a escola, porém continuamos aprendendo sempre no decorrer das nossas vidas. Portanto, aprendizagem é qualquer mudança relativamente permanente no comportamento, que ocorra como resultado de uma experiência Não conseguimos observar uma pessoa aprendendo, porém podemos notar que houve aprendizado observando sua mudança de comportamento. Logo, aprendizagem é também mudança de comportamento e envolve mudança, a qual pode ser boa ou ruim (no caso de aprendizagem de comportamento desfavorável). E como aprendemos? De acordo com Robbins (2002), há 3 teorias através das quais podemos adquirir padrões de comportamento: condicionamento clássico, condicionamento operante e aprendizagem social. 2.1 Condicionamento clássico Surgiu a partir de experimentos feitos com cães, pelo russo Ivan Pavlov. Os cães salivavam ao perceberem um pedaço de carne, mas não salivam ao ouvir tocar a sineta. Foi trabalhada então uma forma de fazer a ligação entre a carne e a sineta, e depois de ouvir repetidas vezes a sineta tocar antes de receber a carne, o cão passou a salivar apenas com o toque da sineta, mesmo que não recebesse carne em seguida. A sineta era um estímulo artificial ou estímulo condicionado, já a carne era um estímulo não condicionado. Esse conceito básico resume o condicionamento clássico: para aprender uma resposta condicionada, é preciso criar uma ligação entre um estímulo condicionado (provocador) e outro não condicionado (neutro). O 8 condicionamento clássico explica também como as canções natalinas são capazes de nos trazer boas recordações da infância, pois foram associadas ao clima festivo de Natal e evocam sentimentos alegres. O condicionamento clássico é passivo: quando algo acontece, reagimos de determinada maneira. 2.2 Condicionamento operante Nesse caso, o comportamento é uma função de suas consequências. As pessoas aprendem a ter determinado comportamento para ter algo que queiram ou evitar algo que não queiram e, portanto, é um comportamento voluntário ou aprendido. O conceito de condicionamento operante foi desenvolvido pelo psicólogo da Harvard, B. F. Skinner, que afirma que o conhecimento é aprendido, ou seja, é de fora para dentro e não reflexivo (de dentro para fora). Imaginemos uma situação onde seu chefe lhe pediu para fazer horas extras em um período bastante movimentado, assegurando que você seria recompensado por isso na próxima avaliação. Quando chega a avaliação, você percebe que não houve qualquer reconhecimento pelo seu esforço, então, na próxima vez que seu chefe lhe pedir para trabalhar horas extras, provavelmente você irá recusar. Ou seja, se um comportamento não receber reforço positivo, a probabilidade de ele se repetir diminui. Aprendizagem social – é a aprendizagem por meio da observação ou experiência direta. Aprendemos ao ver o que acontece com os outros e ao ouvirem alguma coisa. Boa parte do que sabemos foi aprendido a partir da observação de modelos, dos pais, dos professores, da TV, dos chefes, e assim por diante. Colocando isso numa visão voltada para a empresa, se quisermos que a equipe tenha um comportamento pró-ativo, com ideias novas, é preciso estimular e recompensar esse tipo de ambiente. Algumas atitudes servem para realizar uma análise funcional para identificar as contingências do comportamento ou as consequências de determinado desempenho para então desenvolver e implementar uma estratégia de intervenção para fortalecer o comportamento desejável e enfraquecer o indesejável e vincular a relação desempenho-recompensa. Mudança é a palavra-chave aqui, pois já sabemos que, para que uma organização sobreviva, ela tem que responder às mudanças que ocorrem no seu ambiente e mudar também. 9 Quando a concorrência lança um novo produto ou quando mudam as leis, por exemplo, a empresa precisa acompanhar e fazer mudanças. Existem também as mudanças planejadas, por exemplo, estimular esforços para inovação. Para esclarecer, vamos exemplificar a seguir um modelo de mudança e outro de mudança planejada. Uma pequena empresa de execução de projetos, denominada empresa A, recebeu de seus funcionários uma reivindicação de horário de trabalho flexível, pois precisavam ter mais tempo para sua família e para suas atividades pessoais. Caso a empresa não pudesse atender, eles iriam procurar outro emprego. O proprietário ouviu atentamente suas alegações e resolveu implementar imediatamente um plano de flexibilização de trabalho, sem avaliar mais a fundo quais seriam os benefícios e as consequências Já a empresa B, uma indústria alimentícia, investiu milhões em um processo novo de embalagens, acompanhado de um controle rígido de qualidade, o que melhoraria sua capacidade de detectar e corrigir falhas no fechamento da embalagem e, consequentemente, evitar que o produto estragasse antecipadamente. Isso exigia grande mudança na produção, e uma possível resistênciapor parte dos funcionários, então a administração desenvolveu implementar um programa de treinamento antecipadamente, para administrar as expectativas dos seus funcionários e também tranquilizá-los. No exemplo que demos da empresa A, tivemos uma mudança acidental, que simplesmente aconteceu. Não foi proativa, o que é bastante ruim para a empresa. Já na mudança planejada, a empresa pode agir antecipadamente e se organizar para se adaptar melhor às mudanças e principalmente poder mudar o comportamento de seus funcionários. Por isso, muitas empresas já têm um responsável por atividades de mudança dentro da organização. São os chamados agentes de mudança, que podem ser administradores, funcionários ou agentes externos. E o que esses agentes de mudança podem mudar? Mudança de tecnologia: as principais mudanças tecnológicas envolvem a introdução de novos equipamentos ou modos de informatização, além da automação, uma mudança tecnológica que substitui pessoas por máquinas, que teve início após a Revolução Industrial e continua até os dias atuais. 10 Mudança das instalações físicas: arranjo físico considerando as demandas de trabalho, necessidade de interação entre as áreas, por isso percebemos uma tendência das empresas; Mudança das pessoas: os agentes de mudança ajudam pessoas a trabalharem em conjunto, envolve, portanto, mudança de atitude e comportamento dos membros da organização, através de soluções de problemas, tomada de decisões e processos de comunicação em geral. TEMA 3 – CICLO DE VIDA DA INOVAÇÃO A fase inicial que ocorre previamente à colocação de um produto no mercado á a criação de um conceito com base nas ideias inovadoras. A partir deste ponto, a empresa passa a pesquisar modos de produzir e entregar o produto ou serviço idealizado. É quando são produzidos e testados protótipos (também na fase de desenvolvimento) para que se busque a performance desejada. Clínicas com clientes podem ser realizadas para que se obtenha um feedback sobre potenciais melhorias. Pode-se, nesta fase, incorporar tecnologias externas de universidades, institutos de pesquisa e de outras empresas, sejam fornecedores ou empresas parceiras. Uma vez definida a tecnologia do produto ou serviço, inicia-se a fase de desenvolvimento, já pensando em produção de acordo com a demanda prevista, otimizando o processo de forma a evitar desperdícios em estoque, movimentação e alocação de capital desnecessário. Consultorias podem ser contratadas para auxiliar em detalhes específicos como a compra de equipamentos, licenciamento de marcas e patentes, logística de importação e exportação e contratação de profissionais para a próxima fase, a comercialização. Nesse momento o produto ou serviço é lançado para o mercado e comercializado. Essa é a “hora da verdade”, ou seja, quando todo o esforço, que em muitos casos é de anos de pesquisa e desenvolvimento, é posto à prova para que comece a dar o retorno. 11 Figura 1 – Processo de inovação A Figura 1 traz uma ideia do processo de inovação no formato de um funil, com a entrada das ideias e conceitos no maior orifício, sendo afunilado até a fase de comercialização quando ocorre a internalização de protótipos para que scale-up os spin-offs. No centro desse processo estão as fases de pesquisa e desenvolvimento, quando ocorre a eventual busca por tecnologias externas para dentro da empresa ou desenvolvimentos em parcerias com outras organizações, sejam empresas, universidades, consultorias ou de outra natureza. É na fase de desenvolvimento que ocorre o licenciamento de patentes quando for o caso. A forma genérica como uma tecnologia evolui e se define no mercado é frequentemente associada ao conceito de ciclo de vida. Uma inovação segue os quatro estágios dos modelos biológicos apresentados por seres vivos: introdução, crescimento, maturação e declínio (Tigre, 2006). A introdução representa o nascimento de um produto no mercado, em que um reduzido número de empresas domina e opera determinada tecnologia. Na fase de crescimento, observa-se uma melhoria progressiva no desempenho da tecnologia, ao mesmo tempo em que a concorrência aumenta, impondo-se a necessidade de adoção de uma série de inovações incrementais para melhorar o desempenho e o design do produto. Na maturidade ou maturação, “ocorre intensa concorrência e tendência de diminuição do ritmo de crescimento das vendas” (Tigre, 2006). No declínio, as vendas diminuem, os usuários deixam de usar a tecnologia e a indústria abandona a tecnologia. 12 TEMA 4 – INOVAÇÃO RADICAL E INCREMENTAL De forma genérica, as inovações podem ser classificadas quanto à sua intensidade em três tipos: 4.1 Inovação incremental Ocorre quando a tecnologia de base não mudou. Por exemplo, a criação de um novo sabor de um produto já existente. O refresco que era oferecido no sabor laranja passa a existir no sabor de abacaxi com hortelã. As inovações incrementais são aquelas que, quando implementadas, não mudam o paradigma tecnológico. Referem-se a qualquer tipo de melhoria no produto ou no processo, de forma contínua, sem alterar a estrutura física. É a mesma tecnologia, com evoluções, que podem ser uma mudança qualitativa de um produto já existente, otimização do processo de produção ou alteração do design do produto. A maioria das inovações incrementais são imperceptíveis ao consumidor e normalmente geram uma maior eficiência técnica, aumento da produtividade ou redução de custos. Figura 2 – Evolução de uma tecnologia (trajetória tecnológica) Fonte: Perez, 2004. Na Figura 2, podemos observar a evolução da tecnologia demonstrando a trajetória de uma inovação incremental. Ao surgir um novo produto, percebemos uma evolução longitudinal, com várias melhorias ao longo do tempo, até que ele atinja a maturidade. Nesse momento, o produto terá um congelamento nas 13 margens de lucratividade, que, em alguns casos, podem até se tornar inviáveis, necessitando assim de uma inovação radical (Perez, 2004). 4.2 Inovação radical A inovação radical ocorre quando a tecnologia de base muda. Como exemplo, podemos citar o café em cápsula. A tecnologia de base, que era a oferta de café em pó ou granulado, mudou. Passou-se a comprar cápsulas e as máquinas para a preparação do produto, o qual, no final, continua sendo o café. Uma inovação radical traz algo realmente novo para o mercado, algo que traga mudança tecnológica, operacional ou estrutural, por exemplo, a criação de uma nova linha de negócios para a empresa. Esse tipo de inovação está diretamente ligado com uma ruptura na economia. 4.3 Inovação disruptiva É aquela que provoca mudança de comportamento do usuário. O Airbnb, por exemplo, mudou o hábito de milhões de pessoas ao redor do mundo, que deixaram de hospedar-se em hotéis e pousadas para se hospedarem em casas particulares. A expressão inovação disruptiva foi introduzida por Christensen (1997), em seu livro O dilema da inovação, estando hoje presente no glossário corporativo de todas as grandes empresas do mundo. A competição através da inovação disruptiva é o foco atual de muitas empresas, pois estas sabem que seus clientes estão reavaliando suas antigas concepções de custo e valor. E as empresas que conseguirem trazer um produto inovador que crie valor conseguirão passar à frente de seus concorrentes. Quando uma empresa, grande ou pequena, consegue oferecer inovações pelo mesmo preço, podem inclinar o jogo a seu favor, independentemente do tamanho dos concorrentes. Não é uma tarefa fácil saber incentivar, gerenciare sustentar a inovação disruptiva dentro da organização, obter práticas inovadoras bem-sucedidas e não se tornar uma das empresas que sofrem com a inércia de inovação. A organização e seus líderes precisam desenvolver a capacidade de antecipar e agir em descontinuidades e focar nas necessidades não atendidas, de articular os esforços de inovação incremental e disruptiva em torno de uma aspiração única e compartilhada e focar em tomar medidas proativas. 14 Se, por um lado, é preciso estar preparado, pois uma inovação disruptiva pode causar descontinuidade de mercados inteiros, por outro, permitem a entrada de novos participantes no mercado, com base em soluções relativamente simples. E a implementação dessas inovações permite que se abram as portas para que essas empresas inovadoras passem à frente de empresas já consolidadas e mesmo líderes em seus setores. TEMA 5 – ALOCAÇÃO DE RECURSOS EM INOVAÇÃO Inovação requer a transformação de boas ideias em melhorias de produtos, processos ou atitudes e não requer, necessariamente, altos investimentos. É importante compreender que a inovação é indispensável para o crescimento de organização, que, por consequência, influencia as relações econômicas e sociais, deslocando o estado de equilíbrio previamente existente, forçando assim uma melhoria coletiva em prol ao desenvolvimento (Schumpeter, 1985). No Quadro 2, apresentamos a estrutura teórica da concepção de inovação, para que possamos compreender melhor estes conceitos. Quadro 2 – Estrutura teórica da concepção de inovação Fonte: Revista Espacios, 2016. Esse quadro traça paralelos entre o conceito de inovação e os de ciência, criatividade e invenção, ajudando a compreender como se relacionam. Como exemplo, tomemos a afirmação de que criatividade é a produção de ideias 15 enquanto a inovação é dar vida a estas ideias. Inovação tem a ver com execução, saindo apenas do campo da abstração. Precisa gerar resultados. A performance em inovação aumenta em empresas que buscam por informação. Também sugere que podem existir desvantagens para empresas que empreendem um grande número de tentativas de inovação, incluindo a redução da atenção gerencial para projetos individuais, diminuição do foco estratégico, elevação da complexidade organizacional e incentivos reduzidos. As desvantagens do alargamento são pronunciadas nos estágios avançados do processo de desenvolvimento, quando compromisso e necessidades de recurso são mais substanciais. Inovar é mudar, e mudar nem sempre é fácil. Partindo desse princípio, que envolve mudanças, e sempre há uma parte de nós que tende a rejeitá-las, o especialista em estratégia e inovação e consultor de empresas e de CEOs, Vijay Govindarajan aponta que, ao mesmo tempo, não se pode focar apenas em inovação, uma vez que as empresas precisam se manter eficientes e competitivas no presente. Ele aponta que o sucesso está no equilíbrio entre estes três pontos: 1. Gerenciar o presente – gerenciar o negócio com a máxima eficiência, utilizar inovações no modelo de negócios e expandir e melhorar os produtos e serviços já existentes. O desafio, segundo o autor, é “manter foco nas necessidades de curto prazo do cliente e otimizar as operações para atingir alta eficiência ao menor custo”. Para isso, é importante “criar a cultura de fazer tudo da maneira mais inteligente, rápida e econômica”. 2. Esquecer o passado – criar um ambiente que permita inovação e mudanca dentro da empresa. Ele alerta que é necessário “abandonar práticas, hábitos, atividades e atitudes do passado”, por mais que algumas delas já tenham sido razão do sucesso passado, por isso ficaram enraizadas. 3. Criar o futuro – Para poder inovar, é necessário fazer novas experiências e testar hipóteses, além de aprender com a experimentação. O desafio dos gestores é justamente saber em quais vale a pena apostar. É possível criar métodos para avaliar o valor e a prioridade de uma ideia, mas sabendo que não terá uma taxa de sucesso muito alta. (Govindarajan, 2016) E o que os líderes organizacionais podem fazer para promover a inovação? É preciso criar um time próprio de inovação que seja separado do negócio. Outro fator importante que se pode fazer é assegurar que os recursos para a inovação sejam destinados exclusivamente para a inovação (não podem ser realocadas de volta para o negócio). A inovação não requer necessariamente altos investimentos, mas requer investimentos. 16 O investimento é considerado como a decisão econômica mais relevante, sendo a única capaz de gerar riqueza material para a sociedade e está sujeito às oscilações decorrentes de alterações no ambiente interno ou externo da empresa. Entretanto, sempre que os gestores tomam a decisão de investir ou de inovar, é porque eles acreditam na capacidade de seus projetos gerarem lucros futuros. Muitas vezes o próprio investimento ou a concessão de crédito às empresas dependem dessas expectativas otimistas dos empresários inovadores e, dessa maneira, garantir liquidez futura. FINALIZANDO A empresa suíça Swatch, que apresentamos no início desta aula, conseguiu inovar e sobreviver no mercado de relógios de pulso. O mesmo não ocorreu com as empresas Olivetti e Kodak, que, apesar de ainda existirem, tiveram sua representatividade no mercado reduzida em uma grandeza gigantesca. Eram líderes e hoje nem são lembradas. Estas duas empresas não inovaram no momento certo e foram ultrapassadas por concorrentes que nem imaginavam existir quando ocorreram as inovações radicais. No caso da Olivetti, as máquinas de escrever foram abandonadas quando chegaram os computadores pessoais. A Kodak quase foi à derrocada quando chegaram as máquinas fotográficas digitais que não necessitavam mais de rolos de filme nem revelação de fotos. Nesta aula apresentamos o conceito de inovação, sua importância para as empresas e sua sobrevivência nos dias de hoje. Inovação implica aprendizagem e mudança, algo que nem sempre é visto com bons olhos dentro das empresas, pois pode causar incômodo. O ciclo de vida de produtos e o processo de inovação foram apresentados, além de algumas classificações de inovação, a qual, por abrangência, vem sendo a mais discutida atualmente. A inovação disruptiva, tão comentada por causar avalanches em mercados onde aparece, desbancando empresas líderes, foi comentada e exemplificada. Finalmente foi discutida a alocação de recursos em inovação, fontes de financiamento e o quão importante é para a empresa se manter firme e forte. 17 LEITURA OBRIGATÓRIA Tema 1 Texto de abordagem teórica BUENO, B.; BALESTRIN, A. Inovação colaborativa: uma abordagem aberta no desenvolvimento de novos produtos. Revista de Administração de Empresas, v. 52, n. 5. São Paulo, set.-out. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75902012000500004>. Acesso em: 21 abr. 2018. Saiba mais CHASSOT, C. 3 questões para incentivar a inovação na sua empresa. Administração.com, 18 set. 2017. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/3-questoes-para- incentivar-a-inovacao-na-sua-empresa/106921/>. Acesso em: 21 abr. 2018. CONHEÇA 22 cases que evidenciam o valor da inovação no país. CNI, 28 jun, 2017. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/agenciacni/noticias/2 017/06/conheca-22-cases-que-evidenciam-o-valor-da-inovacao-no-pais/>. Acesso em: 21 abr. 2018. VARGAS, E. L. Inovação em serviços: casos de hospitais porto-alegrenses. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/3681>.Acesso em> 21 abr. 2018. Tema 2 ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. (Ler o capítulo 6, p. 151-170). Saiba mais GARCIA, D. B. Mudança organizacional. Administradores.com, 11 ago. 2011. Disponível em; <http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/mudanca- organizacional/47222/>. Acesso em; 21 abr. 2018. 18 Tema 3 Texto de abordagem teórica BOUZADA, M. A. C.; BARBOSA, J. G. P. Caso para ensino: a gestão da inovação da Gillette. XXV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, Brasília, 22-24 out. 2008. 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