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Doenças de origem microbiana transmitidas pelos alimentos Cibele Tosin Stroppa Sumário l Introdução l Patógenos bacterianos l Patógenos virais l Protozoários e vermes l Ficotoxinas e histaminas l Micotoxinas O que é um alimento de qualidade? Aquele que atende as expectativas do consumidor: Sensoriais e nutricionais Segurança Doenças transmitidas por alimentos Doenças transmitidas por alimentos 90% origem microbiana 10% outras causas ALIMENTO Substrato para microrganismos Deterioração do alimento Infecção ou intoxicação alimentar Doenças transmitidas por alimentos Contaminantes químicos Toxinas naturais Desinfetantes Toxinas e metabolitos tóxicos microbianos Herbicidas Tóxicos inorgânicos Pesticidas Anabolizantes Antibióticos Aditivos e coadjuvantes tóxicos Lubrificantes Tintas Contaminantes biológicos bactérias vírus vermes patogênicos protozoários Contaminantes físicos vidro metal madeira outros objetos Patogenias microbianas em alimentos l Causamamaioria dos surtos de doenças de origemalimentar l Tipos de doenças alimentaresmicrobianas: l Infecção alimentar – depende da ingestão de células viáveis do microrganismo, sendo causada pela colonização intestinal e/ou invasão de tecidos do hospedeiro Toxinfecção – causada pelos efeitos da colonização e das toxinas l Intoxicação alimentar – causada pela presença de toxina produzida pelo microrganismo no alimento, que pode não conter células viáveis do organismo produtor. Classificação dos Microrganismos a) Sem risco direto à saúde: não patogênicos Ex: fungos; bactérias aeróbiasmesófilas. b) Risco indireto à saúde: microrganismos indicadores Ex: coliformes; E. coli. c) Risco direto, moderado e difusão limitada: causam doenças brandas; vinculados a um alimento. Ex: S. aureus; Campylobacter jejuni. d) Risco direto, moderado e difusão extensa: causam doenças mais graves; vinculados a vários alimentos Ex: E. coli patogênica. e) Risco direto e grave: podem levar a morte Ex: C. botulinum;Salmonella Salmonella sp l Bastonetes Gram negativos não esporulados l Reservatórios: homem e animais l 2 espécies: S. enterica eS. bongori (2.324 sorovares!) l Algumas subespécies/sorovares: l S. enterica subsp. typhi l S. enterica subsp. paratyphi A e C l S. enterica subsp. gallinarum (frango) l S. enterica subsp. dublin (gado) l S. enterica subsp. abortus-‐equi (cavalo) l S. enterica subsp. choleraesuis (suíno) l S. enterica subsp. typhimurium l S. enterica subsp. enteritirs Febre tifoide Sorovares: antígenos O (LPS) e H (flagelar) Casos clínicos l Habitat: intestino do homem e animais (mamíferos, aves, répteis, insetos), alguns são portadores assintomáticos l Transmissão oral-‐fecal: água, alimentos contaminados, rações animais l Alimentos envolvidos: carne, produtos cárneos, frango (70%), ovos, pães, mistura para bolos, molhos de salada, maionese, leite, sorvete, suco de laranja, frutas, etc Salmonella sp Parâmetro Valores Temperatura (min –max) 5,3 – 45oC pH (min –max) 4,0– 9,0 NaCl (max) 9 % aw (min) 0,94 • Prevenção: práticas de abate, contaminação cruzada, manipuladores l Sintomas: náuseas, vômitos, dores abdominais, dor de cabeça, calafrios , diarréia, fraqueza, febre moderada e sonolência l Incubação: 12 a 14 hs l Gravidade: mortalidade em extremos de idade (5,8% até 1 ano e 15% após 50 anos) l Dose infectante: 107 a 109 /g l Ação: enterotoxina peptídica (diarreia), penetração da mucosa intestinal (fímbrias), producao de citocinas, l Contaminação de ovos: l Transovariana l Peritônio ® gema ou oviduto l Cloaca ® casca do ovo l Lavagem de ovos l Manipuladores Salmonella sp Shigella sp l Enterobactéria patogênica ® infecção alimentar (disenteria bacilar clássica) l 4 espécies: S. dysenteriae, S. flexneri, S. boydii e S. sonnei l Incidência: l USA: 450.000 total casos estimados/ano (72% S. sonnei) l Países em desenvolvimento: S. flexneri predomina; endemica l Mundial: 165 milhões de casos e 1,1 milhão de mortes/ano l Sintomas: diarréia aquosa ou sanguinolenta, dor abdominal, febre e mal-‐estar l Seqüelas: l Convulsões em crianças (temperatura ou metabolismo alterado) l Artrite (S. flexneri) l Síndrome hemolítica-‐urêmica (S. dysenteriae tipo 1) Shigella sp l Habitat: intestino de humanos l Transmissão: fecal-‐oral associada a higiene precária; pode ser transmitida por moscas e contato sexual l Ação: invasão do epitélio do cólon (entrada nas células epiteliais, multiplicação intracelular, espalhamento intra e inter-‐celular e morte da célula hospedeira) l Dose infectiva: 101 a 102 Parâmetro Valores Temperatura (min –max) 6,1 – 47,1oC pH (min –max) 4,8– 9,3 NaCl (max) 6 % Fontes: Price, 1997 • Alimentos envolvidos: hortaliças, frutas, saladas, leite e água • Incubação de 4 a 7 dias Shigella -‐ Brasil Peirano, G. et al. Frequency of serovars and antimicrobial resistance in Shigella spp. fromBrazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 2006, vol.101, no.3, p.245-‐250. l296 Shigella spp. de 1999 a 2004; NRLCED -‐ IOC/Fiocruz l Freqüência: S. flexneri (52.7%), S. sonnei (44.2%), S. boydii (2.3%), and S. dysenteriae (0.6%). Sorotipos de S. flexneri 2a e 1b l Incidência: Sudeste (39%), Nordeste (34%), Sul (3%) lResistência a antimicrobianos: trimetoprim-‐sulfamethozaxol (90%), tetraciclina (88%), ampicillina (56%), and clorampenicol (35%) Shigella -‐ Brasil Paula, C. M. D. et al. Antimicrobial resistance and PCR-‐ribotyping of Shigella responsible for foodborne outbreaks occurred in southern Brazil. Braz. J. Microbiol., 2010, vol.41, no.4, p.966-‐977. l Surtos no Rio Grande do Sul entre 2003 e 2007 l Shigella isolada de alimentos e fezes l Espécies: 71.1% S. flexneri, 21.5% S. sonnei e 0.7% S. dysenteriae l Foi observado aumento da incidência de S. sonnei depois de 2004 l Resistência a antimicrobianos: streptomicina (88.6 ampicilina (84.6%) e trimetoprim-‐sulfamethozaxol (80.5 %) Escherichia coli patogênica l Enterobactéria geralmente não patogênica l 5 grupos patogênicos (epidemiologia e antígenos O:H) l Habitat: intestino de animais em geral, inclusive humano l Dose infectiva: geralmente alta (> 106 – 108) l Incubação: geralmente 8 – 24 h l Importância: indicador de falha de higiene ou processamento inadequado Parâmetro Valores Temperatura (min –max) 2,5 -‐ 45,5oC pH (min –max) 4,0 -‐ 9,0 aw (min) 0,95 NaCl (max) 6 -‐ 8% Fontes: Price, 1997; ICMSF, 1996 Característica ETEC EIEC EHEC EPEC EAggEC Nome Enterotoxigenica Enteroinvasora Enterohemorra-‐ gica (STEC ou VTEC) Enteropato -‐genica Enteroagre-‐ gativa Patogenicidade Enterotoxina termolabil e/ou termoestável Invasão da mucosa Toxina Shiga Aderência a mucosa Aderência a mucosa Sitio primário Intestino delgado Intestino grosso Intestino delgado Intestino delgado -‐-‐-‐ Patologia da mucosa Normal hiperemica Necrose, ulceração e inflamação Lesão destrutiva Lesão destrutiva -‐-‐-‐ Epidemiologia Diarréia do viajante rara Colite hemorrágica Diarréia infantil -‐-‐-‐ Veículos Água e alimentos Queijos,saladas Produtos de origem bovina Água e alimentos -‐-‐-‐ Sintomas Diarréia aquosa, náusea e vomito Diarréia purulenta com sangue e febre Diarréia infantil Diarréia aquosa com sangue Síndrome hemolítica-‐ urêmica (5–10%) Diarréia aquosa e febre Diarréia infantil Diarréia aquosa Diarréia crônica Fontes: Ryan & Falkow, 1994; CDC, 2010 Escherichia coli hemorrágica l E. coli produtoras de Shiga toxina ® E. coli O157:H7 e STEC nãoO-‐157 (raras e geralmente mais brandas) l USA: 70.000 casos/ano de with E. coliO157 l Grande impacto econômico e sanitário l Diarréia sanguinolenta, síndrome urêmica-‐hemolítica e trobocitopenia grave l Dose infectiva: baixa l Incubação: 3 a 4 dias (1-‐10) Parâmetro Valores Temperatura (min –max) 8,0 -‐ 45,5oC pH (min –max) 4,0 – 8,5 aw (min) 0,95 NaCl (max) 6 -‐ 8 % D60 45 seg Fontes: Price, 1997; ICMSF, 1996 Escherichia coliO157:H7 -‐ Surto http://www.cdc.gov/ecoli/2010/ecoli_o145/index.html l USA, maio/2010: 26 casos confirmados e 7 prováveis associados ao mesmo surto, em 5 estados l Alface picada de fornecedor único l Sintomas: diarréia (geralmente com sangue) e espasmos abdominais 2-‐8 dias (media de 3-‐4 dias) depois da ingestão; a maioria se recuperou em uma semana, mas alguns desenvolveram infecções severas l Agentes identificados l Pacientes: E. coliO145 e STEC não identificada l Pacote não aberto: E. coliO145 l Ações: recall nas empresas processadoras com omesmo fornecedor da alface Yersinia enterocolitica l Sintomas: diarréia (geralmente com sangue), febre, vômito, dor abdominal aguda (pseudoapendicite); artrite; septicemia (raro); duração de 7 dias ou mais l Dose infectiva: provavelmente alta (>106); Incubação de 24 – 48 hs l Importância: l Aumento do número de casos -‐ emergente l Pode multiplicar-‐se sob refrigeração Fonte: Price, 1997 Parâmetro Valores Temperatura (min –max) -‐1,3 a 44,0oC pH (min –max) 3,0 – 9,6 aw (min) 0,95 NaCl (max) 5 -‐ 6% D62,8 (leite) 0,96 min l Enterobácteria causadora de gastroenterite esporádica principalmente em crianças abaixo de 5 anos; Psicrotrófica; infecção l Habitat: suínos, água, pequenos roedores, animais de estimação l Alimentos envolvidos: carne suína e derivados crus, leite cru, sorvetes, vegetais, pescado Yersinia enterocolitica -‐ surto Grahek-‐Ogden et al. Outbreak of Yersinia enterocoliticaSerogroup O:9 Infection and Processed Pork, Norway. Emerging Infectious Diseases, Vol. 13, No. 5, May 2007 l 11 pessoas infectadas com Yersinia enterocoliticaO:9 na Noruega em 2006 l Alimento: produto de carne de porco pronto para consumo l Sintomas: dor abdominal, diarréia, febre, dor articular e vômito; 4 pacientes hospitalizados; 2 mortes (idosos sob tratamento médico) l Incubação: média de 14 dias (9 dias a 6 semanas) Campylobacter spp l Habitat: trato intestinal de animais de sangue quente domésticos (aves) l Alimentos envolvidos: leite cru, carne de aves e bovina, ovos, moluscos e água l Sintomas: diarréia abundante com sangue (às vezes), dores abdominais, espasmos, enxaqueca, fraqueza e febre; duração média de 7 dias l Dose infectiva: 102; incubação de 2 a 5 dias l Campylobacter jejuni (espirilo) é um dos principais agentes de diarréia humana; principal causa de gastroenterite nos USA l Mais de 2.4 millhões casos/ano ou 0.8% da população; geralmente casos isolados Parâmetro Valores Temp. (min –max) 30 a 45oC pH (min –max) 4,9 – 9,5 aw (min) >0,97 NaCl (max) 2 % D50 (leite desnatado) 4,4 min Fonte: Price, 1997 Campylobacter spp l Seqüelas: artrite; síndrome de Guillain-‐Barré (doença auto-‐imune nos nervos ® paralisia) l Importância: não se multiplica bem nos alimentos; reduzido pelo congelamento (carne crua) Levantamento: Dias, T. C. et al. Carcaças de frango prontas para consumo como fonte de infecção entérica pelo Campylobacter jejuni, no Brasil. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 1990, vol.32, no.6, p.414-‐418. l carcaças de frango prontas para consumo (38,0%) e em fezes de magarefes (13,3%) de 9 abatedouros não industriais e 1 industrial Vibrio spp a) Vibrio cholerae l V. cholerae O1 produz toxina termolábil l Habitat: estuários, baias e água salgada l Alimentos envolvidos: pescado, frutos do mar e hortaliças l Sintomas: diarréia aquosa, vômito e desidratação; pode ser fatal l Dose infectiva: > 105; incubação de 6 h a 5 dias l Importância: controle associado a saneamento básico e higiene pessoal e cocção adequada de pescados Vibrio spp b) Vibrio parahaemolyticus l Habitat: estuários e outras áreas litorâneas; osmofílico l Alimentos envolvidos: moluscos, crustáceos e peixes marinhos l Sintomas: diarréia, dores abdominais, náusea, vômito e enxaqueca; duração de 2 a 10 dias l Dose infectiva: > 106; incubação de 2 a 48 h l Importância: l Gastroenterite associada ao consumo de peixe cru l Sensível a cocção e tb refrigeração e congelamento Vibrio spp c) Vibrio vulnificus l Habitat: ambiente marinho; osmofílico l Alimentos envolvidos: moluscos e crustáceos marinhos l Sintomas: lesões na pele, choque séptico, febre, calafrios e náusea e morte (50%) l Incubação de 16 a 38 h (média) l Importância: l Patógeno invasivo grave Parâmetro V. cholerae V. parahaemolyticus V. vulnificus Temp. min – max (oC) 10 a 45 5 a 44 8 a 43 pH min – max 5,0 – 9,6 4,5 – 11,0 5,0 – 10,0 aw min 0,97 0,94 0,98 % NaCl max 6 10 5 -‐ 6 D49-‐50 (min) 8,15 0,82 1,15 Fonte: Price, 1997; ICMSF, 1996 Plesiomonas shigelloides l Família Vibrionaceae; bacilos Gram -‐, anaeróbios facultativos, fermentadores de carboidratos (inositol), oxidase + l Habitat: água, animais aquáticos, aves, animais domésticos, répteis e humanos l Alimentos envolvidos: moluscos, crustáceos e peixes marinhos e verduras irrigadas com água contaminada l Sintomas: diarréia, dores abdominais, náusea, vômito, febre e cefaléia; pode provocar meningite e septicemia (imunocomprometidos) l Incubação: 24 a 48 h; dose infectiva: >106 ???; patógeno presumido (fezes) l Importância: l Produz toxinas l Ampla distribuição l Áreas tropicais e sub-‐tropicais Aeromonas hydrophila l Família Vibrionaceae, com várias espécies relacionadas a gastrenterites; patógenos normais e oportunistas (septicemia) A. hydrophila l Habitat: água doce, águas residuais, ambiente marinho l Alimentos envolvidos: água, mariscos, carnes de aves e bovinos, vegetais e leite cru l Sintomas: diarréia aquosa e disenteria com sangue e muco; pode provocar meningite e septicemia; patógeno presumido (fezes) l Dose infectiva: ??? l Importância: l Produz toxinas l Psicrotrófica e osmotolerante l Cresce em ampla faixa de pH (4 – 10)
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