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ABANDONO DE INCAPAZ (ART. 133) – apostila 12 Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) 1 – consideração preliminares: * É crime que possui dolo de perigo, pois não poderá ter por finalidade causar a morte ou mesmo lesão corporal na vítima. Assim, se o abandono é destinado a causar a morte da vítima, o agente gozando do status de garantidor, deverá responder por homicídio, tentado ou consumado. * perigo concreto x perigo abstrato. * É um delito de perigo concreto, em que não se poderá presumir que o abandono, por si só, já configura a infração penal em estudo, mas sim que o ato de abandonar, nas condições em que foi levado a efeito, trouxe, efetivamente, perigo para a vida ou saúde da vítima. Assim, o perigo concreto deve ser demonstrado em cada caso, sob pena de ocorrer a atipicidade do fato. 2 – classificação doutrinária Crime especial próprio; Crime de perigo concreto (não basta demonstrar o abandono; é preciso que esta conduta do agente coloque em perigo a vida ou saúde do incapaz); Crime doloso; Crime de forma livre; Comissivo ou omissivo-impróprio; Monossubjetivo; Plurissubsistente; Instantâneo de efeitos permanentes (Greco – instantâneo); Transeunte (regra); Subsidiário (Bitencourt em sentido contrario). 3 – Objeto jurídico e objeto material Objeto jurídico – a vida ou a saúde da pessoa que se encontra sob os cuidados, guarda, vigilância ou autoridade de outrem; Objeto material – é a pessoa que sofre com o abandono, estando sob os cuidados, guarda, vigilância ou autoridade de outrem; 4 – Sujeito ativo Crime próprio – somente pode ser praticado por quem tem o cuidado, a guarda, a vigilância ou autoridade sobre o incapaz; O dever de assistência pode decorrer de lei, de contrato ou de um fato (lícito ou até mesmo ilícito); DEVER DE ASSISTÊNCIA: deve existir antes da conduta delituosa Cuidado – é a assistência eventual; Guarda é a assistência duradoura; Vigilância – é a assistência acauteladora; Autoridade – é o poder de uma pessoa sobre a outra, podendo ser de direito público ou direito privado. 5 – sujeito passivo Qualquer pessoa que se encontre sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade de outrem e por qualquer motivo seja incapaz de defender-se dos riscos advindos do abandono; Requisitos do sujeito passivo: incapaz; Relação de assistência com o sujeito ativo; Não consiga defender-se dos riscos do abandono; A incapacidade não é a civil, podendo ser corporal ou mental, durável (menoridade, paralisia) ou temporária (embriaguez, enfermidade, sono profundo); Pode a incapacidade ser absoluta (inerente à condição da vítima) ou relativa (decorrente do lugar, tempo, circunstâncias do abandono – vítima abandonada por estar embriagada, enferma, amarrada, etc); É inoperante o consentimento da vítima, dada a indisponibilidade do bem jurídico tutelado. 6 – tipo objetivo *abandonar significa deixar, largar, desprezar, desamparar; No crime em tela, significa desamparar pessoa incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono, desde que ela se encontre na especial relação de assistência; É indiferente que o abandono seja temporário ou definitivo, desde que seja por espaço juridicamente relevante, isto é, capaz de colocar a vítima em risco; O abandono, por si só, não configura figura típica, sendo indispensável que dele resulte um perigo concreto para a vida ou saúde do abandonado; Obs: não haverá crime se ao abandonar a vítima, o agente procura evitar o risco, ficando na espreita, aguardando e observando que alguém lhe preste o devido e eficaz socorro; Obs: também não está configurado o crime se as circunstâncias demonstrarem que o abandonado não está exposto a risco nenhum. Obs: quem abandonar alguém capaz (ou incapaz, sem qualquer vínculo de assistência), não responderá por crime algum, salvo se a conduta adequar-se ao descrito na definição do crime de omissão de socorro; 7 – tipo subjetivo É o dolo de perigo, representado pela vontade livre e consciente de expor a vítima a perigo concreto através de abandono. O dolo pode ser direto ou eventual; É necessário que o agente tenha plena consciência do seu dever de assistência para com a vítima, pois o desconhecimento justificável do agente no tocante ao seu dever assistencial ( que é elemento constitutivo do tipo penal) exclui o dolo e, portanto o crime em tela, incidindo na hipótese as regras do erro de tipo (art. 20 CP); Se com o abandono o agente deseja a morte da vítima, a presença do animus necandi determinará o deslocamento do tratamento típico para aquele do homicídio tentado ou consumado; Não há modalidade culposa deste crime. 8 – consumação Consuma-se o delito com o abandono do incapaz, desde que haja perigo concreto para a vida ou saúde da vítima Obs: se o agente, eventualmente, reassumir, mesmo após alguns instantes, o seu dever de assistência, socorrendo a hipotética vítima, ainda assim o crime já estará consumado; o máximo que pode ocorrer será beneficiar-se com a minorante do arrependimento posterior (art. 16 do CP); Trata-se de crime instantâneo de efeitos permanentes (Rogério Greco, Luis Regis Prado, Rogério Sanches e Victor Gonçalves – instantâneo) 9 – tentativa É admissível nos crimes de perigo, desde que o delito seja praticado na modalidade comissiva; É possível a tentativa mesmo que haja o abandono, mas a vítima não seja exposta ao perigo concreto; Obs: Luis Regis Prado coloca que é possível tentativa se o abandono de incapaz for omissivo-impróprio. (enfermeira abandona o plantão, omitindo os cuidados necessários para a recuperação do paciente, mas outrem ministra a medicação). 10 – formas: Simples – caput- pena: detenção de 6 meses a 3 anos; Qualificadas: §§1º e 2º do art. 133 – ambas são preterdolosas; Se do abandono resulta lesão corporal grave – pena: reclusão de 1 a 5 anos; Se do abandono resulta morte: pena: reclusão de 4 a 12 anos. c) Causas de aumento de pena: a pena é aumentada em 1/3 se o abandono do incapaz: (ocorrem em qualquer das modalidades de abandono de incapaz, seja simples ou qualificada) * Ocorre em lugar ermo – ermo é o local habitualmente solitário, não é frequentado, onde passam poucas pessoas, o que representa um perigo maior para o incapaz que é nessas circunstâncias abandonado, ante a maior dificuldade de ser socorrido. Obs: se o local é muito frequentado por pessoas, mas no momento da realização do crime, estava ermo, não incide a majorante em tela; Se no local habitualmente ermo encontravam-se frequentadores, afasta-se a majorante em tela; O local deve ser relativamente ermo, pois se for absolutamente, pode constituir meio de execução para o homicídio. Se o agente é ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima A doutrina afirma que este rol é taxativo (a incidência desta majorante impede a agravante do art. 61, II, e, sob pena de ocorrência do bis in idem. Obs: Bitencourt afirma que a majorante não incidirá se o crime for praticado por pais ou filhos adotivos; padrasto e enteado, sogro ou genro da vítima. Obs: a qualificação deve ser demonstrada por documento próprio; Obs: Capez afirma que esta majorantealcança quem vive em união estável. Se a vítima é maior de 60 anos Acrescentada pelo Estatuto do idoso (lei 10.741/03); Obs: se presentes as três causas de aumento de pena, o juiz só poderá aumentar uma vez (princípio da consunção). 11 – ação penal: ação penal pública incondicionada
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