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Aluna: Carmen de Andrade Silva
Matrícula: 17213120065
Polo: Nova Friburgo
Ad2 de Literatura Portuguesa
Ao estudamos Literatura Portuguesa nos deparamos com vários autores e como cada um repensou a pátria nacional no século XX. Através disso é necessário pontuar, como pedido, fragmentos literários de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga e José Cardoso Pires, que retratem essa convocação de repensar a identidade nacional, para mais tardar ao retornar a afirmação, de Eduardo Lourenço, marcar possíveis semelhanças e diferenças entre eles. 
1- Quando retomamos à Fernando Pessoa (nas aulas 12 e 13) temos na obra Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes personagens históricos de portugueses. O livro, também, foi o único a ser publicado enquanto vivo. Sendo assim, nessa questão é importante mencionar que o autor revela alto amor à pátria. Ele enaltece os heróis do passado além de ser sensível ao sentimento de saudade que o levou a imaginar um outro Portugal no futuro. Pode-se perceber vários trechos tanto da Parte I quanto da Parte II que exemplificam isso. Para retomar a saudade de um tempo de uma nova pátria é necessário comentar a Parte I (Brasão), em que é dedicada às figuras históricas que construíram as bases territoriais do reino, preparando a fase do império que se projetará no mar à fora. Para tal, Pessoa usa a imagem do brasão português, cujos elementos heráldicos serão lugares poéticos de acolhimento dos heróis:
A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
(PESSOA, 2008, p. 55)
2- Sophia de Mello compartilha uma vivência que é uma ''mistura inextricável'' de autoglorificação e que mostra um profundo sentimento de decadência e de saudade, em que sua escrita mostra a memória de um passado glorioso, mas longínquo que se perdeu no passado -trazendo a melancolia- e também estando distante do futuro. É possível notar Sophia pensa de uma mais política, diferente de Pessoa, o que se explica pelo contexto histórico da sua época, que foi marcado pela ditadura salazarista. Exprimindo seu consolo com o presente e contornando a censura usa a metáfora da cidade, que serve para falar da pátria como um lugar de grades:
Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água 
Ó minha pátria e meu centro 
(ANDRESEN, 1995 p. 141)
3- Se diversificando dos outros autores, Torga pensa o país a partir das aldeias retomando as ligações afetivas e míticas com a terra. O seu próprio pseudônimo, Torga, faz referência a um tipo de arbusto do norte de Portugal. O poema "Regresso" mostra esta telúria forte quando o poeta retorna à serra e as árvores está lhe acenam:
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram.
Mal eu surgi, cansado na distância.
E vale ressaltar que, assim como em Sophia, o contexto social e ideológico da época que justificou a sua filiação ao movimento literário neorrealista, em que a literatura assume uma função de denúncia e resistência ao ambiente totalitário e fascista.
4- Na escrita de José Cardoso Pires ( referências aula 15) há dedicação em escrever sobre o século XX português, em que concedeu especial destaque à sociedade portuguesa nos tempos salazaristas, se filiando também ao Neorrealismo. No romance O Delfim, existe uma grande relação com a instabilidade do contexto português. Pires faz uma crítica ao passado e às suas figuras opressivas, como a família aristocrata enfocada:
Lá vai o Português, diz o mundo, apontando umas criaturas carregadas de História que formigam à margem da Europa. Lá vai o português, lá anda. Dobrado ao peso da História carregando-a de facto, e que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta de côdea de sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança: fica logo com oito séculos. 
No grande altas dos humanos talvez figure como um ser mirrado de corpo, mirrado e ressequido, mas que outra forma podia ter depois de tantas gerações a lavrar sal e cascalho? Repare-se que foi remetido pelos mares a uma estreita faixa de litoral (Lusitânia, assim chamada) e que se cravou nela com unhas e dentes, com amor, com desespero ou lá o que é (PIRES, José Cardoso. Lá vai o Português In:-----. E agora, José? Lisboa: Moraes, 1997).
5- Pode-se observar em todos os autores citados e estudados um certo desencanto e uma crença em um futuro melhor para o país. No entanto, é possível perceber as diferenças entre eles em cada uma das perspectivas dos fragmentos escolhidos e no que elas se semelham e divergem com a afirmação de Eduardo Lourenço. Fernando Pessoa é o autor que mais saúda as glórias passadas e, também, é o mais fervoroso na crença de um futuro glorificante para a sua Portugal. Desta maneira, acaba aproximando-se de Camões em seu desalento e se afasta ao projetar miticamente um futuro a ser construído. Enquanto isso Sophia, Torga e Cardoso Pires, ao viverem sob uma ditadura salazarista, tiveram uma postura de resistência que os afasta do desalento e saudade pessoana. Em Sophia e Torga , o texto literário é um ato de resistência aos homens do regime que estava em vigor e que eram adeptos do fascismo. Já quando mencionamos Cardoso Pires, de forma mais geral, a política se faz à sociedade de classes, que é responsável pelas desigualdades e pela pobreza da nação, como aparece em O Delfim, e também na sua escrita condena-se o português ''dobrado ao peso da História'' em que ''índias, naufrágios, cruzes de padrão'' não lhe permitem construir uma outra pátria sem ''auto-glorificação'', ''decadência'' ou ''saudade''.
Referências: Livro de Literatura Portuguesa I, CEDERJ/Letras.