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1 Limites e Continuidade 0.1 Conceitos fundamentais. Definição 1 Dados P = (a, b) ∈ R2 e r > 0, a bola aberta B(P, r), de centro P e raio r, é definida como o conjunto de todos os pontos Q = (x, y) ∈ R2 cuja distância até P é menor que r, isto é, pelos pontos P (x, y) que satisfazem |Q− P | < r. Podemos reescrever: B(P, r) = { (x, y) ∈ R2| √ (x− a)2 + (y − b)2 < r } Definição 2 Seja A ⊆ R2. Dizemos que um ponto P ∈ A é um ponto interior de A se existir uma bola aberta centrada em P contida em A. Se todos os pontos P ∈ A são pontos interiores de A, dizemos que A é aberto. Definição 3 Seja A ⊆ R2. Um ponto P ∈ R2 é um ponto de fronteira de A se toda bola aberta centrada em P contiver pontos de A e pontos de fora de A. Se todos os pontos da fronteira de A pertencerem a A, dizemos que A é fe- chado. Definição 4 Seja A ⊆ R2. Um ponto P ∈ R2 é um ponto de acumulação de A se toda bola aberta centrada em P contiver uma infinidade de pontos de A. 2 0.2 Limites. Observe que quando utilizamos funções de uma única variável, pensamos na ideia de limite verificando que os valores de f se aproximam de L quando x ∈ Dom(f) se aproxima de um dado ponto de interesse a, nem sempre no domínio de f . Esta ideia de limites, já conhecida do Cálculo I, nos permite avançar para o cálculo de limites de funções duas variáveis. Entretanto quando trabalhamos em R, os valores de x se aproximam de a somente pela direita e pela esquerda, já quando pensamos no R2, os ponto (x, y) se aproximam de (a, b) por diversos caminhos. Desta forma, diremos que limx→a f(x, y) = L para indicar que os valores de f(x, y) se aproximam de L quando (x, y) se aproximam de um dado ponto P (a, b) ao longo de qualquer caminho contido no domínio de f . Definição 5 Seja f uma função de duas variáveis, cujo domínio contém pontos arbitrariamente próximos de (a, b), ou seja (a, b) é um ponto de acumulação do domínio de f . Dizemos que lim (x,y)→(a,b) f(x, y) = L se: ∀ǫ > 0, ∃δ > 0 tal que: |f(x, y)− L| < ǫ sempre que (x, y) ∈ Dom(f) e ‖(x, y)− (a, b)‖ < δ. Lembremos que dados dois pontos P,Q ∈ Rn, temos que: P = P (x1, x2, ..., xn) e Q = Q(y1, y2, ..., yn). Assim, a ditância de P a Q, denotada por ‖P −Q‖, é dada por: ‖P −Q‖ = √ (x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 + ...+ (xn − yn)2 3 Em particular se P = P (x1, x2) e Q = Q(y1, y2) a distância de P a Q é dada por ‖P −Q‖ = √ (x1 − y1)2 + (x2 − y2)2. Exemplo 1 Mostre que lim(x,y)→(1,3) 2x+ 3y = 11. Devemos mostrar que dado ǫ > 0, existe δ > 0 tal que: |f(x, y)− 11| < ǫ sempre que ‖(x, y)− (1, 3)‖ < δ. Desta forma: |f(x, y)− 11| = |2x+ 3y − 11| = = |(2x− 2) + (3y − 9)| = |2(x− 1) + 3(y − 3)| ≤ ≤ |2(x− 1)|+ |3(y − 3)| = = 2 |(x− 1)|+ 3 |(y − 3)| Por outro lado, 0 < √ (x− 1)2 + (y − 3)2 < δ. Por definição de módulo: |x− 1| = √(x− 1)2 ≤ √(x− 1)2 + (y − 3)2 < δ e |y − 3| = √(y − 3)2 ≤ √ (x− 1)2 + (y − 3)2 < δ. Então 2 |(x− 1)| + 3 |(y − 3)| < 2δ + 3δ = 5δ. Disso segue que ǫ = 5δ ⇒ δ = ǫ 5 . Ou seja, dado ǫ > 0, existe δ = ǫ 5 tal que |f(x, y)− 11| < ǫ sempre que ‖(x, y)− (1, 3)‖ < δ o que prova o limite dado. Verifique que a definição de limite se refere somente à distância entre (x, y) e (a, b), mas não à direção. Desta forma se encontrarmos dois caminhos diferen- tes de aproximação ao longo dos quais f(x, y) tem limite diferente, seguirá que: lim(x,y)→(a,b) f(x, y) não existirá. Exemplo 2 Mostre que lim(x,y)→(0,0) x 2−y2 x2+y2 não existe. 4 Considerando a função acima, vamos nos aproximar de (0, 0) ao longo do eixo-x (desta forma y = 0). Assim f(x, 0) = x2 x2 = 1, ∀x 6= 0. Ou seja f(x, y) → 1 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo do eixo-x. Vamos agora nos aproximar de (0, 0) ao longo do eixo-y (desta forma x = 0). Assim f(0, y) = −y 2 y2 = −1, ∀y 6= 0. Ou seja f(x, y) → −1 quando (x, y) → (0, 0) ao longo do eixo-y. Como f tem dois limites diferentes ao longo de dois caminhos diferentes ao se aproximar de (0, 0), dizemos que o limite não existe. Exemplo 3 Verifique se lim(x,y)→(0,0) xyx2+y2 existe. Assumindo y = 0, temos f(x, 0) = 0 x2 = 0. Ou seja f(x, y) → 0 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo do eixo-x. Se x = 0, temos f(0, y) = 0 y2 = 0. Ou seja f(x, y) → 0 quando (x, y) → (0, 0) ao longo do eixo-y. Embora se tenha dois caminhos distintos apresentando o mesmo valor do li- mite, verificamos que quando nos aproximamos de (0, 0) pela reta y = x, temos: f(x, x) = x 2 x2+x2 = 1 2 . Portanto f(x, y) → 1 2 quando (x, y) → (0, 0) ao longo da reta y = x. Logo o limite não existe. Exemplo 4 Verifique se lim(x,y)→(0,0) xy2x2+y4 existe. Assumindo y = mx, uma reta que passa pela origem com inclinação m, temos f(x, y) = f(x,mx) = x(mx) 2 x2+(mx)4 = m 2x3 x2+m4x4 = m 2x 1+m4x2 . Ou seja f(x, y) → 0 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo de y = mx. Se tomarmos o caminho x = y2, temos: f(x, y) = f(y2, y) = y2y2 (y2)2+(y)4 = y4 2y4 = 1 2 . Ou seja f(x, y) → 1 2 quando (x, y) → (0, 0) ao longo da parábola x = y2. Logo, por caminhos diferentes temos diferentes limites e o limite não existe. 5 Exemplo 5 Mostre que lim(x,y)→(1,2) 3x+ 2y = 7. Devemos mostrar que dado ǫ > 0, existe δ > 0 tal que: |f(x, y)− 7| < ǫ sempre que ‖(x, y)− (1, 2)‖ < δ. Desta forma: |f(x, y)− 7| = |3x+ 2y − 7| = = |(3x− 3) + (2y − 4)| = |3(x− 1) + 2(y − 2)| ≤ ≤ |3(x− 1)|+ |2(y − 2)| = = 3 |(x− 1)|+ 2 |(y − 2)| Por outro lado, 0 < √ (x− 1)2 + (y − 2)2 < δ. Por definição de módulo: |x− 1| = √ (x− 1)2 ≤ √ (x− 1)2 + (y − 2)2 < δ e |y − 2| = √ (y − 2)2 ≤ √ (x− 1)2 + (y − 2)2 < δ. Então 3 |(x− 1)| + 2 |(y − 2)| < 3δ + 2δ = 5δ. Disso segue que ǫ = 5δ ⇒ δ = ǫ 5 . Ou seja, dado ǫ > 0, existe δ = ǫ 5 tal que |f(x, y)− 7| < ǫ sempre que ‖(x, y)− (1, 2)‖ < δ o que prova o limite dado. Proposições. Sejam f, g : R2 → R e l ∈ R, se os limites de f e g existem quando (x, y)→ (a, b), então: • lim(x,y)→(a,b) kx+ d = ka+ d • lim(x,y)→(a,b) [f(x, y)± g(x, y)] = lim(x,y)→(a,b) f(x, y)±lim(x,y)→(a,b) g(x, y) • lim(x,y)→(a,b) l.f(x, y) = l. lim(x,y)→(a,b) f(x, y) • lim(x,y)→(a,b) [f(x, y).g(x, y)] = lim(x,y)→(a,b) f(x, y). lim(x,y)→(a,b) g(x, y) • lim(x,y)→(a,b) f(x,y)g(x,y) = lim(x,y)→(a,b) f(x,y) lim(x,y)→(a,b) g(x,y) 6 • lim(x,y)→(a,b) [f(x, y)]n = [ lim(x,y)→(a,b) f(x, y) ]n , n > 0 • lim(x,y)→(a,b) n √ f(x, y) = n √ lim(x,y)→(a,b) f(x, y), desde que exista o limite. Exemplo 6 Calcule lim(x,y)→(2,−1) x3y + x2y3 − 2xy + 4. Pelas proposições temos que lim(x,y)→(2,−1) x3y+x2y3− 2xy+4 = 8.(−1)+ 4.(−1)− 2.2.(−1) + 4 = −8− 4 + 4 + 4 = −4 Exemplo 7 Calcule lim(x,y)→(0,2) √ x+ y. lim(x,y)→(0,2) √ x+ y = √ 0 + 2 = √ 2 Exemplo 8 Calcule lim(x,y)→(−1,1) x 3y+4 x+y−2 . lim(x,y)→(−1,1) x3y+4 x+y−2 = −1.1+4 −1+1−2 = 3 −2 = −32 Proposição. • lim(x,y)→(a,b) f(g(x, y)) = f(lim(x,y)→(a,b) g(x, y)), onde f é uma função de uma variável, contínua num pontom e g(x, y) uma função tal que lim(x,y)→(a,b) g(x, y) = m. Exemplo 9 Calcule lim(x,y)→(1,2) ln(x2 + xy − 1). Considere g(x, y) = x2 + xy − 1 e f(u) = ln(u) lim(x,y)→(1,2) g(x, y) = 12 + 1.2 − 1 = 2, como f(u) = ln(u) é contínua em u = 2, temos que: lim(x,y)→(1,2) f(g(x, y)) = lim(x,y)→(1,2) ln(x2 + xy − 1) = ln(2) Exemplo 10 Calcule lim(x,y)→(0,pi 2 ) sen(x+ y). Considere g(x, y) = x+ y e f(u) = sen(u) lim(x,y)→(0,pi 2 ) g(x, y) = 0+ π 2 = π 2 , como f(u) = sen(u) é contínua em u = π 2 , temos que: lim(x,y)→(0,pi 2 ) f(g(x, y)) = lim(x,y)→(0,pi 2 ) sen(x+ y) = sen( π 2 ) = 1 7 Proposição. • lim(x,y)→(a,b) f(x, y) = 0 e g(x, y) é uma função limitada dentro de uma bola aberta de centro (a, b), então lim(x,y)→(a,b) f(x, y)g(x, y) = 0. Exemplo 11 Calcule lim(x,y)→(0+,1−) x+y−1√x−√1−y . Fazendo a substituição temos a indeterminação 0 0 . Entretantocom algumas operações algébricas temos: x+y−1√ x−√1−y . √ x+ √ 1−y√ x+ √ 1−y = (x+y−1)(√x+√1−y) ( √ x)2−(√1−y)2 . Daí: x+y−1√ x−√1−y = (x+y−1)(√x+√1−y) x−1+y =√ x+ √ 1− y lim(x,y)→(0+,1−) x+y−1√ x−√1−y = lim(x,y)→(0+,1−) √ x+ √ 1− y = 0 0.3 Continuidade Definição 6 Seja f : A ⊆ R2 → R com (a, b) ∈ A um ponto de acumulação de A. Dizemos que f é contínua em (a, b) se lim (x,y)→(a,b) f(x, y) = f(a, b) Exemplo 12 Verifique se f(x, y) = 2xy√ x2+y2 , (x, y) 6= (0, 0) 0, (x, y) = (0, 0). é contínua em (0, 0) Sabe-se que f(0, 0) = 0. Verificando o limite: Como |x| = √ x2 ≤ √ x2 + y2 e |y| = √ y2 ≤ √ x2 + y2, temos:∣∣∣∣ 2xy√x2+y2 − 0 ∣∣∣∣ = 2|x||y|√x2+y2 ≤ 2 √ x2+y2 √ x2+y2√ x2+y2 = 2 √ x2 + y2. Assim tomando δ = ǫ 2 , temos que, se 0 < √ x2 + y2 < δ, então:∣∣∣∣ 2xy√x2+y2 ∣∣∣∣ < 2 √ x2 + y2 < 2 ǫ 2 = ǫ. Portanto o limite existe e também vale 0. Desta forma, temos que f(x, y) é contínua em (0, 0). 8 Exemplo 13 Verifique se f(x, y) = 2xy x2+y2 , (x, y) 6= (0, 0) 0, (x, y) = (0, 0). é contínua em (0, 0) Sabe-se que f(0, 0) = 0. Entretanto de acordo com o exemplo 12, lim(x,y)→(0,0) xyx2+y2 não existe, desta forma lim(x,y)→(0,0) 2xyx2+y2 também não existe. Conclui-se, então, que f(x, y) não é contínua em (0, 0). Proposições. Sejam f e g duas funções contínuas em (a, b). Então • f + g é contínua em (a, b); • f − g é contínua em (a, b); • fg é contínua em (a, b) e • f g é contínua em (a, b) desde que g(a, b) 6= 0. • Sejam y = f(u) e z = g(x, y). Se g é contínua em (a, b) e f é contínua em g(a, b), então f ◦ g é contínua em (a, b). • Se limx,y→a,bf(x, y) = 0 e g(x, y) é uma função limitada numa bola aberta de centro em (a, b), então limx,y→a,bf(x, y)g(x, y) = 0. 0.4 Exercícios 1. Mostre que lim(x, y)→ (0, 0) 3x2y x2+y2 existe. 2. Determine: 9 (a) lim(x, y)→ (0, 1) 3x4(y−1)4 (x4+y2−2y+1)3 (b) lim(x, y)→ (1, 2)xy + 3x2 y (c) lim(x, y)→ (2, 1)x2−xy+y3 x2−y2 (d) lim(x, y)→ (1, 0) √ 2x2−xy+y3 x2−y2 (e) lim(x, y)→ (0, 0)x2−y2 x−y 3. Verifique se as funções são contínuas no ponto indicado: (a) f(x, y) = x4 − (y − 1)4, (x, y) 6= (0, 1) 0, (x, y) = (0, 1). ponto (0, 1) (b) f(x, y) = x3 x2+y2 , (x, y) 6= (0, 0) 0, (x, y) = (0, 0). ponto (0, 0) (c) f(x, y) = 3x2y x2+y2 , (x, y) 6= (0, 0) 0, (x, y) = (0, 0). ponto (0, 0)
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