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FILOSOFIA
ANTROPOLOGIA
Miguel Henrique Benetti Teixeira
Taitson Leal dos Santos
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 1 - O SER HUMANO. 
Prof. Taitson Leal dos Santos 
 
1 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é compreender a questão do cosmo humano, uma 
questão intrínseca à Antropologia. Perguntas como o que é e quem é o homem? - 
constituem o mote central desta discussão inicial. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A dúvida e a inquietação, a experiência de algo novo, a reflexão sobre o que 
determina o Homem, a Natureza e a Cultura podem se tornar uma ocasião onde me 
torno questionável a mim mesmo. 
 Lembrando que são as perguntas que nos movem. O que justamente caracteriza 
o conhecimento é o problema. O que significa tal afirmação? Sem uma pergunta, não 
nos motivamos a alcançar uma resposta. Sem um problema, não tendemos a buscar 
seu entendimento. 
Naturalmente, dentro do âmbito científico, acadêmico – nosso caso – tais 
problemas são levantados propositalmente, com rigor e métodos estabelecidos. 
Voltando à questão do espanto, da dúvida e da inquietação, lembremos que os 
gregos antigos valiam-se de um conceito que o ilustrava de forma bastante 
interessante: o thauma. Thauma, ou espanto, assombro, admiração, é a atitude primeira 
para a busca do conhecimento. Nas palavras do filósofo grego Aristóteles: “Pelo 
espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do 
filosofar.” 
Pois bem, uma das características daquele que visa à realidade de forma 
metódica e racional é justamente a de questionar o óbvio. O que quer dizer isso? O 
cientista (especificamente, em nosso caso, o sociólogo) inquieta-se com questões 
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aparentemente não questionáveis. Aquilo que parece natural e espontâneo pode vir a 
ser um magno problema. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Vejamos uma interessante anedota que ilustra tal atitude crítica e questionadora 
abordada acima. Diz-se que Sócrates - 469–399 a.C. - ouvia atentamente um discurso 
de um proeminente cidadão ateniense na ágora – praça pública - sobre o conceito de 
justiça. 
Ao concluir o longo e demorado discurso, o palestrante gentilmente aguarda 
arguições e comentários sobre sua rica retórica. Ao que Sócrates, localizado atrás da 
pequena multidão, que se aglomerara, levanta a mão pedindo a palavra. O orador, 
empertigando-se, diz com orgulho: “Ora, Sócrates, é para mim uma grande honra 
receber um comentário seu. Qual é vossa pergunta?” “O que é Justiça?” - questiona-o 
Sócrates. 
O orador, num misto de incredulidade e espanto, tenta entender: “Ora, por 
quase uma hora discursei sobre tal conceito, talvez, devesse repetir meu discurso...” E 
Sócrates explica-se: “Nobre cidadão, por uma hora discursaste sobre o conceito de 
Justiça e ainda assim não o definiste.” Refletindo sobre a postura de Sócrates, 
entendemos um pouco melhor a atitude filosófica frente ao conhecimento; o orador 
esperava aplausos e lisonjas por sua retórica e Sócrates trata de questionar exatamente 
sobre o que deveria ser elucidado e não foi. 
Agora, pense em outras demonstrações de sabedoria com que nos deparamos 
em nosso cotidiano, sem ao menos uma conceituação clara e consciente. 
Vamos a elas? 
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 Figura 1 O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci 
O que é o Homem? Quem é o Homem? O que o define? Não nos parecem 
questões extremamente óbvias e inquestionáveis? No entanto, cada vez que nos 
aprofundamos em seu entorno, percebemos o quão relevante tornam-se. 
Nessa busca, a ciência não convém ser a única referência... A seguir, 
apresentamos algumas definições: 
BÍBLIA: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’” 
HOMERO: “Como as folhas na floresta são as gerações dos homens, veja, a uns o vento 
dispersa e a outros o madeiro vicejante faz brotar no tempo da primavera: Assim são as 
gerações dos homens, esta cresce, aquela desaparece”. 
ARISTÓTELES: “Zóon logikón, animal racional. “A ideia de que a característica essencial do 
homem é a razão perpassa toda a história da filosofia, pelo menos até o Idealismo 
Alemão”. 
SANTO AGOSTINHO: “Fizeste-nos para Vós, Senhor. Inquieto está o nosso coração, 
enquanto não repousar em Vós”. 
GIORDANO BRUNO: “O homem se situa no limite entre eternidade e tempo, participando 
de ambos. Igualmente para Kant, o homem é ‘cidadão de dois mundos”. 
BLAISE PASCAL: “Caniço pensante. Mesmo se o universo aniquilasse o homem, este ainda 
seria mais nobre do que aquilo que o mata, porque sabe que morre; o universo não o 
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sabe. O pensamento é, portanto, a nossa suprema dignidade. O homem transcende 
infinitamente o homem”. 
HOBBES: “Homo homini lupus. O homem é um lobo para o homem”. 
LAMETTRIE: “O homem é uma máquina, l’homme machine”. 
FICHTE: “O sentido da espécie humana não consiste apenas em ser racional, mas em 
tornar-se racional”. 
KIEKEGAARD: “O homem é uma relação que se relaciona consigo mesma”. 
MARX: “O homem não passa dum ‘conjunto de relações sociais’”. 
NIETZSCHE: “O homem é o ‘animal doente’, ‘o animal ainda não fixado’. Outrora éreis 
macacos e mesmo agora o homem é mais macaco do que qualquer macaco...” 
SARTRE: “A existência precede a essência. O traço fundamental do ser humano é ser para 
si liberdade, criador de valores. Mas, no fundo, tudo é tão absurdo e o homem é uma 
paixão inútil”. 
O que nos impele a perguntar: “o que é” e “quem é o Homem?” Como ciência, a 
Antropologia tem a mesma origem que as demais metodologias em busca do 
conhecimento (tais como a Filosofia, as Artes e a Religião). A origem é um sentimento, 
uma percepção difusa, implícita, abrangente. Se, no passado predominava a admiração, 
atualmente domina a inquietação. 
 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 2 - A ANÁLISE DA NATUREZA. 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é analisar o conceito de natureza. Resgatando a sua 
etimologia e dialogar com alguns pensadores que, ao longo da história, refletiram 
sobre este fenômeno. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para iniciarmos os conteúdos desta unidade, partimos de uma proposta de 
reflexão. 
Leia atentamente o exposto abaixo: 
“O que é o homem na natureza? Nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada, 
um meio entre nada e tudo.” Blaise Pascal 
“O conceito de Natureza Humana faz parte de um paradigma perdido.” Edgar Morin 
 
 Relacione as citações acima e reflita, por um instante, sobre a Natureza Humana. 
Chegou a algum conceito? Vamos agora à essência de nossa unidade. 
O que é a Natureza? Como podemos definí-la? Vejamos abaixo algumas 
considerações: 
“A natureza garante à espécie a imortalidade por retorno periódico, 
mas não pode garanti-la ao indivíduo.” Aristóteles 
 
“A natureza gosta de se esconder.” Heráclito 
 
“Devemos ter a natureza como guia. É a ela que a razão contempla 
e consulta. Viver feliz e viver segundo a natureza são a mesma 
coisa.” Sêneca 
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Definir o conceito de Natureza é tão complexo quanto definir outros conceitos; 
devemos, isto sim, buscar referências e mesmo definições opostas se queremos 
esclarecê-lo. Se iniciarmos por sua etimologia, encontraremos a phýsis. De origem 
grega, a phýsys, significa natureza, conceito intrinsecamente vinculado à ideia do 
cosmos ordenado e pode ter três sentidos essenciais: o primeiro ligado à ideia do 
nascimento, desenvolvimento, surgimento; o segundo, relativo às características naturais 
de um ser, o que convencionamos chamar natureza humana; o terceiro sentido é 
definido como uma “força” que impulsiona os seres, desde sua origem até seu 
perecimento, realidade derradeira de onde tudo surge e para onde tudo regressa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os gregos, na Antiguidade, pensavam que a natureza representava o fenômeno, 
algo necessário no qual os homens têm de aprender a viver. Trata-se, portanto, de algo 
dado e que não se pode mudar, em contraste com o mundo dos homens, em que 
podemos decidir como queremos viver. Nossa liberdade residiria justamente neste 
esforço de superação das regras imutáveis naturais.Também podemos definir a 
Figura 2: A busca de entendimento sobre a Natureza esteve presente 
desde os primórdios da civilização. 
Fonte: http://pousodamente.blogspot.com.br/2010/07/physis1-como-apice-da-nocao-de-
natureza.html 
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Natureza como sendo o conjunto dos seres e das coisas que constituem o universo, o 
mundo físico; tudo o que, no universo, não aparece como transformado pelo homem; 
conjunto das leis que parecem manter a ordem das coisas e dos seres. 
Perceba que a definição de Natureza está ligada a tudo o que existe, é imanente 
e transcendente ao Homem. Ou seja, também fazemos parte desta Natureza, mas o 
que nos diferencia é a capacidade de nos esquivarmos dela, diferente dos demais seres 
naturais, que a ela estão unidos, essencialmente no que tange ao instinto. 
Ora, os seres naturais, anímicos, vivem de acordo com uma programação 
genética, que lhes é imanente, ditada pela própria natura. Essa tal programação é 
caracterizada pelo instinto hereditário. Os animais simplesmente sabem o que devem 
fazer e como devem agir no intuito de preservar a si mesmos e à sua espécie. 
Para melhor elucidar, tomemos como exemplo o processo de gestação de um 
certo tipo de vespa. Tal inseto alado é classificado pelas ciências naturais como sendo 
um parasita, uma vez que invade o corpo de outros animais para implantar e alimentar 
sua cria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3: Modelo de uma larva de vespa parasita que se desenvolve dentro de 
uma lagarta. Fonte: http://listas.terra.com.br/terraciencia/2409-qual-animal-tem-a-gestao-mais-
curiosa.orkut 
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A vespa, depois de árdua luta de vida ou morte, ferroa uma lagarta ou uma 
barata, paralisando-a ainda viva e deposita seus ovos no animal entorpecido. Depois de 
tal intensa labuta sai voando, morrendo em seguida. Tempos mais tarde nascem as 
larvas que irão se alimentar da criatura que lhes serviu de “casulo”, crescerão e se 
desenvolverão naturalmente sem qualquer “ensinamento”. O mais interessante é que, 
chegada a hora dessas vespas já adultas procriarem–conhecimento adquirido pelo 
instinto-, irão reproduzir exatamente o comportamento inconsciente de sua genitora, 
geração após geração. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
É possível que você esteja refletindo sobre uma série de exemplos que 
contradigam tal tese, visto que existem outros animais mais desenvolvidos 
“intelectualmente” que uma vespa. Obviamente que sim. Basta nos lembrarmos de 
determinados símios, como os gorilas e chimpanzés, ou mesmo de nossos animais 
domésticos –principalmente cães e gatos– que parecem ter mesmo uma 
“personalidade” e atitudes rudimentares de raciocínio. 
Figura 4: Esta vespa injeta veneno 
suficiente para paralisar, mas não 
matar, uma lagarta. Aí, as larvas da 
vespa nascem e se alimentam da 
lagarta viva. Mas o parasita tem um 
requinte de crueldade: junto com o 
veneno, ele injeta uma espécie de vírus 
que modifica o DNA da lagarta, 
tornando seu sistema imunológico 
incapaz de destruir as larvas. 
Fonte: 
http://megaarquivo.com/2012/05/29/6037-
biologia-uma-vespa-muito-louca/ 
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Mas nenhum desses exemplos mostra-se suficientemente válidos, já que 
nenhum destes seres têm a possibilidade de escapar da natureza de seu instinto. O que 
por vezes nos parece inteligência nada mais é que uma capacidade ligeiramente 
elevada de entendimento. 
Os animais adquirem tal entendimento por meio de um ciclo, repetição e 
condicionamento e não por meio de uma reflexão ou consciência de seus atos. Postura 
radicalmente oposta é a do ser humano, que tem a capacidade de refletir sobre si 
mesmo, sua existência e a de seus semelhantes; questionar o já vivido, rompendo com 
o mesmo, quando necessário, e sobre o que ainda virá, construindo e transformando 
seu futuro. 
O que desejamos destacar é que não nascemos prontos. A natureza não nos 
dotou de instrumentos necessários à nossa sobrevivência, cabendo a nós próprios a 
tarefa de nos construirmos, refazer-nos e recriarmo-nos constantemente, num perene 
vir a ser. 
 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é analisar o conceito de natureza. Resgatando a sua 
etimologia e dialogar com alguns pensadores que, ao longo da história, refletiram 
sobre este fenômeno. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Seguindo nosso objetivo de análise da natureza e do homem, seguimos agora 
para a leitura de um artigo que tece importantes considerações sobre os conceitos que 
ora abordamos, trazendo-nos um maior embasamento teórico. 
Vamos à leitura? 
“Quando falamos em ‘natureza’, atualmente, pensamos logo na realidade 
exterior, no meio ambiente em que nascemos e vivemos, e que marcamos tão 
fortemente com nossa presença e nossas técnicas. Esse mundo natural no qual 
construímos nossas cidades, que cortamos com nossas estradas, e cuja existência 
acreditamos estar ameaçada por causa de nossa atitude predatória com relação a ele. 
No entanto, a natureza pode ser compreendida de maneira mais ampla, ou seja, 
como abarcando mais do que esse ‘lugar’ ou essa ‘exterioridade’ que recebemos de 
presente quando nascemos. É muito importante percebermos que, na verdade, os 
termos natureza e natural referem-se àquilo que nos é dado (ou imposto), não só 
externa, mas também internamente, como determinações que nos definem e que não 
podemos alterar ou que, para serem alteradas, exigem muita inventividade ou técnica. 
Nessa perspectiva, temos pelo menos três âmbitos do que pode ser chamado de 
natural: 1. A natureza exterior (os recursos naturais, o mundo tal como o encontramos, 
‘lugar’ ou ‘exterioridade’); 2. A natureza, enquanto as características internas dos seres 
em geral, aquelas com as quais eles nascem (por pertencerem a uma espécie); seriam 
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aquelas características que, juntas e articuladas, formariam o que se poderia chamar de 
constituição inata, que incluiria tendências, potencialidades, disposições ou estruturas 
tais que permitiriam (ou impediriam) o desenvolvimento de certos modos de ser. 2.1. 
No caso do ser humano, em geral, seu corpo (mortal, sexuado, dotado de alguns 
sentidos e não de outros) e suas características psíquicas, com suas potencialidades 
(capacidade de raciocínio, de desenvolver linguagem e de fabricar cultura); 3. Podemos 
ainda pensar na natureza particular de cada indivíduo (que inclui este ou aquele 
tamanho, marcas próprias singulares, maior ou menor aptidão para aprender alguma 
coisa, ser magro ou gordo, ser homem ou mulher, etc.). 
Se o âmbito da natureza é fonte de determinações que não dependem de nossa 
vontade ou escolha, já o âmbito da cultura é, num primeiro sentido, fabricado por nós 
mesmos, ou seja, a cultura é tanto o processo como o resultado da ação criadora por 
parte dos seres humanos. Nessa primeira formulação, a cultura inclui tudo o que não é 
natural, ou seja, tudo o que os diferentes grupos humanos inventam, produzem, 
fabricam, criam, escolhem e estabelecem para si próprios. 
No século XVIII, essa mesma questão evoca as reflexões do filósofo francês Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778). Segundo Rousseau, o cultivo da humanidade do homem 
se dá contra a natureza; paradoxalmente é o próprio fato de que o homem é um 
animal educável (cultivável) que faz com que ele possa ir contra sua natureza. Ele é 
crítico dos rumos que a sociedade de sua época e a civilização tomaram: a busca vã das 
ciências, o luxo das letras e das artes, a dissolução moral, toda uma lista de vícios que 
são vistos como marcas dos excessos da cultura que distancia o homem de sua 
natureza original. 
É a partir dessa visão crítica que a natureza é pensada como a norma pela qual 
se julga a sociedade e que deve servir de parâmetro para uma eventual redescoberta 
da constituição humana; apesar da degeneração cultural, a natureza no ser humano 
permanece de algum modo, como núcleo a ser recuperado. 
 
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‘Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de 
natural ou física, por ser estabelecida pela natureza e que consiste na diferença 
das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da 
alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque 
depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, 
autorizada pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos vários 
privilégios de que gozam alguns em prejuízo dos outros, como o serem mais 
ricos, mais poderosos e homenageados do que estes, ou ainda por fazerem-se 
obedecer por eles.’ (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os 
fundamentos da desigualdade entre os homens. Introdução, p.235.) 
‘De que se trata, pois, precisamente, neste discurso? De assinalar, no progresso 
das coisas, o momento em que, sucedendo o direito à violência, submeteu-se 
a natureza à lei; de explicar por que encadeamento de prodígios o forte pôde 
resolver-se a servir ao fraco, e o povo a comprar uma tranquilidade imaginária 
pelo preço de uma felicidade real.’(ROUSSEAU. Discurso sobre a origem... 
Introdução, p.236.) 
 
A proposta de Rousseau não é voltar no tempo (cronologicamente) para 
reencontrar um impossível homem natural puro, mas buscar ‘reflexivamente’ 
(logicamente) o ser humano tal como ele seria, sem o suposto ‘progresso’ das culturas; 
a civilização deformou a natureza do homem, distorcendo-a e transformando-o em um 
ser animalesco. 
É pela reflexão que poderíamos distinguir o natural do cultural (artificial); 
Rousseau não propõe um abandono da cultura ou um retorno puro e simples à 
natureza; ele quer refletir criticamente sobre a sociedade, pensando filosoficamente a 
passagem de um estado a outro. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Outro ponto de vista pode ser encontrado no pensador setecentista, Marquês de 
Sade. A Natureza, em Sade, tem metas traçadas para suas criaturas: é um agente 
onisciente distinto de Deus. A Natureza sadiana não pode ser tomada como um deus 
(ou Deus), mas antes, segundo suas palavras, como um agente universal. Cito: 
Mas, dir-se-á a este propósito, Deus e a natureza são a mesma coisa. Não é 
um absurdo? A coisa criada ser igual ao criador? Pode um relógio ser igual ao 
relojoeiro? A natureza não é nada, prossegue-se, é Deus que é tudo. Outra 
bobagem! Há necessariamente duas coisas no universo: o agente criador e o 
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indivíduo criado. Ora, qual é este agente criador? Eis a única dificuldade que é 
preciso resolver, a única pergunta que é preciso responder (SADE, 1999, p. 39). 
 
Sade desenvolve a ideia, respondendo à sua própria questão, de que o 
movimento é inerente à matéria e que as combinações deste movimento nos são 
desconhecidas. Conclui, então, bem ao seu estilo, que a matéria devido à sua energia, 
cria, conserva e mantém tudo: as planícies, as esferas celestes... Tudo isso, ao ser 
contemplado, nos enche de emoção e respeito; e qual a necessidade então de se 
buscar um agente estranho a tudo isso, uma vez que tudo isso que admiramos não 
passa de matéria em ação? 
Segundo o criador da Sociedade dos Amigos do Crime, as virtudes, calçadas na 
moral religiosa, são contra a Natureza Humana, impedindo-a de ser feliz. Sade constrói 
uma filosofia em que o incesto, o assassinato, o roubo e os excessos libertinos são 
fundamentados na Natureza. Sendo a natureza “um princípio criador onisciente, que 
tem metas traçadas para as suas criações. Ocupa, portanto, o lugar de Deus. A 
natureza, em Sade, é deus destituído de divindade." (BORGES, 1999, p. 220-21) 
Ora, sendo natural, por que assim não o somos? A resposta do Divino Marquês é 
que nunca deixamos de seguir nossos impulsos naturais, entretanto, somos como que 
forçados a todo instante a controlá-los e impedi-los. Isso se deve ao fato de o homem 
ter optado por seguir um Ser onipotente e onisciente e Seus mandamentos. Destas leis 
metafísicas universais surgem as virtudes, que tendem a impedir os excessos naturais ao 
homem, afastando-o da Natureza. Diz o Marquês: "Haverá algum sacrifício feito a essas 
falsas divindades que valha um só minuto dos prazeres que sentimos ultrajando-as? 
Ora, a virtude não passa de uma quimera cujo culto consiste em imolações perpétuas, 
em inúmeras revoltas contra as inspirações do temperamento. Serão naturais tais 
movimentos? Aconselhará a natureza o que a ultraja?" (SADE, 1999, p. 37). 
Desta forma, entendemos que a Natureza, no pensamento de Sade, é necessária 
e imprescindível. Toda sua filosofia será argumentada segundo os princípios naturais. 
Tudo o que parece errado, segundo a virtude, é certo, visto na Natureza. Todas as 
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ações que parecem chocar as leis, ou as instituições humanas podem ser demonstradas 
na Natureza, dirá o autor. Com seus argumentos enraizados na Natureza, Sade se livra 
de extensas explicações: o que é natural não se discute, ademais, sendo natural, não 
haverá espaço para a moral. Os únicos valores a serem seguidos são os encontrados na 
Natureza - aceitando a contradictio in adjecto existente. 
(Fonte: SANTOS,Os valores naturais sadianos. Disponível em: 
<http://www.urutagua.uem.br//04fil_santos.htm>. Acesso em 10/06/2012) 
 
 
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UNIDADE 4 - O HOMEM ENTRE DOIS MUNDOS. 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é entender a dicotomia e os conflitos existentes na 
compreensão da natureza humana. Isso se deve pelo fato de o ser humano viver 
“entre dois mundos”. Para começar, somos mortais, mas cremos ter uma alma 
imortal, somos racionais, mas também temos nossos instintos e necessidades 
naturais (tal qual o demais seres anímicos). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Nesse ínterim, devemos refletir sobre o que define o Humano. Comecemos tal 
investigação, comparando o corpo humano ao de outros animais. Percebemos que o 
corpo humano não é moldado de forma tão eficaz quanto o corpo dos mesmos, 
trazendo uma série de inconvenientes à sua sobrevivência. Entendemos que o 
homem não foi bem “capacitado” pela Natureza. Não somos dotados de um couro 
peludo para nos protegermos de baixas temperaturas, não podemos usar de alta 
velocidade para a caça e para a fuga, não temos a capacidade de nos ocultarmos 
com tanta facilidade – como os animais metamorfos –, não temos asas para voar, 
não temos garras e não temos os sentidos intensificados. Entretanto, conforme 
Gordon Childe: 
O ser humano pode ajustar-se a um número maior de ambientes do 
que qualquer outra criatura, multiplicar-se infinitamente mais depressa 
do que qualquer mamífero superior, e derrotar o urso polar, a lebre, o 
gavião e o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e 
pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e 
viceja, desde os pólos da Terra até o equador. Nos trens e automóveis 
que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. -Nos 
aviões e foguetes pode subir mais alto do que a águia, e, com os 
telescópios, ver mais longe do que o gavião. Com armas de fogo pode 
derrubar animais que nenhum tigre ousaria atacar. Mas fogo, roupas, 
casas, trens, automóveis, aviões, telescópios e armas de fogo não são 
parte do corpo do homem. Eles não são herdados no sentido 
biológico. O conhecimento necessário para sua produção e uso é parte 
do nosso legado social. Resulta de uma tradição acumulada por muitas 
gerações e transmitida, não pelo sangue, mas através da linguagem 
(fala e escrita). A compensação que o homem tem pelos seus dotes 
corporais relativamente pobres é o cérebro grande e complexo, centro 
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de um extenso e delicado sistema nervoso, que lhe permite desenvolver 
sua própria cultura. (CHILDE, Gordon, in: COTRIM, 2006, p. 11) 
 
De acordo com o autor, o homem é um ser que se diferencia dos demais 
seres. Ele não é apenas um ser dotado de características “naturais”. O homem é um 
ser transformador da natureza. É natural, obviamente, mas também cultural. 
 
Ao lado, podemos observar um 
exemplo da adaptabilidade 
humana. 
 
Valendo-se de materiais 
encontrados na própria 
natureza, o homem é capaz de 
transformá-la e adequá-la às 
suas necessidades, podendo, 
assim abrigar-se das 
intempéries naturais. 
 
 
 
 
 
 
Qual a relevância de tais apontamentos? Ora, podemos perceber que o Homem, 
incapaz de sobreviver apenas com o que a Natureza o dotou, busca demais 
recursos para tal, valendo-se de um instrumento – além de outros que abordaremos 
- que possui e que o diferencia dos demais seres naturais: a consciência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6: Casa de pau-a-pique no Quilombo do Cangume na cidade 
de Itaóca - SP. Acervo do autor. 
Figura 7: Representação 
gráfica de consciência do 
século XVII. (Robert Fudd). 
Fonte: 
http://sumateologica.files.wordpress.co
m/2011/04/consciencia_robert_fudd_se
c-xvii.png 
 
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BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Acompanhemos estas reflexões do filósofo francês contemporâneo, Albert 
Jacquard, acerca das discussões que vimos fazendo. 
 Segundo o pensador, a própria definição da palavra “natureza” cria uma série 
de problemas: Será o que existe fora do mundo humanizado? O que existe 
espontaneamente? O que preexiste ao homem? 
“Mas o próprio homem faz parte dessa natureza; é um ser natural. No 
entanto, tornamo-nos seres radicalmente diferentes dos outros seres da natureza: 
nossa herança biológica é metamorfoseada pela cultura. 
A aparição do homem foi uma etapa suplementar decisiva que trouxe, 
essencialmente, a consciência da existência do Tempo. Para tudo o que nos rodeia, 
o amanhã não existe. Para os membros de nossa espécie, o amanhã é a obsessão 
de cada instante. O que nos torna radicalmente diferentes é a invenção do amanhã, 
invenção permitida pela riqueza de nosso sistema nervoso central. Com toda a 
certeza, essa riqueza nos foi dada pela natureza; mas nos permitiu escapar a seu 
controle. (...) 
Ausente nos processos naturais, a finalidade foi introduzida por nós em cada 
um de nossos atos. Nesse sentido, escapamos à natureza, como uma flecha escapa 
do arco que a lança. 
A transformação da natureza é, portanto, o que faz a diferença entre o animal 
e o homem: o animal não pode superar o que lhe foi atribuído pela natureza. 
 Tendo de agir para preparar o amanhã, somos acuados a escolher e, para 
orientar nossas escolhas, a adotar regras. Cada comunidade humana define, assim, 
uma moral. Mas, na adoção desses princípios, o exemplo da natureza não fornece 
qualquer ajuda, uma vez que se trata de orientar escolhas; ora, a natureza nunca 
tem de escolher. (...) 
Quanto aos nossos deveres para com a natureza, de fato, não passam dos 
deveres para com os nossos descendentes. Durante inúmeras gerações, senão para 
sempre, somos prisioneiros de um pequeno planeta. Devemos deixá-lo em bom 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 4 - O HOMEM ENTRE DOIS MUNDOS. 
Prof. Taitson Leal dos Santos. 
 
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estado àqueles que nos hão de suceder. Estragá-lo irremediavelmente ou destruir 
suas riquezas não renováveis é uma falta em relação a eles, não em relação à 
natureza que não é uma pessoa. 
Ignora-se a morte, não é possível apreciar o presente. Nada seria mais triste 
do que saber que se é imortal. Imaginando o amanhã – o que, aparentemente, não é 
possível para o mundo animal – damos valor ao presente. O preço a pagar é a 
angústia do fim, do desaparecimento final que já não podemos ignorar. Não acho 
que isso seja um preço exorbitante.” (JACQUARD, 1998, pp. 105-108) 
Albert Jacquard levanta questões bastante pertinentes. Como somos os 
únicos seres que, de fato, temos consciência de nós próprios e da realidade que nos 
cerca, somos também os responsáveis pela “criação” do amanhã e pela clareza de 
nosso fim último, a morte. Se somos, realmente, seres singulares no que tange à 
consciência, isso significa que também somos os únicos a conhecer nossa finitude. 
Além disso, dotados que somos de consciência, “escapamos à natureza”, no 
sentido de que vamos além dela. Não nos conformamos com as nossas “limitações” 
herdadas naturalmente e criamos condições de suplantá-las ou potencializá-las. 
Como assim? O que significam tais afirmações? Ora, suplantamos nossos desejos e 
instintos, diferentemente dos demais animais. Esta, aliás, é prerrogativa para a 
criação de toda e qualquer civilização.Controlamos ou suplantamos nossos desejos 
particulares e egocêntricos em prol do convívio em sociedade. 
Mas também potencializamos no sentido de que desenvolvemos habilidades 
(a técnica, por exemplo, que nos permite transformar a natureza; e a linguagem, 
realidade marcadamente humana) latentes e em potência. 
Mas, a principal contribuição dos homens, o que os distingue inicialmente dos 
animais, é, com toda certeza, sua capacidade para imaginar o amanhã. Certamente, 
os ursos, os esquilos, quando pressentem a chegada do frio, tomam precauções, 
acumulam gordura ou provisões que lhes permitirão suportar o inverno; mas esse 
reflexo é desencadeado pela temperatura; fazem provisões porque faz frio, não para 
passar o inverno. Ter consciência de que o amanhã há de existir e de que posso 
exercer influência sobre ele, eis o que é próprio do homem. 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 
Prof. Taitson Leal dos Santos 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é investigar a existência e a consciência do homem, 
através dos pensadores da corrente filosófica existencialista. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
“Ser livre e pronto para acolher a sabedoria é o começo de toda penetração e 
do acordo do homem com a harmonia do mundo.” – Hermann Hesse 
 
O termo “existência” remete ao seu contraposto “essência”, oposição que 
constitui o princípio fundamental do Existencialismo. Etimologicamente, existência é 
sinônimo de mostrar-se, exibir-se. Daí conceituar de existencialista qualquer doutrina 
filosófica que centre sua reflexão sobre a existência humana. Centremos nossa 
análise em pelo menos três significativos pensadores: Sören Kierkegaard, Friedrich 
Nietzsche e Jean-Paul Sartre. 
 
Kierkegaard e o Desespero de (o) Ser Humano 
 
O Existencialismo é mais que um filosofar, uma forma de o 
indivíduo se expor a si mesmo, reconhecendo-se 
autenticamente neste ato, do que uma doutrina, em seu 
sentido exato e terminológico. O existencialismo seria desta 
forma, uma experiência singular, partindo do particular. 
É justamente nesta concepção que se encontra Sören 
Kierkegaard (1813-1855). Kierkegaard, talvez, tenha sido o 
pensador que maior destaque recebeu na corrente 
existencialista, e não apenas por ser considerado seu 
precursor, mas por suas análises do homem moderno; além 
da influência que exerceu sobre os demais existencialistas e 
fenomenólogos contemporâneos. 
Figura 10: Fonte: 
http://www.harvardsquarelibrary
.org/Prayers/kierkegaard.html 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 
Prof. Taitson Leal dos Santos 
 
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O filósofo dinamarquês opõe-se energicamente contra a ideia de Hegel de 
condensar a realidade num sistema. Para Kierkegaard, o indivíduo não pode ser 
meramente uma manifestação da ideia, rejeitando desta forma sua existência 
concreta, pois esta jamais poderia ser explicada por conceitos ou esquemas 
abstratos. 
O indivíduo tem maior conhecimento é de sua própria realidade, sendo ela a 
única que lhe interessa efetivamente. Somente esta realidade singular, pois lhe é 
dada a conhecer somente pela subjetividade onde tal caminho pode ser percorrido, 
a verdade do indivíduo está na subjetividade. O conhecimento abstrato somente 
apreende o concreto abstratamente, enquanto que o pensamento centrado no 
indivíduo busca compreender o abstrato concretamente. 
O homem kierkegaardiano é espírito, ou seja, é a síntese entre o finito e o 
infinito, sendo espírito o Eu. O indivíduo é uma relação que somente relaciona-se 
consigo mesmo e não com qualquer coisa que lhe seja alheio. O eu Kierkegaardiano 
não é uma relação em si, mas sim, um voltar-se sobre si mesmo. Para o autor de ‘O 
Desespero Humano’, o indivíduo é a síntese entre o finito e o infinito, do que é 
eterno e temporal, da liberdade e da necessidade e, uma vez que não é 
autossuficiente, somente se autorrealiza, relacionando-se com o Eterno. Não 
conseguindo tal relacionamento, queda-se no Desespero. 
O desespero kierkegaardiano é, essencialmente, uma categoria do espírito, 
suspensa na eternidade. Desesperar de alguma coisa não é ainda o verdadeiro 
desespero, mas antes, seu início, pois ainda está latente seu desespero. Sendo o 
indivíduo a síntese do finito e infinito, instaura-se o desespero imediatamente após 
um desses fatores assumir o predomínio. 
Somente o homem desespera-se. O desespero torna-nos cientes de nosso 
“eu”, torna-nos cientes de nossa própria existência. O desespero é o “sinal da nossa 
verticalidade infinita ou da nossa espiritualidade sublime”, diz o filósofo. O animal 
não se desespera, não se dá conta de sua existência, não sofre por ter um eu, ou 
por não saber que tem um. Somente o homem tem esta consciência, isto é que o 
torna humano. 
Kierkegaard nos apresenta um pensamento voltado para o individual e 
particular, abolindo o universal. O homem não pode ser absorvido por um sistema 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 
Prof. Taitson Leal dos Santos 
 
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abstrato - como supunha Hegel - deve, sobretudo, ser analisado em sua 
subjetividade e individualidade, pois, somente na subjetividade humana encontrar-
se-á a Verdade. 
 
Liberdade e Angústia 
Perguntas como “Qual o sentido da vida?” ou “Que 
haverá para além da morte?”, surgem ao menos 
uma vez na vida de cada indivíduo, pois este, frente 
a um mundo que não lhe atende em suas súplicas, 
desespera-se e questiona-se. Essas indagações 
vêm de longe, a partir do momento em que o homem 
se viu diante do mundo, podendo refletir sobre o 
significado de sua presença, mas sem poder 
justificar sua existência. A filosofia e as religiões já tentaram cada qual responder a 
essas questões, mas a busca prossegue, a inquietação não é amainada e, cada vez 
mais nos questionamos se estaremos diante de perguntas eternamente sem 
respostas. 
Nada existe de forma isolada, estamos todos enraizados no Tempo, na 
Sociedade e na História. Quando Aristóteles aborda a liberdade, analisa-a em seu 
meio, em sua realidade. Da mesma forma, o filósofo francês Jean-Paul Sartre irá 
analisar a liberdade, segundo novas lentes; não irá este pensador defender a 
escravidão como sendo algo natural – conforme o estagirita - mas em decorrência 
de causas sociais. 
O existencialismo é gerado em nosso tempo, e tentará responder às 
indagações e angústias a que esses indivíduos estão expostos. O existencialismo 
surge desta forma, em meio a uma realidade absurda e sem sentido, num mundo 
em crise. Neste absurdo, tenta encontrar o homem e sua identidade (ou a falta dela). 
Como nada existe isoladamente, o existencialismo surge imediatamente após a 
Segunda Grande Guerra, período no qual todas as esperanças caem por terra, 
juntamente com os corpos por ela abandonados. O existencialismo tem por 
característica o retorno ao homem, às indagações referentes à existência do 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 
Prof. Taitson Leal dos Santos 
 
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indivíduo, preocupando-se com as relações sujeito e objeto. O existencialismo volta-
se para a Realidade Humana e analisa o homem em suas condutas básicas. 
Sartre afirma que o homem está condenado à liberdade e é pelo seu Ser que 
o nada vem ao mundo. Entretanto, com esta liberdade advém a angústia. É somente 
o homem autêntico que se angustia, pois este se vê como que lançado ao mundo 
gratuitamente e independentede sua vontade. Este homem não escolheu nascer, 
contudo terá de decidir seu destino, agindo conforme sua liberdade, ou seja, por 
meio de suas escolhas. Enfim, o homem é livre para determinar seu futuro e é 
justamente esta liberdade que lhe traz a angústia. Assim, apesar de ser livre para 
determinar seu destino e fazer opções diante das condições do mundo, o homem é 
um condenado, pois é responsável por tudo o que faz. Daí a angústia. 
A angústia agrava-se com o fato de o homem existir num mundo frente ao 
nada e em completa falta de perspectiva. Ademais, esta angústia não é passageira, 
ela tem caráter eterno e, assim como a liberdade, é intrínseca ao homem, revelando-
se imediatamente antes e depois de cada escolha. Fator agravante é o concernente 
à responsabilidade. O homem, ao fazer suas escolhas, percebe que não é somente 
responsável por si, mas por toda a humanidade. Por esta responsabilidade ser um 
fardo demasiadamente penoso, o homem -inautêntico- transfere-a, creditando suas 
escolhas a outro, fugindo, assim, de sua responsabilidade e também de si mesmo. 
Uma saída para este conflito, prevista pelo existencialismo, seria o homem lançar-se 
ao futuro e construir seu próprio destino, assumindo lucidamente esta angústia, bem 
como sua responsabilidade, pois, de outra forma, sua existência seria tola e vazia. 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL. 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é entender como funciona a organização social em 
uma sociedade, compreendendo as instituições sociais e o status do indivíduo na 
sociedade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A organização da sociedade é um dos temas que a antropologia investiga, 
conhecida como antropologia social, o foco de estudo são a organização de pessoas 
e sua interação com o próximo que pode ser tanto benéfica para si e para o outro ou 
maléfica, prejudicando uma das partes. 
A organização social é compreendida como a padronização dos costumes e 
do agir do homem, assim, os grupos e os indivíduos são moldados de acordo com 
uma visão específica na sociedade. A cultura neste contexto, trabalha como se fosse 
um guia, um manual de instruções que apresenta as tarefas principais que devem 
ser realizadas e conduzir o homem para as tarefas que devem ser realizadas 
naquela sociedade a qual ele está inserido. O antropólogo Malinowski (1884 – 1942) 
chamou de cartas das instituições sociais, as tarefas que um indivíduo realiza em 
uma sociedade para mantê-la em ordem e em funcionamento. 
Para entendermos melhor esse conceito do antropólogo, vamos ver 
primeiramente o que significa instituição social. A instituição é definida como uma 
rede de procedimentos concentrados em determinados interesses exclusivos, por 
exemplo, a instituição política tem a função de reger os assuntos da cidade ou do 
Estado, e manter a relações de poder entre pessoas e governo. Existem outras 
instituições que são fundamentais para a manutenção da sociedade, por exemplo, a 
instituição econômica que gerencia a rede de alimentos e de produção de produtos 
para a vida humana, ela lida com a produção e utilização de bens e serviços. As 
instituições maritais são importantes também para a manutenção da sociedade e 
sua organização, ela cuida das relações intersexuais como o casamento e do 
sustento dos filhos, das atividades econômicas do lar, da legalização da herança. 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL. 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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Outra instituição que participa da organização da sociedade é a instituição 
religiosa. A base dessa instituição é o sobrenatural e o ritual que liga os homens 
com os seres que compõe o sobrenatural, a representação simbólica nesta ligação é 
primordial para entendermos o significado de certas práticas religiosas. As 
instituições que compõe a sociedade apresentam um caráter harmônico de 
relacionamento entre si, por exemplo, é nítido o relacionamento da instituição 
religiosa com a econômica, mas muitas vezes apresentam um relacionamento hostil 
uma com a outra, por exemplo, a instituição política que tende a ampliar os direitos 
que certos grupos considerados minoritários e entra em conflito com a instituição 
religiosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A instituição 
religiosa tem um espaço 
fundamental na 
organização da sociedade. 
(Fonte: 
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=17&min=820&orderby=titl
eA&show=10) 
 
Depois dessa análise das instituições sociais, podemos retonar o conceito de 
cartas das instituições do antropólogo Malinowski. Para ele, na carta de uma 
determinada instituição consta os objetivos e finalidades da existência da instituição. 
Essas cartas são representadas por meios de mitos, lendas e crenças, onde justifica 
o julgamento e dá autoridade para cada instituição exercer um poder que moldará os 
costumes e hábitos dos indivíduos em determinada sociedade. A justificação para tal 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL. 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
25 
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atitude, é que as cartas das instituições declaram o porquê das coisas existirem, o 
porquê das coisas serem como são, e reforçam a idéia de que as coisas devem 
continuar a serem assim, por isso, as cartas tendem a manter uma ideia 
conservadora e de imutabilidade. 
 
 
 
(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski) 
 
Junto com as cartas institucionais, o status também cumpre uma função de 
organização da sociedade. O status é definido como uma posição social com 
referência aos outros membros da sociedade, atribuindo para eles funções 
específicas de acordo com o seu sexo, classe ou fisionomia. Cada indivíduo em 
sociedade tem inúmeros status quando são somadas características abstratas para 
a realização de uma determinada função, por exemplo, a inteligência, a coragem, a 
generosidade entre outros, somando com características físicas geram novas 
funções para o indivíduo. 
 
 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL. 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O status pode se tornar “social”, essa espécie de status se define como status 
que gera uma estereotipagem geral dos indivíduos. Esse modelo de status utiliza 
critérios para moldar personalidades em uma série de pessoas indiferenciadas, 
tirando qualquer elemento que possa gerar um abalo na organização da sociedade. 
A primeira etapa para identificar os status das pessoas é conhecer os diversos 
atributos que ela porta, assim, a análise se sua personalidade foi massificada ou 
não, passa a ser mais simples. 
Por isso, é importante o pesquisador ter em mente se os atributos que a 
pessoa tem são específicos ou generalizados. Esses status são conseguidos de 
diversos modos, podem ser buscados por domínios competitivos, como no esporte 
ou em uma empresa, podem ser harmoniosos necessários também em empresas e 
em esportes específicos. Outros status são adquiridos por meio da biologia do 
indivíduo, portanto são status inatos, status que nasce com a pessoa e não podem 
ser alterados naturalmente, tais status são: raça, sexo, status por afinidades sociais 
como o parentesco, entre outros. Para conseguir os status artificiais, primeiramente, 
os indivíduos devem dominar os seus status naturais, saber dominar as funções 
naturais queele trás consigo. 
A importância dos status na vida dos indivíduos é que eles limitam e 
influenciam o grau de participação dele na sociedade ou na instituição que compõe a 
sociedade. Quanto mais rígido e extensivo for o status, mais a subjetividade do 
individuo será reprimida pelo bem e pela ordem da sociedade que ele habita. 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é compreender a antropologia física e a antropologia 
cultural e seus objetos de estudos. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Antropologia Física 
 
A antropologia física tem como objetivo, a compreensão da natureza biológica 
e evolutiva do homem desde a aurora do seu surgimento até os dias atuais. Ela 
busca compreender também a estrutura, a fisiologia e as características raciais da 
população humana espalhada geograficamente pela terra. A interação com outras 
áreas do conhecimento se torna fundamental para obter uma análise crítica sobre o 
homem, dialogando assim, com a zoologia, com as ciências biológicas e com outras 
áreas científicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A antropologia física busca entender o 
desenvolvimento biológico e fisiológico do 
homem ao longo do tempo.·. 
 
 
(Fonte: http://primatas.no.sapo.pt/homem.htm) 
 
A antropologia física é dividida em várias áreas como: 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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• Antropometria: a antropometria busca analisar por meio de 
instrumentos de medida, o comprimento de ossos e crânios de nossos 
ancestrais, focando sempre na classificação da espécie humana. 
• Somatologia: é o estudo das variedades existentes na espécie 
humana, desde as diferenças físicas entres os homens e mulheres de 
várias regiões do nosso planeta até análises mais complexa como o tipo 
sanguíneo, metabolismo basal, entre outros. 
• Paleontologia humana: estuda a origem e a evolução do homem 
através de fosseis encontrados em sítios arqueológicos. 
• Raciologia: essa área procura entender a história racial do homem e a 
classificação da espécie humana em raças e a miscigenação entre elas. 
• Estudos comparativos do crescimento: essa área é uma ampliação 
do campo de estudo da somatologia e busca conhecer as diferenças 
grupais em níveis de índice de crescimento, como a alimentação, 
maturidade sexual, etc. 
 
Antropologia Cultural 
 
A antropologia cultural estuda o homem em seu sentido cultural, como um ser 
criador de cultura. Pesquisa as diversas culturas produzidas pelo homem no 
passado e no presente, realizando comparações e semelhanças entre elas, 
analisando o seu desenvolvimento e seu regresso. 
Seu objetivo principal é compreender o relacionamento existente entre o 
modo de comportamento instintivo e o comportamento adquirido por aprendizagem, 
pois o homem é um ser que, por meio da cultura, é capaz de modificar a natureza ao 
seu favor e também de preservar certos elementos naturais, originado dos instintos. 
O antropólogo que se interessa pela área cultural, não faz escolha do período 
temporal em que a sociedade vive ou que tipo de sociedade ele quer estudar, pois 
todas as sociedades são dotadas de cultura e é alvo de exame antropológico. 
 A antropologia cultural abrange as seguintes áreas: 
• Arqueologia: é o estudo das culturas dos povos antigos que estão 
extintos. A arqueologia analisa as características desses povos que 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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não deixaram nada escrito, mas deixaram vestígios e restos materiais 
que demonstra que determinada civilização existiu. A tarefa do 
arqueólogo é desenvolver técnicas adequadas para a coleta desses 
materiais sem prejudicar o mesmo, tentando deixá-lo o mais intacto 
possível. A arqueologia divide-se em dois ramos: a arqueologia 
clássica que busca compreender a cultura de povos antigos letrados 
como os egípcios e gregos, e a arqueologia antropológica que busca 
informações de civilizações que existiram antes do surgimento da 
escrita. 
• Etnografia: é um ramo da antropologia cultural que se preocupa com 
as descrições de uma determinada sociedade. O objeto de estudo da 
etnologia são as culturas simples, consideradas primitivas. O etnógrafo 
não se interessa em estudar grandes civilizações da antiguidade como 
os mesopotâmios ou os fenícios, mas sim povos que não viviam em 
sociedades complexas, como tribos indígenas. 
• Etnologia: é outro ramo da antropologia cultural que os pesquisadores 
usufruem dos dados coletados pelos etnógrafos para gerar 
comparações entre culturas dos mais variados povos. Foca-se na 
interrelação entre os homens e também na relação deles com o seu 
meio e cultura a qual pertencem. 
• 
 
 
 
 
 
 
 
Tanto as civilizações mais complexas 
como as primitivas são importantes para 
a análise antropológica do homem. 
 (Fonte: http://www.infoescola.com/civilizacao-egipcia/abu-simbel/) 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A antropologia busca conhecer o homem em todos os seus aspectos, tanto 
físico como cultural, entender o homem em sua especificidade é compreender a sua 
cultura e como ela transforma o seu meio e a si mesmo. Foram apresentados vários 
ramos que a antropologia se desdobra, mas tem também outras áreas que 
aparentemente não está vinculado com a antropologia, mas é determinante para 
compreender o homem em sua sociedade. 
A linguística, por exemplo, é de suma importância para a compreensão do 
homem, mas ela em relação às outras áreas da antropologia é mais autônoma e 
independente. Essa área trabalha e analisa a linguagem como o meio de 
comunicação e troca de conhecimento em uma sociedade, através dela, a cultura se 
expressa em sua singularidade e caracteriza a imagem de um determinado povo. 
Pela linguagem, o folclore manifesta a cultura específica de um grupo de humanos. 
Ao estudar o folclore, o pesquisador preocupa-se com os conteúdos espontâneos 
que nascem naturalmente das experiências de uma população. 
 
 
 
 
 
 
 O 
folclore é uma importante fonte de análise 
antropológica para a compreensão das 
características de um determinado povo. 
(Fonte: http://www.sempretops.com/cultura/personagens-do-folclore-fotos/) 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é entender os métodos utilizados na pesquisa 
antropológica. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O estudo antropológico faz parte das ciências humanas, e como ciência, a 
antropologia se utiliza de métodos para atingir os seus objetivos. Os métodos são 
essenciais para o pesquisador observar e classificar os fenômenos, gerando assim, 
uma interpretação correta e precisa dos dados captados pelo mesmo. Somente o 
método científico consegue fornecer a objetividade e a generalidade que tanto a 
ciência necessita. Descobrir regras que regem o comportamento do homem e que 
são determinantes na produção de cultura é outro objetivo do método antropológico. 
Devido à existência de dois campos naantropologia (física e cultural) e suas 
ramificações, o método científico varia da necessidade de cada campo e também 
dos objetivos buscados, desse modo, a antropologia faz uso de técnicas e métodos 
que são diferentes em cada campo e ramo. O método científico é definido como um 
conjunto de regras que norteiam o pensamento crítico e a investigação, o método é 
guiado pela lógica e pela razão. A técnica consiste na desenvoltura em empregar um 
conjunto de leis para a coleta de dados. 
Existe também o uso de várias técnicas e métodos em uma determinada área 
antropológica, pois a antropologia física não se restringe ao uso de um método 
específico, o pesquisador pode realizar uma miscelânea de métodos e técnicas para 
atingir o seu objetivo, o que não pode é se limitar e não conseguir os resultados 
propostos. 
A antropologia se utiliza dos seguintes métodos em sua pesquisa: 
 
• Método Histórico: esse método consiste em analisar o passado, a fim 
de entender o estilo de vida existente no presente. Por meio de uma 
análise empírica do presente, o pesquisador compara a realidade atual 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
32 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
com o passado, assim ele realiza uma comparação para obter 
informações. 
• Método Estatístico: esse método lida com a verificação da 
diversidade das populações, nas esferas culturais e sociais. É 
realizada uma coleta de dados que são reduzidos a termos 
quantitativos, representados em gráficos e tabela. 
• Método Etnográfico: correspondem à investigação descritiva das 
sociedades, principalmente as sociedades primitivas e agrárias. Para a 
eficácia desse estudo, o pesquisador se utiliza de comparações e 
generalizações da sociedade analisada. Para obter os dados 
necessários para a sua pesquisa, o pesquisador realiza um 
levantamento de todos os dados possíveis da sociedade a qual ele 
estuda, para compreender melhor o estilo de vida de seus habitantes e 
a cultura que eles praticam. 
• Método Comparativo ou Etnológico: é utilizado tanto na 
antropologia física como a cultural e tem como principal função 
analisar as semelhanças e diferenças entre sociedades. Na 
antropologia física, o método compara aspectos físicos, fósseis e 
características anatômicas como a cor da pele, cabelo, olhos, entre 
outros. No método comparativo utilizado na antropologia cultural, 
ocorre à comparação dos costumes dos povos, dos seus rituais, etc. 
• Método Monográfico: esse método consiste em estudar 
profundamente um caso específico ou um grupo específico sob todos 
os seus aspectos. Esse estudo permite coletar dados de grupos 
isolados antes que desapareçam pelos contatos e dizimação. 
• Método Genealógico: a antropologia cultural precisa entender 
também as relações de parentesco em cada sociedade, por isso o 
método genealógico é fundamental para compreender as estruturas 
familiares estabelecidas em uma determinada sociedade, o 
relacionamento entre homem e mulher, entre pais e filhos, vida em 
família, entre outros. Por meio do levantamento genealógico, o 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA 
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pesquisador confirmará os dados coletados, gerando novas 
informações. 
• Método Funcionalista: é o estudo das sociedades através da função 
que cada membro desenvolve naquela sociedade. Esse método 
abrange também o aspecto cultural, analisando a função da cultura em 
uma sociedade. A abordagem funcionalista se dá por meio das 
análises de conexões existentes em uma cultura e como ela opera. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A antropologia dispõe de 
vários métodos para a 
análise e investigação das 
várias formas de 
sociedade e culturas. 
(Fonte: http://sesi.webensino.com.br) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Além dos métodos de investigação antropológicos, o antropólogo também 
dispõe de técnicas para atingir o objetivo de suas pesquisas. Utilizando-se desde as 
mais clássicas como a coleta intensiva de dados até técnicas novas, derivada das 
tecnologias. 
 No campo cultural, o antropólogo desenvolve soluções e técnicas de 
pesquisas ligadas à observação de campo. Segue-se algumas técnicas utilizadas 
pelos antropólogos: 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA 
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• Observação: uma das técnicas mais antigas das ciências humanas, o 
pesquisador utiliza-se do recurso natural para a obtenção de dados, 
essa observação pode ser dividida em observação sistemática onde os 
fenômenos são observados de forma precisa e cronometrados. E tem a 
observação participante onde o pesquisador tem a oportunidade de 
interagir com o objeto de pesquisa, relatando em seus diários de 
campo, as experiências vivenciadas. 
• Entrevista: é a técnica que se utiliza do contato direto entre o 
pesquisador e o entrevistado para a obtenção de informações e dados 
úteis a sua pesquisa. A entrevista pode ser dirigida, onde o 
entrevistador segue um roteiro preestabelecido e tem a entrevista livre 
onde o entrevistador não utiliza um roteiro e tudo é espontâneo. 
• Formulário: essa técnica utiliza-se de perguntas escritas aonde o 
pesquisador vai preenchendo de acordo com as respostas do 
entrevistado. A diferença básica do formulário e do questionário, é que 
o questionário o próprio entrevistado preenche e necessita de certo 
grau de escolaridade, enquanto o formulário pode participar analfabeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os questionários e os formulários têm 
como objetivo um contato direto com o 
entrevistado. 
 (Fonte: http://pesquisaemcomunicacao02.blogspot.com.br/2009/08/pesquisa-de-opiniao.html) 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é compreender a antropologia aplicada, como o 
relativismo cultural exercido por ela, garantido assim, a autonomia das tribos e dos 
povos estudados. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para uma maior eficácia em seus resultados, o campo de estudo da 
antropologia é dividido entre: antropologia teórica e antropologia prática. O foco da 
antropologia teórica é a investigação a priori1 dos conceitos relativos à cultura e ao 
homem. A partir desse conhecimento, o pesquisador poderá exercer a sua parte 
prática, aplicando as suas experiências no campo de pesquisa, estando sujeito à 
interferências externas e de culturas e hábitos diferentes do seu, assim ele 
compreenderá melhor a vida da sociedade em estudo. 
Para realmente exercer o lado prático da antropologia, o pesquisador iniciante 
precisa de um adestramento da antropologia teórica que irá orientar o iniciando para 
a ação antropológica e na compreensão das experiências que ele irá vivenciar. Entre 
os conceitos básicos para a ação antropológica, destacam-se três: aculturação, 
etnocentrismo e relativismo cultural. Ao falar em aculturação, o pesquisador terá que 
ter em mente que, ele terá contato com grupos sociais totalmente diferentes dos 
grupos sociais que conhecemos nas sociedades industrializadas e ocidentais. Para 
que não ocorra um desaparecimento da cultura simples, o pesquisador necessitará 
deter os seus impulsos de sua cultura sobre a cultura estudada, deverá inibir uma 
tentativa de relação de dominação com esses povos, tudo isso é necessário, poiso 
pesquisador deve entender aquela cultura e não destruí-la ou escraviza-la. 
Todo sistema cultural é aberto para mudanças e está em um constante fluxo 
de ideias novas e de absorção de elementos culturais alheios, por isso, quando o 
pesquisador entra em contato com uma cultura diferente, ele deve tomar cuidado em 
não prejudicar aquela cultura e também em não transforma-la, isso é um alerta 
 
1 O conhecimento a priori é o conhecimento desvinculado com a experiência, portanto ele não necessita de 
análise empírica para se fundamentar. 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA 
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também para o próprio pesquisador, pois ele também corre o risco de alterar suas 
ideias e costumes habituais. 
O segundo elemento básico que o pesquisador iniciante no campo prático 
deve tomar conhecimento é o etnocentrismo. Essa visão tem como fundamento, a 
afirmação de superioridade de uma cultura sobre a outra, não levando em conta a 
existência de modos de costumes e hábitos peculiares de uma cultura específica. 
Culturas menos desenvolvidas em relação à sociedade industrial ocidental são 
intituladas erroneamente de selvagens e bárbaras, porém o que o pesquisador 
necessita entender é que aquele modo a qual determinado povo escolheu viver é a 
melhor forma para eles de cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O pesquisador deve superar a visão 
etnocêntrica para ter uma compreensão 
séria e objetiva de uma determinada cultura. 
(Fonte: http://sociologiaam121-sociologia.blogspot.com.br/2011/06/etnocentrismo-x-cultura-
dinamica.html) 
 
O terceiro e último elemento essencial para o pesquisador entrar no campo 
prático é o relativismo cultural. Esse conceito deve ser entendido para manter um 
contato, mesmo que indiretamente, das sociedades a qual ele irá estudar. Esse 
princípio estabelece que aquilo que pode ser certo para minha cultura, pode ser 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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errada para a cultura de outro povo, por isso não posso interferir em nenhuma 
prática que eu considere errada. O pesquisador deve tem em mente a existência de 
uma multiplicidade cultural que muitas vezes são divergentes e antagônicos entre si, 
o pesquisador cultural tem por obrigação conhecer os modos e costumes de 
determinada tribo ou civilização a qual vai estudar, pois ele deve ficar atento para 
não ocasionar choques com os costumes e membros da tribo. 
O relativismo cultural tem como objetivo guiar o pesquisador sobre a 
importância de cada cultura e o respeito em relação a ela, mesmo diante de um fato 
considerado errado ou imoral para a nossa cultura. Dentro do relativismo cultural, se 
desenvolvem mais outros dois princípios: o direito à autonomia tribal e os valores 
culturais. 
O direito a autonomia tribal é o direito dos grupos estudados em fazer 
qualquer coisa sem ter a interferência do pesquisador ou sua equipe. Estão 
assegurados por esse direito; os costumes, as ideologias, as práticas habituais, a 
religião ou qualquer outra coisa que represente e caracterize o grupo ou a sociedade 
analisada pelo pesquisador cultural. Os valores culturais são classificados como o 
respeito pelos costumes e valores existentes na tribo, não criticando as práticas 
consideradas exóticas ou introduzir costumes e ações que o pesquisador considere 
corretas. 
 
 
 
 
 
A antropofagia (prática que o vencedor 
come as vencidos para adquirir sua 
força) foi duramente condenada pelos 
portugueses que colonizaram o Brasil, 
os índios tupis eram participantes dessa 
prática considerada “bárbara”. 
(Fonte: http://pga.com.br/vilamadalena/?p=44) 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA 
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BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A antropologia aplicada tem se desenvolvido de uma forma gigantesca nos 
últimos anos, isso se deve pelo grau de comprometimento dos pesquisadores em 
não fugir dos princípios que regem a antropologia prática. Os estudos práticos da 
sociedade não se limitam somente nas tribos primitivas ou em civilizações isoladas 
dos centros urbanos, a antropologia cultural se interessa também em analisar a 
nossa sociedade industrial. Hoje em dia o isolamento social é quase impossível, por 
isso os homens se relacionam e estabelecem princípios e costumes para manter 
uma relação com o próximo, assim, surge também à possibilidade da existência de 
conflitos entre as pessoas. 
O antropólogo tem o objetivo de entender como funcionam as relações na 
atualidade e estudar a cultura da nossa sociedade que se desenvolve e se modifica 
a todo o momento. 
Em resumo, o objetivo da antropologia aplicada é: 
• Entender as culturas diferentes, protegendo e respeitando os seus 
padrões e valores nativos. 
• Aplicar por meio dos conhecimentos antropológicos, soluções para os 
problemas existentes nas sociedades modernas e civilizadas. 
• Preocupar-se com os problemas gerados pelo colonialismo sob os 
grupos colonizados. 
• Conduzir projetos de desenvolvimento em vários cantos do mundo. 
• Gerar a coexistência populacional entre as populações nativas com as 
civilizadas. 
 
 
 
 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
O objetivo desta unidade é compreender a cultura material deixada pelos 
ancestrais da humanidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Desde os tempos pré-históricos, o homem mostrava uma habilidade incrível 
em se adaptar ao meio a qual viveu. Além dessa habilidade, o homem conseguia 
modificar o seu ambiente para melhor viver e se estabelecer. Ao fazer isso, ele 
produz a cultura material que servirá como herança para a humanidade de um 
passado importante para a história. 
A cultura material é definida como um acervo de objetos materiais e lugares 
modificados pelos homens e que servem de informação para os pesquisadores. De 
acordo com o antropólogo Keesing apud Marconi e Presotto (2009), a cultura 
material está além de simples objetos, ela mostra um comportamento de povos que 
existiram a milhões de anos atrás e que representaram as suas ideias e sentimentos 
em objetos que hoje temos acesso a alguns deles. O antropólogo divide os objetos 
em duas formas: 
• Forma: Tem acabamento e representa um senso estético: machado, 
cesta, canoa, entre outros. 
• Função: uso, utilização. 
 
A seguir, alguns exemplos de cultural material dividido em: habitação, 
transporte, adornos e recipientes, e têxteis. 
 
Habitações 
 
As habitações variam com o decorrer do tempo, do lugar, do clima, da 
matéria-prima e da tecnologia. Outros fatores que condiciona os aspectos físicos das 
habitações são os fatores políticos e econômicos. 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL 
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As primeiras habitações que foram encontradas por arqueólogos e 
antropólogos remetem ao período Paleolítico (2,7 milhões de anos até 10.000 a.C.). 
Todavia, é no período Neolítico (9.000 a.C até 3.000 a.C) que apresenta os maiores 
indícios de habitação com presença de palafitas, casas de ossos, paredes de pedra, 
entre outros. Nestes períodos houveuma grande variação dos formatos e dos 
metais utilizados para a construção das habitações, algumas ganharam uma forma 
mais arredondada, outras formas mais retangulares, algumas moradias utilizavam 
materiais mais sólidos para a construção, outras utilizavam materiais mais flexíveis. 
As moradias podiam ser usadas por várias pessoas da comunidade, ou somente por 
um grupo específico, tudo isso depende da comunidade e senso de propriedade de 
cada tribo. As habitações nômades diferem das sedentárias, pois os indivíduos 
nômades necessitam se locomover e desmontar os seus acampamentos de uma 
forma rápida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Réplica de habitação existente 
no período Neolítico. 
(Fonte: http://www.brasilescola.com/historiag/neolitico.htm) 
 
As cavernas também foram uma forma de habitação, e é caracterizado como 
abrigos rochosos utilizados com grande frequência na Ásia, África e Europa, 
principalmente no período Paleolítico. Essa forma de habitação ainda existe em 
alguns lugares do mundo. A preferência por elas se dá pela proteção de chuvas e 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL 
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animais selvagens, mas isso se tornou uma desvantagem para povos sedentários 
que dependiam da caça e colheita, pois muitas cavernas se localizam em lugares 
desprivilegiados de rios e terras férteis. 
 
Transportes 
 
Os transportes são meios utilizados por indivíduos para se locomoverem de 
um lugar para o outro de uma forma rápida e segura. O movimento pode ser gerado 
por meio da força-motriz do próprio indivíduo, ou por domesticação de animais. Os 
transportes são classificados de duas formas: terrestres e aquáticos. No período 
Paleolítico é bastante discutida a presença de transportes, sendo que o primeiro 
vestígio de transporte é do período Mesolítico (10.000 A.C a 5.000 A.C). O maior 
avanço nos transportes terrestres veio com a invenção da roda, gerando os 
primeiros carros de rodas pesadas, posteriormente com o seu aperfeiçoamento, veio 
às raias e eixo que garantiram maior velocidade para os carros. 
Os primeiros transportes aquáticos surgiram da utilização de troncos e peles 
cozidas para flutuar e sustentar sobre as águas. Depois, desenvolveram as 
primeiras embarcações aplicando posteriormente técnicas avançadas para as 
navegações. O tamanho e a resistência dos transportes aquáticos variam da região 
que a comunidade está estabelecida, pois em áreas de rios e lagos, os transportes 
não necessitam de uma resistência reforçada como os barcos e navios de 
comunidade que vive perto de mares. 
 
Adornos 
 
Os adornos é um elemento universal em todas as culturas, e dialoga com o 
senso estético de cada povo. Além da qualidade de enfeite, ele serve também como 
amuleto mágico de proteção. Eles podem indicar idade, estado civil, status social, 
ocupação etc. Em países tropicais, os adornos não se apresentam em forma de 
roupas e enfeites, mas sim em tatuagens e escarificações, esticam pescoços, 
orelhas e lábios. 
 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL 
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Recipientes e Têxteis 
 
Os objetos materiais como cabaça, osso, bambu, casca de árvores, conchas 
e outros materiais da natureza servem como recipientes para pegar e guardar 
alimentos e bebidas. Os recipientes são moldados e enfeitados de acordo com cada 
cultura, eles são divididos entre cestaria que é a fabricação de cestos por meio de 
junco, bambu, folhas de palmeiras que são torcidos e entrecruzados para gerar uma 
cesta. 
Os primeiros tecidos surgiram da utilização de pele animal como forma de 
proteção do frio. Além da pele de animal, eram utilizadas cascas de árvores. Com o 
decorrer do tempo, começaram a surgir às roupas manufaturadas, tecidas com 
fibras vegetais ou lãs de animais. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A cultura material é um modo de compreendermos o passado de uma forma 
factual, todos os povos que habitaram esse mundo deixaram alguma coisa que 
provam a sua existência e exprime alguma característica de sua cultura. 
Além desses elementos citados acima, as ferramentas e as armas são 
também elementos importantes para a compreensão da cultura desenvolvida na pré-
história. Se não fosse a invenção das ferramentas, o homem não conseguiria 
modificar a natureza e assim não sairia do seu estado natural. Os povos primitivos 
usavam ferramentas simples e sem qualquer modificação, apenas com pequenas 
alterações para cortar, raspar ou bater. O material usado era normalmente: pedras, 
ossos e madeira. 
As primeiras armas seguiam quase o mesmo ritmo das ferramentas 
primitivas. Porém, as armas necessitavam de um desenvolvimento maior para poder 
ter mais eficiência em um campo de batalha, por isso, é através dela que o homem 
pode desenvolver as ferramentas e desenvolver a tecnologia. As armas eram 
divididas entre as de contato: como os porretes, machados e espadas. As armas de 
tiro: como os arcos e flechas, zarabatanas e lanças. E as armas de defesa: como os 
escudos feitos de madeira ou metal. 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Esta unidade tem como objetivo a compreensão da cultura e seu 
relacionamento com a sociedade e os indivíduos. Compreendendo a sua natureza e 
localização na vida do homem. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para entendermos o que é a sociedade e o indivíduo, precisamos entender 
também outro conceito importante para a antropologia: a cultura. A palavra cultura 
surge do latim colere e significa cultivar ou instruir. Esse termo participa também de 
várias outras áreas do campo do conhecimento, como por exemplo, a cultura 
artística, a agricultura, ou a cultura histórica, porém, em cada área o significado 
muda um pouco em relação à cultura utilizada no campo antropológico. 
Essa palavra é usada frequentemente na educação, como sendo a indicação 
do desenvolvimento do indivíduo, pois ele está se tornando uma pessoa mais culta. 
Aqui a palavra cultura adquire um significado de intelectualismo e o inculto seria a 
pessoa que não absorveu os conteúdos e ensinamentos de um professor. Na 
antropologia, esse significado de cultura não tem valor, pois em tribos onde não 
existe um sistema formal de linguagem ou que não existem escolas, o indivíduo 
pertencente à tribo também desenvolve a sua cultura. 
 Outro aspecto que distancia o sentido acadêmico da palavra cultura do 
sentido antropológico, é que na educação existe a boa ou má cultura, aquilo que 
deve ou não ser passado, mas na antropologia, todas as culturas tem o mesmo 
valor, sendo que nenhuma cultura é superior à outra. A única diferença entre as 
sociedades na visão antropológica, é que umas se desenvolveram tecnologicamente 
mais do que a outra, mas isso não é sinônimo de superioridade. Para os 
antropólogos, só existem duas formas de seres humanos que não participam da 
cultura, o recém-nascido e o homo ferus que é o homem privado de qualquer 
contato humano desde o seu nascimento. Fora essas duas exceções, qualquer 
sociedade, tanto rural como urbana, desenvolve cultura e as transmite para os 
membros da sociedade. 
ANTROPOLOGIA 
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA 
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira. 
 
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 Definir e conceituar a palavra cultura é um pouco difícil na

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