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EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Ana Paula Cortat Zambrotti Gomes Kelly Aparecida Torres Priscila Aparecida Sousa © Copyright 2017 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada pela Dtcom. Bibliotecária – Andrea Aguiar Rita CRB) G631e Gomes, Ana Paula Cortat Zambrotti. Evolução do pensamento administrativo / Ana Paula Cortat Zambrotti Gomes, Kelly Aparecida Torres, Priscila Aparecida Sousa. – Curitiba: Dtcom, 2017. 152 p. ISBN: 978-859-368-520-0 1. 1. Historia da administração. 2. Administração. 3. Empresas. CDD 658 Reitor Prof. Celso Niskier Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho Redação Dtcom Análise educacional Dtcom Autoria da Disciplina Ana Paula Cortat Zambrotti Gomes, Kelly Aparecida Torres e Priscila Aparecida Sousa Validação da Disciplina Pedro Sérgio de Souza Designer instrucional Milena Rettondini Noboa Banco de Imagens Shutterstock.com Produção do Material Didático-Pedagógico Dtcom Sumário 01 A origem histórica do pensamento administrativo ............................................................ 7 02 A revolução industrial ............................................................................................................15 03 Da revolução industrial a contemporaneidade .................................................................22 04 Os processos administrativos e as funções da administração ....................................29 05 O administrador e seu papel ................................................................................................36 06 Administração Científica .......................................................................................................44 07 Teoria clássica da administração........................................................................................51 08 Mudanças na estrutura organizacional para os clássicos da administração ............58 09 Evolução da Escola Clássica da Administração ...............................................................64 10 Teoria Burocrática ..................................................................................................................71 11 A escola de relações humanas ............................................................................................79 12 A escola comportamentalista ..............................................................................................87 13 As Teorias Motivacionais ......................................................................................................94 14 Aspectos Sobre Liderança ................................................................................................. 101 15 A Teoria Estruturalista ........................................................................................................ 108 16 A Tecnologia e a Abordagem Quantitativa ..................................................................... 116 17 Teoria dos Sistemas ........................................................................................................... 123 18 Teoria do Desenvolvimento Organizacional ................................................................... 130 19 Teoria Contingencial ........................................................................................................... 137 20 Teorias contemporâneas ................................................................................................... 145 Introdução Para alcançar o sucesso organizacional as empresas precisam ser bem administradas frente à competitividade do mercado. Para isso o administrador deve conhecer tanto a prática, quanto os modelos teóricos da profissão. Nesta aula vamos estudar a formação do pensamento administra- tivo e entender como a administração se consolidou como área de saber. Pronto para começar? Bons estudos! Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender a evolução histórica do pensamento administrativo e como a administração se consolidou como área de saber; • compreender a formação do pensamento administrativo como um processo multidis- ciplinar por meio das contribuições de diversas áreas. 1 Antecedentes históricos do pensamento administrativo Você sabia que a administração é considerada uma ciência nova? Formalizada a pouco mais de 100 anos, a administração é considerada um campo de estudo jovem, principalmente se com- pararmos com a medicina, direito e contabilidade. No entanto, historicamente, podemos identificar práticas administrativas rudimentares praticadas há milhares de anos. EXEMPLO Indícios históricos indicam que desde a Antiguidade, por volta de 3.000 a.C., os su- mérios já exerciam atividades administrativas rudimentares de controle e registro de atividades, assim como a gestão de seus recursos e servidores. A origem histórica do pensamento administrativo Priscila Aparecida Sousa – 7 – TEMA 1 FIQUE ATENTO! Antes do surgimento das primeiras teorias da administração, nossos antepassados já praticavam atividades administrativas de forma amadora. O estabelecimento do capitalismo, a partir do surgimento da Revolução Industrial, a moder- nização das cidades e a mudança nas estruturas de autoridade foram fatores cruciais para a con- solidação do pensamento administrativo. É importante perceber que a partir da modernização das cidades a estrutura de autoridade racional-legal, baseada em normas e regras legitimadas, substituiu a antiga estrutura social de autoridade tradicional, onde o poder era considerado uma tradição ligada a costumes e aspectos religiosos. Foi assim que emergiu a sociedade industrial e a necessidade de estudar maneiras de lidar com a complexidade das organizações. (SOBRAL e PECI, 2008; MOTTA e VASCONCELOS, 2006). SAIBA MAIS! O sociólogo e economista alemão Max Weber foi um dos fundadores da sociologia moderna, e sua obra “Economia e Sociedade”, de 1922, trata dos três tipos de autoridade: tradicional, carismática e racional-legal. 2 As contribuições dos filósofos, da igreja e dos militares Você saberia dizer o que influenciou a formação do pensamento administrativo? Vamos conhecer agora as contribuições dos filósofos, da igreja e dos militares. Vale a pena prosseguir! 2.1 A contribuição da filosofia A filosofia e, em especial, seus principais estudiosos, como Sócrates (470-399 a.C.), Platão (429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), exerceram influência na administração. A princípio os preceitos destes filósofos eram voltados à administração pública, política e democracia, pois eles se preocupavam com a administração das cidades. Outra contribuição importante da filosofia para o pensamento administrativo foi o método cartesiano, desenvolvido por René Descartes, com intensa atuação até a década de 1990. (CHIA- VENATO, 2011) EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 8 – Figura 1 – Filósofos da Grécia Antiga: Platão e Sócrates Fonte: Pan_Media/ Shutterstock.com 2.2 A influência da igreja Após a queda do Império Romano, em 476 d.C., a igreja tornou-se a maior instituição da época. A forma de organização deste templo cristão contribuiu para sua expansão geográfica, sem perder normas e mantendo a autoridade, além de colaborar com a disseminação de seus ensinamentos e preservação da doutrina. Este modelo também participou daformação do pensa- mento administrativo. (CHIAVENATO, 2011; MAXIMIANO, 2012). 2.3 Organizações militares Os modelos tático-estratégicos, disciplinares, hierárquicos e de delegação, utilizados nos campos de combate para auxiliar a condução de muitos soldados, também influenciaram a for- mação do pensamento administrativo. Como destaque da contribuição militar podemos citar a obra de Sun Tzu, do século IV a.C., intitulada “A arte da guerra”, que apresenta princípios de planeja- mento, comando e doutrina utilizados na administração e que ainda serviram de base para outras obras contemporâneas na área. (CHIAVENATO, 2011; MAXIMIANO, 2012). FIQUE ATENTO! As contribuições militares mais importantes para a formação do pensamento ad- ministrativo foram os princípios de unidade de comando, direção, hierarquia, dele- gação de autoridade, centralização de comando e descentralização de execução. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 9 – 3 Os primeiros estudos sobre administração Após a Revolução Industrial, o desenvolvimento das sociedades e o surgimento das primei- ras organizações, além do consequente aumento da produção e da concorrência, o amadorismo começou a ceder lugar a modelos mais estruturados de gestão e tornaram-se necessários estu- dos detalhados de como administrar e manter duradouras estas empresas. Você sabia que os primeiros estudos sobre administração foram desenvolvidos por autores que buscavam soluções gerenciais de racionalizar as formas de trabalho, tornando as mais efi- cientes? Neste sentido, podemos destacar a contribuição de Frederick Taylor, com os estudos de racionalização do trabalho, e Max Weber, com a definição de burocracia (SOBRAL e PECI, 2008). 3.1 O que é administração? Se tentarmos entender a administração do ponto de vista da etimologia teremos: ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência), ou seja, “aquele que realiza uma função sob o comando de outrem” (CHIAVENATO, 2011, p.12). Porém, é preciso destacar que, com o decorrer dos anos, este significado original passou por uma grande mudança, sendo a administração, hoje, entendida como a tarefa de definir os objetivos organizacionais transformando-os em ação por meio dos processos de planejar, organizar, dirigir e controlar recursos em prol de objetivos organizacionais. (CHIAVENATO, 2011) FIQUE ATENTO! A administração é uma ciência secular que trata da gestão de recursos de uma organização, seja ela pública ou privada, por meio dos processos administrativos, visando alcançar objetivos pré-definidos de forma eficiente e eficaz. 4 Administração como ciência multidisciplinar e a influência dos economistas e empreendedores Estudaremos a seguir a contribuição dos economistas e empreendedores para a formação do pensamento administrativo e como a administração se consolidou como ciência multidisciplinar. 4.1 Os estudos dos economistas liberais e suas contribuições É importante destacar que a economia foi uma das ciências que mais contribuiu para a forma- ção do pensamento administrativo. Você saberia dizer porquê? Os economistas liberais pregavam a livre concorrência de mercado e suas ideias serviram de base para a formação do pensamento EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 10 – administrativo. Porém, com a acumulação de riqueza e o aumento das desigualdades este modelo começou a declinar a partir da segunda metade do século XIX. Uma influência importante da eco- nomia para os estudos em administração foram os trabalhos de Adam Smith. Na obra “A riqueza das organizações”, de 1776, Adam Smith já trazia os princípios da especialização e divisão do tra- balho, mais tarde utilizados por Frederick Taylor na administração científica. (CHIAVENATO, 2011). Figura 2 – Adam Smith (1723 - 1790) Fonte: Heartland Arts/ Shutterstock.com 4.2 O pioneirismo empreendedor e a necessidade dos estudos em administração No século XIX diversos empreendimentos surgiram, entre eles, a criação das estradas de ferro, as indústria de aço, cobre e alumínio, entre outras. Com a expansão das indústrias, que pas- saram a integrar toda a cadeia de produção, desde o controle da matéria-prima, produção de bens e distribuição, a necessidade de reduzir custos e maximizar lucros passou a ser um ponto de inte- resse crucial. A gestão que antes era feita pelo proprietário, encarregado de gerenciar estas partes, cedeu lugar à gestão profissional e divisão da empresa em áreas funcionais devido ao grande volume de recursos gerenciáveis. Com o aumento da concorrência e os graves problemas geren- ciais, devido à falta de profissionalização, que culminaram na falência de muitas organizações, os estudos sobre as melhores formas de administrar estas empresas começaram a despontar e contribuíram para o surgimento das teorias administrativas. (CHIAVENATO, 2011) EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 11 – 4.3 A administração e as diversas áreas do saber A administração é considerada uma ciência multidisciplinar, pois teve a influência de diversas áreas do saber, como a psicologia, antropologia, sociologia, economia, matemática, contabilidade, engenharia, entre outras. Mas, preste atenção, pois, a administração também pode ser considerada ciência, tecnologia e arte (CHIAVENATO, 2011). Observe a Figura “Administração como ciência, tecnologia e arte”, que demostra esta interação. Figura 3 – Administração como ciência, tecnologia e arte Ciência (análise metódica e sistematizada de fatos e evidências) Arte (visão, intuição, abordagem criativa e inovadora) Tecnologia (aplicação prática e metódica de princípios de teorias significativas) Administração Fonte: CHIAVENATO, 2011, p.14. SAIBA MAIS! No artigo “Administração é ciência ou arte? O que podemos aprender com este mal- entendido?” Pedro Lincoln C. L. de Mattos (2009) discute sobre esta dicotomia que por muito tempo foi polêmica na área. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ rae/v49n3/v49n3a09.pdf>. Como ciência, temos a consolidação dos conhecimentos teóricos na área. Como tecnologia, temos os sistemas e ferramentas tecnológicas desenvolvidos por especialistas para auxiliar na tomada de decisão. E, como arte, temos o desenvolvimento e a aprendizagem das técnicas admi- nistrativas por meio da prática cotidiana. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 12 – Figura 4 – Construções do Egito Antigo Fonte: cobalt88/Shutterstock.com EXEMPLO Na Antiguidade, antes da administração se consolidar como ciência, nossos an- tepassados já administravam de forma rudimentar e como arte. Como exemplo temos as construções das pirâmides do Egito, onde um contingente de pessoas e materiais foram alocados e organizados. Caso eles conhecessem as teorias da administração, talvez, este processo fosse menos demorado e trabalhoso. 5 A consolidação da administração como área de estudo Para Sobral e Peci (2008), a importância da consolidação da administração como área de estudo está diretamente relacionada à relevância das organizações para a sociedade. Perceba que a administração como área de estudos se estabelece a partir do surgimento da administração científica, no início do século XX, que teve como precursor Frederick Taylor. Os prin- cípios pregados por Taylor, como a racionalização do trabalho, o estudo dos tempos e movimentos e a divisão e especialização do trabalho deram origem ao que conhecemos como escola clássica da administração hoje. Posteriormente, em 1881, surgiu o primeiro curso de administração, ministrado pela Wharton School, nos Estados Unidos. No Brasil este processo foi mais tardio, sendo que o primeiro curso foi criado em 1938, pela Fundação Getúlio Vargas. (SOBRAL e PECI, 2008). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 13 – Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de:• conhecer os antecedentes históricos do pensamento administrativo; • aprender sobre a contribuição dos filósofos, da igreja, dos militares, dos economistas e dos empreendedores para a formação do pensamento administrativo. Referências CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. São Paulo: Elsevier - Campus, 2011. MATTOS, Pedro Lincoln C. L. “Administração é ciência ou arte?” O que podemos aprender com este mal-entendido? Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 49, n. 3, jul./set. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v49n3/v49n3a09.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolu- ção digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MOTTA, Fernando C. P.; VASCONCELOS, Isabela. Teoria Geral da Administração. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2006. SOBRAL, Filipe; PECI, Alketa. Administração teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Person Prentice Hall, 2008. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 14 – A revolução industrial Priscila Aparecida Sousa Introdução A Revolução Industrial surgiu a partir da modernização das cidades e trouxe diversas mudan- ças no cenário político, econômico, social e tecnológico do século XIX. Estas mudanças foram essenciais para a formação do pensamento administrativo e surgimento dos primeiros estudos na área. Vamos conhecer mais sobre a Revolução Industrial e suas contribuições para a Administração? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer os antecedentes da Revolução Industrial; • compreender como a Revolução Industrial contribuiu para a evolução do pensamento administrativo; • entender o que são as organizações e como surgiram a partir da Revolução Industrial. 1 A estruturação urbana As primeiras cidades surgiram na Antiguidade, por volta de 4000 a.C., período em que a revo- lução agrícola cedeu espaço para a revolução urbana (MAXIMIANO, 2012). Na Idade Média predominava o sistema feudal em que o senhor, proprietário das terras, exer- cia a autoridade tradicional sobre os servos, que sediam a força de trabalho de forma gratuita. A agricultura ainda predominava e a separação entre cidade e campo era bem definida. Com o processo de modernização das cidades, a mudança na estrutura de autoridade que passava a ser racional-legal, e a epidemia de peste negra que dizimou metade da população da cidade e valorizou a mão de obra do campo, o sistema feudal lentamente começou a declinar a partir do século XVI. 2 Do artesanal ao industrial Os agricultores que abandonaram os campos conseguiram, por meio do trabalho artesanal, manter-se nas cidades abrindo pequenos comércios, sobrevivendo da habilidade técnica. O arte- são era proprietário dos meios de produção, se encarregava de produzir e vender as mercadorias. Para conter o avanço da concorrência, formaram as corporações de ofício e vedavam a entrada de estrangeiros. Com o tempo, essas corporações monopolizaram o trabalho e a indústria manufatu- reira de determinadas regiões. – 15 – TEMA 2 EXEMPLO Um artesão ensinava as técnicas para seus aprendizes, que futuramente passavam esses ensinamentos para os próximos e assim por diante. Desta forma foram au- mentando a quantidade de artesãos que resolveram se juntar e formaram peque- nos empreendimentos. Esse tipo de comércio não visava o lucro, pois segundo valores religiosos da época, isto era visto como usura. A economia era baseada em trocas e o bem era vendido pelo “preço justo”. A situação predominou até a ampliação do comércio e da exportação de manufaturas, que inviabi- lizava o preço justo, então substituído pelo preço de mercado. Assim o comércio passou a visar lucro (MOTTA e VASCONCELOS, 2006). 3 As mudanças econômicas e a Revolução Industrial Com as mudanças mencionadas, o capitalismo consolidou-se a partir de dois fatores: a alta inflação e o cercamento das terras. Isto fez com que os nobres aumentassem os preços dos arrendamentos das terras para os camponeses, que não tinham mais condições de pagar. Os nobres então cercaram as terras e os camponeses tiveram que deixá-las ou foram expulsos (MOTTA e VASCONCELOS, 2006). O capitalismo fez emergir uma nova classe social conhecida como proletariado, composta pela mão-de-obra advinda do campo. Os proprietários das fábricas visavam somente o lucro, não se importando com condições de trabalho e enxergando os trabalhadores como mais um meio de produção. Ficava clara a divisão entre proletariado e proprietários das indústrias. SAIBA MAIS! O artigo “Capitalismo e as transformações no processo de trabalho”, da autora Caroline Goerck, aborda o capitalismo e as mudanças causadas no processo de trabalho. Disponí- vel em: <http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico/article/view/731/1274>. 3.1 A Revolução Industrial A Revolução Industrial surgiu no final do século XVIII, na Inglaterra, tendo como marco a inven- ção e utilização das máquinas no processo de produção, modificando a estrutura vigente na época. Trouxe consigo diversas alterações nas áreas econômicas, sociais, comerciais e políticas. Nesse período as mudanças aconteceram de forma acelerada, acompanhado o progresso das indústrias. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 16 – Figura 1 – Revolução Industrial Fonte: Stacey Newman/Shutterstock.com Por Revolução Industrial temos a definição de Viera et al (2012): Entende-se por Revolução Industrial um conjunto de transformações profundas ocorridas na estrutura socioeconômica da Europa a partir de 1750, quando se verificou a transição de um sistema feudal agrário para o sistema capitalista industrial, o que consolidou um novo período histórico, caracterizado pela ascensão de uma classe burguesa capitalista, baseada na igualdade entre os homens, a livre iniciativa e na empresa privada, bem como pelas forças produtivas, pelas relações sociais de produção e por um novo formato de or- ganização produtiva do trabalho: a fábrica. (VIERA et al, 2012, p.19) Figura 2 – Máquinas têxteis Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 17 – A Revolução Industrial passou por duas fases distintas. A primeira, de 1780 a 1860, é mar- cada pela mecanização da indústria, aplicação da força motriz com a criação da máquina a vapor, desenvolvimento do sistema fabril e avanço nos meios de transporte e comunicação, como a criação do telefone. Já a segunda fase, de 1860 a 1914, é marcada pela substituição do vapor pela eletricidade, automatização do maquinário, especialização do trabalhador, transformações radi- cais nos meios de transporte e comunicação (criação do automóvel), desenvolvimento de novas formas de organização capitalista, surgimento das instituições financeiras, separação entre pro- priedade particular e privada, grandes fusões e expansão das indústrias. (CHIAVENATO, 2011) 3.2 A precariedade no trabalho e a luta de classes O processo de migração de trabalhadores do campo para a cidade ocasionou um cresci- mento populacional desorganizado, além de sérios problemas sociais devido às más condições de moradia, higiene e saúde. A jornada nas fábricas era exaustiva e os salários eram baixos. Os operários trabalhavam cerca de 16h nas fábricas, sendo que mulheres e crianças (contratadas a partir de 5 anos) ganhavam menos que homens. Diferente do artesanal, esse trabalho era fragmentado e repetitivo podendo ser exercido por qualquer pessoa sem qualificação. FIQUE ATENTO! A modernização das fábricas trazida pela automatização fez com que parte da mão de obra operária fosse substituída por máquinas. Com o tempo os trabalhadores manifestaram sua insatisfação reivindicando melhores con- dições de trabalho. Começaram os conflitos de classe entre proletariadoe proprietários, surgindo os primeiros sindicatos, que lutavam pela garantia dos direitos dos trabalhadores. Durante muito tempo a ação dos sindicatos era restrita e considerada ilegal em países como a Alemanha, por exemplo. Aos poucos os sindicatos foram sendo aceitos e suas reinvindicações escutadas, porém só foram legalizados em 1890. Um pequeno grupo de proprietários da época, que tinha visão diferenciada das relações de trabalho, entendia que, com melhores condições, os trabalhadores não teriam motivos para se rebelar e lutar por seus direitos. EXEMPLO Robert Owen foi um exemplo de proprietário que adotou esta postura mais humani- zada e proporcionou melhores condições de trabalho a seus operários, reduzindo a jornada para 12 horas e aumentando a idade mínima das crianças que trabalhavam em sua fábrica para mais de 10 anos. Com isso, a qualidade do produto final au- mentou e consequentemente as taxas de lucro. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 18 – Figura 3 – Trabalhadores nas fábricas Fonte: Oleg Golovnev/Shutterstock.com Os diversos conflitos entre proletariado e proprietários, a acumulação de riqueza pelos donos de indústrias e o aumento das desigualdades sociais provocadas pelo capitalismo deram início a uma corrente de pensadores que questionava o capitalismo e pregava um novo modelo político chamado socialismo. Figura 4 – Karl Marx Fonte: ID1974/Shutterstock.com Um dos expoentes do socialismo foi Karl Marx, que baseava sua crítica à sociedade capita- lista no que chamou de materialismo histórico. Marx defendia que os proprietários formavam uma classe dominante que explorava a classe dominada composta pelos trabalhadores das fábricas. De acordo com ele, o poder era detido por quem possuía riquezas e o governo servia aos inte- resses desse grupo. Já o trabalhador produzia e gerava renda que não era distribuída de forma igualitária, ficando com uma parte ínfima. Marx afirmava que a lógica de mercado dominava todas EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 19 – as relações humanas e era responsável pelo aumento das desigualdades sociais. Ele propunha a queda do capitalismo e a instauração da sociedade socialista livre de classes sociais (MOTTA e VASCONCELOS, 2006; CHIAVENATO, 2011). SAIBA MAIS! Karl Marx, sociólogo alemão, desenvolveu teorias sobre sociedade, economia e política e seus estudos tiveram grande influência em sua época. Suas obras mais conhecidas são “O Manifesto Comunista”, publicada em 1848, e “O Capital”, publicada em 1867. 4 O surgimento das primeiras organizações As pequenas oficinas de artesãos aos poucos fundiram-se e deram origem às fábricas. As indústrias manufatureiras operando no sistema fabril passaram a possuir a propriedade dos meios de produção, substituindo o trabalho artesão pelo assalariado. Os artesãos passaram de proprietá- rios a empregados e o sistema econômico, antes baseado no trabalho artesanal movido a trocas e preço justo, foi substituído pelas fábricas que buscavam lucro e eficiência. Com o tempo os operá- rios foram sendo substituídos por máquinas automatizadas que aceleravam o processo produtivo. A divisão do trabalho e a simplificação de tarefas foram legados da Revolução Industrial que contribuíram para a formação do pensamento administrativo. Com os novos modelos de produ- ção, tecnologia e relações trabalhistas, os proprietários das grandes empresas passaram a preo- cupar-se mais com aspectos de gestão e não somente com a produção. Os conflitos trabalhistas também serviram de base para os estudos posteriores da escola de Relações Humanas. 4.1 O que são Organizações? Organizações podem ser entendidas como o conjunto de pessoas associadas a fim de reali- zar um objetivo. FIQUE ATENTO! As organizações privadas têm como objetivo a obtenção de lucro, diferente das organizações públicas, cujo objetivo é promover o bem estar social. Tanto as organizações privadas quanto as organizações públicas devem realizar esses obje- tivos de maneira eficiente e eficaz. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 20 – FIQUE ATENTO! Eficiência, neste caso, refere-se à maneira correta de produzir bens ou de prestar serviços sem desperdícios. Já eficácia diz respeito ao alcance dos resultados fa- zendo as coisas certas. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender como ocorreu a revolução industrial; • identificar os fatores gerados pela revolução industrial que contribuíram para a evolu- ção do pensamento administrativo; • compreender o que são organizações; • entender como ocorreu a formação das primeiras organizações indústrias a partir da Revolução Industrial. Referências CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. São Paulo: Elsevier, Campus, 2011. GOERCK, Caroline. Capitalismo e as transformações no processo de trabalho. Revista Capital Científico - Eletrônica, v. 7, n. 1, p. 11-20, 2009. Disponível em: <http://revistas.unicentro.br/index. php/capitalcientifico/article/view/731/1274 >. Acesso em: 21 dez. 2016. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolu- ção digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MOTTA, Fernando C. P e VASCONCELOS, Isabela. Teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2006. VIEIRA, Marcelo Milano Falcão; KNOPP, Glauco da Costa; ROLIM, Hygino Lima; SIMÕES, Jana- ína Machado; DARBILLY, Leonardo Vasconcelos Cavalier. Teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 21 – Da revolução industrial a contemporaneidade Priscila Aparecida Sousa Introdução Vamos conhecer melhor o objeto de estudo da Administração, que são as organizações. Nesta aula conheceremos o ambiente organizacional que é dividido em: ambiente interno, ambiente tarefa e ambiente geral. Veremos também a interação da organização com as variáveis que compõe estes ambientes. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender os novos métodos de trabalho; • identificar o ambiente no qual a organização está inserida e como este a influencia; • entender o relacionamento da organização com seu ambiente e com os seus stakeholders. 1 A organização do trabalho A forma de organização do trabalho mudou muito ao longo dos tempos. Na Antiguidade prevalecia a força braçal dos homens nas atividades de plantio. Ainda nesse período novas ferra- mentas e técnicas foram desenvolvidas para auxiliar na agricultura, que era a principal atividade. Na Idade Média predominou o trabalho artesanal, que demandava técnica e habilidades manu- ais. Com a Revolução Industrial veio a substituição do trabalho braçal pelas máquinas. O trabalho do homem passou a ser especializado e repetitivo, cabendo ao mesmo saber operar as máquinas. Na chamada Era do Conhecimento, a ciência e o capital intelectual começaram a prevalecer sobre o trabalho mecânico e repetitivo. Junto surgiu a necessidade dos indivíduos se capacitarem e buscarem níveis de formação mais altos. Todas essas mudanças contribuíram paraa evolução dos estudos em Administração e para o desenvolvimento das organizações. Hoje em dia saber lidar com a complexidade, com a concor- rência acirrada, com as tecnologias avançadas e com as necessidades de clientes cada vez mais exigentes, são fatores vitais para as organizações. SAIBA MAIS! As pessoas ou grupos que afetam ou são afetados pelas organizações constituem o que chamamos de stakeholders. Os stakeholders podem ser internos (acionistas e colaboradores) ou externos à organização (clientes, fornecedores, sindicatos, etc.). Os stakeholders fazem parte do ambiente organizacional. – 22 – TEMA 3 2 O ambiente organizacional As organizações são sistemas que interagem com as diversasforças de seu ambiente de forma interdependente. O ambiente organizacional é composto pelo ambiente interno, ambiente tarefa e ambiente geral. Figura 1 – Ambiente organizacional Político-legal TecnológicoEconômico Demográfico Sociocultural Clientes Fornecedores Concorrentes InvestidoresGrupos de interesse Meios de Comunicação Organização Ambiente Tarefa Ambiente Geral Ambiente Interno Fonte: elaborada pela autora, 2017. 2.1 Ambiente interno O ambiente interno inclui todos os fatores que compõe a organização, ficando sob seu con- trole e responsabilidade. Neste ambiente estão os recursos organizacionais: humanos, materiais, financeiros, informacionais, assim como os elementos simbólicos, como a cultura organizacional. Juntos, eles atribuem uma identidade a cada organização. 2.2 Ambiente externo O ambiente externo é aquele no qual a organização está inserida e que vai além de suas fron- teiras. As organizações interagem com as diversas forças existentes em seu ambiente externo de forma interdependente. Este divide-se em ambiente tarefa e ambiente geral. FIQUE ATENTO! O ambiente tarefa pode ser chamado de ambiente operacional, ambiente específico ou micro ambiente. Já o ambiente geral também é conhecido como ambiente con- textual ou macro ambiente. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 23 – O ambiente tarefa é aquele em que estão as forças externas mais próximas da organização. Elas também são conhecidas como variáveis controláveis, pois podem influenciar a organização ou sofrer influências desta de maneira positiva ou negativa. As principais variáveis do ambiente tarefa são: clientes, fornecedores, concorrente, grupos de interesse, meios de comunicação e investidores. FIQUE ATENTO! Cada variável do ambiente tarefa influencia em maior ou menor grau a organização, dependendo da sua importância e interdependência. Desta forma, cada organiza- ção sofrerá a influência destas forças de maneira diferente. • Clientes: podem ser considerados todos os indivíduos que compram ou possam vir a comprar os produtos e/ou serviços oferecidos pela organização. Os clientes são res- ponsáveis pela geração de demanda e rentabilidade da organização. • Fornecedores: são todos os responsáveis por fornecer matéria-prima para a produção de bens ou prestação de serviços. Boas relações com fornecedores podem influenciar positivamente as organizações na aquisição de matéria-prima a preços reduzidos, com maior qualidade e rapidez na entrega. As questões contratuais também devem ser obser- vadas, pois o não cumprimento por uma das partes pode ocasionar multas contratuais. • Concorrentes: são todas as empresas que atuam no mesmo ramo ou oferecem produ- tos substitutos. Os concorrentes podem corroer parte dos lucros da organização, pois dividem uma parcela significativa do mercado consumidor. Impactam positivamente na organização ao realizarem parcerias ou estimularem o melhoramento de produtos por meio das inovações; mas afetam negativamente quando forçam os preços de todo setor para baixo ou quando utilizam práticas abusivas e desleais como cartéis, trustes etc... • Grupos de interesse e/ou órgãos reguladores: são todas as entidades reguladoras que se relacionam com a organização e desenvolvem algum controle social. Alguns exem- plos são os sindicatos, associações de moradores, associações de defesa do consumi- dor, entidades religiosas, ONGs etc. • Meios de comunicação: envolvem todos os formadores de opinião como televisão, internet, rádio, além de outros que servem como ponte de informações entre a empresa e o público-alvo, pois divulgam o produto e relatam notícias sobre as organizações. FIQUE ATENTO! Atualmente a utilização das redes sociais pelas organizações vem alcançando um grande número de pessoas, estreitando o relacionamento entre empresas e clientes. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 24 – Figura 2 – Redes sociais Fonte: rvlsoft/Shutterstock.com • Investidores e financiadores: além do capital próprio, as empresas também precisam de capital de terceiros para realizar investimentos e se expandir. Instituições como ban- cos, seguradoras, agências de concessão de empréstimos, consócios, além de investi- dores, fazem parte deste grupo. O ambiente geral também faz parte do ambiente externo. Ele diz respeito a todas as variáveis incontroláveis que influenciam de forma indireta a organização e as empresas que atuam no setor. A organização sozinha não tem influência sobre esses fatores. Fazem parte do ambiente geral as seguintes variáveis: político-legais, econômicas, socioculturais, tecnológicas e demográficas. • Político-legais: dizem respeito a todas as políticas de governo e legislações vigentes que afetam as atividades das empresas. As leis federais, estaduais e municipais, as legislações trabalhistas, as regulamentações, os programas de incentivo do governo são exemplos desta variável. • Econômicas: a situação do país, assim como a economia de países estrangeiros, inter- ligadas devido à globalização, afetam as organizações, pois tanto as vendas quanto a aquisição de matéria-prima e equipamentos dependem do mercado interno e externo. Fatores como recessão ou crescimento econômico, inflação, variação cambial, taxas de juros e o Produto Interno Bruto (PIB) fazem parte desta variável. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 25 – Figura 3 – Crescimento econômico Fonte: Bakhtiar Zein/Shutterstock.com • Socioculturais: os costumes, valores e tradições de uma sociedade dizem muito sobre seus hábitos. As diferenças socioculturais podem ser percebidas dentro da própria nação, como no caso do Brasil, em que cada estado têm suas crenças e hábitos. Estão incluídos nesta variável fatores como estilo de vida, mudança de hábitos e consumo, a forma como se lida com as diversidades, questões éticas e religiosas, a relação do homem com o meio ambiente, dentre outros. As organizações que se atentam a estes fatores têm mais sucesso ao atender mercados regionais. • Tecnológicas: a tecnologia presta grande auxílio às organizações na gestão da informa- ção e da complexidade, tomada de decisão, agilidade na execução de tarefas, desenvol- vimento de novas técnicas de produção, inovações nos produtos e serviços, facilidade na comunicação com clientes e fornecedores, dentre outros benefícios. EXEMPLO A Internet é um bom exemplo de como os avanços tecnológicos facilitaram as transações comerciais. Hoje em dia as barreiras físicas não são empecilhos para realização dessas transações. Uma empresa que está na China pode vender um produto para clientes de vários lugares do mundo com apenas um clique. • Demográficas: segundo Sobral e Peci (2008), a demografia diz respeito à composição de uma determinada população. Esta variável é importante para análise de mercado, pois diz respeito às características da população como faixa etária, gênero, taxa de cresci- mento populacional, distribuição geográfica, distribuição de renda, ocupação etc... SAIBA MAIS! No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) você encontra várias informações demográficas sobre o nosso país. Disponível em: <http://www.ibge. gov.br/home/>. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 26 – 3 A relação da organização com seus clientes São vários os stakeholders que interagem com a organização, porém destacaremos dois que têm grande relevância para as empresas: os clientes e os colaboradores. A organização deve conhecer bem seus clientes e estar atenta à suas necessidades para oferecer produtos e/ou serviços que atendam suas expectativas. A satisfação dos clientes pode influenciar positivamente a organização aumentando o volume de vendas e melhorando a reputação da empresa, pois um cliente satisfeito indica os produtose/ou serviços para outros clientes. Já a insatisfação dos clientes pode influenciar negati- vamente a organização, pois diminui a participação de mercado e impacta negativamente na ima- gem da empresa, já que o cliente pode manifestar sua insatisfação pelas redes sociais atingindo um grande número de pessoas. EXEMPLO Joaquim comprou um notebook de uma marca nova no mercado, porém quando foi utilizar notou que este não ligava. Ele solicitou a troca, mas quando recebeu um novo aparelho este apresentou o mesmo problema. Joaquim, insatisfeito com o produto adquirido, postou nas redes sociais o caso e verificou a insatisfação de outros clien- tes que passaram pelo mesmo. Esta situação teve grande repercussão na mídia e acabou por denegrir a imagem da empresa, devido à má qualidade do produto. 4 A relação da organização com seus colaboradores Para que a organização consiga atingir seus objetivos, além dos recursos materiais e finan- ceiros e da sua interação com o ambiente organizacional, ela também deve contar com um de seus ativos mais valiosos que são seus colaboradores. Sem eles não há quem opere as máquinas, execute as tarefas ou pense em soluções. Figura 4 – Colaboradores Fonte: bikeriderlondon/Shutterstock.com EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 27 – A organização é feita de pessoas e estas pessoas, quando valorizadas e capacitadas, exer- cem melhor sua função e trazem melhores resultados. Investir em seus colaboradores, oferecer bons salários e benefícios, oferecer planos de carreiras e programas de capacitação são fatores essenciais para que as organizações consigam alcançar sucesso e interagir de forma proativa com seu ambiente. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender as mudanças na organização do trabalho; • conhecer o ambiente organizacional; • entender a relação da empresa com seus clientes e colaboradores. Referências CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. São Paulo: Elsevier - Campus, 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, IBGE. Home Page IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 03 jan. 2017. HITT, Michael; IRELAND, Duane; HOSKISSON, Robert. Administração Estratégica: competitividade e globalização. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. JONES, Gareth. Teoria das Organizações. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. SOBRAL, Filipe; PECI, Alketa. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Person Prentice Hall, 2008. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 28 – Os processos administrativos e as funções da administração Priscila Aparecida Sousa Introdução Para atingir os objetivos organizacionais de forma eficiente e eficaz e obter bom desempenho, o administrador deve ser capaz de executar os quatro processos administrativos de planejar, organizar, dirigir e controlar. Assim como ter conhecimento das áreas funcionais que compõe a organização. Vamos entender o que são os processos administrativos e como é a interrelação entre as áreas funcionais da empresa? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender os processos administrativos de planejar, organizar, dirigir e controlar; • conhecer as principais funções administrativas. 1 Processo de planejar A Administração é a ciência que trata da gestão dos recursos organizacionais por meio dos processos de planejar, organizar, dirigir e controlar, para alcançar resultados de forma efi- ciente e eficaz. Estas quatro atividades correspondem ao que conhecemos como funções ou processos administrativos. FIQUE ATENTO! Os quatro processos administrativos são: planejar, organizar, dirigir e controlar. Al- guns autores também utilizam a nomenclatura funções administrativas ou funções da administração para denominar os processo administrativos. Os processos administrativos são interdependentes e geralmente ocorrem de forma cíclica e dinâmica (CHIAVENATO, 2011). Segundo Sobral e Peci (2008, p.8) “na prática todas as funções da administração são executadas de forma inter-relacionadas e não sequencial.” A figura a seguir ilustra a interrelação destes processos. – 29 – TEMA 4 Figura 1 – Processos administrativos Controlar Organizar Planejar Dirigir Fonte: elaborada pela autora, 2017 SAIBA MAIS! Os processos administrativos de planejar, organizar, dirigir e controlar são resultados de adaptações e aprimoramentos da proposta desenvolvida por Henry Fayol em 1916, segundo autores como Sobral e Peci (2008), Oliveira (2009) e Chiavenato (2011) Em princípio os processos seriam cinco: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. A partir da contribuição de outros autores, comandar e coordenar somaram-se, sendo transformados em dirigir. Podemos notar que, apesar de ser um conceito do início do século XX, ainda é válido e aplicável às organizações modernas. Figura 2 – Atingir metas e objetivos Fonte: Vintage Tone/Shutterstock.com EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 30 – O processo de planejar está relacionado à elaboração de metas, planos e objetivos de curto, médio e longo prazo, que servem de norteadores para a organização. Ao traçar metas, o administrador define os caminhos que deve seguir para alcançar os objeti- vos organizacionais. Ao planejar, o administrador define estratégias e ações para se anteceder aos acontecimentos, não ficando à mercê do acaso, e para alcançar os objetivos traçados. 2 Processo de organizar O processo de organizar está relacionado a reunir, ordenar e alocar recursos organizacio- nais. Faz parte também a distribuição das tarefas, definição de responsabilidades e de relações de autoridade. Estas atividades têm como resultado a criação de uma estrutura organizacional, que segundo Jones e George (2012, p.7-8), trata de “um sistema formal de tarefas e relações entre superiores e subordinados que coordena e motiva os membros de uma organização, de modo que eles trabalhem juntos para atingir seus objetivos.” Figura 3 – Estrutura organizacional Fonte: tkemot/Shutterstock.com 3 Processo de dirigir O processo de dirigir ou liderar diz respeito a motivar, supervisionar e coordenar pessoas e equipes. Trata de estabelecer comunicação com os colaboradores e coordenar esforços pessoais para que os objetivos organizacionais sejam concretizados. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 31 – SAIBA MAIS! O artigo de Maria Tereza Flores-Pereira publicado em 2009 no XXXIII Encontro da ANPAD mostra como os livros didáticos sobre Administração denominam o processo administrativo ora como dirigir, ora como liderar, apontando as diferenças de abordagens utilizadas nestas denominações. Disponível em: <http://www.anpad. org.br/admin/pdf/GPR1485.pdf>. 4 Processo de controlar Controlar corresponde a checar, monitorar e avaliar se os objetivos traçados estão sendo atin- gidos conforme os padrões pré-estabelecidos. Neste processo, caso sejam identificadas divergên- cias entre os objetivos planejados e os resultados alcançados, ações corretivas devem ser realiza- das. Para a verificação da conformidade entre as ações executadas e os resultados alcançados, são utilizados indicadores que aferem o grau de atendimento das metas e dos objetivos traçados. EXEMPLO Agora vamos ver um exemplo de como os quatro processos administrativos se inter-relacionam? Uma pequena empresa de informática que vende produtos no mercado regional deseja expandir e começar a vender seus produtos no merca- do nacional. Para isso os administradores da empresa deverão exercer os quatro processos administrativos. O diretor de vendas, por exemplo, deverá identificar as característicase a demanda de cada mercado e planejar como o produto deve in- gressar nestes mercados definindo metas e prazos para cada tipo de mercado. Deverá organizar e alocar os recursos financeiros, humanos, materiais e informa- cionais para ajustar a produção de acordo com a nova demanda. Após alocar os re- cursos que serão utilizados deve comunicar aos colaboradores qual a importância do papel de cada um para a concretização deste objetivo, motivá-los e coordenar os esforços de todos para que o objetivo seja atingido. E, por último, deve realizar o controle de todas as etapas supervisionando e checando se as atividades estão sendo realizadas da maneira prevista e se deve ser realizada alguma alteração du- rante o percurso. Depois de realizar todas estas etapas, com certeza as chances da empresa obter sucesso e atingir os objetivos será maior. 5 Funções da administração As funções da Administração ou áreas funcionais correspondem à divisão da organização em áreas ou departamentos especializados que se relacionam de forma interdependente. A orga- nização pode estar dividida em várias áreas funcionais, porém as principais são: produção ou operações, marketing, finanças, gestão de pessoas e gestão da tecnologia e informação. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 32 – FIQUE ATENTO! As funções da administração também são chamadas de áreas funcionais. As orga- nizações podem ter várias áreas funcionais, sendo as principais: produção, marke- ting, finanças, pessoas e tecnologia. A coordenação destas áreas faz parte das reponsabilidades do administrador e em cada uma das áreas funcionais são praticados os quatro processos administrativos de planejar, organizar, dirigir e controlar. (SOBRAL e PECI, 2008; OLIVEIRA, 2009; MAXIMIANO, 2015). A figura abaixo ilustra as principais áreas funcionais. Figura 4 – Funções da administração Gestão da Tecnologia e Informação Finanças Produção e Operações Gestão de Pessoas Marketing Funções da Administração Fonte: elaborada pela autora, 2017 FIQUE ATENTO! As áreas funcionais estão relacionadas aos processos administrativos, pois os ad- ministradores de cada área devem exercer os processos administrativos de plane- jar, organizar, dirigir e controlar. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 33 – 5.1 Produção ou operações A função produção é considerada o coração da empresa (SOBRAL e PECI, 2008; MAXIMIANO, 2015). Trata-se do conjunto de atividades que fazem parte do processo de transformação dos insumos em produtos e serviços. Oliveira (2009) apresenta a diferença entre produção e opera- ções, sendo a primeira relacionada à fabricação de produtos e a segunda à prestação de serviços. Atualmente a maioria das empresas trabalha com produção e operação, pois fabricam produtos e prestam serviços a seus clientes como assistência técnica, por exemplo. 5.2 Marketing A função marketing funciona como elo entre a empresa e os clientes, pois é responsável por identificar as necessidade dos consumidores e satisfazê-las, gerando e mantendo a demanda. As estratégias de produto, preço, promoção e ponto também fazem parte das atribuições desta área. 5.3 Finanças Apesar de sua importância, finanças é vista como uma função de apoio, pois não está dire- tamente relacionada à atividade principal da organização, embora o objetivo organizacional seja gerar lucro. A função finanças é responsável pelas atividades de captar e gerir os recursos finan- ceiros tratando da saúde da empresa para que esta possa saldar suas obrigações frente aos cre- dores, investir e gerar lucro. 5.4 Gestão de pessoas A função de gestão de pessoas está relacionada às atividades atrair, manter, motivar e desenvol- ver os recursos humanos da organização, a fim de alcançar os objetivos. Isto inclui manter um clima agradável a fim de evitar a rotatividade de pessoal e aumentar a produtividade dos colaboradores. 5.5 Gestão da tecnologia e informação Atualmente as empresas contam com diversos recursos tecnológicos que as auxiliam no processo de gestão. A área de tecnologia e informação também é considerada uma função de apoio organizacional que dá suporte a tomada de decisões gerenciais. Esta área desenvolve ati- vidades referentes à utilização e manutenção de software e hardware para o tratamento de infor- mações, gerenciamento de grandes volumes de dados, otimização das atividades organizacionais por meio da utilização de tecnologias, integração de sistemas informacionais das diversas áreas funcionais, armazenamento e acesso a informações internas e externas. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 34 – EXEMPLO As áreas funcionais se relacionam de forma interdependente. Para que a área de pro- dução produza a quantidade necessária de produtos para o mercado consumidor, ela deve contar com a quantidade de demanda gerada pela área de marketing por meio da publicidade e divulgação do produto. A produção conta ainda com a gestão de pes- soas para disponibilizar a quantidade suficiente de pessoal treinado e capacitado para fabricar o produto. A função produção também deve contar com finanças, responsável por liberar os recursos financeiros necessários para investir em máquina, equipamentos, insumos e mão de obra, afim de que o produto seja fabricado. Por último, produção também conta com gestão de tecnologia e informação, que fornece os dados gerados por meio de seus sistemas integrados, para facilitar a tomada de decisão, assim como a disponibilidade de tecnologias avançadas para a fabricação e otimização dos produtos. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender como ocorrem os processos administrativos de planejar, organizar, dirigir e controlar; • conhecer as principais áreas funcionais de uma empresa; • conhecer as atividades desenvolvidas por cada área funcional. Referências BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração novo cenário competitivo. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. São Paulo: Elsevier - Campus, 2011. FLORES-PEREIRA, Maria Tereza. Repensando a função dirigir e a temática da liderança: uma aná- lise a partir de livros introdutórios de administração. In: XXXIII Encontro da ANPAD. Anais... São Paulo: ANPAD, p. 1 a 16. 2009. Disponível em: < http://www.anpad.org.br/admin/pdf/GPR1485.pdf > Acesso em: 03 jan. 2017. JONES, Gareth R.; GEORGE, Jennifer M. Fundamentos da administração contemporânea. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Fundamentos da administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Introdução à administração: edição compacta. São Paulo: Atlas, 2009. SOBRAL, Filipe; PECI, Alketa. Administração teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Person Prentice Hall, 2008. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 35 – O administrador e seu papel Priscila Aparecida Sousa Introdução Os responsáveis por conduzir as organizações e administrar os recursos para obter alto desempenho são os administradores. Em sua função, eles desempenham papéis específicos. Também necessitam desenvolver certas habilidades para administrar e estão alocados em vários níveis organizacionais. Vamos conhecer mais sobre os administradores? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o papel do administrador nas organizações; • identificar as habilidades que o administrador deve desenvolver para um bom desem- penho organizacional; • conhecer os níveis organizacionais e suas inter-relações. 1 O administrador Toda empresa precisa de pessoas que tomem decisões, gerenciem os recursos, se relacio- nem com o ambiente externo e tracem estratégias para alcançar os objetivosorganizacionais. Os administradores são responsáveis por executar estas e outras tarefas. Figura 1 – O administrador e a coordenação de atividades Fonte: ESB Professional/Shutterstock.com – 36 – TEMA 5 Segundo Sobral e Peci (2008, p. 6) “os administradores ou gestores são membros que têm como função guiar as organizações de forma a alcançar seu propósito”. Porém, eles não conse- guem tudo isto sozinho. Eles dependem da colaboração dos demais membros da organização para que os objetivos sejam alcançados. Esta é justamente a distinção entre os administradores e os outros membros da organização, eles coordenam as atividades de outras pessoas, que lhes devem satisfação sobre a execução do trabalho (SOBRAL e PECI, 2008). Todas as organizações precisam de administradores e eles exercem suas funções de acordo com o nível que ocupam. 2 Papéis do administrador Para administrar uma empresa e alcançar os objetivos organizacionais, o gestor precisa exe- cutar determinadas tarefas e exercer alguns papéis. Por papéis do administrador, podemos enten- der que são: “os conjuntos de expectativas de comportamento de um indivíduo, em situações específicas” (SILVA, 2008, p.15). Vários são os papéis do administrador; porém segundo Sobral e Peci (2008), Silva (2009); Chiavenato (2011) e Jones e George (2012), o autor Henry Mintzberg, a partir de suas pesquisas, definiu dez papéis específicos que estes realizam frequentemente durante os processos de plane- jar, organizar, dirigir e controlar. Os dez papéis organizacionais estão divididos em três categorias: interpessoais, informacionais e decisórios. O quadro abaixo apresenta as três categorias e suas subdivisões. Tabela 1 – Os dez papéis do administrador Papel Descrição Exemplo de atividades In te rp es so ai s Símbolo Representação simbólica do grupo ou da organização, atuando como uma referência. Representação da organização em cerimô- nias e solenidades; assinatura de documentos legais; acompanhamentos de visitantes. Líder Direção das atividades dos subordinados, levando-os à realização dos objetivos. Realização de todas as atividades que envol- vam as relações com os subordinados (persuasão, motivação, orientação etc.) Elemento de ligação Desenvolvimento de uma teia de relações que permitia o intercâmbio de informação. Manutenção de redes de contatos com exte- rior; acompanhamento da correspondência; construção de coalizões e alianças. In fo rm ac io na is Monitor Coleta e análise da informação sobre a orga- nização e seu ambiente. Leitura de periódicos e de relatório; manuten- ção de contatos pessoais; participação em eventos e conferências. Disseminador Partilha de informação com os subordinados por meio de redes de comunicação interna. Reuniões formais ou informais com o grupo; telefonemas e e-mails informativos; divulga- ção de memorandos e newsletters. Porta-voz Transmissão para o exterior das estratégias, po- líticas, atividades e resultados da organização. Comunicados de imprensa; entrevistas a mídia; participação em reuniões de acionistas ou com outros grupos de interesse externo. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 37 – Papel Descrição Exemplo de atividades De ci só rio s Empreendedor Identificação de oportunidades que potencia- lizem o desenvolvimento da organização. Reuniões de brainstorming com os subordina- dos; implementação de projetos; desenvolvi- mento de novas iniciativas empresariais. Solucionador de conflitos Resolução de conflitos ou de problemas que impeçam o desenvolvimento normal da atividade. Ações corretivas em disputas ou crises; resolução de conflitos entre subordinados; auxílio aos subordinados durante processos de mudança ou crise. Administrador de recursos Alocação dos recursos organizacionais em função dos objetivos e necessidades. Realização de todos as atividades que envolvam o orçamento e a programação do trabalho dos subordinados. Negociador Representação da organização ou grupo nas principais negociações. Negociação com sindicatos de condições de trabalho; negociação com fornecedores, clientes ou instituições financeiras. Fonte: SOBRAL e PECI, 2008, p.13. 2.1 Papéis interpessoais Os papéis interpessoais referem-se à maneira como os administradores se relacionam, influenciam e interagem com outras pessoas, tanto internas quanto externas à organização. O papel interpessoal é dividido em símbolo, líder e ligação. • Símbolo: representa simbolicamente a organização em eventos e cerimônias, traduz a imagem da organização. • Líder: coordena os esforços da equipe para a realização dos objetivos organizacionais. Dá comandos, decide sobre recursos, motiva, desenvolve e orienta seus colaboradores. É visto como um exemplo a ser seguido. • Ligação: constitui uma rede de relações permitindo o intercâmbio de informações den- tro e fora da empresa, ainda estabelece alianças e parcerias. 2.2 Papéis informacionais Envolvem o processo de obter, processar e transmitir informações. Fazem parte deles os papéis de monitor, disseminador e porta-voz. • Monitor: obtém e acompanha as informações sobre a organização e seu ambiente. • Disseminador: transmite as informações para seus colaboradores pelas redes internas de comunicação da empresa. • Porta-voz: transmite as informações da organização para o ambiente externo. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 38 – 2.3 Papéis decisórios Estão relacionados às atividades que envolvem a tomada de decisão por parte do adminis- trador, o que ocorre a todo o momento. Fazem parte os papéis de empreendedor, solucionador de conflitos, administrador de recursos e negociador. • Empreendedor: desenvolvimento de inovações e novos projetos, assim como a identi- ficação de oportunidades. • Solucionador de conflitos: resolução de conflitos, agilidade ao lidar com problemas inesperados e tomar ações corretivas. • Administrador de recursos: alocação de recursos, definição de prioridades e realização de orçamentos. • Negociador: representação dos interesses da organização, realização de acordos e negociação com as partes interessadas (stakeholders). FIQUE ATENTO! Os papéis do administrador são divididos em três categorias principais: interpesso- ais (símbolo, líder e ligação), informacionais (monitor, disseminador e porta-voz) e decisórios (empreendedor, solucionador de conflitos, administrador de recursos e negociador) 3 Habilidades do administrador Além dos papéis que o administrador tem, ele também deve desenvolver certas habilidades para alcançar um alto desempenho organizacional. Segundo Bateman e Snell (2009, p.19): “habili- dades são conhecimentos específicos que resultam de entendimento, informação, prática e apti- dão”. Estas habilidades podem ser adquiridas pela experiência ou pela educação formal. Segundo Sobral e Peci (2008), Chiavenato (2011) e Maximiano (2012), o pesquisador Robert Katz, em seus estudos, identificou três tipos de habilidades gerenciais necessárias para o alto desempenho de um administrador. Conforme identificado por Katz elas são divididas em técnica, humana e conceitual. 3.1 Habilidade técnica Está relacionada à execução de tarefas especializadas por meio de conhecimentos téc- nicos específicos a cada função. Conhecer as técnicas, métodos e procedimentos faz parte desta habilidade. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 39 – 3.2 Habilidade humana A habilidade humana ou interpessoal compreende a facilidade de se relacionar e trabalhar com pessoas e atingir resultados a partir delas, assim como saber comunicar, motivar, liderar e cooperar para o alcance dos resultados. Figura 2 – Habilidade interpessoalFonte: Jirsak/Shutterstock.com SAIBA MAIS! No artigo “A importância da aplicação das habilidades humanas no trabalho do administrador”, Ighor Santos destaca aspectos que devem ser considerados ao desempenhar a aptidão interpessoal. Disponível em: <http://www.cfa.org.br/acoes- cfa/artigos/usuarios/a-importancia-da-aplicacao-das-habilidades-humanas-no- trabalho-do-administrador>. 3.3 Habilidade conceitual Está relacionada às capacidades cognitivas, pensar criticamente, trabalhar com teorias e abstrações, lidar com as complexidades, diagnosticar e propor soluções para os problemas e ter uma visão da organização como um todo. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 40 – EXEMPLO Uma empresa de telecomunicações, preocupada em desenvolver gestores do nível intermediário para atuarem em cargos de alto escalão, pode criar sua própria uni- versidade corporativa para ministrar cursos específicos de formação continuada com temas avançados sobre liderança e estratégia, buscando desenvolver as habi- lidades conceituais destes gestores a fim de prepará-los para ocupar altos cargos e manter a posição de destaque da empresa frente a um cenário competitivo. FIQUE ATENTO! As três habilidades do administrador são técnica (relacionada aos conhecimentos específicos), humana (relacionada com as interações pessoais) e conceitual (rela- cionadas a capacidade cognitiva e visão global). 4 Os níveis organizacionais Os administradores ocupam funções na organização de acordo com os níveis organizacio- nais e suas habilidades. As empresas são divididas em três níveis: estratégico, tático e operacio- nal. Estes níveis podem ter outras denominações, como alta gerência, média gerência e supervi- são, respectivamente. Os níveis organizacionais ou gerenciais estão relacionados às funções daqueles que exercem atividades de comando sobre outros indivíduos. Os integrantes da organização que são responsá- veis pelas atividades de execução e não possuem pessoas sob sua supervisão fazem parte das funções não gerenciais ou não administrativas. Figura 3 – Níveis gerenciais Nível estratégico Nível tático Nível operacional Execução - Trabalhadores e operários Administradores de topo Gerentes Supervisores Atuação estratégica, abrange toda a organização Atuação tática, com foco em uma unidade ou área funcional Atuação operacional, específica de uma operação ou tarefa Fonte: SOBRAL e PECI, 2008, p.6. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 41 – 4.1 Nível estratégico No nível estratégico estão os administradores que fazem parte do alto escalão da empresa. Eles têm autoridade sobre os demais integrantes da empresa e são responsáveis por definir as estratégias para a organização, tomar decisões que envolvem a organização como um todo e manter a interação da organização com o seu ambiente. Devem estar focados em questões de longo prazo e respondem pelo sucesso ou fracasso organizacional. Neste nível estão o presidente, o vice-presidente e os membros do conselho diretor. 4.2 Nível tático No nível tático estão os administradores da média gerência, responsáveis por desmembrar os objetivos gerais definidos pelo nível estratégico em objetivos específicos para cada área funcio- nal. Os administradores fazem a ponte entre o nível estratégico e o operacional. Fazem parte deste nível os gerentes dos vários departamentos e áreas funcionais. EXEMPLO Um exemplo de atividades gerenciais que fazem parte do nível tático são as princi- pais funções da administração: produção, marketing, gestão de pessoas, finanças e gestão de tecnologia. O gerente de cada área é responsável por traduzir os objetivos gerais definidos pelo nível estratégico, transformando-os em objetivos específicos, e criar planos que devem ser executados pelos supervisores do nível operacional. 4.3 Nível operacional No nível operacional estão os administradores da linha de frente, ou seja, aqueles em contato direto com os colaboradores de funções não gerenciais. Os integrantes deste nível são respon- sáveis por supervisionar as atividades executadas pelas funções não gerenciais. Geralmente, o primeiro nível organizacional pelo qual um administrador passa é o operacional. Fazem parte deste nível os supervisores e líderes de equipe. FIQUE ATENTO! Os três níveis organizacionais são estratégico (no qual estão os administradores de topo como os diretores), tático (no qual estão as gerencias) e operacional (no qual estão os administradores de linha de frente como os supervisores). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 42 – SAIBA MAIS! As habilidades gerenciais requeridas do administrador vão mudando à medida que este vai subindo de nível. No estratégico, as habilidades conceituais são mais requeridas; enquanto no operacional, as técnicas são mais importantes. As habilidades interpessoais devem estar presentes em todos os níveis, porém são mais relevantes no nível tático. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer os dez papéis que o administrador pode desempenhar; • conhecer as três habilidades gerenciais que o administrador deve desenvolver; • conhecer os três níveis organizacionais nos quais o administrador pode atuar. Referências BATEMAN, Thomas Scott; SNELL, S. A. Administração novo cenário competitivo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. São Paulo: Elsevier - Campus, 2011. JONES, Gareth R.; GEORGE, Jennifer M. Fundamentos da administração contemporânea. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolu- ção digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Introdução à administração: edição compacta. São Paulo: Atlas, 2009. SANTOS, Ighor Érico Flora dos. A importância da aplicação das habilidades humanas no trabalho do administrador. 2015. Disponível em: <http://www.cfa.org.br/acoes-cfa/artigos/usuarios/a- importancia-da-aplicacao-das-habilidades-humanas-no-trabalho-do-administrador>. Acesso em: 09 jan. 2017. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. SOBRAL, Filipe; PECI, Alketa. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Person Prentice Hall, 2008. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 43 – Administração Científica Kelly Aparecida Torres Introdução Nesta aula estudaremos a administração científica. Para isso, conheceremos suas principais características, que foram muito importantes para o desenvolvimento da teoria da administração. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar as principais contribuições de Taylor para a administração científica; • identificar as principais contribuições de Ford para a administração científica; • identificar as contribuições da administração científica para a evolução do pensamento administrativo e as principais críticas a este modelo. 1 Os princípios de Taylor Frederick W. Taylor é considerado o precursor da administração científica. Ele iniciou sua car- reira como operário, foi promovido a moldador, supervisor e, por fim, engenheiro chefe. Figura 1 – Controle do tempo Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com EXEMPLO Para aumentar a eficiência da produção industrial, Taylor propôs a divisão das tare- fas. Ainda hoje, as montadoras de veículos empregam esse princípio. – 44 – TEMA 6 Vamos conhecer os quatro princípios da administração científica desenvolvidos por Taylor. • Princípio de planejamento: era necessário substituir no trabalho a improvisação dos operários por métodos cientificamente comprovados. • Princípio de preparo: os trabalhadores deveriam ser selecionados de acordocom suas aptidões e, posteriormente, preparados e treinados para atingir suas metas. • Princípio do controle: para Taylor, o trabalho deveria ser controlado a fim de garantir que sua execução estivesse de acordo com os métodos estabelecidos. • Princípio da execução: visava a distribuição de atribuições e responsabilidades para que a execução do trabalho fosse disciplinada. FIQUE ATENTO! A administração evoluiu das pesquisas de Taylor e, por isso, é importante conhecer- mos os princípios que nortearam a Escola da Teoria científica. 2 Ford e a linha de montagem Henry Ford teve seu primeiro trabalho como mecânico. Posteriormente, projetou um modelo de carro e fundou a sua fábrica de automóveis. Em 1903 foi fundada a Ford Motor Co. Figura 2 – Projetos de fábricas Fonte: Axsimen/Shutterstock.com EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 45 – A principal inovação de Ford foi a produção em massa, cuja ideia era produzir o maior número de carros com a máxima qualidade e com o menor preço. Por isso, o fordismo é um modelo de produção que revolucionou a indústria automo- bilística, com a implementação das linhas de montagem que permitiram a produção em série (CHIAVENATO, 2011). EXEMPLO Anos depois, mesmo os japoneses desenvolvendo novas técnicas de produção, o trabalho desenvolvido por Ford (produção em massa, redução de estoque e outros) nunca foram deixados de lado. Ford aplicou três princípios que objetivaram o desenvolvimento de uma forma de trabalho ritmada, coordenada e econômica. • Princípio de intensificação: tinha por objetivo a diminuição do tempo de produção por meio da utilização imediata de matéria-prima e equipamentos, além da rápida coloca- ção do produto no mercado. • Princípio de economicidade: era voltado para a redução do volume do estoque de matéria-prima de forma que o pagamento do automóvel produzido ocorresse antes do vencimento dos salários e da matéria-prima. • Princípios de produtividade: buscava o aumento da produtividade dos trabalhadores por meio da especialização - ou seja, cada trabalhador tinha uma função específica - e da organização da linha de montagem. Desta forma, Ford foi o homem que popularizou a fabricação do automóvel com o seu modelo T, colocando em prática os projetos de padronização e simplificação desenvolvidos por Taylor. FIQUE ATENTO! Ford foi um empresário à frente do seu tempo e seus princípios foram difundidos em todo o mundo e não somente nos EUA. O Fordismo é a base da organização do processo de produção. 3 Outros teóricos e suas abordagens O casal Frank e Lillian Gilbreth (1912), assim como Taylor, elaborou o estudo dos movimen- tos. Eles desenvolveram técnicas para evitar desperdícios de tempo e movimentos por meio da racionalização das tarefas de produção. Também estavam preocupados com a minimização da fadiga (ANDRADE e AMBONI, 2011). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 46 – Henry Gantt (1861-1919) desenvolveu o controle gráfico da produção, objetivando o acom- panhamento diário dos fluxos de produtividade. Atualmente, os gráficos de Gantt ainda são muito importantes para a gestão de operações das empresas (MOTTA e VASCONCELOS, 2013). Figura 3 – Modelo de Gráfico Fonte: ankomando/Shutterstock.com Já Hugo Munsterberg é considerado o criador da psicologia industrial, pois seus estudos contribuíram para o processo de contratação de homens mais capacitados para o trabalho. O pesquisador definiu as condições psicológicas necessárias para o aumento da produtividade (BERNARDES e MARCONDES, 2006). FIQUE ATENTO! Existem muitas publicações a respeito das contribuições dos pensadores da ad- ministração científica. Suas ideias revolucionaram as organizações e, mesmo que eles não concordassem em alguns pontos, trabalhavam com aspectos em comum, como o planejamento e a organização. 4 Contribuições da administração científica Frederick Taylor implantou a utilização de métodos e procedimentos diversificados ao se executar uma mesma tarefa. Taylor passou a separar as atividades de planejamento das atividades de execução e desen- volveu a Organização Racional do Trabalho (ORT) abordando diferentes aspectos, descritos a seguir. • Análise do trabalho e estudo de tempos e movimentos: por meio da análise do traba- lho, foi possível decompor cada tarefa em uma série ordenada de movimentos simples. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 47 – Com essa ação pode-se determinar o tempo médio que um operário comum levava para executar uma determinada tarefa. • Estudo da fadiga humana: por meio da adoção de métodos científicos, a administração de Taylor passou a eliminar os movimentos inúteis e os úteis foram racionalizados para proporcionar economia de tempo e de esforço ao operário. • Divisão do trabalho e especialização do operário: com a divisão das tarefas, cada ope- rário passou a ser um especialista na execução de atividades simples. Taylor defendia que a eficiência humana aumentava com a especialização. • Desenho de cargos e tarefas: o desenho do cargo envolvia a descrição das tarefas/ atividades desempenhadas pelo operário, assim como os métodos necessários para a execução das mesmas. • Incentivos salariais: para aqueles trabalhadores que desenvolvessem suas tarefas den- tro dos padrões de tempo determinados, Taylor estabeleceu a remuneração de acordo com a quantidade produzida. • Condições de trabalho: para Taylor, a eficiência era alcançada de acordo com a aplica- ção dos métodos científicos e o incentivo salarial. • Padronização: consistia em selecionar os métodos mais condizentes para a execução de determinada tarefa. • Supervisão funcional: cada supervisor era especializado na sua área e exercia autori- dade sobre os operários subordinados (ANDRADE e AMBONI, 2011). SAIBA MAIS! O artigo “Administração científica: uma análise da organização racional do trabalho e sua correlação com o setor de produção em empresas na atualidade”, traz, a partir de estudos práticos, a relação da gestão da produção e a organização racional do trabalho proposta por Taylor. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/eventos/conape/anais/ iii_conape/Arquivos/Artigos/Artigoscompletos/ADMINISTRACAO/7.pdf>. 5 Críticas à administração científica Dentre os vários estudos sobre a administração científica, um dos mais importantes foi do pesquisador Robert Hoxie, indicado pela Câmara dos Deputados norte-americanos para realizar uma investigação aprofundada sobre os métodos de trabalho propostos por Taylor. O pesquisador visitou fábricas e realizou uma série de entrevistas com operários e dirigentes de organizações que adotavam as técnicas desenvolvidas por Taylor (MOTTA e VASCONCELOS, 2013). • Recompensas salariais: para o engenheiro Frederick Taylor, o empregado era influen- ciado e incentivado a produzir mais graças às recompensas econômicas. Ele acredi- tava que os operários somente desenvolveriam o que precisava ser feito se houvessem recompensas financeiras pelo trabalho desenvolvido (homo economicus). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO – 48 – Figura 4 – Pagamento Fonte: ian Johnston / Shutterstock.com • Enfoque mecanicista do homem: para Taylor, o homem era considerado como uma peça de uma máquina. O empregado tinha de executar as atividades sem questiona- mentos. Ele não considerava o lado social e humano do trabalhador. • Abordagem fechada: a administração científica de Taylor não faz referência ao ambiente externo da organização. Taylor limitou-se a estudar apenas os aspectos inter- nos focando principalmente naqueles relacionados diretamente com o chão de fábrica, que afetasse diretamente o aumento da produtividade. • Superespecialização do operário: com a divisão das tarefas, o operário tornou-se um especialista, passando a desenvolver tarefas
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