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assunto de literatura infantil 3

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José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu na cidade de Taubaté, estado de São Paulo, no ano de 1882. Tendo em vista os estudos, o prosador mudou-se para São Paulo, onde estudou Direito. Concomitantemente, na Faculdade do Largo São Francisco, compôs o grupo literário Minarete e iniciou algumas atividades ligadas à imprensa. Atuou, por um tempo, como promotor em Areias, cidade interiorana do Vale do Paraíba. Após herdar uma fazenda de seu avô, dedicou-se, também, à agricultura.
Em 1912, Monteiro Lobato publicou o artigo Velha Praga, no jornal O Estado de São Paulo, a respeito das queimadas no campo, assunto que provocou grande polêmica e, ao mesmo tempo, contribuiu para que o referido autor escrevesse outros artigos. Ainda neste ano, o mesmo jornal lançou o conto Urupês, que trazia a personagem Jeca Tatu. Em 1918, morando em São Paulo, Monteiro Lobato publicou seu primeiro livro (Urupês), comprou a Revista do Brasil e fundou a primeira editora brasileira, a Monteiro Lobato & Cia. Em 1922, publicou duras críticas à arte de Anita Malfatti, que se apresentou na Semana de Arte Moderna de São Paulo.
No período de 1927 a 1931, Monteiro Lobato residiu em Nova Iorque. Ao regressar ao seu país de origem, partiu para a exploração de recursos minerais e fundou o Sindicato do Ferro e a Cia. de Petróleos do Brasil, provocando entraves com multinacionais e um certo mal-estar no Governo. Nesse período, nasceu um livro-denúncia intitulado O Escândalo do Petróleo, que culminou em alguns meses de prisão para o autor. Monteiro Lobato, por vontade própria, exilou-se em Buenos Aires, por um tempo. Na cidade argentina, escreveu artigos para jornais. No ano de 1948, morreu, abruptamente, em São Paulo.
Monteiro Lobato pode ser considerado um autor pré-modernista, pois, em sua obra, aparecem temas que abordam o regionalismo, as mazelas e as desigualdades da sociedade oligárquica da Primeira República. Na vertente regional, Monteiro Lobato apresenta o Brasil rural do século XX, em especial da região do Vale do Paraíba, no interior do estado de São Paulo. Em seus escritos, revela sátira, ironia e sentimentalismo em relação aos costumes e ao povo da região.
No conto Urupês, por exemplo, Monteiro Lobato faz a caricatura do caboclo Jeca Tatu, representante do homem interiorano. Jeca Tatu é o caipira que, marginalizado social e historicamente, não tem direito à educação, vive mal e é passível de contrair doenças. Além de denunciar a condição de alguns caipiras da região, o conto aborda, também, a situação do negro após a abolição. Preocupando-se com o povo e com o seu desenvolvimento social e mental, Monteiro Lobato passou a ser um grande divulgador da ciência e do progresso do país.
Nas palavras de Zilberman (2005, p. 29-30), o escritor “[...] foi, desde os primeiros livros, como Urupês, de 1918, um ferrenho crítico das mazelas nacionais; mas nunca deixou de colocar o país no centro de seu pensamento, procurando verificar o que era melhor para a população”.
Sobre o estilo de sua prosa, pode-se afirmar que é moderno no que se refere à ideologia. Já no que diz respeito à forma, a sua narrativa apresenta objetividade, além de um "vernaculismo camiliano", semelhante aos moldes naturalista e parnasiano.
Além do exposto, nas obras de cunho infantojuvenil há uma fusão entre a fantasia e o pedagógico, tendo por característica o caráter moralista e doutrinário, bem como o reflexo da sua luta pelos interesses nacionais. Uma das obras mais significativas da Literatura Infantojuvenil de Monteiro Lobato é Sítio do Picapau Amarelo, na qual o autor narra várias aventuras, as quais ligam-se, metaforicamente, aos problemas do país.
Vejamos, a seguir, a produção literária de Monteiro Lobato:
	Contos
	Romances
	Literatura de ação e artigos jornalísticos
	Literatura Infantil
	Urupês (1918);Cidades Mortas (1919); Negrinha (1920).  
	O Presidente Negro ou O Choque das Raças (1926).  
	Ideias de Jeca Tatu (1919);
A Onda Verde (1921);
Mundo da Lua (1923); 
O Macaco que se Fez Homem (1923); 
Mr. Slang e o Brasil (1929);
Ferro (1931); 
América (1932); 
Na Antevéspera (1933); 
O Escândalo do Petróleo (1936); 
A Barca de Gleyre (1944).
	Em Obras Completas V. 1 e 2:
Nas Reinações de Narizinho; 
Viagem ao Céu;
O Saci;
Caçadas de Pedrinho;
As aventuras de Hans Staden; 
História do Mundo para Crianças; 
Memórias da Emília;
Peter Pan;
Emília no País da Gramática;
Aritmética da Emília;
Geografia de Dona Benta;
Serões de Dona Benta;
Histórias das Invenções;
D. Quixote para as Crianças; 
O Poço do Visconde;
Histórias de Tia Nastácia;
O Picapau Amarelo;
A Reforma da Natureza; 
O Minotauro; 
Fábulas; e 
Os Doze trabalhos de Hércules.
Quadro 3.1 - Vitrine de obras de Monteiro Lobato
Fonte: Elaborado pela autora.
É notório que Monteiro Lobato é um dos grandes autores de Literatura Infantil. Nas palavras de Zilberman (2005, p. 26), o escritor pode ser considerado o “[...] primeiro grande autor para a infância brasileira”, devido ao seu projeto literário. Em suas obras, é possível verificar a retratação de aspectos do nosso país, de cunhos geográficos, sociais e culturais.
Além das obras apresentadas, há adaptações de clássicos da literatura e de obras estrangeiras, as quais eram destinadas à criança. Devido à grandiosidade, as obras de Monteiro Lobato acabaram virando assunto de filmes, peças de teatro, séries televisivas etc.
Atividade
Leia o trecho a seguir:
“Ao contrário dos clássicos estrangeiros, ele não recriou seus contos de outros; ele os criou. Embora se utilizasse do rico acervo maravilhoso da Literatura Clássica Infantil de todo o mundo, a inspiração maior e básica de Lobato foi a própria criança, os motivos e os ingredientes de sua vivência: suas fantasias, suas aventuras, seus objetos de jogos e brinquedos, suas travessuras e tudo o que povoa a sua imaginação... Reencontrou a criança, amealhou toda a riqueza e criatividade de seu mundo maravilhoso e construiu um universo para ela, num cenário natural, enriquecido pelo Folclore de seu povo, aspecto indispensável à obra infantil”.
CARVALHO, B. V. de. A Literatura Infantil: visão histórica e crítica. 2. ed. São Paulo: Edart, 1983, p. 133.
Considerando o excerto apresentado a respeito da literatura produzida por Monteiro Lobato, analise as afirmativas a seguir:
I. Monteiro Lobato, além de escrever para as crianças, criou para elas um mundo repleto de fantasia, personagens e histórias mágicas.
II. De modo geral, pode-se afirmar que Monteiro Lobato preocupava-se com a renovação literária do país.
III. Por conter o fantástico, a criança está isenta de imaginar, visto que os livros de Monteiro Lobato já apresentam essa característica.
IV. As obras de Monteiro Lobato apresentam valores, comportamentos e relacionamentos entre as personagens, elementos característicos de sua época.
Está correto o que se afirma em:
Parte superior do formulário
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Feedback: A alternativa correta é a letra D, pois estão corretas as afirmativas I, II e IV. Monteiro Lobato é considerado o pai da Literatura Infantil no Brasil, uma vez que criou um mundo mágico para as crianças, desenvolvendo sua imaginação e fantasia. Além disso, havia uma preocupação: a renovação literária do país, muito defendida pelo autor. A afirmativa III está incorreta, pois é por meio do realismo mágico que a criança é convidada a trabalhar com o seu imaginário, ao mesmo tempo em que reflete sobre o real.
Quando abordamos a história da Literatura Infantil no Brasil, o autor Monteiro Lobato é uma grande referência, visto que é considerado o precursor da literatura para crianças e, até os dias de hoje, suas narrativas encantam o público infantil, por meio dos livros e de suas adaptações.
No ano de 1920, o autor lançou a obra A menina do narizinho arrebitado, o primeiro livro dos 17 voltados ao público infantil. Na época, o crítico Tristãode Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima) publicou n’O Jornal do Rio de Janeiro a seguinte nota:
Por ele a criança criará gosto pela leitura, sentirá que o livro não é apenas um instrumento de disciplina, mas um campo maravilhoso para expansão de um mundo interior, reprimindo ou apenas pressentindo. É um livro que estimula a vida, que fecunda a imaginação, que desperta a curiosidade (ATHAYDE, 1921 apud AZEVEDO; CAMARGO; SACCHETTA, 1997, p. 158).
O valor da invenção literária de Monteiro Lobato gira em torno de personagens e tramas repletas de criatividade e humor. Além disso, há uma sintonia entre a matéria literária concomitante aos valores, as ideias e o contexto em que a obra foi publicada.  
Nas obras destinadas às crianças, há sempre um aspecto pedagogizante, e Sítio do Picapau Amarelotem o objetivo de educar, por meio de ensinamentos e instruções, ao mesmo tempo em que suscita a brincadeira. Assim, as personagens são livres para viverem suas experiências e existires. O sítio é local de encantamento, no qual a fantasia se une à realidade. Nas palavras de Barbosa (1996, p. 85):
Os livros com mais fabulação, com um predomínio do caráter ficcional da narrativa, contêm também muita informação e elementos didáticos. E os livros com um caráter mais didático também contêm um numeroso elemento ficcional, seja sob forma e em modo de ações, seja sob forma e em modos de diálogos. [...] A insistência e o senso de oportunidade com que Monteiro Lobato intercala instrução e educação em suas narrativas, mesmo as menos propícias a inserções didáticas, revelam, desnudam, esclarecem sua preocupação de fazer de sua literatura para crianças e jovens um veículo de formação intelectual e moral.
Monteiro Lobato tinha em vista um didatismo inteligente e, por meio de suas narrativas, educava e incentivava a imaginação e o gosto pela leitura de seus leitores. Por meio de suas histórias, o leitor encontrava conforto e mensagens positivas e alegres, as quais eram transmitidas por personagens icônicos e distintos.
	Personagem
	Característica
	Dona Benta
	É a avó das crianças Pedrinho e Narizinho. Trata-se de uma senhora inteligente, carinhosa e muito receptiva, que acompanha de perto as aventuras dos netos.
	Tia Nastácia
	É a cozinheira e a empregada do sítio. Além dessas demandas, é costureira e foi ela a responsável pela criação de Emília, uma boneca feita de retalhos de panos.
	Tio Barnabé
	É um homem da roça que reside no sítio, auxiliando Dona Benta com os afazeres. Além dos cuidados com propriedade, ele ensinou Pedrinho a caçar Sacis.
	Narizinho
	É a neta de Dona Benta, uma menina de nariz arrebitado cujo nome é Lúcia. Trata-se de uma menina inteligente, que adora devorar jabuticabas. Além disso, é prima de Pedrinho e dona e amiga de Emília.
	Pedrinho
	É o neto de Dona Benta que mora na cidade. Suas aventuras acontecem quando passa as férias no sítio da avó. Trata-se de um menino muito corajoso, mas que tem medo de marimbondos. Costuma andar com o seu estilingue no bolso. É o responsável pela criação de Visconde de Sabugosa, feito de sabugo de milho.
	Emília
	É uma boneca que fala, feita de retalhos de pano. É a grande amiga de Narizinho. Costuma ser irreverente, faladeira e muito engraçada. Emília guarda consigo um baú repleto de objetos e coisas singulares, advindas de suas aventuras.
	Visconde de Sabugosa
	Foi criado por Pedrinho, que ganhou vida e tamanho após tomar uma pitada de fermento, ficando do tamanho de uma pessoa normal. É uma criatura muito sábia, que vive na biblioteca do sítio. Costuma usar uma cartola na cabeça e um paletó verde. Além de ler muitos livros, faz experimentos em seu laboratório, e um exemplo desses experimento é o pó de pirlimpimpim.
	Quindim
	É um rinoceronte que fugiu do circo, onde sofria maus-tratos, e passou morar no Sítio do Picapau Amarelo. É um grande amigo e protetor.
	Marquês de Rabicó
	É um porco gordo e guloso, casado com a boneca Emília, que só se casou com ele para se tornar marquesa.
	Saci Pererê
	De origem popular, trata-se de um menino de uma perna só, que usa uma carapuça vermelha na cabeça, fuma cachimbo e anda em redemoinhos de vento. É responsável por pregar peças no pessoal do sítio. Tornou-se amigo de Pedrinho, após o menino prendê-lo em uma garrafa.
	Cuca
	É uma bruxa com características que lembram um jacaré. Costuma viver em uma caverna no meio do mato e fazer maldades com os moradores do sítio. É a grande antagonista da história.
Quadro 3.2 - Principais personagens da obra Sítio do Picapau Amarelo
Fonte: Elaborado pela autora.
As personagens criadas por Monteiro Lobato estão relacionadas ao folclore, aos mitos, e às lendas que advêm da tradição oral. Com isso, o autor consegue aproximar o leitor de seu universo fantástico, permitindo-lhe a formação de opinião e contribuindo para o desenvolvimento psíquico e cognitivo do indivíduo.
Figura 3.2 - Ilustração das personagens da obra em uma edição russa da série
Fonte: MarcFernando77 / Wikipédia.
Em A psicanálise dos contos de fadas, Bruno Bettelheim (1978) defende a importância da fantasia e do fantástico para o desenvolvimento e o amadurecimento infantil. Com isso, em nosso país,
[...] coube a Lobato a fortuna de ser, na área da literatura infantil e juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o Brasil de hoje. Fazendo a herança do passado imergir no presente, Lobato encontrou o caminho criador que a literatura infantil estava necessitando. Rompe, pela raiz, com as convenções estereotipadas e abre as portas para as novas ideias e formas que o novo século exigia (COELHO, 2009, p. 165).
Monteiro Lobato, considerando seu público-alvo, criou uma linguagem brasileira e popular, tendo em vista as suas vivências residindo no interior de São Paulo. Além disso, suas histórias são criativas, emocionante e irreverentes, pois trabalham com o imaginário infantil, visto que há uma fusão entre o real e o imaginário.
No que diz respeito à obra Sítio do Picapau Amarelo, trata-se de um lugar independente e autossuficiente que não pode ser localizado no mapa. Lá, tudo pode acontecer. O sítio é o próprio Brasil, visto que Monteiro Lobato preocupava-se com as questões nacionais.
Nas palavras de Zilberman (2005, p. 29-30), o sítio “[...] é brasileiro, como se fosse uma representação idealizada de nossa pátria. Em outras palavras, é o Brasil conforme o desejo de Lobato, um Brasil sonhado, mas sempre um Brasil”.
A Menina do Narizinho Arrebitado, de 1921, é o primeiro livro voltado para crianças; e Os Doze Trabalhos de Hércules, de 1944, é o último. Após a publicação de sua última obra, Monteiro Lobato dedicou-se a organizá-las, falecendo em 1948.
A Presença do Maravilhoso em Monteiro Lobato
Há muitos aspectos que podemos abordar na obra lobatiana, e focaremos, para este estudo, na presença do maravilhoso. Monteiro Lobato foi o responsável pela criação de uma vasta e insigne produção literária, que é composta por distintos espaços, personagens e “monstros”, os quais habitam o imaginário popular em diferentes regiões do país.
A respeito disso, a autora Eliane Yunes (1983, p. 18 e 47) menciona que, em relação à obra de Monteiro Lobato,
[...] sua incursão pelo maravilhoso na obra infantil, não tem de ‘irracional’: ao contrário, aproxima com habilidade insuperável o mágico e o real, fantasia e realidade [...]. Em Lobato, a intertextualidade constante das formações discursivas da história e da ficção anula as fronteiras entre o real e o sonho, o que aliás a psicanálise freudiana pouco antes já enunciada.
Especificamente na obra Sítio do Picapau Amarelo, há a presença do realismo mágico voltado à infância, bem como do maravilhoso, que possibilita o exercício do pensamento crítico.
As personagens Emília e Visconde de Sabugosa representam, por exemplo, a inserção do mágico no real, pois aparecem nas narrativas, muitas vezes, questionando e problematizando questões cotidianos que surgem no sítio. Vale pontuar que Monteiro Lobato utiliza o maravilhoso demodo alegórico e o realismo materialista de modo objetivo, para compor suas obras com questões voltadas à Moralidade, à Geografia Econômica, à História, à Política, à Filosofia e à Religião (YUNES, 1983).
Nas obras infantis de Monteiro Lobato, há uma retomada de personagens maravilhosos presentes nos contos populares da Europa, como Barba Azul, Branca de Neve, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho etc., recriando e inserindo essas histórias em um novo contexto, no qual as personagens do sítio estão presentes. Um exemplo dessa intertextualidade está presente em O Picapau Amarelo, obra na qual Barba Azul é mencionado na conversa de Pedrinho com Sancho Pança, retomada do romance de Dom Quixote:
Sancho logo fez camaradagem com Pedrinho, ao qual contou várias proezas de seu amo que não figuram no famoso livro de Cervantes. 
– Ah! Menino, este meu amo é na verdade o herói dos heróis. Ainda há pouco, ali na entrada das Terras Novas, espetou com a lança um homem muito feio, de grandes barbas azuis. 
– De barbas azuis? Então era o Barba-Azul! Bem feito! Esse homem é o maior especialista em matar mulheres. Já liquidou sete. Não estava de faca na mão? 
– Trazia na cintura uma enorme faca de ponta, sim. 
– Pois é isso mesmo. Com aquela faca o malvado já matou sete esposas – e matará a oitava, se aparecer outra tola que se case com ele. 
– Pois ficou bem espetado pela lança de meu amo – continuou Sancho. – Quis resistir; mas quando ia puxando a faca, foi alcançado no peito e derrubado (LOBATO, 1956, p.31-32).
A presença do maravilhoso em Monteiro Lobato se constrói, também, a partir da intertextualidade e da paródia dos contos de fada e da sua combinação com a obra Sítio do Picapau Amarelo. Com isso, o autor revela sua consciência crítica e literária, tendo em vista o panorama da literatura infantil brasileira, bem como a (re)leitura de obras estrangeiras para a formação literária dos leitores do Brasil.
Atividade
Leia o trecho a seguir:
De acordo com Coelho (2010, p. 249), os leitores de Monteiro Lobato “[...] sentiam identificados com as situações narradas; sentiam-se à vontade dentro de uma situação familiar e afetiva, que era subitamente penetrada pelo maravilhoso ou pelo mágico, com a mais absoluta naturalidade. Tal como Lewis Carroll fizera com Alice no País das Maravilhas, na Inglaterra de cinquenta anos antes, Monteiro Lobato o fazia no Brasil dos anos 20: fundia o Real e o Maravilhoso em uma única realidade”.
COELHO, N. N. Panorama Histórico da Literatura infantil/juvenil: das origens indoeuropeias ao Brasil contemporâneo. 5. ed. São Paulo: Amarilys, 2010, p. 249.
Considerando o excerto apresentado a respeito do maravilhoso nas obras de Monteiro Lobato, analise as afirmativas a seguir:
I. Nas obras de Monteiro Lobato é por meio da fantasia que se instala o realismo, fantasia essa que se une ao real.
II. Em suas obras, Monteiro Lobato utiliza o maravilhoso fantástico por meio da alegoria e o realismo materialista por meio da objetividade.
III. A inserção do mágico no real pode ser visualizada em Sítio do Picapau Amarelo por meio das personagens Boneca Emília e Visconde de Sabugosa.
IV. Utilizando a fórmula de Perrault e dos Irmãos Grimm, Monteiro Lobato criou suas histórias.
Está correto o que se afirma em:
Parte superior do formulário
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Feedback: A alternativa correta é a letra C, pois estão corretas as afirmativas I, II e III. Para Monteiro Lobato, em especial nas obras que se passam no Sítio do Picapau Amarelo, o fantástico mescla-se ao real, por meio das personagens, dos visitantes e das aventuras que acontecem. Assim, é possível observar a intertextualidade, a objetividade na linguagem e a presença da alegoria. A afirmativa IV está incorreta, pois Monteiro Lobato não seguiu a fórmula adotada por Perrault e pelo Irmãos Grimm, visto que criou suas histórias, buscando referência no folclore nacional e em suas inspirações.
Parte inferior do formulário
Clarice Lispector (1920-1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia que se naturalizou brasileira e pernambucana. Seu nome de batismo era Chaya Pinkhasovna Lispector, e aqui ela adotou Clarice Lispector. A autora formou-se em Direito e colaborou em jornais cariocas. Debruçou-se na escrita de diversos livros, e o primeiro deles foi Perto do Coração Selvagem, publicado em 1944.
Clarice Lispector publicou mais de 20 livros de diferentes gêneros, dentre eles romances, contos, crônicas etc. No que se refere à literatura voltada ao público infantil, publicou seu primeiro livro em 1967, intitulado Mistério do coelho pensante. Seguindo a linha infantil, publicou em 1969 o segundo livro, chamado A mulher que matou os peixes. Em 1974, lançou a obra A vida íntima de Laura. Em 1978, publicou seu quarto livro infantil, intitulado Quase de verdade. Por fim, publicou Como nascem as estrelas, em 1987.
A produção clariceana para crianças é composta por elementos de intertextualidades, paródias e paráfrases; além disso, apresenta um aspecto inovador, uma vez que firmou uma linguagem nova para esse gênero, que é voltado para um público específico.
Os livros infantis agradam a todos os leitores, visto que utilizam como narrador um adulto que dialoga com as crianças, deixando clara a sua condição e abordando temas pertinentes a todas as idades, como a liberdade, o direito de ser, a morte, a alienação, a inexorabilidade do tempo etc.
As obras literárias infantis de Clarice Lispector, nas palavras de Araújo (2013, on-line), “[...] sugerem que o adulto é que deve intrometer-se no mundo e nas sensações infantis para compreendê-los, possibilitando, assim, novas propostas de relacionamento criança-adulto-mundo”. Com isso, surge a presença de animais, os quais, muitas vezes, intitulam as histórias e são livres para viver no mundo (remetendo-se àquela essência primitiva, ancestral e inumana), livres da domesticação. Ao entrar na história, por meio da leitura, a criança, no plano da alegoria, está lado a lado com os “bichos convidados” pela narradora.
Adentrando a obra A vida íntima de Laura, por exemplo, verificamos que a personagem galinha reforça alguns questionamentos, os quais aparecem em outras obras, como “[...] a sinceridade no tratamento com a criança, o questionamento do próprio gênero ‘literatura infantil’, o equilíbrio entre a realidade e a fantasia, o papel da mulher, da dona de casa e o próprio absurdo desse cotidiano” (ARAÚJO, 2011, on-line).
Temos que mencionar que a infância é uma temática que aparece com frequência na prosa de Lispector, principalmente nos contos. Dentre as obras publicadas, as de literatura infantil não são consideradas menores e estabelecem um diálogo com as obras destinados ao público adulto. Podemos comparar e aproximar A vida íntima de Laura do conto clássico Uma galinha, visto que ambos apresentam um tema semelhante: o ser feminino. Além disso, os dois contos abordam a morte, porém de modo diferenciado, levando em consideração a linguagem e o público leitor.
Em A vida íntima de Laura, a autora aborda as vivências e o dia a dia da galinha Laura, bem como seus anseios e medos; por exemplo, tornar-se estéril e morrer. Essa temática aparece, também, em Quase de verdade, quando a figueira passa a refletir acerca da maternidade, da condição feminina etc. (ARAÚJO, 2013).
Em O mistério do coelho pensante há um mistério, característico do gênero policial, e o leitor, ao longo da narrativa, vai recebendo pistas do narrador, as quais podem ser verdadeiras ou falsas. No entanto, o narrador não sabe como resolver esse mistério. No texto, há uma espécie de paródia, que questiona os códigos instituídos pelo gênero e os valores, fazendo uma crítica aos modelos criando um novo modo de observar o objeto.
Há uma intertextualidade com Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carroll, e, como paráfrase de Alice, O mistério do coelho pensante reafirma valores da literatura infantojuvenil clássica, aquela que teve sua origemnas fábulas, nos mitos, nos contos de fada, ou seja, histórias de tradição oral, nas quais os mistérios e as magias são imprescindíveis para a sua existência.
Já a obra Como nasceram as estrelas trata-se de uma “coletânea” de histórias curtas, destinadas à ilustração um calendário. Para cada mês do ano, há uma narrativa que resgata elementos da cultura popular do Brasil, cujos protagonistas são: Saci-pererê, Uirapuru, Curupira, Iara, Negrinho do pastoreio, curumins, animais (sapos, jabutis, onças, macacos, jacarés), dentre outros, que lidam com as adversidades que colocam suas qualidades à prova. Nessas narrativas, a autora, por meio da paródia, traz a metáfora da perplexidade humana e de seus sentimentos diante dos fenômenos da natureza.
Quase de verdade, por sua vez, também traz alegorias de bichos, os quais apresentam tipos humanos, por meio de sentimentos e ações. A temática existencialista é muito presente nessa obra, uma vez que reflete sobre o medo, a morte, a existência, as diferenças sociais e individuais etc. Nessa obra, Clarice entende Ulisses, o cachorro, e digita as suas histórias
Já na obra A mulher que matou os peixes há uma personagem-narradora. Vejamos um trecho, a seguir:
	“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.
Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce: perto de mim nunca deixo criança ou bicho sofrer.
Pois logo eu matei dois peixinhos vermelhos que não fazem mal a ninguém e que não são ambiciosos: só querem mesmo é viver.
Pessoas também querem viver, mas infelizmente também aproveitar a vida para fazer alguma coisa de bom.
Não tenho coragem ainda de contar agora mesmo como aconteceu. Mas prometo que no fim deste livro contarei a vocês, que vão ler essa história triste, me perdoarão ou não.
Vocês hão de perguntar: por que só no fim do livro?
E eu respondo:
- É porque no começo e no meio vou contar algumas histórias de bichos que eu tive, só para vocês verem que eu só poderia ter matado os peixinhos sem querer.
Estou com esperança de que, no fim do livro, vocês já me conheçam melhor e me dêem o perdão que eu peço a propósito da morte de dois “vermelhinhos” – em casa chamávamos os peixes de “vermelhinhos”.
[...]
Eu sempre gostei de bichos. Tive uma infância rodeada de gatos. Eu tinha uma gata que de vez em quando paria uma ninhada de gatos. E eu não deixava se desfazerem de nenhum dos gatinhos”.
Fonte: Lispector (1999, s./p.).
Fonte: fonte da tabela
Considerando a literatura como um dos possíveis espaços para a experiência literária, podemos conceber o texto clariceano como um entrelaçamento de infindos e delicados fios constituídos por palavras, que são a matéria-prima da escrita (FERREIRA, 2016).
No que se refere aos textos da autora voltados ao público infantil, é possível observar que há algumas mudanças nos paradigmas sociológicos e culturais, uma vez que, por serem razoavelmente curtos, apresentam um efeito único, causando impressões positivas no leitor, como uma participação ativa na construção dos sentidos do texto.
As narrativas, no que diz respeito à forma textual, rompem com dogmas, valores e certas temáticas comuns em sociedade. Nas palavras de Walter Benjamin (1985 apud CARVALHO, 2006, p. 19-20), “[...] as mudanças dos mecanismos de produção [afetam] de maneira decisiva a arte de contar histórias”. Desse modo, os textos de Clarice Lispector requerem um leitor ativo, ou seja, aquele que pensa, discorda, confronta e negocia os sentidos apresentados no texto.
“Ao fazer o uso de histórias próximas à realidade do leitor, Lispector idealiza um leitor que se coloque em diálogo com as dificuldades presentes no texto” (CARVALHO, 2006, p. 81). Assim sendo, culturalmente, as narrativas possibilitam e colaboram para a formação de leitores críticos e preocupados com os sentidos implícitos e explícitos nos textos, desde a tenra idade, correspondente à infância.  
Ainda nas palavras da estudiosa, “[...] Clarice Lispector revoluciona a literatura ao criar essa nova conduta de leitura, responsável pela formação de um leitor profícuo, capaz de responder às exigências do estilo dialógico permeado de elementos metalinguísticos” (CARVALHO, 2006, p. 82).
Vale pontuar também que, para Lispector, não há uma diferença entre textos para crianças, jovens e adultos, visto que o mesmo texto se direciona a todos os públicos (QUEVEDO; AQUINO, 2010).
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“[...] ‘tornar-se criança’ é a forma que permite ao narrador clariceano afastar-se da hegemonia do olhar adulto; ‘tornar-se bicho’ é também um dispositivo que permite afastar-se da hegemonia do mundo racional humano, é tentar aproximar-se da vida de uma forma mai
A literatura infantil de Clarice Lispector, de modo similar à literatura destinada ao público adulto, procura, por meio da palavra em sua função poética, criar um diálogo entre textos, nos quais a vida, as relações sociais e os problemas do ser humanos podem ser
questionados pela fantasia, levando o leitor (pequeno ou grande) à reflexão.
A respeito das obras clariceanas voltadas ao público infantil, leia o excerto a seguir:  
“[...] embora o universo das crianças esteja em jogo, não se trata, em absoluto, de histórias protagonizadas por elas. As crianças representadas nas histórias de Clarice aqui consideradas, estando, ou não, inscritas de forma singularizada nos textos, certamente não podem ser consideradas personagens centrais dos acontecimentos narrados. Podem, às vezes, estar presentes em comentários digressivos que convidam o leitor para a cena da escrita, embora fazendo parecer que estão chamados para integrarem os acontecimentos da história”.
BARBOSA, S. M. Clarice Lispector e a literatura infantil. Cadernos de Letras da UFF - GLC, n. 27, p. 141-157, 2003, p. 143.
A respeito disso, analise as afirmativas a seguir:
I. Nas narrativas clariceanas há a presença de animais, que são como irradiadores das tramas.
II. Nos textos de Clarice Lispector, é possível traçar pontos intertextuais entre as narrativas adultas e as narrativas infantis.
III. Por escrever textos voltados à criança, Clarice opta por isentar reflexões sobre os problemas do ser humanos, privilegiando a fantasia.
IV. Como nas fábulas, nos contos de Clarice Lispector há uma moral da história explícita.
A partir das afirmativas apresentadas anteriormente, podemos dizer que está correto o que se afirma em:
Parte superior do formulário
a) IV, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Feedback: A alternativa correta é a letra B, pois estão corretas as afirmativas I e II. Nas narrativas de Clarice Lispector é recorrente a utilização de animais (galinha, peixe, coelho, cachorro etc.), os quais nem sempre assumem um protagonismo, mas podem desencadear a trama. Um fato curioso, ainda a respeito disso, é a possibilidade de verificar nos textos adultos uma intertextualidade com os textos infantis (e vice-versa), como pontes capazes de trazerem reflexões. As afirmativas III e IV estão incorretas, pois mesmo as histórias voltadas ao público infantil contêm reflexões a respeito da liberdade, do direito de ser, da morte, a alienação, da passagem do tempo, dentre outros. Clarice Lispector não utiliza a fórmula das fábulas, mas coloca o grande e o pequeno leitor para pensarem e repensarem aspectos sobre a vida e o social.Verificar Resposta
Iniciamos, caro(a) aluno(a), abordando alguns aspectos da vida de Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964), que foi poetisa, jornalista, professora e pintora. Foi uma das principais autoras da literatura brasileira, pois publicou cerca de 50 obras. Estreou na literatura com o livro Espectros. Embora mais conhecida como poetisa, debruçou-se, também, na escrita de contos e crônicas.
Traçando uma linha do tempo, Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de novembro de 1901. Perdeu o pai poucotempo depois de nascimento e a mãe após completar 3 anos de idade, sendo criada por sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Cursou o primário na Escola Estácio de Sá e recebeu das mãos de Olavo Bilac uma medalha do ouro, por ter se destacado ao longo do curso.
No ano de 1917, formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Além disso, dedicou-se à música, ao estudo de línguas e exerceu o magistério em escolas oficiais do estado. Era uma educadora.
Cecília Meireles envolveu-se com a pedagogia moderna, assumindo também uma coluna diária no jornal Diário de Notícias do Rio de Janeiro, intitulada Comentário. Posteriormente, dedicou-se também à Página da Educação, no mesmo jornal, entre 1930-1933, comentando em crônicas sobre a árdua tarefa de produzir literatura infantil, visto que tal estilo requer duas coisas ímpares: ciência e arte.
Concomitante a isso, especificamente em 1932, assinou o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, quadro da renovação educacional do país. Vale comentar que, no ano de 1934, fundou a primeira biblioteca infantil do Brasil, situada no Centro Cultural Infantil do Pavilhão Mourisco, em Botafogo, no Rio de Janeiro. No mesmo período, viajou para Portugal e apresentou nas cidades de Lisboa e Coimbra uma série de conferências que abordaram aspectos da cultura, literatura e do folclore brasileiro.
Produziu, no período de 1942-1945, uma quantidade significativa de crônicas, as quais foram publicadas no jornal A Manhã, cujas temáticas giravam em torno da cultura e da educação. Cecília Meireles envolveu-se muito com a educação e a docência, tanto que ministrou, em Belo Horizonte, um curso para professores da prefeitura, no ano de 1948. Tal curso resultou na publicação de Problemas da literatura infantil, no ano de 1952, obra na qual havia um panorama histórico, feito por Cecília Meireles, que citava autores como La Fontaine, Perrault, Fénelon, Júlio Verne, Defoë etc. (SILVA, 2013). Assim, ao longo desse período, foram surgindo inspirações para uma literatura voltada à criança.
A educadora Cecília Meireles preocupava-se com a formação do leitor. Assim, conforme pontuamos, a ciência requer uma formação profissional, que é a Pedagogia, na missão de elaborar textos voltados à criança, ou seja, é preciso conhecer o mundo infantil. Além disso, alguém que tenha o dom de transformar linhas textuais em obra de arte, tendo em vista um público específico, é imprescindível.
Assim, escrever para crianças requer um artista, visto que é ele que tem a sensibilidade e a intuição para criar e a capacidade de sugerir a beleza estética e, ao mesmo tempo, estimular a imaginação. No entanto, a capacidade artística deve estar de “mãos dadas” com a ciência, ou seja, deve-se conhecer os interesses e os gostos das crianças. Desse modo, o escritor saberá escolher e distribuir as palavras, as construções textuais e os assuntos, para que possa escolher, distribuir, graduar e apresentar os assuntos.
Cecília Meireles respaldou-se na concepção de infância da Pedagogia Moderna, cujos fundamentos filosóficos se encontram em Jean Jacques Rousseau, o qual postula que a infância só existe seguindo uma ordem natural. É preciso ser criança para ser “homem”, uma vez que adultos e crianças observam e sentem o mundo de diferentes óticas, sendo que esse olhar vai se aprimorando, conforme o amadurecimento do ser e a passagem do tempo.
De acordo com a Pedagogia Moderna, o adulto deve conceder proteção e direção à criança, e esta deve obedecer, visto que é concebida como um ser eticamente amoral, devido à ingenuidade e à falta de consciência. Assim, há um contrato estabelecido: direcionamento em troca de obediência.
Com a publicação do livro Criança, meu amor, no ano de 1924, Cecília Meireles deixa claro esse contrato. Tal livro foi indicado como obra de leitura para as escolas públicas do Distrito Federal. Nele, constam textos sob o título de Mandamento, os quais apresentam, de modo acessível, os princípios de Jean-Jacques Rousseau. Por exemplo: “Mandamento II – Devo amar e respeitar a professora como se fosse minha mãe. [...] Ela deseja ver-me instruído e bom; e para isso trabalha [...]. A professora é a minha proteção e o meu guia [...]” (MEIRELES, 1977, p. 35).
A Pedagogia Moderna, da qual Cecília Meireles faz parte, postula que a boa educação é aquela que estimula o amor pelo conhecimento, bem como a sua busca, por meio de métodos. Além disso, devia-se formar um homem novo, por meio de um humanismo universal, e a literatura infantil auxilia neste processo.
Um livro de literatura infantil é, antes de mais nada, uma obra literária. Nem se deveria consentir que as crianças freqüentassem obras insignificantes, para não perderem tempo e prejudicarem seu gosto. Se considerarmos que muitas crianças, ainda hoje, têm na infância o melhor tempo disponível da sua vida; que talvez nunca mais possam ter a liberdade de uma leitura desinteressada, compreenderemos a importância de bem aproveitar essa oportunidade. Se a criança, desde cedo fosse posta em contato com obras-primas, é possível que sua formação se processasse de modo mais perfeito (MEIRELES, 1979, p. 96).
Conforme bem expõe Corrêa (s./d., on-line): “A função da literatura infantil é dar à criança o acesso ao tempo da tradição, formando um humanismo básico e apontando para a direção do homem de compreensão universal, base da fraternidade”. A literatura infantil, então, deve trabalhar com o imaginário infantil, dar-lhe prazer espiritual e estético, além de apresentar-lhe exemplos de moral.
As obras de Cecília Meireles são compostas por poesia e musicalidade, características essenciais para se trabalhar a ludicidade em sala de aula. Sua obra infantil mais famosa é o livro Ou isto ou aquilo, publicado em 1964, considerada um clássico da produção poética para a infância. Trata-se de um livro de poemas, nos quais, por meio dos versos, o leitor toma ciência de que a vida é feita de escolhas, que podem ser fáceis e difíceis. Para conhecimento de sua poesia, vejamos um exemplo, a seguir.
	Ou isto ou aquilo 
Ou se tem chuva e não se tem sol 
ou se tem sol e não se tem chuva! 
Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva! 
Quem sobe nos ares não fica no chão, 
quem fica no chão não sobe nos ares. 
É uma grande pena que não se possa 
estar ao mesmo tempo em dois lugares! 
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, 
ou compro o doce e gasto o dinheiro. 
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... 
e vivo escolhendo o dia inteiro! 
Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranqüilo. 
Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Fonte: Meireles (1993, p. 815-816).
Os poemas que compõem a obra Ou isto ou aquilo apresentam uma preocupação da autora com a forma. Por isso, há ritmo, rimas adequadamente compostas, vocabulário seleto e a presença de figuras de linguagem. Sua produção poética ultrapassa as fronteiras de espaço e tempo, deixando um legado rico e significativo para a educação brasileira no que se refere à educação e à literatura.  
Nas palavras de Kikuti (2009, p. 26),
[...] fica claro que escrever para crianças nada tem em haver com simplificações ou com algo que possa ser considerado como uma literatura que não mereça prestígio e grande dedicação. Precisa-se, sim, de grandes poetas que, com a sensibilidade que lhes é característica, escrevam para crianças, pois, por meio de sua sensibilidade e de seu trabalho, conseguem captar a alma infantil.
Vale mencionar que a autora se dedicou a estudar o folclore. No período de 1920 até 1960, aventurou-se em outros países, debruçou-se na escrita de crônicas e foi reconhecida pela Academia de Letras, além de estar presente no rol dos grandes poetas do século XX. Nesse intervalo de tempo, publicou obras voltadas à criança, como Giroflê, Giroflá e A festa das letras. Após sua morte, foram publicadas as obras Olhinhos de Gato, Os pescadores e suas filhas e O menino azul, apenas para citar alguns exemplos.Cecília Meireles foi uma artista multifacetada, uma vez que articulou o literário ao pedagógico, considerando o leitor e tendo em vista proporcionar uma apreciação estética concomitante à experiência da imaginação e da ludicidade. Com isso, sua obra reforça que leitura e a imaginação não devem perder o caráter educativo e devem estar presentes no trabalho docente, em especial na educação infantil da contemporaneidade.
Leia o seguinte trecho:
“Cecília Meireles debateu inúmeros assuntos relacionados à educação e à literatura em jornais e conferências. Escreveu poemas e livros para crianças e livros didáticos adotados em escolas. Sua atuação de educadora e escritora, envolvida com questões da infância, foi importante no desenvolvimento da literatura infantil brasileira e nas discussões acerca da educação da criança”.
MELLO, C. S.; MACHADO, M. C. G. As contribuições de Cecília Meireles para a leitura e a literatura infantil. Rev. Anu. Lit. da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, v. 13, n. 2, 2008, p. 2.
Considerando o excerto apresentado sobre a vida e a trajetória de Cecília Meireles enquanto escritora e educadora, analise as afirmativas a seguir:
I. Cecília Meireles, ao longo de sua carreira profissional, preocupou-se com a formação do leitor e com a leitura de qualidade.
II. A primeira biblioteca de literatura infantil foi implantada em decorrência de ações de Cecília Meireles.
III. O escritor de literatura infantil, segundo Cecília Meireles, deveria dominar duas áreas: a ciência e a arte.
IV. Cecília Meireles preocupava-se com a formação da criança na infância e pregava isso.
A partir das afirmativas apresentadas anteriormente, pode-se dizer que está correto o que se afirma em:
Parte superior do formulário
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
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