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Direitos reais DP

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□ CÓDIGO CIVIL – LIVRO III - DO DIREITO DAS COISAS 
❶ DA POSSE (artigos 1.196 até 1.224, CC) 
① Da Posse e sua Classificação 
② Da Aquisição da Posse 
③ Dos Efeitos da Posse 
④ Da Perda da Posse 
❷ DOS DIREITOS REAIS (artigos 1.225 até 1.227, CC) 
⇒ Capítulo Único 
❸ DA PROPRIEDADE (artigos 1.228 até 1.276, CC) 
① Da Propriedade em Geral 
② Da Aquisição da Propriedade Imóvel 
⇒ Da Usucapião 
③ Da Aquisição da Propriedade Móvel 
⇒ Da Usucapião 
④ Da Perda da Propriedade 
❹ DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS 
⇒ Artigos 1.369 até 1.418 e artigo 1.510-A ao E, CC 
① Superfície 
② Servidões 
③ Usufruto 
④ Uso 
⑤ Habitação 
⑥ Direito do Promitente Comprador 
➆ Laje 
❺ DOS DIREITOS REAIS DE GARANTIA (artigos 1.419 até 1.510, CC) 
① Disposições Gerais 
② Penhor 
a) Da constituição do penhor 
b) Dos direitos do credor pignoratício 
c) Das obrigações do credor pignoratício 
d) Da extinção do penhor 
③ Hipoteca 
⇒ Disposições Gerais 
④ Anticrese
Parte 1 - POSSE
O instituto jurídico da posse, conforme se pode depreender do próprio Código Civil em vigor, encontra-se disciplinado a partir do artigo 1.196, no título I, do Livro III, da Parte Especial que trata sobre o Direito das Coisas. Evidente que, diante deste aspecto topológico do tema dentro do CC, considerando que o próprio diploma vem trazendo um rol do que denomina de Direitos Reais no artigo 1.225, poderia surgir alguma discussão sobre o fato de o instituto da posse ser ou não, efetivamente, um direito real, considerando que não consta no aludido artigo. Entretanto, apesar desta aparente controvérsia, atualmente, não existe grandes discussões relevantes sobre o fato de a posse ser um instituto de direito real, pois, estando dentro do livro que trata sobre o direito das coisas, considerando tratar-se o termo de um corolário do termo latim “res” que dá origem ao termo coisa, efetivamente, pode-se dizer que o instituto da pose, assim como a propriedade e os demais institutos constantes no rol acima mencionado, podem ser considerados como temas de direitos reais. Por outro lado, analisando o artigo 1.196 CC, evidencia-se que o legislador optou por não trazer uma definição ou um conceito do que se pode entender por posse, aproveitando a oportunidade para disciplinar o que se pode entender por possuidor, não trazendo uma definição também, mas, citando a situação em que o sujeito se encontra e pode ser considerado possuidor. Assim, denota-se que o possuidor é aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Referida normatização nos remete ao artigo 1.228 CC, que disciplina quais seriam esses atributos da propriedade e ali constatamos que tais atributos são o de usar, gozar (fruir), dispor da coisa ou reaver do poder de quem quer que injustamente a possua (posse) ou a detenha (detenção). Quanto ao conceito propriamente dito do instituto jurídico da posse, a doutrina não consolidou-se, ainda, de forma definitiva, considerando as peculiaridades e complexidades do tema, entretanto, isso não quer dizer que os doutrinadores não possuem seus próprios conceitos e definições, muitos deles, bastante interessantes e pertinentes. 
Outro tema importante a ser discutido no que tange ao instituto da posse, diz respeito à compreensão dos fenômenos jurídicos do IUS POSSESSIONIS E IUS POSSIDENDI, termos estes que podem ser compreendidos como fundamentais para entender sobre a proteção da posse e sua eventual relação com a existência de um título prévio que o respalde. Assim, podemos entender os institutos da seguinte forma: 
a) IUS POSSESSIONIS (posse formal) = é o direito de posse resguardado pelo sistema legal ao possuidor que não possui um título prévio que respalde o seu direito de posse, como por exemplo, o sujeito que ocupou-se de um peixe em um riacho em um logradouro público. 
b) IUS POSSIDENDI (posse causal) = neste caso, estamos falando da situação do sujeito que possui o respaldo legal do sistema por ter um título prévio e anterior que sustenta seu sujeito de posse, como por exemplo a situação do proprietário (título de propriedade – escritura pública registrado no Cartório de registro de Imóveis ou do locatário, que tem adquire a posse de um imóvel de um terceiro tendo como título um contrato de locação)
Conforme vimos acima, o livro III do CC em vigor inicia-se no tema tratando sobre o possuidor e não sobre a posse, entretanto, a posse será adquirida, efetivamente, por um sujeito que, ao adquiri-la será denominado possuidor, desta forma, oportuno compreendermos como que uma posse pode ser adquirida. Nesse sentido, apesar de considerarmos a existência de algumas teorias que tratam sobre o tema, de maneira predominante, existem, historicamente, duas grandes teorias tratando sobre a aquisição da posse, sendo elas a Teoria Subjetiva (Savigny) e a Teoria Objetiva (Ihering). Ambas as teorias se diferenciam considerando os elementos que a compõe. Desta forma, pode-se dizer que a Teoria Subjetiva leva em consideração a existência de um elemento subjetivo relevante, juntamente com um outro elemento objetivo, isto é, além do elemento objetivo (CORPUS) que está relacionado à coisa, ainda há o elemento subjetivo (ANIMUS DOMINI), que está relacionado à vontade (intenção) do sujeito de ser dono de uma coisa. Logo, para a Teoria Subjetiva, para se dar a aquisição da posse, devem estar presentes os dois elementos, ou seja, o Corpus, que pode ser considerado como o contato físico (poder) direto e imediato do sujeito com a coisa e o Animus Domini que é a vontade do sujeito de ser dono da coisa. 
Por outro lado, no que tange à Teoria Objetiva, não há essa prevalência de um elemento subjetivo a ser considerado conjuntamente com o objetivo para caracterizar a posse. Efetivamente, existe o elemento objetivo (CORPUS) com uma caracterização um pouco diferente (uma vez que não se trata do contato físico (poder) direto e imediato com a coisa e sim a disponibilidade da mesma), todavia, o elemento subjetivo refere-se à uma postura que o sujeito tem em relação á coisa, não querendo ser dono, mas, agindo como se dono fosse, tendo a finalidade precípua de exploração econômica da coisa. Considere-se que o animus da teoria objetiva não é o animus domini (vontade de ser dono) e sim, apenas uma vontade (animus) de agir em relação á coisa, denominada por alguns doutrinadores como affectio tenendi. 
Outro tema importante na compreensão da posse, é um instituto que, em alguns aspectos, guarda alguma semelhança com a posse, entretanto, distingue-se dela conforme algumas características próprias de sua constituição. Estamos falando do instituto da Detenção, disciplinada no artigo 1.228 do CC, que também é denominada pela doutrina de fâmulo da posse (servo da posse). Referido instituto trata-se daquela situação em que um sujeito, que possa aparentar estar na posse de uma coisa, na verdade, está, apenas, conservando a posse em nome de alguém, em relação de dependência quanto a este sujeito e cumprindo ordens e instruções suas, como por exemplo as situações do caseiro em relação a um sítio de um proprietário que o contrata para trabalhar no local ou do motorista particular em relação ao carro de seu patrão. O artigo 1.198, § único, vem tratar da presunção de detenção, ou seja, àquela situação em que o sujeito age conforme descrito no caput do artigo, acima discriminado, em relação a coisa e ao bem. Outra situação que deve ser considerada é a disciplinada na primeira parte do artigo 1.208 CC, onde, da mesma forma que a detenção, pode dar a impressão de que se trata de posse, mas, na verdade, o que existe são atos de mera permissão ou tolerância, os quais, não induzem posse. No que tange ao momento de aquisição da posse, o artigo 1.204 CC, prescreve que se dá a partir do instante que se torna possível o exercício, em nome próprio (pela própria pessoa ou por um representante [com ou sem mandato – desde que ratificado]), de qualquer dos poderes inerentes à propriedade, ou seja, como já dissemos, atributosdo artigo 1.228 CC (poderes). Outra coisa importante a se destacar diz respeito ao que disciplina o artigo 1.206 CC, que trata sobre a compreensão de que a posse transmite aos herdeiros (herança) ou legatários (legado) do possuidor com o mesmos caracteres, isto é, quando se trata de transferência de uma coisa de alguém em virtude de seu falecimento, assim, nos termos do artigo 1.203 CC, como a posse mantem o mesmo caráter com que foi adquirida (salvo prova em contrário), se a posse foi adquirida com algum vicio (injustiça – art. 1.200 CC), mantem-se injusta no caso acima. Por fim, é importante destacar o que menciona o artigo 1.209 CC, que trata sobre a presunção (relativa) de posse dos bens móveis, que se depreende das circunstâncias em que estes se encontrem no interior de bens imóveis, ou seja, o sujeito que é possuidor de bens imóveis, presume-se (até prova em contrário) possuidor dos bens móveis que encontram-se em seu interior. 
DA CLASSSIFICAÇÃO DA POSSE
No que tange ao tema relacionado à classificação da posse, estamos falando a respeito de uma forma de compreender as formas e características em que a posse se apresenta de maneira a tentar diferencia-las e contrapô-las considerando estas características. Algumas modalidades de classificação se depreendem do próprio CC e outras são trazidas pela doutrina especializada. Desta forma, podemos classificar a posse da seguinte forma: 
Posse Direta (ou imediata) e Pose Indireta (ou mediata) – artigo 1.197 CC: Para entender melhor esses conceitos acima, importante entender o conceito de Posse Plena, que é àquela oriunda do proprietário, que possui o domínio, o uso, o gozo, a fruição (gozo), a disposição, a reivindicação, enfim, todos os poderes sobre a coisa contra quem quer que seja. Esse proprietário tem o direito de desdobrar (desmembramento) essa posse plena, transferindo para terceiros, alguns dos poderes acima (ex. locação, usufruto etc.), neste caso, ele, como dono da coisa e nu proprietário, passa a ser o possuidor indireto (posse mediata) e o outro sujeito que passa a ter a posse direta (posse imediata) do bem passa a ser o possuidor que tem o contato físico direto e imediato com o bem. Nesse sentido, é importante destacar a característica da temporariedade desta situação e que ambas as modalidades de posse coexistem, não podendo um deles usurpar o direito de posse do outro que legalmente o exerce. Desta forma, é importante entender o que seria a posse direta e indireta na nomenclatura do CC (art. 1.197). 
Posse Exclusiva e Composse
Exclusiva é a posse de um único possuidor. É àquela em que uma única pessoa, física ou jurídica, tem, sobre a mesma coisa, posse plena, direta e indireta (ex. proprietário que mora sozinho em seu imóvel ou possuidor de um celular). 
Composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, em coisa indivisa, poderes possessórios sobre o mesmo bem. São dois ou mais possuidores que tem, sobre a mesma coisa, posse direta ou posse indireta (ex. compra de imóvel por marido e mulher e em caso de herança, os coerdeiros antes da partilha). Neste caso, também, nenhum dos dois pode excluir o direito de posse do outro, conforme se depreende do artigo 1.199 CC. Em tese, cada possuidor possui uma fração ideal do bem. Entretanto, qualquer deles tem o direito de defender a integralidade do bem contra terceiros e contra o próprio com possuidor, caso queira exercer a posse exclusiva do bem.
Posse Justa e Posse Injusta – artigo 1.200 CC
Posse justa é àquela isenta de vícios (violência, clandestinidade ou precariedade), àquela que não repugna ao direito, por ter sido adquirida por algum dos modos previstos na lei (art. 1.200 CC). Posse Injusta, por oposição, é a posse que foi adquirida viciosamente, ou seja, por violência ou clandestinidade ou por abuso do precário. Violência – é o ato coercitivo moral ou fisicamente, ou seja, o sujeito adquiriu a posse de outrem mediante o uso da força. Ao contrário disso é a posse mansa e pacífica (sem oposição). Clandestinidade – é a posse do que furta um objeto ou ocupa um imóvel de outro às escondidas. É àquela obtida furtivamente, que se estabelece sub-repticiamente, sorrateiramente, às ocultas da pessoa de cujo poder se tira a coisa (ex. o ladrão que furta, obtém a coisa clandestinamente e o ladrão que rouba, obtém a coisa violentamente). Precariedade – é a situação do sujeito que adquire a coisa mediante abuso de confiança do outro. Por exemplo, quando o sujeito se nega a devolver a coisa, findo o motivo que justificava sua posse até então, passando a possuí-la em nome próprio. O vicio não surge no momento da aquisição da posse (como no caso da violência e clandestinidade), surge no momento da negativa da devolução. 
Posse de Boa-Fé e Posse de Má-Fé – artigo 1.201 CC
A boa-fé trata-se de um dos princípios básicos do Direito, incluindo ai o Direito Civil e até do Direito Processual Civil. 
Decorre da consciência de ter adquirido a posse por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. O sujeito, nos termos da lei, ignora que existia um vício ou obstáculo que impediria ele de adquirir a coisa. É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé. Para se verificar se uma posse é justa ou injusta, o critério, entretanto, é objetivo: examina-se a existência ou não dos vícios apontados. Importante salientar que a existência de um justo título faz presumir a existência de boa fé, salvo prova em contrário (art. 1.201, §único, CC). Por outro lado, a posse pode deixar de ser de boa fé se evidencia que o possuidor não mais ignora que possuí indevidamente. Justo Título – é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo desta transmissão (ex. escritura de venda e compra assinada por menor de 17 anos sem assistência dos representantes legais, pode ser anulada. Porém, a posse do adquirente é de boa-fé, pois há justo título). O justo título dá uma presunção juris tantum em favor do possuidor, que admite a prova em contrário no sentido de demonstrar que apesar do justo título, o possuidor sabia que a posse era injusta. 
Posse Nova e Posse Velha
Temos nesta classificação um aspecto doutrinário. Posse Nova é a de menos de ano e dia. Posse Velha é a de ano e dia ou mais. Para se apurar esse fato, leva-se em consideração a data da aquisição da posse e a data em que se pretende apurar se esta é nova ou velha. Todavia, há outras implicações processuais com termos que se assemelham à classificação acima, entretanto, com algumas características próprias que impedem a confusão entre os temas. O art. 558 NCPC prescreve que em demanda possessória ajuizada a menos de ano e dia (Ação de Força Nova) seguirá o rito especial de procedimento possessório e, no caso de ajuizada a mais de ano e dia (Ação de Força Velha), o procedimento será o ordinário, ou seja, continua a demanda com caráter possessório, entretanto, sem possibilidade de obtenção de liminar. Há diferença entre posse nova e posse velha e ação de força nova e ação de força velha. Para fins de liminar, o que conta é se a ação é de força nova ou de força velha. Para saber, deve ser levada em consideração a data do esbulho ou da turbação em relação à data em que a ação fora ajuizada. Se a ação fora distribuída anteriormente ao prazo de ano e dia ou não. 
DOS EFEITOS DA POSSE
Há vários autores que discutem se seriam vários, apenas um, nenhum ou alguns os efeitos da posse. A par dessa discussão, nos termos das normas contidas no próprio CC em vigor, podemos destacar os principais efeitos da posse como os seguintes: 
A Proteção Possessória
No que tange à proteção possessória, podemos tratar sobre as formas e medidas que o sistema disponibiliza para o possuir para que ele possa utilizar na proteção de sua posse em face de terceiros.Em princípio, é possível afirmar que a proteção possessória pode se dar de duas formas principais: a) Autotutela (autodefesa ou defesa direta): forma de defesa em que o possuidor, por suas próprias forças, de maneira moderada e proporcional, mantém-se (não perdeu a posse ainda) ou restitui-se (acabou de perder) na posse logo após ter sido, respectivamente, turbado ou esbulhado. b) Heterotutela: Demandas Possessórias – espécies de procedimentos processuais criados pelo sistema de maneira a viabilizar que o possuidor possa socorrer-se do Poder Judiciário para que lhe dê uma tutela jurisdicional protegendo sua posse em face de terceiros; As ações tipicamente possessórias são denominadas de interditos possessórios. 
Ações Possessórias (artigos 554 e seguintes do CPC)
Reintegração de posse – em casos de perda da posse (esbulho); Manutenção da Posse - em casos de perturbação ou incomodo (turbação); Interdito Proibitório – em casos de ameaça à posse (por meio de turbação ou esbulho). que tange às ações possessórias é importante destacar que se discute apenas a posse (causa de pedir e pedido), não havendo que se falar em eventuais alegações de propriedade ou outros eventuais direitos sobre a coisa. Na eventualidade de mais de uma pessoa se dizer possuidora, provisoriamente, a prioridade na manutenção na coisa é a que a que a tem em seu poder físico e direto (salvo se evidenciar-se que obteve das outras por alguma forma de vicio). 
A Percepção dos Frutos
Neste efeito, estamos falando a respeito de quem tem direito aos frutos (acessórios) que um bem (principal) produzir em uma situação onde um sujeito tem a posse de um bem de outra pessoa. E, para apurar isso, deve ser avaliado se o possuidor da coisa está de boa fé ou de má fé, pois, dependendo da situação, os efeitos serão diversos para cada um deles. Antes de mais nada, é importante compreender o que são frutos. Frutos: são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte (ex.. frutas das arvores, leite, cereais, crias dos animais etc); Podem ser naturais [frutas das arvores], industriais [produção de uma fábrica] e civis [aluguel]; Em princípio, os frutos pertencem ao proprietário, como acessório da coisa, todavia, apenas quando o possuidor está de boa fé no bem principal, tem direito aos frutos (acessórios) enquanto a boa fé permanecer. Por outro lado, no que tange ao possuidor de má fé, responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé. 
A Responsabilidade pela Perda ou Deterioração da Coisa
Neste efeito, estamos falando sobre a situação em que um sujeito está na posse de um bem de terceiro e, ao devolvê-lo, constata-se que o bem se perdeu ou fora deteriorado. Neste caso, a discussão é quais os limites da responsabilidade deste sujeito que possuía o bem. Se o possuidor de boa fé não deu causa a perda ou deterioração da coisa, não responde. Ou seja, dar causa significa ter agido com dolo ou culpa. O possuidor de má fé responde ainda que não deu causa, mesmo se foi um acidente, salvo se comprovar que a perda ou deterioração se daria, mesmo estando na posse do reivindicante. 
A Indenização das Benfeitorias e o Direito de Retenção
No tocante ao estado da coisa entre o dia em que a adquiriu o possuidor e o dia em que deve restitui-la, podem acontecer 3 hipóteses: a) A coisa se encontra no mesmo estado (nada a fazer); b) A coisa se deteriorou ou foi danificada (estudo acima); c) A coisa foi melhorada pelo possuidor, em razão das despesas feitas para conserva-la ou porque nela se edificou e se plantou; Tipos de benfeitorias (artigo 96 CC): Necessárias – conservar o bem (ex. curar enfermidade de animais) ou evitar que se deteriore (ex. adubação); Úteis – aumentam ou facilitam o uso do bem (ex. acrescer um banheiro ou uma garagem); Voluptuárias – mero deleite ou recreio [não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor] ex. jardins, fontes, piscina; 
Regras de Indenização das Benfeitorias:
Se de boa fé, o sujeito que fez as benfeitorias no bem de terceiro tem direito a ser indenizado das benfeitorias necessárias e uteis. E poderá levantar as voluptuárias (se possível – se não estragar a coisa ou se o reivindicante não quiser ficar com ela – pagando o valor correspondente). Tem direito de retenção. Se de má fé, o possuidor que efetuou as benfeitorias terá direito a ser indenizado somente em relação as benfeitorias necessárias. Não tem direito a Retenção e nem levantar as voluptuárias. 
Direito de Retenção
Trata-se de um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade de continuar a deter a coisa alheia, mantendo-a em seu poder até ser indenizado pelo crédito, que se origina, via de regra, das benfeitorias ou de acessões por ele feitas. Trata-se de um meio coercitivo, onde o proprietário e pressionado a pagar logo para ter restituída a coisa para si. A Jurisprudência considera o direito de retenção como o poder jurídico direto e imediato de uma pessoa sobre uma coisa, com todas as características de um direito real. 
Perda da Posse
Estabelece o artigo 1.223 CC que perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196 CC, ou seja, qualquer um deles que o possuidor exercia. Por fim, é importante destacar que só se considera efetivamente perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido, conforme preceitua o artigo 1.224 CC.
Parte 2 - DOS DIREITOS REAIS
Conforme esclarecido no estudo da posse anteriormente, o CC em vigor trata do estudo da posse no Título I, do Livro III da sua Parte Especial, todavia, apenas no Título II passa a falar efetivamente sobre os Direitos Reais, como se, a partir de então, apenas e tão-somente, os direitos reais seriam abordados. E o legislador faz isso de uma forma bem simples, ou seja, apenas elencando um rol de direitos reais. E em seu artigo 1.225, o CC de forma direta e objetiva elenca o referido rol de incisos em que traz os institutos jurídicos que o legislador entendeu pertinente classifica-los como modalidades de direitos reais. Desta forma, descreve como se tratando de direitos reais os seguintes institutos: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese; XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso; XIII - a laje. Todavia, este Capítulo Único do Titulo II da Parte Especial do CC, não se resume a trazer o rol de direitos reais. Além disso, neste Capítulo é possível encontrar como que o legislador entende, basicamente, que os direitos reais podem ser adquiridos. Desta forma, é possível perceber nos artigos 1.226 e 1.227 do CC o tratamento sobre as formas de aquisição dos bens móveis e imóveis, respectivamente. 
No caso das coisas móveis, os direitos reais quando constituídos, ou transmitidos por ato entre vivos (ex. compra e venda), só se adquire com a tradição. Por outro lado, no que tange às coisas imóveis, também quando constituídos ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos, conforme se depreende dos artigos 1.245 – 1.247 CC, que trata sobre o tema. Importante destacar que o próprio artigo em comento faz uma ressalva dos casos expressos no próprio Código onde não cabe aludido registro. Importante dar uma estudada no Livro II da Parte Geral do CC, quando o referido diploma vem trazendo as diferentes classes de bens e, dentre os bens considerados em si mesmos, trata a respeito dos artigos 79 a 84, que disciplinam sobre os bens que podem ser considerados móveis e imóveis. 
Parte 3 - DA PROPRIEDADE
Conformeconstatado no rol do artigo 1.225 CC, dentre os direitos reais arrolados, o primeiro deles, logo no primeiro inciso do artigo, vislumbra-se a presença do direito real de propriedade. E isso não é por acaso. De fato, a propriedade é considerada pelos estudiosos do tema o instituto de direito real de maior relevância dentre todos, considerando suas peculiaridades, completude e abrangência. Vislumbra-se a relevância do tema ao passo que o mesmo é abordado em vários momentos na própria CF/88, conforme se pode depreender do art. 5º, caput (direito fundamental) e incisos XXII (garantia fundamental) e XXIII (dever fundamental), bem como, artigo 170, II e III (princípios gerais da atividade econômica), artigo 182, §2º (politica urbana) e artigo 184 (politica agrícola e fundiária). Desta forma, o Titulo III da parte especial do CC passa a tratar do instituto jurídico de direito real da propriedade. E já no capitulo I, no artigo 1.228, o CC vem trazendo não necessariamente um conceito de propriedade, mas, assim como fez com a posse, traz uma compreensão dos atributos que o proprietário possui sobre uma determinada coisa. Nesse sentido, vê-se que os poderes do proprietário referem-se à faculdade de usar (jus utendi), gozar (jus fruendi) e dispor da coisa (jus abutendi), e o direito de reavê-la (rei vindicatio) do poder de quem quer que injustamente a possua (posse) ou detenha (detenção). 
Apesar dos atributos acima poderem ser interpretados com alguma amplitude e abrangência, um dos principais limites ao exercício de tais direitos é estabelecido pelo que modernamente é denominado de principio da função social da propriedade, sendo, alguns de seus parâmetros os estabelecidos nos parágrafos 1º e 2º do artigo 1.228, ou seja, exercer o direito de propriedade em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, bem como, desde que esse exercício traga ao proprietário alguma comodidade ou utilidade e não seja animado com a intenção de prejudicar outrem. Evidentemente, além dos limites contidos no que se compreende por função social da propriedade, a moderna compreensão do direito de propriedade implica na ciência de que existem outros fatores respaldado em relevantes interesses sociais e coletivos que devem ser considerados quando em conflito com o direito individual e particular da propriedade, como se pode depreender dos institutos da desapropriação (art. 1.228, §3º) e da possibilidade da privação da propriedade na situação narrada no §4º deste mesmo artigo. Ainda, é bom frisar os limites objetivos espaciais em que a propriedade se entende, considerando o aspecto vertical, ou seja, o espaço aéreo (altura) e o subsolo (profundidade), afinal, no que tange aos limites horizontais, estes, via de regra, são bem limitados, considerando a relação com vizinhos e confinantes (artigo 1.229 CC). Por fim, no que tange a duas características fundamentais da propriedade, é importante destacar uma relevante presunção a favor do aludido direito real, qual sejam a de que, até prova em contrário, a propriedade é plena (reunião de todos os atributos) e exclusiva (domínio para uma única pessoa de um único bem), conforme artigo 1.231 CC. 
DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
Nos termos do Capítulo II do Titulo III já tratado acima, o CC vem abordando sobre as formas de aquisição da propriedade imóvel. Pode-se depreender que o tema é tratado em e seções, ou seja, na seção I, trata sobre a primeira forma de aquisição, qual seja, a Usucapião, na seção II trata sobre a segunda forma que é o Registro do Título e na seção III vem abordando sobre a terceira forma, ou seja, as Acessões. No caso das Acessões, podemos subdividi-las em naturas ou artificiais. As Acessões naturais são: formação de ilhas; aluvião, avulsão, álveo abandonado e as Acessões artificiais são construções e plantações. Importante o estudo dos temas acima (registro do título e acessões). No presente tópico, abordaremos mais especificamente o tema relacionado à primeira seção, qual seja, o instituto jurídico da Usucapião. Desde já, considerando a importância e relevância das outras duas formas de aquisição de bens imóveis, fica a sugestão do estudo para conhecimento e aprendizagem. Conforme destacado acima, a Usucapião é apenas uma dentre as formas de aquisição de direito de propriedade. Trata-se de uma modalidade originária de aquisição da propriedade em que o sujeito adquire uma coisa pelo uso, considerando o decurso de um lapso temporal estabelecido na legislação segundo critérios de politica legislativa, ou seja, para cada modalidade de Usucapião o legislador optou por estabelecer uma prescrição aquisitiva, ou seja, um determinado prazo onde o sujeito tem que ficar na posse de um bem para poder adquiri-lo. No que tange a esse prazo que o possuidor terá que completar na posse do bem para adquiri-lo, a legislação destaca a possibilidade deste acrescer ao seu tempo de posse o tempo de posse de seus antecessores, desde que ambas as posses sejam continuas e pacificas (e no caso das ordinárias, desde que ambas sejam de boa-fé). Neste caso acima, importante destacar o art. 1.207 CC, onde estabelece que o sucessor universal (causa mortis ou inter vivos) continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular (também causa mortis ou inter vivos) é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Ainda, importante destacar que para fins de caracterização da Usucapião, não se pode descartar a eventual ocorrência das causas que possam obstar (art. 197 CC), suspender (art. 201 CC) ou interromper (art. 202 CC) a prescrição (no caso, evidentemente, estamos falando de prescrição aquisitiva). Já adentrando mais especificamente nos requisitos do instituto para fins de caracterizá-lo, é importante, antes de mais nada, tratar sobre alguns elementos que podem ser caracterizados como pressupostos fundamentais para a constituição do aludido direito. Dentre eles, podemos destacar que a coisa que será usucapida, deverá ser hábil para tanto, ou seja, o bem tem que ser suscetível de ser usucapido. Não é possível usucapir bens públicos, órgãos do corpo humano, o ar, a água do mar etc. Há também um pressuposto fundamental, conforme já esclarecido acima, que é o fator tempo, ou seja, o lapso temporal decorrido desde o momento da aquisição da posse até o momento em que o sujeito entende que já faz jus ao direito de domínio oriundo do instituto da usucapião. Trata-se, também, na doutrina, como uma modalidade de prescrição aquisitiva. Outro elemento importante, além da coisa hábil, pode ser mencionado a modalidade característica de posse que deve ser considerada para fins de usucapião, ou seja, teremos aqui uma modalidade peculiar de posse que contém em si alguns elementos próprios que poderão caracteriza essa posse como a denominada “ad usucapionem”. Para tanto, essa posse tem que conter uma intenção especifica do possuidor, denominada animus domini, ou seja, a vontade de ter a coisa para si como dona, isto é, adquirir o domínio do bem. Além deste aspecto subjetivo, ainda existem duas características peculiares nessa posse, quais sejam, deve ser contínua, ou seja, sem interrupção (no que tange ao decurso do prazo) e, por fim, sem oposição (mansa e pacífica). Há um outro elemento característico que pode ser considerado um pressuposto, mas que, todavia, não se aplicará a todas as modalidades de usucapião, que é o que a legislação denomina de justo titulo e boa fé. No caso em tela, é importante destacar que, no caso da Usucapião, estes institutos do justo titulo e boa fé adquirem características próprias, que devem ser melhor analisadas e podem diferenciar em alguns aspectos da compreensão tradicional de justo título e boa fé. Há, ainda, uma outra discussão interessante sobre a questão da posse, qual seja, se esta posse, para fins de caracterizar um dos elementos da Usucapião, tem que ser justa. Isso porque a posse justa, por um lado, não deixa de ser posse, logo, se for com animus domini, sem oposição e continua, já seria suficiente. Por outro lado, há quementenda que a posse, enquanto não é justa, sequer posse é, conforme disciplina o artigo 1.208 CC, segunda parte, esclarecendo que não autorizam a aquisição da posse os atos violentos ou clandestinos, senão, depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Por fim, uma vez preenchendo todos os requisitos legais estabelecidos na legislação, poderá o possuidor, requerer ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel (art. 1.241 CC), sendo que, a declaração obtida na forma deste artigo constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de Imóveis (§ único, art. 1.241 CC). 
DAS ESPÉCIES DE USUCAPIÃO
Após as considerações gerais sobre o instituto, agora é oportuno passarmos a estudar as principais modalidades de Usucapião que vem disciplinado no CC em vigor. Vamos começar a estudar a modalidade de Usucapião com o maior prazo de todas. Trata-se da denominada doutrinariamente de Usucapião Extraordinária, cujos requisitos vem disciplinados no artigo 1.238 CC. Tal modalidade de Usucapião é a com o maior lapso temporal para sua caracterização, ou seja, nos termos do aludido artigo o prazo mínimo que o sujeito tem que ter de posse desde o momento de sua aquisição até o momento em que passará a ter referido direito de domínio será de 15 (quinze) anos. 
Aqui, aplica-se a regra geral da posse “ad usucapionem” ou seja, essa posse, além do lapso temporal acima, deve ser contínua (sem interrupção), sem oposição e complementado pela vontade de ser dono do imóvel (animus domini). Considerando o prazo longo, nesta modalidade os requisitos do justo titulo e da boa fé não serão exigidos. Uma vez preenchido os requisitos acima, o sujeito poderá requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Nesta modalidade de Usucapião, existe a possibilidade deste prazo de 15 (quinze) anos ser reduzido em 05 (cinco) anos, passando para 10 (dez) anos no total. Isso é o que disciplina o parágrafo único do aludido artigo, ao disciplinar que o prazo de 15 anos reduzir-se-á a 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Ou seja, estamos dias das denominadas posse-moradia ou posse-trabalho, dando à posse uma função social. Além da Usucapião Extraordinária, há uma outra modalidade de Usucapião bem semelhante a ela, todavia, com duas peculiaridades características que as diferencia, quais sejam, um prazo menor e dois requisitos a mais. Assim, o artigo 1.242 CC, vem trazer a denominada Usucapião Ordinária, prescrevendo que o sujeito pode adquirir a propriedade do bem imóvel se estiver na posse com a intenção de ser dono do mesmo (animus domini) e de maneira continua (sem interrupção) e incontestável (mansa e pacífica), exercê-la por um lapso temporal de 10 (dez) anos. Neste caso, considerando a redução de 05 (cinco) anos em relação à Usucapião Extraordinária, o que facilitou a situação para o possuidor, o legislador acresceu outro requisito tornando um pouco mais complexa a aquisição. Assim, estabeleceu como requisito que exista, além dos requisitos acima, o que denominou de justo titulo e boa fé. Desta forma, uma vez preenchendo os requisitos acima discriminados, o possuidor, da mesma forma, poderá adquirir o direito de propriedade sobre o bem móvel que estiver possuindo. No caso da Usucapião Ordinária, da mesma forma que a extraordinária, o legislador também optou por trazer uma possibilidade de redução do prazo de 10 (dez) anos para 05 (cinco) anos, qual seja, a situação disciplinada no parágrafo único do artigo em questão. Assim, para obter este benefício de redução, deve o possuidor adquirir o imóvel onerosamente (ex. compra e venda), com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico (função social). Desta forma, teremos ai uma modalidade de Usucapião Ordinária com um prazo reduzido de 05 (cinco) anos. Outras importantes espécies de Usucapião, são as disciplinadas nos artigos 1.239 CC e 1.240 CC, que podem ser denominadas, doutrinariamente, de modalidades de Usucapião Especial Constitucional, nomenclatura esta oriunda do fato de serem tipos de Usucapião que, além de serem disciplinadas no CC, ainda estão normatizadas na CF/88, respectivamente, nos artigos 191 e 183 do Diploma Constitucional. Desta forma, a Usucapião Especial Constitucional disciplinada no artigo 1.239 CC e artigo 191 da CF/88 receberam a denominação de Usucapião Rural (ou pro labore), considerando os requisitos e a localização do imóvel a ser adquirido pelo possuidor. Assim, o artigo 1.239 CC estabelece que para caracterizar a Usucapião em tela deverá o possuidor preencher os seguintes requisitos: a) não ser proprietário de nenhum imóvel (seja rural ou urbano); b) ter ânimos domini; c) posse por um prazo de 05 (cinco), ininterruptos (continuidade), sem oposição (posse mansa e pacífica); d) imóvel em uma área de terra em zona rural; e) bem com tamanho de até 50 (cinquenta) hectares; f) tornar a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família; e g) tendo nela sua moradia. Desta forma, uma vez preenchendo todos os requisitos acima, o sujeito obterá o direito de propriedade sobre o mencionado bem. Neste caso, é importante salientar que ele poderá obter este direito mais de uma vez, desde que nas vezes subsequentes, preencha, novamente, quanto ao novo bem que pretender adquirir, todos os requisitos acima. Por outro lado, existe também a Usucapião disciplinada no artigo 1.240 CC, espelhando o mesmo instituto do artigo 183 CF/88, qual seja, a denominada Usucapião Urbana (ou pro moradia), também considerando os requisitos legais e a localização do bem. Nesta modalidade, alguns requisitos são bem semelhantes à outra modalidade de Usucapião Especial, entretanto, como se pode depreender, com alguns diferenças. Assim, estabelece o aludido artigo as seguintes características para o possuidor adquirir a propriedade do bem imóvel nesta modalidade de Usucapião: a) não ser proprietário de nenhum imóvel (seja rural ou urbano); b) ter ânimos domini; c) posse por um prazo de 05 (cinco), ininterruptos (continuidade), sem oposição (posse mansa e pacífica); d) imóvel em uma área urbana; e) bem com tamanho de até 250 (duzentos e cinquenta) m²; f) tornar a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família; e g) tendo nela sua moradia ou de sua família. Nesta modalidade, o legislador optou por esclarecer que o título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. Por fim, diferentemente da modalidade rural, aqui o legislador deixou bem claro que o direito de domínio em questão não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Derradeiramente, é importante tratarmos de uma outra espécie de Usucapião incluída pelo legislado no CC posteriormente à publicação do diploma por meio da Lei 12.424/11, acrescendo ao artigo 1.240 CC uma letra “A”, criando o artigo 1.240-A, CC. Referida modalidade de Usucapião passou a ser nomeado pela doutrina como Usucapião Familiar (ou de meação), considerando as peculiaridades e requisitos do instituto. Diante disso, é importante entender os requisitos deste tipo de Usucapião, nos termos do mencionado artigo acima. Para o sujeito ter direito à Usucapião nesta modalidade, deverá, necessariamente, preencher os seguintes requisitos: a) posse no bem por um prazo de, no mínimo, 2 (dois) anos; b) posse ininterruptamente (continua) e sem oposição (mansa e pacifica); c) posse direta e com exclusividade; d) imóvel estar em área urbana; e) tamanho do imóvel de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados); f) propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro; g) abando do lar por parte do cônjuge/companheiro(a); h) utilização do imóvel para sua moradia ou de sua família; i) não ser proprietário de outro imóvel (urbano ou rural).Neste caso, não se faz necessário o animus domini (desejo de ser dono), uma vez que a pessoa já é dona, em comunhão com o parceiro (cônjuge/companheiro). Desta forma, como ambos já são donos do imóvel, se um deles abandoná-lo, o outro ficará sozinho ou com sua família no bem, logo, adquirirá a meação (porcentagem de direito de propriedade do que abandonou o lar), passando a ter o domínio integral do imóvel. Por fim, é importante destacar que, nessa situação, o direito previsto nesta modalidade de Usucapião, também não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez, assim como a Usucapião Urbana acima mencionada.
DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
No que tange à aquisição da propriedade móvel, o CC vem tratando no Capítulo III do Titulo III a respeito. E, conforme se pode depreender das seções contidas no aludido capítulo, o direito real de propriedade sobre bens móveis, podem ser adquiridos por Usucapião (Seção I), Ocupação (Seção II), Achado do Tesouro (Seção III), Tradição (Seção IV), Especificação (Seção V) e Confusão, Comistão e Adjunção (Seção VI). Da mesma forma que o estudo acima da aquisição de bens imóveis, fica a sugestão para estudo e aprofundamento em todas as seções acima mencionadas, uma vez que muito importante para a compreensão do tema em sua completude. Entretanto, no presente estudo, focaremos principalmente na Seção I, que tratará do instituto jurídico da Usucapião. No que tange à Usucapião de bens móveis, os princípios do instituto serão os mesmos do estudado para os bens imóveis, entretanto, alguns requisitos e elementos para sua consolidação guardarão correspondência à natureza do bem, considerando que se trata de bem móvel. Desta forma, a compreensão sobre continuidade e posse mansa e pacifica (sem oposição), será a mesma. No que tange à boa-fé, também não há que se falar em diferença da boa fé compreendida como um princípio geral de direito, todavia, interpretada sobre a compreensão do instituto da Usucapião, com suas peculiaridades. Assim, da mesma forma, será possível tratar da Usucapião de bens móveis, guardando uma semelhança com a usucapião de bens imóveis, como havendo duas principais modalidades, quais sejam, a denominada Usucapião Extraordinária e a Usucapião Ordinária. A Usucapião Extraordinária, assim como ocorre na Usucapião do bem imóvel, terá um prazo maior que a Ordinária, todavia, um requisito a menos para sua caracterização. O art. 1.260 CC trata sobre a Ordinária, estabelecendo que aquele que possuir coisa móvel como sua (animus domini), contínua e incontestadamente (posse mansa e pacifica) durante 3 anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Por outro lado, o art. 1.261 CC, trata sobre a Extraordinária, disciplinando que e a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. É importante destacar, que nas modalidades de usucapião de bens móveis, o possuidor poderá acrescer ao seu tempo de posse o tempo de posse de seus antecessores, desde que ambas as posses sejam continuas e pacificas (e no caso das ordinárias, desde que ambas sejam de boa-fé). Por fim, importante ressaltar que para fins de caracterização da Usucapião, não se pode descartar a eventual ocorrência das causas que possam obstar (art. 197 CC), suspender (art. 201 CC) ou interromper (art. 202 CC) a prescrição (no caso, evidentemente, estamos falando de prescrição aquisitiva). 
DA PERDA DA PROPRIEDADE
No que tange à perda do direito á propriedade, evidentemente, existe várias formas de tal fato ocorrer, entretanto, apesar disso, o CC optou por arrolar algumas delas com o fim de dar uma noção de algumas possibilidades, desta forma, o art. 1.275 prescreve que, além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: I - por alienação; II - pela renúncia; III - por abandono; IV - por perecimento da coisa e V - por desapropriação. Nos casos de alienação e renúncia, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Por fim, é importante destacar o que prescreve o art. 1.276 CC, ao esclarecer àquela situação onde há um abandono intencional de um imóvel urbano pelo proprietário, sem que ninguém tome posse do bem, para que não fique uma coisa sem dono, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições, tornando-se bem público (art. 98 CC). No que tange ao imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. Derradeiramente, o CC estabelece uma presunção absoluta, qual seja, sobre a intenção de abandono, estabelecendo que essa se dará quando cessados os atos de posse e o proprietário deixar de satisfazer os ônus fiscais.
Parte 4 - DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA
No presente módulo estudaremos o que pode ser denominado de direitos reais sobre coisas alheias, ou seja, situações em que determinada pessoa possui o domínio ou posse de um determinado bem e uma terceira pessoa, por contrato ou nos termos da legislação vigente, passa a ter alguns dos poderes da propriedade sobre o referido bem. Desta forma, estudaremos a parte especial do CC em seus Títulos IV – Superfície; V – Servidões; VI – Usufruto; VII – Uso; VIII – Habitação; IX - Direito do Promitente Comprador; e XI – Laje. No que tange ao Título X, o mesmo tratará sobre os direitos reais de garantia, quais sejam, Penhor, Hipoteca e Anticrese, que estudaremos no próximo módulo. O Título XI, que trata do direito real de laje, foi incluído no CC pela Medida Provisória 759/16, com apenas um artigo (1.510) e um Capítulo Único, distribuído inicialmente em 8 (oito) parágrafos e, posteriormente, alterado pela Lei 13.465/17, passando a ter o mesmo artigo acrescendo-se letras de “A” a “E”. No que tange ao tema do presente módulo, dentre os direitos reais acima mencionados, os quais, encontram-se, também, arrolados no artigo 1.225 CC, iniciaremos com o direito real de Superfície. 
SUPERFÍCIE
O direito de superfície, trata-se do direito real concedido pelo proprietário ao superficiário com a finalidade de construir ou plantar em seu terreno. O direito de superfície é um direito com prazo determinado, não sendo possível no referido instituto estabelecer-se prazo indeterminado em favor do superficiário (sujeito beneficiário pelo aludido direito), vide p.ú. do art. 1.369 CC. Esse direito de construir ou plantar (denominado de implantação), pode ser efetuado tão-somente no solo do terreno, sendo vedado, em princípio, que seja efetuado obras no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão, como por exemplo, uma garagem subterrânea. É imprescindível para a consolidação do instituto que o referido direito seja devidamente registrado no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição onde o imóvel encontra-se situado. O instrumento próprio para tal registro é a escritura pública, não podendo fazê-lo por instrumento particular (contrato privado), nos termos do art. 1.369 CC. Trata-se de um acordo entre proprietário e superficiário que pode ser viabilizado de forma gratuita ou onerosa, conforme interesse das partes, sendo que, se for onerosa, as partes poderão acordar se o pagamento será em uma única parcela (às vista ou em uma data especificada) ou parcelado em várias vezes mensais, anuais ou outra forma de parcelamento), conforme art. 1.370 CC. Considerando que o uso e gozo efetivo do terreno será efetuado pelo superficiário, nada mais razoável do que estabelecer que este que será o responsável pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel (art. 1.371 CC). Em principio, o negócio jurídico é efetuado entre o proprietário e o superficiário e entre eles se darão os efeitos do aludido acordo, entretanto, é possível que o superficiário, por qualquer motivo, deseje repassar o direito a um terceiro (ato entre vivos),entretanto, se assim o fizer, não poderá, por esta transferência, ser cobrado pelo proprietário. Da mesma forma, se, eventualmente, vier o superficiário a falecer, referido direito será sucedido pro seus herdeiros, caso tenha. Conforme mencionado acima, é possível ao superficiário transferir a um terceiro o seu direito de superfície e, como não poderia ser diferente, também pode o proprietário, mesmo durante a validade do negócio jurídico em tela, alienar sua propriedade a um terceiro qualquer. Desta forma, o artigo 1.373 CC estabelece que, estando em vigor o direito de superfície, tanto o superficiário que pretente transferir seu direito como o proprietário, que pretende alienar sua propriedade, deverão oferecer o seu respectivo direito um ao outro, para que, nas mesmas condições que um eventual terceiro interessado, possa exercer seu direito de preferência e ficar com o direito ou com o bem. No caso do superficiário, adquirindo a propriedade, passará a ter a propriedade plena do bem (já tinha o direito de uso e gozo) e no caso do proprietário, passará, também, da mesma forma, a ter a propriedade plena novamente (adquirindo os direitos de uso e gozo). É importante destacar, neste caso, que, extinta a concessão, por qualquer motivo (que não seja a compra pelo superficiário), o proprietário voltará a ter a propriedade plena do bem, incluindo terreno, eventual construção ou plantação. A questão que poderia surgir é se, devido às despesas e gastos do superficiário no terreno, plantando ou construindo, se o proprietário deverá indenizá-lo por tais valores agregados ao terreno. A essa questão, a resposta é depende. Ou seja. Se fora estipulado no instrumento de concessão o pagamento de alguma indenização ao fim da concessão, esta deverá ocorrer no final da concessão, entretanto, se nada fora estabelecido, não há que se falar em qualquer indenização. O proprietário receberá, gratuitamente, eventuais construções e plantações realizadas pelo superficiário no terreno. É possível aos negociantes (superficiário e proprietário) estabelecerem, no ato da concessão do direito de superfície, registrar na escritura pública que àquela concessão será para um fim específico (como por exemplo construir uma creche na cidade ou um hospital). Não é obrigatório estabelecer uma finalidade, mas, é possível. Desta forma, uma vez sendo estabelecido uma finalidade, se o superficiário optar por não dar ao terreno a destinação estipulada na escritura, será um fator de resolução da concessão, independente de o prazo da concessão ainda estar em vigor. Outra possibilidade é que, no terreno onde fora concedido o direito de superfície, durante a validade do negócio jurídico, por algum motivo, segundo critérios de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, algum ente estatal (União, Estado ou Município), considerando a peculiaridade da situação, o Estado poderá fazê-lo, evidentemente, nos termos da legislação vigente, desde que ressarcindo o proprietário com uma prévia e justa indenização em dinheiro. Evidentemente, pro haver uma concessão em vigor, esta será extinta e o superficiário terá direito a uma parcela desta indenização, de acordo com o valor que for apurado no que tange ao seu direito real. Por fim, é importante destacar que há a possibilidade do direito de superfície ser constituído por pessoa jurídica de direito público interno, sendo tal concessão disciplinada pelo próprio CC e por legislação especial que trata do tema referente aos entes estatais em questão, conforme norma concreta aplicável. 
SERVIDÕES
Trata-se a Servidão de um direito real em que um proprietário de um imóvel (denominado de serviente), concede em favor de um outro imóvel (dominante), em virtude do qual este passa a ter maior utilidade em seu imóvel, considerando o beneficio concedido. Trata-se, evidentemente, de dois prédios distinto, de proprietários distintos, onde a utilidade é à coisa e não à pessoa, o que acaba gerando o denominado caráter ambulatório do direito em questão, ou seja, independente de quem está no imóvel, sejam as partes que constituíram o ônus, seja um sujeito que adquiriu o imóvel de qualquer destas partes, o direito permanece entre os prédios. Ainda, é de se destacar que a servidão é indivisível, ou seja, independente de eventual divisão no prédio serviente, a servidão continua indivisível. Trata-se de um ato jurídico das partes que, via de regra, é realizado voluntariamente, mediante um contrato (pode ser particular) ou até escritura pública (se desejar – não é obrigatório). Entretanto, em um caso como no outro, necessariamente o ônus real imposto ao prédio serviente deverá ser registrado no respectivo Cartório de Registro de Imóveis. Da mesma forma, este negócio jurídico pode ser gratuito ou oneroso e pode se dar entre vivos (declaração expressa dos proprietários dos dois imóveis) ou até causa mortis (ex. testamento). Outro fator relevante a se destacar é que o direito de servidão é por prazo ilimitado, diferentemente da superfície. Ou seja, pode-se dizer que é perene ou perpétua. No que tange ao exercício da servidão, de plano, o dono do prédio serviente não pode embaraçar de modo algum o exercício legitimo da servidão, bem como, evidentemente, por ser uma situação perpétua, é mais do que natural que, dependendo da natureza da servidão, possam ser gerados desgastes que requeiram manutenção e conservação. Estas despesas, via de regra, deverão ser suportadas pelo beneficiário da servidão (prédio dominante), salvo se acordado de forma diferente. Por fim, apesar de ser perpétua, é possível que a servidão possa ser extinta. Um dos fatores de extinção, assim como no caso da superfície é a desapropriação por um ente público. Além disso, pode também ser cancelada e, nos termos dos artigos 1.388 CC e 1.389 CC, podem ser canceladas judicialmente ou extrajudicialmente, respectivamente, nos termos abaixo: Art. 1.388. O dono do prédio serviente tem direito, pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora o dono do prédio dominante lho impugne: I - quando o titular houver renunciado a sua servidão; II - quando tiver cessado, para o prédio dominante, a utilidade ou a comodidade, que determinou a constituição da servidão; III - quando o dono do prédio serviente resgatar a servidão. Art. 1.389. Também se extingue a servidão, ficando ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da extinção: I - pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa; II - pela supressão das respectivas obras por efeito de contrato, ou de outro título expresso; III - pelo não uso, durante dez anos contínuos. 
DO USUFRUTO
No instituto em tela, estaremos falando sobre o direito real de garantia que um sujeito (usufrutuário) possui de usar um bem pertencente a outra pessoa, podendo perceber os frutos (fruir) que esta coisa vier a dar, bem como, salvo disposição em contrário, os acessórios da coisa e seus acrescidos. O usufruto pode recair sobre: a) Bens individualizados ou em vários bens; b) Bens móveis e bens imóveis (neste caso, constituído mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis); c) Em um patrimônio inteiro ou parte deste; d) Nos frutos ou utilidades (abrangendo-o no todo ou em parte). Importante salientar que não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso, ou seja, não se transfere o direito, apenas o exercício do direito (ex. locação). Além dos direitos de uso e gozo que o usufrutuário tem em relação à coisa, também tem, dentre as principais prerrogativas, as de possuir o bem e administrá-lo (mediante caução), conforme preceitua o art. 1.394 e 1.401, CC. Por outro lado, no que tange a um dos principais deveres, o usufrutuário, antes de assumir o usufruto, inventariará, à sua custa, os bens que receber, determinando o estado em que se acham, e dará caução, fidejussória ou real, selha exigir o dono, de velar-lhes pela conservação, e entregá-los findo o usufruto. Não é obrigado à caução o doador que se reservar o usufrutoda coisa doada. No que tange à extinção do usufruto, esta poderá se dar, nos termos do art. 1.410 CC, mediante o cancelamento no registro no Cartório de Registro de Imóveis, pelo seguintes fatores: I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; II - pelo termo de sua duração; III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; IV - pela cessação do motivo de que se origina; V - pela destruição da coisa; VI - pela consolidação; VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395; VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai; É possível que o usufruto seja constituído em favor de duas ou mais pessoas, se isso ocorrer, extinguir-se-á a parte em relação a cada uma das que falecerem, salvo se, por estipulação expressa, o quinhão desses couber ao sobrevivente (art. 1.411 CCC). 
DO USO
Trata-se o presente direito real de uma espécie de usufruto, tanto é verdade que o artigo 1.413 CC estabelece que são aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto, entretanto, com menor abrangência, ou seja, como se percebe da própria nomenclatura do instituto, não há que se falar em fruição. Trata-se, apenas e tão-somente, de uso. Entretanto, essa determinação aparentemente absoluta no sentido de impossibilitar ao usuário utilizar dos frutos do bem, não é irrestrita, trazendo o artigo 1.412 CC a situação em que se abre um exceção, qual seja, o caso do usuário da coisa que poderá perceber os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. Muito bem. Vê-se que a exceção é a situação de necessidade e não apenas do usuário, como também de seus familiares, compreendendo estes como sendo especificamente seu cônjuge (companheiro), dos filhos solteiros (casados não mais, ainda que morem no bem) e das pessoas de seu serviço doméstico (ampliando um pouco a compreensão de família – diferentemente do conceito mais moderno de família do Livro IV da parte Especial do CC). 
Entretanto, a questão que pode surgir é como avaliar os critérios de necessidade no caso concreto. E ai o artigo em tela, em seu § 1º, estabelece que avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver, ou seja, eis ai dois critérios mais objetivos para auxiliar na compreensão de necessidade. No que tange à extinção do direito de uso, considerando as semelhanças com o usufruto, se aplicam as mesmas situações do aludido instituto. 
DA HABITAÇÃO
No direito real de habitação, estaremos falando a respeito do direito de um sujeito de morar e residir em um imóvel alheio. E, aqui, mais uma vez, assim como ocorre no caso do uso, o art. 1.416 CC, estabelece que são aplicáveis à habitação, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto, evidentemente, resguardando as peculiaridades do próprio instituto em estudo. Analisando com precisão o instituto da habitação, compreende-se que trata-se do direito de uso consistente em uma finalidade específica, qual seja, o de habitar na casa alheia. Esta habitação, convém também destacar, deve ser gratuita, sob pena de estarmos correndo o risco de tratar de uma espécie de locação. E, se não bastasse, o titular deste direito de habitação, que é gratuito, ou seja, não está pagando nada para morar no imóvel, por coerência, também não poderá alugar, nem emprestar para um terceiro, mas simplesmente ocupar o imóvel com seus familiares. É importante salientar que neste instituto não há a restrição de família que há no direito de uso. Por fim, é interessante compreender que o direito de habitação pode, eventualmente, ser concedido para mais de uma pessoa, desta forma, se isso ocorrer, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra ou às outras. Da mesma forma também não as pode inibir essas outras de exercerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de habitar no imóvel (art. 1.415 CC). 
DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR
Trata-se o instituto de direito real em tela de uma espécie de contrato em que um sujeito (promitente vendedor) obriga-se a vender a outro (promissário comprador), um bem específico (via de regra, bem imóvel), preço, prazo e demais cláusulas pertinentes de um contrato de tal natureza, e, uma vez sendo satisfeita a obrigação, se dá a outorga da escritura pública. Em outras palavras, o sujeito que está se comprometendo a comprar o imóvel, uma vez cumprindo sua parte na avença, passa a ter o direito real sobre o móvel em questão, inclusive, se não satisfeita a obrigação de outorga da escritura, exigir isso judicialmente. Trata-se de uma espécie de prévia de um contrato de venda e compra, que, posteriormente, poderá ser elaborado, inclusive, com as mesmas cláusulas da promessa de compra e venda, guardadas as peculiaridades de cada instrumento. Todavia, não é exatamente um contrato nos termos do artigo 462 CC, pois, ali, trata-se de um contrato preliminar, em que, uma vez não cumprido, caberá á parte exigir que a outra celebre o contrato definitivo, ou seja, uma espécie de obrigação de fazer, ao passo que na promessa de compra e venda o que se pode exigir, compulsoriamente, é o próprio bem prometido à venda, ou seja, a adjudicação compulsória do bem, conforme artigo 1.418 CC: “O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.” A condição precípua da configuração deste direito real consiste no que disciplina o art. 1.417 CC, ao prescrever que no aludido instrumento não poderá ter sido pactuado o direito de arrependimento (pois, neste caso, resolve-se em indenização, nos termos do art. 420 CC). Ainda pode ter sido celebrado por instrumento público ou particular, e deve ter sido registrado no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição do bem, pois, só assim, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. 
DIREITO DE LAJE
Trata-se o direito de laje daquela situação em que o proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua construção (contemplando o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos), como unidade imobiliária autônoma, constituída em matrícula própria, a fim de que o titular da laje (lajeiro) mantenha unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. O lajeiro responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade, bem como, poderão dela usar, gozar e dispor. No que tange ao direito sucessivo de laje, ou seja, a possibilidade de um lajeiro ceder a superfície de sua construção para a instituição de um sucessivo direito real de laje, deve, necessariamente, possuir uma autorização expressa dos titulares da construção-base e das demais lajes, evidentemente, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes, que poderão ser disciplinadas pela Municipalidade. No caso de lajes sucessivas, é possível considerando a autonomia dos respectivos imóveis, é possível que o sujeito proprietário da construção-base ou o lajeito, em algum momento, desejem alienar sua parte. Neste caso, a legislação estabelece um critério de preferencia na aquisição da unidade sobreposta, ou seja, terão direito de preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem. Para tanto, estes terão que ser cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de 30 (trinta) dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso, sob pena de, não o fazendo, o titular da construção-base ou da laje a quem não se der conhecimentoda alienação poderá, mediante depósito do respectivo preço, haver para si a parte alienada a terceiros, se o requerer no prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de alienação. Se não bastasse, pode haver mais de uma laje, neste caso, terá preferência, sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes, assegurada a prioridade para a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada. Por fim, o art. 1.510-E, CC, estabelece que a ruína da construção-base implica extinção do direito real de laje, salvo: I - se este tiver sido instituído sobre o subsolo; II - se a construção-base não for reconstruída no prazo de cinco anos, entretanto, em nenhum dos casos, fica afastado o direito a eventual reparação civil contra o culpado pela ruína.
Parte 5 - DOS DIREITOS REAIS DE GARANTIA
No presente módulo estudaremos o que pode ser denominado de direitos reais de garantia, ou seja, um direito que um credor possui em face de um devedor de ter uma obrigação cumprida, quando não o feito espontaneamente no prazo e na forma acordados, utilizando-se da coisa objeto da garantia com fins a satisfazer seu crédito. Trata-se o tema de uma espécie de responsabilidade patrimonial, disciplinada no Titulo X, da Parte Especial do CC. Dentre as modalidades de direito real de garantia, vemos no Titulo X em tela que o mesmo é dividido em 4 capítulos, quais seja, o Capítulo I, que trata sobre as disposições gerais que se aplicam a todos os institutos de direitos reais de garantia, eventualmente, algum artigo aplicando-se apenas a um instituto ou outro e, em seguida, destacam-se, o Capítulo II tratando sobre o Penhor, o Capítulo III disciplinando sobre a Hipoteca e o Capítulo IV abordando o tema da Anticrese. Tais institutos tem a finalidade de garantir eventuais dividas, sendo que, uma vez dado um bem em qualquer destas modalidades, ele fica sujeito, por um vínculo real, ao cumprimento da obrigação. Desta forma, de início, vamos abordar alguns aspectos mais gerais dos institutos para, em seguida, tratarmos dos institutos em suas particularidades. Quanto aos limites subjetivos destes direitos reais de garantia, é importante salientar que apenas quem tem o poder de alienar uma coisa pode dá-la em garantia (se não for dono da coisa em sua integralidade, deve ter o consentimento de quem também é dono conjuntamente ou dar em garantia apenas sua parte da coisa), bem como, no que tange aos limites objetivos, relacionados à coisa, somente àquelas que podem ser alienadas, podem ser dadas em garantia (art. 1.420 CC). Em principio, o direito real de garantia é indivisível, ou seja, o eventual pagamento de uma ou mais prestações de uma dívida não importa exoneração correspondente da garantia, ainda que esta compreenda vários bens, salvo disposição expressa no título ou na quitação. Um dos requisitos formais de um contrato de garantia, nos termos do art. 1.424 CC, é que eles possuem, como condição de eficácia, os seguintes elementos específicos: I - o valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo; II - o prazo fixado para pagamento; III - a taxa dos juros, se houver; IV - o bem dado em garantia com as suas especificações. No direito real de garantia, não se admite a denominada cláusula comissória, ou seja, a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento. Se, eventualmente, em um contrato garantidor constar essa cláusula, ela será nula de pleno direito. Todavia, apesar do credor não poder ficar com o bem, poderá, após o vencimento da dívida, recebe-la, do devedor, caso este concorde, em pagamento da dívida (dação em pagamento). O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir (direito de preferência), no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro (art. 1.422 CC). Aqui, excetuam-se outros créditos que, nos termos de outras legislações, possuem ainda maior privilégio. Por outro lado, o credor anticrético não tem direito de preferencia na excussão do bem, entretanto, tem direito a reter em seu poder o bem, enquanto a dívida não for paga (estamos falando do Direito de Retenção), o qual se extingue-se decorridos quinze anos da data de sua constituição. Por fim, quando, excutido (vendido judicialmente) o penhor, ou executada a hipoteca, o produto não bastar para pagamento da dívida e despesas judiciais, continuará o devedor obrigado pessoalmente pelo restante (art. 1.430 CC). 
PENHOR
No que tange ao instituto de direito real de garantia do Penhor, a melhor compreensão do tema que podemos ter destaca-se, diretamente, dos termos da legislação, ou seja, do artigo 1.431 CC que prescreve que constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação. Em uma simples análise, evidencia-se que estamos diante de um direito real, com característica acessória, ou seja, garantindo uma obrigação principal, em que, para se aperfeiçoar, exige a efetiva tradição do objeto (salvo nos casos de penhor rural, industrial, mercantil e de veículos). Um dos requisitos formais do instituto é que o instrumento do penhor deverá ser levado a registro, por qualquer dos contratantes (art. 1.432 CC). Em principio, o penhor tem a característica principal de referir-se, predominantemente, a coisas móveis, entretanto, há algumas espécies de penhor que podem se referir a bens considerados imóveis, entretanto, por não ser o cerne deste estudo, não será abordado no presente capítulo. A legislação traz alguns direitos do credor pignoratício no artigo 1.433 CC, o qual convém dar uma estudada. Se não bastasse os direitos acima mencionados, pode ocorrer uma situação em que o devedor queira constranger o credor a devolver a coisa empenhada, ou uma parte dela, antes de ser integralmente pago, entretanto, o credor não será obrigado a isso, podendo o juiz, a requerimento do proprietário, determinar que seja vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para o pagamento do credor (art. 1.434 CC). Não dá pra dizer que o credor pignoratício tem apenas direitos, evidentemente, tem também obrigações, as quais estão discriminadas no artigo 1.435 CC, o qual o presente módulo remete à analise para compreensão e estudo. Por fim, o artigo 1.436 CC traz as situações em que pode ser considerado extinto o penhor, quais sejam, com a extinção da obrigação principal, com o perecimento da coisa, com a renuncia do credor (presumida quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia), com a confusão (credor e devedor passando a ser a mesma pessoa – nesse caso operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto) ou dando-se a adjudicação judicial, a remissão (perdão) ou a venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada. Evidentemente, nos termos do artigo 1.437 CC, a extinção do penhor produz efeitos apenas depois de averbado o cancelamento do registro, à vista da respectiva prova. 
HIPOTECA
Trata-se o instituto da hipoteca de um direito real de garantia, tendo por objeto, predominantemente, bem imóveis (embora é possível a ocorrência de hipoteca de bens móveis [ex. navios e aviões]), em que o devedor, ou um terceiro, asseguram ao credor hipotecário o cumprimento da obrigação e satisfação do crédito. No instituto em questão, não há a efetiva transferência da posse direta ao credor hipotecário, permanecendo o devedor hipotecário ou terceiro responsável no domínio e posse direta do bem. Dentre as principais características, dá pra sustentar que a hipoteca tem natureza civil (ainda que a obrigação principal seja comercial), tem caráter acessório (garantindo uma obrigação principal), é indivisível, gravandoo bem em sua totalidade e confere ao credor os direitos de preferência e sequela. Quanto aos objetos da hipoteca, o artigo 1.437 CC estabelece um rol de bens que poderão ser dados em garantia, sendo sugerido a leitura e estudo do artigo para compreensão e aprendizagem. Uma questão que poderia surgir é se uma vez sendo dado um bem em hipoteca, para garantir o cumprimento de uma obrigação, poderia o credor hipotecário exigir que no contrato de garantia fosse colocada uma cláusula proibindo o proprietário de alienar o imóvel hipotecado (cláusula de inalienabilidade). Para tal situação, apesar do bem estar vinculado à garantida, qualquer cláusula nesse sentido pode ser considerada nula, sendo vedado pelo nosso sistema legislativo. Entretanto, é possível às partes convencionarem que vencerá o crédito hipotecário, se o imóvel for alienado. No caso de alienação do imóvel hipotecado, o adquirente, poderá exonerar-se da hipoteca, abandonando o imóvel, desde que não se tenha obrigado pessoalmente a pagar as dívidas aos credores hipotecários. Este abandono, em caso de eventual ação judicial, poderá ser efetuado até às 24 horas subsequentes à citação, com que se inicia o procedimento executivo. Nesse caso, o terceiro adquirente deverá notificar o vendedor e os credores hipotecários, deferindo-lhes, conjuntamente, a posse do imóvel, ou o depositará em juízo. O art. 1.481 CC estabelece que, tem o adquirente do imóvel hipotecado o direito de remi-lo, dentro em 30 (trinta) dias, contados do registro do título aquisitivo, citando os credores hipotecários e propondo importância não inferior ao preço por que o adquiriu. Se o credor impugnar o preço da aquisição ou a importância oferecida, realizar-se-á licitação, efetuando-se a venda judicial a quem oferecer maior preço, assegurada preferência ao adquirente do imóvel. Se não impugnar, o preço da aquisição ou o preço proposto pelo adquirente, haver-se-á por definitivamente fixado para a remissão do imóvel, que ficará livre de hipoteca, uma vez pago ou depositado o preço. É possível, ainda, que um devedor ou terceiro dê um bem em garantia hipotecária a mais de um credor ou até ao mesmo credor para garantir outra dívida, além da divida que o bem já está garantindo (pluralidade de hipotecas) e o credor da segunda hipoteca, embora vencida, não poderá executar o imóvel antes de vencida a primeira, salvo o caso de insolvência do devedor da primeira hipoteca. Ressalte-se que não se pode considerar insolvente o devedor por faltar ao pagamento das obrigações garantidas por hipotecas posteriores à primeira. Nesse tipo de situação, estabelece o art. 1.478 CC que se o devedor da obrigação garantida pela primeira hipoteca não se oferecer, no vencimento, para pagá-la, o credor da segunda pode promover-lhe a extinção, consignando a importância e citando o primeiro credor para recebê-la e o devedor para pagá-la. Evidentemente, se o primeiro credor não pagar, o segundo credor, efetuando o pagamento, se sub-rogará nos direitos da hipoteca anterior, sem prejuízo dos que lhe competirem contra o devedor comum. Se o primeiro credor estiver promovendo a execução da hipoteca, o credor da segunda depositará a importância do débito e as despesas judiciais. Por fim, o art. 1.485 CC estabelece que mediante simples averbação, requerida por ambas as partes, poderá prorrogar-se a hipoteca, até 30 (trinta) anos da data do contrato. Após esse prazo, só poderá subsistir o contrato de hipoteca reconstituindo-se por novo título e novo registro. Dentre as modalidades de hipoteca, podem ser destacadas a hipoteca convencional (em que há acordo entre as partes envolvidas na obrigação, tratado até então), a hipoteca legal (oriunda da legislação), tratada no artigo 1.489 CC, o que remete-se à leitura e estudo e a hipoteca judiciária (oriunda de uma ordem do juiz), tratada no artigo 495 CPC (o qual remete-se á leitura). Conforme salientado acima, as hipotecas, necessariamente, deverão ser registradas pelos interessados, exibindo o título, no cartório do lugar do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se referir a mais de um (art. 1.492 CC). Esse registros, nos termos da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73), seguirão a ordem em que forem requeridas, verificando-se ela pela da sua numeração sucessiva no protocolo, sendo que, o número de ordem determina a prioridade, e esta a preferência entre as hipotecas. É possível que ocorra de se registrar, no mesmo dia, duas hipotecas, ou uma hipoteca e outro direito real, sobre o mesmo imóvel, em favor de pessoas diversas, neste caso, só será possível se for possível que as escrituras indicarem a hora em que cada uma delas fora lavrada, para se apurar antecedência de uma em relação a outra. Derradeiramente, o art. 1.499 CC vem trazendo as situações em que a hipoteca pode ser extinta, sendo elas, extinção da obrigação principal; perecimento da coisa; resolução da propriedade; renúncia do credor; remição; arrematação ou adjudicação. Extingue-se ainda a hipoteca com a averbação, no Registro de Imóveis, do cancelamento do registro, à vista da respectiva prova (art. 1.500 CC) 
ANTICRESE
Trata-se o instituto de direito real de garantida da Anticrese de um negócio jurídico em que o credor (credor anticrético) entrega ao devedor (devedor anticrético) a posse de um bem imóvel que dê frutos para que, com estes, uma vez obtidos, o credor possa ir abatendo do valor total da obrigação principal devida. No caso da anticrese, a lei estabelece que, não necessariamente o bem deve ser do devedor, podendo ser de um terceiro em seu nome (art. 1.506 CC). O art. 1.423 CC estabelece que o credor anticrético tem direito a reter em seu poder o bem (Direito de Retenção), enquanto a dívida não for paga. Entretanto, referido direito extingue-se após decorridos quinze anos da data de sua constituição. Além dos frutos do bem imóvel, o credor anticrético poderá, ainda, dependendo da situação concreta, administrar os bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades. Entretanto, se assim o fizer, nos termos da legislação, deverá apresentar anualmente balanço, exato e fiel, de sua administração prestando contas ao devedor (art. 1.507 CC). Após a prestação de constas, se estiver tudo correto, segue-se as atividades do credor, entretanto, pode ser que as contas prestadas não satisfaçam o devedor e caso ele não concorde com o que se contém no balanço, por ser inexato, ou ruinosa a administração, poderá impugná-lo, e, se o quiser, requerer a transformação em arrendamento, fixando o juiz o valor mensal do aluguel, o qual poderá ser corrigido anualmente. É possível que o credor anticrético não tenha conhecimentos técnicos para gerir o bem imóvel e administrá-lo. Nesse caso, é possível que ele decida arrendar os bens a um terceiro (com anuência do devedor), mantendo, até ser pago, direito de retenção do imóvel, embora o aluguel desse arrendamento não seja vinculativo para o devedor. Durante o período que o bem imóvel estiver em sua posse, é possível que o bem sofra alguns danos e deteriorações, nesse caso, o credor anticrético responde pelos prejuízos que o imóvel vier a sofrer, desde que tenha culpa no ocorrido, bem como, caso seja negligente quando tiver que colher os frutos, não o fazendo oportunamente, também responderá pelos prejuízos ao devedor (art. 1.508 CC). Por fim, o art. 1.510 CC estabelece que o adquirente (terceiro) dos bens dados em anticrese poderá remi-los, antes do vencimento da dívida, pagando a sua totalidade à data do pedido de remição e imitir-se-á, se for o caso, na sua posse.

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