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Unidade 2 Direito Penal II

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Direito Penal II 
 
 
Sumário 
 
Apresentação 
Aula 1 ........................................................................................................................ 2 
Aula 2 .................................................................................................................... 15 
 
 
 
Apresentação 
Unidade 02 - CRIMES DE PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ART. 134: EXPOSIÇÃO 
OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO; ART. 135: OMISSÃO DE SOCORRO. ART. 135-A: 
CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO HOSPITALAR EMERGENCIAL; ART. 
136: MAUS-TRATOS). CRIMES CONTRA A HONRA: CALÚNIA, DIFAMAÇÃO, INJÚRIA E 
EXCEÇÃO DA VERDADE. DIFERENÇAS ENTRE INJÚRIA E O CRIME DE DESACATO. 
CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (ART. 146 – CONSTRANGIMENTO ILEGAL; 
ART. 147 – AMEAÇA; ART. 148 – SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO; ART. 149 – 
REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA DE ESCRAVO). – VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (ART. 
150); VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA (ART. 151); VIOLAÇÃO DE SEGREDOS (ART. 
153). 
 
Introdução 
Olá, caríssimos alunos! Que prazer reencontrá-los! Nesta unidade, continuaremos a 
analisar os crimes de periclitação da vida e da saúde:: art. 134 (exposição ou abandono 
de recém-nascido); art. 135 (omissão de socorro) e tipo penal similar previsto no 
Estatuto do Idoso; art. 135-a (condicionamento de atendimento médico-hospitalar 
emergencial) e art. 136 (maus-tratos) e tipo penal similar previsto no art. 99 do 
Estatuto do Idoso. Outro bem jurídico de extrema relevância é a honra, razão pela qual 
analisaremos os crimes de calúnia, difamação e injúria e a possibilidade de admissão 
de exceção da verdade em cada um deles. Diferenciaremos o crime de injúria e o crime 
de desacato (art. 331, CP). Verificaremos os crimes contra a liberdade individual, onde 
serão abordados os crimes que atentam contra à liberdade pessoal, ou seja, serão 
vistos os delitos de: constrangimento ilegal (art. 146, CP), de ameaça (art. 147), 
sequestro e cárcere privado (art. 148) e redução à condição análoga de escravo (art. 
149), todos do Código Penal Brasileiro. Por fim, discorremos sobre os crimes de 
violação de domicílio (art. 150); violação de correspondência (art. 151); violação de 
segredos (art. 153), todos do Código Penal Brasileiro. Durante a exposição de nosso 
conteúdo, analisaremos: os sujeitos do crime (ativo e passivo); o objeto jurídico e o 
objeto material; os elementos do tipo (objetivo e subjetivo); consumação e tentativa; 
meios de execução; causas de diminuição e aumento de pena; as qualificadoras, ação 
penal, entre outras questões igualmente relevantes pertinentes, de forma a fazer com 
que o corpo discente desenvolva uma postura crítica e reflexiva, indispensável ao 
pleno exercício da Ciência do Direito, da prestação da justiça e do desenvolvimento da 
cidadania. 
 
 
 
 
 
Objetivos 
 Lecionar conteúdo relativo aos crimes de periclitação da vida e da saúde; 
 Ministrar noções elementares aos crimes contra a honra; 
 Discorrer sobre os crimes contra a liberdade pessoal; 
 Verificar os crimes que tutelam a inviolabilidade de domicílio, correspondência 
e segredos. 
 
Conteúdo programático 
Aula 1 – CRIMES DE PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ART. 134: EXPOSIÇÃO OU 
ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO; ART. 135: OMISSÃO DE SOCORRO. ART. 135-A: 
CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO HOSPITALAR EMERGENCIAL; ART. 
136: MAUS-TRATOS). CRIMES CONTRA A HONRA: CALÚNIA, DIFAMAÇÃO, INJÚRIA E 
EXCEÇÃO DA VERDADE. DIFERENÇAS ENTRE INJÚRIA E O CRIME DE DESACATO. 
Aula 2 – CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (ART. 146 – CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL; ART. 147 – AMEAÇA; ART. 148 – SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO; ART. 149 
– REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA DE ESCRAVO). – VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (ART. 
150); VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA (ART. 151); VIOLAÇÃO DE SEGREDOS (ART. 
153). 
 
Referências 
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal. 7. ed.São Paulo: Saraiva, 2011. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial: dos crimes contra a 
pessoa. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 2. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v.2. 
________________. Curso de Direito Penal: parte especial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
v.3. 
________________. Curso de Direito Penal: parte especial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
v.2. 
GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 8. ed. Niterói: RJ, 2014. 
PRADO, Luiz Regis; CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. Curso de 
Direito Penal Brasileiro: parte geral e parte especial. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2015. 
Um grande abraço 
Coordenação 
 
1 
 
 
Unidade 2 
 
2 
 
Aula 1 CRIMES DE PERICLITAÇÃO 
DA VIDA E DA SAÚDE (ART. 134: 
EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-
NASCIDO; ART. 135: OMISSÃO DE 
SOCORRO. ART. 135-A: 
CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO 
MÉDICO HOSPITALAR EMERGENCIAL; 
ART. 136: MAUS-TRATOS). CRIMES 
CONTRA A HONRA: CALÚNIA, 
DIFAMAÇÃO, INJÚRIA E EXCEÇÃO DA 
VERDADE. DIFERENÇAS ENTRE INJÚRIA 
E O CRIME DE DESACATO 
 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
Videoaula 
Assista ao vídeo da professora da disciplina com a contextualização da aula de hoje. 
 
1. ART. 134, CP – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO 
É crime de conduta semelhante ao de abandono de incapaz (art. 133, CP), dele se 
diferenciando pelo fato de que o agente aqui pratica o crime para ocultar desonra 
própria. 
O delito tem por objetividade jurídica a tutela da incolumidade pessoal do recém-
nascido (vida e saúde), pois o sujeito ativo, ao abandonar ou expor (ações nucleares 
do crime) o neonato, o coloca em situação de perigo concreto, que deve ser 
necessariamente comprovada. Na ação “abandonar”, a criança é retirada de um local 
para outro onde não lhe será prestada assistência; já a conduta “expor” denota 
omissão de assistência por parte do sujeito ativo, sendo que a vít ima não é retirada 
do lugar onde está (CAPEZ, 2012). 
Embora seja objeto de divergência doutrinária, admite-se que tanto o pai quanto a 
mãe sejam sujeitos ativos do delito (crime próprio), desde que o fim destes seja 
resguardar a sua honra, principalmente a de natureza sexual. Se a pessoa já é 
 
3 
 
desonrada, como, por exemplo, uma pessoa que preste favores sexuais em troca de 
dinheiro, uma mulher ou um homem que já possuem filhos fora do casamento, o 
crime será o de abandono de incapaz (art. 133, CP). Sujeito passivo é o recém -
nascido. Por força do art. 30, CP (já analisado em aula anterior), terceiro que 
contribua para o crime em tela responde pelo art. 134, CP. 
É crime doloso, praticado com o fim especial de ocultar desonra própria, que se 
consuma com o abandono ou com a exposição do recém-nascido a perigo concreto. 
Uma vez abandonada temporariamente a vít ima e submetida a um perigo concreto, 
se, posteriormente, o sujeito ativo retornar ao local para resgatá-la, o crime estará 
consumado (pode incidir o arrependimento posterior, elencado no art.16, CP, mas o 
crime não resta excluído). Não subsistirá o delito se a criança for deixada em um local 
onde outras pessoas lhe prestarão ou cuidados necessários ou se ficar vigiando até 
que terceiros lhe prestem assistência. A tentativa é admitida na forma comissiva 
(CAPEZ, 2012). 
 
Fonte: etb®, 2016. 
 
A forma simples está prevista no caput do artigo. As qualificadas estão previstas nos 
§ 1º (quando resultar lesão corporal de natureza grave: pena de detenção de 1 a 3 
anos) e § 2º (quando resultar em morte: pena de detenção de 2 a 6 anos). São crimes 
qualificados pelo resultado. 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
Indicação de Leitura1) Pela importância que apresenta o estudo do tema, indicamos o artigo “Perigo de 
contágio venéreo e perigo de contágio de moléstia grave”, de Rogério Tadeu 
Romano. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/33566/perigo-de-contagio-
venereo-e-perigo-de-contagio-de-molestia-grave>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
2) Como segundo artigo, indicamos “Crime de perigo para a vida ou saúde de outrem 
– Estrutura jurídica e divergências interpretativas”, de João José Caldeira Bastos. 
 
4 
 
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/11597/crime-de-perigo-para-a-vida-ou-
saude-de-outrem>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
3) Como terceira leitura recomendada, temos as considerações tecidas sobre o art. 
133, CP (abandono de incapaz). Disponível em: 
<http://penalemresumo.blogspot.com.br/2010/06/art-133-abandono-de-
incapaz.html>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
 
2. ART. 135, CP – OMISSÃO DE SOCORRO 
Capez (2012) assinala que o dever de prestar socorro, antes de constituir um dever 
jurídico, constitui um dever ético de solidariedade. A conduta típica consiste em: 
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou 
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública. 
A pena cominada, no caput, é de detenção de um a seis meses, ou multa. Tem, 
portanto, por objetividade jurídica, a proteção da vida e da saúde. Possui duas 
modalidades (CAPEZ, 2012): a) Deixar de prestar assistência: trata do dever imediato 
de assistência, desde que não exista risco pessoal. Se este existir, o agente deverá 
buscar socorro junto à autoridade pública (bombeiro, policial, delegado, promotor de 
justiça etc.). Exemplificando: se alguém vê um terceiro caído no chão, machucado, 
necessitando de socorro, deve ajudá-lo. Capez (2012) discorre que se o socorro 
implicar em salvar uma pessoa que está se afogando em uma forte correnteza 
acarretarem risco para a vida daquele que deve socorrê-la, o socorro junto à 
autoridade pública deve ser buscado. O doutrinador elenca outra hipótese de 
omissão de socorro devido à falta de assistência médica trazida da jurisprudência, 
como, por exemplo, o do médico que não atende o paciente alegando que está de 
folga (CAPEZ, 2012); b) Não pedir socorro à autoridade pública: é o deve mediato de 
assistência, devido caso não seja possível a prestação de socorro imediata. Bem 
assinala Capez que: “(...) o sujeito não está autorizado a buscar auxílio da autoridade 
pública se lhe era possível socorrer de forma imediata. O auxílio solicitado, nesse 
caso, não afasta o crime” (2012, p. 245). 
 
Indicação de Vídeos 
1) “DIREITO PENAL - ESP - AULA 05 - PT01 - MÓDULO 01 - PROJETO APROVAÇÃO”, 
que trata dos arts. 130-136, CP. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=NHhJB4Vsnac>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
2) “Art. 134 do CP – exposição ou abandono de recém-nascido”, de Rogério Sanches 
Cunha. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=-ocopFlPWtU>. Acesso 
em: 30 mar. 2018. 
 
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3) “Artigo 5º – Omissão de socorro (20/08/14)”. Disponível 
em:<https://www.youtube.com/watch?v=weDCG-WKaqI>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
4) “Art. 135-A do CP: Condicionamento de atendimento médico-hospitalar 
emergencial”, de Rogério Sanches Cunha. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=xi3gWLio9L8>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
 
Sujeito ativo do crime: qualquer pessoa (é crime comum), menos o agente que tenha 
colocado a vít ima em situação de perigo. Exemplifico: se eu lesionei a vít ima e a 
deixei à própria sorte, não serei responsabilizada pelas lesões e pela omissão de 
socorro. Os sujeitos passivos estão elencados no caput do artigo: a) criança 
abandonada: foi a deixada à própria sorte por quem devia dela cuidar; b) criança 
extraviada: é a que se perdeu; c) pessoa inválida: é a que necessita de cuidados, pois 
não consegue se valer por si só, seja por motivo de doença, idade avançada etc.; d) 
pessoa ferida: é a que tem lesionada sua integridade corporal, sejam as lesões leves 
(mas que necessitam de socorro) ou graves; e) pessoa em grave e iminente perigo: o 
perigo deve ser vultoso e prestes a provocar o dano, como ocorre quando alguém 
que está quase morrendo afogado. Nesta última hipótese, o perigo deve ser 
concretamente demonstrado; já nas demais existe presunção jures et de jure (CAPEZ, 
2012). 
O elemento subjetivo do delito é o dolo de perigo, sendo que o agente deve ter 
consciência de que a vít ima necessita de socorro. Não há forma culposa, mas a 
omissão de socorro aumenta a pena dos crimes de homicídio e lesões corporais 
culposas. 
Por ser crime omissivo puro, resta consumado com a abstenção do comportamento 
exigido pela norma, não admitindo tentativa. 
A forma simples está prevista no caput do artigo. A forma majorada é prevista no 
parágrafo único: “A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão 
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte”. 
A ação penal é pública incondicionada. 
Uma última observação a ser feita diz respeito ao art. 97, do Estatuto do Idoso (Lei 
10.741/03), que tipifica conduta similar ao art. 135, CP. Diz o art. 97: 
Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo 
sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, 
retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, 
ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: 
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da 
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, 
se resulta a morte. 
 
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Idoso, para fins da lei, é pessoa com idade igual ou superior a 
60 anos. Igualmente, a ação é pública incondicionada. 
 
3. ART. 135-A, CP: CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR 
EMERGENCIAL 
A conduta típica inscrita no art. 135-A, CP, consiste em: 
Exigir cheque caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como 
o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição 
para o atendimento médico-hospitalar emergencial: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de 
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se 
resulta a morte. 
A objetividade jurídica do artigo é a tutela da vida e da saúde, sendo que a ação 
nuclear é consubstanciada na conduta de exigir (as garantias mencionadas no caput 
ou a preenchimento de formulários como fator condicionante para o atendimento de 
emergência). 
O sujeito ativo só pode ser aquele que tem autoridade para impedir a realização do 
atendimento, como, por exemplo, os funcionários de um hospital. Já o sujeito 
passivo é o que necessita de atendimento emergencial. É crime doloso que se 
consuma no momento em que é feita a exigência, o atendimento é obstado. Admite-
se a forma tentada. 
A forma simples está prevista no caput do artigo. Incide causa de aumento de pena 
em dobro se resultar em lesão corporal de natureza grave e, em triplo, se resultar 
em morte. 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
4. ART. 136, CP – MAUS-TRATOS 
Tendo por objetividade jurídica a tutela da vida e da saúde, o art. 136, CP, tem por 
redação: 
Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua 
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, 
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados 
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, 
quer abusando de meios de correção ou disciplina: 
Pena – detenção,de dois meses a um ano, ou multa. 
A ação nuclear é expor, no caso, a perigo que possa acarretar lesão à vida ou à saúde 
de um ser humano que está sob autoridade, guarda ou vigilância para fim de 
 
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educação, ensino, tratamento ou custódia, o que pode ser feito através dos 
seguintes meios (CAPEZ, 2012): a) privação de alimentos ou de cuidados necessários: 
é crime omissivo, sendo que basta a privação relativa de alimentos para que o delito 
reste caracterizado. A privação de cuidados necessários (assistência médica, 
fornecimento de remédios, roupas, material para higiene pessoal etc.) também 
constitui crime omissivo, pois o agente se abstém de conduta que lhe era devida; b) 
sujeição a trabalho excessivo ou inadequado: é aquele que está além das forças da 
vít ima ou o que, concretamente, se apresenta como incondizente com as 
características pessoais do sujeito passivo (sexo, idade, compleição física etc.); c) 
abuso dos meios de correção ou disciplina: é o excesso no uso dos meios (através de 
violência física ou moral), mas feito com o objetivo de corrigir ou disciplinar o sujeito 
passivo. Capez (2012) leciona no sentido de que a utilização de cintas, pedaços de 
madeira contra o filho caracteriza o crime, não o caracterizando se o genitor, levado 
por finalidade educativa, aplicar palmadas nos glúteos do filho. 
Trata-se de crime próprio e, portanto, só pode ser sujeito ativo as pessoas dotadas 
das qualidades expostas no caput, ou seja, aquele que tem o sujeito passivo sob sua 
guarda, autoridade ou vigilância para fins de educação, ensino, tratamento ou 
custódia. Como sujeitos passivos surgem os que estão sob a autoridade, guarda ou 
vigilância nas situações anteriormente expostas. Ausente este vínculo entre sujeitos 
ativo e passivo, a capitulação legal será outra, a t ítulo de exemplo, pode-se citar o 
crime de perigo para vida ou a saúde de outrem (art. 132, CP). 
O crime é, necessariamente, doloso e consuma-se quando a vít ima é exposta a um 
perigo concreto de dano, seja através de ação ou omissão. Por ser crime de perigo 
concreto, há necessidade de demonstração do perigo criado pelo sujeito ativo. Na 
modalidade omissiva (privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis) não 
admite tentativa. Nas demais modalidades, a tentativa é admitida. 
A forma simples está prevista no caput do artigo. A primeira forma qualificada é 
prevista no § 1º (quando resultar lesão corporal de natureza grave: pena de reclusão 
de 1 a 4 anos), sendo que a segunda forma qualificada está prevista no § 2º (quando 
resultar morte: pena de reclusão de 4 a 12 anos). O § 3º é causa de aumento de pena 
aplicável quando a vít ima é menor de 14 anos. 
A ação penal é pública incondicionada. 
Por fim, observa-se que o art. 99, do Estatuto do Idoso, traz conduta semelhante à 
de maus-tratos (art. 136, CP): 
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, 
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de 
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o 
a trabalho excessivo ou inadequado: 
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. 
§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
 
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Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
§ 2o Se resulta a morte: 
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
 
A ação, para este crime, será pública incondicionada. 
 
DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 
1. PROLEGÔMENOS AOS CRIMES CONTRA A HONRA 
Nos arts. 138 a 140, CP, encontra-se a tipificação dos crimes contra a honra, 
respectivamente, calúnia, difamação e injúria, onde se tutela a honra objetiva (calúnia 
e difamação) e honra subjetiva (injúria). Por honra objetiva, entende-se a “(...) opinião 
de terceiros no tocante aos atributos físicos, intelectuais, morais de alguém” (CAPEZ, 
2012, p. 272), é o que os outros pensam a respeito de nossas qualidades pessoais. 
Honra subjetiva é a consideração que se tema respeito de nossos próprios atributos 
pessoais: “(...) opinião do sujeito a respeito de si mesmo, ou seja, de seus atributos 
físicos, intelectuais, morais (...)” (CAPEZ, 2012, p. 272), não importando o que outras 
pessoas pensam. Os crimes contra a honra são crimes dolosos e formais; assim, o 
delito se consuma independentemente da produção do resultado dano para a honra 
do sujeito passivo. São, também, crimes comuns (podem ser praticados por qualquer 
pessoa). 
 
Indicação de Vídeos 
1) “Saber Direito: Curso "Crimes Contra a Honra" –Aula 1”, do professor Anderson 
Costa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZXXm45PTxp8. Acesso 
em: 30 mar. 2018. 
2) “08– Crimes Contra a Honra”. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=KOD3EXhQ2kE>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
3) “Rogerio Sanches – CRIMES CONTRA A HONRA – Introdução”. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=TGUzlqkvV80>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
 
Existe causa de aumento de pena de um terço prevista no art. 141, CP, aplicável aos 
arts. 138, 139 e 140, quando o crime é cometido contra: Presidente da República ou 
contra chefe de governo estrangeiro; funcionário público, se a ofensa estiver ligada 
ao exercício de suas funções; quando proferida na presença de várias pessoas, ou 
por qualquer meio que venha a facilitar a divulgação do crime contra a honra ou 
 
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ainda se praticado contra maior de 60 anos ou deficiente (exceto na injúria, visto que 
já constitui injúria qualificada pelo preconceito). Se o crime for mercenário (paga ou 
promessa de recompensa), a pena é aplicada em dobro. 
No art. 142, CP, há causas de exclusão de ilicitude para a difamação e injúria: “I – a 
ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador”: é 
a nominada imunidade judiciária, há necessidade de que a ofensa seja proferida em 
razão da discussão da causa para que subsista a imunidade; “II – a opinião 
desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a 
intenção de injuriar ou difamar”: mera opinião desfavorável não configura o delito, há 
necessidade de que se tenha a intenção de atentar contra a honra do autor através 
da injúria ou da difamação; “III – o conceito desfavorável emitido por funcionário 
público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do 
ofício”: o conceito desfavorável deve ser limitado ao “(...) objeto do relatório, 
informação, opinião etc. (...)” (CAPEZ, 2012, p. 327). De acordo com o “Parágrafo 
único – Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe 
dá publicidade”. 
No entanto, o art. 143, CP, determina a isenção de pena para o querelado que se 
retrate da calúnia ou da difamação proferidas antes da sentença. Além do Código 
Penal, as ofensas contra a honra também estão previstas em leis especiais: a) Código 
Eleitoral (arts. 324,325 e 326 da Lei 4.737/65): em que estão previstos os crimes de 
calúnia, difamação e injúria praticados na propaganda eleitoral ou visando fins de 
propaganda; b) Lei de Segurança Nacional (art. 26 da Lei 7170/83): prevê como 
crimes contra a segurança nacional a calúnia e a difamação praticadas por motivação 
polít ica contra Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos 
Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal; c) a Lei de Imprensa (Lei 5250/67) 
também previa crimes contra honra praticados por meio da imprensa, mas tal lei 
restou não recepcionada pela CF/88. 
 
Indicação de Leitura 
1) Como indicação de leitura, sugerimos o artigo “Os crimes contra a honra e as 
novas dimensões do Direito de Resposta”, de Carlo Velho Masi. Disponível em: 
<http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/os-crimes-contra-a-honra-e-as-novas-dimensoes-do-direito-de-resposta/>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
2) Como segunda indicação de leitura, temos o artigo de Helio Mendes, “Crimes 
contra a honra, racismo e a injúria preconceituosa”. Disponível em: 
<https://juridicocorrespondentes.com.br/adv/heliomendes/artigos/crimes-contra-a-
honra-racismo-e-a-injuria-preconceituosa-1830>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
 
 
 
 
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2. CALÚNIA (ART. 138, CP) 
Tem por objetividade jurídica a tutela da honra objetiva, sendo sua ação nuclear 
“caluniar”, ou seja, ocorre quando existe a imputação falsa de um crime a alguém, 
não importando o modo como a imputação seja feita (palavras, escritos, etc.), pois é 
crime de forma livre. A imputação deve ser de crime, se for de contravenção penal ou 
de fato atípico, poderá se constituir em difamação. 
No caput do artigo está disposta a forma simples do delito (pena de detenção de 6 
meses a 2 anos e multa), onde estão expostos seus requisitos, que devem ser 
apreciados de forma cumulativa: a) imputação falsa (a falsidade da imputação surge 
como elemento normativo do tipo: o agente sabe que a imputação é falsa); b) fato 
determinado definido como crime (não há necessidade de que sejam fornecidos 
amplos detalhes, como lugar onde foi cometido, hora, vítimas determinadas etc.). 
Por exemplo, falar que Tício roubou Brutus na semana passada, diante de vários 
transeuntes, constitui crime de calúnia. No entanto, falar que Tício é um ladrão, é 
crime de injúria (atribuição de qualidade que fere a honra subjetiva da vít ima, pois 
não há atribuição de um fato). 
No § 1º, há uma figura (forma) equiparada ao crime de calúnia: incidindo o agente na 
mesma pena aplicável à calúnia quem a propala (relatar verbalmente) ou a divulga 
(por outros meios), consumando-se o crime ainda que uma só pessoa tome 
conhecimento do fato. Mas incidirá causa de aumento de pena se o crime for 
praticado na presença de várias pessoas ou através de meio que facilite a divulgação 
da calúnia (art. 141, III, CP). Só não se admite a tentativa feita verbalmente. 
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa (tanto no caput, quanto 
no § 1º). Quanto ao sujeito passivo, pode ser qualquer pessoa (não obstante ao 
reconhecer que existe divergência doutrinária quanto à admissibilidade de doentes 
mentais e menores de 18 anos como sujeitos passivos). Pessoas jurídicas podem ser 
cometer crimes ambientais (Lei 9605/98).Portanto, podem ser vít imas de calúnia. 
Desonrados também podem figurar como vítimas do crime de calúnia. 
No § 2º é punida a calúnia contra os mortos, mas, ao contrário do que possa parecer, 
o sujeito passivo não é o de cujus, mas os seus filhos, parentes, cônjuge, 
companheiro, etc. 
Todo crime contra a honra é doloso, havendo necessidade de que o agente tenha 
ciência da falsidade da imputação. Se a intenção do agente é, por exemplo, brincar 
(animus jocandi), a calúnia resta excluída. 
Consuma-se quando terceiro toma ciência do fato, não havendo possibilidade de 
reconhecimento da tentativa quando praticado verbalmente. 
 
 
 
 
11 
 
3. DIFAMAÇÃO (ART. 139, CP) 
Tem por objetividade jurídica a tutela da honra objetiva. No caput (forma simples do 
delito, apenado com detenção de 3 meses a 1 ano e multa), háa ação nuclear, que é 
difamar, ou seja “(...) imputar a alguém fato ofensivo à reputação” (CAPEZ, 2012, p. 
298), por pode ser feito por escrito ou oralmente. Não há necessidade de que o fato 
imputado seja falso. Só não pode ser imputação falsa de crime, já que esta conduta 
configura crime de calúnia. 
Embora não se exija descrição detalhada do fato ofensivo à reputação, deve ele ser 
determinado. Se for indeterminado, pode configurar crime de injúria. Exemplo: 
(...) se divulgo que Carlos traiu o seu partido político ao filiar -se a partido 
oposicionista, há no caso difamação, diante da descrição de um fato 
concreto, determinado. No entanto, se divulgo genericamente que 
Carlos é um traidor, sem fazer menção a nenhum fato concreto (...) 
haverá na hipótese o crime de injúria, diante da atribuição genérica de 
uma qualidade negativa (CAPEZ, 2012, p. 299). 
Greco (2014) leciona no sentido de que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, o 
mesmo ocorrendo com o sujeito passivo (desde que determinado). Este último, para 
o autor, pode ser pessoa física ou jurídica. Embora não esteja expressamente 
previsto, que propala ou divulga a difamação, responde igualmente pelo delit o. 
O elemento subjetivo é o dolo de dano, sendo que o crime se consuma no momento 
em que o fato ofensivo chega ao conhecimento de terceira pessoa. A tentativa não é 
admitida quando a ofensa é assacada oralmente (GRECO, 2014). 
 
4. INJÚRIA (ART. 140, CP) 
É o único dos crimes contra a honra em que se possa por objetividade jurídica a tutela 
da honra subjetiva. A ação nuclear é injuriar. A injúria deve estar direcionada a alguém 
determinado, de forma a ofender-lhe a dignidade ou decoro. Injuria-se por qualquer 
meio idôneo à demonstração de menosprezo à pessoa, seja por forma oral, escrito, 
desenhos, gestos ou abstenção de um comportamento, como, por exemplo, deixar 
de cumprimentar alguém com a intenção de ultrajá-la. Capez cita exemplos colhidos 
da jurisprudência: “(...) despejar lixo na porta da residência da vít ima, (...) atirar 
conteúdo de bebida no rosto da vít ima etc.” (2012, p. 306). 
Não existe imputação de um fato concreto e determinado, mas sim imputação de 
qualidade negativa ou, ainda de atribuição de defeitos (ainda que tais defeitos sejam 
verdadeiros), como, por exemplo, xingamentos direcionados à vít ima (preguiçoso, 
vagabundo, bandido, vadia, burro etc.). Caso forem imputados fatos desabonadores, 
eles devem ser imprecisos, como dizer que Tício jamais paga suas contas (CAPEZ, 
2012). 
A injúria se constituirá em desacato (art. 331, CP) quando a ofensa for proferida 
contra funcionário público no exercício ou em razão de suas funções. Diz o art. 331, 
 
12 
 
CP: “Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena – 
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”. Na injúria, a intenção do agente é 
atingir a honra subjetiva da vít ima; no desacato, o agente que demonstrar 
menosprezo pela função exercida pelo funcionário público, atingindo a própria 
Administração Pública. O desacato é crime praticado por particular (sujeito ativo) 
contra a Administração Pública (sujeito passivo, assim como o funcionário público 
desacatado). Tem por ação nuclear o verbo desacatar, ou seja, empregar 
dolosamente violência ou vias de fato, fazer gestos ofensivos, usar de expressões 
que ofendam a honra do funcionário público, de modo a ofender a “(...) dignidade, 
prestígio e o decoro da função pública” (CAPEZ, 2011, p. 565). Embora guarde 
proximidade com o crime de injúria, as expressões utilizadas para ofender a 
Administração Pública e o funcionário público podem ser caluniosas, difamantes ou 
injuriosas, pois o fim do sujeito ativo é atingir a função pública. Exemplos: xingar o 
funcionário público, atirar excrementos no funcionário público, urinar no funcionário 
público, dar um tapa no funcionário público, dizer que o funcionário público é um 
ladrão etc. Há necessidade de que o funcionário público e o sujeito ativo estejam no 
mesmo lugar e que a ofensa seja lançada em virtude da qualidade de funcionário 
público. Assim, se o sujeito ativo enviar um e-mail para a vít ima “(...) afirmando que 
este é o maior apropriador de dinheiro público, haverá configuração de crime contra 
a honra e não do delito de desacato” (CAPEZ, 2011, p. 566). O desacato se consuma 
com a prática dos atos ofensivos ou, ainda, quando as palavras ofensivas são 
assacadascontra o funcionário público. A ação penal é pública incondicionada. 
O sujeito ativo do crime de injúria pode ser qualquer pessoa, o mesmo ocorrendo 
com o sujeito passivo, a não ser que se trate de pessoa jurídica. 
O elemento subjetivo é o dolo de dano, consistente na vontade de ofender a honra 
de alguém. Consuma-se o delito quando a vít ima toma conhecimento da ofensa 
(crime formal). Não cabe tentativa quando for executada de forma verbal. 
A forma simples está descrita no caput. A pena prevista é a detenção de 1 a 6 meses 
ou multa. 
Provocação e retorsão, formas de perdão judicial (que acarreta isenção de pena – 
extinção da punibilidade), estão previstas no§1º. Na provocação (inc. I), o ofendido 
provoca, de qualquer forma censurável (uma lesão, uma calúnia, uma difamação, 
uma ameaça, que não estarão abrangidas pelo perdão judicial), desde que não seja 
com outra injúria, a injúria assacada contra ele. Diz Capez que, quando provocado, “A 
injúria proferida é consequência direta da ira, cólera que se apodera do agente ante a 
injusta, a censurável provocação” (2012, p. 310). Acrescenta o autor que a 
provocação deve ser feita face a face (Capez, 2012). Já na retorsão (inc. II), uma 
injúria é retorquida com outra injúria, devendo as partes estar face a face. Por 
exemplo: Tício chama Mévio de ladrão e Mévio responde imediatamente que Tício 
que é ladrão. 
No§2º há a forma qualificada, nominada de injúria real, com pena de 3 meses a 1 ano 
e multa, além da pena correspondente à violência. Nesta modalidade de injúria, 
 
13 
 
existe o emprego de violência ou contravenção penal de vias de fato que, por sua 
natureza ou pelo meio empregado, são consideradas como aviltantes. Há, então, 
dupla objetividade jurídica: a honra subjetiva e a incolumidade física. Vias de fato são 
ofensas à incolumidade física que não deixam vestígios, tais quais os tapas, os 
puxões de cabelo, empurrões, cusparadas etc., não sendo aqui punidas 
autonomamente, pois são absorvidas pela injúria (CAPEZ, 2012). Há não muito 
tempo, a cidade de Araraquara assistiu a um triste exemplo de injúria real quando 
estudantes universitários criaram o chamado “rodeio das gordas”, cuja conduta 
consistia em “montar” em alunas obesas (obviamente, à revelia destas) até serem 
derrubados, tal qual se estivessem em um rodeio de touros. Vejamos outro exemplo 
de injúria real em jurisprudência citada por Andreucci: 
Tosagem de cabelo da mulher pelo marido, num ímpeto de ciúme, 
configura a injúria real, constituindo o ato material do corte de cabelo a 
contravenção de vias de fato, com o objetivo manifesto de injuriar a 
vítima (TACrim – RT, 438/441) (ANDREUCCI, 2014, p. 257). 
Ocorre concurso de crime de injúria e lesão corporal se a violência for empregada 
com o fito de lesar a honra subjetiva do sujeito passivo, aplicando-se as penas do 
crime de injúria e das lesões produzidas de forma cumulativa. 
O § 3 trata da injúria qualificada pelo preconceito que ocorre quando a ofensa à 
honra subjetiva consiste na utilização de elementos que se referem à raça, cor, etnia, 
religião, origem, condição de pessoa idosa (60 anos completos ou mais) ou 
portadora de deficiência, cominando pena de reclusão de 1a 3anos e multa. Há 
necessidade de que a ofensa seja assacada com o intuito de discriminar a vít ima em 
virtude de sua cor, raça, religião, origem, por ser idosa ou deficiente. A injúria 
preconceituosa não consiste em crime de racismo, pois a intenção do agente é 
ofender a honra subjetiva atacando suas características pessoais e não causar 
segregação racial. Em 2014, um triste caso de injúria racial preconceituosa foi 
verificado em uma partida de futebol entre os times do Santos e Grêmio, em que o 
jogador santista Aranha foi chamado de macaco pela torcida gremista. A injúria 
qualificada pelo preconceito diferencia-se do crime de tortura, previsto no art. 1 da 
Lei 9.455/97, pois na injúria a intenção é ofender a honra subjetiva do agente, 
enquanto na tortura discriminatória, por motivos de raça ou religião, o agente 
procura causar desnecessário sofrimento à vít ima, empregando violência ou grave 
ameaça. 
À exceção da verdade, prevista no § 3 do crime de calúnia (art. 138), é regulada pelo 
art. 523, CPP. Consiste na oportunidade dada ao agente de provar a verdade do que 
disse. Por exemplo, no crime de calúnia a conduta é imputar falsamente um fato 
definido como crime. Se o agente está sendo processado pela prática de crime de 
calúnia e, ao fazer uso da exceção da verdade, conseguir fazer prova de que o que foi 
dito é verdadeiro, o fato se torna atípico, pois sua imputação não foi falsa. O art. 138, 
§ 3, trata das hipóteses em que a exceção da verdade não é cabível: a) quando o 
crime é de ação penal privada e o ofendido não foi condenado por sentença 
transitada em julgado; b) se o fato é imputado ao Presidente da República ou Chefe 
 
14 
 
de Governo Estrangeiro; c) se no crime, embora de ação penal pública, o ofendido foi 
absolvido por sentença transitada em julgado. 
De acordo com o parágrafo único do art. 139, CP (difamação), a exceção da verdade 
só será lá cabível em uma única hipótese: quando o ofendido é funcionário público e 
a ofensa é relacionada ao exercício das funções por ele exercidas. Exemplo: se for 
falado que um funcionário público chega bêbado todo dia no serviço, cabe exceção 
da verdade (CAPEZ, 2012). 
Por tratar de imputação de qualidade negativa à honra subjetiva da vít ima, não cabe 
exceção da verdade no crime de injúria. 
De acordo com o art. 145, CP, em regra, a ação penal é privada nos crimes de calúnia, 
injúria e difamação. As exceções são: a) injúria real quando resultar lesões corporais 
leves (art. 140, §2): ação penal pública condicionada à representação; b) injúria real 
quando resultar lesões corporais graves (art. 140, §2): ação penal pública 
incondicionada; c) injúria qualificada pelo preconceito (art. 140, §3): ação penal 
pública condicionada à representação do ofendido; d) crimes contra a honra do 
Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro (art. 141, I): ação penal 
pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça; e) crimes contra a honra 
cometidos contra funcionário público em razão de suas funções (art. 141, II): ação 
penal pública condicionada à representação do ofendido. 
 
 
 
15 
 
Aula 2 CRIMES CONTRA A LIBERDADE 
PESSOAL (ART. 146 – 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL; ART. 147 – 
AMEAÇA; ART. 148 – SEQUESTRO E 
CÁRCERE PRIVADO; ART. 149 – REDUÇÃO 
À CONDIÇÃO ANÁLOGA DE ESCRAVO). 
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (ART. 150); 
VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA (ART. 
151); VIOLAÇÃO DE SEGREDOS (ART. 153). 
 
 
CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL 
 
1. CONSTRANGIMENTO ILEGAL (ART. 146, CP) 
Primeiro dos crimes contra a liberdade pessoal tem sua conduta tipificada no caput 
do art. 146, CP: 
Art. 146– Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou 
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de 
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não 
manda: 
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Crime essencialmente doloso tem por objetividade jurídica a tutela da liberdade 
pessoal, ou seja, a capacidade de autodeterminação da pessoa, o que já está 
determinado pelo art. 5, II, CF/88, que determina que ninguém é obrigado a fazer ou 
não fazer alguma coisa se a lei assim não o estabelecer. São exemplos mencionados 
por CAPEZ (2012, p. 341): “(...) deixar de passar numa determinada rua (...) beber 
aguardente (...)”. 
 
 
 
 
 
16 
 
Indicação de Leitura 
1) “Os crimes de constrangimento ilegal e ameaça no Código Penalbrasileiro”, de 
Julio Pinheiro Faro Homem de Siqueira. Disponível em: 
<https://jus.com.br/artigos/9835/os-crimes-de-constrangimento-ilegal-e-ameaca-
no-codigo-penal-brasileiro>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
2) “Sequestro e cárcere privado”. Disponível em: <http://cadernodedireito-
thi.blogspot.com.br/2010/11/sequestro-e-carcere-privado.html>. Acesso em: 31 
mar. 2018. 
3) Por fim, indicamos o artigo “Do delito de redução à condição análoga de escravo, 
artigo 149 do Código Penal, e os variados meios de execução”, de Filipe Maia Broeto 
Nunes. Disponível em: 
<http://filipemaiabroetonunes16.jusbrasil.com.br/artigos/188587040/do-delito-de-
reducao-a-condicao-analoga-a-de-escravo-artigo-149-do-codigo-penal-e-os-
variados-meios-de-execucao>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
 
Trata-se de crime comum, portanto, qualquer um pode ser sujeito ativo. O sujeito 
passivo deve ter capacidade de se auto determinar. Assim, pessoas que não 
conseguem compreender a intimidação (crianças de tenra idade, pessoas 
completamente embriagadas, amentais etc.) não podem ser vítimas desse crime. 
Sua ação nuclear é constranger (obrigar), o que é feito de maneira ilegal, ou seja, de 
maneira contrária ao ordenamento jurídico. O constrangimento pode ser feito 
através de violência (emprego de força física) ou grave ameaça (forma de violência 
moral), empregadas de forma direta (contra a própria vítima) ou indireta (contra 
terceiros ou objetos de interesse da vít ima). O caput do artigo ainda estabelece o 
“uso de qualquer outro meio”, o que pode ser entendido como o emprego de, por 
exemplo, de drogas, hipnose etc. Foi observado que o constrangimento ilegal é crime 
subsidiário, ou seja, se o ato de constranger estiver presente como elemento de 
outro tipo penal, o art. 146, CP, será absorvido pelo mesmo. Exemplificando: se o 
agente empregar violência ou grave ameaça para obter conjunção carnal (crime de 
estupro – art. 213, CP), o crime de constrangimento ilegal não será punido. 
Trata-se de crime material, sendo que sua consumação ocorre quando o ofendido se 
submete à vontade do agente, fazendo ou deixando de fazer algo que não deseja. 
Admite-se tentativa, que ocorrerá quando, apesar do emprego da violência, grave 
ameaça ou depois do emprego de qualquer outro meio a capacidade de resistência, a 
vít ima não realiza o que o coator deseja. 
Surge causa de aumento de pena quando para a execução do crime se reúnem mais 
de três pessoas, ou há o emprego de armas (efetivo uso, não basta o porte da arma), 
ocasionando a aplicação cumulativa e em dobro das penas cabíveis. Se a arma for de 
brinquedo, o STJ já decidiu pela não incidência da majorante. O art. 146, CP, 
diferencia-se do crime de tortura, pois, neste, a violência ou grave ameaça são 
 
17 
 
utilizadas para que a vít ima dê ao torturador uma informação, uma confissão ou para 
provocar ação criminosa ou em razão de discriminação racial ou religiosa. Não se 
confunde, também, com o crime de extorsão (art. 158, CP), pois nesta o emprego do 
constrangimento é realizado com o fim de obter vantagem patrimonial. De acordo 
com o §2: “Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência”, 
admitindo, assim, o concurso de crimes. Por exemplo: se da violência empregada 
resultar lesão corporal, o agente será punido pelos dois crimes. 
A conduta restará atípica nas hipóteses do §3, ou seja, quando o constrangimento se 
constituir em: “I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do 
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida” 
ou, ainda, a coação for exercida para impedir o suicídio (inc. II). A ação penal é pública 
incondicionada. 
 
Indicação de Vídeos 
1) “Prova Final - Crimes Contra a Liberdade Pessoal”. Disponível em: < 
https://www.youtube.com/watch?v=6xQJUX1b7is >. Acesso em: 31 de mar. 2018. 
2) “Art. 146 do CP: constrangimento ilegal”. Disponível em: < 
https://www.youtube.com/watch?v=X1woLArUqeo >. Acesso em: 31 de mar. 2018. 
3) “Rogér io Sanches - Art 147 CP Dica Periscope”. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=DOtgVV-V-gA. Acesso em: 31 de mar. 2018. 
4) “Rogerio Sanches - Art 148 CP: Sequestro e Cárcere Privado”. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=aqYjPXUj0Qg . Acesso em: 31 de mar. 2018. 
 
2. AMEAÇA (ART. 147, CP) 
Diz a redação do art. 147, CP: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou 
qualquer outro meio simbólico, de causar -lhe mal injusto e grave”. É crime de ação 
penal pública condicionada à representação, com pena de detenção, de 1a 6meses, 
ou multa. Crime doloso tem por objetividade jurídica a tutela da liberdade psíquica, 
na medida em que a vít ima tem temporariamente suprimida sua livre manifestação 
de vontade, segundo Capez (2012). 
Sua ação nuclear é ameaçar, no caso, de causar um mal injusto e grave, o que pode 
ser feito por palavras, escritos, gestos ou por qualquer outro símbolo. Assim como 
ocorre no art. 146, CP, a ameaça pode ser feita de forma direta (exemplo: vou matar 
você) ou indireta (exemplo: vou espancar sua filha até a morte). 
Surgem como elementos normativos: mal injusto e grave. É injusto “(...) quando o 
sujeito não tiver qualquer apoio legal para realizá-lo (...)”, e grave quando “(...) o dano 
anunciado (econômico, físico ou moral) deve ser de importância capital para a vít ima, 
de modo que seja capaz de intimidá-la” (CAPEZ, 2012, p. 356, 357). Observa-se que 
 
18 
 
o mal prometido deve ser dotado de idoneidade para intimidar a vít ima. Se ela for 
intimidada com arma de brinquedo e desconhecer tal fato, o crime restará 
configurado. Realçamos que idoneidade para intimidar é aferida conforme as 
condições pessoais (físicas e psíquicas) da vít ima. 
Por ser crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo. Mas, se o sujeito ativo for 
funcionário público e cometer o crime no exercício de suas funções, poderá 
configurar abuso de autoridade, conforme o art. 3, Lei 4898/65. O sujeito passivo há 
de ser pessoa física determinada ou determinável, que tenha capacidade de 
discernimento. Não podem figurar como sujeitos passivos, por exemplo, as crianças 
de tenra idade e pessoas dotadas de doença mental que tenham afetada a 
capacidade de entendimento, pois as vít imas devem ser capazes de entender a 
intimidação. 
Divide-se a doutrina em relação à ameaça assacada em momento de exaltação 
emocional (ira, cólera, revolta etc.): para Capez “(...) a ameaça não exige ânimo calmo 
e refletido” (2012, p.359), sendo este o mesmo entendimento de Greco (2014); 
Andreucci (2011) colaciona várias jurisprudências no sentido da incompatibilidade 
(não configuração) do crime de ameaça com estados de exaltação emocional. A 
mesma divergência é encontrada quanto à ameaça proferida em estado de 
embriaguez: Luiz Regis Prado, citado por Greco (2014), diz que a embriaguez exclui o 
dolo do agente, embora não seja este o posicionamento de Greco e de Capez. O 
último autor sustenta que só excluirá a culpabilidade (e não o dolo) do agente se a 
embriaguez for completa e decorrente de caso fortuito ou força maior, conforme o 
art. 28, §2, CP (CAPEZ, 2012). 
Por ser crime formal, resta consumado quando a vít ima toma ciência do mal. Em 
tese, a tentativa é admitida quando feita por escrito, como na hipótese de extravio da 
carta contendo a ameaça (ANDREUCCI, 2011). 
Da mesma forma que o crime de constrangimento ilegal, o crime de ameaça é 
subsidiário, valendo aqui as mesmas observações anteriormente feitas. 
A ação penal é pública, condicionada à representação. 
 
3. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO (ART. 148, CP) 
Constitui-se em crime doloso, cuja forma simples está capitulada no caputdo artigo: 
“Art. 148 – Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: 
Pena – reclusão, de 1a 3anos”, que tem por objetividade jurídica a tutela da liberdade 
de locomoção da vít ima. 
O delito pode ser praticado mediante a privação da liberdade. Por meio de sequestro 
(onde a vít ima é mantida em um espaço físico amplo, como por exemplo, em uma 
chácara) ou cárcere privado (que consiste em privar a liberdade de locomoção da 
vít ima em um espaço fechado, com espaço físico reduzido, como, por exemplo, em 
um cômodo fechado de uma residência). 
 
19 
 
A conduta típica (ação nuclear) consiste em privar a liberdade de locomoção, em que 
qualquer pessoa pode surgir como sujeito ativo, havendo que se atentar que se o 
sujeito ativo for funcionário público e cometer o crime no exercício de suas funções, 
poderá configurar abuso de autoridade, conforme o art. 3, “a”, Lei 4898/65. Qualquer 
pessoa pode ser sujeito passivo do delito. 
O crime resta consumado quando a vít ima é privada da liberdade de locomoção, 
admitindo-se a tentativa. Trata-se de crime permanente, cuja execução se prolonga 
no tempo. 
O § 1º é forma qualificada do delit o, com pena de reclusão, de 2a 5anos. Vejamos: 
“I– se a vít ima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou 
maior de 60 (sessenta) anos”: as agravantes genéricas do art.61, II, “e” e “h”, CP, não 
são aqui aplicáveis. Para que incida a qualificadora, há necessidade de que o sujeito 
ativo tenha ciência de que a vít ima era maior de 60 anos; 
“II– se o crime é praticado mediante internação da vít ima em casa de saúde ou 
hospital”: há necessidade de emprego de fraude, ocultando, assim, a verdadeira 
intenção do agente que é de manter a vít ima privada da liberdade de locomoção; 
“III– se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias”: demonstra maior 
insensibilidade do sujeito ativo, que não se compadece com o sofrimento da vít ima; 
“IV– se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos”: a idade da vít ima 
deve ser aferida no momento da prática do crime; 
“V– se o crime é praticado com fins libidinosos”: como por exemplo, quando a vít ima 
é mantida em privação da liberdade de locomoção por tempo juridicamente 
relevante para que o agente com ela mantenha conjunção carnal ou outro ato 
libidinoso diverso da conjunção carnal, hipótese em que haverá concurso de crimes. 
Uma segunda forma qualificada é prevista no “§ 2º– Se resulta à vít ima, em razão de 
maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral”, cuja 
pena é de reclusão, de dois a oito anos. 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
4. REDUÇÃO CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO (ART. 149, CP) 
Trata de crime doloso, cuja conduta é:“Art. 149. Reduzir alguém à condição análoga 
de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer 
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer 
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”, 
sua pena é de reclusão, de 2a 8anos, e multa, além da pena correspondente à 
violência. O crime é também chamado de “plágio”. 
Tutela-se a liberdade individual da vít ima. 
 
20 
 
 
Indicação de Vídeo 
Para que se visualize a gravidade do trabalho realizado em condições análogas às de 
escravo, colacionamos reportagem exibida no Bom dia Brasil – “Trabalho escravo – 
Bom Dia Brasil, Rede Globo.flv”. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=PaFQ3cFwVw4>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
 
A ação nuclear é reduzir (transformar) alguém a uma condição semelhante a de um 
escravo. De acordo com o caput, a pessoa é reduzida a tal condição quando: a) é 
submetida a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva; b) é submetida a condições 
degradantes de trabalho; c) ou quando se restringe, por qualquer meio, sua 
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. 
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, bem como sujeito passivo. Quanto à vít ima, o 
crime se perfaz independentemente de seu consentimento. 
O § 1 elenca as figuras equiparadas: “I– cerceia o uso de qualquer meio de transporte 
por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho”; como segunda 
forma temos o inciso “II– mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se 
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no 
local de trabalho”. 
A causa de aumento de pena é prevista no “§ 2. A pena é aumentada de metade, se o 
crime é cometido: I– contra criança ou adolescente; II– por motivo de preconceito de 
raça, cor, etnia, religião ou origem”. 
Consuma-se“(...) quando o sujeito ativo reduz a vít ima a condição análoga de escravo 
através de uma ou mais condutas acima referidas” (ANDREUCCI, 2011, p. 266), 
admitindo-se a tentativa quando, por exemplo, não obstante à prática de atos 
executórios do delito, a vít ima foge. 
Se a vít ima restar com lesões corporais, por exemplo, haverá concurso de crimes. 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE 
 
1. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (ART. 150, CP) 
A conduta típica de violação de domicílio está insculpida no art. 150, CP: “Entrar ou 
permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita 
de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”, cuja pena é de 
detenção, de 1 a 3 meses, ou multa. Trata-se de crime doloso (elemento 
subjetivo),cuja objetividade jurídica é a tranquilidade do ser humano em espaços 
 
21 
 
considerados como privados (CAPEZ, 2012). Trata-se de delito subsidiário: assim, se 
o agente entrar clandestinamente em uma residência e subtrair coisa alheia móvel, 
será responsabilizado apenas pelo crime de furto. 
 
Indicação de Vídeo 
Indicamos o vídeo: “Art. 150 do CP: violação de domicílio”, de Rogério Sanches Cunha. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qqJ9liko7V8>. Acesso em: 31 
mar. 2018. 
 
Possui duas ações nucleares: entrar (invadir por completo o domicílio) e permanecer 
(que ocorre quando o agente já está dentro do domicílio e se recusa a sair) de forma 
clandestina (é feita às escondidas, sem que o morador tome conhecimento), 
astuciosa (mediante emprego de artifício ou fraude, como na hipótese em que o 
agente se disfarça de funcionário da empresa de televisão a cabo para ingressar na 
residência) ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito (é chamada de 
violação de domicílio ostensiva), em casa alheia ou em suas dependências, cabendo 
ao morador ou responsável ou seu representante explicitar, expressa ou 
tacitamente, a sua não concordância com a conduta do sujeito ativo. Não se exige do 
sujeito ativo nenhuma qualidade especial, pois é crime comum (o locador que 
adentra no imóvel à revelia do locatário comete o delito em tela); o sujeito passivo é 
o morador ou quem o represente, não importando se é o proprietário, locatário ou 
possuidor do domicílio (ANDREUCCI, 2011). 
Em regra, caberá aos cônjuges admitir ou excluir alguém do domicílio. Caso estes não 
estejam presentes, poderão fazê-lo os “(...) ascendentes, descendentes, primos, t ios, 
sobrinhos, empregados (...)” (CAPEZ, 2012, p. 379). Greco (2014, p. 444) acrescenta: 
“Havendo conflito de vontades, prevalece a vontade da maioria ou, em caso de 
empate, a negativa (...)”. 
A casa e suas dependências se constituem em objetos materiais do delito. 
De acordo com o art. 150, § 4º, CP, pode-se entender como casa: “I – qualquer 
compartimento habitado”: como os apartamentos, trailers, casas, sobrados, barracas 
de camping etc.; “II– aposento ocupado de habitação coletiva”: apenas são 
consideradoscomo tal os aposentos, tal qual os quartos de pensões, hotéis, motéis 
etc.; “III– compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou 
atividade”: como sói acontecer com as áreas restritas de acesso ao públicos dos 
escritórios de advocacia, de restaurantes etc. Por sua vez, “por dependência da casa 
se compreendem pátio, jardim, garagem, t erraço etc., enfim, o conjunto de 
construções que tem seu destino ligado ao da habitação” (TA-Crim – RT, 467/385), 
havendo necessidade de que “(...) tais lugares estejam cercados ou participem de 
recinto fechado (...)” (CAPEZ, 2012, p. 381). O art. 150, § 5º, CP, indica o que não pode 
ser considerado como casa: “I– hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação 
 
22 
 
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n. II do parágrafo anterior”: a restrição 
diz respeito ao aposento ocupado de habitação coletiva; “II– taverna, casa de jogo e 
outras do mesmo gênero”: excetuando-se as áreas restritas ao público em geral, 
como, por exemplo, a parte administrativa. 
Na modalidade entrar, o crime se consuma quando o sujeito ativo adentra 
integralmente na casa ou dependências alheias; na conduta permanecer, reputa-se 
consumado o delito quando o agente é cientificado de que não tem permissão para 
ficar no local e se recusa a sair, permanecendo durante tempo juridicamente 
relevante. Admite-se, ao menos em tese, a forma tentada “(...) se não há passagem 
integral, quando, por exemplo, o agente é surpreendido e preso no momento em que 
em está galgando a janela para entrar na casa (HUNGRIA apud CAPEZ, 2012, p, 384), 
ou ainda, quando “(...) manifestada a vontade de ficar, a permanência, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, não atinge limite de tempo para que se diga 
consumado o crime” (MAGALHÃES NORONHA apud CAPEZ, 2012, p. 384). 
A forma qualificada encontra-se no § 1º, art. 150, CP, cuja pena é de detenção de 6 
meses a 2 anos, além da pena que corresponda à violência empregada: “Se o crime é 
cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de 
arma, ou por duas ou mais pessoas”: por noite, entende-se o período em que a luz 
solar está ausente; lugar ermo é o despovoado; emprego de violência, não 
importando se a violência foi direcionada a pessoa ou coisa; emprego de arma: pode 
ser arma própria (revólver, punhal etc.) ou imprópria (facas, machados etc.); duas ou 
mais pessoas, admite apenas a coautoria (CAPEZ, 2012). 
Já o § 2º, art. 150, CP, estabelece as causas de aumento de pena: “Aumenta-se a 
pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, 
ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do 
poder”. Capez (2012, p. 386) nos questiona sobre “(...) qual crime responderá o 
funcionário público que violar o domicílio fora dos casos legais, ou com inobservância 
das formalidades legais ou com abuso de poder” e responde: 
A Lei de Abuso de Autoridade é uma lei especial em relação ao art. 150, 
§ 2º, pois regula especificamente a responsabilização do agente público 
nas esferas administrativa, civil e criminal. Assim, responderá ele nos 
termos da respectiva lei, e não nos termos do art. 150, § 2º, do CP, em 
face do princípio da especialidade. 
Como causas de exclusão da ilicitude, temos que não será ilícita a conduta de quem 
violar o domicílio ou suas dependências nas seguintes hipóteses: “I– durante o dia, 
com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II– 
a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou 
na iminência de o ser”. Acrescentamos que também restará excluída a ilicitude 
quando restar configurada a legítima defesa, estado de necessidade, exercício 
regular de um direito ou estrito cumprimento do dever legal.” 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
23 
 
2. VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA (ART. 151, CP) 
O art. 5, XII, Constituição Federal de 1988, assegurou o sigilo da correspondência e 
das comunicações: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas (...)” que só poderá ser 
quebrado, de acordo com o texto constitucional, “(...) por ordem judicial, nas 
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou 
instrução processual penal”. 
Tendo por objetividade jurídica específica a tutela do sigilo de correspondência e por 
objeto material a própria correspondência, a forma simples do delito era capitulada 
no caput do artigo 151, CP, revogada pelo art. 40 da Lei 6.538/1978: “Art. 40 – 
Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada dirigida a outrem: 
Pena: detenção, até 6 meses, ou pagamento não excedente a 20dias-
multa”.Devassar (tomar conhecimento) é a ação nuclear do delito. A devassa deve 
ser feita de forma indevida(elemento normativo),sendo que a correspondência deve 
estar fechada. 
Como sujeitos do delito temos: a) sujeito ativo: por ser crime comum, pode ser 
praticado por qualquer pessoa; b) sujeitos passivos: remetente e o destinatário da 
correspondência. 
Como elemento subjetivo, admite apenas o dolo. Desta forma, se alguém devassar 
correspondência de outra pessoa, acreditando que a correspondência é sua (supõe 
ser o destinatário), ocorrerá erro de tipo, excluindo-se o dolo de sua conduta. 
Consuma-se quando o sujeito ativo, de forma indevida, tem ciência parcial ou total 
do conteúdo da correspondência que estava fechada. Admite-se a tentativa quando 
o agente é impedido, por circunstâncias alheias àsua vontade, de tomar 
conhecimento do conteúdo. 
O § 1º do art. 151, CP, trata das figuras equiparadas: 
a) no inciso I sonegação ou destruição de correspondência, revogado pelo art. 40, § 
1º da Lei 6.538/1978, que tem a seguinte redação: “Incide nas mesmas penas quem 
se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada, para 
sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte”; 
Basta que o agente se aposse indevidamente de correspondência alheia, esteja ela 
aberta ou fechada, com o fim de sonegá-la ou destruí-la para que o delito esteja 
consumado. Admite tentativa. Quanto aos sujeitos do crime, valem as mesmas 
observações feitas ao caput do art. 151. 
b) violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica (art. 151, §1º, II, 
CP): “II –quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente 
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação 
telefônica entre outras pessoas”. 
 
24 
 
É crime doloso, que pode ser praticado por qualquer pessoa. Os sujeitos passivos são 
os que têm a comunicação violada. 
Suas ações nucleares são: divulgar, transmitir e utilizar. A conduta deve ser praticada 
de forma indevida e abusiva (elementos normativos do tipo). Quanto ao momento 
consumativo, Capez (2012, p. 404) leciona: “(...) consuma no momento em que 
ocorre a divulgação ou transmissão da comunicação a outrem ou a sua utilização 
abusiva”. Admite a forma tentada; 
c)impedimento de comunicação telegráfica ou radioelétrica ou conversação (art. 151, 
§ 1º, III, CP): “quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número 
anterior”. 
Sua ação nuclear é impedir, tanto o início da comunicação ou uma comunicação já 
iniciada; 
d) instalação ou utilização ilegais (art. 151,§ 1º,IV, CP): este inciso foi tacitamente 
revogado pelo art. 70,Lei 4.117/62 (Código Brasileiro de Telecomunicações), que tem 
a seguinte redação: 
Constitui crime punível com a pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) 
anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou 
utilização de telecomunicações, sem observância do dispostonesta lei e 
nos regulamentos. 
Suas ações nucleares são: instalar, utilizar em desacordo com a lei e regulamento. Se 
consuma mesmo que não ocorra danos a terceiros. Caso o dano ocorra, a pena é 
aumentada da metade. 
Como causa de aumento de pena, temos: “§ 2º – As penas aumentam-se de metade, 
se há dano para outrem”. A majorante só é aplicável aos crimes regulados pelo 
Código Penal, pois “(...) aos crimes disciplinados pela Lei 6.538/78 existe idêntica 
previsão no § 2 do art. 40 dessa lei” (CAPEZ, 2012, p. 410). Não importa se o dano é 
material ou moral, podendo atingir qualquer pessoa, mesmo que não seja ela o 
remetente ou destinatário da correspondência (CAPEZ, 2012). 
A qualificadora está insculpida no §3 do art. 151: “§ 3º –Se o agente comete o crime, 
com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: Pena 
– detenção, de 1a 3anos”. O abuso deve dizer respeito às funções exercidas pelo 
agente no exercício da função. 
Quanto a ação penal: “§ 4º – Somente se procede mediante representação, salvo nos 
casos do § 1º, IV, e do § 3º”. Portanto, § 1º, IV, e do § 3º, a ação será pública 
incondicionada. 
 
 
 
 
25 
 
Indicação de Leitura 
1) “Dos Crimes Contra a Inviolabilidade de Correspondência”. Disponível em: 
<https://www.passeidireto.com/arquivo/1514717/dos-crimes-contra-a-
inviolabilidade-de-correspondencia>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
2) “Art. 151 – Violação de correspondência”, de Victor Travancas. Disponível em: 
<https://codigopenalcomentado.wordpress.com/2010/03/31/art-151-violacao-de-
correspondencia/>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
3) “Crimes previstos no arts. 150 a 154 do Código Penal e o conflito aparente de 
normas”, de Fernando José Vianna Oliveira. Não obstante ao artigo científico, faça a 
análise dos arts. 150 – 154;como leitura mínima indicamos a análise realizada sobre 
os tipos penais 150, 151 e 153, CP. Disponível em: 
<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,crimes-previstos-no-arts-150-a-154-
do-codigo-penal-e-o-conflito-aparente-de-normas,32489.html>. Acesso em: 31 
mar. 2018. 
4) “Domicílio e suas interpretações doutrinárias e seus mecanismos de proteção”, de 
Cícero Alexandre Granja. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13095&rev
ista_caderno=3>. Acesso em: 31 mar. 2018. 
 
3. DIVULGAÇÃO DE SEGREDO (art. 153, CP) 
Tem-se como conduta típica: “Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de 
documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou 
detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem: Pena – detenção, de 1 a 6 
meses, ou multa. Trata-se de crime doloso, cujo bem jurídico protegido de forma 
específica é a inviolabilidade dos segredos. 
Sua ação nuclear é divulgar, o que pode ser feito pelos mais diversos meios: 
televisão, rádio, entre outros (CAPEZ, 2012). Pelo entendimento doutrinário 
majoritário, há necessidade de que o “(...) segredo seja divulgado para mais de uma 
pessoa” (CAPEZ, 2012, p. 415). 
Como objeto material tem-se: a) “O conteúdo de documento particular” (CAPEZ, 
2012, p. 415): documento, por sua vez, é o escrito que faça prova de fato 
juridicamente relevante, independentemente de seu valor econômico (CAPEZ, 2012); 
b) “Conteúdo de correspondência particular” – o art. 47 da Lei 6.538/78 define 
correspondência como: “é toda comunicação de pessoa a pessoa, por meio de carta, 
através da via postal ou por telegrama”. Há necessidade de que tais conteúdos sejam 
sigilosos, o que pode ocorrer da vontade da pessoa ou da natureza do documento, 
em virtude de, por exemplo, interesse material ou moral do indivíduo. O crime só 
restará configurado se a divulgação for feita sem justa causa(que apresente 
contrariedade ao ordenamento jurídico), que se constitui em seu elemento 
normativo. 
 
26 
 
Surge como sujeito ativo a pessoa a quem a correspondência particular ou 
confidencial é destinada, que não deveria divulgar seu conteúdo sem que tivesse 
autorização do remetente; surge, também, como sujeito ativo o detentor da 
correspondência que não respeita o segredo existente e o divulga como sujeitos 
passivos surgem: 
a) o remetente ou autor do documento; b) o destinatário, na hipótese 
em que outrem for o detentor do documento particular ou da 
correspondência; c) outra pessoa que possa sofrer dano com a 
divulgação do segredo, ainda que não seja o remetent e ou autor do 
documento (CAPEZ, 2012, p. 416). 
A consumação ocorre a divulgação do segredo a terceiro, desde que exista 
possibilidade de dano a alguém. A tentativa é admitida. O delito é de ação penal 
pública condicionada à representação. 
 
 
 
 
 
Encerramento 
Todos os delitos de periclitação da visa e da saúde tutelam a vida e a saúde do 
sujeito passivo e são figuras dolosas, de ação penal pública incondicionada. No 
abandono de incapaz (art. 134), o sujeito ativo tem por fim ocultar desonra própria, 
sendo que as ações nucleares são abandonar ou expor, ações que são praticadas 
pelos genitores do neonato (sujeito passivo). Pessoas desonradas não podem 
praticar este crime. O crime se consuma com o abandono ou exposição e 
consequente perigo. A forma simples está prevista no caput, enquanto as 
qualificadas estão previstas no § 1º e no § 2º. A omissão de socorro (art. 135) possui 
duas modalidades: a) Deixar de prestar assistência; b) Não pedir socorro à 
autoridade pública. É crime comum. Os sujeitos passivos são: criança abandonada ou 
extraviada; pessoa inválida ou ferida ou, ainda, em grave e iminente perigo. Resta 
consumado com a abstenção do comportamento exigido pela norma, não admitindo 
tentativa. A forma simples está prevista no caput do artigo. A forma majorada é 
prevista no parágrafo único. O art. 97, da Lei 10.741/03, t ipifica conduta similar ao 
art. 135. Na conduta típica inscrita no art. 135-A, CP, a ação nuclear é exigir 
(garantias mencionadas no caput ou a preenchimento de formulários como fator 
condicionante para o atendimento de emergência). O sujeito ativo só pode ser aquele 
que tem autoridade para impedir a realização do atendimento. Já o sujeito passivo é 
o que necessita de atendimento emergencial. Se consuma no momento em que é 
feita a exigência, o atendimento é obstado. Admite-se a forma tentada. A forma 
simples está prevista no caput e as causas de aumento de pena no parágrafo único. 
 
27 
 
A ação nuclear do crime de maus-tratos (art. 136, CP) é expor a perigo que possa 
acarretar lesão à vida ou à saúde de um ser humano que está sob autoridade, guarda 
ou vigilância para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, o que pode ser 
feito através de: a) privação de alimentos ou de cuidados necessários; b) sujeição a 
trabalho excessivo ou inadequado; c) abuso dos meios de correção ou disciplina. Só 
pode ser sujeito ativo as pessoas dotadas das qualidades expostas no caput, ou seja, 
aquele que tem o sujeito passivo sob sua guarda, autoridade ou vigilância para fins 
de educação, ensino, tratamento ou custódia. Como sujeitos passivos surgem os que 
estão sob a autoridade, guarda ou vigilância nas situações anteriormente expostas. 
Consuma-se quando a vít ima é exposta a um perigo concreto de dano. Na 
modalidade omissiva não admite tentativa. A forma simples está prevista no caput. 
As formas qualificadas estão previstas nos §§ 1º e 2º, enquanto o § 3º traz causa de 
aumento de pena. Por fim, será observado o art. 99, do Estatuto do Idoso. Calúnia, 
difamação e injúria são crimes contra a honra. Foi verificado que tais crimes podem 
estar presentes em leis especiais como o Código Eleitoral e a Lei de SegurançaNacional. A calúnia e a difamação tutelam a honra objetiva, enquanto a injúria tutela 
a honra subjetiva. As causas de aumento de pena estão previstas no art. 141, CP, e 
as determinações sobre ação penal, no art. 145, CP. As causas de exclusão da 
ilicitude nos crimes de difamação e injúria estão elencadas no art. 142, CP. Os 
requisitos do crime de calúnia, ação, os sujeitos do crime, elemento subjetivo, a 
figura equiparada (§1), a calúnia contra os mortos (§2) e momento consumativo. Na 
difamação, foram vistos a objetividade jurídica, a ação nuclear, os sujeitos do crime, o 
elemento subjetivo e o momento consumativo. Os mesmos pontos também foram 
abordados quando da análise do crime de injúria, onde foram ver ificadas: a distinção 
entre injúria e desacato; provocação e retorsão (§ 1º); injúria real (§2º) e injúria 
qualificada pelo preconceito (§3º). Tratamos, também, da admissibilidade da exceção 
da verdade na calúnia e na difamação e da vedação da exceção da verdade aos 
crimes de injúria. São delitos contra a liberdade pessoal (art. 146 –constrangimento 
ilegal; art. 147 – ameaça; art. 148 –sequestro e cárcere privado; art. 149 –redução à 
condição análoga de escravo). Os delitos analisados são todos praticados a título de 
dolo, não havendo previsão da forma culposa. Tutelam a liberdade pessoal do ser 
humano. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, podendo figurar como vítima 
qualquer pessoa, salvo as exceções apresentadas no decorrer da aula. Assim, nos 
arts. 146 e 147, CP, a vít ima deve ter capacidade de se auto determinar, observando 
que ambos são delitos subsidiários. A ação nuclear se constitui em: constranger (art. 
146, CP); ameaçar (art. 147, CP); privar (art. 148, CP); e reduzir (art. 149, CP). São 
analisados o momento consumativo e a possibilidade de reconhecimento da 
tentativa em todos os crimes, as formas qualificadas, equiparadas e causas de 
aumento existentes, bem como o concurso de crimes. Exceto no crime de ameaça 
em que a ação é pública condicionada à representação, nos demais ação penal é 
pública incondicionada. O crime de violação de domicílio (art. 150, CP), cuja conduta 
consiste em entrar ou permanecer de forma clandestina ou astuciosa em casa alheia 
ou suas dependências ou, ainda, a revelia de quem de direito. Já na violação de 
correspondência (art. 151, CP), verificou-se que o caput foi revogado pelo art. 40 da 
 
28 
 
Lei 6.538/1978, encontrando-se também revogados: § 1º, I pelo art. 40, § 1º da Lei 
6.538/1978; § 1º,IV, CP, pelo art. 70, Lei 4.117/62. A divulgação de segredos (art. 
153, CP) se configura quando alguém divulga, sem justa causa, o que está contido 
em documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário 
ou detentor, desde que a divulgação tenha idoneidade para produzir dano a outrem. 
Em todos eles foram analisados: a objetividade jurídica, o objeto material, os 
elementos do tipo penal, sujeitos, elemento subjetivo, consumação e tentativa, 
formas e ação penal. 
 
 
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Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o 
funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas 
ao curso serão disponibilizadas pela coordenação. 
Grande abraço e sucesso! 
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serão disponibilizadas pela coordenação. 
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