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1 Régis Gonçalves Pinheiro Penal III – Parte Especial Nota de Aula nº 06 – 2ª PARTE FALSIDADE IDEOLÓGICA Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Obs.1: os arts. 297 e 298 – falsidade material; Obs.2: art. 299 – falsidade ideológica, ideal, moral ou intelectual O ponto marcante da FALSIDADE IDEOLÓGICA repousa no conteúdo falso lançado pela pessoa legitimada para a elaboração do documento. FALSIDADE MATERIAL Adulteração da assinatura do responsável pela emissão do documento. Falsificação de assinatura do responsável pela emissão do documento. Rasurada ou modificada, de qualquer modo o conteúdo da assinatura do responsável pela emissão do documento. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: documento público ou particular Obs.1: petições lançadas em processos judiciais ou administrativos não estão abrangidas; Obs.2: a falsidade deve está relacionada a fato juridicamente relevante. Obs.3: Falsidade Ideológica x Declaração falsa de declaração de pobreza??? è Para o STF, não se caracteriza o crime definido no art. 299 do CP, pois a “declaração possível de averiguação ulterior não constitui documento para fins penais”; Obs.4: Falsidade Ideológica x petições lançadas em processos judiciais ou administrativos??? è As petições em geral não se amoldam ao conceito de documento para fins penais. 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: qualquer pessoa; Sujeito Passivo: o Estado FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito 2 03) Tipo Objetivo: Adequação típica 1a Conduta - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante; Trata-se de crime omissivo próprio ou puro. 2ª Conduta – Nele (documento público ou particular) inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante; Trata-se de um crime comissivo. FALSIDADE IDEOLÓGICA IMEDIATA OU DIRETA É aquela em que o sujeito, por conta própria, insere no documento público ou particular a declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. FALSIDADE IDEOLÓGICA IMEDIATA OU DIRETA É aquela que o agente se vale de um terceiro para fazer inserir no documento público ou particular a declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. Em qualquer das condutas, omissiva ou comissiva, a falsidade deve relacionar-se a FATO JURIDICAMENTE RELEVANTE, compreendido como aquele que, isoladamente ou em conjunto com outros fatos, apresente significado direto ou indireto para constituir, modificar ou extinguir um relação jurídica, e por este motivo o autor da declaração está obrigado a declarar a verdade. PAPEL ASSINADO EM BRANCO??? Se o papel assinado em branco chegou às mãos do sujeito de forma legítima, e este, possuindo autorização para fazê- lo, o preencheu de maneira diversa do convencionada com o signatário, estará configurado o crime de falsidade ideológica. Modalidade: “inserir declaração diversa da que devia ser escrita”; O papel assinado em branco foi obtido de forma ilícita (exemplos: furto, roubo, apropriação indébita, etc.) e o agente preencheu sem autorização para tanto. Cuida-se de falsificação de documento (público ou particular – art. 297 ou 298, CP), em decorrência da contrafação, que pode ser total ou parcial, conforme seja preenchido todo o documento ou apenas parte dele; O papel assinado em branco entrou licitamente na posse do agente, mas posteriormente o signatário revogou a autorização para o seu preenchimento, ou então cessou por qualquer motivo a obrigação ou faculdade de preenchê-lo. Trata- se novamente de falsificação de documento, público ou particular. 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica Dolo – vontade livre e consciente. Obs.1: Elemento subjetivo específico: com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante Obs.2: Falsidade ideológica para fins eleitorais: art. 350, do CE; Obs.3: Declaração falsa e finalidade de suprimir ou reduzir tributo: art. 1º, I e II, Lei 8.137/1990. Nesses casos, o delito contra a fá pública é absorvido, sob pena de bis in idem. Mas é importante destacar, que se o falso é cometido após a consumação do crime tributário, com a finalidade de ocultar sua prática, não ocorre a absorção. 3 05) Consumação e Tentativa Consuma-se com a omissão em documento público ou particular, da declaração que dele devia constar, ou com a inserção em tais objetos, direta ou determinada por outrem, da declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Obs.1: crime FORMAL – não é necessário prejuízo a terceiros; Obs.2: não se exige o efetivo uso do documento falso, nem a obtenção de qualquer vantagem; Obs.3: como a estrutura material do documento é verdadeira – não há espaço para prova pericial – art. 158, CPP; A tentativa é possível na modalidade inserir. 06) Formas Simples (caput) Agravada (parágrafo único) Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Obs.: vide art. 29, da Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) Obs.: Falsificação de registro civil x registro de nascimento inexistente (art. 241, CP), prevalece pelo princípio da especialidade. 07) Classificação doutrinária Crime: comum; formal; instantâneo; comissivo (inserir ou fazer inserir) e/ou omissivo (omitir); unissubjetivo; unissubsistente (omitir) ou plurissubsistente (inserir ou fazer inserir). 08) Ação Penal Pública incondicionada. 4 FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMA OU LETRA Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a três anos, e multa, se o documento é particular. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: FIRMA é a assinatura de alguém LETRA é o sinal gráfico representativo de vocábulos da linguagem escrita 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: Crime próprio – somente pode ser cometido por funcionário público dotado de fé pública (tabeliães, agentes consulares, etc.); Sujeito Passivo: o Estado. 03) Tipo Objetivo: Adequação típica A adequação típica é reconhecer , no sentido de declarar, afirmar, proclamar, autenticar como verdadeira firma ou letra que não o sejam. Caso 1º: Falsário submete documento (falso) à autenticação: a) o falsário responde por art. 297 ou art. 298; b) o funcionário público responde pelo art. 300 (desde que ciente da falsidade). Caso 2º: Terceira pessoa submete o documento à falsificação: a) o terceiro responde pelo art. 300 (desde queciente da falsidade); b) o funcionário público responde pelo art. 300 (desde que ciente da falsidade). Obs.: vide o crime de falsa perícia: art. 342, CP. 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica É o dolo – vontade livre e consciente de reconhecer como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que não o seja. Obs.1: o dolo eventual é possível; Obs.2: fins eleitorais: art. 352, Lei 4.737/1965 (CE) 05) Consumação e Tentativa Consuma-se no momento em que o funcionário público reconhece como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que não o seja. A tentativa é possível. 06) Classificação doutrinária Crime: próprio; formal; instantâneo; comissivo; plurissubsistente. 07) Ação Penal: Pública incondicionada. 5 CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano. O documento é materialmente verdadeiro, o seu conteúdo é falso. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: atestado ou certidão ideologicamente falsa 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: crime próprio – funcionário público; Sujeito Passivo: o Estado 03) Tipo Objetivo: Adequação típica – ATESTAR e CERTIFICAR ATESTAR – É afirmar a ocorrência de fato ou situação que o funcionário público tenha ciência direta ou pessoal. CERTIFICAR – É afirmar a existência ou inexistência de determinando documento ou registro junto ao órgão público. 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica Dolo – vontade livre e consciente de funcionário público emitir certidão ou atestado ideologicamente falso 05) Consumação e Tentativa Consuma-se no momento em que o sujeito conclui a certidão ou o atestado ideologicamente falso, e o entrega a outrem, independentemente de sua efetiva utilização pelo destinatário ou da causação de prejuízo a alguém. Obs.: para a consumação do crime, a certidão ou o atestado ideologicamente falso tem que ser entregue a terceiro. A tentativa é possível. 06) Classificação doutrinária: Crime: próprio; formal; instantâneo; comissivo; unissubjetivo; plurissubsistente. 07) Ação Penal: Pública incondicionada. FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de três meses a dois anos. § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa. O PARÁGRAFO PRIMEIRO TRATA-SE DE FALSIDADE MATERIAL E NÃO IDEOLÓGICA. 6 FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: atestado médico falso 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: crime próprio – médico; Sujeito Passivo: o Estado 03) Tipo Objetivo: Adequação típica A adequação típica objetiva é dar (fornecer, entregar, produzir documento) em que se ateste falso médico relevante e não correspondente com a realidade. Obs.1: a atestação falsa de óbito configura o delito em estudo. Obs.2: se o atestado for usado para cometer outro crime, e o médico tiver ciência, o art. 302 é considerado crime-meio, em face do princípio da consunção. 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica Dolo – vontade livre e consciente de médico dar atestado falso. Obs.1: e em caso de equívoco, negligência ao examinar o paciente? Atípico. Obs.2: atestado para fins militares, art. 9º, III, a, do CPM; 05) Consumação e Tentativa Consuma-se no momento em que o médico entrega o atestado falso, independentemente de sua efetiva utilização pelo destinatário ou da causação de prejuízo a alguém. A tentativa é possível. 06) Classificação doutrinária: Crime: próprio; formal; instantâneo; comissivo; unissubjetivo; plurissubsistente. 07) Ação Penal: Pública incondicionada. 7 REPRODUÇÃO OU ADULTERAÇÃO DE SELO OU PEÇA FILATÉLICA Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, salvo quando a reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica. Revogado tacitamente pela Lei 6.538/1978 8 USO DE DOCUMENTO FALSO Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. - Crime remetido – a conduta remete aos arts. 297 a 302, do CP; - Norma penal em branco ao avesso; - Omissão com relação aos arts. 296 (falsificação de selo ou sinal público) e 303 (produção ou adulteração de selo ou peça filatélica)??? Art. 296, § 1º, I e art. 303, parágrafo único, do CP. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: qualquer dos papéis falsificados ou alterados os art. 297 a 302, do CP. Obs.1: fotocópia sem autenticação não ingressam no conceito jurídico-penal de documento. Obs.2: papéis impressos ou datilografados, mas sem assinatura, não são considerados documentos. 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: qualquer pessoa; Sujeito Passivo: o Estado 03) Tipo Objetivo: Adequação típica A adequação típica objetiva é fazer uso, no sentido de utilizar ou empregar qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302, do CP. Obs.1: para a configuração do delito em estudo, é imprescindível a efetiva utilização do documento para o fim a que se destina, judicial ou extrajudicialmente, não bastando o porte ou a posse. Permissão para dirigir x CNH: O agente flagrado conduzindo veículo com CNH falsa, configura o art. 304, do CP e não o CTB. Apresentação de documento falso em razão de solicitação (exigência) de autoridade pública: Majoritária: art. 304, CP. Uso de documento falso e o exercício da auto defesa: STF: art. 304, CP. Falsificação de documento e uso pela mesma pessoa: Aplica-se somente o crime de falsificação. O art. 304 do CP configura post factum impunível (princípio da consunção). Uso de documento falso: unidade e pluralidade de crimes i) uso de vários documentos falsos no mesmo contexto fático: um único crime. 9 ii) uso de documento falso em contextos distintos: um ou vários documentos – concurso material (art. 69, CP), admitindo-se a continuidade delitiva (art. 71, caput, CP). 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica Dolo direto ou eventual – vontade livre e consciente de usar documento sabidamente falso. 05) Consumação e Tentativa Consuma-se com a efetiva utilização do documento falso, ainda que por uma única vez, independentemente da causação de prejuízo a alguém, ou obtenção de qualquer vantagem. A tentativa é possível, embora parte relevante da doutrina acredite não ser possível. 06) Classificação doutrinária: Crime: comum; formal; instantâneo; comissivo; unissubjetivo; plurissubsistente. 07) Ação Penal: Pública incondicionada. 10 SUPRESSÃO DE DOCUMENTO Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público,e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular. 01) Objeto Jurídico Tutelado: a fé pública. Objeto material: o documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. 02) Sujeitos do Crime: Sujeito Ativo: qualquer pessoa; Sujeito Passivo: o Estado 03) Tipo Objetivo: Adequação típica (crime de ação múltipla) A adequação típica objetiva é destruir, suprimir e ocultar em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. Obs.1: elemento normativo do tipo: de que não podia dispor. 04) Tipo Subjetivo: Adequação típica Dolo – vontade livre e consciente de destruir, suprimir e ocultar em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. Obs.: para diferenciar o furto, dano e o art. 305, é necessário identificar a intenção do agente; 05) Consumação e Tentativa Consuma-se com a destruição, supressão e ocultação do documento público ou particular verdadeiro, de que o sujeito não podia dispor, independentemente da efetiva obtenção de benefício próprio ou de outrem, ou de prejuízo a outrem. A tentativa é possível. 06) Classificação doutrinária: Crime: comum; formal; instantâneo; comissivo; unissubjetivo; plurissubsistente. 07) Ação Penal: Pública incondicionada.
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