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DISCUSSÕES E REFLEXÕES INICIAIS DA EDUCAÇÃO

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DIVERSIDADE, INCLUSÃO E PAULO FREIRE: DISCUSSÕES E 
REFLEXÕES INICIAIS NA EDUCAÇÃO 
Maria Jessica Danielly de Lima1 
Mifra Angélica Chaves da Costa2 
Verônica Yasmim Santiago de Lima3 
Profª. Drª. Ana Lúcia Aguiar Lopes Leandro4 - orientadora 
 
 
RESUMO 
A diversidade e a inclusão atualmente fazem parte dos debates e das preocupações da 
Educação Contemporânea. Este artigo tem como objetivos condutores identificar as 
práticas inclusivas e a diversidade presentes na Educação que estejam em sintonia com 
as ideias freirianas e apresentar a experiência do projeto de extensão Laboratório de 
Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE) da Universidade do Estado 
do Rio Grande do Norte - UERN, esse grupo sempre se reúne quinzenalmente para 
realizar leituras, debates, promove mesas-redondas, enfim momentos para se discutir as 
ideias presentes nos escritos de Paulo Freire. Os cursistas são professores, alunos, 
funcionários e ex-alunos. Para tanto, realizamos uma pesquisa teórica, exploratória e 
bibliográfica com o aporte teórico de Almeida (2012); Candau (2012); Freire 
(1992); Gomes (2007); Mantoan (2006). Os resultados obtidos com esse estudo foi a 
permeação de discussões, reflexões no âmbito da academia também em nível de curso 
de extensão sobre a necessidade de olhar atento, sensível para a diversidade, para que de 
fato a inclusão dos diversos sujeitos sociais se concretize. 
PALAVRAS- CHAVE: Educação. Diversidade. Inclusão. 
 
INTRODUÇÃO 
O presente artigo trata-se da exposição do processo de inclusão, em que este 
exige crítica, revisão de valores e crenças observados nas práticas educativas. No que 
permitem ressignificar as relações entre os sujeitos diversos, no exercício de 
 
1
 Aluna do 5º período do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – 
UERN. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Pedagogia. E-mail: 
mariajessicalima@hotmail.com 
2
. Graduada no curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Aluna 
do Mestrado em Educação da UERN. mifraangelica@hotmail.com 
3
 Aluna do 5º período do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – 
UERN. E-mail: veronicayasmimsantiago@hotmail.com 
4
 Professora do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação, da Universidade do Estado do Rio 
Grande do Norte - UERN. E-mail: oliveiraaguiarpetro@gmail.com 
acolhimento aos referenciais identitários e culturais. Tendo como processo de 
reconhecimento e respeito às diferenças em consonância ao exercício dialético de suas 
percepções da realidade. Temos por objetivo identificar as práticas inclusivas e a 
diversidade presentes na educação que estejam em sintonia com as ideias freirianas. 
As atividades aqui relatadas partem da experiência do projeto de extensão 
Laboratório de Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE) no qual seus 
participantes são professores, alunos, funcionários e ex-alunos que se reúnem 
quinzenalmente para a discussão das obras, bem como uma ponte com as relações de 
experiências coletivas escolares e não-escolares, através de debates, fichamentos de 
textos e exposições de opiniões críticas que torna o cidadão consciente. 
As atividades do grupo centram-se em torno de rodas de conversas, debates e 
indagações surgidas, a partir do caminhar das leituras freirianas. Partindo desse estudo, 
teremos como objetivo de analisar como a inclusão pode contribuir no processo 
formativo identitário dos sujeitos, discutindo os conceitos com bases em leituras como 
as Charlot (2000) sugere que, melhor do que organizar escolas culturalmente diferentes, 
é receber a diversidade numa escola para todos. Segundo suas palavras, uma escola que 
faça funcionar, ao mesmo tempo, os dois princípios da diferença cultural e da identidade 
enquanto ser humano; os princípios do direito à diferença e do direito à semelhança. 
Nas idéias de Forquin(1993), as culturas não são, pois, homogêneas, são portadoras de 
contradições e conflitos, daí a busca de “metavalores”, critérios de escolha 
fundamentais, que garantam a racionalidade e a universalidade na formação dos 
indivíduos. Veremos a partir de Freire (1996) o respeito à autonomia e à dignidade de 
cada um, é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos 
outros.O entendimento de que o professor hoje, não ocupa mais o lugar de centro e os 
alunos mera expectadores, aprendizes reprodutores de uma educação bancária. Os 
educandos hoje, detêm autonomia e direitos resguardados pelo Estatuto da Criança e 
Adolescente- ECA. (1990), que visa garantir escola, moradia e comida de qualidades. 
Nos propõe Gadotti (2003) que a escola popular pode vir a ser possibilidade de uma 
educação democrática e emancipatória, pois garante que os educandos sejam 
respeitados e o professor mediador do ensino e aprendizagem, compreendendo os dois 
eixos distintos, cada um com um objetivo específico. 
 As discussões mostram que a inclusão de pessoas deve se dar em todas as 
instâncias, tendo como caráter principal o respeito às diferenças e a luta por uma 
educação que valorize a experiência de cada sujeito, considerando-o como um ser único 
e de saberes diversos. 
Educar para a diversidade requer ensinamentos e atitudes que reconheçam os 
conhecimentos advindos do outro, agindo de forma solidária e igualitária, na qual há a 
troca mútua de experiências entre os envolvidos. Para tanto, Almeida (2012) reflete que 
necessário se faz o estabelecimento de um diálogo entre ciência e tradição, na qual a 
ciência deve reconhecer a importância do senso comum e das vivências. 
Sabe-se que o mestre Paulo Freire não discutia inclusão precisamente, mas numa 
leitura mais aprofundada, empolgada e em diálogo com outros autores que discutem 
inclusão e diversidade encontramos vários conceitos e experiências da trajetória de vida 
de Paulo Freire nas quais podem ser vistas a centralidade do sujeito. 
Paulo Freire desde quando desistiu da carreira de advogado e inseriu-se no 
mundo da educação, criou uma pedagogia que voltou seu olhar para as minorias, para os 
marginalizados e desenvolveu em várias cidades do Brasil e do mundo a tentativa de 
libertação dos oprimidos, homens e mulheres explorados pelo trabalho, seres 
dominados, que não dominavam a linguagem escrita, a leitura e não se reconheciam 
como sujeitos construtores da sua história, eles não eram autores e atores da sua vida. 
Nessa perspectiva, inicialmente destacamos o fato reconhecido mundialmente 
que em 1963, no Rio Grande do Norte (RN), Freire alfabetizou 300 pessoas adultas em 
45 dias em Angicos, partindo do contexto desses educandos, do diálogo, participação, e 
ensinando-os a ler, escrever e contar de forma significativa partindo do seu contexto 
cultural. 
Nesse momento Freire (2008) possibilitou vários adultos a aprenderem a ler o 
mundo de forma alfabetizada, já que letrados esses já eram, como ele mesmo dizia a 
leitura de mundo precede a leituras da palavra. Ele incluiu esses sujeitos não apenas no 
mundo alfabetizado, mas também os despertou para a vida, mostrou que eles são 
sujeitos de história e capazes de transformar o mundo. 
Este artigo se divide em três partes, para melhor organizar a nossa discussão. No 
primeiro tópico iremos explorar a problemática acerca da diversidade, inclusão à luz da 
escola pública; no segundo momento será apresentada a nossa compreensão, a partir das 
leituras de Paulo Freire e por ultimo mostraremos a experiência do grupo LEFREIRE no 
momento que discutimos Paulo Freire, Inclusão e Diversidade, do qual fazemos parte 
como cursistas. 
Este trabalho pretende suscitar reflexões e pistas que Freire nos possibilitou 
sobre inclusão e diversidade, a partir da leitura das obras desse autor e da realidade 
circurcidante,para assim, estabelecermos uma ponte e ampliar nossas discussões e 
práticas pedagógicas para uma concepção de respeito ao outro que é diverso e diferente. 
 
TECENDO DISCUSSÕES SOBRE A DIVERSIDADE DOS SUJEITOS 
 
A escola destina-se à construção de conhecimentos e de ampliação de 
valores, está necessita ter como objetivo contribuir para a modificação da sociedade no 
sentido de torná-la igualitária e democrática. Um ambiente democrático que deve visar à 
inclusão social de seus sujeitos, de modo que utilizem as possibilidades que as 
instituições e o Estado oferecem. Nesse cotidiano, a escola deve viabilizar a construção 
de cultura políticas e práticas inclusivas no processo identitário dos sujeitos. 
Ao assumir a diversidade a escola volta-se contra todas as formas de 
dominação, em que ressalta iniciativas realizadas com êxitos, realizadas por 
profissionais de diversas Secretarias Estaduais e Municipais da educação e também por 
gestores de escolas que entendem que o direito á educação é um direito de todos, sendo 
assegurado o direito à diferença. 
A partir de nossas análises, a diversidade trata-se do respeito recíproco entre 
diferentes grupos identitários acerca do paradigma da diferença, baseada em princípios 
éticos que vê na alteridade, no direito à liberdade da diferença, elementos que anseiam 
combater a discriminação e a exclusão dos sujeitos. 
Neste sentido, a valorização da diversidade deve ser uma constante no processo 
de desenvolvimento de qualquer pensamento, pois é dela que a inovação pode florescer 
e nos propiciar grandes avanços, seja na conservação da tradição ou na condição 
humana como um todo. 
 
Em vez de identidade/diferença, alteridade; em vez de cultura ou povo 
amigo/inimigo, mestiçagem; em vez de luz/trevas, penumbra; em vez de 
sujeito/objeto, acontecimento situado/interpretado; em vez de 
oralidade/silêncio, escrita; em vez de eternidade versus sucessão irreversível 
de percepções, tempo humano, êxtase do instante; em vez de história como 
sistema ou processo com sentido, história como texto sempre precária 
(Duque, 2000, p. 105). 
 
 
O presente debate trata-se de uma perspectiva emancipatória dos sujeitos, em 
que este se baseia no humanismo pedagógico atribuído ao agir para ampliar a visão de 
mundo, referentes a finalidades das ações, da experiência, da liberdade repensando 
assim os valores humanos e fomentar o bem-estar social. Desse modo, partir do intuito 
de contribuir na compreensão sobre a diversidade, desigualdade e diferença cultural 
para considerando-as como construções históricas, políticas e sociais inter-relacionadas 
às formas de poder exercidas por sujeitos e grupos no interior das sociedades, acerca das 
políticas públicas na educação. 
 
Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo romântico do final do 
século XX e início do século XXI. Na realidade, a cobrança hoje feita em 
relação à forma como a escola lida com a diversidade no seu cotidiano, no 
seu currículo, nas suas práticas faz parte de uma historia mais ampla 
(GOMES, 2007, p. 22). 
 
O estudo da diversidade encontra-se vinculado ao discurso da variedade do 
gênero humano, que pode ser considerada por meio de alguns aspectos do processo de 
constituição do sujeito e da ação social que são orientados acerca de um conjunto de 
tradições, crenças, formas de lazer, gostos, opiniões, costumes, em suma, um conjunto 
variado de fenômenos no qual investigam os modos de vida seja na abordagem política, 
ideológica e até mesmo psicológica que constitui o estudo da antropologia, em que 
veremos a presença da relação de poder, na dominação concretizada através da 
concepção da cultura e da política em nossas sociedades. 
O processo de inclusão, em que este exige crítica e revisão de valores e crenças 
observados nas práticas educativas em que permitem ressignificar as relações entre os 
sujeitos diversos, no exercício de acolhimento aos referenciais identitário e culturais; 
um processo de reconhecimento e respeito às diferenças em consonância ao exercício 
dialético de suas percepções da realidade. 
Na perspectiva emancipatória dos sujeitos, a diversidade aqui destacada baseia-
se no humanismo pedagógico atribuído ao agir para ampliar a visão de mundo, referente 
a finalidades das ações, da experiência, da liberdade repesando assim os valores 
humanos e fomentar o bem-estar social. 
O desenvolvimento humano é algo complexo, é neste processo que a cultura 
tende a influenciar na subjetividade humana, em que esta partir das inclinações que 
compõe nossa identidade, ou seja, o debate sobre diversidade também representa o 
debate identitário cultural na escola, que corresponderá aos aspectos diversos da 
constituição dos sujeitos atentando a complexidade da vida individual, familiar e social. 
 
A idéia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é intermediada pelo 
reconhecimento obtido dos outros em decorrência de sua ação. Assim como a 
diversidade, nenhuma identidade é construída no isolamento. Ao contrario, 
ela é negociada durante a vida durante a vida toda por meio do diálogo, 
parcialmente exterior, parcialmente interior, com os outros (GOMES, 2007, 
p. 22). 
 
Em meio a essas implicações a escola recebeu novas atribuições dentre elas 
surge a contribuiu no processo identitário para a desconstrução de “representações ou 
“estereótipos” sobre a multiplicidade dos sujeitos, abrindo espaços para as relações 
dialógicas transpassando as relações de poder do “sistema de exclusão”. 
 
IMERSOS NUM UNIVERSO MULTICOR: A INCLUSÃO NA PERSPECTIVA 
FREIRIANA 
 
Os rostos, as preferências, gostos, opções, maneira de ser, modos de vestir, de se 
alimentar, de aprender são diferentes, diversos. Assim como vivemos num universo de 
coisas que desconhecemos, pois são infinitas, assim são os sujeitos sociais, eles 
possuem estilo próprio de ser e cada vez mais existe, se criar outros grupos diferentes. 
Esse universo multicor chega também na escola, na sala de aula, Freire (2008) 
abordou sobre inclusão mesmo sem tratar especificadamente desse tema, ele então 
revelou a necessidade de: 
 
 
Colocar ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só 
respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes 
populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática 
comunitária- mas também (...) discutir com os alunos a razão de ser de alguns 
desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, 2008, 
p. 30) 
 
 
 
Freire nos convoca para repensarmos nossas práticas, a enxergar o outro como 
ser de possibilidades, de saberes e que esses saberes devem ser respeitados na sala de 
aula, saberes do campo, da rua, da igreja, dos murmurinhos, das lendas, mitos, do fazer 
cotidiano, dos múltiplos sujeitos de diferentes cantos que vem trazendo o encanto, a 
marca de sua experiência. Esses saberes, achados devem ser somados aos saberes 
acadêmicos, escolares e construir um conhecimento novo, nem melhor nem pior, mas 
diferente, ou seja, um saber sistematizado. 
Quando Paulo Freire durante suas aulas escuta os trabalhadores, compreende 
necessidades daquelas pessoas, é dado voz aos oprimidos, eles puderam revelar suas 
angústias, seus medos, pressões, sufocamentos que, muitas vezes, que os desumanizam, 
eles são obrigados a se submeterem a condições desfavoráveis de trabalho, há 
humilhações, discriminações de pessoas que não os reconhecem como sujeitos 
históricos, sociais, como humanos. 
Freire enfatiza ainda que “faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais 
decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de 
classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a 
democracia”. 
Educador é aquele que educa, ensina sem olhar a quem, ele ensina sentindo, 
vendo o outro, compreendendoesse outro, mas não deve se importar com as diferenças, 
não deve querer padronizar todos, os educandos são diferentes e vão permanecer 
diferentes, iguais apenas no consentimento do direito e deveres. Resta o professor 
valorizar essa mistura, hibridismo entre os sujeitos favorecendo a aprendizagem e 
respeito a todos. 
 Sassaki (2005, p. 21) afirma que inclusão “consiste em adequar os sistemas 
sociais gerais da sociedade de tal modo que sejam eliminados os fatores que excluíam 
certas pessoas do seu meio e mantinham afastadas aquelas que foram excluídas”. A 
inclusão possibilita a sociedade se estruturar, organizar, adaptar para receber as pessoas 
com deficiência, devem ser eliminadas todas as barreiras que discriminam os sujeitos da 
sociedade, sejam elas arquitetônicas, metodológicas, instrumentais, atitudinais. 
Ensinar pessoas com deficiência é um desafio, mas ao mesmo tempo em que se 
mergulha num universo desconhecido, a satisfação de saber que você, educador 
conseguiu desbravar novas maneiras de dar aula, estratégias metodológicas, 
instrumentos e fez o aluno aprender, ser incluído a turma. 
Sobre inclusão escolar Mantoan (2006) vem denotar que: 
 
 
Ensinar a turma toda reafirma a necessidade de promover situações de 
aprendizagem que formem um tecido colorido de conhecimento, cujos fios 
expressam diferentes possibilidades de interpretação e de entendimento de 
um grupo de pessoas que atua cooperativamente em sala de aula. 
(MANTOAN, 2006, p. 52) 
 
 
 
Para que a inclusão se concretize é fundamental que os sujeitos preocupados 
com a educação possibilite momentos coletivos de aprendizagem com as diferenças, nós 
educadores compomos esse tecido colorido, os alunos fazem também parte desse tecido 
multicor, mas necessita dos recursos da humanização, da afetividade, compreensão, 
diálogo e respeito, para que os fios se teçam, e assim se teça a cocha tão desejada 
estampada com o nome inclusão. 
Quando o saber é construído junto, nos pares, todos aprendem nesse processo, 
não somente os educandos aprendem o conteúdo, mas os docente aprendem com o 
educando, todos se tornam aprendentes. Freire fez essa prática inúmeras vezes, ele 
sempre se deixou conduzir pelo parar para escutar o outro e realizar uma escuta atenta, 
transformadora, reflexiva que impulsiona a uma prática diferente, ele ouvia os 
trabalhadores, as pessoas que tinham suas história silenciadas, suas vidas desprezadas. 
 
PINTANDO A DIVERSIDADE E A INCLUSÃO DE PAULO FREIRE NA 
EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA DO LEFREIRE 
 
O Laboratório de Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE) 
estuda a perspectiva da educação popular baseada nos escritos de Paulo Freire, este por 
sua vez vê a educação em uma ótica que abrange a diversidade dos saberes e a inclusão 
de pessoas. Nas reuniões do grupo, e de posse das leituras previamente realizadas, abria-
se o debate para questões que interessasse tratar com relação às contribuições de Paulo 
Freire para a educação, como o autor abordava a temática da diversidade e inclusão no 
seu livro e quais as semelhanças com a autora Almeida (2012) que trata de questões 
referentes a complexidade do ser humano e educação, percebendo a diversidade dos 
sujeitos. 
No livro Pedagogia da Autonomia, segundo Paulo Freire o ensino não é somente 
“passar conhecimento”, mas sim dar possibilidades aos discentes de produzirem e 
construírem novos saberes diante do que já foi feito. Importante ainda, perceber na 
educação uma interação entre ensinar e aprender, pois quem ensina também está 
aprendendo algo, da mesma forma o inverso acontece, transformando-se assim em 
atividades que não podem ser separadas, pois estão conectadas. Desta feita, a 
diversidade de saberes que podem e deveriam ser mesclados no encontro com os 
sujeitos trazem a reflexão do quanto os conhecimentos de cada um tem suas 
especificidades e complexidades na construção dos saberes, assim a inclusão de pessoas 
com diversidade de conhecimentos torna este cada vez mais aprimorado por receber e 
interagir com opiniões diversas. 
Para complementar o debate, foi abordado o cap. 1 “Educação como 
aprendizagem da cultura”, em que a autora faz uma gênese da perspectiva de Educação 
e de Sociedade em que estas estariam por influenciar a condição humana. Segundo a 
autora as transformações presentes em nossa sociedade vêm desencadeando o fim das 
fronteiras intercontinentais, de forma que estas partem de um “trajeto de uma catástrofe 
social maestrada pelos valores da exclusão, da pressa, da substituição e do descartável” 
(p.78) desenvolvendo assim “[...] diversidade de formas culturais de viver e conhecer 
[...]” junto a noção esperançosa de “[...] reversas antropológicas que estariam sendo 
acionadas por indivíduos e grupos que tenham por horizontes uma sociedade mais justa, 
igualitária, cooperativa, uma e diversa ao mesmo tempo[...]”(p.78). 
No intuito de despertar a educação para o viver em sociedade, o educador tem 
mais essa função de conversar com seus alunos sobre questões políticas, sociais que 
inculquem aspectos do pensamento crítico. Assim, percebe-se que o profissional da 
educação deve desenvolver funções que não são específicas da educação, mas sim da 
vida. No terceiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia, intitulado: Ensinar é uma 
especificidade humana, Paulo Freire elenca temáticas direcionadas à formação e à 
profissionalização do professor. Afirma que este deve ser consciente de que sua 
profissão requer dedicação, doação e troca de experiências e conhecimentos, para que 
assim possa ajudar seu aluno a crescer tanto no aspecto social como profissional de 
maneira a se posicionar e interferir no mundo de forma consciente e crítica, tendo 
participação ativa nas escolhas e busca de soluções diante dos problemas que existem 
em seu meio social, na família, cultural e econômico. Desta feita Paulo freire (1967, 
p.97) acredita em: 
 
Uma educação que possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua 
problemática. De sua inserção nesta problemática. Que o advertisse dos 
perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a 
coragem de lutar, ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu próprio 
“eu”, submetido às prescrições alheias. Educação que o colocasse em diálogo 
constante com o outro. Que o predispusesse a constantes revisões. À análise 
crítica de seus “achados”. A uma certa rebeldia, no sentido mais humano da 
expressão. Que o identificasse com métodos e processos científicos. 
 
Então, a educação permite o contato com o outro e a partir disso a troca de saberes 
e o diálogo que promova o pensar na realidade que se vive e tentar interferir buscando 
mudanças significativas para sua vida e de outros. Em contato com uma educação 
crítica e no diálogo com a diversidade de saberes que estão à sua volta, o aluno teria 
condições de ganhar força e lutar por melhores condições de vida. 
O docente deve ter em mente e desejar ser um profissional curioso que está em 
constantes pesquisas e descobertas em busca de transformação intelectual e dos saberes, 
para tanto necessário se faz que este busque aperfeiçoamento e rigor metodológico e 
intelectual para que assimile de forma crítica as situações que parem desafiadoras no 
seu dia a dia e na sua formação. Ao passar por esse processo de o professor pode ser 
caracterizado como um profissional pensante. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
As relações entre cultura, poder e significação constituem um nexo crucial para 
o entendimento das dinâmicas sociais e dos mecanismos institucionais responsáveis 
pela produção de discursos e de práticas culturalmente “recomendadas” e, também, as 
políticas educacionais, o processo de produção do conhecimento encontra-se 
empregando por diversas vezes expressões de apelo à convivência harmoniosa entre 
raças, culturas e etnias e à tolerânciaaos diferentes. Em que muitas vezes a escola 
assume o papel de pacificadora nas eventuais polêmicas sobre identidade nacional, 
atribuindo responsabilidades a professores/as e alunos/as como principais agentes das 
mudanças educativas e sociais. 
Acerca dessa perspectiva de Educação Inclusiva deve-se considerar o currículo 
de maneira que este deve ser construído a partir dos saberes particulares, das práticas 
discursivas em que se constroem os sentidos que as pessoas dão às coisas, como no 
multiculturalismo, no desdobramento na diversidade social, no relativismo cultural e na 
valorização de experiências intersubjetivas, ou seja, o currículo deve estar situado num 
determinado contexto de cultura, de relações e de conhecimentos. 
Neste sentido, a valorização da diversidade deve ser uma constante no processo 
de desenvolvimento de qualquer pensamento, pois é dela que a inovação pode florescer 
e nos propiciar grandes avanços, seja na conservação da tradição ou na condição 
humana como um todo. 
 
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