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DIDÁTICA DO 
EDUCADOR DA EJA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Ivan Álvaro dos Santos
 Jamile Delagnelo Fagundes da Silva
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
 Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald
 Prof.ª Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Prof. Gilberto Poncio
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2011
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
 
374
S237d Santos, Ivan Álvaro dos
 Didática do Educador de EJA / Ivan Álvaro dos Santos e
 Jamile Delagnelo Fagundes da Silva. Indaial : Uniasselvi, 
 2011. 119 p. : il.
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-493-5
 1. Educação de Adultos.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
Impresso por:
Ivan Álvaro dos Santos
Bacharel em Ciências Econômicas pela 
Universidade Regional de Blumenau (FURB); 
licenciado em Matemática pelo Centro Universitário 
de Jaraguá do Sul (UNERJ); Especialista em Gestão e 
Metodologia do Ensino, pela Faculdade Dom Bosco do 
Paraná e Mestre em Educação pela Universidade Regional de 
Blumenau (FURB).
Atua como professor em escolas públicas e privadas há 
dez anos, sete dos quais na modalidade Educação de Jovens 
e Adultos. 
Participou da elaboração da “Série Educação para a 
Nova Indústria – Elevação da Escolaridade na Indústria” - 
guia de estudos desenvolvido pelo SESI (Serviço Social da 
Indústria), com o objetivo de orientar a ação de professores no 
desenvolvimento de currículos de educação básica de jovens 
e adultos contextualizados a diferentes setores industriais. 
Também participou com apresentação oral de artigos 
em renomados eventos nacionais, dentre eles o VI 
Congresso Internacional de Educação: Educação e 
Tecnologias: sujeitos (des)conectados? (UNISINOS 
– São Leopoldo-RS); IX Congresso Nacional 
de Educação (EDUCERE – Curitiba-PR) e XV 
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino 
(ENDIPE – Belo Horizonte-MG), tendo como 
foco a Educação de Jovens e Adultos e os 
recursos tecnológicos aplicados à educação.
Jamile Delagnelo Fagundes da Silva
Possui graduação em PEDAGOGIA pela 
Fundação Universidade Regional de Blumenau 
(2002) e MESTRADO pela mesma Universidade (2009). 
É especialista em Educação de Jovens e Adultos pela 
Escola Aberta do Brasil e em Pedagogia Gestora com Ênfase 
em Supervisão, Administração e Orientação Escolar pela 
Associação Catarinense de Ensino. 
Atua como Professora na Educação de Jovens e Adultos 
e desenvolve pesquisas na área da Educação, atuando 
principalmente nos temas relacionados à Educação de Jovens 
e Adultos e Formação Docente. Participa do Grupo de Pesquisa 
Educação e Saúde, com pesquisas e estudos na Linha 
Educação Intercultural. Também participou, com comunicação 
oral, de renomados eventos, dentre estes: III Congresso 
Internacional de Educação: Educação na América Latina 
nestes Tempos de Império ( São Leopoldo), Oitavo Círculo 
de Estudos Linguísticos do Sul (Porto Alegre), I Congresso 
Internacional da Cátedra Unesco de Educação de Jovens 
e Adultos (Paraíba), VII Congresso Internacional de 
Educação ( São Leopoldo), socializando pesquisas 
realizadas na área de Educação de Jovens e 
Adultos. Participou também da Reunião Anual da 
Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em 
Educação - ANPED (Natal), no GT de Didática.
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................07
CAPÍTULO 1
As Relações entre Cultura e Educação .................................. 11
CAPÍTULO 2
A Educação de Jovens e Adultos e a Didática .........................43
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
O Processo Educativo na EJA ...................................................67
A Docência na Educação de Jovens e Adultos ........................91
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Você já teve a oportunidade, na disciplina de Fundamentos da EJA, de 
compreender e refletir sobre o que se entende hoje no Brasil por EJA e como 
essa modalidade educativa se constitui na história da educação brasileira. 
Relembraremos alguns aspectos históricos dessa trajetória, pois as concepções 
pedagógicas que marcaram cada período estão intimamente ligadas ao processo 
de ensino aprendizagem na EJA e à prática docente nessa modalidade. 
Observa-se que, historicamente, o direcionamento dado à EJA é baseado 
nos conflitos, nas tendências políticas, sociais e econômicas de cada época, o 
que faz com que as concepções pedagógicas dessa modalidade sejam resultado 
desses conflitos e tendências. Por muito tempo a EJA assumiu no Brasil um 
caráter de suplência, caracterizada pela existência de campanhas imediatistas, 
não existindo como uma política pública. 
No Brasil, essa concepção de ensino supletivo foi modificada com a Lei de 
Diretrizes e Base da Educação- LDBEN, sob o número 9.394, do ano de 1996, 
que passou a tratar a EJA como uma modalidade da Educação Básica, de caráter 
permanente (ao longo da vida), a serviço do pleno desenvolvimento do educando. 
Vale ressaltar que a LDBEN (Lei 9.394/96), apesar de modificar a concepção de 
EJA, suprimindo a expressão “ensino supletivo”, manteve os termos “cursos” e 
“exames supletivos”, embora compreendidos dentro dos novos referenciais 
relatados anteriormente. Nesse sentido, a EJA, passou a ser reconhecida como 
direito público subjetivo, adquirindo identidade própria dentro do contexto da 
Educação Básica ao ser compreendida como mais uma modalidade de ensino. 
Pinto (1982, p. 82) já havia chamado a atenção para essa questão quando 
afirmou que 
A educação de adultos não é uma parte complementar, 
extraordinária do esforço que a sociedade aplica em educação 
(supondo-se que o dever próprio da sociedade é educar à 
infância). É parte integrante desse esforço, parte essencial, 
que tem indispensavelmente que ser executada paralelamente 
com a outra, pois do contrário esta última não terá o rendimento 
que dela se espera. Não é um esforço marginal, residual, 
de educação, mas um setor necessário do desempenho 
pedagógico geral, ao qual a comunidade se deve lançar.
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais apontadas pelo 
Parecer CEB nº 11/2000 para a EJA apontam, em consonância com a LDBEN 
(Lei 9.394/96), três funções como de responsabilidade dessa modalidade de 
educação: função reparadora, equalizadora e qualificadora. 
De acordo com a Diretriz (BRASIL, 2000, p. 651), “[..]a função reparadora 
da EJA, no limite, significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela 
restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas 
também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser 
humano.”
A função equalizadora da EJA diz respeito à oportunidade do restabelecimento 
da trajetória escolar. Essa função vem
 
[...] dar cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos 
sociais como donas de casa, migrantes, aposentados e 
encarcerados. A reentrada no sistema educacional dos que 
tiveram uma interrupção forçada, seja pela repetência ou pela 
evasão, seja pelas desiguais oportunidades de permanência 
ou outras condições adversas, deve ser saudada como uma 
reparação corretiva, ainda que tardia, de estruturas arcaicas, 
possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do 
trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura 
dos canais de participação. (BRASIL, 2000, p.653).
 
A função qualificadora da EJA tem a “tarefa de propiciar a todos a 
atualização de conhecimentos por todaa vida, é a função permanente da EJA [...]. 
Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA.” (BRASIL, 2000, p.655).
Diante desse contexto, a EJA adquiriu uma concepção fundamentada 
nos direitos humanos, possibilitando o reconhecimento das diferenças e a 
participação de todos os sujeitos envolvidos no processo. Como consequência, 
emerge a necessidade de que os educadores da EJA acompanhem a modificação 
de tal concepção repensando e redimensionando constantemente as práticas 
pedagógicas e nelas inserindo os estudantes como artífices do processo de 
construção de seus conhecimentos. 
Cabe salientar que o trabalho docente é uma das atribuições específicas 
da prática educativa que não pode ser restrita somente ao espaço da sala de 
aula. Nesse sentido, você deve lembrar que temos uma Ciência que investiga a 
teoria e prática na Educação: a Pedagogia. Dentre os ramos em que se divide 
a Pedagogia, encontra-se a Didática, que investiga e estuda os objetivos, os 
conteúdos, as estratégias e as condições do processo de ensino e aprendizagem. 
De acordo com Libâneo (2001, p.2), 
[...] didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino 
no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e 
formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo 
a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma 
aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direção 
e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, 
fornecendo-lhe segurança profissional. 
Repensar a Didática como ramo que vai subsidiar as formas de atuação 
de acordo com a singularidade do público a que essa modalidade de educação 
se destina passa a ser uma forma de oportunizar a todos os estudantes o acesso 
aos conhecimentos científicos que são trabalhados na escola. Assim, iniciaremos 
este Caderno de Estudos, no Capítulo 1, com a discussão sobre como os meios 
socioculturais influenciam a Educação e a formação integral do indivíduo. Julgamos 
importante, para não dizer imprescindível, conhecer e reconhecer os processos 
educativos que se dão para além dos muros da escola, para então poder planejar 
as melhores maneiras de se trabalhar dentro da escola, valorizando assim as 
experiências obtidas pelos estudantes em “seu mundo”. Assim, nesse capítulo, 
faremos uma discussão referente às diferenças entre a Educação informal e a 
Educação escolar, buscando as convergências e a complementaridade que entre 
ambas se estabelecem na constituição do indivíduo. Encerramos o capítulo discutindo 
a questão do analfabetismo, suas causas e implicações na vida do indivíduo e a 
questão do letramento como nova possibilidade de leitura crítica do mundo.
No capítulo 2 nos concentramos nas contribuições que a Pedagogia, por 
meio de seus pensadores, oferece ao assunto. Inicialmente, dedicamo-nos à 
Didática em geral e, em um segundo momento, nos concentramos na Didática 
dirigida à EJA, buscando revisitar as teorias tradicionais, críticas e pós-críticas e 
compreender suas relações com essa modalidade de educação. O fechamento 
desse capítulo se dá com a abordagem da importância do desenvolvimento, 
pelos estudantes da educação de jovens e adultos, da habilidade de converter 
informação em conhecimento. Para tanto, buscamos diferenciar essas duas 
entidades psicológicas e oferecer maneiras para que o estudante possa, em 
sala de aula, selecionar as informações importantes e verdadeiras frente ao 
mar de informações a que tem acesso no momento atual, e convertê-las em 
conhecimento.
No terceiro capítulo desse caderno de estudos procuramos discutir os 
componentes fundamentais do processo de ensino e aprendizagem empregado 
na EJA, buscando as contribuições que a teoria histórico-cultural pode oferecer 
a essa modalidade de educação. Elementos como os conceitos espontâneos 
(conhecimentos prévios) e a mediação entre os pares são discutidos a partir do 
ponto de vista do apoio que podem oferecer aos estudantes na ascensão aos 
conceitos científicos que são trabalhados na escola.
Finalizamos o caderno de estudos, já no capítulo 4, dialogando e repensando 
especificamente a figura do professor como mediador do processo de ensino e 
aprendizagem na EJA. Nesse capítulo, discutiremos as competências que o 
professor da EJA deve observar na relação ensino–aprendizagem, a importância 
de sua constante formação, assim como a necessidade do planejamento e da 
clareza nas formas de avaliar a aprendizagem dos estudantes e todo o processo 
desencadeado na modalidade. 
Os autores. 
CAPÍTULO 1
As Relações entre Cultura e 
Educação
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
�	Compreender e analisar as relações entre sociedade, cultura e as 
interações socioculturais desenvolvidas entre os sujeitos presentes na EJA. 
 �	Refletir sobre a construção do currículo e a prática docente na 
EJA na relação com os processos educativos formais e informais. 
�	Compreender as implicações da alfabetização na vida do indivíduo e 
o letramento como possibilidade de acesso à leitura crítica do mundo 
�	Refletir e debater criticamente sobre alfabetização e letramento, na perspectiva 
de Soares, além de suas implicações na EJA.
12
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
13
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Contextualização
As finalidades e funções específicas da modalidade de ensino destinada aos 
jovens e adultos “indicam que em todas as idades e em todas as épocas da vida, 
é possível se formar, se desenvolver e constituir conhecimentos, habilidades, 
competências e valores que transcendam os espaços formais da escolaridade e 
conduzam à realização de si e ao reconhecimento do outro como sujeito” (BRASIL, 
2000, p.11). A partir dessa concepção de educação na modalidade EJA, abre-
se um novo campo de discussões e reflexões sobre as concepções pedagógicas 
vigentes na educação brasileira e na formação dos docentes que atuam/atuarão 
nessa área. 
São constantes os desafios impostos à prática docente nessa modalidade. 
Logo, para que possamos identificar e compreender as principais características 
norteadoras das práticas docentes voltadas para a EJA, nesse capítulo 
abordaremos as concepções construídas para cultura e educação, enfatizando 
as relações que entre elas se estabelecem no âmbito das sociedades humanas. 
Consideramos importante analisar previamente as características que abarcam o 
termo cultura e que o designam como elemento restrito à espécie humana, para 
então chegar à educação como mecanismo de transmissão e de perpetuação 
da cultura entre indivíduos de uma mesma sociedade e entre indivíduos de 
sociedades distintas no espaço e no tempo.
A partir desses pontos, discutiremos os conceitos de educação formal e 
informal, destacando as suas diferenças, salientando a importância isolada 
de cada uma delas no desenvolvimento do indivíduo e, sobretudo, buscando 
identificar as evidências que apontam para a necessidade da convergência e da 
complementaridade entre elas, de forma a propiciar a formação integral do indivíduo. 
Por fim, conheceremos as implicações da alfabetização na vida do indivíduo e o 
letramento como mais uma possibilidade de acesso à leitura crítica do mundo.
Mais do que o zelo à necessidade de elucidar os conceitos sobre os quais nos 
apoiamos, compreendemos a importância de trazê-los ao foco dessas discussões 
iniciais, para que as reflexões propostas posteriormente possam ser construídas 
em bases sólidas de argumentações, respaldadas pela teoria científica e por 
reflexões dela oriundas.
14
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
Educação e Educação de Jovens e 
Adultos: uma Breve Reflexão
A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional - LDBEN - 
Lei n° 9.394/96 (BRASIL, 2004, p. 40) estabelece, no artigo 37, que “A 
educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram 
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio 
na idade própria”.Ou seja, por meio dessa modalidade de estudos, 
são possibilitados ao indivíduo jovem ou adulto diferentes caminhos 
e maneiras de pertencimento ao mundo, além de novas formas de 
compreender esse mundo e os acontecimentos que dele fazem parte.
A docência na Educação de Jovens e Adultos (EJA) surge como um 
desafio ao professor, no sentido de compartilhar o regresso do indivíduo 
ao papel de estudante, de fazer parte de um momento histórico em que 
esse indivíduo reencontra a oportunidade de conhecer o mundo pelos 
olhos dos conhecimentos que a escola pode lhe oferecer. 
Estar presente nessa etapa de vida do estudante, como professor, 
implica não somente em dominar os conteúdos das ciências inerentes 
às áreas específicas em que se atua profissionalmente. Implica, 
sobretudo, em desenvolver e se utilizar das habilidades necessárias 
às formas de trabalhar tais conteúdos com aqueles que possuem uma grande 
quantidade de conhecimentos prévios, construídos em sua vida social, no convívio 
com os seus pares em casa, no bairro, no trabalho e nos mais diversos locais 
que frequentam. São conhecimentos apropriados principalmente a partir de suas 
experiências cotidianas e, por esse motivo, construídos por vias muitas vezes 
distintas daquelas utilizadas na educação formal apresentada pela escola. Pinto 
(1982, p. 84) assevera que 
[...] não compete ao educador transferir mecanicamente para 
o educando adulto suas próprias concepções [...]. O que 
compete ao educador é praticar um método crítico de educação 
de adultos que dê ao aluno a oportunidade de alcançar a 
consciência crítica instruída de si e de seu mundo. Nestas 
condições ele descobrirá as causas de seu atraso cultural e 
material e as exprimirá segundo o grau de consciência máxima 
possível em sua situação. [...] Não importa que esta expressão 
esteja abaixo da compreensão crítica do educador. [...] a ação 
do educador tem que consistir em encaminhar o educando 
adulto a criar por si mesmo sua consciência crítica, passando 
de cada grau ao seguinte, até equiparar-se à consciência do 
professor e eventualmente superá-la. 
A docência na 
Educação de 
Jovens e Adultos 
(EJA) surge como 
um desafio ao 
professor, no sentido 
de compartilhar 
o regresso do 
indivíduo ao papel 
de estudante, de 
fazer parte de um 
momento histórico 
em que esse 
indivíduo reencontra 
a oportunidade de 
conhecer o mundo 
pelos olhos dos 
conhecimentos que 
a escola pode lhe 
oferecer.
15
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Essas ideias entram em acordo com o que afirma Freire (1996, p. 23) ao 
salientar que “não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, 
apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um 
do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. 
Ou seja, é proposto o posicionamento do professor como alguém propenso a 
ensinar e a aprender, como um articulador dos conhecimentos prévios dos alunos 
com os conhecimentos científicos, fazendo com que os conteúdos trabalhados 
tenham um sentido prático e que motivem a aprendizagem dos estudantes.
Da mesma forma, é de suma importância que se observe o regresso do indivíduo 
à escola não unicamente como a busca da conclusão dos estudos como um fim em 
si mesmo, na conquista do diploma e da legitimação de um título. Muito mais do 
que isso, o professor pode fazer com que o estudante compreenda a oportunidade, 
a partir de uma leitura crítica do mundo, de acessar aos conhecimentos científicos, 
da compreender as formas contemporâneas de linguagem e de desenvolver novas 
habilidades, para que sejam possíveis a ele a leitura e a inferência no mundo em 
que vive. Nesse contexto, a inter-relação entre os conhecimentos que o aluno já 
possui e os conhecimentos científicos adquiridos na escola deve ser o objetivo 
principal sobre os qual os estudantes devem se debruçar. O diploma vem como 
consequência dos novos horizontes que se abrem por meio do conhecimento 
científico, assim vislumbrando oportunidades e conquistas. 
Sociedade e Cultura
Ao compreendermos a sociedade como um grupo de indivíduos que vivem 
em comum em determinado espaço-tempo, em razão de certas afinidades e 
consoante algumas regras, podemos facilmente perceber que a sociabilidade 
não é algo exclusivo à espécie humana. As mais variadas espécies animais se 
mostram sociáveis a partir de características próprias de convívio entre os seus 
membros e em relação a membros de outros grupos e de outras espécies, mesmo 
sendo desprovidas de cultura. 
No entanto, o homem demonstra que a forma como concebe o mundo, e a 
convivência social que nele estabelece com os seus pares, assume um nível de 
complexidade e de profundidade distinto daquele desfrutado por outros grupos de 
animais, ao emergir a inteligência e a consciência como elementos norteadores 
dos princípios que regem os seus grupos sociais. Como afirmou Freire (1996), 
a partir do momento em que a vida, para o ser humano, tornou-se existência, o 
suporte em que os outros animais continuam converteu-se, para ele, em mundo. No 
suporte, o comportamento e as relações que se estabelecem entre os indivíduos 
têm sua explicação muito mais na espécie a que pertencem do que neles mesmos 
enquanto indivíduos. Por outro lado, com a inteligência e a consciência dos seus 
16
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
atos, o homem é capaz de construir e de reconstruir o mundo, agregar história a 
sua estadia no mundo, que passa assim a ter uma continuidade, um porvir. Os 
dias isolados vividos por outras espécies são, na vida do ser humano, o dia a 
dia, o ontem, o hoje e o amanhã que, unidos, constituem sua história particular, 
que se insere na história da sociedade a qual pertence. Assim, o homem constrói 
sua história particular e se constrói como indivíduo dentro de uma história social, 
influenciando e sofrendo influência do meio social em que vive. Freire (1980, p. 
108) já abordou tal ideia, afirmando que
[...] os homens podem tridimensionar o tempo (passado-
presente-futuro) que, contudo, não são departamentos 
estanques, sua história, em função de suas mesmas criações 
vai se desenvolvendo em permanente devir, em que se 
concretizam suas unidades espocais. Estas, como o ontem, o 
hoje e o amanhã, não são como se fossem seções fechadas 
e intercomunicáveis do tempo, que ficassem petrificadas e 
nas quais os homens estivessem enclausurados. Se assim 
fosse, desapareceria uma condição fundamental da história: 
sua continuidade. As unidades espocais, pelo contrário, estão 
em relação umas com as outras na dinâmica da continuidade 
histórica.
Dessa forma, a história pessoal que o indivíduo constrói ao 
longo do tempo em que participa da história social não morre com 
ele, como acontece com a história dos animais. Os acontecimentos, 
as descobertas, os conhecimentos acumulados pelo homem durante 
sua vida permanecem para aqueles que ficam, como um legado, uma 
herança, uma parte da cultura que o indivíduo ajudou a construir ao longo 
do tempo em que participou da história do mundo. Logo, ao mesmo 
tempo em que o ser humano é tocado e influenciado pelo meio social ao 
qual pertence, também contribui e aporta características, conhecimentos, 
formas de pensar e de agir nesse meio. Quanto a isso, Vygotsky (1998, p. 
76) assevera que “a internalização das atividades socialmente enraizadas 
e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da 
psicologia humana; e a base do salto quantitativo da psicologia animal 
para a psicologia humana”. Assim, o ser humano, distintamente de outras 
espécies animais, é um ser histórico e cultural, pois é capaz de criar e 
preservar sua história e sua cultura.
Assim, o conjunto de criações atribuídas ao homem toma parte de um todo 
chamado cultura. De acordo com Santos (2011, p. 59), cultura é “a pluralidade 
de criações do ser humano, concretas (tangíveis) ou não, que conduzem o jeito 
de ser e de viver de um determinado gruposocial, que norteiam a sua estada e 
inferência no mundo e indicam as coisas em que acredita”. Logo, a interação social 
existe independentemente da presença ou não de cultura. A cultura, por sua vez, 
se faz presente apenas na espécie humana, sendo, assim, uma unidade menor, 
Os acontecimentos, 
as descobertas, 
os conhecimentos 
acumulados pelo 
homem durante sua 
vida permanecem 
para aqueles 
que ficam, como 
um legado, uma 
herança, uma parte 
da cultura que o 
indivíduo ajudou a 
construir ao longo 
do tempo em que 
participou da história 
do mundo.
17
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
mais restrita, que assume variadas formas e distintas representações 
dentro de um contexto social bem mais amplo e abrangente. 
Inserindo-se nessa seara e ao pensar sobre a cultura em relação 
ao processo de ensino e aprendizagem desencadeado na escola, Pinto 
(1982, p. 116) afirma que “[...] o saber só se converte em instrumento 
de cultura quando é ele mesmo fecundo, ou seja, incorpora na 
consciência daquele que o possui a compreensão de sua origem, e se 
destina a frutificar em novas obras de cultura”. Dessa forma, fica claro 
na afirmação de Pinto (1982), bem como na de Vygotsky (1998), que ao 
mesmo tempo em que o indivíduo recebe a cultura do meio social em 
que vive, também participa ativamente dessa cultura, oferecendo-lhe 
outros conhecimentos que poderão se tornar parte do todo cultural.
Cultura é “a 
pluralidade de 
criações do ser 
humano, concretas 
(tangíveis) ou não, 
que conduzem 
o jeito de ser e 
de viver de um 
determinado grupo 
social, que norteiam 
a sua estada e 
inferência no mundo 
e indicam as coisas 
em que acredita”. 
SANTOS (2011, p. 
59).
Sirgado (2000), ao discutir as ideias de Vygotsky sobre as 
diferenças e as relações existentes entre sociedade e cultura, afirma, 
fazendo um paralelo com as Ciências Biológicas, que o campo do 
social poderia ser comparado a um gênero e o campo da cultura a 
uma espécie. Assim, “‘tudo o que é cultural é social’, o que faz do 
social um gênero e do cultural, uma espécie. Isso quer dizer que o 
campo do social é bem mais vasto que o da cultura, ou seja, que 
nem tudo o que é social é cultural, mas tudo o que é cultural é social” 
(SIRGADO, 2000, p. 53).
Nas Ciências Biológicas, as principais categorias taxonômicas, em 
ordem decrescente de abrangência, são: Reino, Filo, Classe, Ordem, 
Família, Gênero e Espécie (FAVARETTO E MERCADANTE; 2003). 
A origem biológica de um indivíduo influi até certo ponto em sua constituição 
como sujeito. No entanto, é fundamentalmente dos resultados das experiências 
sociais vivenciadas por esse sujeito e das características da cultura em que vive 
que emergirão a sua forma de ser, de pensar e de agir. A Teoria Histórico-Cultural 
fundamenta essa ideia ao oferecer uma explicação sobre a maneira como a mente 
humana se constrói. Segundo Vygotsky (1998), cada ser humano se constitui por 
meio da interação de dois fatores centrais em sua existência: o fator biológico e o 
fator social. 
18
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
O fator biológico é responsável pelo que Vygotsky (1998) chama de 
funções psicológicas elementares, que expressam as características genéticas 
do indivíduo, como reações automáticas, instinto sexual e de sobrevivência, 
para citar algumas. Essas funções elementares são comuns a outras espécies 
animais e estão presentes no indivíduo humano desde tenra idade. No entanto, 
o que diferencia substancialmente o homem adulto dos animais de outras 
espécies é o que Vygotsky (1998) chama de funções psicológicas superiores, 
de natureza sociocultural, que consistem em funções psicológicas de ordem bem 
mais complexa e estruturada que as elementares, como a memória consciente 
e voluntária, as reações programadas, as ações intencionais, o planejamento 
de tarefas. Essas funções são desenvolvidas pelo indivíduo no decorrer de suas 
vivências no meio sociocultural do qual faz parte e surgem como resposta às 
necessidades que são desencadeadas na convivência social. 
Kluckhohn (1972, p. 30) faz um relato sobre uma experiência 
sua que demonstra que os fatores culturais se sobressaem 
sobremaneira aos biológicos e interferem na formação integral de 
qualquer indivíduo humano:
Há alguns anos, conheci em Nova York um jovem 
que não falava uma palavra de inglês e estava 
evidentemente perplexo com os costumes americanos. 
Pelo ‘sangue’, era tão americano como qualquer outro, 
pois seus pais eram de Indiana e tinham ido para a 
China como missionários. Órfão desde a infância, fôra 
criado por uma família chinesa numa aldeia perdida. 
Todos os que o conheceram o acharam mais chinês 
do que americano. O fato de ter olhos azuis e cabelos 
claros impressionava menos que o andar chinês, 
os movimentos chineses dos braços e das mãos, a 
expressão facial chinesa, e os modos chineses de 
pensamento. A herança biológica era americana, mas a 
formação cultural fôra chinesa. Ele voltou para a China.
Esse exemplo do jovem inglês que foi criado na China nos ajuda a refletir sobre 
as diferenças existentes entre as questões biológicas e as questões socioculturais 
que compõem a existência de um indivíduo. Assim, a cultura e o meio social, com 
suas características próprias, influenciam diretamente os indivíduos que dele fazem 
parte e, da mesma forma, são por eles influenciados e recriados. A educação 
emerge como forma de compartilhar algumas das características que compõem a 
cultura de determinado grupo social com os indivíduos mais jovens e com indivíduos 
de outros grupos. E é à educação que nos dedicaremos no próximo tópico. 
19
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Atividade de Estudos: 
Vamos refletir um pouco sobre as questões trazidas nesse tópico:
1) Em uma folha de papel, enumere cinco características físicas que 
você possui e cinco características de sua personalidade (formas 
de pensar, de agir, de se vestir, crenças, valores, objetivos, etc.). 
Características Físicas Características da personalidade 
1_________________________ 1_________________________
2_________________________ 2_________________________
3_________________________ 3_________________________
4_________________________ 4_________________________
5_________________________ 5_________________________
2) Agora, tente imaginar como você seria e como seria sua 
vida levando em consideração a seguinte situação: você é 
descendente da mesma família que é a sua agora na vida real, 
porém, foi criado em outro país (por exemplo, algum país do 
Oriente Médio), com outra religião e mediante outros valores 
sociais. Verifique e grife, dentre as 10 características enumeradas 
na questão 1, aquelas que permaneceriam e aquelas que seriam 
alteradas na situação imaginada.
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 ____________________________________________________
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3) Responda:
a) Das características enumeradas na questão anterior, quais 
permaneceriam de forma mais abundante: as físicas ou as de 
personalidade? 
 ____________________________________________________
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20
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
b) Por que você acha que essas características permaneceriam e as 
outras não? 
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 ____________________________________________________4) Você acha que as condições socioculturais são decisivas na 
constituição do jeito de ser, de viver e de pensar das pessoas? 
Por quê? 
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5) O estudante da Educação de Jovens e Adultos possui uma sólida 
formação cultural que foi oferecida pelo meio social de onde ele 
veio e pela convivência com as pessoas que fizeram parte de sua 
vida. De que forma você percebe que essa formação já possuída 
deve ser levada em consideração no momento em que esse 
estudante está em sala de aula, em relação aos conhecimentos 
científicos trabalhados na escola? Escreva uma frase que resuma 
as suas ideias. 
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A Educação como Meio de 
Transmissão Cultural
No convívio que se estabelece no interior dos grupos sociais 
humanos emerge a necessidade de um elemento fundamental à 
perpetuação da herança cultural: a educação. Ao fazer parte de um 
Ao fazer parte de 
um grupo social, 
o indivíduo está, 
a todo momento, 
recebendo os 
conhecimentos 
inerentes ao 
seu grupo de 
pertença, ou seja, 
está recebendo 
educação.
21
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
grupo social, o indivíduo está, a todo momento, recebendo os conhecimentos 
inerentes ao seu grupo de pertença, ou seja, está recebendo educação. Segundo 
Brandão (1995, p. 7), 
[...] ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja 
ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos 
pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para 
aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para 
conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. 
Nesse sentido, concordamos com Oliveira (1999) quando complementa a 
ideia acima afirmando que a educação é uma das atividades básicas de todas 
as sociedades humanas, que se utilizam dos meios que julgam mais apropriados 
para transmitir aos indivíduos mais jovens as maneiras de ser e de pensar do 
grupo, suas crenças e seus valores. Logo, adotamos como concepção para 
educação aquela que Santos (2011, p. 62) nos oferece quando menciona que
todas as maneiras utilizadas pelo indivíduo para apropriar-se dos 
conhecimentos, costumes, crenças, valores, modos de ser, de 
pensar e de agir, assim como o próprio ato de apropriar-se desses 
elementos, são considerados educação. Aprender a cantar uma 
música ou conhecer a história de um lugar, lavrar a terra e plantar 
sementes, construir uma casa ou portar-se adequadamente 
num jantar elegante, cumprimentar pessoas ou ler um jornal 
constituem atos de educação. Desde o conhecimento das normas 
estabelecidas dentro de uma casa até as regras de trânsito numa 
grande cidade, os rituais de fé de dada religião ou as leis que 
compõem a constituição de um país são exemplos de educação. 
Além disso, é por meio da educação que as peculiaridades de um 
meio social podem ser sistematizadas e transmitidas às novas 
gerações. (SANTOS, 2011, p. 62). 
Dessa forma, ao inserir o indivíduo nas características culturais do grupo 
social, nas práticas sociais estabelecidas e ao transmitir-lhe os valores e os 
conhecimentos instituídos no interior da cultura, as pessoas que compõem esse 
grupo social fazem educação. Assim, a transmissão da cultura existente dentro 
de um grupo social se dá nos momentos e nos espaços formais ou informais, de 
forma sistemática ou difusa, de maneira intencional ou despercebida (SANTOS, 
2011), fazendo com que muitos conhecimentos da bagagem cultural construída, 
reconstruída e aperfeiçoada desde os primórdios da humanidade até o momento 
presente sejam oferecidos às novas gerações.
Assim, a educação tornou-se fundamental para o desenvolvimento dos 
mais diversos grupos sociais a partir da consciência que o ser humano teve da 
necessidade de transmitir os seus conhecimentos às novas gerações que, por sua 
vez, consideraram-se capazes de aprendê-los. O despertar dessa consciência 
favoreceu o desenvolvimento contínuo da espécie humana, que se beneficiou 
constantemente das conquistas que, a cada contexto histórico, puderam ser 
utilizadas e aperfeiçoadas. 
22
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
A supremacia da espécie humana sobre as demais espécies 
não se deve simplesmente ao fato de o homem ter inventado a roda, 
por exemplo, mas principalmente pelo fato de, tendo-a inventado, 
não ter de reinventá-la a cada nova geração, e sim aperfeiçoá-
la e ressignificá-la ao longo dos tempos em novas aplicações. Em 
decorrência da consciência da capacidade de aprender, o homem se 
deu conta da possibilidade e da necessidade de ensinar. 
Segundo Freire (1996, p.23-24), foi no convívio social que, 
“[...] historicamente, mulheres e homens descobriram que era 
possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao 
longo do tempo mulheres e homens perceberam que era possível 
– depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de 
ensinar”. Já Pozo (2005, p. 12) afirma que a capacidade que o 
ser humano tem de conhecer “é produto das formas específicas a 
partir das quais aprendemos, que, por sua vez, são resultado de 
nossa capacidade de conhecermos a nós mesmos e, através de 
nós, conhecermos o mundo”. 
CULTURA: CADA UM POSSUI A SUA
Há muitos anos, nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland 
assinaram um tratado de paz com os Índios das Seis Nações. Ora, 
como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito 
adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus 
governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns 
de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam 
agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque, alguns 
anos mais tarde, Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la 
aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa:
“[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores 
desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração.
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações 
têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores 
23
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é 
a mesma que a nossa.
[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas 
escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando 
eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da 
vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam 
como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e 
falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente 
inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como 
conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora 
não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão, oferecemos 
aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus 
jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, 
homens”.
Fonte: BRANDÃO, C. R. O que é educação. 33. ed. 
São Paulo: Brasiliense. 1995, p.05.
Por meio desse exemplo relatado por Brandão (1995), mais uma vez podemos 
compreender a importância que o meio social tem para o indivíduo, ao transmitir-
lhe a cultura pertinente ao grupo do qual faz parte. É importante, também, a 
compreensão de que a cultura que faz parte de determinado grupo social pode 
não ser útil aos demais. Logo, ensinar o seu legado a certos indivíduos pode não 
ter a mesma utilidade que terá para outros, dependendo de uma sériede fatores 
relacionados aos modos de vida de tais indivíduos. Assim, os conhecimentos que 
os índios acumularam ao longo dos tempos e que transmitem às novas gerações 
são fundamentais àqueles que vivem na tribo, na selva, mas não o são para 
aqueles que vivem na cidade, onde os modos de vida são distintos. Da mesma 
maneira, os conhecimentos que os jovens das cidades recebem não teriam muita 
utilidade caso fossem transmitidos aos jovens índios, que muito pouco poderiam 
aplicá-los na vida na selva e, logo, são desnecessários àquela realidade.
Por outro lado, podemos considerar que a pluralidade cultural não somente é 
importante como faz parte da realidade das sociedades humanas. O intercâmbio 
de aspectos culturais, de novas descobertas, de maneiras distintas de tratamento 
a determinados assuntos e situações enriquece as populações dos mais diversos 
países. Conhecer e até incorporar à própria cultura certos elementos culturais de 
localidades distintas não significa abdicar de sua identidade ou menosprezá-la. 
24
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
Pelo contrário, manter-se leal a sua cultura mesmo conhecendo culturas 
distintas é prova da força, da riqueza e do valor que um povo exprime às 
suas raízes. De acordo com as orientações dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (BRASIL, 1998, p.117),
O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como 
parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a 
riqueza representada por essa diversidade etnocultural que 
compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na 
superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a 
trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade.
Neste sentido, uma proposta para a educação escolar seria 
desenvolver processos capazes de respeitar as diferenças e de “integrá-
las” em uma unidade que não as anule e que ative o potencial de cada 
sujeito no envolvimento do processo.
Neste sentido, uma 
proposta para a 
educação escolar 
seria desenvolver 
processos capazes 
de respeitar as 
diferenças e de 
“integrá-las” em 
uma unidade que 
não as anule e que 
ative o potencial 
de cada sujeito no 
envolvimento do 
processo.
Atividade de Estudos: 
Veja alguns fragmentos da letra da música Aquele Abraço, 
de Gilberto Gil. Por meio dessa música, vamos refletir sobre a 
importância que a cultura local tem para os indivíduos de determinado 
meios sociais e que não tem para outros.
AQUELE ABRAÇO
(Gilberto Gil)
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo - aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo - aquele abraço!
[...]
Alô, alô, seu Chacrinha - velho palhaço
[...]
Todo mundo da Portela - aquele abraço!
Todo mês de fevereiro - aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema - aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
[...]
Todo o povo brasileiro - aquele abraço!
Fonte: Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/aquele-
abraco.html#ixzz1MRxt20IE>. Acesso em: 10 dez. 2011.
25
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Procure pensar e responder:
1) Na frase Todo mês de fevereiro - aquele passo, o compositor 
está se referindo ao Samba e ao Carnaval – ritmo e festa 
extremamente populares na cidade do Rio de Janeiro, cidade-
tema central da música. Na região onde você mora, o Samba e o 
Carnaval possuem a mesma popularidade que no Rio de Janeiro? 
Por quê?
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2 Que festas são populares em sua região e qual o motivo dessa 
popularidade?
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3) Você conhece alguma música que retrate a cultura e os costumes 
de sua região? 
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26
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
4) Em relação ao trecho Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço / 
A Bahia já meu deu régua e compasso, responda: 
a) qual a mensagem que você acha que o compositor quis passar? 
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b) Por que ele se referiu à Bahia se a música fala sobre o Rio de 
Janeiro? 
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c) Você acha possível fazer uma analogia entre o trecho da música 
e o ditado popular Quem tem boca vai à Roma? Como e por quê?
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Por meio dessa atividade, podemos perceber que, em determinada localidade, 
dentro de um bairro, cidade, estado ou país, pode haver uma diversidade 
cultural bastante ampla. Essa pluralidade pode ser ainda maior em um país com 
dimensões territoriais tão vastas como o Brasil e que sofreu influências culturais 
tão diversas na constituição de seu povo. Por esse motivo, a própria LDBEN – Lei 
n°9.394/96 (BRASIL, 1996, p. 9), no artigo 26, institui que:
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter 
uma base nacional comum, a ser complementada, em cada 
27
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte 
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da 
sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
Logo, essa diversidade cultural que pode existir em um mesmo local e entre 
as diferentes localidades exige conteúdos distintos a serem compartilhados com 
as novas gerações, assim como maneiras também diversas de compartilhar tais 
conhecimentos. De igual maneira, dentro de um mesmo grupo social podem existir 
pessoas que possuem mais acesso aos conhecimentos do que outras, sobretudo 
acesso aos conhecimentos científicos. 
De acordo com Vygotsky (1989), os conceitos científicos, são aqueles 
oriundos de estudos científicos realizados em determinada área do conhecimento,sendo assim reconhecidos pela comunidade científica e possuindo como 
característica a sistematização e a organização. Além disso, os conceitos 
científicos são adquiridos de forma consciente pelo indivíduo. Por outro lado, 
os conceitos espontâneos são aqueles que o sujeito constrói na informalidade 
dos momentos de sua experiência cotidiana, sem uma sistematização e sem 
a consciência dessa construção. São baseados nas experiências que o sujeito 
estabelece no meio social onde vive e com as pessoas e elementos que dele 
fazem parte.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Teoria Histórico-
Cultural proposta por Vygotsky e conhecer suas contribuições para o 
processo de ensino e aprendizagem na escola, sugerimos dois livros: 
BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e 
desenvolvimento: um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: 
Scipione, 1997.
Vygotsky (1989) complementa essas ideias afirmando que o estudo dos 
conceitos científicos deve apoiar-se nos conceitos espontâneos para serem 
apreendidos pelo indivíduo. É preciso que o desenvolvimento de um conhecimento 
espontâneo tenha alcançado certo nível para que o indivíduo possa absorver um 
conhecimento científico correlato. É nessa profunda relação que se estabelece 
28
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
entre os conceitos científicos e os conceitos espontâneos que reside a importância 
da valorização daquilo que o estudante já sabe, para que o professor faça a 
mediação com novos conhecimentos. As vivências cotidianas que todo indivíduo 
possui servem como ponto de partida para novas aprendizagens. Pinto (1982, p. 
109) já havia discutido essa questão ao afirmar que
a sociedade deseja ver compendiados e transmitidos 
regularmente às novas gerações os conhecimentos que lhe são 
úteis, que expressam seu grau de avanço cultural e de domínio 
das forças da natureza, dentro de uma determinada ordem 
de relações produtivas. A educação escolar, da infância ou de 
adultos é, portanto, a formalização da educação espontânea 
(dada pela consciência social), enriquecida dos conteúdos 
de saber que os sábios e os artistas dessa sociedade têm 
produzido ou adquirido. Deve-se entender como a ordenação 
do saber e não como passagem a um plano de vida social 
distinto. Por isso continua a possuir a mesma significação 
humana e social. 
Logo, o respeito e a valorização dos conhecimentos que os estudantes da 
EJA possuem é tão importante quanto os conceitos científicos apresentados 
na escola, podendo deste modo ser o ponto de partida para a aprendizagem 
requerida e estimulada na educação escolar. 
Atividade de Estudos: 
1) Vygotsky (1989), nos remete à reflexão sobre a profunda 
relação que existe entre os conhecimentos espontâneos e os 
conhecimentos científicos. Você concorda que é a partir de 
conhecimentos construídos nos momentos informais de seu 
cotidiano que o sujeito consegue construir os conhecimentos 
científicos correlatos? Por quê?
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2) Tente imaginar que você trabalha em uma turma de EJA e 
que nessa turma haja um estudante que seja trabalhador 
exercendo uma profissão específica, como padeiro, balconista 
ou mecânico. Eleja um conteúdo de sua disciplina de formação 
29
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
e tente imaginar como você poderia trabalhar tal conteúdo a 
partir de conhecimentos que provavelmente esse estudante-
trabalhador tenha adquirido em seu local de trabalho. Faça um 
relato detalhado dos passos que você adotaria para trabalhar 
tal conteúdo, estabelecendo os objetivos, a contextualização do 
assunto e a descrição detalhada das atividades propostas.
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3) Escreva sobre como você percebeu esse planejamento de uma 
aula em que os conhecimentos espontâneos foram valorizados 
no trabalho com os conceitos científicos.
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Da Educação Informal à Escola 
No início dos tempos, o intercâmbio de conhecimentos realizados pela 
educação dava-se de forma assistemática, isto é, o indivíduo os obtinha por meio 
do aprendizado das tarefas peculiares ao seu grupo social, na convivência com os 
seus pares e a partir das experiências vivenciadas em seu cotidiano. Não havia 
um local nem horários específicos para a aprendizagem do que era importante 
para viver em determinado meio social. 
Com a evolução das organizações sociais, o homem sentiu a necessidade 
de determinar uma maneira específica de transmissão de conhecimentos, de 
30
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
organização desses conhecimentos em categorias sob alguns critérios que 
facilitassem o seu aprofundamento e a sua disseminação. Para tanto, foram 
criadas, também, outras necessidades, como as de instituir um espaço delimitado, 
um horário específico, um padrão “adequado”, uma sequência “lógica” e pessoas 
“legitimadas” pela sociedade como encarregadas de promover o conhecimento 
entre os indivíduos jovens daquele local. Foi o advento da educação formal 
concretizado por meio da instituição escola. Segundo Oliveira (1999, p. 167), 
Considerada como uma reunião de indivíduos com objetivos 
comuns, num processo de interação contínua, a escola é um 
grupo social. Mas pode também ser vista como uma instituição, 
ou seja, um conjunto de normas e procedimentos padronizados 
altamente valorizados pela sociedade, cujo objetivo principal 
é a socialização do indivíduo, a transmissão de aspectos 
determinados da cultura. [...] Como grupo social, a escola 
pode ser vista como um conjunto de alunos, professores 
e funcionários que desenvolvem um processo contínuo de 
cooperação, com o objetivo primordial de transmitir cultura.
É na escola que, além das características culturais locais, os indivíduos 
entram em contato com os conhecimentos estabelecidos em âmbito global e 
legitimados pela comunidade científica. Portanto, a escola é o local que, entre 
outras funções, prepara formalmente os indivíduos para intervirem no meio social 
do qual fazem parte. Conforme Leontiev e Luria (apud VYGOTSKY, 1998, p. 
174), o processo de educação escolar é qualitativamente distinto do processo 
educacional como um todo, em sentido geral, já que na escola o indivíduo “[...] 
está diante de uma tarefa particular: entender as bases dos estudos científicos, ou 
seja, um sistema de concepções científicas”.
Gadotti (2005, p. 25) contribui com essa discussão salientando que “Todos 
precisamos de escolas. Mas a escola não é um espaço físico. É, acima de tudo, 
um modo de ser, de ver. Ela se define pelas relações sociais que desenvolve. 
Educar é estabelecer relações; e não trocar objetos”. É esse mesmo autor que 
complementa a ideia afirmando que o papel da escola é fazer tanto as crianças 
quantos os jovens e os adultos passaremda cultura primeira (que fazendo 
um paralelo com Vygotsky chamaríamos de conceitos espontâneos) à cultura 
elaborada (conceitos científicos). 
Logo, da mesma forma que o indivíduo tem a oportunidade de entrar em 
contato com os conhecimentos que circundam o seu meio social por meio da 
convivência com os seus pares, na escola ele tem a possibilidade de apropriar-
se dos conhecimentos científicos. No entanto, os conhecimentos construídos nos 
momentos informais, fora da escola, não serão abandonados e sim relacionados 
aos conhecimentos trazidos pela escola.
31
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Atividade de Estudos: 
Observe com atenção as duas charges abaixo:
 Figura 1 - Aula de Geografia Figura 2 - Evolução
 
1) Na charge 1, que aspectos sobre cultura e educação que 
estudamos até agora você consegue perceber?
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2) Na charge 2, é feita uma comparação entre a Teoria da Evolução 
e a evolução que se pode alcançar por meio do conhecimento. 
Você concorda com tal comparação? Comente.
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3) Que relações você percebe entre as duas charges? Pense no que 
estudamos até o momento para fundamentar a sua resposta.
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32
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
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4) Crie uma charge que retrate a importância dos conhecimentos 
prévios para a ascensão aos conhecimentos científicos na EJA.
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Alfabetização é Letramento: 
Compreensões a Partir da 
Perspectiva de Soares 
Você já parou para pensar como foi alfabetizado? Foi na escola? 
O que é ser alfabetizado? O que é ser analfabeto? É possível saber 
ler e não saber escrever ou vice-versa? Por que aprendemos a ler e 
escrever?
Até pouco tempo na história da humanidade, a arte de ler e escrever era um 
privilégio da elite, sendo que a grande maioria da população ganhava a vida sem 
a habilidade da leitura e escrita. Porém, com o desenvolvimento das sociedades, 
a necessidade dessa habilidade passou a fazer parte das demais classes da 
33
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
população, tornando-se requisito fundamental para acessar o conhecimento 
científico. 
Vale lembrar que, já no início, esse acesso foi ofertado para uma minoria da 
população e na maioria das vezes foi limitado a suprir a necessidade imediata de 
apenas decodificar sinais, escrever e contar.
O Brasil ainda possui um número significativo de pessoas que não tiveram 
acesso à leitura e à escrita como bens sociais, na escola ou fora dela. De acordo 
com o Parecer CEB nº 11/2000 (BRASIL 2000, p. 649), “ser privado desse 
acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença 
significativa na convivência social contemporânea.” 
Entretanto, é fundamental ressaltar que a ausência da escolarização não 
pode e nem deve justificar uma visão preconceituosa do analfabeto, relacionado-
os com tarefas e funções desqualificadas no mercado. É preciso considerar a rica 
cultura que essas pessoas adquirem, baseada na oralidade, nos diversos meios 
em que vivem. Conforme afirma a autora Magda Soares (2004, p.24),
[...] um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado 
social e economicamente, mas, se vive em um meio em que 
a leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em 
ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe 
cartas que outros lêem para ele, se dita cartas para que um 
alfabetizado as escreva, ..., se pede a alguém que lhe leia 
avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto 
é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-
se em práticas sociais de leitura e de escrita. 
Diante desse contexto, a autora ainda ressalta a importância de 
compreendermos o conceito de analfabeto. Soares (2004, p. 30), chama a 
atenção para a composição escrita da palavra: 
a(n) + alfabet + ismo
O prefixo a indica negação, já o sufixo ismo indica um modo de proceder. 
Então, Soares (2004, p.30) afirma que: “Analfabeto é aquele que é privado do 
alfabeto, a que falta o alfabeto, ou seja, aquele que não conhece o alfabeto, que 
não sabe ler e escrever”. Sendo assim, Analfabetismo é “um estado, uma condição, 
o modo de proceder daquele que é analfabeto” (SOARES, 2004, p.30).
34
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
 Observe com atenção a charge: 
Figura 3 - Mafalda na sala de aula
Fonte: Quino, 1999, p. 54.
Atividade de Estudos: 
1) Você consegue perceber o que a professora estava querendo 
ensinar aos alunos?
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2) Por que Mafalda faz este questionamento à professora? Socialize 
com os colegas a sua opinião. Para isso, você também pode 
utilizar o ambiente virtual de aprendizagem. 
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3) Durante sua trajetória escolar, você já vivenciou alguma situação 
parecida e em sua atuação docente? 
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35
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Agora que você já concluiu a atividade e socializou fatos do seu processo 
de escolarização, vamos resgatar a fala de Mafalda para prosseguir com nossas 
reflexões:
- Professora, agora nos ensine coisas importantes. 
Quando Mafalda afirma que quer aprender coisas importantes, ela aponta 
a necessidade de aprender algo que seja articulado com suas necessidades e 
interesses, com o meio em que ela vive. Parece que o esforço da professora em 
alfabetizar, neste momento, não passa de uma visão restrita da leitura e da escrita, 
exigindo dos alunos apenas um conjunto de habilidades motoras e técnicas. 
Mas como sugere Mafalda nas entrelinhas de sua fala, de que 
adianta esse conhecimento se não soubermosaplicá-lo em nosso 
dia a dia?
Neste sentido Soares (2004, p.39) afirma que 
um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo 
letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e 
escrever; já o individuo letrado (...) não é só aquele que sabe 
ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a 
escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente 
as demandas sociais de leitura e de escrita.
A autora ainda conclui afirmando que “Letramento é o estado 
ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas 
sociais de leitura e escrita”. (SOARES, 2004, p. 44). 
Mas, afinal, onde surgiu o termo Letramento?
A palavra letramento deriva de literacy que, etimologicamente, vem 
do latim littera (letra), com o sufixo cy, que denota qualidade, condição, estado, fato 
de ser. Ou seja, literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a 
ler e escrever. “A escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, 
cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para 
o indivíduo que aprende a usá-la.” (SOARES, 2004, p.17)
“Letramento é o 
estado ou condição 
de quem se envolve 
nas numerosas e 
variadas práticas 
sociais de leitura e 
escrita”. (SOARES, 
2004, p. 44).
36
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
Veremos a seguir um caso bem sucedido de Letramento aplicado por uma 
educadora de EJA. A situação relatada aconteceu no ano de 2005, em um 
Programa de Alfabetização da rede Municipal de Ensino de Blumenau, em Santa 
Catarina. Os nomes são fictícios, a fim de preservar a identidade dos sujeitos 
envolvidos nesse processo. 
Práticas na EJA: um relato de experiência 
A professora Antônia é alfabetizadora e vinha trabalhando com 
sua turma documentos pessoais, quando percebeu que grande 
parte de seus alunos eram de cidades interioranas, e que tinham 
vindo para Blumenau (Santa Catarina) em busca de emprego. Um 
dia, uma de suas alunas solicitou que ela a auxiliasse a ler uma 
carta que tinha recebido da família. Então, a professora decidiu 
trabalhar com cartas. Pediu permissão à aluna e iniciou uma de 
suas aulas lendo a carta.
Ibirama, 22 de julho de 2005.
Prezada comadre, 
Estou escrevendo para comunicar o nascimento do seu afilhado 
Mario, no dia 10/07/2005. O parto foi normal e o neném nasceu com 
quase cinco quilos. Todos estão muito bem. Estamos programando o 
batizado para o final do ano, esperamos você.
Um grande abraço, Maria.
Fonte: Planejamento professora Alfabetizadora. A carta foi trazida 
por uma alfabetizanda do Programa de Alfabetização do 
município de Blumenau no ano de 2005. 
Após concluir a leitura da carta, a professora colocou no quadro 
o texto escrito na carta e levantou os seguintes questionamentos: 
Vocês conhecem alguma das palavras escritas nesta carta?
Onde está a data de nascimento do Mario?
Quem está escrevendo para quem?
O que está sendo comunicado? Sobre que assunto a carta trata?
Por que escrevemos cartas?
37
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
Após discutirem essas questões a professora passou a trabalhar 
o mapa de Santa Catarina, situando a cidade em que Mario nasceu e 
a cidade em que os alunos moravam. Depois ainda levou os alunos 
a calcularem quanto tempo fazia que Mario tinha nascido desde a 
escrita da carta. Após, deu continuidade trabalhando as palavras 
da carta, explorando a escrita e os sons das letras. A professora 
continuou explorando esse gênero por alguns encontros até que 
cada aluno produziu sua carta. 
Depois de ler sobre uma prática de Letramento na EJA, vamos ESTUDAR um 
pouco mais sobre Letramento lendo um poema, citado na obra de Soares (2004), 
que foi criado por Kate M. Chong, estudante norte-americana, de origem asiática. 
O QUE É LETRAMENTO?
Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade, 
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura à luz de vela 
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente,
o tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor;
telegrama de parabéns e cartas
de velhos amigos.
38
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo o que você pode ser.
 
Fonte: SOARES, Magda. LETRAMENTO: um tema em três 
gêneros. 2. ed. 8. reimpr. Belo Horizonte: Autêntica, 2004
Diante da leitura do poema convidamos você a refletir sobre as 
seguintes questões: 
Registre suas reflexões e organize um debate com os colegas 
para a socialização destas reflexões:
1) O que você entendeu por Letramento?
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2) O que é ser analfabeto?
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3) O que significa “alfabetizar”? 
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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
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4) O que significa “letrar”? 
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5) Quais as implicações dessas reflexões na organização e prática 
da ação docente na EJA?
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Letramento, Educação de Jovens 
e Adultos e Escola: Algumas 
Reflexões 
Muitos são os jovens e adultos já alfabetizados ou não que 
retomam o processo de escolarização, nos diferentes níveis de ensino, 
por sentirem a mesma necessidade apontada por Mafalda na tirinha 
acima, ou seja, de transitar em uma sociedade que apresenta a leitura 
e escrita como mediadoras de uma gama de conhecimentos e serviços 
produzidos socialmente. Soares (2004, p.36) afirma que “há uma 
diferença entre o fato de saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver 
na condição ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado”. 
A escola é um dos espaços que pode e deve propiciar ao sujeito a 
utilização da leitura e da escrita como práticas sociais, de modo que os 
auxiliem na compreensão do meio em que estão inseridos. Segundo 
Soares (2004, p.37), “socialmente e culturalmente, a pessoa letrada 
já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa 
a ter uma outra condição social e cultural”. Para a autora, a pessoa, 
A escola é um 
dos espaços 
que pode e deve 
propiciar ao sujeito 
a utilização da 
leitura e da escrita 
como práticas 
sociais, de modo 
que os auxiliem na 
compreensão do 
meio em que estão 
inseridos. Segundo 
Soares (2004,p.37), “socialmente 
e culturalmente, 
a pessoa letrada 
já não é a mesma 
que era quando 
analfabeta ou 
iletrada, ela passa 
a ter uma outra 
condição social e 
cultural”.
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 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
ao adquirir essa condição, não muda necessariamente de nível ou classe social, 
cultural, mas muda seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção 
na cultura e seu relacionamento com os outros. 
De acordo com Soares (2004), alguns estudos têm mostrado que o convívio 
com a língua escrita tem como consequências mudanças no uso da língua oral, 
nas estruturas linguísticas e no vocabulário. Assim, o nível de letramento de 
grupos sociais relaciona-se fundamentalmente a suas condições sociais, culturais 
e econômicas, ou seja, é preciso que haja condições para o letramento. 
Uma primeira condição abordada pela autora é a de criar a oportunidade de 
todos os alunos, nos diferentes níveis de ensino, ficarem imersos em um ambiente 
de letramento, para que entrem no mundo letrado, ou seja, num mundo em que 
as pessoas tenham acesso a livros, revistas, jornais, tenham acesso a livrarias e 
bibliotecas. Enfim, que vivam em tais condições sociais, em que a leitura e escrita 
tenham uma função para elas e torne-se uma necessidade e forma de lazer, bem 
como propicie uma nova possibilidade de ver e ler o mundo.
Nesse contexto, a escola assume um papel fundamental, sendo um espaço 
propício para o desenvolvimento de práticas sociais de leitura e escrita. Vale 
lembrar que os adultos que chegam nas salas de EJA são pais, mães de família, 
jovens que buscam participar desta sociedade que se torna cada vez mais 
complexa. Essa complexidade se expressa pela multiplicidade e pelo excesso de 
informações verbais e não-verbais que nos chegam pelos mais variados meios, 
mídia, trabalho, lazer e outros. 
Os educadores, devem pautar sua prática numa perspectiva de Letramento, 
ou seja, considerar que mesmo que os sujeitos não tenham tido a oportunidade 
de estudar e serem alfabetizados, eles criam estratégias para se inserirem 
nessa cultura, criam um modo próprio de interpretar essas informações. Assim, 
todo esse conhecimento prévio deve ser utilizado em sala de aula, explorando a 
informação apresentadas pelos sujeitos, a fim de que se possam, em conjunto 
(professor x aluno x aluno), construir outros conhecimentos, ou seja, um novo jeito 
de ler o mundo. 
Algumas Considerações 
Nesse capítulo, procuramos caracterizar e compreender concepções 
e relações construídas socialmente entre cultura e sociedade. Além disso, 
discutimos as ideias que perpassam o conceito de educação formal e informal 
e a importância da complementaridade entre elas, de maneira a propiciar uma 
formação integral ao sujeito a partir da valorização do processo de ensino e 
41
As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1 
aprendizagem, partindo do conhecimento que o aluno já possui. Ainda nesse 
contexto, apresentamos as concepções de alfabetização e letramento, a partir da 
perspectiva de Soares, e suas implicações na EJA. 
Como educadores na modalidade de EJA, necessitamos compreender as 
relações discutidas neste primeiro capítulo, de modo que nosso principal papel 
seja o de mediar as aprendizagens abordando temas pertinentes à realidade dos 
estudantes. Nesse processo de mediação, é fundamental propiciar as condições 
necessárias para que o estudante realize conexões entre o conhecimento que 
está sendo ensinado na escola e suas relações culturais, econômicas e sociais, 
ou seja, que relacione os conceitos científicos abordados em sala de aula com 
os conceitos espontâneos dos quais se apropriou ao longo de sua convivência 
no meio social em que vive. Por meio do estabelecimento dessas relações, o 
estudante tem a oportunidade de descobrir na educação uma nova possibilidade 
de ler o mundo e de transformar sua própria vida. 
Dessa forma, o estudante jovem ou adulto que chega à escola, mesmo que 
seja analfabeto, já possui uma participação bastante ativa no meio social onde 
vive. Assim, o estudante está buscando, de certa forma, “legitimar” e aprofundar 
os conhecimentos que já possui pela via dos conceitos científicos, que é o 
aspecto realmente valorizado pela sociedade letrada em que vivemos. E, por fim, 
ao aprender a ler e a escrever, o estudante tem a oportunidade de ler e reler o 
mundo em que vive, desvelando questões que antes não estavam claras e que 
agora passam a estar. Essa leitura de mundo não se dá somente pelo fato de o 
estudante saber decodificar o que está sobre as linhas, mas principalmente por 
conseguir compreender o que está implícito nas palavras escritas.
No próximo capítulo, abordaremos questões que envolvem o processo 
educativo e estão estreitamente relacionadas à Didática. Para isto, 
apresentaremos um contexto histórico das Tendências Pedagógicas no Brasil e 
do desenvolvimento da Didática na EJA. 
Referências
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 8. Ed. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2004.
______, MEC - Ministério de Educação e Cultura. Parecer CNE/CEB 11/2000 
– Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação de jovens e adultos. 
Brasília, 2000. 
42
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
______, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares 
Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. 
Brasília: MEC/SEF, 1998. 
FAVARETTO; J. A; MERCADANTE; C. Biologia. Volume único. 2ª Ed. São 
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática 
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Rio Doce, 2005. p. 25-29.
KLUCKHOHN, C. Antropologia: um espelho para o homem. Belo Horizonte: 
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LIBÂNEO, J. C. O essencial da didática e o trabalho de professor – em busca 
de novos caminhos. Goiana, 2001. Disponível em: <http://www.ucg.br/site_
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OLIVEIRA, P. S. Introdução à Sociologia. 22. ed. São Paulo: Ática, 1999.
PINTO, Á. V. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: Autores 
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POZO, J. I. Aquisição de conhecimento: quando a carne se faz verbo. Porto 
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Pedagógica para a Aprendizagem de Conceitos de Geometria. Blumenau, 
2011. 241 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional de 
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SIRGADO, A. P. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educação e 
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SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: 
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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
______. A Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CAPÍTULO 2
A Educação de Jovens e Adultos
e a Didática
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Apresentar as tendências pedagógicas que influenciaram a Didática 
na EJA e suas relações com o currículo nessa modalidade de ensino. 
� Identificar as contribuições dos pensadores da Pedagogia para a Didática na EJA. 
� Identificar as possibilidades didáticas para a transformação de informações em 
conhecimentos na EJA.
44
 DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA
45
A Educação de Jovens e Adultos e a Didática Capítulo 2 
Contextualização
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação de Jovens 
e Adultos (EJA), a modalidade de Educação de Jovens e Adultos se configura 
como uma estratégia

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