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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ – FEPI Curso de Direito Mônica Fernanda da Silva APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E SEUS EFEITOS NO CONTRATO DE TRABALHO ITAJUBÁ 2019 Mônica Fernanda da Silva APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E SEUS EFEITOS NO CONTRATO DE TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro Universitário de Itajubá – FEPI, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador (a): Prof. Me. Paulo Henrique Motta ITAJUBÁ 2019 Fonte: Elaborado pela autora. SILVA, Monica Fernanda da Aposentadoria por Invalidez e Seus Efeitos no Contrato de Trabalho. Monica Fernanda da Silva. Itajubá, 2019, 58p. Orientador (a) (es): Prof. Me. Paulo Henrique Motta. Trabalho de Conclusão de Curso. Direito. Centro Universitário de Itajubá – FEPI. 1. Aposentadoria por Invalidez e seus Efeitos. 2. Contrato de Trabalho. I. MOTTA, Paulo Henrique. II. FEPI – Centro Universitário de Itajubá. III. Aposentadoria por Invalidez e Seus Efeitos no Contrato de Trabalho. Monografia. Em sessão às _____horas do dia ___ do mês de ______, o (a) aluno (a) Mônica Fernanda da Silva apresentou o Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado Aposentadoria por Invalidez e seus Efeitos no Contrato de Trabalho, como requisito para conclusão do Curso de Direito do Centro Universitário de Itajubá – FEPI perante a Banca Examinadora. Depois de todas as considerações feitas, o (a) candidato (a) foi considerado: Aprovado ( ) Aprovado com Restrições ( ) Reprovado ( ) ___________________________________ __________________________________ Nome do (a) Acadêmico (a) Assinatura ___________________________________ __________________________________ Nome do (a) Orientador (a) Assinatura ___________________________________ __________________________________ Nome do Arguidor 1 Assinatura ___________________________________ __________________________________ Nome do Arguidor 2 Assinatura À Deus, primeiramente, aos meus pais pelo incentivo, paciência e amor. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao ponto de superar as dificuldades e por toda saúde que me deu; o que me permitiu alcançar esta etapa tão importante da minha vida. À minha família, noivo e amigos, que nunca desistiram de mim e sempre me ofereceram amor, eu deixo uma palavra e uma promessa de gratidão eterna. A esta Universidade e toda sua direção, eu deixo uma palavra de agradecimento por todo ambiente inspirador e pela oportunidade de concluir este curso. Aos professores, eu agradeço a orientação incansável, o empenho e a confiança que ajudaram a tornar possível este sonho tão especial. A todas as pessoas que de alguma forma fizeram parte do meu percurso, eu agradeço com todo o meu coração. RESUMO O objetivo desta monografia foi fazer um levantamento histórico através de estudos bibliográficos, artigos, doutrinas, jurisprudências, relevantes ao estudo da Aposentadoria por Invalidez e seus efeitos no Contrato de Trabalho, o início de sua história, como se desenvolveu, e a sua efetivação no âmbito da Aposentadoria por Invalidez dos segurados no Brasil. Através disso, foi possível analisar o segurado e empregado, seu histórico no Direito Brasileiro, suas evoluções na sociedade em especial da Instrução Normativa 77 do INSS e sua regulamentação da Lei nº 8.213/91. Com toda essa mudança, o presente trabalho apresenta algumas análises, visando assuntos concernentes à Lei nº 8.213/91, aos segurados e empregados e seus efeitos na vida em sociedade e no ordenamento jurídico. Apresenta também o contrato de trabalho, fazendo uma breve menção histórica a respeito do que vem a ser o contrato de trabalho individual, sua conceituação jurídica, sua forma e prazo, suspensão, interrupção e extinção na aposentadoria por invalidez, e os efeitos inerentes a ela. Palavras-chaves: Aposentadoria por Invalidez, Aposentadoria por Invalidez e seus Efeitos, Contrato de Trabalho. ABSTRACT This article intends on doing a historical analysis through books, periodicals, doctrines, laws and relevant studies in Retirement regarding disability benefits for workers with permanent bodily or infirmity incapacities and its effects in work contracts. Also, it focuses on how this kind of retirement began and developed, along with the laws in Brazil. Through that, it was possible to analyze the workers’ security plans, their past in the country and their evolutions in society following some country laws. With all this change, this report presents some analysis regarding Brazilian laws, the plans and workers, as well as the impacts in their personal and social lives, and the legal order. It also presents the work contracts, briefly mentioning its history, individual work contracts, legal concepts, forms and terms, suspension, interruption and extinction of this kind of retirement and the consequences of those. Key-words: Disability Retirement, Disability Retirement and its Consequences, Work Contract. ABREVIATURAS DE SIGLAS CAP: Caixa de Aposentadoria e Pensão CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas CRF/1988: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 IAPB: Institutos de Aposentadorias e Pensões IAPC: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários IN: Instrução Normativa INSS: Instituto Nacional do Seguro Social LOPS: Lei Orgânica da Previdência Social OIT: Organização Internacional do Trabalho OJ: Orientações Jurisprudenciais RGPS: Regime Geral da Previdência Social SUS: Sistema Único de Saúde TST: Tribunal Superior do Trabalho SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 08 2 SEGURIDADE SOCIAL ................................................................................................... 09 2.1 A Evolução da Seguridade Social ..................................................................................... 09 2.2 Conceito de Seguridade Social .......................................................................................... 16 2.3 Segurados Obrigatórios e Facultativos .............................................................................. 17 3 BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE ............................................................................. 21 3.1 Aposentadoria por Invalidez ............................................................................................... 21 3.2 Auxílio Acidente ................................................................................................................27 3.3 Auxílio Doença ................................................................................................................... 29 4 CONTRATO INDIVIDUAL DO TRABALHO ............................................................... 30 4.1 Breve Histórico do Contrato de Trabalho .......................................................................... 30 4.2 Conceito Jurídico de Trabalho ............................................................................................ 34 4.3 Quanto à forma: Expressos ou Tácitos ............................................................................... 34 4.4 Quanto ao Prazo: Indeterminado e Determinado ............................................................... 36 4.5 Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho ............................................................. 38 5. A APOSENTADORIA POR INVALIDEZ NO CONTRATO DE TRABALHO ........ 40 5.1 Aspecto Jurídico ................................................................................................................. 41 5.2 Das Perspectivas de Ambas as Partes ................................................................................. 42 5.3 Das Hipóteses e seus Efeitos .............................................................................................. 43 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS......................................................................................................................48 8 1 INTRODUÇÃO O Direito Previdenciário e o Direito do Trabalho são áreas da ciência Jurídica, que, apesar de serem independentes uma da outra, possuem aspectos que se conectam, sucedendo que cada disposição dos atos normativos de um pode originar efeitos no outro. Portanto, a conhecida Aposentadoria por Invalidez no Regime Geral de Previdência Social gera efeitos que refletem diretamente no contrato de trabalho. Muito se tem discutido a respeito desse tema, sobre os efeitos que a Aposentadoria por Invalidez gera no Contrato de trabalho. Há quem acredite que a aposentadoria por invalidez extingue o contrato de trabalho; em outras linhas, há controvérsias entre quem a defende e quem é contrário, em razão do empregado ser segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social. Diz-se, então, que foi oficializada uma relação com contrato de trabalho do segurado, já que a concessão da aposentadoria por invalidez está diretamente vinculada ao contrato de trabalho. Em razão disto, não há como negar que os dois ramos do Direito se relacionam, porque um cria implicações no outro, mesmo sendo independentes. O presente trabalho tem o objetivo de conceituar a Aposentadoria por Invalidez e demonstrar seu efeito no contrato de trabalho durante o afastamento do empregado de suas atividades habituais, assim como o que acontece caso este recupere sua capacidade de trabalho, com fundamento na lei, doutrina e jurisprudência. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo fazer uma análise nos efeitos da aposentadoria no contrato de trabalho, para fins de extinção, interrupção ou suspensão do contrato. A problemática do estudo se verifica em demonstrar as causas da aposentadoria por invalidez e seus efeitos no contrato de trabalho. 9 2 SEGURIDADE SOCIAL O direito previdenciário e suas ações surgiram com a necessidade de trazer segurança para a sociedade em relação à saúde e assistência dos cidadãos. Desse modo, garante-se a segurança social (onde são previstas necessidades básicas, no que tange à perda ou incapacidade de indivíduos) e a proteção de cada um deles, e, consequentemente, de suas famílias. Para que exista preservação de uma boa convivência na sociedade, é necessário que sejam observados todos os requisitos fixados em lei, uma vez que, sem isso, haveria uma grande desordem na seguridade social, pois visa-se o bem-estar de cada indivíduo. Rocha (2004) explicita que “seguridade” traduz a ideia de tranquilidade e segurança, tanto no presente, como no futuro, porquanto “a incerteza é do viver humano e a segurança é do existir dos homens”. A seguridade social, portanto, é caracterizada como uma forma de garantir aos indivíduos seu bem estar social. 2.1 A Evolução da Seguridade Social Determinados fatos que ocorrem na vida de um indivíduo, como, por exemplo, desemprego, doença, invalidez, maternidade, idade avançada, prisão, dentre tantos outros que ocorrem de forma peculiar, acabam sendo razões que alteram a capacidade do indivíduo de executar seu trabalho. Isso culmina em um “desfalque econômico” em sua vida, visto que ele não consegue batalhar pelo seu sustento; e é dever do Estado providenciar cuidados e proteção em casos como esses. Segundo Ibrahim (2014), a raiz da proteção social encontra-se na família. Na antiguidade, a concepção de família tinha mais força, haja vista que vivia em conjunto com várias outras famílias. Nessa época, as obrigações de uns para com os outros eram bem delineadas, a exemplo dos jovens que eram incumbidos de cuidar dos idosos e incapacitados. Ainda nas palavras do autor Ibrahim (2014), todavia, nem todo indivíduo tinha essa proteção no seu âmbito familiar, e, muitas vezes, quando tinha, era precária. A partir disso, surgiu a necessidade da participação de terceiros a fim de suprir essa ausência de proteção. Inicialmente, o auxílio partia da igreja, sendo que, apenas no século XVII, na Inglaterra, iniciava-se a normatização para atendimento de pessoas que, por diversas situações, não poderiam se manter. Essa lei ficou conhecida como “Lei dos Pobres”, ou “Poor Law”. 10 Kertzman (2015) pontua que, no que se refere ao aspecto previdenciário, a Alemanha é pioneira. Em 1883, Otto Von Bismarck editou a primeira lei, que tratou do seguro-doença. Mas a primeira previsão constitucional sobre o tema foi trazida pelo México, em 1917, seguida da Constituição Alemã de Weimar, em 1919. Kertzman (2015) também pontua que, no Brasil, a primeira Constituição a prever um ato securitário foi a de 1824, que, em seu artigo 179, inciso XXXI, garantia os socorros públicos. Em seguida, a Constituição de 1891 dispôs sobre a aposentadoria por invalidez para os servidores públicos – esse não é considerado um marco mundial, pois a previsão do benefício se restringia aos servidores públicos. Daí em diante, o ordenamento jurídico brasileiro previu outras espécies de proteção social, como a Lei Eloy Chaves, em 1923, que criou as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s) e a Legião Brasileira da Assistência Social (LBA), criada pelo Decreto 4.890/42. Mas, somente com a Constituição de 1988, utilizou-se a expressão Seguridade Social abrangendo a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social. A seguridade social está prevista na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) no Título VIII, Da Ordem Social. O caput do artigo 194 da CRFB/88 dispõe que “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. (BRASIL, 1988) No atual momento, reflete-se que o Estado tem, como principal arma, a proteção à população brasileira, dando oportunidade de oferecer serviços de saúde para os necessitados, dando o mínimo de amparo para estes, como o modelo de Bolsa-Família, Minha Casa Minha Vida e outros, para garantir a dignidade da pessoa humana e suas necessidades fundamentais. Satisfazendo os mínimos necessários à sobrevivênciado indivíduo, a seguridade social é instrumento de bem-estar. É também redutor das desigualdades sociais, causadas pela falta de ingressos financeiros no orçamento do indivíduo e de sua família, e instrumento de justiça social. (SANTOS, Marisa dos. Col. Sinopses Jurídicas 25 - direito Previdenciário, 12ª edição. [Minha Biblioteca].) De acordo com Ibrahim (2014), o objetivo do constituinte originário ao criar a seguridade social foi o de elaborar um sistema de proteção hábil a satisfazer os interesses sociais. Assim, a seguridade social pode ser conceituada como: [...] a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos, incluindo parte dos beneficiários dos direitos no sentido de estabelecer ações para o sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providenciando a manutenção de um padrão mínimo de vida digna. (2014, p. 05) 11 Kertzman (2015) fala em rede protetiva, devido ao elo que há entre os componentes da seguridade social. O Estado investe em saúde, no intuito de que menos pessoas adoeçam ou se curem mais rápido. Por conseguinte, precisarão menos dos benefícios por incapacidade laborativa; ademais, investindo-se em previdência social, mais pessoas estarão incluídas no sistema e menos dependerão da assistência social. De acordo com Silva (2014), a saúde está prevista nos artigos 196 a 200 da CRFB/88 e é concebida como direito de todos e dever do Estado, que, por meio de políticas públicas, deve garantir a redução de doenças, bem como outros agravantes. Devido à importância da saúde, essa está sujeita à regulamentação, fiscalização e controle do poder público. Para Tsutiya (2013), o artigo 199 da CRFB/88 dispõe que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Entretanto, esta deverá cooperar de maneira suplementar ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme as suas diretrizes, por meio de contrato público ou convênio, sendo vedada a destinação de recursos públicos para subsidiar instituições privadas com fins lucrativos. Branco e Mendes (2014) explicam que o SUS é subsidiado com recursos do orçamento da seguridade social e dos entes federativos, e incorpora uma rede regionalizada e hierarquizada. Devido ao aspecto de regionalização do SUS, o artigo 23, inciso II da CRFB/88 instituiu o caráter solidário da responsabilização para com a saúde, entre os entes da federação. Ibrahim (2014) lembra que o direito de obter atendimento de saúde na rede pública é de todos, independentemente de contribuição. Ainda que seja comprovado que a pessoa tenha meios de arcar com seu próprio tratamento médico, esta terá acesso à rede pública de saúde, diferentemente da Previdência Social que, para usufruí-la, exige-se contribuição obrigatória. A previdência social está prevista nos artigos 201 e 202 da CRFB/88, bem como na Lei 8.213/91. O artigo 201 da CRFB/88 preleciona que “a previdência social será organizada por meio de regime geral, de caráter contributivo e filiação” (BRASIL, 1988). Castro e Lazzari (2015) discutem que se entende por regime previdenciário aquele que abrange vários indivíduos ligados entre si, por meio de uma relação jurídica previdenciária, em razão do trabalho ou vínculo profissional que estão sujeitos, assegurando- os benefícios de proteção a eventualidades, a exemplo de auxílios, aposentadorias e pensões. Castro e Lazzari (2015) mostram também que o principal regime de previdência social da ordem interna é o Regime Geral de Previdência Social – RGPS, que abrange todos os trabalhadores privados: trabalhadores urbanos, rurais, avulsos, temporários, autônomos, empregados domésticos, empresários, etc. Além do RGPS, há outros regimes como a 12 previdência complementar, regime de previdência de agentes públicos e dos militares das forças armadas. Castro e Lazzari (2015) também colocam que o RGPS é gerenciado pelo Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social. A autarquia tem a função de conceder e manter os benefícios e serviços previdenciários, dirigir os recursos do Fundo Geral de Previdência Social e orçar o montante das contribuições que incidem sobre as remunerações e demais rendimentos. São exemplos de eventualidades protegidas pela previdência: as doenças, os acidentes, a maternidade, a morte, a reclusão, eventos previsíveis como a idade avançada, dentre outros. Martinez (2013) diz que a filiação à previdência social é imposta por lei, o que vincula o trabalhador ao sistema. Só se filiarão as pessoas físicas que exerçam atividade remunerada. Excepcionalmente, aqueles que não exercem atividade remunerada poderão ser filiados à previdência; é o caso dos segurados facultativos. Sobre a filiação obrigatória e facultativa esclarece Martinez: A filiação obrigatória reflete a positividade do sistema, seu sustentáculo maior. A filiação facultativa demonstra sua liberdade, instituída para viabilizar individualmente a proteção do cidadão em circunstância atípica. Exigidas a submissão do indivíduo à instituição, ao comando legal, e a incidência de norma pública, da filiação defluem inúmeras obrigações e direitos, consequências, efeitos materiais e jurídicos. (Martinez 2013, p.158). Considerando que o sistema previdenciário é contributivo, o recolhimento da contribuição por parte do filiado é requisito imprescindível para manter a sua qualidade de segurado. Leitão e Meirinho (2015) elucidam que há uma ausência de denominação legal própria para esse instituto, sendo que a doutrina o denomina de período de graça. Para Leitão e Meirinho (2015), o período de graça é assim reconhecido por se tratar de um período adicional de cobertura previdenciária que, na maioria das vezes, sai, literalmente, de graça. Só há um caso de pagamento da contribuição durante o período de graça: ocorre quando a segurada está em gozo de salário maternidade. No mesmo entendimento dos autores acima mencionados, mesmo depois de cessadas as contribuições, o segurado mantém a qualidade de segurado. Só ocorrerá a perda desta depois de transcorrido o período de graça. Ibrahim (2014) discorre que, com o objetivo de proteger aquele que por algum motivo deixou de contribuir, ou nunca contribuiu, e encontra-se em situação de miserabilidade, o 13 Estado criou o instituto da Assistência Social, último elemento da tríade Seguridade Social, que tem como principal requisito a necessidade do assistido. Ibrahim (2014) ainda diz que a assistência social está prevista nos artigos 203 e 204 da CRFB/88 e, assim como a Saúde, independe de contribuição direta do beneficiário. Todavia, só será prestada àqueles que não possuem condições de prover o próprio sustento, ou tê-lo provido pela família. Logo, o indivíduo que possui condição financeira de manter-se, ou de ser mantido pela família, não poderá ser beneficiário do auxílio pecuniário disponibilizado pelo sistema. A assistência social é regida pela Lei 8.742/1993 que, de acordo com seu artigo 2º, tem por objetivos: I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la providapor sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. (BRASIL, 1993). No mesmo entendimento, Ibrahim (2014) esclarece que o objetivo principal da assistência social é preencher as lacunas deixadas pela previdência social, pois muitas pessoas não possuem remuneração e, consequentemente, não contribuem com o sistema, o que as impossibilita de gozar de algum benefício previdenciário, cabendo ao Estado proporcionar segmento assistencial a quem precisa. De acordo com Araújo (2006), é “de extrema relevância conhecer a evolução histórica da seguridade social no decorrer do tempo. Busca-se ilustrar, de maneira bem sucinta, a sua gênese e desenvolvimento, tanto no direito estrangeiro, como no nacional”. Araújo (2006) diz que “a busca humana por proteção social teve suas primeiras manifestações originadas na Grécia e em Roma antigas. Revelaram-se por meio de instituições de natureza mutualista, que objetivavam prestar assistência aos seus membros, por meio de contribuições, buscando-se prestar ajuda aos mais necessitados”. Ademais, “por meio do pater famílias, a família romana passou a assumir a obrigação de prestar assistência aos 14 servos e clientes. Durante toda a Idade Média, corporações profissionais criaram seguros sociais para seus membros”. Ainda de acordo com Araújo (2006), na Inglaterra, a Lei dos Pobres (Poor Relief Act) “foi editada em 1601, constituindo o marco da criação da assistência social, regulamentador da instituição de auxílios e socorros públicos aos que deles necessitavam. Fundamentado nessa lei, o necessitado tinha o direito de ser auxiliado pela paróquia”. Dessa forma, “os juízes da Comarca podiam lançar o imposto de caridade, que devia ser pago por todos os ocupantes e usuários de terras; assim, eram nomeados inspetores em cada uma das paróquias, visando receber e aplicar o montante arrecadado”. O Estado, então, se torna responsável por cuidar de benefícios que vão ser custeados por contribuições de empresas de caráter contributivo e percebe a influência da noção de contributividade. Assim, o marco da previdência social no mundo fica conhecido como a Lei de Bismarck, que criou o seguro-doença. Importante lembrar que a seguridade social começa a ser repensada e concebida diante daquela ideia de um Estado social de direito. O Estado promove as proteções mínimas para as pessoas que são independentes de contribuição específica. O próprio movimento de Bismarck faz com que os acidentes de trabalho e os seguros por invalidez e velhice já sejam uma preocupação. As pessoas se submetiam a situações decadentes de trabalho e as situações de incapacidade iam cada vez mais se multiplicando. A criação de Bismarck é uma forma de amenizar o clamor público daquela população que estava descontente com a situação exposta. Destaca-se a constituição do México de 1917; a primeira a utilizar a expressão "Previdência Social". A Igreja também participou desse processo, preocupando-se com o trabalhador diante das contingências futuras, nos pronunciamentos dos pontífices da época. Verifica-se a ideia de criação de um sistema de pecúlio ao trabalhador, custeado com parte do seu próprio salário, visando protegê-lo dos riscos sociais. Tendo em vista esse desenvolvimento, até nos Estados Unidos, depois da grande crise de 1929, tem-se a implementação do bem estar social. O mundo já começa a caminhar nesse sentido, sendo que, em 1942, na Inglaterra, foram previstas as contribuições da população de forma a proteger todos; não somente os que contribuem. É dever do Estado prover o mínimo para que as pessoas tenham sua própria subsistência. Esse é o objetivo da seguridade social, expressa como uma rede de proteção. Araújo (2006) expõe que, “em 1897, através do Workmen’s Compensation Act, na Inglaterra, foi criado o seguro obrigatório contra acidentes de trabalho, sendo o empregador 15 responsável pelo sinistro, independentemente de culpa, consolidando o princípio da responsabilidade objetiva da empresa”. Dez anos depois, “foi instituído o sistema de assistência à velhice e aos acidentes de trabalho. Em 1908, criou-se o Old Age Pensions Act, objetivando conceder pensões aos maiores de 70 anos, independentemente de contribuição”. Já em 1911, “através do National Insurance Act, estabeleceu-se um sistema compulsório de contribuições sociais, que ficavam a cargo do empregador, empregados e do Estado”. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar social, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e serviços sociais indispensáveis, direito à segurança no caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. (ARAÚJO, 2006). Araújo (2006) ainda dizia que, “criada em 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em sua convenção nº 102, aprovada em Genebra em 1952, traduzia os anseios e propósitos da proteção social, comuns às populações dos numerosos países que a integram”. Nesse diploma, está disposto que: Seguridade Social é a proteção que a sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que, de outra forma, derivam do desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como consequência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice, e também a proteção em forma de assistência médica e ajuda às famílias com filhos. (ARAÚJO, 2006). A preocupação do país, diz Araújo (2006), com a proteção social do indivíduo “nasceu com a necessidade de implantação de instituições de seguro social, de cunho mutualista e particular, podendo-se observar a criação das Santas Casas de Misericórdia, como a de Santos (1543), Montepios, a da Guarda Pessoal de D. João VI (1808) e Sociedades Beneficentes”. Em 1824, a primeira Constituição do Brasil tratou da seguridade social no seu art. 179, onde abordou a importância da constituição dos socorros públicos. O ato adicional de 1834, em seu art. 10, delegava competência às Assembleias Legislativas, para legislar sobre as casas de socorros públicos. A referida matéria foi regulada pela Lei nº 16, de 12/08/1834. A primeira entidade privada do país foi criada em 1835: o Montepio Geral dos Servidores do Estado (Montgeral). Caracterizava-se por ser um sistema mutualista, no qual os associados contribuíam para um fundo que garantiria a cobertura de certos riscos, mediante a repartição dos encargos com todo o grupo. Mais tarde, o Decreto nº 2.711, de 1860, regulamentou o financiamento de montepios e sociedades de socorros mútuos. (ARAÚJO, 2006). De acordo com Almeida (2003), “a quase totalidade da população urbana assalariada, no início da década de 1950, estava amparada por um sistema de previdência, exceto os 16 trabalhadores domésticos e autônomos.” Além disso, a “uniformização da legislação sobre a previdência social deu-se com o advento do Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Pensão, aprovado pelo Decreto nº 35.448, de 01/05/1954”. Continuando nas palavras de Almeida (2003), em 1960, “foi criado o Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Foi editada a Lei nº 3.807, de 26/08/1960, Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), cujo projeto tramitoudesde 1947, sendo considerada uma das normas previdenciárias mais importantes da época”. Por isso, “caracterizou-se pela fase da uniformização da previdência social. A citada lei unificou os critérios de concessão dos benefícios dos diversos institutos existentes na época, ampliando os benefícios, tais como: auxílio natalidade, auxílio funeral, auxílio reclusão e assistência social”. 2.2 Conceito de Seguridade Social Inicialmente, a seguridade social está fundamentada em três pressuposições, sendo elas: a saúde, previdência social e a assistência social. Sérgio Pinto Martins (2002) expõe que o Direito da Seguridade Social é um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência. Para Kerlly Huback Bragança (2012), ela pode ser compreendida como a técnica de proteção pela qual o Estado garante à sua população o bem-estar social. Marisa Ferreira dos Santos (2016) ensina que a Seguridade Social é um instrumento de bem-estar, porque garante os mínimos necessários à subsistência do indivíduo e, com isso, reduz as desigualdades resultantes da falta de ingressos financeiros; o que conduz à justiça social. Conclui-se então que Seguridade Social é um agrupamento de ações dos poderes públicos, juntamente com a sociedade, com o objetivo de garantir o direito relativo à saúde, à previdência social, à assistência social, a ideia essencial do sistema de seguridade social é assegurar tranquilidade às pessoas, notadamente no futuro e suas garantias fundamentais. 2.3 Segurados Obrigatórios e Facultativos 17 Os segurados fazem parte do grupo de beneficiários do Regime Geral de Previdência Social. São titulares, sujeitos ativos das prestações previdenciárias. A filiação está conectada ao desempenho lícito de atividade remunerada e é obrigatória. Para Martins (1998) : Assim, regime previdenciário é o conjunto sistematizado de normas legais e praxes procedimentais, envolvendo clientela definida de pessoas, normalmente submetido à lei orgânica, onde estabelecidos regras gerais e especiais, como também às vezes, comandos pertinentes à comunicação entre si e, esparsamente, preceitos de superdireito. Prevê fontes de custeio e diferentes benefícios, o regime financeiro, o tipo de plano, além de algumas disposições de interpretação e princípios”. (MARTINEZ,1998, p. 54) Segundo o entendimento de Horvath Júnior: Os segurados são as pessoas que mantêm vínculo com a Previdência Social, decorrendo destes vínculos direitos e deveres. Os direitos são representados pela entrega da prestação previdenciária sempre que constatada a ocorrência do risco/contingência social protegida. Os deveres são representados pela obrigação de pagamento das contribuições previdenciárias. (Horvath 2010, p.156). Nesse sentido, Fortes e Paulsen: Segurados são aqueles que se vinculam diretamente ao Regime Geral de Previdência Social, ou porque exercem atividade que obrigatoriamente os situa nesta posição, ou porque, voluntariamente, vertem contribuições ao sistema para que adquira esta condição. Seu vínculo com a Previdência Social é, portanto, direto. Dependentes são aqueles que se vinculam ao Regime Geral de Previdência Social de forma indireta, tendo em conta a natureza de sua relação com os segurados. Desta forma, somente são beneficiários enquanto aqueles dos quais dependem (os segurados) mantiverem hígido seu vínculo previdenciário; rompido este, também se desfaz a relação dos dependentes para com a Previdência. (Fortes e Paulsen 2005, p.57). O artigo 16 da Lei 8.213/91 define os dependentes do segurado: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I – o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido; II – os pais; III – o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido; IV – (Revogado pela Lei n. 9.032, de 28-4-1995) § 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes. § 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. § 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. § 4º A 18 dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada.(Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, artigo 16). Deste modo, a previdência social iguala a um seguro de vida, no tocante da ausência do genitor que sustenta sua família. Seus dependentes são ajudados financeiramente pelo sistema. Com semelhança aos segurados, tais são separados em duas classes: os segurados facultativos e os segurados obrigatórios. Compete ressaltar que os segurados são pessoas físicas. Pessoa jurídica não pode ser considerada como segurada da previdência social, embora seja contribuinte. Nas palavras de Catro Lazzari (2004), obrigatórios são aqueles que contribuem compulsoriamente para a Previdência Social. Devendo ser pessoa física, tendo ainda como requisito o exercício de uma atividade laborativa remunerada e lícita. Para Oliveira (1995), os segurados obrigatórios são as pessoas que se filiam compulsoriamente ao Regime Geral de Previdência Social, em razão de exercerem atividade remunerada. a) Empregado Avulso O Empregado contratado por prazo certo possui vinculação obrigatória com o Regime Geral de Previdência Social. É considerado empregado o brasileiro ou o estrangeiro, domiciliado e contratado no Brasil para laborar como empregado no exterior, em filial ou agência de empresa criada sob os pilares das leis brasileiras e cuja sede esteja situada no Brasil. “É a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário” (Brasil, CLT, de 1º de Maio de 1943, artigo 3º). b) Empregado Doméstico Quem presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa, à pessoa ou à família no âmbito residencial desta, mediante o pagamento de salário. “II- aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos” (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993, artigo 11). c) Contribuinte Individual É considerado contribuinte individual quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual. Consideram-se contribuintes individuais os autônomos, como por 19 exemplo, os advogados, médicos, dentistas, dentre outros, desde que não possuam, vínculo empregatício, conforme artigo 9°, inciso V do Decreto nº 3048/99. d) Trabalhador Avulso A Lei n. 8.213/91 afirma que o trabalhador avulso é quem faz atividades, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviços de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento. “É o trabalhador que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra ou do sindicato da categoria” (Brasil, Decreto3048, de 6 de Maio de 1999, artigo 9º, inciso VI). Para Oliveira (2005), o trabalhador avulso é aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural, sem vínculo empregatício, a várias empresas, vinculado ou não a sindicato e com intermédio obrigatório do órgão gestor de mão de obra. Duarte (2008) ressalta que esses trabalhadores são especialmente os que trabalham nos portos, como estivadores, guindasteiros e conferentes, e, como elemento de caracterização do segurado, deve haver a intermediação do gestor de mão de obra ou do sindicato da categoria. e) Segurado Especial Os segurados especiais são, portanto, aqueles trabalhadores rurais, que produzem em prol do regime familiar, sem ao menos a utilização de mão-de-obra assalariada (por conta própria). Estão dentro dessa categoria os cônjuges, seus companheiros, e os filhos maiores de 16 anos, que trabalham com sua família em atividade rural, para o sustento de todos. Nas palavras de Rocha e Baltazar Júnior (2006): Atualmente, são segurados especiais os produtores, parceiros, meeiros e arrendatários rurais, pescadores artesanais e assemelhados, que exerçam a atividade individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de dezesseis anos – nos termos do inciso XXXIII do art. 7º, modificado pela EC n. 20/98 -, ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo, residindo na área rural. (Rocha e Júnior 2006, p. 73-74). Para Hugo Goes : 20 A pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, exercem as atividades de produtor rural (podendo ser proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais) ou de pescador artesanal ou a este assemelhado, e façam dessas atividades o principal meio de vida, bem como seus respectivos cônjuge ou companheiro, filhos maiores de 16 anos de idade ou a estes equiparados que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar. Se o produtor rural explora a atividade agropecuária, para se enquadrar como segurado especial, a área da propriedade rural não pode ser superior a 4 módulos fiscais. Mas se explora atividade de seringueiro ou de extrativista vegetal, não há limite de área. (Goes, Hugo, Manual de Direito Previdenciário, Editora Ferreira, p. 81). Segurado Facultativo é todo indivíduo que pretende, de forma espontânea, ter a proteção previdenciária, iniciando os pagamentos dessas contribuições. Para Correia e Correia (2002), o segurado facultativo é aquele que não está na condição de obrigatório, podendo filiar-se ao sistema por vontade própria, sendo uma faculdade pessoal de ingressar no sistema, contribuindo, para obter os benefícios legais. Martinez (1998) ressalta que a facultatividade refere-se à admissão e a permanência do facultativo na qualidade de Segurado. Mesmo assim, desejando obter os benefícios, pode usufruí-los, ao passo que contribui para a Previdência Social, desde que seja maior de 16 anos, (idade mínima necessária conforme o artigo 11, do Decreto 3.048/99). 21 3 BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE Os benefícios por incapacidade são aqueles que, quando a pessoa não pode trabalhar por uma incapacidade principalmente física, ela é afastada pelo INSS. Os benefícios do INSS servem para substituir a renda daquele que não pode trabalhar; assim, é um seguro mensal para quando o indivíduo não puder trabalhar. A previdência garante seu sustento. O auxílio doença, o auxílio-acidente ou a aposentadoria por invalidez vêm substituir a renda daquele segurado que esteja com alguma incapacidade física, adoentado, acidentado ou qualquer motivo que o deixe inválido. 3.1 Aposentadoria por Invalidez A Aposentadoria por Invalidez, como enaltece o referido conceito estabelecido na lei 8.213/1991, é um benefício que advém da perda total da capacidade do segurado no âmbito de trabalho, não obtendo respostas para regressar nas suas atividades laborativas. Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição. § 1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança. § 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier. (Brasil, Lei 8213, de 24 de Julho de 1991). Para Castro e Lazzari (2004), o conceito de aposentadoria, inserido dentro de um sistema de Previdência Social, consiste em prestações concedidas pela própria Previdência, e que, geralmente, é conferido quando comprovado pelo segurado, em razão de sua idade avançada, de algum tipo de invalidez permanente ou de um período mínimo de contribuição juntamente com uma mínima idade. No mesmo entendimento dos autores, a “aposentadoria é a prestação por excelência da Previdência Social”. Com ela, há a substituição, permanente ou duradoura, dos rendimentos do segurado, para que, dessa forma, ele tenha sua subsistência e a dos que dele dependem. Martins ainda garante que: 22 [...] a aposentadoria por invalidez, de modo geral, é provisória. Ela só será definitiva quando o médico assim entender, pois o segurado não é mais suscetível de recuperação. Passados cinco anos da concessão da aposentadoria por invalidez, não importa que ela venha a ser definitiva, pois o trabalhador pode se recuperar. (Martins, 2009, p.330). O artigo 214 da IN 77/2015 determina que, ao segurado que exerce mais de uma atividade, somente será concedida a aposentadoria por invalidez, se a incapacidade englobar todas as atividades. Aposentar, segundo Luft (2001), significa “conceder dispensa ou reforma de serviço, com direito aos vencimentos ou a parte deles”. Conforme Ramos (2001, apud Peres 2007), “a palavra aposentadoria, tanto em inglês (retired), quanto em francês (retraite), significa retirar-se, ou seja, diz respeito ao direito do trabalhador de desfrutar do tempo livre após uma vida toda dedicada ao trabalho. Direito esse que é dever do Estado garantir”. A aposentadoria, no entanto, como aponta Rodrigues (2000, apud França et al, 2009) “representa um momento de maior liberdade e de desengajamento profissional, trazendo novas oportunidades e realizações”. Por outro lado, [...] pode também ser percebida como um período de desvalia e de diminuição da autoestima – que, por sua vez, leva ao sentimento de perda de status, de referência, do companheirismo entre os colegas de trabalho, ao sentimento de inutilidade e de perda financeira. (FRANÇA et al, 2009, p. 551). Para Adler e Hilber (2009, apud França et al, 2009), a decisão de continuar na força de trabalho ou de aposentar-se é tipicamente tomada entre 55 a 64 anos, e é influenciada por muitos fatores, nos quais também se inclui a disponibilidade dos empregos. Entretanto, uma vez que o processo de envelhecimento difere de pessoa para pessoa, é problemático tentar fixar uma idade específica para a aposentadoria. Simone de Beauvoir(1990) em ‘A Velhice’, retrata algo semelhante, como um tempo em que a liberdade e o lazer que o idoso deveria poder usufruir, depois de duras labutas, não acontece com a maioria deles. Ela afirma que a sociedade impõe à imensa maioria dos velhos um nível de vida tão miserável que a expressão ‘velho e pobre’ constitui quase um pleonasmo; inversamente, a maior parte dos indigentes são velhos. O lazer não abre ao aposentado possibilidades novas; no momento em que é, enfim, libertado das pressões, o indivíduo vê-se privado de utilizar sua liberdade. A autora afirma ainda que, na vida do homem, a aposentadoria introduz uma radical descontinuidade; há ruptura com o passado; o homem deve adaptar-se a uma nova condição que lhe traz certas vantagens – descanso, lazer – mas também graves desvantagens: empobrecimento, desqualificação. 23 Segundo Hemingway (1990, apud Beavoir, p. 325): “a pior morte para o indivíduo, é perder o que forma o centro de sua vida, e que faz dele o que realmente é”. Nas palavras do autor, aposentar é uma palavra detestável, sendo ela uma necessidade, aposentar-se significa abrir mão dos nossos serviços, não sendo mais úteis na sociedade. Não ter um trabalho, uma ocupação, seria o mesmo que morrer. Beauvoir (1990), por outro lado, aponta que, quando o trabalho foi escolhido livremente e constitui uma realização de si mesmo, renunciar a ele equivale, efetivamente, a uma espécie de morte. Quando se caracterizou como uma obrigação, ficar dispensado dele significa uma libertação. Mas na verdade, quase sempre há ambivalência no trabalho, que é ao mesmo tempo uma escravidão, uma fadiga, mas também uma fonte de interesse, um elemento de equilíbrio, um fator de integração à sociedade. Essa ambiguidade se reflete na aposentadoria, que pode ser encarada como grandes férias, ou como uma marginalização. Simone de Beauvoir (1990) afirma ainda que a escolha entre esses dois pontos de vista e a maneira pela qual eles se combinarão depende de inúmeros fatores, sendo o primeiro deles a saúde do indivíduo, pois um trabalhador fatigado e gasto não terá as mesmas reações do que aquele que se aposenta em plena forma física e moral. A autora analisa a pressão que a aposentadoria tem no idoso, em relação ao tempo, com suas novas mudanças, gerando um desconforto, um sentimento de impossibilidade. Ela traz essa realidade afirmando que: Arrancados ao seu ambiente profissional, os aposentados têm que mudar o emprego do tempo, e todos os seu hábitos. O sentimento de desvalorização, comum à maior parte das pessoas, exacerba-se neles. Com efeito , não somente ganham muito menos dinheiro do que antes, mas a quantia que recebem não é mais ganha através do trabalho. (BEAUVOIR, 1990, p.329). França (2013) aborda a questão da aposentadoria, a partir da investigação empírica em Psicologia, afirmando que: Diversos estudos têm sido realizados, com o intuito de identificar os fatores que influenciam nas decisões relacionadas à aposentadoria, considerando ser esse um fenômeno complexo, multideterminado e dinâmico. A aposentadoria é também entendida como um processo, e não como um momento pontual no tempo e na dinâmica psicossocial das pessoas. (França 2013, p.551). Wang e Shultz (2010 apud França et al, 2013, p. 551) mostram que existe quatro perspectivas teóricas que são utilizadas por inúmeros pesquisadores para tratar melhor o processo e as consequências referentes da aposentadoria: “a perspectiva que a considera como 24 um processo de tomada de decisão, como um processo de ajustamento, como uma fase de desenvolvimento da carreira e como um tema assumido como parte da gestão de recursos humanos”. No que diz respeito à tomada de decisão, Feldman observa que: Se trata de um tipo de decisão que traz consequências de longo prazo, que implicam a reestruturação e a redução do comprometimento psicológico em relação ao trabalho e sua substituição progressiva por outras atividades, como familiares, comunitárias e de lazer, entre outras.( Feldman 1994, apud França et al,2013, p.551). Nas palavras da autora Rosemeri Maria Muller (2016), ainda com relação à tomada de decisão da aposentadoria, França (2013) aponta que, a partir de pesquisas, constatou-se que: “os indivíduos que possuem maior expectativa subjetiva de vida – independentemente de qualquer situação prévia na sua consideração – estão mais propensos a trabalhar por mais tempo, postergando a aposentadoria”. Outro fator que França (2013) nos remete como importante na decisão é a motivação para o trabalho, o qual poderia influenciar um indivíduo a permanecer trabalhando ou a aposentar-se antecipadamente. Por outro lado, a autora destaca aspectos que influenciam pela decisão de se aposentar definitivamente, ou seja, “altos níveis de stress no trabalho, carga excessiva de atividades, relacionamentos pobres na organização e baixa motivação para o trabalho”. Em “Preparação para a Aposentadoria como parte da Educação ao Longo da Vida”, França e Soares (2009) destacam que: O processo de globalização trouxe para as grandes organizações uma série de consequências, entre as quais a prática das aposentadorias incentivadas, em que diversos trabalhadores experientes foram dispensados, muitos sem qualquer preparação para uma vida que pode durar mais do que o tempo dedicado ao trabalho. Hoje muitas organizações já reconhecem o valor dos trabalhadores mais velhos, que, se atualizados, podem continuar tão motivados quanto já demonstraram em capacidade e experiência.( França, Soares 2009, p.739). Ainda, nos dias atuais vemos a real situação das pessoas que almejam aposentar, que estão lutando para chegar à tão esperada aposentadoria. Entre esse tempo de espera da aposentadoria, eles podem aproveitar para realizar diversas atividades que lhes tragam um anseio. Conclui-se então, que a aposentadoria por invalidez tem, como priori, a busca da necessidade igualitária do benefício, decorrente da perda da capacidade laborativa decisiva, de 25 exercer suas atividades, dificultando a estabilidade do segurado e o de amparar seus dependentes. Souza (2007) explica que, a partir do momento que aposentam, os indivíduos ainda desfrutarão, em média, 20 anos de suas vidas como aposentados. Com ela, há a passagem de um tempo social determinado pelo trabalho para um ritmo totalmente diverso. Deste modo, a aposentadoria torna-se um problema para todos e um traumatismo para os que não a querem. Souza (2007) traz ainda a contribuição de Ecléa Bosi, que analisa a exclusão dos idosos do contexto social e o percebe como peça descartável do sistema produtivo. Afirma, da mesma forma que a aposentadoria, que ela seria vista mais como um favor, na verdade, do que como um direito. Em sua opinião, e se amparando na constituição de 1988, Bosi diz que “a defesa dos direitos da pessoa idosa deveria se encontrar nas mãos de toda a sociedade. Porque o idoso é responsabilidade de toda a sociedade”. No entanto, a carência exigida para a concessão de Aposentadoria por Invalidez, é de 12 (doze) contribuições mensais. Será dispensada a carência se houver algum tipo de fator que ocasione um acidente ou qualquer outro fato, da mesma maneira que o segurado, ao adentrar no regime geral da previdência social, estiver submetido a algum tipo de infecção ou doença estipulada na cartilha do Ministério da Saúde e da Previdência Social, somente a cada três anos do ajuste, com os critérios de estigma, dentre outros. Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995). Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015). A Aposentadoria por Invalidez, de certa forma, é um benefício de prestação continuada e faz a substituição do salário de contribuição e rendimento do segurado no trabalho. Além disso, o valor não poderá ser inferior ao do salário mínimo. Não pode ultrapassar o valor do teto, salvo no caso supramencionado em que o segurado faz jus ao acréscimo de 25% no valor do seu benefício. Para Miguel Horvath Júnior: É a incapacidade total e permanente de tal proporção que acarreta a necessidade permanente do auxílio de terceiros para o desenvolvimento das atividades cotidianas, em virtude da amplitude da perda da autonomia física, motora ou mental que impede a pessoa de realizar os atos diários mais simples, como v. g., a 26 consecução das necessidades fisiológicas, higiene, repouso, refeição, lazer dentre outros. (Junior, 2010, p.260). É a incapacidade total e permanente de tal proporção que acarreta a necessidade permanente do auxílio de terceiros para o desenvolvimento das atividades cotidianas, em virtude da amplitude da perda da autonomia física, motora ou mental que impede a pessoa de realizar os atos diários mais simples. A legislação nos remete, que no caso dos empregados, terá trinta dias, a partir da data da invalidez, para ir à busca do benefício, neste caso, irá retroagir pro décimo sexto dia, dentro desses trinta dias. Afirma Godoy, em suas palavras, que: Se o trabalhador estiver recebendo auxílio doença, a aposentadoria por invalidez será paga a partir do dia imediatamente posterior ao da cessação do auxílio doença. Se o trabalhador não estiver recebendo auxílio doença: Empregados: a partir do 16º dia de afastamento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, se entre o afastamento e o pedido decorrerem mais de 30 dias. Demais segurados: a partir da data da incapacidade ou a partir da data de entrada do requerimento, quando solicitado após o 30º dia de afastamento do trabalho. ( Godoy, 2015, p. 116). Cabe mencionar que, para o segurado empregado e para os demais segurados no gozo do auxílio doença, o médico perito vai aposentá-lo por invalidez, e então a data de recebimento da aposentadoria por invalidez será o dia seguinte em que cessar o auxílio doença. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO PELA INCAPACIDADE PARCIAL DO SEGURADO. NÃO VINCULAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA SOCIOECONÔMICA, PROFISSIONAL E CULTURAL FAVORÁVEL À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Os pleitos previdenciários possuem relevante valor social de proteção ao Trabalhador Segurado da Previdência Social, devendo ser, portanto, julgados sob tal orientação exegética. 2. Para a concessão de aposentadoria por invalidez devem ser considerados outros aspectos relevantes, além dos elencados no art. 42 da Lei 8.213/91, tais como, a condição socioeconômica, profissional e cultural do segurado. 3. Embora tenha o laudo pericial concluído pela incapacidade parcial do segurado, o Magistrado não fica vinculado à prova pericial, podendo decidir contrário a ela quando houver nos autos outros elementos que assim o convençam, como no presente caso. 4. Em face das limitações impostas pela avançada idade, bem como pelo baixo grau de escolaridade, seria utopia defender a inserção do segurado no concorrido mercado de trabalho, para iniciar uma nova atividade profissional, motivo pelo faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez. 5. Agravo Regimental do INSS desprovido. (AGRESP 200801032030, 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJE 9.11.2009). Em se tratando de segurado empregado que tenha recuperado plenamente sua capacidade de trabalho no prazo de até 5 (cinco) anos, contados do início da aposentadoria 27 por invalidez, o benefício cessará imediatamente. Para os demais segurados que recuperem totalmente a capacidade laboral dentro de 5 (cinco) anos, o benefício cessará após tantos meses quantos foram os anos de duração da aposentadoria por invalidez. Já no caso de recuperação parcial, ou superior ao prazo de 5 (cinco) anos ou ainda quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do qual exercia, o benefício será preservado por 18 (dezoito) meses sem prejuízo da volta a atividade. O pagamento do benefício ocorrerá da seguinte forma: a) Nos primeiros 6 (seis) meses receberá o valor integral, a contar da recuperação da capacidade de trabalho; b) Nos próximos 6 (seis) meses auferirá 50% do valor do benefício; c) Nos últimos 6 (seis) meses, 25% do valor do benefício; d) Com redução de 75% também por igual período de 6 (seis) meses. 3.2 Auxílio Acidente Na lei 8.213/1991, o Auxílio Acidente tem natureza jurídica indenizatória e deve ser pago independentemente de qualquer remuneração auferida pelo segurado, exceto aposentadoria. “O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia” (Brasil, Lei 8213, de 24 de Julho de 1991, artigo 86). De acordo com a redação da Lei de Benefícios, o segurado só poderá usufruir do auxílio acidente quando sofrer acidente de qualquer natureza, exceto de trabalho, que acarrete redução da capacidade laboral e possui natureza jurídica indenizatória, deve ser paga independentemente de qualquer remuneração, exceto aposentadoria. Nas palavras de Santos (2011), “o auxílio acidente tem por objetivo recompor, indenizar o segurado pela perda parcial de sua capacidade de trabalho, com consequente redução da remuneração”. No entendimento de Ferreira (1999): O auxílio acidente inicia após a cessação do auxílio doença por acidente, e será recebido independentemente de qualquer remuneração aos rendimentos salariais, mas não pode ser cumulativo com outro auxílio acidente, que nesse caso poderá se submetido pelo novo, mais vantajoso. ( Deyse. Guia Prático de Previdência Social: Comentários e Normas Sobre o Decreto nº. 3.048/99. 3 ed. São Paulo: LTR, 1999, p. 188.). 28 Além disso, tem-se: DIREITO PREVIDENCIÁRIO - AUXÍLIO ACIDENTE - TERMO INICIAL - AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO OU CONCESSÃO DEAUXÍLIO DOENÇA - CITAÇÃO DO INSS. 1. O termo inicial para a fruição do auxílio-acidente, quando ausente prévio requerimento administrativo ou percepção de auxílio doença, é a citação da autarquia previdenciária. Precedentes. 2. Recurso especial provido. (STJ, Resp. 1388809/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe 06/09/2013). PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EMRECURSO ESPECIAL. AUXÍLIO ACIDENTE. AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTOADMINISTRATIVO OU PRÉVIA CONCESSÃO DE AUXÍLIO DOENÇA. TERMO INICIAL. DATA DA CITAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL DO INSS DESPROVIDO. 1. A Terceira Seção desta Corte pacificou o entendimento, no julgamento do Resp. 735.329/RJ, de relatoria do douto Ministro JORGEMUSSI, DJ 6.5.2011, de que ausente prévio requerimento administrativo ou prévia concessão de auxílio doença, o marco inicial para pagamento de auxílio-acidente é a data da citação, visto que,a par de o laudo pericial apenas nortear o livre convencimento do Juiz e tão somente constatar alguma incapacidade ou mal surgidos anteriormente à propositura da ação, é a citação válida que constitui em mora o demandado (art. 219 do CPC ). 2. Agravo Regimental do INSS desprovido. (STJ, AgRg no Resp 145255/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 04/12/2012). O parágrafo primeiro do artigo 18 da lei de Benefícios cita quais segurados podem receber o benefício, quais sejam: o segurado empregado, urbano e rural, exceto o doméstico, o trabalhador avulso e o segurado especial. De acordo com o art. 26, inciso I, da Lei 8.213/1991, a concessão do benefício de auxílio-acidente não exige cârencia por parte do mesmo, mas é preciso ter qualidade de segurado. O benefício começa a valer no dia seguinte à cessação do auxílio doença acidentário, porventura o segurado não requeira o benefício de imediato, depois da cessação do auxílio doença acidentário, sendo que pode fazê-lo em qualquer período; só começará a contar do momento da entrada do documento administrativo, sendo também por citação do INSS, se for o caso de ação judicial. Art. 104. O auxílio acidente será concedido, como indenização, ao segurado empregado, exceto o doméstico, ao trabalhador avulso e ao segurado especial quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultar sequela definitiva, conforme as situações discriminadas no anexo III, que implique: §2º O auxílio acidente será devido a contar do dia seguinte ao da cessação do auxílio doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria.(Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003). 29 Inicialmente a lei 8.213/1991 apresentava percentuais sobre salário de benefício que variavam entre 30%, 40% ou 60%. Com a introdução da lei 9.032/93, o valor foi fixado em 50% do salário de benefício do segurado. 3.3 Auxílio Doença A lei 8.213/91 demanda que o auxílio doença estabeleça aos segurados do regime geral da previdência que estão incapacitados de dar continuidade a suas atividades no âmbito do trabalho de forma temporária. Art. 59. O auxílio doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. (Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.) Para o segurado empregado contratado pela CLT, haverá diferenciação, porque, caso o empregado esteja de licença médica, seja em decorrência de trabalho ou de doença, os quinze primeiros dias são de responsabilidade da empresa (empregador). Essa incapacitação advém de uma doença que pode ser comum ou de acidentes de trabalho ou de qualquer outra natureza que assim o fizer. De acordo com o auxílio doença, sua carência é de 12 contribuições mensais, exceto quando proveniente de acidente ou doença grave quando não houver carência. 30 4 CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO De acordo com a CLT, o contrato individual de trabalho é: Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. Parágrafo único - Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela. (Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943). Para Renzetti Rogério (2018), o direito do trabalho é o ramo do direito composto por regras, princípios e institutos sistematicamente ordenados, aplicáveis à relação de trabalho e situações equiparáveis, que objetivam a melhoria da condição social do trabalhador, acompanhado de sanções para as hipóteses de descumprimento dos seus mandamentos. Para Cassar (2018), o direito do trabalho é um sistema jurídico permeado por institutos, valores, regras e princípios dirigidos aos trabalhadores subordinados e assemelhados, aos empregadores, empresas coligadas, tomadores de serviço, para tutela do contrato mínimo de trabalho, das obrigações decorrentes das relações de trabalho, das medidas que visam à proteção da sociedade trabalhadora, sempre norteadas pelos princípios constitucionais, principalmente o da dignidade da pessoa humana. Também é recheado de normas destinadas aos sindicatos e associações representativas; à atenuação e forma de solução dos conflitos individuais, coletivos e difusos, existentes entre capital e trabalho; à estabilização da economia social; e à melhoria da condição social de todos os relacionados. O contrato individual de trabalho tem por finalidade favorecer o empregado e o empregador, dando-lhes mais respaldos e amparo em circunstâncias que possam ocorrer durante suas atividades e seguindo o que destaca a CLT. 4.1 Breve Histórico do Contrato de Trabalho Antigamente, a primeira forma de trabalho foi a escravidão, onde o escravo era tratado como uma coisa, uma propriedade, e não tinha qualquer direito, muito menos os trabalhistas. O único direito que um escravo tinha era de trabalhar. Na Grécia, para Platão e Aristóteles, o trabalho compreendia apenas a força física, sendo que, a dignidade do homem era restrita em participar dos negócios da cidade, por meio de palavras. 31 Nas palavras de Alice Monteiro de Barros (2005), na antiguidade Clássica, observamos, na Grécia, uma sociedade rigidamente estratificada em que, muito embora tenha sido o berço da democracia, o trabalho escravo sustentava sua base para que os grandes filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, pudessem estar livres para pensar e desenvolver sua filosofia. Para o professor Miguel Reale apud Ferrari (1998), é impossível entender como se pode dizer que o trabalho não seja criador de valores. Ele já é, por si mesmo, um valor, como uma das formas fundamentais de objetivação do espírito, enquanto transformador da realidade física e social, visto como o homem não trabalha porque quer, mas sim por uma exigência indeclinável de seu ser social, que é “ser pessoal de relação”, assim como não se pensa porque se quer, mas por ser o pensamento um elemento intrínseco do homem, no seu processo existencial, que se traduz em sucessivas “formas de objetivação”. Trabalho e valor, bem como, por via de consequência, trabalho e cultura, afiguram-se termos regidos por essencial dialética de complementaridade. Para Manoel Alonso Olea: [...]Tal relação jurídica era pura e simplesmente a de domínio; o amo fazia seus o resultado do trabalho, em face da sua condição de proprietário ou dono do escravo, por força da qual era o próprio dono quem executava o trabalho. Juridicamente, o escravo se encontrava relegado à condição de coisa ou semovente, e, no sentido mais radical do termo, privado do controle sobre sua própria pessoa, incapaz, por certo, de relações jurídicas de domínio sobre qualquer objeto, inclusive sobre o resultado de seu trabalho. ( Manoel Alonso Olea 1984, p. 70.). Enquanto os escravos faziam o trabalho pesado, outros poderiam ser livres. Já em Roma, o trabalho também era feito por escravos, nessa época; mas o trabalho era desonroso. Em um segundo momento, que era o de castigo, encontra-se a servidão. Essa é a época do feudalismo, onde os senhores feudais davam a proteção política e militar aos servos. Aqui, os servos não eram livres; pelo contrário: tinham que prestar serviços aos senhores feudais, desempenhar seus trabalhos e, em troca, os senhores feudais davama eles o direito do uso de terra, bem como a proteção supracitada. Em um terceiro momento, os donos das obras se tornam mestres. Os mestres eram proprietários dos maquinários, das oficinas e tinham o direito sobre a propriedade por serem donos dessas obras. Os aprendizes aprendiam com os mestres, trabalhando para eles sem remuneração, com a finalidade de obterem sua liberdade. Com a Revolução Francesa, veio uma liberdade contratual; e isso gerou a necessidade de se elaborarem direitos trabalhistas. 32 Conforme Ferraz (2004), os ideólogos do liberalismo pressupunham que todos os cidadãos deviam ser iguais perante a lei – o que certamente era difícil numa sociedade que tendia cada vez mais a separar os proprietários (capital) dos não-proprietários (trabalho). Afirma Cassar (2009) que, se no passado o trabalho tinha conotação de tortura, atualmente significa toda energia física ou intelectual empregada pelo homem com finalidade produtiva. Todavia, nem toda atividade humana produtiva constitui objeto do direito do trabalho, pois somente se feita em favor de terceiros interessa ao nosso estudo e não a energia desprendida para si próprio. Trabalho pressupõe ação, emissão de energia, desprendimento de energia humana, física e mental, com o objetivo de atingir algum resultado. Foi com a revolução industrial que houve a transformação do trabalho em emprego, onde os trabalhadores em geral passaram a trabalhar por salários, até então nunca mencionados antes. No entanto, depois da revolução francesa, veio a revolução industrial. Começaram os maquinários, ao mesmo tempo em que muitos direitos trabalhistas foram adquiridos, em dissonância aos muitos desempregos que também aconteceram naquela época. Começou então uma luta por direitos e igualdades; o direito e o contrato de trabalho passaram a se desenvolver com o surgimento da revolução industrial, o proprietário das máquinas era o patrão, que detinha o poder de direção ao trabalhador. Inicia-se aí a diferença entre patrão e o empregado; cada fator de desigualdade criava mais a necessidade de proteção ao trabalhador. Então, passa-se a ter um intervencionismo do Estado, para que se pudesse criar o bem estar social nas condições de trabalho. Para o autor Daniel Moita Zechlisnki dos Santos (2005), o modo de vida foi profundamente transformado, surgindo duas classes sociais distintas e situadas economicamente em pontos diametralmente opostos. Segadas (1997) descreve a dos operários: [...] uma ralé fatigada, sórdida, vantajoso, esgotada pelo trabalho e pela subalimentação; inteiramente afastada das magistraturas do Estado; vivendo em mansardas escuras, carência dos recursos mais elementares de higiene individual e coletiva; oprimida pela deficiência dos salários; angustiada pela instabilidade do emprego; atormentada pela insegurança do futuro, próprio e da prole; estropiada pelos acidentes em reparação; abatida pela miséria sem socorro; torturada na desesperança da invalidez e da velhice sem pão, sem abrigo, sem amparo. Só a caridade privada, o impulso generoso de algumas almas piedosas, sensíveis a essa miséria imensa, ousava atravessar as fronteiras deste inframundo, os círculos tenebrosos deste novo Inferno, para levar, aqui e ali, espaçada e desordenadamente, o lenitivo das esmolas, quero dizer: o socorro aleatório de uma assistência insuficiente. (SEGADAS, 1997, p. 35). 33 Os capitães da indústria, ocupados com a acumulação e a contagem de seus milhões e gozo dos benefícios de sua riqueza, não tinham uma consciência muito clara do que significava a existência deste inframundo da miséria, que fica do outro lado da vida, longe de suas vistas aristocráticas, e cujos gritos de ódio, cujas apóstrofes indignadas, cujas reivindicações de justiça eles não estavam em condições de ouvir e, menos ainda, de entender e atender. (SEGADAS, 1997, p. 35). De acordo com a autora Ariela Fátima Oldoni (2009), Plácido e Silva definem a relação de emprego como a nominação da “prestação de serviços, de natureza não eventual, sob a dependência do empregador e mediante salário”. Em 1819, aprovou-se lei a qual proibia o trabalho do menor de 9 (nove) anos e ainda especificava que a jornada de trabalho dos menores 16 ( dezesseis) anos, era de 12 (doze) horas diárias nas prensas de algodão. Diante de todo exposto, começa a evolução do direito do trabalho no Brasil. As primeiras constituições no Brasil só falavam em Estado e Governo; não existia nenhum outro direito. Para Alexandre de Moraes (2004), direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social, e à consagração, como fundamentos do Estado democrático, pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal. Em 1871, foi então aceita a lei do Ventre livre, que diz respeito aos filhos das escravas que nascessem após 1871 serem considerados livres. Em 1885, foi aprovada a lei do Sexagenário, onde se dizia que os escravos com mais de 60 (sessenta) anos eram libertos. Finalmente, em 1988, a princesa Isabel assina a lei Áurea que teve a abolição do trabalho escravo no Brasil. Para Delgado: No Brasil, o Direito do Trabalho teve como relevante antecedente a promulgação da Lei Áurea, a qual deu fim à escravidão no país, possibilitando o surgimento de novas formas de utilização da força de trabalho resultando, assim, nas relações de emprego (DELGADO, 2016, p. 110). Com as Revoluções da Europa e com as imigrações, iniciaram-se diversos movimentos operários reivindicando condições de trabalho e salário. Apenas em 1931, a Constituição passa a prever os direitos trabalhistas. Surgiram diversas normas esparsas sobre as regras trabalhistas. Assim veio a necessidade de uni-las e, então, o Decreto-Lei 5.452/43 aprovava a Consolidação das Leis do Trabalho. A CLT teve diversas reformas, sendo a mais recente a lei 13.467/2017. 34 4.2 Conceito Jurídico de Trabalho O direito do trabalho pode ser conceituado também como um ramo do direito que disciplina as relações de emprego e assemelhadas, construindo um sistema de regras, princípios e instituições voltado ao estabelecimento de medidas de proteção ao trabalho. O contrato de Trabalho, no seu minucioso conceito, destaca-se como um acordo firmado entre as partes, tanto empregador como empregado, para fins de obter a concretização de um vínculo empregatício, podendo ser tácito ou verbal, ou até mesmo expresso ou escrito. Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. Parágrafo único - Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela. (Artigo 442 Lei n.º 8.949, de 09-12-94, DOU 12-12-94). Para Orlando Gomes e Elson Gottschalk (1995) “contrato de trabalho é a convenção pela qual um ou vários empregados, mediante certa remuneração e em caráter não eventual, prestam trabalho pessoal em proveito e sob a direção do empregador”. Mozart Victor Russomano (1995) define o contrato (individual) de trabalho como “o ato jurídico criador da relação de emprego”, salientando que relação de emprego é o vínculo obrigacional que une, reciprocamente, o trabalhador e o empresário, subordinando o primeiro às ordens legítimas do segundo. 4.3 Quanto à forma: Expressos ou Tácitos Contratos de trabalho são os pactos feitos por empregados
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