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1 2 COLETÂNEA FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA EAD (MÓDULO 52/2019) Disponível em: http://universitario.net/especiais/wp-content/uploads/2015/07/ciencia-dia.jpg. Acesso em: 7 mai 2019. Organizadores Adriana Pacheco do Amaral Mello Claudineia Cristina Valim Cristiane de Oliveira Alves Diego Luiz Miiller Fascina Márcio Ricardo Dias Marosti Marta Ferreira Gomes de Lima Coordenação Fabiane Carniel 3 Sumário Apresentação........................................................................................................................................................ 04 Palavras Iniciais..................................................................................................................................................... 05 A ciência comprova: ler faz bem para o cérebro................................................................................................ 06 Saber ciência: uma visão global........................................................................................................................... 07 O que é a ciência?.................................................................................................................................................. 09 O que é Ciência? 300 anos em 3 minutos ............................................................................................................ 10 Significado de ciência ........................................................................................................................................... 10 Ética e ciência ........................................................................................................................................................ 13 Quais foram as maiores descobertas científicas brasileiras? .......................................................................... 15 Ideologia na ciência no Brasil .............................................................................................................................. 18 Brasil sobe no ranking mundial da ciência ......................................................................................................... 20 “Situação da ciência e tecnologia no Brasil é dramática” ................................................................................ 24 Ao cortar investimentos em ciência, Brasil assassina o futuro ........................................................................ 25 Na UnB, vencedor do Nobel lamenta baixo investimento do Brasil em ciência ............................................. 27 Pesquisadores terão verba de R$ 100 mi para incentivo à ciência .................................................................. 29 Especial Nanotecnologia | Entenda a ciência invisível a olho nu...................................................................... 30 NASA deve voltar à Lua em 2024 e levar humanos a Marte em 2033............................................................... 35 Primeira imagem de buraco negro comprova (de novo) genialidade de Einstein .......................................... 36 Coração é impresso em 3D a partir de tecido humano ...................................................................................... 39 Filho biológico de ‘três pessoas’ nasce na Grécia ............................................................................................ 41 Sarampo: Como uma doença evitável retornou do passado ............................................................................ 43 Charges .................................................................................................................................................................. 49 Músicas .................................................................................................................................................................... 52 Filmes ...................................................................................................................................................................... 54 Considerações finais.............................................................................................................................................. 57 4 Apresentação A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade – Ética, Política e Economia – Ética Cultura e Arte – Ética, Ciência e Tecnologia – Ética e Meio Ambiente. Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução e a apresentação dos diversos textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros: música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações finais. Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias. 5 Palavras Iniciais É fato que a ciência atualmente tem avançado e modificado nosso mundo de diversas maneiras. Temos exemplos de inovações que beneficiam e transformam a vida na Terra na astronomia, saúde, tecnologia, agronomia e em tantos outros setores. No entanto, nem todo avanço científico é visto como benéfico para a sociedade. Há os que afirmam que tais avanços podem “prejudicar” e acabar com a raça humana, como por exemplo, os estudos que envolvem a inteligência artificial e as transformações do DNA (célula). Os textos dessa coletânea trazem conceitos e discussões relacionados ao assuntoCiência. Para isso, utiliza- se de gêneros textuais variados que discorrem sobre o significado de ciência, os tipos de ciências, a ética na ciência e nos mostra a importância da ciência (pesquisa) para o desenvolvimento do país. Paralelo a isso, a presente coletânea mostra descobertas atuais no ramo da ciência e apresenta uma relação de séries e filmes que nos permite questionar as relações humanas. Neste sentido, esperamos que você aproveite este material como momento para sua formação integral e aperfeiçoamento humano! Disponível em: https://cdn.pensador.com/img/frase/al/be/albert_einstein_a_mais_bela_coisa_que_podemos_vivenciar_ll8o109.jpg. Acesso em: 09 mai 2019. Equipe FSCE 6 A CIÊNCIA COMPROVA: LER FAZ BEM PARA O CÉREBRO Talvez a conclusão deste post não surpreenda a maioria dos leitores, mas a ciência comprovou recentemente o que parecia óbvio: literatura faz bem para o cérebro! Nos Estados Unidos, um grupo de teste foi convidado a ler um capítulo do romance Mansfield Park, de Jane Austen, dentro de uma máquina de ressonância magnética, enquanto pesquisadores da universidade de Stanford analisavam os resultados neurológicos. Para o experimento, era preciso ler o capítulo de duas formas distintas: primeiramente, uma leitura descompromissada; depois, uma leitura para análise crítica da obra. A conclusão do estudo apontou que a leitura de livros pode ser um exercício valioso para o cérebro, já que quando lemos, o sangue flui para diversas áreas associadas à concentração e, no caso de uma leitura mais crítica, também para áreas menos ativas do cérebro. Logo, o estudo concluiu que a forma de leitura afeta o cérebro e através dela podemos treiná-lo para ser cada vez melhor em atividades que exigem compreensão e concentração. Logo, o estudo conclui que a forma de leitura afeta o cérebro e pode indicar formas de treiná-lo para ser cada vez melhor em atividades que exigem compreensão e concentração. Estudos semelhantes para avaliar os benefícios da leitura com máquinas de ressonância magnética já haviam sido realizados antes na Europa. Em 2010, o neurocientista Stanislas Dehaene, diretor da Unidade de Neuroimagiologia Cognitiva do Inserm-CEA, na França, usou exames de ressonância magnética para avaliar o cérebro de adultos alfabetizados e analfabetos. Os cientistas descobriram, então, que os cérebros dos adultos que podiam ler eram mais ativos, ainda que, em contrapartida, perdessem parte de sua memória visual, possuindo menos habilidade no reconhecimento facial. Interessados nos ganhos que um livro pode trazer para nossas vidas fomos atrás e listamos os principais ganhos. Confira: 10 benefícios da leitura 1. A leitura estimula a memória, expandindo a capacidade de nossa mente. 2. A leitura é combustível inesgotável para a imaginação. 3. A leitura nos dá as palavras, instrumento para expressar nossos sentimentos. 4. A leitura nos aproxima da compreensão de mundo e da auto-compreensão. 5. Ao ler, nos deparamos com aquilo que pensamos: com nossas crenças. 6. É possível experimentar com a leitura, sem de fato experimentar fisicamente. 7. O ato de ler naturalmente leva a escrever e a escutar. 8. Ler eleva a autoestima. 9. A leitura desconhece a solidão, nos permite estar sempre acompanhados. 10. A leitura constrói sonhos e nos empurra à realização. Disponível em: https://blog.estantevirtual.com.br/2016/12/23/a-ciencia-comprova-ler-faz-bem-para-o-cerebro- conheca-outros-beneficios-da-leitura/. Acesso em: 11 abr 2019. 7 SABER CIÊNCIA: UMA VISÃO GLOBAL Para compreender o que é a ciência basta olhar ao seu redor. O que vê? Talvez a mão sobre o rato (mouse), um ecrã (monitor) de computador, papéis, canetas esferográficas, o gato da família, o sol brilhando através da janela…. A ciência é, em certo sentido, o nosso conhecimento de tudo isso — todas as coisas que há no universo: das menores partículas subatômicas num único átomo do metal nos circuitos do seu computador, às reações nucleares que formaram a imensa bola de gás que é o nosso sol, às complexas interações químicas e flutuações elétricas dentro do seu próprio corpo que lhe permitem ler e entender estas palavras. Mas tão importante quanto isso, a ciência também é um processo fidedigno pelo qual aprendemos sobre todas essas coisas que há no universo. No entanto, a ciência é diferente de muitas outras formas de aprendizagem por causa da forma como é feita. A ciência baseia-se em testes de ideias através de evidência recolhida no mundo natural. É tudo ciência A ciência ajuda a satisfazer a curiosidade natural com a qual todos nascemos: por que é que o céu é azul, como é que o leopardo obtém as suas manchas, o que é um eclipse solar? Com a ciência, podemos responder a essas perguntas, sem recorrer a explicações mágicas. E a ciência pode levar a avanços tecnológicos, assim como nos ajuda a aprender sobre temas extremamente importantes e úteis, como a saúde, o meio ambiente e os riscos naturais. Sem a ciência, o mundo moderno não seria moderno de todo, e ainda temos muito a aprender. Milhões de cientistas de todo o mundo estão a trabalhar para resolver diferentes partes dos quebra-cabeças de como o universo funciona, olhando para os seus cantos e recantos com microscópios, telescópios e outros instrumentos para desvendar os seus segredos. Os cientistas estão em todo o lado, descobrindo os segredos do universo. 8 A ciência é complexa e multi-facetada, mas as características mais importantes da ciência são simples: A ciência foca-se exclusivamente no mundo natural, e não lida com explicações sobrenaturais. A ciência é uma forma de aprender sobre o que está no mundo natural, como funciona o mundo natural, e como o mundo natural se tornou naquilo que é. Não é uma coleção de fatos, mas sim um caminho para a compreensão. Os cientistas trabalham de muitas maneiras diferentes, mas toda a ciência se baseia em testar ideias, entendendo que expectativas são geradas por uma ideia e fazendo observações para descobrir se essas expectativas são confirmadas. Ideias científicas aceites são fiáveis, porque foram submetidas a testes rigorosos, mas quando nova evidência é obtida e novas perspectivas aparecem, essas ideias podem ser revistas. A ciência é um empreendimento da comunidade. Ela baseia-se num sistema de verificação e comprovação, o que ajuda a garantir que a ciência se move na direção de uma maior precisão e grau de compreensão. Este sistema é facilitado pela diversidade existente na comunidade científica, que oferece uma ampla gama de perspectivas sobre as ideias científicas. Para muitos, a ciência pode parecer uma instituição distante, em torres de marfim — mas essa impressão é baseada num mal-entendido. De fato: A ciência afeta a sua vida cotidiana de muitas maneiras diferentes. A ciência pode ser divertida e é acessível a todos. Você pode aplicar a compreensão de como a ciência funciona no seu dia a dia. Toda a gente pode ser cientista — amador ou profissional. A ciência não se faz só em laboratórios. Você pode divertir-se com a ciência e usá-la na sua vida. Disponível em: https://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/artigos/introducao.php. Acesso em: 11 abr 2019 (adaptado). 9 O QUE É A CIÊNCIA? A palavra "ciência" provavelmente traz-nos à ideia diferentes imagens: um livro, jalecos brancos e microscópios, um astrônomo observando através de um telescópio, um naturalista numa floresta tropical, as equações de Einstein rabiscadas num quadro negro, o lançamento de um ônibus espacial, provetas com soluções borbulhantes… Todas estas imagens refletem alguns dos aspectos daciência. Contudo, nenhuma oferece uma visão completa, porque a ciência é multifacetada: Todas estas imagens mostram um aspeto da ciência, mas a visão completa da mesma é mais do que qualquer exemplo particular. A ciência é tanto um conjunto de conhecimentos como um processo. Na escola, a ciência muitas vezes pode parecer um conjunto de fatos isolados e estáticos que aparecem enunciados nos livros, mas esta é apenas uma pequena parte da história. Igualmente importante, é a ciência ser um processo de descoberta que nos permite ligar fatos isolados, formando conhecimentos coerentes e abrangentes do mundo natural. A ciência é empolgante. A ciência é um modo de descobrir o que existe no universo e de como as coisas funcionam hoje, de como funcionaram no passado, e de como provavelmente irão funcionar no futuro. Os cientistas são motivados pela emoção de ver ou descobrir algo que ninguém fez antes. A ciência é útil. O conhecimento gerado através da ciência é poderoso e viável. Pode ser usado para desenvolver novas tecnologias, tratar doenças e lidar com tantos outros tipos de problemas. A ciência é um processo contínuo. A ciência está continuamente a ser redefinida e a expandir o nosso conhecimento sobre o universo, conduzindo-nos a novas questões para futuras investigações. A ciência nunca estará "acabada”. A ciência é um empreendimento humano global. Pessoas de todo o mundo participam no processo da ciência. E você também pode! Disponível em: https://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/artigos/o-que-e-a-ciencia-01.php. Acesso em: 11 abr 2019 (adaptado). 10 FIQUE POR DENTRO Assista ao vídeo O QUE É CIÊNCIA? 300 anos em 3 minutos Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4sgc MPTGU5w Significado de Ciência Disponível em: http://www.grafite-ciencia.cbpf.br/img/v5.jpg. Acesso em: 08 mai 2019. O que é Ciência Ciência representa todo o conhecimento adquirido através do estudo, pesquisa ou da prática, baseado em princípios certos. Esta palavra deriva do latim scientia, cujo significado é "conhecimento" ou "saber". Em geral, a ciência, que é muito ampla, comporta vários conjuntos de saberes nos quais são elaboradas as suas teorias baseadas nos seus próprios métodos e pesquisas científicas. A metodologia é essencial na ciência, assim como a ausência de preconceitos e juízos de valor. A ciência tem evoluído ao longo dos séculos e Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o pai da ciência moderna. 11 São nomes importantes na história da ciência, em diferentes áreas: Nicolau Copérnico (1473-1543) Isaac Newton (1642-1727) Benjamin Franklin (1706-1790) Charles Darwin (1809-1882) Louis Pasteur (1822-1895) Marie Curie (1867-1934) Rosalind Franklin (1920-1958) Steve Jobs (1955-2011) Imagens disponíveis em: https://pt.wikipedia.org/wiki Ciência e tecnologia A ciência está intimamente ligada com a área da tecnologia, porque grande parte dos avanços da ciência, hoje em dia, são alcançados através do desenvolvimento de novas tecnologias e do desenvolvimento das tecnologias já existentes. Ciências sociais Estudam o comportamento humano, as relações humanas e o seu desenvolvimento em sociedade. Nessa área de estudo estão incluídas disciplinas como a antropologia, o direito, a história, a psicologia, a sociologia, a filosofia social, a economia social, a política social, o direito social. As ciências sociais estudam as normas de convivência do homem e dos modos da sua organização social. O termo "ciência social" também é usado para designar o grupo formado pelas ciências do direito, sociologia e ciências políticas. Ciências contábeis A área das ciências contábeis é a que se responsabiliza pelas contas de uma empresa, registrando e controlando as receitas, despesas e os lucros. O profissional das ciências contábeis é responsável por planejar, controlar e coordenar as compras, vendas, aplicações e investimentos da empresa, sendo que assim é possível ter uma noção clara do patrimônio. 12 Deve estar atento a situações como despesas acima da média. Dentro da empresa, tem a função de analisar acontecimentos econômicos e depois dessa análise dar informações relevantes aos líderes da empresa para que possam tomar decisões no âmbito da direção do negócio. Normalmente efetua o pagamento de tributos, e dentro da empresa é a sua função fazer auditorias e perícias contábeis. Para exercer a função de contabilista, é necessário estar cadastrado no Conselho Regional de Contabilidade. Para assegurar o registro profissional, é obrigatório realizar um exame de suficiência, medida que foi implementada desde 2010. Ciências atuariais A ciência atuarial moderna surgiu no princípio do século XIX na Inglaterra e se responsabilizava pelas áreas de pensão e aposentadoria, tendo como propósito o estudo da mortalidade da população. A ciência atuarial utiliza noções da matemática estatística e financeira para analisar riscos e expectativas, na maior parte das vezes no âmbito da administração de seguros e fundos de pensão. Os indivíduos formados em Ciências Atuariais devem saber lidar com problemas securitários, de previdência social e privada, atuando no cálculo de prêmios de seguros, pecúlios, planos de aposentadorias e pensões. A área de avaliação de riscos é também muito importante nas ciências atuariais. Ciências exatas As ciências exatas produzem conhecimento baseado em expressões quantitativas, testando as suas hipóteses de forma rigorosa com base em experimentos ou cálculos. Ciências exatas são aquelas que só admitem princípios, consequências e fatos rigorosamente demonstráveis. São exemplos de ciências exatas a matemática, a física, a astronomia, a engenharia, a química e até mesmo certos ramos da biologia ou da economia. Ciências naturais Ciências naturais são ciências que descrevem, ordenam e comparam os diversos fenômenos naturais existentes, isto é, os componentes da natureza e os processos que nela têm lugar. O objetivo é determinar quais são as relações existentes entre esses elementos, formulando leis e regras. Pode distinguir-se entre ciências exatas (como a física e química) e ciências predominantemente descritivas (biologia, incluindo a microbiologia e a paleontologia, geografia, geologia, cristalografia, etc). O campo de atividade das ciências naturais é constituído principalmente pela investigação sem uma aplicação concreta. Fazem parte das ciências naturais a biologia, a geologia e a medicina, por exemplo. Ciência noética A ciência noética, que deriva do grego nous, que significa mente ou pensamento, está relacionada com a gnosiologia, o estudo ou teoria do pensamento ou do conhecimento. É uma área que tenta explicar cientificamente assuntos subjetivos como milagres, fé, alma, etc. A ciência noética busca a explicação científica para questões que envolvem fenômenos relacionados ao espírito, à mente e à consciência. Ciência da computação A ciência da computação é a área que envolve o estudo dos procedimentos de automatização e modo de funcionamento de máquinas. Também é a área responsável pelo desenvolvimento e implementação de softwares, processamento de dados digitais e criação de algoritmos. A ciência da computação, que está incluída nas ciências exatas, é muito abrangente e envolve o estudo dos mais variados tipos de sistemas que podem ser utilizados para permitir o funcionamento de novas e modernas tecnologias. 13 O machine learning também faz parte da ciência da computação. Esta áreaestuda a compreensão dos processos de inteligência artificial, uma programação utilizada para que os computadores possam executar determinadas tarefas sem a necessidade da interferência humana. Disponível em: https://www.significados.com.br/ciencia/. Acesso em: 11 abr 2019 (adaptado). Ética e Ciência Por Jeane Machado Glória Podemos dizer que, de maneira radical, a discussão sobre ciência e ética, necessita passar pela concepção filosófica de “ser humano”, “ética” e “ciência”. Iniciemos então pela concepção de ciência. A ciência que caracteriza as sociedades modernas pode e deve ser analisada sob seus diversos ângulos. Desde um enfoque mais clássico da epistemologia até um olhar mais recente dos estudos culturais se multiplicam os estudos sobre a atividade científica. Então a partir de que momento a ética passou a fazer parte da reflexão no campo das ciências? Existem vários aspectos ligados à ciência que nos permitem hoje promover esse debate dentre os quais iremos destacar aqui alguns. Em nossos dias há uma perspectiva que exerce particular interesse e que se associa ao desenvolvimento contemporâneo das ciências da vida. Não muito tempo atrás os experimentos científicos eram feitos sem nenhum critério moral e sem sequer serem questionados. A consequência disso é que muitas pesquisas científicas trouxeram vários problemas tanto do ponto de vista do indivíduo como do ponto de vista social. Alguns casos clássicos envolvem, por exemplo, pesquisas com clonagem, células troncos, a possibilidade de manipulação genética da vida e até de preservação duradoura da vida em condições artificiais, ou ainda a intervenção em fetos (aborto), evidenciam a expansão do nosso poder científico-tecnológico. Poder que nos inscreve, logo de imediato, nesse horizonte ético, onde nos dá possibilidade de nos questionarmos sobre o que podemos fazer e o que devemos fazer. Sob tal perspectiva podemos dizer que a ciência moderna ocidental contém em si um amplo projeto de dominação: da natureza, de si mesmo e do outro. O que nos remete a necessidade de uma ciência que não pode prescindir da análise de valores morais e éticos a partir de uma nova postura diante da própria ciência e dos valores da sociedade. Neste novo cenário temos também diretrizes dos Comitês de Ética e Pesquisa que regulam a ética nas pesquisas científicas quando envolve seres humanos ou quanto aos tratos com animais, associados com pesquisa científica. Há também uma sensibilidade em relação a intervenção no meio ambiente. Embora a concepção moderna de ciência, a que estamos, ainda hoje, associados, seja inseparável da progressiva reafirmação do princípio da autonomia da pesquisa e da rejeição, inegociável, da tutela, seja religiosa ou política, é inegável que o campo das ciências traz em si questões de ordem moral e ética. [...] Uma reflexão sobre a responsabilidade dos pesquisadores diante da sociedade e do homem nos remete, por exemplo, ao fato de que várias instituições se preocupam em elaborar um código de ética: como o Código de Ética Médica, o Código de Ética do Psicólogo e muitas outras profissões que estão no bojo do discurso científico. Isso demonstra claramente a necessidade que a sociedade tem de “controlar” as medidas e atitudes das diversas profissões. Será que podemos permitir que a ciência, por exemplo, faça o que ela quiser? A ciência pode pesquisar o que ela quiser? 14 A ética seria desta maneira então, intermediária, buscaria a justiça, a harmonia e os caminhos para alcançá- las. Quando buscamos, a justiça, a verdade, o entendimento e o conhecimento, o buscamos para satisfazer uma necessidade do sujeito. O que é que distingue a ciência da não ciência? Como podemos demarcar a fronteira entre elas? É importante mencionar que a ciência deve ser entendida de maneira diversa, conforme o tempo em que a estudamos. O que chamamos de “conhecimento científico”, também, pode variar conforme os diversos períodos da história. Na área médica, por exemplo, quando ouvimos uma voz científica dizendo: evite comer ou fazer tal coisa, que faz mal à saúde, e depois alguns anos mais tarde se contradizem dizendo que não é bem assim. Podemos mencionar ainda algumas reflexões que são extremamente necessárias hoje em dia no campo das ciências que devem ser discutidas no campo dos valores e da moral, como, por exemplo, na área da robótica, onde deve haver um princípio segundo o qual um robô jamais deve ser projetado para machucar pessoas ou lhes fazer mal. A área da informática também está repleta de dilemas éticos, ao criar, por exemplo, um programa (softwares) computacional com o objetivo claro de prejudicar as pessoas, como para roubar ou espionar. Ou no campo do que se convencionou chamar hoje de Bioética que envolve temas polêmicos como a clonagem, onde uma parte dos ativistas consideram que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser usada, com seu devido controle, em animais e plantas somente para estudos biológicos - nunca para clonar seres humanos. Temas como o aborto e os casos mais recentes de crianças com microcefalia onde, após uma forte epidemia do zika vírus, através do Aedes Aegypti, o mesmo mosquito transmissor da dengue, uma parte da sociedade entende que seja necessário autorizar o procedimento do aborto reabrindo o debate sobre aborto no país. Atualmente, no Brasil, só é permitido interromper uma gravidez em caso de risco à vida da mãe, quando a concepção foi resultado de um estupro ou quando o feto é anencéfalo (não possui cérebro). Argumenta-se inclusive que inúmeros abortos clandestinos são realizados, muitas vezes feitos sem cuidados médicos adequados. A discussão gera polêmica e está no centro da discussão hoje em meio à epidemia de microcefalia, que por sua vez, também foi alvo de inúmeras críticas de que, por trás de uma preocupação com o direito à escolha da mulher, existe uma tentativa de se buscar o bebê perfeito, algo comparável ao que buscava o nazismo com suas iniciativas de eugenia, de se criar uma “raça perfeita”. O tema desperta atenção inclusive do mundo e da Organização Mundial de Saúde uma vez que o aborto é restrito na América Latina, região também afetada pela epidemia de zika. Além desses, há também os casos polêmicos que impõe uma análise ética e moral sobre o comportamento de médicos, por exemplo, no exercício de sua função. Há vários registros de casos de suspeitas de abuso sexual na hora da consulta e avaliação médica [...]. Disponível em: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/etica-e-ciencia/. Acesso em: 11 abr 2019 (adaptado). 15 Quais foram as maiores descobertas científicas brasileiras? Selecionamos oito momentos importantes da nossa ciência Por Leandro Saioneti (Felipe Cachopa/Mundo Estranho) Ilustração Felipe Cachopa Edição Felipe van Deursen Foram muitas, em várias áreas, e todas ajudaram no progresso da ciência e beneficiaram de forma direta milhões de pessoas. Essas descobertas coincidem com uma efervescência científica nacional na primeira metade do século 20, que influenciou na formação de cientistas e na fundação de instituições como a Academia Brasileira de Ciências (1916), a Universidade de São Paulo (1934) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1961). Infelizmente, a ditadura militar (1964-1985) prejudicou a produção de conhecimento, com estudiosos perseguidos, presos ou exilados – segundo o último levantamento do portal Ciência na Ditadura, pelo menos 483 cientistas sofreram algum tipo de censura. Com o fim do regime, nossa ciência voltou a evoluir (ainda que a passos lentos). Os destaques mais recentes foram a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, e as pesquisas nos campos da neurociência (a interface cérebro-máquina de Miguel Nicolelis)e da astrofísica (observação de eventos espaciais até então inéditos). Confira nossa galeria de notáveis. Vital Brazil, médico imunologista, 1898 – Especificidade do soro antiofídico O soro antiofídico foi criado em 1894 pelo francês Albert Calmett para tratar picadas de cobras venenosas. Acreditava-se que ele atuava de forma universal a partir do veneno de uma única espécie, a naja. Vital Brazil acreditava que cada tipo de veneno de cobra deveria ser tratado de forma específica. Para isso, produziu antídotos distintos para a mordida de cascavel e jararaca. Além disso, ele inventou o soro 16 polivalente (que é eficaz para um grupo de cobras, e não para somente uma). Carlos Chagas, médico sanitarista, 1909 – Doença de Chagas Nunca antes na história da medicina o ciclo completo de uma doença havia sido identificado. Chagas traçou todo o caminho: vetor (besouro barbeiro), agente causador (protozoário Trypanosoma cruzi), reservatório doméstico (gato), características e complicações e meios de combate. A descoberta veio enquanto ele combatia a malária em Minas Gerais. Chagas foi reconhecido internacionalmente, batizou a doença e virou um importante nome no combate a moléstias tropicais. Mário Schenberg (e George Gamow, EUA), astrofísicos, 1940 – Processo Urca O processo descreve a explosão de uma supernova, em que a presença de partículas chamadas neutrinos acarreta no desaparecimento de energia no núcleo da estrela, provocando seu colapso e a consequente explosão. O nome “Urca” é uma referência ao extinto cassino da Urca, no Rio de Janeiro, sobre o qual Schenberg dizia que “a energia das supernovas desaparece tão rápido quanto o dinheiro dos apostadores aqui presentes”. César Lattes (e Cecil Frank Powell, Reino Unido, e Giuseppe Occhialini, Itália), físicos, 1947 – Partícula méson pi Partícula presente no núcleo dos átomos, o méson pi foi fundamental para entender as forças atuantes nessa região atômica e sua estabilidade, originando um novo campo de estudo (o de partículas elementares). A descoberta rendeu o Nobel de Física em 1950, mas só Powell foi agraciado. 17 Maurício Rocha e Silva, farmacologista, 1949 – Bradicinina Importante no controle da hipertensão, a bradicinina é um vasodilatador presente no sangue. Rocha e Silva a descobriu com a ajuda de Wilson Beraldo e Gastão Rosenfeld enquanto analisava a ação do veneno de jararaca em um cão. Desde os anos 70, muitos remédios para a doença têm bradicinina na fórmula. Johanna Döbereiner, agrônoma, década de 1950 – Bactérias fixadoras de nitrogênio Döbereiner identificou tipos específicos das bactérias que ajudam na nutrição das plantas por meio da fixação de nitrogênio nas raízes. Isso ajudou a diminuir o impacto ambiental e a baratear a produção nacional de soja (hoje, o Brasil é um dos maiores exportadores). Döbereiner é a cientista brasileira mais citada lá fora. Crodowaldo Pavan, geneticista, 1957 – Amplificação gênica A descoberta derrubou a ideia de que as células possuem a mesma quantidade de material genético. O feito ocorreu quando Pavan encontrou a mosca Rhynchosciara angelae no litoral paulista. Ele identificou a duplicação de genes presentes nos cromossomos, sem a ocorrência de divisão celular. Foi um grande avanço nos estudos sobre DNA. 19 cientistas das demais áreas do conhecimento. Não levam em conta o que é metodologicamente próprio das diferentes ciências. Provavelmente, nem sabem que uma das funções das ciências sociais é a de estudar e diagnosticar as consequências socialmente problemáticas do próprio desenvolvimento científico. Uma inovação agrícola lucrativa e produtiva pode levar à miséria milhares de pessoas. Uma inovação médica, como uma vacina, pode aterrorizar multidões. Tivemos no Rio a Revolta da Vacina, em 1904, em reação à obrigatoriedade da vacinação contra varíola. A alta racionalidade da ciência não é imune a irracionalidades sociais sociologicamente explicáveis. Num momento politicamente difícil como este, interpretações sociológicas e antropológicas da realidade podem ser essenciais para o desenvolvimento de uma consciência socialmente crítica da situação do País, até mesmo em relação a ameaças que pesam sobre o trabalho científico e o ensino da ciência. Assim como há uma ciência das ideologias, no campo da sociologia do conhecimento, há também a muito pouco analisada ideologia de cada ciência e, por isso, a da ideologia na ciência. Pasteur, que não era médico, foi peitado pelos médicos de sua época em nome de valores extracientíficos que norteavam e limitavam inovações no campo médico. O “errado” estava certo. O trabalho científico é limitado pelas ideologias não científicas dos cientistas. Em nome de religião que eventualmente professe, um cientista pode cercear-se na pesquisa, suprimindo temas e problemas de investigação que contrariem suas convicções religiosas. Ou, em nome de determinada opção político- partidária, mesmo um cientista social pode fazer danosas correções de interpretação para que não colida com suas ideias não científicas. Essas invasões podem não afetar o rigor técnico e formal da pesquisa científica em si, porque a interferência se dá antes, na escolha dos temas e na definição dos problemas de investigação. Mas erguem as muralhas intransponíveis do proibido à descoberta científica. Quando governantes, louvados em seu poder, se arvoram em autoridade em campos como o da ciência e estabelecem condições e limites para o que deve ser pesquisado e estudado, ou para o que deve ser ensinado, estamos em face de pressões para ideologizar a produção e a disseminação do conhecimento. Ainda que sob o pretexto de combater ideologias onde supostamente ideologias não devem interferir. Os danos do extravasamento dessa premissa autoritária são mais do que prováveis. Não é raro que haja quem pense que a função do cientista se baseia no pressuposto da condição de ateu. Em alguns casos, nas culturas de religiosidade extremada e ultramontana, a opção pelo ateísmo favoreceu defensivamente a indagação científica. Nos cientistas de opção preferencial pela ciência deixou aberta a iluminadora porta da dúvida em relação ao propriamente extracientífico. Exatamente porque a ciência não é campo de certeza absoluta. Ciência só é ciência cercada pela margem da incerteza, da dúvida. Todo o tempo, a ciência põe em dúvida o já sabido. Ainda que acumulativo, o conhecimento científico é provisório e relativo. Não obstante, o senso comum do cientista é peculiar, diverso do da pessoa comum. É claro que há situações em que um campo não científico, como uma religião, pode contribuir poderosamente para destravar bloqueios ao conhecimento científico oriundos da própria religião. Em 1994, novo catedrático da Universidade de Cambridge, fui um dos convidados do Master e dos fellows de St. John’s College para participar das celebrações de São João Batista, patrono da instituição. Na cerimônia religiosa, na capela, o pregador dissertou sobre a importância do calvinismo no desenvolvimento da ciência em Cambridge. De fato, Cambridge foi um cenário decisivo nas controvérsias e debates sobre a Reforma protestante no século XVI. O púlpito da Igreja de Santo Eduardo, Rei e Mártir, ainda é o mesmo em que se pregou o primeiro sermão protestante da Inglaterra, em 1525. Os elementos racionais e, mesmo, seculares do calvinismo abriam perspectivas responsáveis por um novo senso comum que iluminava aspectos vetados ou obscuros da realidade da vida. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/ideologia-na-ciencia-no-brasil/.Acesso em: 16 abr 2019. 20 Brasil sobe no ranking mundial da ciência Por Carlos Rydlewski Era o início dos anos 80. Cesar Victora, embora fosse um médico recém-formado, sentia-se exausto. Com frequência, trabalhava nas comunidades de Pelotas, no Rio Grande do Sul. As doenças que tratava em um dia reapareciam semanas depois. "Tinha a impressão de que nem sequer havia passado por ali", diz. Inquieto, o epidemiologista concluiu que precisava atuar para prevenir os problemas, e não apenas remediá-los. Em 1982, Victora e um colega, o médico Fernando Barros, iniciaram um levantamento ambicioso para investigar as condições da mortalidade infantil em Pelotas. A dupla identificou e examinou todas as crianças nascidas naquele ano na cidade. Foram 5.914 (97 morreram ao nascer). A partir daí, acompanharam a evolução dessa turma. Novos exames foram feitos em todo o grupo, quando seus integrantes completaram 1 ano, depois 2 anos, 4 anos, 15, 18, 23, 30... Em 2020, eles serão analisados pela oitava vez, aos 38 anos. Desde o início do levantamento, cerca de 350 morreram. O conhecimento extraído desses estudos teve uma repercussão formidável. Victora foi incluído no rol dos cientistas mais influentes do planeta, em um levantamento da Clarivate Analytics, empresa americana cujos serviços incluem a Web of Science, plataforma global de acesso a dados bibliográficos de pesquisas científicas. Em sua quinta edição, a lista Highly Cited Researchers (pesquisadores altamente citados) destaca 6.078 pesquisadores, em um universo estimado de 9 milhões de cientistas espalhados pelo mundo. Esse time produziu os artigos mais citados por seus pares, em um período de 11 anos, entre 2006 e 2016. Entre os relacionados, 4.058 deles atuam em 21 áreas do saber. Os trabalhos dos outros 2.020 têm características "transversais", ou seja, transitam por mais de um campo do conhecimento. Pessoas de pouco mais de 60 países estão listadas, o que inclui desde jovens desconhecidos a estrelas mundiais, como 17 vencedores do Nobel, entre eles James Allison (Medicina) e William Nordhaus (Economia), contemplados em 2018. Não há um ranking de cientistas. Seria impossível comparar a produção entre as diferentes disciplinas, uma vez que o número de citações varia de acordo com o tamanho de cada comunidade de pesquisadores. Ainda assim, algumas classificações foram feitas - e elas revelam dados desconcertantes, principalmente sob o prisma dos países que ocupam a rabeira do desenvolvimento global. O que se vê é um imenso fosso, cavado pela concentração de talentos. Os EUA hospedam 2.639 dos altamente citados (43,4% do total). O Reino Unido, em segundo lugar, abriga 546 (9% do geral). Mais de 80% dos "influenciadores" vivem em apenas dez países - e 70% deles, em somente cinco. A China emplacou 482 nomes (7,9%) e passou a ocupar o terceiro lugar, ultrapassando a Alemanha, que tem 356 destaques (5,9% do total). Fonte - https://mobile.valor.com.br/sites/default/files/gn/19/03/arte29cul-603-capa-d10.jpg. 21 Atuam no Brasil 12 dos autores mais citados do mundo. São 11 brasileiros e uma portuguesa. Trata-se de uma parcela ínfima do cenário mundial, o equivalente a 0,19%. Ainda assim, em anos anteriores, o elenco nacional era menor. Eram 3 ou 4 nomes. O atual crescimento, contudo, em parte é resultado da inclusão na lista dos quase 2 mil integrantes da nova categoria interdisciplinar (a "cross-field"). De qualquer forma, o país ocupa a 32ª posição entre 60 nações. Metade dos 12 nomes é formada por médicos. A engenharia de alimentos reúne outros 4 e o meio ambiente, 2. O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), grande nome do mundo científico global, e o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo, foram relacionados pela terceira vez em cinco edições da Highly Cited Researchers. Entre os artigos dos médicos, é marcante a presença de grandes estudos populacionais que avançam pelo tempo, tomando como base pessoas que compartilham de uma ou mais características (o ano, o local de nascimento ou o uso de um remédio). Essas pesquisas são chamadas de longitudinais ou de coorte (termo com origem no latim "cohors", nome das unidades das legiões romanas). Trata-se, em sua maioria, de estudos epidemiológicos, que avaliam os diferentes fatores que interferem na propagação de doenças. Os artigos, em geral, trazem conclusões de uso imediato - para não dizer urgente. As cortes lideradas por Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), por exemplo, revelaram dados cruciais sobre os primeiros mil dias de vida de um bebê. Esse intervalo de tempo começa no útero materno, desde o instante inicial até o fim da gravidez (que soma 270 dias). Depois, estende-se pelos dois primeiros anos de vida (mais 730 dias). Essa fase é cabal para a definição das condições de saúde, crescimento e capacidade intelectual de um indivíduo. "Por uma série de motivos, como o consumo do leite materno, que tem substâncias fundamentais para o desenvolvimento do cérebro, esse período tem um grande impacto até sobre a escolaridade e a renda futura das pessoas", diz Victora. Os trabalhos do médico gaúcho e de sua equipe tiveram ainda desdobramentos profundos e concretos. Foram essenciais para a criação de programas de saúde em todo o mundo, com foco nos primeiros mil dias de vida, organizados por entidades como a Unicef e o Banco Mundial. A força das coortes é tão grande que, não por acaso, Pelotas é o endereço de outra brasileira presente na lista dos autores mais citados da ciência. A pneumologista Ana Maria Meneses, também da UFPEL, foi influenciada por Cesar Victora, que a orientou no doutorado. Além das análises longitudinais no Rio Grande do Sul, Ana Maria esteve à frente do Estudo Platino, levantamento que aferiu a prevalência da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) em cinco cidades latino-americanas: São Paulo, Cidade do México, Montevidéu, Santiago e Caracas. Foram avaliadas 5.249 pessoas com 40 anos de idade ou mais (a doença só atinge adultos). A primeira etapa ocorreu entre 2002 e 2004. Em 2008, deu-se a segunda rodada em São Paulo, Montevidéu e Santiago. "Foi algo inédito", diz Ana Maria. "Ninguém havia pesquisado essa doença na América Latina, e isso provocou uma repercussão imensa." A DPOC é causada pelo fumo, mas o levantamento também identificou uma associação, ainda que tênue, com a poluição domiciliar, provocada por fogões à lenha em casas pobres da América Latina. Os artigos do cardiologista Álvaro Avezum também estão fundamentados em grandes estudos populacionais, lastreados por amplas redes de colaboradores no Brasil e no exterior. Graduado em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em 1985, Avezum fez residência no Instituto Dante Pazzanese entre 1989 e 1990. Ao final desse período, foi convidado a participar de um trabalho envolvendo 80 hospitais brasileiros. Essa foi a primeira rede colaborativa em pesquisa cardiovascular criada no país. Hoje, ele segue na mesma trilha. Além de um sem-número de grupos internacionais, participa da coordenação de um núcleo formado por 250 hospitais nacionais, em 22 Estados. "O conceito central é sempre produzir pesquisas simples, que tenham impacto na vida - e na sobrevida - de pessoas afetadas por doenças comuns", afirma o cardiologista. Tal princípio deságua em um pragmatismo estonteante. Uma das pesquisas de Avezum aplica-se à hipertensão, que atinge perto de 40 milhões de brasileiros e representa o maior fator de risco de morte no mundo, superando o tabagismo e a desnutrição. O cardiologista mostrou que no Brasil somente 10% dos hipertensos tomam remédio regularmente e têm a pressão arterial sob controle. E concluiu: "Isso quer dizer que precisamos de novos tratamentos para a doença? Provavelmente,não. Mas o controle precisa aumentar. Precisamos de programas para isso”. 22 Seus trabalhos, não raro, criam contrapontos ao senso comum. Ele constatou que os males do consumo de sal seguem uma curva em J - muito sal aumenta a ocorrência de ataques cardíacos e AVCs. O problema cede com a redução do uso. Mas, se ele for eliminado da dieta, as coisas voltam a piorar. "As pessoas sempre falam que quanto menos sal melhor", diz Avezum. "Mostramos que não é bem assim". Paulo Lotufo, professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, segue toada similar. Em 2002, iniciou os preparativos para o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que acompanha 15.105 pessoas há dez anos. O trabalho, levado a campo em 2006, identificou um declínio persistente da mortalidade em decorrência de doenças cardíacas no país. Em contrapartida, registrou um aumento expressivo de problemas mentais e de distúrbios de cognição, como Alzheimer. Os grandes artigos em torno do Elsa-Brasil começaram a ser feitos a partir de 2012 e ele foi citado perto de 20 mil vezes nos últimos dez anos. As pesquisas de Lotufo também mergulham na realidade para transformá-la. Ele quer extrair produtos e processos do conhecimento. Tem um estudo mostrando que um pequeno choque na cabeça, um leve estímulo elétrico, provoca efeito semelhante ao de um remédio no tratamento da depressão, evitando assim efeitos colaterais das drogas. "Estamos começando a produção industrial desses equipamentos", afirma o médico. Em termos de processos, ele identificou um grupo de hipertensos (10% do total) cuja pressão arterial não cai nem por decreto. "Queremos iniciar o uso de um novo medicamento para reverter essa situação", diz. "Mudanças de processo têm um impacto econômico maior do que qualquer produto." O viés nutricional da epidemiologia, que estuda como a alimentação pode causar ou prevenir doenças, é o campo de atuação de outro médico brasileiro na lista da Clarivate Analytics. Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da USP, acertou a veia mais inovadora - e polêmica - de sua pesquisa a partir de 2010, quando criou o conceito dos alimentos "ultraprocessados". Trata-se dos tipos de comida que, sob o ponto de vista nutricional, não passa de um simulacro. "Eles são manipulados para agradar ao paladar", diz. Por isso, têm elevada quantidade de sal, açúcar, gorduras, além de químicos que realçam ou imitam sabores. São refrigerantes, snacks, bolachas recheadas. "Dos alimentos que encontramos nos supermercados, 95% fazem parte desse grupo." Os estudos da turma de pesquisadores que o cientista lidera no Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da USP, indicam uma estreita relação entre esses produtos e a incidência de doenças como a obesidade, o diabetes e a hipertensão. Isso sem falar em cânceres e problemas cardiovasculares. A ação de Monteiro e seu grupo, porém, não se resume à estruturação de um conceito. Esses pesquisadores firmaram-se como uma referência crítica sobre as relações socioeconômicas e históricas em torno da avalanche dos ultraprocessados, na qual o marketing atua como poderoso anabolizante de vendas. Eles provocaram ainda uma ampla reflexão sobre o papel da indústria e da globalização na mudança alimentar das populações, que ocorreu com base em commodities de alta produtividade (logo, baixo custo) como o açúcar, o amido e o óleo de soja. Produziram ainda uma divisão dos alimentos, separados em quatro categorias, de acordo com a extensão dos processos industriais aos quais são submetidos. "Como estamos em uma universidade pública, isso nos deu liberdade para atuar de maneira crítica e independente, sem sofrer pressão de outros setores da sociedade", afirma Monteiro. "Isso deu impacto ao nosso trabalho." Guilherme Polanczyk é o último médico da lista dos influenciadores brasileiros. Professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência, da Faculdade de Medicina da USP, há 20 anos, ele lida com transtornos mentais de crianças, especialmente com o déficit de atenção e a hiperatividade. Os artigos de Polanczyk ajudaram a revelar dados sobre a prevalência e a morbidade (quanto tempo da vida o paciente perde com uma enfermidade), além de mostrar o quão restrito é o acesso ao tratamento dessas doenças no Brasil. "Eles alcançam apenas entre 20% e 30% das crianças e adolescentes com esses problemas", diz. Ao lado de uma equipe do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, o psiquiatra também leva o conhecimento às ruas. Ele é um dos coordenadores do programa Primeiros Laços, por meio do qual quase uma centena de meninas pobres, com idades entre 14 e 19 anos, grávidas pela primeira vez, são acompanhadas durante a gestação. "Hoje, acredita-se que as primeiras alterações cerebrais que levam aos transtornos ocorram no período intrauterino e os sintomas, nos primeiros anos de vida", afirma Polanczyk. "Evitar o problema na sua nascente tem um enorme impacto social e econômico." Além do núcleo dos médicos, outro bloco de peso entre os brasileiros da lista da Clarivate Analytics é formado por engenheiros de alimentos. Daniel Granato, o mais jovem da trupe nacional, com 32 anos, é um deles. Professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, ele trabalha com alimentos naturais 23 que oferecem benefícios fisiológicos além dos nutricionais. Isso quer dizer que eles podem diminuir a incidência das doenças crônicas não transmissíveis (como diabetes, obesidade, hipertensão) e até cânceres. Testes in vitro mostraram que estratos de sementes de jabuticaba, por exemplo, protegem as células sadias e matam as cancerígenas no tratamento do câncer de cólon. A quimioterapia convencional aniquila ambas. "Agora, vamos fazer testes em ratos para validar o processo", diz. Toda a matéria-prima usada nas pesquisas tem origem na flora brasileira. Ela inclui sementes camu-camu, uma fruta amazônica, além de produtos como o cravo, o manjericão, o arroz preto e as folhas de erva-mate. Adriano Gomes da Cruz, professor do Departamento de Alimentos do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), atua em uma área parecida, mas com foco na indústria de leite e seus derivados. No doutorado, em 2010, ele mostrou que o uso de uma enzima, a glicose oxidase, pode contribuir para a conservação de alimentos lácteos funcionais, como iogurtes e queijos probióticos (feitos com microrganismos que, em quantidade adequada, ajudam no equilíbrio da flora intestinal). A glicose oxidase consome o oxigênio que passa pelas embalagens plásticas diminuindo a velocidade de deterioração do produto. Soluções parecidas já existiam, mas Cruz encontrou uma via biotecnológica para obter o mesmo resultado. "Hoje, as pessoas querem cada vez menos química nos alimentos", diz. "Por isso, o grande interesse por esse tipo de trabalho." Outras duas mulheres da lista, Miriam Hubinger, da Unicamp, e Renata Tonon, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, foram relacionadas pela produção conjunta de artigos. Miriam foi orientadora de doutorado e pós- doutorado de Renata, em Campinas. Os textos da dupla abordaram a produção de microcápsulas usadas para proteger produtos que, em estado natural, degradariam com facilidade. Para envolver a polpa do açaí, por exemplo, foram testadas películas feitas a partir de maltodextrina, um carboidrato proveniente do amido, goma arábica, além de amido de mandioca e milho. Em seguida, ambas trabalharam em projetos de microencapsulação de óleos de linhaça e de café torrado. "Essa técnica começou a ser bastante utilizada desde o início dos anos 2000, mas com conservantes", afirma Miriam. "Mudamos isso, usando produtos naturais." Os dois últimos pesquisadores que atuam no Brasil presentes na lista têm como foco o meio ambiente. Luísa Cavalheiro é, em si, um exemplo de como a ciência opera nos dias correntes. O conhecimento ocupaum só espaço - o mundo todo. Portuguesa, graduou-se em biologia pela Universidade de Lisboa. Fez doutorado em Bristol, na Inglaterra, e em Queensland, na Austrália. Concluiu o pós-doutorado em Pretória, na África do Sul. Dali, foi para os Estados Unidos. Depois, retornou ao Reino Unido para trabalhar em Leeds. Casada com um brasileiro, há muito pensava em pesquisar no país. A ideia concretizou-se há quatro anos, quando Luísa ganhou uma bolsa concedida pelo governo federal para jovens talentos estrangeiros. Hoje, leciona na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Nos últimos dez anos, sua pesquisa aborda os benefícios que a biodiversidade traz para a agricultura e para o homem. Avalia, por exemplo, como a polinização e o controle biológico feitos por insetos podem aumentar a produtividade de algumas culturas. No plantio da manga, esse tipo de recurso gerou ganhos de 40% na produção. Percentuais da mesma magnitude podem ser alcançados no caso do feijão. "Esses são serviços que os insetos fazem de forma gratuita para o homem", diz Luísa. Um dos destaques do trabalho da pesquisadora é a permanente colaboração com grupos internacionais, alguns deles multidisciplinares, envolvendo economistas, estatísticos e cientistas sociais. Por fim, o último brasileiro da Highly Cited Researchers é o nome mais conhecido do grupo em termos globais. Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP, possui 22 artigos publicados somente na "Nature" e na "Science", revistas de referência entre as publicações científicas. Ele já trabalhou em instituições como a Nasa, além das universidades de Antuérpia (Bélgica), Lund (Suíça) e Harvard (EUA). É integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e de outros sete painéis científicos internacionais. A preservação da Amazônia é o foco de seus papers. No início dos anos 80, ainda no doutorado, trabalhou com Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química, no primeiro experimento mundial que investigou o papel de emissões de queimadas no clima regional e global. Artaxo destrinchou ainda o papel dos aerossóis atmosféricos (micropartículas em suspensão) na formação e regulação das nuvens. O número de citações é um indicador parcial da relevância de um trabalho científico. Há muitas outras maneiras de avaliar a qualidade de um pesquisador. Elas incluem a capacidade de liderar projetos perenes, a aptidão em orientar talentos, além da habilidade de criar e expandir conexões internacionais. Gente como o matemático Arthur Ávila, que ganhou a Medalha Fields (o "Nobel da Matemática"), em 2014, dificilmente entraria em uma relação desse tipo. "Seu trabalho, embora fantástico, reverbera entre uma audiência limitadíssima, um nicho", diz Fernando Reinach, biólogo, empreendedor e investidor, que participou do 24 mapeamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa, causadora do amarelinho nos cítricos - o trabalho rendeu a primeira capa da "Nature" para uma pesquisa brasileira, em 2000. Ainda assim, não deixa de ser uma façanha para quem trabalha no Brasil fazer parte do grupo de autores mais citados do mundo da ciência. "Mas poderíamos ter 500 nomes nessa relação, caso houvesse uma estrutura minimamente sólida para a pesquisa no Brasil", diz Artaxo. "Todos os brasileiros teriam quatro vezes mais menções se morassem nos Estados Unidos ou na Europa." Ele ressalta que as citações são somente uma consequência. "O que precisamos é de um modelo de desenvolvimento econômico baseado no conhecimento", diz. "Sem isso, estamos condenados à exportação de produtos básicos." Há décadas não faltam propostas para alterar esse quadro. O físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, um dos mais importantes órgãos de fomento à pesquisa no Brasil, afirma que estabilizar fontes de financiamento deveria ser o primeiro passo nessa direção. "Em muitas situações, a estabilidade vale mais do que abundância de recursos", diz. Mas tal tarefa não é simples. Além das crises recorrentes, há os deslizes constantes. Os exemplos abundam. O Ciência Sem Fronteiras, observa Cruz, não produziu resultados sólidos, mas em três anos consumiu o equivalente a dez anos da verba do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das mais importantes instituições públicas de promoção da ciência no país. Com esse tipo de desvio, conclui Cruz, nunca será fácil avançar. Pois é isso o que narra até aqui uma longa e quase inalterada história. Disponível em: https://www.valor.com.br/cultura/6186949/brasil-sobe-no-ranking-mundial-da-ciencia. Acesso em: 16 abr 2019 (adaptado). “Situação da ciência e tecnologia no Brasil é dramática” A afirmação é de Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e foi feita na Comissão Geral que debateu a situação da ciência e tecnologia no Brasil na Câmara dos Deputados em 12 de julho de 2018. Confira a reportagem do “Seu Jornal”, da TVT A situação da ciência e tecnologia no Brasil é dramática e os cortes no setor são drásticos. A afirmação é de Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e foi dada na Comissão geral que debateu o tema na Câmara dos Deputados. Assista à entrevista: TVT https://www.youtube.com/watch?v=bYg0D8U416E&feature=youtu.be Disponível em: http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/situacao-da- ciencia-e-tecnologia-no-brasil-e-dramatica/. Acesso em: 3 mai 2019 (adaptado). 25 Ao cortar investimentos em ciência, Brasil assassina o futuro A história mostra que pesquisa e inovação com foco no mercado foram a chave dos países que se desenvolveram com sucesso. O governo brasileiro nos conduz tragicamente ao atraso e à dependência POR RILEY RODRIGUES DE OLIVEIRA (Ilustração: Gabriel Ribeiro) Políticas públicas que incentivam a pesquisa e a inovação industrial são essenciais para o desenvolvimento econômico. A maioria dos países desenvolvidos e aqueles que buscam escapar do subdesenvolvimento entenderam essa regra e investem na formulação de políticas voltadas a incentivar e acelerar as áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação industrial (PD&I). Na contramão, o Brasil está consolidando um dos maiores atrasos científicos de sua história. Os governos (especialmente o federal) vêm reduzindo os recursos para PD&I. [...] Como resultado da redução de investimentos, o país perde capacidade de produção e amplia a exportação de um produto estratégico, de altíssimo valor agregado, que multiplica bilhões de vezes seu valor e que deveria ser mantido em território nacional a todo custo. Somos hoje um importante exportador de cérebros. Por outro lado, nos consolidamos como importador de inovação e conhecimento, versão moderna do processo de stop- and-go do início do século 20 que enfraquece a base industrial, que se torna dependente de produtos tecnológicos desenvolvidos no exterior. A soma dessas variáveis vem gestando um hiato na formação de cientistas, na produção de conhecimento e no desenvolvimento industrial do Brasil que poderá levar 30 anos para ser superado. Se alguém ultrapassa a falta de recursos e gera um produto, enfrenta a barreira do registro da patente. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) possui mais de 231 mil pedidos aguardando registro, recebe novos 34 mil por ano e só analisa 19,6 mil. Como resultado, o processo de registro de novas patentes demora quase 11 anos, em média. Para tentar eliminar o backlog em três anos, a saída proposta é a aprovação automática, sem a devida verificação dos pedidos. Outro puxadinho perigoso. 26 Esses problemas geram efeitos negativos sobre toda a economia, mas há setores que são mais prejudicados, como os complexos industriais da saúde, dosalimentos e da energia. Pesquisas feitas nas universidades são a base para o desenvolvimento de novos medicamentos, instrumentos e equipamentos tecnológicos. Também não são desenvolvidas novas variedades de alimentos mais resistentes a pragas e com maior produtividade, além de novos biodefensivos não agressivos ao ambiente. O complexo da energia, de grande intensidade tecnológica, cada vez mais precisa importar conhecimento e produtos como células fotovoltaicas e equipamentos para prospecção e transformação do petróleo e outros. Política de conteúdo nacional sem política nacional de inovação é irracional. Em meio a isso tudo, a indústria, demandada e demandante de inovação, tenta sobreviver ao hoje e não consegue olhar para o amanhã. Sem incentivos para pesquisa e inovação, novos materiais não são desenvolvidos e explorados em todo o seu potencial. Como o grafeno, que possui milhares de aplicações em processos industriais, como em tecnologia de informação e comunicação. As áreas de nanotecnologias, engenharia genética e robótica, que estão entre as que mais exigem investimentos, principalmente públicos, devido à alta intensidade tecnológica e longa maturação, são as que mais sofrem com os cortes. O erro do governo está em não avaliar que essas áreas estão entre aquelas nas quais o resultado das pesquisas multiplica bilhões de vezes o valor e o tempo investidos. [...] A história mostra que foi adotando políticas com foco no desenvolvimento do conhecimento que alguns países foram bem-sucedidos na rápida industrialização e na consecução de crescimento econômico. A pesquisa científica e a inovação com foco no mercado foram a chave de países que desenvolveram com sucesso uma indústria avançada de tecnologia intensiva. Nações que buscam escapar do subdesenvolvimento estão aumentando investimentos e concentrando seus recursos limitados em setores específicos, como produtos farmacêuticos e nanotecnologia. O nome disso é política pública. A mesma que não existe no Brasil. [...] A realidade, ruim para pesquisadores, acende o sinal de alerta para a indústria. A falta de inovação faz com que o setor fique dependente de conhecimento e tecnologia produzidos no exterior, aumentando custos produtivos e levando à perda de competitividade. Em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, com a internet das coisas e a computação quântica, caso seja mantido o comportamento atual, em poucos anos a indústria brasileira corre o risco de, fazendo um paralelo, voltar à Idade Média em relação a países onde os governos entenderam o risco do atraso e estão acelerando seus investimentos em pesquisa e inovação. Além disso, pelo foco da política econômica e fiscal, cortar hoje recursos de pesquisa e inovação significa aumentar amanhã a importação de produtos de maior valor agregado, desequilibrar a balança comercial e reduzir a arrecadação. Ou seja, por nenhum ângulo essa é uma decisão inteligente. Investimentos públicos como estruturadores da pesquisa básica, com foco no mercado, não é um discurso novo. Resultados dessa integração, estruturada na década de 40, podem ser vistos no dia a dia: o computador, a internet, o GPS, o micro-ondas, a comunicação via satélite, as câmeras fotográficas digitais, a produção em massa de antibióticos... É indiscutível, então, que uma política pública de incentivos à pesquisa e à inovação acadêmica e industrial é o caminho para fugir do subdesenvolvimento. Sem investimentos públicos não há pesquisa básica. Sem pesquisa básica não há inovação. Sem inovação não há desenvolvimento. Tragicamente, esse é o caminho escolhido pelos governos brasileiros que, em todos os níveis, estão colocando em curso, de forma acelerada, um sistemático programa cujo único objetivo é o assassinato do futuro do país. Este programa limita a inovação, enfraquece a indústria, reduz a competitividade e impede o Brasil de se tornar, de fato, uma economia global, superando os riscos e aproveitando todas as vantagens que essa condição pode trazer. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/04/ao-cortar-investimentos-em-ciencia- brasil-assassina-o-futuro.html. Acesso em: 7 mai 2019 (adaptado). 27 Na UnB, vencedor do Nobel lamenta baixo investimento do Brasil em ciência Em palestra na UnB (Universidade de Brasília), o Nobel de Química Fraser Stoddart falou sobre a importância dos investimentos em pesquisa, elogiou a estratégia da China para a área e explicou sua área de interesse: as máquinas moleculares. Por Paloma Oliveto O químico escocês Fraser Stoddart (D) com o reitor em exercício da Universidade de Brasília, Enrique Huelva: popularizador do conhecimento (foto: Raquel Aviani/Secom UnB) É mais fácil encontrar Fraser Stoddart trocando ideias com estudantes universitários de várias partes do mundo do que conferenciando com cientistas sisudos e herméticos. Nomeado cavaleiro do reino da Grã- Bretanha, em 2006, pela rainha Elizabeth II, e laureado com o Nobel de Química há três anos, o químico escocês está longe da imagem que se pode ter de um “sir” que recebeu a maior honraria mundial na área. Stoddart é um popularizador do conhecimento, gosta do contato com o público e defende as máquinas moleculares — seu objeto de estudo —, com a mesma paixão com que cobra maiores investimentos em ciência e tecnologia. Em 09/04/2019, ele esteve na Universidade de Brasília (UnB), onde palestrou para estudantes e professores sobre a evolução das máquinas — do motor a vapor ao biológico. Esse último é o que interessa a Stoddart, pois é quem coloca para funcionar as máquinas moleculares, conceito que rendeu a ele, ao holandês Bernard Feringa e ao francês Jean-Pierre Sauvage o prêmio Nobel. Em 1991, com base nos trabalhos produzidos por Sauvage, o químico desenvolveu uma estrutura de escala nanométrica (mil vezes menor que um fio de cabelo), a Rotaxane, que funciona como um elevador, conseguindo se erguer a 0,7 nanômetro acima da superfície. Essa foi a primeira de muitos maquinários inspirados no trabalho realizado dentro das células. 28 "Motores biológicos são mais antigos que todos os sintéticos", ressaltou Stoddart, na palestra, organizada pela biofarmacêutica AstraZeneca. Como um motor de carro, eles convertem qualquer tipo de energia em energia mecânica, que será usada para a realização de uma tarefa, como um movimento. Uma dessas máquinas moleculares naturais mais conhecidas é a síntese do ATP (trifosfato de adenosina), exaustivamente estudada no ensino médio, que consiste em uma reação que fornece a energia necessária para a célula funcionar. O químico explicou que os seres humanos produzem 40kg diários de ATP, gastos com os movimentos naturais do corpo. "No caso de atletas, eles produzem ATP equivalente ao próprio peso corporal, todos os dias." As máquinas moleculares são apontadas como o que há de mais promissor na nanorrobótica e na nanomedicina. Por exemplo, é possível desenvolver sistemas inspirados no que acontece dentro do corpo humano para enviar medicamentos diretamente às células doentes, o que poderá causar impacto no tratamento de câncer e, segundo Stoddart, nas terapias voltadas a doenças neurodegenerativas, como Parkinson e mal de Alzheimer. As pesquisas nesse sentido, porém, estão apenas começando e, como ressaltou o químico, ao se falar de patologias complexas, não se pode pensar em uma varinha de condão, capaz de eliminá-las sozinha. Em uma rápida conversa com a imprensa depois da palestra, o químico lamentou que o Brasil tenha sofrido cortes recentes no orçamento da ciência e tecnologia — em 2018, a pasta perdeu 35% da verba destinada cinco anos antes, o que coloca em risco pesquisas, funcionamento de universidades e bolsas de estudo, entre outros. "Eu lamento muito o fato de um país como o Brasil não ter um governo realmentecomprometido com investimento financeiro e com o mais absoluto suporte para ajudar jovens a realizar seus sonhos", disse. Para Stoddart, países em desenvolvimento e também os mais ricos deveriam seguir o exemplo da China, que, no início do ano, enviou ao lado escuro da Lua a primeira sonda espacial do país a pousar no satélite. "Quando falamos dos países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a China é um exemplo a seguir. Talvez porque os líderes do governo chinês sejam cientistas ou tecnólogos, eles estão comprometidos com a área, o que permite que meninos e meninas brilhantes obtenham seus PhDs. A China vai tomar a liderança da ciência e da tecnologia no mundo. Parte disso é por terem a maior população mundial, mas a outra é o empenho absoluto do governo com a ciência. É uma questão de prioridade", assinalou. O químico apontou que a falta de prioridade em ciência, tecnologia e inovação não é uma realidade apenas das nações em desenvolvimento. "Eu lamento que países em desenvolvimento e alguns mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Reino Unido, não tenham líderes que estejam dando aos jovens de seus países as oportunidades que deveriam dar. Os políticos deveriam apoiar firmemente a ciência, e não falar em tirar dinheiro dessa área”, enfatizou. Duas perguntas para Fraser Stoddart, Nobel de Química O senhor está sempre em universidades, conversando com estudantes. O senhor considera que manter contato com os jovens é um dos papéis dos cientistas? Sim, eu tenho um dever de fazer isso, e eu realmente amo. É muito bom interagir diariamente com jovens nas viagens que faço ou pelo Twitter, muitos deles são brilhantes. Acho isso um privilégio que, entre outras vantagens, me mantém jovem. Eu penso como eles, não penso como as pessoas da minha geração. Por exemplo, se eu estivesse morando agora na Inglaterra, eu não defenderia o Brexit, mas pensaria no oposto, em abrir os horizontes, para os jovens explorarem outras visões além das deles. Nós temos de deixar longe do processo de tomada de decisão pessoas que não estão cientes da importância de apoiar os jovens. Estamos vendo uma escalada da xenofobia, da intolerância e de divisões, como o Brexit que o senhor citou, além de políticos negando a ciência, a evolução, as mudanças climáticas. Como a ciência pode ajudar a superar esse momento? 29 Acho que é um problema enorme. Podemos fazer nosso melhor, mas eu tenho de admitir que fazer o que fiz hoje — falar com 200 pessoas, que provavelmente têm o mesmo tipo de visão — não adianta. Não somos uma caixa de ressonância, somos uma bolha. Para fazer chegar a mensagem a um número maior de pessoas, mostrar ao mundo como isso é importante, eu tenho algumas ideias. Acho que antes que qualquer um ganhe acesso ao Parlamento ou ao Congresso, essa pessoa deveria ter a mesma experiência que eu tenho, ou a que um médico ou um engenheiro muito qualificado têm de ter, o que é, no mínimo, 10 anos, dois diplomas, um em ciência e outro em humanidades, e, se vai seguir a carreira política, ter se envolvido em trabalhos sociais durante alguns anos. Esse é um problema grave no mundo, e o Reino Unido é um ótimo exemplo: pessoas que não deveriam nem chegar perto do Parlamento, em termos de experiência ou conhecimento estão lá dentro. São congressistas sem qualificação. Isso não faz sentido. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e- saude/2019/04/10/interna_ciencia_saude,748540/vencedor-do-nobel-lamenta-baixo-investimento-do-brasil- em-ciencia.shtml. Acesso em: 11 abr 2019 (adaptado). PARA SABER MAIS Pesquisadores terão verba de R$ 100 mi para incentivo à ciência Formar uma geração de novos cientistas é um dos motes do programa “Ciência na Escola”, do governo federal, que pretende qualificar professores e estimular estudantes dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas do país. Serão disponibilizados R$ 100 milhões para que instituições apresentem propostas para incentivar a temática nos bancos escolares. A iniciativa busca despertar o interesse dos alunos mais novos pelas carreiras científicas e aumentar a interação com as faculdades. Até 27 de maio, na primeira etapa do programa, serão cadastradas as ideias de pessoas vinculadas a entidades sem fins lucrativos, sejam elas de ensino superior ou de pesquisa. Os interessados devem preencher a ficha no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o cnpq.br. Podem ser inscritos projetos de pesquisa, atividades práticas e avaliação. Uma das exigências é que as propostas sejam formuladas em conjunto por pesquisadores e professores das escolas da educação básica. Os trabalhos aprovados terão duração máxima de 24 meses. A abertura do processo de seleção para instituições de ensino ainda não tem data definida. Nesse caso, o objetivo é valorizar uma proposta pedagógica na qual o aluno seja o protagonista no processo de aprendizagem. 30 Investimento A verba de R$ 100 milhões poderá ser pleiteada por escolas, universidades, centros de ciência e espaços de desenvolvimento científico e inovação. Os recursos serão distribuídos em diferentes escalas de projetos, como estadual (R$ 4 milhões), interestadual (R$ 10 milhões) e regional (R$ 20 milhões). Mais iniciativas Neste ano, a Olimpíada Nacional de Ciências será ampliada. A ideia é destinar R$ 1 milhão para o projeto e chegar a um milhão de alunos participantes, de vários estados brasileiros. O governo federal também anunciou uma chamada pública para destinar recursos a pesquisadores com estudos relacionados à temática científica, com foco no ensino de matérias dos anos finais dos ensinos fundamental e médio. O Objetivo é aproximar universidades, instituições científicas e tecnológicas e escolas públicas. Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/pesquisadores-ter%C3%A3o-verba-de-r-100-mi- para-incentivo-%C3%A0-ci%C3%AAncia-1.709412. Acesso em: 23 abr 2019. Especial Nanotecnologia | Entenda a ciência invisível a olho nu Por Thaís Augusto Um robô tão minúsculo que é capaz de navegar pelo corpo humano atacando células doentes e curando anormalidades. É o que muita gente imagina quando o assunto é nanotecnologia, mas aqui vai um spoiler: não é bem assim. Neste especial, o Canaltech vai mostrar, em termos simples, o que a nanotecnologia compreende, afinal. O termo "nano" é uma medida que significa um bilionésimo de algo. É tão pequeno que costuma ser comparado ao tamanho de uma bola de gude diante da Terra. Para quem curte matemática, é o equivalente a dividir um metro por 1 bilhão de vezes. Na nanoescala, materiais são invisíveis ao olho nu e mesmo com microscópios ópticos. Cientistas só conseguem identificar tais materiais a partir de um super microscópio eletrônico. O DNA e o vírus de gripe, por exemplo, são duas estruturas que se encaixam na nanoescala, para você ter uma ideia da "miudeza" da coisa. Em termos práticos, a partir da nanotecnologia é possível manipular, sintetizar e até modificar uma matéria. No fim do dia, é importante saber que a ciência está utilizando a nanoescala para criar objetos que facilitarão a vida das pessoas. É verdade que estamos longe de criarmos nanorobôs, mas outras aplicações como roupas que não se molham, novos tratamentos para o câncer e purificação da água estão sendo desenvolvidas e testadas enquanto você lê este texto. Ficção vs realidade O conceito de nanorobôs é alimentado por filmes e livros. Uma das primeiras ficções científicas a retratá-los foi Viagem Fantástica, em 1966. No filme, cientistas criam um submarino miniaturizado que deve chegar ao 31 cérebro do paciente para drenar um coágulo.
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