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A Comuna de Paris (1871): O assalto aos céus
	
Formada por dezenas de membros de várias tendências políticas radicais, a Comuna era a administração municipal eleita pelo povo. Desarmou a Guarda Nacional, estabeleceu o serviço militar obrigatório, declarou nulos os decretos de Versalhes e proclamou a autonomia municipal extensiva a todas as cidades da França. A Comuna, que durou apenas 72 dias, desenvolveu uma política de forte inspiração socialista, proclamando a absoluta igualdade civil de homens e mulheres, suprimindo o trabalho noturno e criando pensões para viúvas e órfãos. Caracterizou-se como a primeira experiência histórica de autogestão democrática e popular. Karl Marx chamou os revolucionários da Comuna de Paris de “assaltantes do céu”, pela grande energia e pouca objetividade de seu movimento.
	Thiers reuniu tropas, pediu a Bismarck que libertasse os prisioneiros de guerra e, com a ajuda dos prussianos, cercou Paris, bombardeando-a intensamente. Ao invadir a cidade, os soldados de Versalhes encontraram uma desesperada resistência popular. Mais de 20 mil pessoas foram mortas nos combates ou executadas posteriormente, além de 70 mil terem sido exiladas e deportadas para a Guiana Francesa.
	A Terceira República sobreviveria até 1940, quando a França foi invadida por Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Convivendo com uma contínua efervescência social e disputas imperialistas-coloniais, consolidou-se internamente baseada no nacionalismo. Teve ainda duas crises no século XIX: o caso Boulanger e o caso Dreyfus.
	Entre 1887 e 1889, a ascensão de um general do exército, Georges Boulanger, com ambições semelhantes às de Napoleão, movimentou os militares pela volta do império. Acusado de conspiração, Boulanger fugiu e suicidou-se, colocando fim ao prestígio dos soldados bonapartistas.
	Em 1894, Alfred Dreyfus, de origem judaica e capitão do exército Frances, foi acusado pelos monarquistas de ter vendido segredos militares aos alemães. Incriminado por um conjunto de documentos falsos, foi condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, e seu caso repercutiu em todo o mundo.
	Caracterizando-se como uma campanha nacionalista e de revanchismo Frances contra a Alemanha, o fato acabou por desembocar no anti-semitismo, na condenação dos judeus como não-franceses. Essa farsa, entretanto, foi sendo pouco a pouco esclarecida, devido à atuação dos escritores Anatole France e, principalmente, Émile Zola. Esse incidente, que envolveu toda a sociedade francesa, enfraqueceu os monarquistas e abalou o anti-semitismo nacional.
Embora obtivesse a liberdade por ordem do executivo, Dreyfus foi novamente condenado por um tribunal militar em novo julgamento (1899), sendo completamente reabilitado apenas em 1906, quando foi reintegrado ao exército e recebeu a insígnia da Legião de Honra. O exército, contudo, manteve a acusação de traidor da Dreyfus. Somente em 1995, um século depois, o diretor do serviço histórico do exército, Jean-Louis Mourrut, confessou publicamente a culpa de sua instituição, reconhecendo que o documento de acusação fora uma fraude.
Na presidência de Jules Grévy (1879-1887), predominaram as conquistas civis: estabeleceu-se a liberdade de imprensa e de associação (1881), a estatização do ensino gratuito, laico e obrigatório (1882), o casamento civil e os sindicatos operários e patronais (1884). No final do século, a direita francesa se concentrava na Action Française, e a esquerda ganhava terreno com os republicanos radicais, liderados por Georges Clemenceau, e os socialistas, liderados por Aristides Briand. Às vésperas de 1914, diante do perigo alemão, a união nacional se impôs novamente como uma necessidade: eclodia a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
	
	História Geral e do Brasil – Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo.2ª Ed.