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TRIBUNAIS DE CONTAS FUNÇÕES, NATUREZA JURÍDICA E EFICÁCIA DAS DECISÕES

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TRIBUNAIS DE CONTAS: FUNÇÕES, NATUREZA JURÍDICA E EFICÁCIA DAS DECISÕES
FUNÇÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTRAS
Função fiscalizadora
 Realização de levantamentos, auditorias, inspeções, acompanhamentos e monitoramentos, relacionados com a fiscalização de atos e contratos administrativos em geral;
	Apreciação da legalidade dos atos de concessão de aposentadorias, reformas e pensões e de admissão de pessoal;
Fiscalização da aplicação de recursos repassados pela União mediante convênios e outros instrumentos congêneres aos Estados, DF e Municípios;
Fiscalização das contas nacionais das empresas supranacionais.
Função judicante
Julga as contas dos administradores e dos demais responsáveis por bens e valores públicos (contas ordinárias e extraordinárias);
Julga as contas dos responsáveis por causar prejuízos aos erários (tomada de contas especial).
Ao julgar as contas, o TCU decide se são regulares, regulares com ressalvas ou irregulares. São julgados os que causam prejuízos ao Patrimônio Público da União. O TCU não julga na fiscalização, e sim, sempre em um processo de contas que pode ser de contas ordinárias, contas extraordinárias ou tomada de contas especial.
Caso na fiscalização seja constatado algum prejuízo aos cofres pública, há a mutação de natureza do processo, de processo de fiscalização para o processo de contas.
Função sancionadora
É a aplicação das sanções previstas em lei. As sanções podem ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente:
Multa, ao agente público, proporcional ao valor do prejuízo do erário;
Multa, ao responsável por contas julgadas irregulares, por ato irregular, ilegítimo ou antieconômico, por não-atendimento de diligências ou determinações do TCU, por obstrução ao livre exercício de inspeções ou auditorias e por sonegação de processo, documento ou informação;
Inabilitação de cargo, para o exercício de função de comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública;
Declaração de inidoneidade do responsável, por fraude em licitação, para participar por cinco anos, de processos licitatórios da administração pública;
Afastamento provisório do cargo por obstrução a auditoria ou inspeção;
Decretação da indisponibilidade de bens.
Cabe a aplicação de sanções, tanto no processo de fiscalização como no processo de contas. É permitido o contraditório e ampla defesa. E o pagamento de débito devido a administração não é sanção.
Função consultiva (ou opinativa)
É um parecer técnico prévio sobre as contas do Presidente da República, para subsidiar o julgamento do Congresso Nacional, assim também, como as contas dos governadores dos territórios;
Consultas a respeito de dúvidas nas aplicações de dispositivos e regulamentos de matéria do TCU;
Consulta de indícios de despesas não-autorizadas, solicitada pela CMO;
Recomendações (não compulsórias) de melhoria, após a realização de auditorias.
Função informativa
É a prestação de informações solicitadas pelo Congresso Nacional, ou suas Casas ou suas Comissões, sobre a fiscalização exercida pelo TCU;
Representação ao Poder competente sobre irregularidades e abusos apurados;
Alerta aos órgãos e Poderes sobre a ultrapassagem de 90% dos limites de gastos com pessoal, endividamento, operações de crédito e concessão de garantias;
Informa ao MP eleitoral a lista daqueles que as contas foram julgadas irregulares, para fim da aplicação da norma de inelegibilidade.
Função corretiva
Emite determinações, de caráter compulsórios, para corrigir falhas ou improbidades;
Fixa prazos para o cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
Susta ato impugnado.
Função normativa (ou regulamentar)
É o poder regulamentar conferido por sua Lei Orgânica, que lhe faculta, expedir instruções ou atos normativos, sobre matérias de sua competência e a respeito de processos que lhe devam ser submetidos.
Função de ouvidoria
Recebimento de denúncias e representações de ilegalidades ou irregularidades, que podem ser feitas pelos responsáveis do controle interno, autoridade ou qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato. Na apuração da denúncia o TCU exerce a função fiscalizatória.
Função pedagógica
Exerce a função quando orienta e informa a melhor forma de gestão através de cartilhas, manuais. E quando nas sanções, na medida que tais punições funcionam como uma inibição à pratica de novas ocorrências da espécie.
O TCU sempre exerce mais de uma função ao mesmo tempo. O rol de funções do TCU não é imperativo ou exaustivo, ou seja, pode ter outras funções, ou até mesmo outros doutrinadores apresentam as mesmas funções de forma mais resumida ou mais extensiva.
NATUREZA JURÍDICA DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
É um órgão administrativo, autônomo e independente, de estatura constitucional. A sua personalidade jurídica é a mesma da União, pois é um é um órgão da União.
Possui capacidade para figurar em juízo, tanto de forma ativa como passiva. Ativa, quando defende suas competências e na passiva, geralmente em mandados de segurança impetrados contras suas decisões.
O TCU auxilia tecnicamente o Legislativo, isso não significa que existe hierarquia/ subordinação entre eles. De fato, o TCU não está subordinado a nenhum dos Poderes. O Presidente do TCU não deve obediência nem ao Presidente do Congresso Nacional, titular do controle externo, nem ao Presidente do STF, nem ao Presidente da República.
Esse auxílio do TCU ao Congresso Nacional é inafastável e imprescindível.
O TCU tem autonomia financeira, funcional, administrativa e orçamentária. E pode inclusive elaborar seu Regimento Interno e organizar suas Secretarias e demais serviços auxiliares. A CF inclusive, assegura ao TCU a iniciativa exclusiva de projetos de lei para alterar ou revogar dispositivos da sua Lei Orgânica.
Embora a lei orçamentária do TCU esteja associada ao Legislativo, inclusive seus limites de despesas com pessoal estão incluídos no Poder Legislativo no art. 20 da LRF, não tira a autonomia orçamentária e financeira do TCU, pois pode movimentar livremente seus recursos. O TCU possui competências próprias e privativas.
Não cabem das decisões do TCU junto ao Judiciário ou Legislativo. O que o TCU decidiu, cabe recurso somente ao TCU. Assim como o TCU não pode reformar uma decisão de algum TCE ou TCM ou TC dos Municípios.
Como o ordenamento jurídico é regido pelo princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional, é possível acionar o Poder Judiciário contra uma decisão do TCU. Só que, com uma nova ação. Não tem natureza de recurso, e o Judiciário não revisa a decisão, apenas verifica a legalidade (aspectos formais e direitos individuais).
*Nos julgamentos das contas de responsáveis por haveres públicos, a competência é exclusiva do TCU, salvo nulidade por irregularidade formal grave ou manifesta ilegalidade.
O Judiciário verifica a legalidade e a formalidade das decisões, não julga o mérito. Não pode reformar as decisões, apenas anulá-las.
Competência para processar e julgar atos contra as decisões do TCU:
Habeas corpus, mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção – contra TCU – STF.
Habeas corpus – contra TCE – STJ.
Habeas data e mandado de segurança – contra TCE – TJ dos Estados e do DF.
É possível impetrar ações originárias nos juízos de primeiro grau:
TCU – Juízes federais.
Demais TC´s – Juízes estaduais.
O TCU não pode entrar com recurso contra as anulações do Judiciário, cabe a ele apenas emitir nova decisão.
Somente as decisões do TCU que resultarem em imputação de débito ou multa terá eficácia de título executivo.
No geral, título executivo é um documento constituído no âmbito do Poder Judiciário que representa uma dívida líquida e certa, permitindo a seu titular propor correspondente ação executiva para fins de cobrança.
No caso das decisões do TCU, não é preciso, pois a própria decisão já tem essa eficácia de título executivo. Assim, se o responsável não comprovar o pagamento do débito e ou multa, ou não recorrer, basta entrar com o processo de execução judicial. Pula-se uma etapa (a deconhecimento de dívida no Judiciário).
Até mesmo a inscrição em dívida ativa é desnecessária, embora as vezes seja feita por motivos gerencias de órgãos de cobrança. Caracteriza-se como dívida ativa não tributária.
Por ser constituída fora do Poder Judiciário, é extrajudicial, título executivo extrajudicial. Para que tal título tenha validade e eficácia, deve-se comprovar a existência da obrigação, devendo conter a identificação do responsável e o valor do débito e ou multa, em moeda nacional.
As possibilidades de recurso no âmbito do Tribunal devem ter sido esgotadas, ou seja, a decisão deve ser definitiva. Definitivas são as decisões contra as quais não caibam mais recursos ou contra as quais tenham sido interpostos, nos prazos previstos, os recursos cabíveis, de modo que não haja mais possibilidade legal de se insurgir contra a decisão no próprio Tribunal.
O débito deve ser pago a entidade que teve seu patrimônio lesado, se autarquia, paga-se a autarquia, se a União ou suas entidades, paga-se a União. A fim de ressarcir o dano. Já a multa, paga-se ao Tesoura Nacional.
Se a dívida não for paga no prazo estabelecido pela decisão do TCU, deverá ser cobrada judicialmente. E quem deve entrar com a ação é a entidade lesada, não o TCU. Se o débito for devido aos cofres do tesouro nacional, o MPTCU remete a documentação a AGU, que ajuíza a ação perante a PGU. Se a entidade tiver a sua própria procuradoria, será ajuizada na sua procuradoria, é o caso das empresas públicas e sociedade de economia mista federais. Já a multa sempre será do tesouro nacional (MPTCU -> AGU -> PGU).
Quando constituído título executivo do débito, torna-o imprescritível, já a multa prescreve em 10 anos.
Títulos executivos, somente são dados ao que resulte débito ou multa. Portanto pode ocorrer nos processos de contas e no processo de fiscalização.
ABRANGÊNCIA DO CONTROLE EXERCIDO PELO TCU
Natureza das fiscalizações
	Natureza de fiscalização
	O que é fiscalizado
	Contábil
	Lançamentos e escrituração contábil.
	Financeira
	Arrecadação de receita e execução de despesas.
	Orçamentária
	Elaboração e execução dos orçamentos.
	Operacional
	Processos administrativos e programas de governo.
	Patrimonial
	Guarda e administração de bens móveis e imóveis.
Pode ser feito uma auditoria com mais de uma natureza (natureza múltipla). Nessas fiscalizações são verificados: a legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas.
	Legalidade
	Verifica se a conduta do gestor está de acordo com as normas aplicáveis. Geralmente, é aspecto predominante nas fiscalizações de natureza contábil, financeira, orçamentária e patrimonial.
	Legitimidade
	Verificar se o ato atende ao interesse público, moralidade e impessoalidade.
	Economicidade
	Analisa o custo/ benefício sem comprometimento da qualidade.
	Aplicação das subvenções
	São transferências de recursos orçamentários destinados a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas (social ou economicamente).
	Renúncia de receitas
	Envolve benefícios que impliquem a redução discriminada de tributos (anistia, remissão, concessão ou isenção). Assim como também, quando o gestor deixa de cobrar alguma multa de contrato, ou um aluguel.
	Eficiência
	Analisa os meios utilizados em relação aos resultados obtidos. Custo, prazo e qualidade.
	Eficácia
	Verifica se as metas estabelecidas foram alcançadas, se os bens e serviços foram providos.
	Efetividade
	Analisa se os objetivos foram atingidos, em termos de impacto a população/alvo.
JURISDIÇÃO DO TCU
O TCU é um órgão administrativo, que julga as contas. A doutrina é dividida em: os que aceitam que o TCU exerce a natureza jurisdicional, por ser competência exclusiva e privativa. E os que não aceitam que o TCU exerce jurisdição, pois defendem que a jurisdição e natureza exclusiva do Judiciário.
O art. 73 da CF, preceitua que o TCU tem jurisdição em todo o território nacional, lembrando que apenas sobre os responsáveis por gerir recursos públicos e federais. A jurisdição se expande aos responsáveis por gerir recurso públicos e federais que estão fora do território nacional.
O art. 4º da LO/TCU preceitua que o TCU tem jurisdição própria e privativa em todo o território nacional, sobre as matérias e pessoas sujeitas à sua competência. Jurisdição própria e privativa significa que somente o TCU pode dizer o direito sobre matérias de sua competência.
Pessoas sujeitas à jurisdição do TCU (Art. 5º, I a IX, LO/TCU)
	I – qualquer pessoa física, órgão ou entidade a que se refere o inciso I do art. 1º desta Lei, que utilize, arrecade, guarde, gerencia ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta assuma obrigações de natureza pecuniária;
	O termo entidade (Art. 1º, I) refere-se às entidades da Administração indiretas e as pessoas jurídicas mantidas pela poder público federal.
	II – aqueles que derem causa de perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário;
	O sujeito não precisa estar envolvido diretamente com a gestão de recursos públicos, basta causar perda, extravio ou outra irregularidade. E independe da intenção do responsável, pode ser culposo ou doloso.
	III – os dirigentes ou liquidantes das empresas encampadas ou sob intervenção ou que de qualquer modo venham a integrar, provisória ou permanentemente, o patrimônio da União ou de outra entidade pública federal;
	Ex. de encampação e intervenção, uma concessionária deixa de prestar o serviço adequadamente, o poder público pode encampar, retomar o serviço, tem caráter definitivo, ou intervir, caráter temporário. Enquadram-se as EP e SEM exploradora de atividades econômica, isso já é pacífico para o STF. E as subsidiarias das entidades públicas federais. As entidades fechadas de previdência complementar patrocinadas pelo poder público também são fiscalizadas pelo TCU (Previ, FUNCEF, Petros)
	IV – os responsáveis pelas contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
	Supranacionais ou binacionais: Itaipu (Paraguai), CIA Nacional de Promoção Agrícola (Japão) e Alcântara Cyclone Space (Ucrânia). A competência para fiscalizar é somente sobre os gestores de verbas federais brasileira e que deve haver disposição especifica no tratado constitutivo dessas empresas, sendo assim o TCU não pode investigar a Itaipu.
	V – os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse público ou social;
	Sistema S (Sesi, Sebrae, Sesc...), entidades de fiscalização do exercício de profissões regulamentes e seus conselhos regionais e entidades sindicais. A OAB não tem qualquer vínculo com a Administração Pública, por isso o TCU não pode a fiscalizar.
	VI – todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos estejam sujeitos à sua fiscalização por expressa disposição de Lei;
	Ex. Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê Paraolímpico Brasileiro.
	VII – os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos repassados pela União, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao distrito Federal ou a município;
	Se tratando de transferências voluntarias da União para os Estados, DF e Municípios, o TCU fiscaliza, e se forem transferências constitucionais obrigatórias, considera-se receitas originarias do recebedor (recursos estaduais, municipais FPE e FPM (fundos de participação)) então a competência é dos TC estaduais e municipais. Inclui-se toda e qualquer pessoa (física ou jurídica, pública ou privada), como as ONG-s, Universidades Federais, bolsistas CNPq.
	VIII – os sucessores dos administradores e responsáveis a que se refere este artigo, até o limite do valor do patrimônio transferido, nos termos do inciso XLV do art. 5º da CF;
	Se o sujeito morrer, os sucessores, herdeiros pagarãoa dívida, mas somente até o limite do valor transferido como herança. Se o débito era 100 mil e foi transferido 50 mil, será apenas sobre os 50 mil.
	IX – os representantes da União ou do Poder Público na assembléia geral das estatais e sociedades anônimas de cujo capital a União ou o Poder Público participem, solidariamente, com os membros dos conselhos fiscais e de administração, pela prática de atos de gestão ruinosa ou liberalidade à custa das respectivas sociedades.
	É referendo ao prejuízo das entidades pública, apenas quando causadas pela prática de atos de gestão ruinoso ou liberalidade. O conselho fiscal e de administração responde pelos atos. E apenas nas empresas cujo capital majoritário é da União.

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