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Sáude em Revista Prevalência de diástase abdominal 35 Ana Carolina Rodarti Pitangui Fisioterapeuta, doutora em Enferma- gem pela Universidade de São Paulo, professora do curso de Fisioterapia da Universidade de Pernambuco carolina.pitangui@upe.br Carla Santos Barbosa Fisioterapeuta formada pela Universi- dade de Pernambuco carlacsb-@hotmail.com Letícia Kazue Fukagawa Fisioterapeuta formada pela Universi- dade de Pernambuco leticiakazue@hotmail.com Mayra Ruana Alencar Gomes Fisioterapeuta formada pela Univer- sidade de Pernambuco, mestranda em Hebiatria pela Universidade de Pernambuco mayra_ruana2@hotmail.com Alaine Souza Lima Fisioterapeuta formada pela Univer- sidade de Pernambuco, mestranda em Hebiatria pela Universidade de Pernambuco alaine_souza16@hotmail.com Rodrigo Cappato Araújo Fisioterapeuta, doutor em Bioen- genharia pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor do curso de Fisioterapia da Univerisdade de Pernambuco rodrigo.cappato@upe.br Originais / Originals Prevalência da diástase do músculo reto abdominal no puerpério imediato Prevalence of rectus abdominis diastasis in immediate postpartum Resumo O objetivo do presente estudo foi determinar a prevalência de diástase do músculo reto abdominal (DMRA) em primíparas e multípa- ras, no puerpério imediato. Trata-se de um estudo transversal com 261 puérperas. Para a mensuração da DMRA, foram empregados três pon- tos: cicatriz umbilical e 4,5 cm acima e abaixo da mesma. A graduação foi feita pela técnica das polpas digitais. Foram utilizados os testes t para amostras independentes e Qui-Quadrado, com p < 0,05. A prevalência de DMRA supraumbilical, umbilical e infraumbilical foi de 95%, 89,3% e 44,1%, respectivamente. As Multíparas apresentaram maior grau de DMRA umbilical (p = 0,028) e infraumbilical (p = 0,049), em compa- ração às primíparas. Não houve associação da DMRA com índice de massa corporal e idade. Os resultados demonstram elevada prevalência de DMRA no puerpério imediato, sendo que as multíparas mostraram maior grau umbilical e infraumbilical. Palavras-chave: Período pós-parto; Saúde da Mulher; Abdome. Abstract The objective of the present study was to determine the prevalence of the rectus abdominis diastasis (RAD) in primiparous and multiparous, during immediate post-partum. This is a cross-sectional study involving 261 postpartum women. For measurement of RAD were employed three points: umbilicus, 4,5 cm above and below it. The gradu- ation was carried out by the fingers-widths technique. It was used the t test for independent samples and Chi-square, p <0,05. The prevalence of supraumbilical, umbilical and infraumbilical RAD was 95%, 89,3% and 44,1%, respectively. The Multiparous showed higher umbilical (p = 0,028) and infraumbilical RAD (p = 0,049) compared to primiparous. There was no association of RAD with body mass index and age. The results show high prevalence of RAD during the immediate postpartum period, and multiparous presented greater degree in the umbilical and infraumbilical regions. KeywoRds: POSTPARTUM PERIOD; WOMEN’S HEALTH; AB- DOMEN. Introdução A gestação é um período caracterizado por modifica- ções que ocorrem no organismo materno, como alterações Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 16, n. 42, p. 35-45, jan.-abr. 201636 hormonais, metabólicas e musculoesquelé- ticas.1 O momento que segue o seu término é denominado de puerpério, que é caracteri- zado pela recuperação do organismo mater- no e marcado por intensa vulnerabilidade e intercorrências, tanto físicas quanto emo- cionais.2 Esse tempo pode ser dividido em três estágios: pós-parto imediato do 1º. ao 10º. dia; pós-parto tardio do 10º. ao 45º. dia; e pós-parto remoto além do 45º. dia.3 A diástase do músculo reto abdominal (DMRA) é uma condição comum durante a gestação e puerpério imediato,4,5 sendo definida como a separação dos músculos retos abdominais na linha alba.6-9 A função da linha alba é manter esses músculos pró- ximos,10,11 e durante a gestação a ação hor- monal sobre o tecido conectivo e o estresse mecânico na parede abdominal, decorrente do crescimento do feto, podem provocar o afastamento dos músculos reto abdomi- nais.4,5 Outros fatores associados ao desen- volvimento da DMRA são a multiparidade, idade materna,12 gravidez múltipla, pelve es- treita e macrossomia fetal.13 Distintas formas de avaliação da DMRA vêm sendo descritas na literatura, sendo o método das polpas digitais4,5,13 e o paquíme- tro6,14 os mais comuns. A técnica das pol- pas digitais é a mais empregada na prática clínica, possui fácil execução e consiste no avaliador inserir os dedos horizontalmente ao longo da linha alba para determinar o es- paço entre os músculos retos abdominais.6,7,9 Enquanto o paquímetro, é um medidor de diâmetros e espessuras, que é considerado um instrumento de avaliação fidedigno que fornece medidas objetivas.14,15 Entretanto, apesar de alguns autores14 demonstrarem boa confiabilidade no uso do paquímetro, a confiabilidade de ambas as técnicas ainda não é muito clara,16 em de- corrência das diferentes padronizações em- pregadas nos procedimentos de medida que podem influenciar a confiabilidade e ocasio- nar erros.14 Além disso, o uso de parâmetros subjetivos decorrentes da variação anatômi- ca dos dedos dos avaliadores na técnica das polpas digitais seria um aspecto negativo na confiabilidade da medida.4,5,16 Outros métodos mencionados para a identificação da DMRA são a tomografia computadorizada (TC) e a ultrassonografia (US). A primeira é considerada um método caro, que expõe a mulher à radiação, en- quanto a segunda, apesar de ser uma técnica com boa confiabilidade17 e com custo mais acessível, ainda é onerosa, e depende de um avaliador habilidoso.18 Na literatura, ainda existe uma varia- ção em relação ao critério de diagnóstico da DMRA. Beer et al.10 sugerem que em nulipa- ras considera-se “normal” quando a largura da linha alba é menor que 1,5 cm no nível xifoide, de 2,2 cm a 3 cm no nível supraum- bilical e de 0,6 cm a 2 cm no nível infraum- bilical. Em puérperas, a DMRA vem sendo definida como uma largura acima de 2 cm ou 3 cm.13,19,20 Nesses casos em que é consi- derada presença de DMRA, são necessários exercícios para a restauração da integridade do tecido.4 Os músculos abdominais exercem im- portantes funções na postura e na estabilida- de do tronco e da pelve,12 quando a DMRA está presente os músculos abdominais estão em desvantagem biomecânica.21 Tal desvan- tagem, associada ao relaxamento ligamentar próprio da gestação, predispõe a mulher ao desenvolvimento da dor lombar e aumento Sáude em Revista Prevalência de diástase abdominal Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. 37 do risco de tensão lombosacral.14 Além da lombalgia,14 a DMRA pode ocasionar con- sequências negativas, como fraqueza dos músculos do assoalho pélvico,22 diminuição da autoestima e da saúde das mulheres du- rante e após a gestação12 de tal forma, que a médio e longo prazo essas modificações po- dem ser responsáveis por diminuir a quali- dade de vida da mulher.15 Contudo, não existem evidências cien- tíficas sobre as consequências funcionais do aumento da distância inter-retos, sendo sugerido pelas evidências disponíveis que a DMRA é mais comum imediatamente após o parto, podendo apresentar resolução espontânea ou diminuição no puerpério tardio.6,11 Porém, para algumas mulheres a DMRA pode não se resolver espontanea- mente no período puerperal ou após diver- sos meses ou anos pós-parto.5,11 Prevalências entre 74% a 76% de DMRA têm sido verificadas no puerpério imediato,20 com maiores valores de afasta- mento em multíparas, contudo, observa-se que independente da paridade,a distância entre os músculos retos abdominais e pre- valência da DMRA são maiores na região supraumbilical.23,24 Embora possua uma prevalência elevada e seja relativamente simples a sua identificação, a DMRA ainda é subestimada pelos profissionais envolvidos com a prática obstétrica, não recebendo a atenção necessária. Diante do exposto, acredita-se ser im- portante a determinação da prevalência da DMRA em primíparas e multíparas que se encontram no puerpério imediato, visto que essa informação pode contribuir para definir padrões nessas mulheres e subsidiar a indicação da realização precoce de medi- das de diagnóstico, prevenção e tratamento. Além disso, embora esse tema já venha sen- do estudado pela literatura,5,23,24 observa-se que a maioria dos resultados encontrados é referente a regiões metropolitanas, não sendo encontrados estudos desenvolvidos no interior do sertão do Nordeste. Ain- da, o presente estudo propõe-se a avaliar a DMRA em três níveis distintos, supraumbi- lical, umbilical e infraumbilical. Desse modo, acredita-se ser importante averiguar valores específicos para as mulhe- res dessa região, uma vez que os resultados encontrados podem diferir de outras loca- lidades em virtude de o Brasil ser conside- rado um país com dimensões continentais que apresenta população com condições distintas de etnias e miscigenações. Nesse sentido, o presente estudo teve como obje- tivo determinar a prevalência da DMRA em mulheres primíparas e multíparas subme- tidas ao parto vaginal durante o puerpério imediato em um município do interior de Pernambuco-PE. Métodos Trata-se de um estudo descritivo do tipo transversal, realizado no período de agosto a novembro de 2012, com mulheres que se encontravam no puerpério imediato e assis- tidas na enfermaria do alojamento conjun- to do Hospital Dom Malan, localizado no município de Petrolina. O hospital integra a rede estadual de saúde de Pernambuco e presta assistência à população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e atende exclusivamente à saúde da mulher e criança. Em média, estima-se que são realizados 183 partos normais mensais. Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 16, n. 42, p. 35-45, jan.-abr. 201638 Foram incluídos dados de mulheres pri- míparas e multíparas submetidas exclusiva- mente ao parto vaginal, respeitando um pe- ríodo de descanso de seis horas pós-parto; que falassem e entendessem a língua portu- guesa. Foram excluídas as parturientes que foram submetidas à cesárea anterior, parto múltiplo, obesidade e que possuíam quais- quer patologias associadas à gravidez como poliidrâmnio, macrossomia fetal, hiperten- são arterial induzida pela gravidez (HAIG), previamente diagnosticadas pela equipe médica durante a gestação atual e anteriores e que estivessem com os dados do prontuá- rio incompletos. O processo de seleção e nú- mero total de participantes do estudo pode ser visto na figura 1. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universi- dade de Pernambuco CEP-UPE sob CAAE 02637712.0.0000.5207. Todas as mulheres que concordaram em participar da pesquisa leram e assinaram o Termo de Consentimen- to Livre e Esclarecido, segundo a resolução n. 466/12, do Conselho Nacional da Saúde. Inicialmente, foi desenvolvido um estudo piloto, no qual foram avaliadas 20 mulheres durante o puerpério imediato. Essa etapa teve o intuito de verificar possíveis problemas de validade do instrumento de coleta, da técnica empregada e realizar treinamento dos pes- quisadores. A mensuração e a avaliação dos dados tanto do estudo piloto quanto da coleta foram realizadas por duas pesquisadoras. Figura 1. Diagrama de elegibilidade da amostra. Sáude em Revista Prevalência de diástase abdominal Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. 39 Os dados que constavam nos pron- tuários foram transcritos para uma ficha de avaliação elaborada previamente pelos pesquisadores que constava de anamnese, história pregressa, informações sociodemo- gráficas, massa corporal e estatura, antece- dentes obstétricos e exame físico da pacien- te. Os valores referentes ao índice de massa corporal (IMC) das mulheres foram basea- dos nos registros de massa corporal e esta- tura registrados no prontuário ou no cartão de pré-natal da gestante. Foram registrados os dados referentes à DMRA supraumbilical, umbilical e in- fraumbilical. A mensuração da DMRA foi feita com as mulheres no leito, na posição supina, com quadris e joelhos fletidos, pés apoiados e braços estendidos ao longo do corpo. Solicitou-se nesse posicionamento a flexão anterior do tronco até que o ângulo inferior da escápula estivesse fora do leito.3 Os três pontos de referência para a mensuração da DMRA foram: 4,5 cm aci- ma e abaixo da cicatriz umbilical e na região umbilical.5,25 A mensuração foi feita no mo- mento em que a mulher realizava a flexão anterior do tronco. Para isso, a avaliadora posicionava os dedos perpendicularmente entre as bordas médias dos músculos retos abdominais.3 A diástase foi graduada pelo número de dedos (polpas digitais) que pudessem ser inseridas entre as bordas mediais dos mús- culos retos abdominais nos pontos de refe- rência. Definiu-se neste estudo o valor de 1,5 cm para cada dedo, conforme descrito na literatura.22,26 Foi considerada a presença de DMRA significativa quando ocorreu um afastamento maior que 3 cm entre as bordas mediais dos reto abdominais.20 Para o cálculo do tamanho da amostra foi empregado o programa WinPepi consi- derando a estatística bilateral com α=0,05 e poder de 95%. Foi avaliada a população total no período da coleta de 550 puérpe- ras, proporção estimada de prevalência de DMRA supraumbilical no puerpério ime- diato de 68%,26 precisão absoluta de 5% e perda de 20%, sendo sugerida amostra de 261 mulheres no período de três meses de coleta de dados. Ao chegarem ao setor, as pesquisadoras selecionavam os prontuários das parturien- tes que atendiam aos critérios de inclusão do estudo e realizavam por meio de sorteio simples a escolha de pelo menos três mulhe- res para a avaliação diária. Os dados foram processados e analisa- dos utilizando os programas Statistical Pa- ckage for the Social Sciences (SPSS), versão 20 por meio de digitação dupla, sendo em- pregada a estatística descritiva com medidas de tendência central, dispersão, frequências absolutas e relativas. Inicialmente, foi veri- ficada a normalidade dos dados contínuos pelo teste Kolmogorov-Smirnov e a partir da distribuição normal foi empregado o teste t para amostras independentes. Foram calculadas possíveis associações por meio do teste Qui-Quadrado para os dados ca- tegóricos. Em todas as análises foi adotado nível de significância de p < 0,05. Intervalos de confiança (IC95%) quando determina- dos foram exatos. Resultados A amostra foi composta por 261 mulhe- res, sendo avaliadas 143 primíparas (54,8%) e 118 multíparas (45,2%). Na tabela 1, podem Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 16, n. 42, p. 35-45, jan.-abr. 201640 ser visualizados os dados referentes à idade, idade gestacional no momento da admissão e IMC das mulheres participantes. Constata-se que houve diferença estatística significativa en- tre a paridade e a idade, com maior idade entre as mulheres multíparas. Não foram observadas diferenças estatísticas para as variáveis IMC e idade gestacional. Tabela 1. Comparação entre mulheres primíparas e multíparas em relação ao IMC, idade e idade gestacional no momento da admissão. Variáveis Primíparas Média ± DP Multíparas Média ± DP Valor de p Índice de massa corporal (Kg/m2) 26,61 ± 4,43 27,55 ± 4,02 0,088 Idade (anos) 20,51 ± 4,58 27,66 ± 6,15 < 0,001* IdadeGestacional (semanas) 37,59 ± 2,98 37,95 ± 4,11 0,465 *Teste t para amostras independentes, p ≤ 0,05. Em relação ao perfil sociodemográfico, observa-se que não houve diferença estatística entre os grupos na maioria das variáveis analisadas, com exceção da variável ocupação, que apresentou diferença, sendo observado que grande parte das mulheres multíparas tinha trabalho não remunerado (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição das características sociodemográficas das mulheres avaliadas. Variáveis Total n(%) Primíparas n(%) Multíparas n(%) Valor de p Anos de estudo Até 8 anos 255(97,7) 140(97,9) 115(97,5) 1,000 0,471 < 0,001* 0,415 Acima de 8 anos 6(2,3) 3(2,1) 3(2,5) Etnia Branco Negro/Pardo Amarelo Índio Ocupação Remunerada Não remunerada Parceiro Sim Não 44(16,9) 209(80,1) 6(2,3) 2(0,8) 139(53,3) 122(46,7) 187(71,6) 74(28,4) 24(16,8) 113(79,0) 4(2,8) 2(1,4) 90(62,9) 53(37,1) 99(69,2) 44(30,8) 20(16,9) 96(81,4) 2(1,7) ------ 49(41,5) 69(58,5) 88(74,6) 30(25,4) *Teste Qui-Quadrado, p ≤ 0,05 Sáude em Revista Prevalência de diástase abdominal Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. 41 Quanto à prevalência da DMRA, constata-se que foi elevada tanto em primíparas quan- to em multíparas. Maiores valores foram observados em nível supraumbilical e umbilical, com menor prevalência infraumbilical (Tabela 3). Tabela 3. Distribuição da prevalência da DMRA supraumbilical, umbilical e infraumbilical nas mulheres primíparas e multíparas avaliadas. DMRA cm Total n(%) Primípa- ras n(%) Multípa- ras n(%) Valor de p Supraumbilical <3cm ≥3cm 13(5,0) 248(95,0) 9(6,3) 134(93,7) 4(3,4) 114(96,6) 0,743 Umbilical <3cm ≥3cm 28(10,7) 233(89,3) 17(11,9) 126(88,1) 11(9,3) 107(90,7) 0,850 Infraumbilical <3cm ≥3cm 146(55,9) 115(44,1) 83(58,0) 60(42,0) 63(53,4) 55(46,6) 0,762 DMRA, diástase do músculo reto abdominal. IC, intervalo de confiança. Na comparação das médias entre as mulheres primíparas e multíparas, pode-se obser- var que houve diferença estatística significativa na DMRA umbilical e infraumbilical, não sendo verificada diferença estatística significativa em supraumbilical (Tabela 4). Tabela 4. Comparação entre mulheres primíparas e multíparas em relação à DMRA su- praumbilical, umbilical e infraumbilical. DMRA (cm) Total Média ± DP Primíparas Média ± DP Multíparas Média ± DP Valor de P Supraumbilical 4,23 ± 1,34 4,11 ±1,36 4,39 ± 1,31 0,092 Umbilical 3,44 ± 1,11 3,30 ±1,09 3,61 ± 1,12 0,028* Infraumbilical 2,20 ± 1,20 2,07 ±1,20 2,37 ± 1,19 0,050* DMRA, diástase do músculo reto abdominal. *Teste t para amostras independentes, p ≤ 0,05. Não foram observadas associações entre a variável IMC e DMRA supraumbilical (p > 0,911), umbilical (p > 0,996) e infraumbilical (p > 0,591). Da mesma forma, também não se verificou associações entre a idade e a DMRA supraumbilical (p > 0,918), umbilical (p > 0,230) e infraumbilical (p > 0,178). Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 16, n. 42, p. 35-45, jan.-abr. 201642 discussão O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da DMRA em mulheres pri- míparas e multíparas no puerpério imedia- to. Com base nos resultados, verificou-se elevada a prevalência de DMRA na amos- tra estudada, contudo, não foi observada diferença na prevalência na comparação entre primíparas e multíparas. A prevalência de DMRA no presente estudo foi elevada corroborando os achados da literatura.4,5,22,26 Estudos têm relatado que a DMRA pode variar entre 30% a 70% em mulheres durante a gravidez, podendo man- ter a separação em 34,9%5 a 60% das mulhe- res durante o puerpério imediato.4,5 Porém, essa condição também pode ser encontrada em 52% das pacientes de uroginecologia que estão na menopausa.22 As prevalências de DMRA supraumbilical (95%) e infraumbili- cal (44,1%) foram superiores quanto às ob- servadas por outros autores, como Rett et al.26 e Boissonault e Blaschack,5 que encontraram, respectivamente, frequências de diástase su- praumbilical e infraumbilical de 68% e 25% e de 46% e 0% no puerpério imediato. Vale salientar, no entanto, que Boisso- nault e Blaschack5 analisaram os dados em diferentes momentos, dividindo as partici- pantes em cinco grupos distintos, compostos pelos três trimestres gestacionais, puerpério imediato e remoto, verificando prevalência de DMRA supraumbilical e infraumbilical de 36% e 11% respectivamente, com maior predominância no terceiro trimestre e puer- pério imediato. Desse modo, acredita-se que a disparida- de de valores encontradas por esses autores5 pode ser decorrente dos diferentes métodos adotados, visto que foram avaliadas exclusi- vamente primíparas. Além disso, o grupo de mulheres que se encontravam no puerpério imediato foi composto por apenas 15 volun- tárias, o que limita qualquer extrapolação dos resultados para outras amostras. Em relação aos dados de Rett et al.,26 apesar da metodologia ter sido semelhante ao presente estudo, o fato da mensuração da DMRA ter sido feita por vários avaliadores pode ter ocasionado maior variabilidade da medida, dificultando comparações. Estudo recente23 desenvolvido em Ara- caju, Sergipe, no qual a avaliação da DMRA foi realizada por uma única pesquisadora, verificou maiores prevalências, com 74,8% em primíparas e 76,6% em multíparas em nível supraumbilical. Nesse sentido, pode-se inferir que as mulheres da região Nordeste têm uma tendência a apresentar maiores prevalências de DMRA quando comparado com outras localidades brasileiras. Contudo, é necessária a realização de outros estudos que avaliem e comparem fatores como etnia e ocupação em regiões distintas para eluci- dar tal hipótese. Na maioria dos casos, a separação dos músculos retos abdominais é perceptível, podendo variar de 2 cm a 10 cm.3 No pre- sente estudo, as médias da DMRA respecti- vamente supraumbilical e infraumbilical de primíparas (4,11 cm e 2,07 cm) e multíparas (4,39 cm e 2,37 cm) foram maiores que as observadas por outros autores,26 que relata- ram médias de 2,7 cm e 1,4 cm em primí- paras e de 2,8 cm e 1,6 cm em multíparas. Na literatura, são relatados diferentes méto- dos de aferição e maneiras de graduação da DMRA, por consequência, sua prevalência torna-se variável. Porém, não há um con- Sáude em Revista Prevalência de diástase abdominal Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. 43 senso quanto ao valor numérico exato em que se poderia considerar relevante,26 em decorrência de não haver padronização en- tre os critérios de avaliação adotados.14,24 Neste estudo, tanto as prevalências quanto as médias da DMRA supraumbili- cal foram maiores quando comparados com umbilical e infraumbilical tanto em mulhe- res primíparas quanto multíparas, fato que corrobora com os resultados de outros estu- dos.24,26 Tal situação pode ser explicada pela diferença anatômica entre as disposições das fáscias que recobrem o reto abdominal, ou seja, a composição da bainha do reto modifica-se de acordo com o nível da pa- rede do abdome, dessa maneira, na porção final a disposição aponeurótica é diferente, evitando o afastamento.27 Quanto aos valores das médias de DMRA encontradas terem sido maiores, acredita-se que possivelmente tal situação se deve às condições étnicas, visto que ne- gros poderiam apresentar maiores valores de diástase,5 e o maior percentual de mulheres do estudo declarou-se como parda ou negra, condições que podem ter influenciado os re- sultados. Contudo, para se inferir sobre esse dado, são necessários estudos futuros que tenham como intuito avaliar a influência da etnia na presença da DMRA, uma vez queesse não foi o objetivo do presente estudo. Também verificou-se diferença na com- paração entre as médias da DMRA umbi- lical e infraumbilical das mulheres primí- paras e multíparas. Tal resultado pode ser explicado em decorrência de as mulheres que apresentam maior número de gestações e partos terem maiores chances de desen- volverem DMRA12 em razão da multipari- dade favorecer o estresse mecânico cumula- tivo na musculatura da parede abdominal.3 Ainda, encontrou-se diferença entre idade e paridade, fato que já era esperado em decorrência das primíparas geralmente serem mais jovens. Por outro lado, não se observaram associações entre IMC e idade com a presença da DMRA supraumbilical, umbilical e infraumbilical, indo ao encontro de estudos prévios.24,26 Todavia, não foi observada diferença significativa entre a paridade e a DMRA su- praumbilical, assim como relatado por ou- tros estudos,23,24,26 que também encontraram distâncias similares entre mulheres primí- paras e multíparas, embora nas multíparas tenha ocorrido uma tendência a maiores valores de afastamento. Tal fato provavel- mente pode ser justificado em decorrência da fraqueza abdominal pré-gestacional pre- sente nos dois grupos ou pelo efeito apenas da última gestação.23 Algumas limitações no presente estudo incluem o uso da técnica de mensuração das polpas digitais, a qual pode ser considera- da questionável por alguns autores devido à subjetividade da medida3,4 decorrente da possível variação anatômica dos dedos dos avaliadores; a avaliação da DMRA apenas no puerpério imediato; e o fato de não ter se avaliado o parto cesáreo nem a influência de variáveis fetais e da prática atividade física. Contudo, cabe salientar que ainda são escassos os estudos que avaliaram a con- fiabilidade interexaminadores da técnica das polpas digitais, sendo encontrado na literatura apenas um trabalho que avaliou exclusivamente esse método.4,16 Além dis- so, normalmente essa técnica é o método mais empregado na mensuração clínica da DMRA.6 Ana Carolina Rodarti Pitangui et al. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 16, n. 42, p. 35-45, jan.-abr. 201644 Estudo recente desenvolvido por Mota et al.16 comparou a confiabilidade da técnica das polpas digitais com o US e concluiu que esse método apresenta boa confiabilidade intraexaminador e moderada interexamina- dor para avaliar a distância inter-retos. Ain- da, é uma técnica de fácil execução, baixo custo e que não depende de um instrumento externo de avaliação,6 sendo portanto, indi- cado seu uso na prática clínica,16 principal- mente em locais que não possuem outros instrumentos de avaliação, uma vez que a sua aplicação contribui para o diagnóstico precoce da DMRA. Assim, sugere-se o desenvolvimento de estudos que tenham como intuito determi- nar a prevalência da DMRA em diferentes períodos puerperais, comparando a confiabi- lidade de diferentes métodos de mensuração, em mulheres submetidas a diferentes vias de parto, que incluam variáveis fetais e prática de atividade física. Diante dos achados do presente estudo e das diversas repercussões negativas que a DMRA pode ocasionar na vida das mulheres, como a diminuição da au- toestima e de consequências biomecânicas21 como lombalgias14 e fraqueza dos múscu- los do assoalho pélvico,22 espera-se que este trabalho possa contribuir na definição de padrões para as mulheres da região avaliada e auxilie na prática clínica com a indicação precoce de medidas de diagnóstico, preven- ção e tratamento da DMRA. Conclusão A prevalência de DMRA foi elevada tanto em primíparas quanto em multíparas, porém, maiores valores de afastamento dos músculos retos abdominais foram observa- dos na supraumbilical e umbilical, quando comparados com a infraumbilical. Referências 1. Ireland ML, Ott SM. The effects of pregnancy on the musculoskeletal system. Clin. orthop. Relat. Res., 2000; (372): 169-79. 2. Pitangui ACR, Sousa L., Ferreira CHJ, Gomes FA, Nakano AMS. 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