Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REABILITAÇÃO • Malformação congênita induzida por isotretinoína • Fisioterapia e mielomeningocele CARDIORRESPIRATÓRIO • CPAP na reversão a atelectasia NEUROFUNCIONAL • Contensão induzida no membro superior em paralisia cerebral • Análise da marcha em paciente pós-AVE crônico • Neuralgia do trigêmeo ESPORTES • Força de preensão palmar em tenistas DOR LOMBAR • Dor lombar crônica e fatores psicossociais • Hidroterapia e dor lombarFi sio ter ap iaB r a s i l An o 1 5 - n o 4 ISSN 1518-9740 Ph ys ic al T he ra py B ra zi l Julho / Agosto de 2014 www.atlanticaeditora.com.br 15 anos Fisioterapia B rasil - V olum e 1 5 - N úm ero 4 - Julho/ A gosto de 2 0 1 4 Fisioterapia Brasil P h y s i c a l T h e r a p y B r a z i l (vol. 15, nº 4 julho/agosto 2014 - 241-320) EDITORIAL Novos trabalhos em avaliação e reabilitação, Jean-Louis Peytavin ............................................................................................. 243 ARTIGOS ORIGINAIS Comparação da força de preensão palmar e de pinça do membro dominante e não dominante de tenistas, Amir C. Reis, Andre Serra Bley, Nayra Deise Dos Anjos Rabelo, Andreia Basta, Thiago Y. Fukuda, Samuel Lodovichi, Angelica Castilho Alonso, Paulo Roberto Garcia Lucareli ................................................. 244 Acurácia e concordância entre medidas de área de úlceras por pressão aferidas pelos softwares AutoCad® e ImageJ®, Ana Loren Martins de Melo e Silva, Eylane Jorge Duarte, Levy Aniceto Santana, Renato da Veiga Guadagnin, Lourdes Mattos Brasil, Rinaldo de Souza Neves ............................................................................. 248 Efeitos da microcorrente sobre o tecido conjuntivo de ratos Wistar, Rodrigo Marcel Valentim da Silva, Diego Robson de Lima Cruz, Eduardo Gomes de Sousa Neto, Hennes Gentil de Araújo, Ludmila Lopes Trindade, Janaína Maria Dantas Pinto, Patrícia Froes Meyer, Maria Goretti Freire de Carvalho, Oscar Ariel Ronzio ................................................................................................................. 253 Equilíbrio corporal estático e risco de queda em idosas com incontinência urinária de esforço, Juliana Falcão Padilha, Melissa Medeiros Braz, Enio Júnior Seidel, Sinara Porolnik, Carlos Bolli Mota ........................................ 257 Análise da hidroterapia em mulheres com dor lombar e relação com as atividades da vida diária, Cícero Anderson Braga de Santana, Silvana Mara Rocha Sydney Montenegro, Cleber Soares Pimenta Costa, José Evaldo Gonçalves Lopes Junior .............................................................................................. 263 A efetividade da terapia por contensão induzida no membro superior de pacientes com paralisia cerebral, Talita Oliveira de Paula, Gisele Tioko Nagano, Gisele Neves de Lima, Juliana Firmo dos Santos, Ana Carolina Rodrigues da Silva ......................................................................................................... 269 Correlação entre relato de dor lombar crônica, fatores psicossociais e capacidade física em idosos comunitários, Alice Iolanda Pereira Silveira, Josiane Aparecida Oliveira, Patricia Thais Coelho Silva, Renata Antunes Lope, Marlete Melo Coelho ............................................................................................................................... 277 RELATOS DE CASO Método Halliwick: uma proposta fisioterapêutica na malformação congênita induzida por isotretinoína, Elizabeth do Canto Brancher, Rogiane Resta Rodrigues, Pedro Silvelo Franco, Emmanuel Souza da Rocha, Álvaro Machado, Eloá Maria dos Santos Chiquetti, Felipe P Carpes, Rodrigo de Souza Balk ................................................................................................................................................................ 283 Aplicação da pressão positiva contínua na via aérea (CPAP) como exercício respiratório na reversão de atelectasia em RNPT, Luciana Carnevalli Pereira, Évelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Apoana Gomes Flori, Lisandra Cruz Ribeiro, Cristiane Aparecida Moran ................................................................................... 289 REVISÕES Liberação miofascial em pacientes com mastectomia, Angélica Trevisan De Nardi, Daniel Dalla Nora, Gustavo do Nascimento Petter, Tarciso Silva Dos Santos, Melissa Medeiros Braz ......................................................................... 293 Intervenção fisioterápica em pessoas com mielomeningocele, Camila Miliani Capelini, Pâmmela de Oliveira, Carlos Bandeira de Melo Monteiro, Thais Massetti, Talita Dias da Silva, Daniella Garbellini .................... 298 Neuralgia do trigêmeo: uma revisão integrativa acerca da clínica médica, cirúrgica e fisioterapêutica, Gabrielly Fontenele dos Santos, Lysnara Rodrigues Barros Lial, Caio Cesar Menezes de Sousa, Rayele Pricila Moreira dos Santos, Dionis de Castro Dutra Machado, Marco Orsini, Victor Hugo do Vale Bastos ...................... 304 Qualidade de vida de pacientes sobreviventes a sepse, sepse grave e choque séptico avaliada por meio de duas escalas, Mayra Caleffi Pereira, Thiago Marraccini Nogueira da Cunha, Luciana Chiavegato, Jeanette Janaina Jaber Lucato ....................................................................................................................................................... 311 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................................. 318 EVENTOS ................................................................................................................................................................................ 320 © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, ele- trônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. Fisioterapia Brasil Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí) Grupo de assessores Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI– Rio de Janeiro) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br www.atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Diretor de Marketing e Publicidade Rainner Penteado rainner@atlanticaeditora.com.br Imprensa release@atlanticaeditora.com.br 243Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Editorial Novos trabalhos em avaliação e reabilitação Jean-Louis Peytavin Publicamos nesta edição muitas pesquisas em várias disciplinas da Fisioterapia. Em primeiro, um estudo sobre a assimetria da força entre mão dominante e não dominante no tenista, devida a uma equipe da Uninove, da Santa Casa de São Paulo e da USP que, além da evidência e das dificuldades intrínsecas de medidas desta assimetria, pode ser importante para avaliar e tratar as complicações clássicas desse esporte, como a epicondilite. A fisioterapia dermato-funcional está presente com vários estudos. A primeira (UCB) avalia o uso de programas de computadores para a medição da área de úlceras de pressão, e a segunda (Rio Grande do Norte), muito atual, objetiva em ratos os resultados das técnicas de rejuvenescimento facial usando o microcorrente e seus efeitos ainda pouco confirma- dos sobre as fibras elásticas, colágeno e fibroblastos. Dentre os trabalhos de fisioterapia neurofuncional, des- tacamos o estudo da equipe da AACD (São Paulo) sobre a terapia ainda pouca utilizada por contenção induzida do membro superior em crianças com paralisia cerebral, que mostra bons resultados. A dor lombar, suas causas e tratamentos, estão estudados em dois trabalhos; o primeiro, da Universidade de Itaúna, em comunidade de idosos, mostra o grau de correlação multifatorial, positiva ou negativa, entre a dor e a depressão, a catastrofização, o desempenho funcional, o nível escolar e a atividade física. Enfim esta edição apresenta trabalhos importantes sobre a reabilitação pos-mastectomia, a fisioterapia em pessoas com mielomeningocele, a neuralgia do trigêmeo e a malformação congênita induzida por isotretinína. Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014244 Comparação da força de preensão palmar e de pinça do membro dominante e não dominante de tenistas Grip and pinch strength comparison in dominant and non-dominant limbs in tennis players Amir C. Reis, Ft.*, André Serra Bley*, Nayra Deise Dos Anjos Rabelo*, Andréia Basta, Ft.**, Thiago Y. Fukuda, Ft.**, Samuel Lodovichi, Ft.***, Angelica Castilho Alonso, Ft.****, Paulo Roberto Garcia Lucareli, Ft.* *Laboratório de Análise do Movimento - Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo/SP, **Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo/SP, ***Especialista em Ortopedia pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo/SP, ****Laboratório do Estudo do Movimento (LEM), HC-FMUSP, São Paulo/SP Resumo Introdução: A mão e o punho são as articulações do membro superior que mais se movimentam, sendo responsáveis por grande parte da função do membro superior. Um dos esportes em que estas articulações mais são solicitadas é o tênis, que exige que todas as articulações do membro superior estejam em harmonia e, para isso, é necessário força muscular suficiente. Objetivos: Comparar a força de preensão palmar e pinça do membro dominante com o não dominante em atletas de tênis; correlacionar estas variáveis com tempo de prática, horas de treinos semanal e idade. Material e métodos: Foram selecionados 32 jogadores amadores do gênero masculino com média de idade de 38,6 anos para a mensuração da força de preensão palmar e pinça. Resultados: Houve uma assimetria significativa entre mão dominante e não dominante nas variáveis: força de preensão palmar e de pinça e não encontramos correlação entre a força de preensão palmar e pinça com o tempo de prática desportiva, idade e horas de treino semanal. Conclusão: A mão domi- nante apresenta valores maiores de preensão palmar e pinça, porém não há relação dessas variáveis com a prática esportiva. Palavras-chave: dinamômetro, força muscular, tênis. Artigo original Abstract Introduction: The hand and wrist are the joints of the upper limb that move more, being responsible for most of upper limb function. One of the sports that more requested these joints is the tennis, which requires that all joints of the upper limb are in har- mony and needs enough muscle strength. Objectives: To compare the grip and pinch strength of the dominant and non-dominant limb tennis players; to correlate these variables with practice time, weekly hours of practice and age. Methods: We selected 32 players male with a mean age of 38.6 years old for the grip and pinch strength measurement. Results: There was a significant asymmetry between the dominant and non-dominant variables: grip strength and pinch and we do not find a correlation between grip strength and pinch with a time of sport, age and hours of weekly training. Conclusion: The dominant hand shows higher values for grip and pinch, but there is no relationship of these variables with sports. Key-words: dynamometer, muscle strength, tennis. Recebido em 15 de março de 2013; aceito em 25 de abril de 2014. Endereço para correspondência: Amir Curcio dos Reis, Rua Santa Cruz, 1021/73C, Bairro Vila Mariana, São Paulo SP, E-mail: acrfisio@globo.com, plucareli@uninove.br 245Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Introdução O tênis é considerado uma modalidade esportiva extrema- mente assimétrica. As mãos são utilizadas com movimentos de alto grau de habilidade, força e resistência muscular, que unidos, permitem a obtenção de um bom desempenho [1]. De acordo com Skorodumova [2] diferenças unilaterais na força (membro dominante e não dominante) em atletas de di- ferentes modalidades pode surgir no decorrer dos anos devido à especificidade do treinamento sistemático, podendo refletir em ganhos ou diminuição do desempenho esportivo [3]. Dentre as características de uma partida de tênis, a força de preensão palmar necessária para segurar a raquete chama a atenção. Sabe-se que para manter essa posição contínua de preensão, é necessária uma função muscular adequada. [4,5]. A força de pinça (ou força de precisão) é uma força que envolve principalmente a borda radial da mão. Essa preen- são é requisitada sempre que há necessidade de movimentos precisos. A avaliação dessa força mede principalmente os músculos intrínsecos da mão, que são mais fracos, no entanto, mais precisos [6]. Já a força de preensão palmar é definida como atividades que geram ação dos dedos e polegar de encontro à palma da mão, com o propósito de transmitir força para um objeto [7]. Segundo Girard et al. [8], o aumento da força de preensão pal- mar correlacionou-se com o maior desempenho no membro dominante dos tenistas e no estudode Tsuji correlacionou-se com a maior densidade mineral óssea. Parece haver um consenso entre os pesquisadores que a força da mão dominante é aproximadamente 10% maior do que a mão não dominante e esta porcentagem é considerada normal [1,9-12]. No entanto, diferenças além dos 10% parecem ser mais acentuadas nos esportes de raquete, em que a predominância de um membro sobre o outro é muito grande [1]. Apesar da vasta literatura disponível avaliando a força de preensão palmar e força de pinça na população normal, poucos estudos analisam estas características nesta modalidade esportiva [4-5]. Estudos que têm como meta identificar o perfil físico de diferentes modalidades esportivas, considerando o nível dos atletas e outros fatores, permitem elaboração de um refe- rencial que pode ser utilizado como base para treinadores, preparadores físicos e outras pessoas da comissão técnica desenvolverem seu trabalho de diferentes maneiras, seja na detecção do talento esportivo, na avaliação do estado físico do atleta ou no controle do treinamento, além de auxiliarem os profissionais da área da medicina esportiva na recuperação de uma lesão. Dessa forma, acreditamos que um estudo direcionado para a mensuração dessas forças em atletas de tênis possa ajudar a conduzir o tratamento e prevenir lesões nesses atletas, uma vez que diferenças de forças geradas na articulação podem ser fatores predisponentes de lesão por sobrecarga local. Neste sentido, o objetivo da nossa pesquisa foi comparar a força de preensão palmar e de pinça em atletas de tênis do membro dominante com o não dominante. E correlacionar estas variáveis com tempo de prática, horas de treinos semanal e idade. Material e métodos Para a seleção e inclusão no estudo os jogadores deveriam ter um tempo mínimo de três anos de prática esportiva e não poderiam apresentar qualquer tipo de dor ou desconforto no momento da avaliação. Antes da execução da pesquisa, conforme resolução 196/96, para fins de apreciação dos aspectos éticos implicados em pesquisa com seres humanos, este projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Todos os sujeitos selecionados para o estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dando ciência que conheceram os procedimentos a serem realizados e que concordavam com os objetivos da pesquisa. A coleta dos dados foi registrada em uma ficha de avalia- ção elaborada e aplicada pelo pesquisador que consta em seu cabeçalho dados como idade, tempo de prática esportiva, mão dominante e mão que usa para jogar. No primeiro momento foi realizada a avaliação da força de preensão palmar através do dinamômetro Jamar, com mensuração em quilograma/força (kg/f ), ajustado na segunda posição, a qual é adotada pela Sociedade Americana de Terapeutas da Mão (SATM) [13-14]. Nesta etapa o paciente se posicionou da maneira sugerida por Caporrino, estando sentado com as costas apoiadas, quadris e joelhos fletidos a 90°, pés em contato com o solo, ombro em adução, cotovelo fletido a 90º, antebraço e punho em posição neutra. Foi então, solicitado que o atleta segurasse o dinamô- metro e apertasse com a maior força possível, alternando-se entre a mão direita e esquerda, respeitando um intervalo de um minuto entre as aferições, a fim de evitar fadiga muscular durante o teste [15,16]. Foram realizadas quatro aferições em cada mão. A primeira apenas para teste e familiarização com o dinamômetro e as res- tantes válidas, cujos resultados foram anotados separadamente após sua realização. Posteriormente, realizou-se a média das três aferições. A segunda etapa foi constituída pela avaliação da força de pinça através do dinamômetro Pinch, com o atleta na mesma posição anteriormente descrita, quando também foi solicitado ao mesmo que apertasse o dinamômetro com a maior força possível com a polpa dos dedos indicador e po- legar, também de maneira alternada entre direita e esquerda. Como na etapa anterior, foram realizadas quatro aferições, sendo a primeira como teste e as outras três válidas. Os resul- tados foram separadamente anotados em ficha de avaliação assim como realizado no primeiro momento. Para confiabilidade do autor em relação aos dois aparelhos utilizados na coleta dos dados, foram realizadas duas avaliações em 10 indivíduos com características semelhantes à da nossa Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014246 entre a força de preensão palmar e a epicondilite lateral do úmero tem sido proposta [19,20]. Essa lesão apresenta um grande tempo de afastamento da atividade esportiva do tenista [21] e, por isso, acredita-se que a avaliação desta variável tenha grande utilidade na avaliação desses atletas [19]. Em relação aos valores encontrados no nosso estudo, eles são muito superiores aos estudos de Gojanovic et al. [22] e Lucky e Nicolay [17] que avaliaram indivíduos mais jovens e Girard e Millet, [8] e Pereira et al. [18] que avaliaram ado- lescentes. Neste último estudo, observa-se que, no gênero masculino, a força de preensão palmar apresenta aumento pronunciado a partir dos 11 anos de idade. No presente estudo a diferença de força de preensão pal- mar entre os membros foi de 11,8%, diferindo dos valores encontrados por Lucky e Nicolay [17], em que o grupo mas- culino apresentou a força de pinça 25% maior no membro dominante quando comparado ao não dominante, porém os autores estudaram indivíduos entre oito e 18 anos, faixa etária diferente da nossa pesquisa. Como nos esportes de raquete existe o predomínio do uso de um membro em relação ao outro, trabalhos específicos para equilibrar os níveis de força entre os lados também devem ser desenvolvidos [1]. Na comparação da força de pinça, o lado dominante apre- sentou valores superiores, porém a porcentagem de diferença foi de apenas 2,45%, o que pode estar relacionada também ao aumento da força de preensão palmar dos tenistas, no entanto não encontramos na literatura tais dados. Os estudos com esta variável são em geral relacionados a doenças de punho e mão. A avaliação dessa força que mede os músculos intrínsecos da mão e envolve atividades menores e de precisão. Um dado interessante encontrado no presente estudo diz respeito à falta de relação significativa entre a força de preensão palmar e pinça com o tempo de prática desportiva, idade e horas de treino. Diferente do estudo de Moraes e Raimundo [3] no qual a prática superior a 20 anos aumentou a força de preensão palmar, nossos atletas eram amadores e tinham um tempo de prática menor, em torno de 9,65 anos. Reportando às informações encontradas na literatura, podemos perceber amostra, com dez dias de intervalo entre as duas avaliações, obtendo um índice de correlação intraclasse (ICC) de 0,92. Resultados A casuística foi composta dos 32 jogadores amadores do gênero masculino (tabela I). Tabela I - Caracterização da casuística. Média (dp) Variação Idade (anos) 38,6 (6,76) 25-45 Tempo de prática (anos) 9,65 (9,69) 6-40 Horas de treino/semana 2,5 (1,36) 1-7 Houve uma assimetria significativa entre mão dominante e não dominante nas variáveis: força de preensão palmar e de pinça (tabela II). Não foram encontradas correlação entre a força de pre- ensão palmar e de pinça com o tempo de prática desportiva, idade e horas de treino semanal (Tabela III). Discussão A força de preensão palmar é um dos elementos básicos na pesquisa das capacidades manipulativas, de força e de movimentos da mão, constituindo um importante parâmetro para a funcionalidade dessa articulação e tornando-se, desta forma, um interessante dado para estudo. Quando comparamos o membro dominante com o não dominante em atletas de tênis, observamos que existe um consenso na literatura, que afirma que existe uma assimetria entre a força de preensão de uma mão para a outra. Lucky e Nicolay [17] e Pereira et al. [18] afirmam que essa assime- triatem sido atribuída às características intrínsecas e a alta repetição do gesto esportivo realizado durante as partidas e os treinos, o que impede que o fisioterapeuta use o membro contralateral como referência durante um tratamento pós lesão no membro superior. Além disso, uma possível relação Tabela II - Comparação da força de preensão palmar e de pinça entre membro dominante versus não dominante nos jogadores de tênis. Dominante Não dominante p % diferença Força de preensão palmar 101,96 (19,9) 90,68 (18,67) 0,000 11,81 Força de pinça 18,63 (3,27) 17,50 (3,68) 0,027 2,45 Wilcoxon p ≤ 0,05 Tabela III - Correlação entre força de preensão palmar e pinça com tempo de prática, horas de treinos semanal e idade. Tempo de prática r(p) Horas de treino/sem r(p) Idade r(p) Força de preensão palmar Dominante -,033 (858) ,055 (,766) 154 (,399) Não dominante -,143 (434) -,028 (,879) ,228 (,209) Força de Pinça Dominante ,245 (,176) -,140 (445) ,068 (,710) Não dominante ,038 (,838) -,300 (,095) ,189 (,301) R = Coeficiente de Sperman; p ≤ 0,05 247Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 que a maior força necessária para a prática dessa modalidade esportiva não está localizada nas articulações do punho e da mão, que têm como principal função a de segurar/prender a raquete, e sim no ombro e cotovelo, de onde são originados a maioria dos movimentos durante uma partida de tênis [8,23,24]. A avaliação da força de preensão palmar e pinça nesses atletas pode nos auxiliar na elaboração de um tratamento específico, além de constituir uma importante estratégia na melhora do desempenho desses atletas em suas competições. Entretanto, com base nos próprios dados encontrados, acre- ditamos que a principal limitação do presente estudo seja a falta da mensuração de força da musculatura do ombro, articulação essa muito usada nessa prática esportiva. Dessa forma, sugerimos que novos estudos abordando essa temática sejam realizados. Conclusão Nos jogadores de tênis, a mão dominante apresentou valores significativamente maiores de preensão palmar e de pinça que a mão não dominante. A força de preensão palmar e de pinça não se relacionou com tempo de prática, horas de treino e idade na população estudada. Referências 1. Fernandes AA, Marins JCB. Teste de força de preensão manual: análise metodológica e dados normativos em atletas. Fisioter Mov 2011;24(3):567-78. 2. Skorodumov AP. Tênis de campo: treinamento de alto nível. Phorte: São Paulo;1998. 3. Moraes MG, Raimundo AKS. Análise da força de preensão palmar em tenistas participantes do torneio do Distrito Federal comparando os tipos de empunhaduras. Revista Digital EFDes- portes 2009;14:137. 4. Miller S. Modern tennis rackets, balls, and surfaces. Br J Sports Med 2006;40:401-5. 5. Fernandez J, Mendez-Villanueva A, Pluim BM. Intensity of tennis match play. Br J Sports Med 2006;40:387-91. 6. Araújo MP, Caporrino FA, Faloppa F, Albertoni WM. Estudo populacional das forças das pinças polpa-a-polpa, trípode e lateral. Rev Bras Ortop 2002;27:92-7. 7. Moreira D, Godoy JRP. Silva Junior, W. Estudo sobre a rea- lização da preensão palmar com a utilização do dinamôme- tro: considerações anatômicas e cinesiológicas. Fisioter Bras 2001;2:295-300. 8. Girard O, Girard O, Lattier G, Micallef JP, Millet CP. Changes in exercise characteristics, maximal voluntary contraction, and explosive strength during prolonged tennis playing. Br J Sports Med 2006;40:521-6. 9. Petersen P, Petrick M, Connor H, Conklin D. Grip strength and hand dominance: challenging the 10% rule. Am J Occup Ther 1989;43(7):444-7. 10. Crosby CA, Wehbé MA, Mawr B. Hand strength: normative values. J Hand Surg Am 1994;19(4):665-70. 11. Incel NA, Ceceli E, Durukan PB, Erdem HR, Yorgancioglu ZR. Grip strength: effect of hand dominance. Singapore Med J 2002;43(5):234-7. 12. Jarjour N, Lathrop JA, Meller TE, Roberts KS, Sopczak JM, Van Genderen KJ, et al. The 10% rule: grip strength and hand dominance in a factory population. Work 1997;8:83-91. 13. Boadella JM, Kuijer PP, Sluiter JK, Frings-Dresen MH. Effect of self-selected handgrip position on maximal handgrip strength. Arch Phys Med Rehab 2005; 86:328-31. 14. Jamar. Hydraulic hand dynamometer owner’s manual. Sammons Preston: Jamar; 2000. 15. Simard J, Chalifoux M, Fortin V, Archambault MJ, Gosselin AS, Desrosiers J. Could questions on activities of daily living estimate grip strength of older adults living independently in the community? J Aging Res 2012;2012:1-6. 16. Caporrino FA, Faloppa F, Santos JBG, Réssio C, Soares FHC, Nakachima LR, et. al. Estudo populacional da força de preensão palmar com dinamômetro Jamar. Rev Bras Ortop 1998;33:150-4. 17. Lucki NC, Nicolay CW. Phenotypic plasticity and functional asymmetry in response to grip forces exerted by intercollegiate tennis players. Am J Hum Biol 2007;19(4):566-77. 18. Pereira HM, Menacho MO, Takahashi RH, Cardoso JR. Força de preensão manual de atletas tenistas avaliada por diferentes re- comendações de teste. Rev Bras Med Esporte 2011;17(3):184-8. 19. Dorf ER, Chhabra AB, Golish SR, McGinty JL, Pannunzio ME. Effect of elbow position on grip strength in the evaluation of lateral epicondylitis. J Hand Surg Am 2007;32:882-6 20. Alizadehkhaiyat O, Fisher AC, Kemp GJ, Vishwanathan K, Frostick SP. Upper limb muscle imbalance in tennis elbow: a functional and electromyographic assessment. J Orthop Res 2007;25:1651-7. 21. Silva RT, Cohen M, Matsumoto MH, Gracitelli GC. Avaliação das lesões ortopédicas em tenistas amadores competitivos. Rev Bras Ortop 2005;40;270-9. 22. Gojanovic B, Waeber B, Gremion G, Liaudet L, Feihl F. Bi- lateral symmetry of radial pulse in high-level tennis players: implications for the validity of central aortic pulse wave analysis. J Hypertens 2009;27(8):1617-23. 23. Elliott B. Biomechanics and tennis. Br J Sports Med 2006;40:392-6. 24. Kibler WB, Chandler TJ, Shapiro R, Conuel M. Muscle acti- vation in coupled scapulohumeral motions in the high perfor- mance tennis serve. Br J Sports Med 2007;41:745-9. Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014248 Acurácia e concordância entre medidas de área de úlceras por pressão aferidas pelos softwares AutoCad® e ImageJ® Accuracy and agreement between measures of pressure ulcers area through softwares AutoCad® and ImageJ® Ana Loren Martins de Melo e Silva, Ft.*, Eylane Jorge Duarte, Ft.*, Levy Aniceto Santana, D.Sc.**, Renato da Veiga Guadagnin, D.Sc.**, Lourdes Mattos Brasil, D.Sc.***, Rinaldo de Souza Neves, D.Sc.**** *Universidade Católica de Brasília (UCB), **Docente da Universidade Católica de Brasília (UCB), ***Docente da Universidade de Brasília (UnB), ****Docente da Escola Superior em Ciências da Saúde (ESCS) Resumo O objetivo do presente estudo foi verificar a acurácia e a con- cordância entre as aferições computacionais dos softwares AutoCad® e ImageJ® para mensuração de áreas de Úlcera por Pressão (UP). Trata-se de um estudo transversal com a participação de 9 pacientes, com média de idade de 48,4 ± 21,4 anos. Os instrumentos utiliza- dos para o estudo foram uma câmera fotográfica semiprofissional e os softwares AutoCad® e ImageJ®. Os resultados mostraram uma diferença de 1,15 cm², demonstrando boa concordância entre as medidas de áreas registradas pelos softwares. Conclui-se que há uma excelente acurácia e concordância entre as medidas das áreas de UP avaliadas pelos softwares, corroborando a utilidade dos mesmos para a avaliação e acompanhamento de área de UP com segurança e precisão. Palavras-chave: úlcera por pressão, software, fotografia. Artigo original Abstract The aim of this study was to compare the measurements by computer software ImageJ® and AutoCad® for measuring areas of Pressure Ulcers (PU). This was a cross sectional study involving 9 patients, mean age 48.4 ± 21.4 years old. The instruments used for the study were a camera, ImageJ® and AutoCad® softwares.The results showed a difference of 1.15 cm² demonstrating good agre- ement between the measurements of areas recorded by softwares. We conclude that there is an excellent accuracy and concordance between measures of the PU areas assessed by the softwares, con- firming their usefulness for the evaluation and monitoring of PU area safely and accurately. Key-words: pressure ulcer, software, photography. Recebido em 1 de maio de 2013; aceito em 27 de junho de 2014. Endereço para correspondência: Levy Aniceto Santana, QS 07 Lote 01 EPCT, Águas Claras 71966-700 Taguatinga DF, E-mail: levy@ucb.br. 249Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Introdução Úlcera por Pressão (UP) é a lesão encontrada na pele e/ ou tecido subjacente geralmente sobre uma proeminência óssea, resultado da pressão, cisalhamento, fricção ou a com- binação desses três fatores [1]. A idade avançada, condições de mobilidade, comorbidade, hidratação, estado nutricional e nível de consciência são fatores internos, que predispõem à formação de UP [2]. A UP aparece com maior frequência em regiões da pele que há menor quantidade de tecido muscular e próxima às proeminências ósseas como sacro, grande trocânter, joelhos, maléolos laterais, coluna torácica, occipital, escápula, calca- nhares, epicôndilos laterais e tuberosidade isquiática [3]. São as principais causas do aumento da morbidade e mortalidade em pacientes acamados, portadores de doenças crônicas degenerativas e idosos, além de dificultar a recuperação do paciente, aumentando o risco de infecção e reduzindo sua independência funcional. O tratamento da UP representa também um importante fator de custo para o paciente e para os sistemas públicos e privados de saúde [4,5]. Na literatura internacional há estimativas da prevalência de UP nos pacientes internados de 3 a 14% [2]. Um estudo [5] recente identificou uma prevalência de 57,89% e uma in- cidência de 37,03% em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) adulto de um serviço de saúde pública do Distrito Federal. As UP podem ser classificadas de acordo com a profundi- dade, em relação à extensão da parede tissular envolvida, em graus de I a IV, sendo que o grau I se manifesta como uma área definida de hiperemia persistente; grau II como lesão parcial que compreende a epiderme, ou parte da derme ou ambas; o grau III como perda cutânea de espessura total envolven- do lesão ou necrose do tecido subcutâneo; o grau IV como destruição de todas as camadas da pele, tecido subcutâneo e muscular [6,7]. A medida das dimensões da UP é importante na avalia- ção e acompanhamento da evolução do tratamento de todos profissionais que atendem esse paciente, entre os quais, o fisioterapeuta que por meio de recursos físicos como o laser de baixa potência e a estimulação elétrica de alta voltagem atuam com objetivo de reduzir o tempo de cicatrização e os riscos de morbidade e mortalidade devido a essa afecção [8]. A área de uma UP pode ser avaliada por métodos simples e invasivos como uso de réguas ou decalque em material transparente, porém essas técnicas possuem baixa precisão e alto índice de contaminação. Já os métodos não invasivos por meio de captação de imagem digital e programas computa- cionais constituem uma categoria de avaliação mais precisa e mais confiável, com baixo custo, e sem grandes riscos de lesões teciduais e infecções [4,5,9]. Há também estudos baseados em análises fotográficas de imagens de UP capturadas por câmeras digitais padrão e sua área é calculada por softwares como o AutoCad®(Autodesk, Inc) [9,10] e o ImageJ® [11]. O software AutoCad® é comercial- mente disponível usado principalmente por engenheiros no cálculo de área física e que também tem sido frequentemente utilizado por profissionais da área da saúde para mensuração de área de UP em estudos com animais [12] e humanos [13,14], com a vantagem de realizar medidas de alta precisão e confiabilidade [15]. O software ImageJ®, desenvolvido por Wayne Rasband no National Institute of Health, é um programa Java de domí- nio público de processamento de imagem que é executado, ou como um applet em linha ou como um aplicativo para download, em qualquer computador com Java 1.4 ou mais recente. Ele pode calcular a área e estatísticas de valor de pixel em seleções definidas pelo usuário ou por filtro de cores e ainda medir distâncias e ângulos. O ImageJ® foi projetado com uma arquitetura aberta que fornece extensibilidade através de plugins Java e pode ser baixado gratuitamente diretamente do site http://rsbweb.nih.gov/ij/ [16]. Esse software tem sido utilizado para cálculo de área de UP apresentando excelentes resultados [11]. O software ImageJ® é de domínio público e de fácil ma- nuseio, porém ainda pouco conhecido. Já o AutoCad®, além de ter um custo e necessitar de um treinamento para o uso, é bem conhecido e com confiabilidade e precisão descritas na literatura, sendo que ambos podem ser utilizados para mensu- rar a área de UP. Entretanto, em recente revisão bibliográfica não foram encontrados estudos que tenham comparado o desempenho dos mesmos. Por isso, o objetivo do presente estudo foi verificar a acurácia e a concordância entre as afe- rições computacionais dos softwares AutoCad® e ImageJ® para mensuração de áreas de UP. Material e métodos Participantes Foi realizado um estudo transversal com a inclusão de pacientes portadores de lesão neurológica internados no período da coleta de dados na Unidade de Neurocirurgia do Hospital de Base do Distrito Federal, da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) com UP graus II, III e IV das regiões sacral, trocantérica, isquiática, calcâneo e maleolar. Foram excluídos do estudo os pacientes portadores de lesão cerebral que não estavam acompanhados por fami- liares, pois não eram aptos para preencher e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a participação no estudo. Após a aplicação dos critérios de in- clusão e exclusão, 9 pacientes foram selecionados, com média de idade de 48,4+21,4 anos, totalizando 15 UP (Tabela I). O protocolo experimental do presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde sob o Nº CEP/FEPECS 196/2012. Todos os acompanhantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido e receberam informações sobre o objetivo do estudo. Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014250 mensão vertical de forma análoga. Registro da quantidade de pixels; 4) Determinação do fator de ajuste horizontal/vertical. Esse fator decorre do ângulo de posicionamento da câmera. O conhecimento dos ângulos permite sua determinação como o inverso do cosseno do ângulo. Comparando-se esse valor com o fator de ajuste retirado da imagem pode-se obter um fator de correção da área medida pelo software. Feita essa correção pode-se comparar as áreas encontradas com as áreas reais dos objetos, obtendo-se uma medida de erro; 5) Inserção do fator de ajuste na escala; 6) Marcação da área da UP pelo contorno da borda com o mouse; 7) Medição da área. Para o cálculo das áreas pelo AutoCad®, as imagens das UP foram inseridas por meio dos comandos insert e raster image reference, com seleção da escala 1. Na área de trabalho do software, foi ampliado o tamanho da imagem, de modo a facilitar a demarcação do contorno. Foi selecionada a ferra- menta spline para delimitar o contorno do objeto padrão e da imagem de UP e, por meio do botão esquerdo do mouse, o avaliador marcou o contorno do objeto padrão e da imagem de UP, clicando em vários pontos sequencialmente. Ao se finalizar a demarcação, a tecla <enter> foi utilizada 3 vezes consecutivas, formando o contorno definitivo do desenho. Os comandos AA (area) <enter> e O (object) <enter> foram utilizados para a determinação da área do objeto padrão e da imagem de UP, em números decimais. Com as áreas obtidas, foi elaborada uma tabelano sof- tware Microsoft Excel contendo a identificação do paciente e a análise do objeto padrão e da UP de cada imagem em cada software. Considerando que a área do objeto padrão era conhecida (9 cm2), a área da UP em cm2 foi obtida por regra de três, por meio da seguinte equação: Instrumentos Durante os registros fotográficos das UP, os pacientes foram posicionados em decúbito lateral sendo utilizada uma câmera fotográfica semiprofissional da marca Canon mode- lo T3i- 18-55 mm, linha EOS Rebel, com resolução de 18 mega pixels registrando imagens de 5184 por 3456 pixels no formato jpeg sendo escolhida essa máquina por estar entre as melhores disponíveis no mercado atualmente. A câmera foi utilizada com flash desligado, posicionada perpendicularmente (inclinação de 0º) em relação ao leito da ferida para manter uniformidade das imagens e com distância de 30 cm da ferida, aferida por meio de régua plástica marca Stalo com 30 cm de comprimento e 1 mm de precisão. Foi colocado no campo da imagem da câmera e o mais próximo possível à ferida, um objeto quadrado com 3 cm de lado para referência métrica. Além disso, a ferida do paciente foi posi- cionada a favor da luz solar e as luzes artificiais do ambiente foram desligadas. Procedimentos de análise de dados As imagens em formato jpeg foram importadas pelos softwares AutoCad® versão 2010 e pelo ImageJ® versão 1.46r, instalados em um notebook marca Dell modelo Vostro 3450 com um mouse externo marca Microsoft modelo 1383. As áreas das imagens foram calculadas pelo software Ima- geJ® nos seguintes passos: 1) Abertura do arquivo da imagem; 2) Fixação da escala de dimensão horizontal, com indicação do comprimento conhecido do lado do quadrado (3 cm). Registro da quantidade de pixels; 3) Fixação da escala de di- Tabela I - Descrição da amostra. Paciente Idade (anos) Diagnóstico clínico Tempo de lesão (meses) Local da UP Grau da UP Tratamento 1 23 Tetraplegia nível C6 5 Isquiática III AGEMaleolar Calcâneo 2 68 Tetraplegia nível C5 3 Calcâneo II AGE, sulfadiazina de prata e colagenase 3 49 TCE 3 Sacral II Sulfadiazina de prata 4 26 Edema cerebral 5 Sacral IV AGE e colagenase 5 26 TCE 4 Sacral II Sulfadiazina de prata Trocantérica direita III AGE 6 84 AVEH 3 Sacral III AGE 7 67 Ventriculite cerebral 4 Sacral IV Sulfadiazina de prata 8 49 TCE 5 Maleolar III AGE Sacral IV AGE e colagenase Trocantérica direita III AGE Trocantérica esquerda III AGE 9 43 Pós operatório de craniotomia 4 Sacral II AGE Legenda: AGE = Ácidos Graxos Essenciais; TCE = Traumatismo Crânio Encefálico; AVEH = Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico. 251Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 UP (cm2) = Área da UP informada pelo software x 9 Área do objeto padrão informada pelo software O software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 para Windows, foi utilizado para calcular a es- tatística descritiva média e desvio padrão, incluindo o erro quadrático médio para verificar a acurácia entre as medidas calculadas pelos softwares ImageJ® e AutoCad® com nível de significância de 5%. Além disso, utilizou-se o gráfico de Bland e Altman para a verificação de concordância entre as medidas, seguindo o pressuposto na literatura [12]. Resultados A Tabela II apresenta as áreas das UP mensuradas pelos softwares e observa-se que as maiores diferenças percentuais foram encontradas nas menores UP (calcâneo do paciente 1 e sacral do paciente 9). Entretanto, o maior erro encontrado foi de 2,44% e o erro quadrático médio das diferenças foi de 1,45% demonstrando boa acurácia entre as medidas e valores de erros clinicamente insignificativos. Tabela II - Local das UP, áreas mensuradas pelos softwares e dife- rença percentual. Pa- cientes Local da UP Área (cm²) Diferença percentualAutoCad® ImageJ® 1 Isquiática 13,15 12,89 -1,98 Maleolar 2,82 2,87 1,77 Calcâneo 0,41 0,42 2,44 2 Calcâneo 6,05 5,95 -1,65 3 Sacral 14,68 14,43 -1,70 4 Sacral 16,98 16,84 -0,82 5 Sacral 1,46 1,45 -0,68 Trocantérica direita 8,13 8,20 0,86 6 Sacral 54,93 54,34 -1,07 7 Sacral 52,23 51,62 -1,17 8 Maleolar 4,90 4,95 1,02 Sacral 40,75 40,15 -1,47 Trocantérica direita 17,33 17,18 -0,87 Trocantérica esquerda 18,51 18,90 2,11 9 Sacral 5,12 5,23 2,15 O gráfico de Bland e Altman, com cálculo dos limites superior e inferior baseado na fórmula (média ± 2x desvio- -padrão), mostrou limite superior de 0,71 cm² e inferior de -0,44 cm², permitindo uma diferença de 1,15 cm² entre as medidas da área com o AutoCad® e o ImageJ® (Figura 1). A análise do gráfico de Bland e Altman demonstra, portanto, boa concordância entre as medidas de áreas registradas pelos softwares. Figura 1 - Gráfico de Bland e Altman para análise de concordância entre as medidas dos softwares ImageJ® e AutoCad®. -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 0 10 20 30 40 50 60 D ife re nç a en tre a s m ed id as (e m c m 2 ) Média das medidas (em cm2) Discussão Os resultados mostraram que as maiores diferenças foram observadas nas menores UP (Tabela II) e esse resultado corro- bora o descrito por Echeverria [9], Reis et al. [12] e Santana, Teixeira e Ribeiro [13], sendo justificado pelo fato que ao se utilizar a mesma resolução para todas as fotos, a quantidade de pixels é adequado ao tamanho dos objetos na imagem. Desse modo, imagens menores possuem menor quantidade de pixels e deslocamentos imprevistos do mouse na marcação da UP produzem maiores erros. Quanto ao erro quadrático médio, o valor foi baixo, clinicamente insignificativo e concordante com o descri- to por Reis et al. [12], ao comparar o desempenho dos softwares Motic® e AutoCad®, e constituem erros bem menores que os cometidos pelo método de mensuração de área com uso de régua utilizado atualmente pela maioria dos profissionais. A boa concordância demonstrada pelo gráfico de Bland e Altman (Figura 1) foi verificada também por Reis et al. [12] ao comparar os softwares Motic® e AutoCad® demonstrando que tantos esses quanto o ImageJ® podem ser utilizados para aferição de área de UP, entretanto o ImageJ® tem a vantagem de ser gratuito e de fácil manuseio. Um fator que pode ter influenciado no erro entre as medidas foi as marcações no sentido vertical e horizontal das áreas dos objetos conhecidos para a conversão dos valores de pixels para centímetros e as bordas das UP tanto no software ImageJ® quanto no AutoCad® terem sido feitas manualmente com uso do mouse e por isso dependeram da coordenação motora do operador. Estudo prévio [13] já referiu esse fator e para minimizá-lo recomenda que essa marcação seja feita sempre pelo mesmo sujeito. Essa recomendação foi seguida nesse estudo e por isso acredita-se que esse viés de aferição foi minimizado. Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014252 Sugere-se que estudos futuros implementem plugins ao software ImageJ® possibilitando o cálculo automático de área de UP pelo reconhecimento de cores. Conclusão Foram observadas excelente acurácia e concordância significativa entre as medidas das áreas de UP avaliadas pelos softwares ImageJ® e AutoCad®. Consequentemente, os resulta- dos deste estudo corroboram a utilidade desses softwares para a avaliação e acompanhamento de área de UP com segurança e precisão. Referências 1. European Pressure Ulcer Advisory Panel and National Pressure Ulcer Advisory Panel. Prevention and treatment of pressure ulcers: quick reference guide. Washington DC: National Pressure Ulcer Advisory Panel; 2009. 2. Lopes AG, Soares MC, Santana LA, Guadagnin RV, Neves RS. Aferição não-invasiva de úlcera por pressão simulada em modelo plano. Rev Bras Enferm 2009;62(2):200-3. 3. Chang AC, Greenwood JE. A comparison of wound area measurement techniques: visitrak versus photography. Eplasty 2011;11(18):158-66. 4. Ugail H. Partial differential equations for modelling wound geometry. Book Bioengineering Research of ChronicWounds. Springer Berlin Heidelberg 2009;1:1-32. 5. Matos LS, Duarte NLV, Minetto RC. Incidência e prevalência de úlcera por pressão no CTI de um Hospital Público do DF. Rev Eletr Enferm 2010;12(4):719-26. 6. Stausberg J, Kiefer E. Classification of pressure ulcers: a systematic literature review. Stud Health Technol Inform 2009;146:511-5. 7. Santana L, Guadagnin R, Reis CLD, Cavalcante, JM, Júnior EFR, Neves RS. Area evaluation using image processing tools: An applied study to pressure ulcer monitoring. Patt Recog Imag An 2010;20(2):220-4. 8. Silvestre JT, Holsbach DR. Atuação fisioterapêutica na úlcera de pressão: uma revisão de literatura. Rev Fafibe On-Line 2012;5(5). 9. Echeverría JM. Validación de un nuevo método de análisis digital de superficies. Cir Plas Iber Latin Am 2006;32(2):71-82. 10. Santana LA, Gomes FG, Kajiwara JK, Frade MAC. Quantifi- cação de Áreas de Úlceras de Perna através de um Programa de Análise de Imagem (Image J®). In: XI Congresso Brasileiro de Informática em Saúde, Campos do Jordão SP, 2008. 11. Gomes FG, Santana LA, Minatel DG, Frade MAC. Uso do software ImageJ® para análise clinico-fotográfica das úlceras. In: 5º Encontro de Bioengenharia São Carlos. Caderno de Resumos do 5º EncoBio. São Carlos: USP; 2005. 12. Reis CLD, Cavalcante JM, Junior EFR, Neves RS, Santana LA, Guadagnin RV, Brasil LM. Mensuração de área de úlceras por pressão por meio dos softwares Motic e do AutoCad®. Rev Bras Enferm 2012;65(2):304-8. 13. Santana LA, Teixeira APR, Ribeiro LFM. Avaliação de área de úlcera por pressão por meio de imagens captadas com telefone celular [TCE]. Brasília: Universidade Católica de Brasília; 2012. 14. Ferreira T, Rasband W. ImageJ® User Guide - IJ 1.45m. Dec 27 2011. [citado 2011 Jan 17]. Disponível em: URL: http:// ImageJ®.nih.gov/ij/docs/guide. 15. Terheyden H, Maune S, Mertens J, Hilberg O. Acoustic rhinometry: validation by three-dimensionally reconstructed computer tomographic scans. J Appl Physiol 2000;89:1013-21. 16. Hirakata VN, Camey AS. Análise de concordância entre méto- dos de bland-altman. Rev HCPA 2009;29(3):261-8. Mande seu artigo! Tel: (11) 3361-5595 | artigos@atlanticaeditora.com.br R e v i s t a B r a s i l e i r a d e F I S I O L O G I A do e x e r c í c i o Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y 253Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Efeitos da microcorrente sobre o tecido conjuntivo de ratos Wistar Effects of microcurrent on the connective tissue of Wistar rats Rodrigo Marcel Valentim da Silva, M.Sc.*, Diego Robson de Lima Cruz, Ft.**, Eduardo Gomes de Sousa Neto, Ft.**, Hennes Gentil de Araújo, Ft.**, Ludmila Lopes Trindade***, Janaína Maria Dantas Pinto, M.Sc.****, Patrícia Froes Meyer, D.Sc.*****, Maria Goretti Freire de Carvalho, D.Sc.******, Oscar Ariel Ronzio******* *Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, Natal/RN, **Universidade Potiguar (UnP), Natal/RN, ***Médica graduada pela Universidade Potiguar (UnP), Natal/RN, ****Especialista em Fisioterapia Respiratória pela Escola Paulis- ta de Medicina, Docente da Universidade Potiguar (UnP), Natal/RN, *****Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN), Natal/RN, ******Docente da Universidade Potiguar (UnP) e da Faculdade Natalense para Desenvolvimento do Rio Grande do Norte- (FARN) Natal/RN, ******Professora Adjunta do Curso de Medicina da Universidade Potiguar, *******Prof. Titular, Agentes Físicos Aplicados, Universidad Maimónides, Prof. Adjunto Interino, Fisioterapia 1 y 2, Universidad Favaloro, Prof. Adjunto, Agen- tes de Terapia Física, Universidad del Salvador, Prof. Adjunto, Kinefisiatría Computacional, Universidad Morón Resumo A terapia por microcorrente é utilizada no reparo tecidual e atualmente é aplicada no tratamento do envelhecimento cutâneo, em virtude dos seus prováveis efeitos sobre as fibras colágenas e elásticas. O objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos da microcorrente no tecido conjuntivo. A amostra consistiu de 15 ratos, da raça Wistar, selecionados aleatoriamente com peso entre 200 e 350 g. Foram divididos em 3 grupos de 5 animais, sendo o primeiro um grupo-controle (GC) que não recebeu aplicação, o segundo (GT 10) que recebeu 10 aplicações e o terceiro (GT 20) que recebeu 20 aplicações de microcorrente com os seguintes parâmetros: frequ- ência de 500 Hz, intensidade de 700 μA e tempo de aplicação de 30 minutos/dia. Na análise histológica, identificou-se um aumento significativo do número de fibras elásticas nos grupos tratados, quando comparado com o grupo controle. Na análise estatística a comparação do grupo controle com GT 10 e GT 20 observou-se que a região mais estimulada pela aplicação da microcorrente foi entre os eletrodos, comparado aos polos positivos e negativos. A aplicação de microcorrente foi eficaz em relação aos parâmetros analisados com um incremento significativo da produção de fibras elásticas. Palavras-chave: modalidades de fisioterapia, estimulação elétrica, tecido conjuntivo, fibras elásticas. Artigo original Abstract Microcurrent is used to repair tissue and nowadays is used as treatment of aging skin, due to its effect on the collagen and elastic fibers. The objective of this study was to investigate the effects of microcurrent on the connective tissue. The sample consisted of 15 Wistar rats, selected at random weighing between 200 and 350 g. Three groups of 5 animals were divided, the first was a control group (CG) who did not received treatment, the second (GT 10) received 10 sessions of microcurrent and the third (GT 20) received 20 ses- sions with the following parameters: 500 Hz, 700 μA intensity and exposure time of 30 minutes/day. Histological analysis identified a significant increase in the number of elastic fibers in the treated groups compared with the control group. Statistical analysis com- paring the control group with GT 10 and GT 20 revealed that the area most stimulated by the use of microcurrent was between the electrodes, compared to positive and negative poles. The micro- current was effective in relation to the analyzed parameters with a significant increase in elastic fibers production. Key-words: physical therapy modalities, electrical stimulation, tissue, elastic fibers. Recebido em 30 de julho de 2013; aceito em 9 de julho de 2014. Endereço para correspondência: Patrícia Froes Meyer, Rua Maxaranguape, 550/2603 Tirol 59020160 Natal RN, E-mail: marcelvalentim@hotmail. com, diegofisio@hotmail.com, jajafisio@hotmail.com Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014254 Introdução Com o processo de envelhecimento, as rugas aparecem de forma progressiva em virtude de uma frouxidão da junção dermo-epidérmica, a qual perde sua ancoragem e sua adesão com as fibras elásticas da derme superficial provocando uma subtensão na rede das fibras de colágeno [1]. Em consequ- ência aumenta-se a rigidez dos tecidos ocorrendo uma maior dificuldade para a difusão dos nutrientes a partir dos capilares para as células, o que ocasiona uma deterioração progressiva da função celular [2]. Em decorrência desse fato, a pele perde elasticidade causando alterações nas fibras colágenas e elásti- cas, além disso, a atividade do fibroblasto é diminuída, com consequente redução da síntese de colágeno [3,4]. Nos últimos anos, o desenvolvimento de estudos sobre o envelhecimento facial tem estimulado o conhecimento sobre os aspectos clínicos funcionais decorrentes deste processo. A fisioterapia dermato-funcional possui diversas modalidades terapêuticas para estes fins como a microcorrente, utilizadas frequentemente no processo de reparo tecidual, mas que atualmente trata-se de um recurso frequentemente utilizado na prática clínica no tratamento de envelhecimento cutâneo, desde sua utilização domiciliar através de aparelhos portáteis até seu usoem clínicas de estética [5,6]. A microcorrente consiste em uma corrente de baixa am- peragem que induz a síntese proteica e que é capaz de acelerar em até 500% a produção do trifosfato de adenosina (ATP), sendo essa molécula a grande responsável pela síntese proteica e regeneração tecidual devido a sua participação em todos os processos energéticos da célula [7,8]. Diversos estudos têm mostrado que o crescimento do número de fibroblastos e o alinhamento das fibras de colágeno foram incrementados com a estimulação de microcorrentes e que a resposta máxima dos fibroblastos foi observada nas proximidades do catodo. Ainda, a excitação elétrica de uma ferida aumenta a concentração de receptores de fator de crescimento que aumenta a formação de colágeno [9-11]. Qualquer que seja a indicação da microcorrente deve-se buscar a capacitância, princípio fundamental no processo de sobrevivência celular. Mas quando se considera um quadro de lesão tecidual, vale salientar que as respostas físicas e biológicas do tecido são diferentes das respostas de uma pele íntegra, sem qualquer tipo de lesão. Baseado neste princípio, verifica-se um grande número de pesquisas voltadas para conhecimento e melhora do tratamento de feridas, ou seja, a utilização das microcorrentes no processo de reparação tecidual [12-15]. A demonstração de indução da proliferação de fibroblas- tos após o uso da microcorrentes em feridas desencadeou a ideia de uma ação de estimular os fibroblastos em um tecido normal, como acontece em casos de utilização das microcor- rentes no processo de rejuvenescimento [3,9,10]. A partir deste fato, este estudo investiga os efeitos da microcorrente no tecido dérmico íntegro em animais que não sofreram lesão tecidual, observando as possíveis mudanças nas fibras colágenas e elásticas como possíveis formações de neocolágeno ou maior quantidade de fibras elásticas, buscando investigar se a ação da microcorrente é efetiva em tratamentos de re- juvenescimento facial a partir de seus efeitos sobre o tecido conjuntivo [5,13,14]. Material e métodos Trata-se de um estudo experimental, cujos procedimen- tos tiveram início após a aprovação pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Potiguar-UnP de acordo com o pro- tocolo de número 298/2009. A amostra foi composta por 15 ratos, da raça Wistar, Rattus Norvegicus albinus, selecionados de forma aleatória com peso entre 200 e 350 g. Os animais tiveram origem do Biotério da Universidade Potiguar (UnP) e foram mantidos durante os protocolos experimentais no mesmo ambiente, temperatura média de 28 °C e iluminação controlada, mínimo de ruídos, com mesmo ciclo biológico com fotoperíodo de 12 horas claro e 12 horas escuro, confi- nados em gaiolas individuais forradas com maravalha, onde receberam água e ração comercial “ad libitum”, sendo a apli- cação da terapia realizada no turno vespertino. Os 15 ratos foram divididos em 3 grupos de 5 espécimes, no qual o primeiro grupo (GC) foi o grupo-controle, que não recebeu tratamento, o segundo grupo (GT-10) recebeu 10 e o terceiro grupo (GT-20) recebeu 20 aplicações de microcorrente. Para a realização do experimento, inicialmente, foi re- alizada anestesia mediante o uso do anestésico dissociativo (Zoletil®50) por via intramuscular (IM) aplicado no quadrí- ceps esquerdo de cada animal. A dosagem do anestésico foi calculada de acordo com o peso do animal, sendo o valor de 15,0/30,0 mg/kg. No primeiro dia, após a anestesia, os animais foram submetidos à tricotomia da região dorsal, marcação e pesagem. Para a aplicação, foi empregado um gerador de microcor- rente, da marca Ibramed (Brasil). Primeiramente, ele passou por uma aferição dos parâmetros de voltagem e amperagem. A pesquisa foi realizada utilizando 2 (dois) eletrodos de si- licone carbono com 4 cm² de área, que eram acoplados no dorso dos animais com gel, mantendo uma distância de 5 cm entre os mesmos, e fixados com fita adesiva. Os ratos eram colocados em um contensor de polipropileno, para minimizar o manuseio e o estresse do animal. Para todo o tratamento foi preconizado um tempo de 30 minutos, com frequência de 500 Hz e intensidade de 700 μA, uma vez ao dia, 7 dias na semana, até completar o número total de sessões de cada grupo. Após o período de tratamento, os animais foram sacri- ficados em uma câmara de gás de dióxido de carbono (CO2). Após o fim das aplicações, foram retiradas amostras da superfície da pele (área: 1 cm2) dos animais. Para correta in- terpretação dos resultados foram coletados os tecidos da área abaixo dos eletrodos com 10 (GT-10-A) e 20 dias (GT-20-A) 255Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Figura 1 - Análise histológica da quantidade de fibras elásticas entre os grupos controle e tratado com 20 sessões. (A) Grupo Controle; (B) Grupo Tratado; 20 dias de aplicação; Foto- micrografia com coloração de Verhoff, aumento de 400 x. As setas indicam as regiões com fibras elásticas. Tabela II - Comparações da quantidade de fibras elásticas observa- das nos diferentes grupos na região dos eletrodos ou entre os eletrodos. Comparação Diferença P value Signifi- cativo Controle vs. GT-10-A -8.700 0,06 ns Controle vs. GT-10-B -10.500 0,05 ns Controle vs. GT-20-A -8.600 0,06 ns Controle vs. GT-20-B -11.700 0,03 s* GT: Grupo Tratado A: Área abaixo dos eletrodos. B: Área entre os eletrodos. Utilizou-se teste estatístico Kruskal-Wallis con Dunn post-test. *Diferença estatística significativa (p < 0,05). A Figura 2 apresenta os valores médios da quantidade de fibras elásticas nos tecidos analisados do grupo controle e dos grupos tratados. Podemos observar que em ambos os grupos tratados houve aumento no número de fibras elásticas, com aumento estatisticamente significante apenas para o grupo GT-20-B (entre os eletrodos) em relação ao Controle (P = 0,03). Figura 2 - Valores médios da quantidade de fibras elásticas nos tecidos analisados do grupo controle e dos grupos tratados. Fi br as E lá st ic as 600 400 200 0 142 236,8 252,8 237,2274,4 * Controle GTA-10 GTB-10 GTA-20 GTB-20 *Diferença estatística significante (p < 0,05). Utilizou-se teste estatístico Kruskal-Wallis con Dunn pos- test. Discussão A microcorrente proporciona um estímulo aos fibro- blastos, células fixas do tecido conjuntivo que sintetizam as fibras de colágeno, elastina e reticulina [9,16]. Os fibroblastos recebem o impulso e produzem fibras elásticas, o que é con- e do tecido entre os eletrodos com 10 (GT-10-B) e 20 dias (GT-20-B). Estes fragmentos teciduais foram colocados em frascos apropriados e devidamente identificados, contendo 20 ml de solução de formol tamponado a 10%. Após a fixação, as amostras foram processadas segundo protocolo de rotina para confecção das lâminas histológicas. Foram utilizadas as colorações Hematoxilina-Eosina HE e Tricrômico de Mas- son para verificar diferenças no tecido colágeno em relação ao controle e a coloração Verhoff para verificar alterações do tecido elástico. Fotomicrografias foram realizadas com câmera digital acoplada ao microscópio óptico Olympus. Por meio da observação das lâminas coradas com Verhoff foi realizada a contagem das fibras elásticas para comparação e quantificação dos resultados, através da divisão de cada lâmina em 10 cam- pos e posteriormente, realizando o somatório do número de fibras elásticas em cada lâmina, procedimentos esses realizados por três examinadores de maneira cega. Os resultados foram apresentados através dos gráficos e tabelas. Para a análise dos dados foi utilizado o programa esta- tístico Service Statistical Package for the Social Science - SPSS (versão 17.0). Foi realizado o teste estatístico Kruskal-Wallis con Dunn post-test entre os grupos Controle vs. GT-10-A; Controle vs. GT-10-B; Controle vs. GT-20-A e Controle vs. GT-20-B, adotando-se um nível de significânica de p < 0,05. Resultados Percebeu-se, após o tratamento com a microcorrente, queos grupos que receberam 10 e 20 aplicações apresentavam maior quantidade de fibras elásticas, tanto nas regiões abaixo e entre os eletrodos, o que pode ser observado na Tabela I. Tabela I - Quantidade de fibras elásticas encontradas nos diferentes grupos na região dos eletrodos ou entre os eletrodos. Contro- le 10 TTOS 20 TTOS GT-10-A GT-10-B GT-20-A GT-20-B Rato 1 146 104 162 215 390 Rato 2 140 226 229 316 187 Rato 3 138 296 184 345 281 Rato 4 144 333 381 187 146 Rato 5 142 225 308 123 368 Media 142 236,8 252,8 237,2 274,4 DP 3,16 87,54 90,87 92,04 107,58 GT: Grupo Tratado A: Área abaixo dos eletrodos. B: Área entre os eletrodos. A Tabela II apresenta a análise estatística da quantidade de fibras elásticas observadas nos animais dos grupos controle, tratado com 10 e 20 sessões. O resultado demonstrou que foi significativa a diferença entre o grupo Controle comparada ao GT-20-B (entre os eletrodos). Esse resultado também pode ser verificado na Figura 1. Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014256 firmado neste estudo ao observar um aumento na produção de fibras elásticas na maioria das lâminas examinadas [17]. Foi observado que correntes constantes de 100 μA a 500 μA aumentam o transporte ativo de aminoácidos e conse- quentemente a síntese de proteínas em 30% a 40%. Alguns estudos mostram que com o uso de microcorrentes a 500 μA há aumento da produção de ATP, que aumenta o transporte de aminoácidos e estes dois fatores contribuem para um aumento da síntese de proteína [18,19]. Podemos observar que a microcorrente demonstrou eficácia na estimulação da pele íntegra. Observou-se um incremento na produção de fibras elásticas, em decorrência da estimulação fibroblástica, corroborando trabalhos referen- tes à estimulação em tecidos lesionados [17-19]. A ação da microcorrente na neoformação de tecido colágeno não foi percebida nas análises em microscopia óptica utilizadas neste estudo, mas poderiam estar ou não confirmadas através de microscopia eletrônica. As limitações para o desenvolvimento deste estudo estão relacionadas à carência de instrumentos para melhor análise das fibras colágenas, tais como microscopia eletrônica. Além disso, o número de animais também foi um fator limitante para melhor validade dos resultados. Sugerem-se maiores estudos que confirmem estes achados utilizando uma quanti- dade de animais maiores, bem como métodos de análise mais detalhados como a análise imuno-histoquímica com anticorpo específico para os diferentes tipos de colágeno e elastina e que possam demonstrar estes resultados no atendimento clínico de pacientes com envelhecimento facial. Conclusão No presente estudo, a aplicação de microcorrente na pele integra de ratos Wistar, com um número de 20 sessões de aplicação, mostrou-se nos parâmetros analisados, um recurso capaz de incrementar significativamente a produção de fibras elásticas, mas não apresentou qualquer efeito em relação às fibras colágenas. Referências 1. Kao HK, Li Q, Flynn B, Qiao X, Ruberti JW, Murphy GF, Guo L. Collagen synthesis modulated in wounds treated by pulsed ra- diofrequency energy. Plast Reconstr Surg 2013;131(4):490e-8e. 2. Elsaie ML, Choudhary S, Leiva A, Nouri K. Nonablative radio- frequency for skin rejuvenation. Dermatol Surg 2010;36(5):577- 89. 3. Liochev SI. Reactive oxygen species and the free radical theory of aging. Free Radic Biol Med 2013;60:1-4. 4. Kleinerman R, Eisen DB, Kilmer SL, Ibrahimi OA. The new age of noninvasive facial rejuvenation. Semin Cutan Med Surg 2013;32(1):53-8. 5. Zuzzi DC, Ciccone Cde C, Neves LM, Mendonça JS, Joazei- ro PP, Esquisatto MA. Evaluation of the effects of electrical stimulation on cartilage repair in adult male rats. Tissue Cell 2013;45(4):275-81. 6. Houghton PE. Clinical trials involving biphasic pulsed current, microcurrent, and/or low-intensity direct current. Adv Wound Care (New Rochelle) 2014;3(2):166-83. 7. Campos Ciccone C1, Zuzzi DC, Neves LM, Mendonça JS, Joazeiro PP, Esquisatto MA. Effects of microcurrent stimulation on hyaline cartilage repair in immature male rats (Rattus norve- gicus). BMC Complement Altern Med 2013;13:17. 8. Passarini Junior JR, Gaspi FO, Neves LM, Esquisatto MA, San- tos GM, Mendonça FA. Application of Jatropha curcas L. seed oil (Euphorbiaceae) and microcurrent on the healing of experi- mental wounds in Wistar rats. Acta Cir Bras 2012;27(7):441-7. 9. Meyer PF, Santos-Filho SD, Ronzio AO, Bonelli L, Fonseca AS, Costa IC, et al. Consequences of the magnetic field, sonic and radiofrequency waves and intense pulsed light on the labeling of blood constituents with technetium-99m. Braz Arch Biol Technol 2008;50:117-22. 10. Jankowska K, Delewska A, Klimkiewicz R, Kubsik A, Woldańska-Okońska M. The use of transdermal thera- peutic systems in physical therapy. Pol Merkur Lekarski 2013;35(207):175-8. 11. Freitas RPA, Barcelos APM, Nóbrega BM, Macedo AB, Oli- veira AR, Ramos AMO, et al . Laserterapia e microcorrente na cicatrização de queimadura em ratos: terapias associadas ou isoladas? Fisioter Pesqui 2013;20(1):24-30. 12. Castro FC, Magre A, Cherpinski R, Zelante PM, Neves LM, Esquisatto MA, et al. Effects of microcurrent application alone or in combination with topical Hypericum perforatum L. and Arnica montana L. on surgically induced wound healing in Wistar rats. Homeopathy 2012;101(3):147-53. 13. Kim JH, Choi H, Suh MJ, Shin JH, Hwang MH, Lee HM. Effect of biphasic electrical current stimulation on IL-1β- stimulated annulus fibrosus cells using in vitro microcurrent generating chamber system. Spine 2013;38(22):E1368-76. 14. Mendonça FAS, Passarini Junior JR, Equisatto MAM, Mendon- ça JS, Franchini CC, Santos GMT. Effects of the application of aloe vera and microcurrent on the healing of wounds surgically induced in Wistar rats. Acta Cir Bras 2009;2(24):150-55. 15. Santos VNS, Ferreira LM, Horibe EK, Duarte IS. Electric microcurrent in the restoration of the skin undergone a trichlo- roacetic acid peeling in rats. Acta Cir Bras 2004;5(19):466-70. 16. Lee JW, Kang JS, Park SJ, Yoon SW, Jeong SK, Heo M. Effects of inter-electrode distance on delayed onset muscle soreness in microcurrent therapy. J Phys Ther Sci 2013;25(11):1451-4. 17. Choi H, Cho JS, Park IH, Yoon HG, Lee HM. Effects of microelectrical current on migration of nasal fibroblasts. Am J Rhinol Allergy 2011;25(3):157-62. 18. Gaspi FO, Foglio MA, Carvalho JE, Santos GM, Testa M, Passarini Junior JR, et al. Effects of the topical application of hydroalcoholic leaf extract of Oncidium flexuosum Sims. (Orchidaceae) and microcurrent on the healing of wounds surgically induced in Wistar rats. Evid Based Complement Alternat Med 2011:1-9. 19. Tsamis A, Krawiec JT, Vorp DA. Elastin and collagen fibre mi- crostructure of the human aorta in ageing and disease: a review. J R Soc Interface 2013;10(83):2-22. 257Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014 Equilíbrio corporal estático e risco de queda em idosas com incontinência urinária de esforço Static body balance and risk of falls in older women with stress urinary incontinence Juliana Falcao Padilha*, Melissa Medeiros Braz, D.Sc.**, Enio Junior Seidel, D.Sc.***, Sinara Porolnik****, Carlos Bolli Mota, D.Sc.***** *Universidade Federal de Santa Maria, Especialista em Reabilitação Físico-Motora (UFSM), **Professora Adjunta do departamento de Fisioterapia e Reabilitação (UFSM), ***Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), ****Especialista em Reabilitação Físico-Motora (UFSM), *****Professor Associado do departamento de Métodos e Técnicas Desportivas (UFSM) Resumo Objetivo: Comparar o equilíbrio estático e o risco de queda de idosas com e sem Incontinência Urinária de Esforço (IUE). Método: Estudo observacional quantitativo que avaliou 22 mulheres, 14 com IUE e 8 sem. Aplicou-se um questionário para traçar o perfil uroginecológico, o teste Timed up and Go (TUG) para verificaro risco de queda e a avaliação do equilíbrio estático foi realizada na pla- taforma de força. Os dados foram analisados estatisticamente através do Teste Exato de Fisher, Teste t pareado, Teste de Mann-Whitney, Teste t, Teste de Wilcoxon, Correlação de Pearson, Correlação de Spearman, com nível de significância de 5%. Resultados: Ambos os grupos realizaram o TUG em média 8 segundos, e não houve diferença estatisticamente significativa entre as variáveis que avaliam o equilíbrio estático entre os dois grupos. Conclusão: Nenhuma das participantes apresenta risco de queda iminente. Para este grupo avaliado ter IUE não interferiu no equilíbrio estático corporal em relação às mulheres continentes. Palavras-chave: idoso, acidentes por quedas, incontinência urinária, equilíbrio postural. Artigo original Abstract Objective: To compare the static balance and risk of falling in elderly women with and without stress urinary incontinence (SUI). Method: This observational quantitative study evaluated 22 women, with SUI 14 and 8 without SUI. A questionnaire was used to trace urogynecological profile, the Timed Up and Go (TUG) test to check the risk of falling, and static balance tests were performed on the platform of force. Data were statistically analyzed by Fisher exact test, Paired t test, Wilcoxon test, t Test, Mann-Whitney test, Pearson correlation, Spearman Correlation and adopted a significance level of 5%. Results: Both groups performed the TUG in 8 seconds, and there was no statistically significant difference between the variables that assess static balance between the two groups. Conclusion: None of the participants present imminent risk of falling. For this group reported, SUI did not affect the body in static equilibrium towards women without SUI. Key-words: elderly, accidental falls, urinary incontinence, postural balance. Recebido em 21 de agosto de 2013; aceito em 30 de junho de 2014. Endereço para correspondência: Juliana Falcão Padilha, Av. Medianeira, 2027/04 Nossa Senhora de Lourdes 97060-003 Santa Maria RS, E-mail: jufpadilha@gmail.com Fisioterapia Brasil - Volume 15 - Número 4 - julho/agosto de 2014258 Introdução Segundo a Sociedade Internacional de Continência, a Incontinência Urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina, sendo que na Incontinência Urinária de Esforço (IUE) ocorre a perda de urina involuntariamente quando aumenta a pressão intra-abdominal em atividades como tossir, espirrar, ou na realização de esforço físico [1], e é o tipo mais comum de IU entre as mulheres. Sua etio- logia é multifatorial, porém, há evidências de que gravidez, parto, diabetes, Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, tosse crônica, estão associados com um risco aumentado de desenvolver IU [2,3]. Pesquisas [4,5] apontam que idosos com IU apresenta- ram maior risco de quedas. A queda em idosos causa sérios prejuízos à qualidade de vida, pode acarretar em imobilidade, dependência dos familiares e no aumento do índice de mor- talidade pós-cirúrgico [6]. Além das quedas, estudo tem evidenciado que a IU inter- fere no equilíbrio das pacientes e demonstrou que mulheres com IUE diminuíram a capacidade de equilíbrio em relação às continentes [7]. O controle postural é a habilidade de manter o equilíbrio oscilando ou recuperando o centro de massa corporal sobre a base de sustentação, ou seja, requer a manutenção do centro de gravidade sobre a base de sustentação durante situações estáticas e dinâmicas [8-10]. A musculatura do assoalho pélvico (MAP) faz parte do mecanismo de estabilidade de tronco e sua função é interdependente com outros músculos deste sistema [11]. Por se tratar de um tema relevante para a saúde da mulher e qualidade de vida, existe a necessidade de pesquisar a respeito do equilíbrio estático de mulheres com e sem IUE, bem como suas nterrelações e implicações referentes ao fator de risco de queda em idosos. Assim, este estudo objetivou comparar o equilíbrio estático e o risco de queda de idosas com e sem IUE. Material e métodos Trata-se de um estudo observacional de caráter transversal, com abordagem quantitativa, desenvolvido no Laboratório de Biomecânica do Centro de Educação Física e Desportes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFSM nº 11537912.0.0000.5346. Foram convidadas a participar da pesquisa 78 mulheres, com idade entre 63 a 77 anos, praticantes de hidroginástica no grupo Núcleo de Apoio a Terceira Idade da UFSM. Foram excluídos do estudo aquelas que: possuíam incontinência urinária de urgência ou mista; submetidas à cirurgia de pró- tese de quadril; em uso de tecnologia assistiva em membros inferiores; amputada e/ou usar prótese; apresentarem com- prometimento neurológico e/ou patologias que interferissem no equilíbrio como labirintopatias e alterações vestibulares; e as que não aceitaram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, permanecendo 22 sujeitos. Foi aplicado um questionário, adaptado e validado, de Stephenson e O’Connor [12] e Moreno [13], para traçar o perfil uroginecológico das participantes, composto por ques- tões abertas e fechadas que abordavam aspectos da condição urológica, ginecológica e social das mulheres. Para a avaliação do risco de quedas, utilizou-se o teste Ti- med Up and Go (TUG), proposto por Podsiadlo e Richardson [14], o qual consiste em avaliação da capacidade funcional e mobilidade de idosos, intimamente relacionados ao risco de quedas [15]. O teste era realizado da seguinte forma: as idosas eram posicionadas sentadas em uma cadeira com braços. Ao ouvir o comando verbal “já”, deviam levantar-se, caminhar 3 metros, dar a volta e sentar-se novamente na cadeira. Para a caminhada, deveria ser escolhida uma velocidade de marcha confortável e usual. A classificação do tempo é dada da seguinte forma: menos de 20 segundos para realização, corresponde a baixo risco para quedas, de 20 a 29 segundos, há médio risco para quedas e 30 segundos ou mais, há alto risco para quedas [15,16]. Para a aquisição dos dados referentes ao equilíbrio corporal foi utilizada uma plataforma de força AMTI modelo OR6-5. Os dados adquiridos pela plataforma de força são relacionados ao centro de pressão (COP), automaticamente calculado pela plataforma. As variáveis estabilométricas avaliadas foram: Am- plitude de deslocamento ântero-posterior do COP (ACOPy); Amplitude de deslocamento médio-lateral do COP (ACOPx); Velocidade média de deslocamento do COP (VELCP) e Área da elipse (AE). A partir desses dados podem ser obtidas infor- mações sobre o equilíbrio estático do indivíduo [17]. Para estas variáveis, quando seguidas de (OA) significa que as medições foram realizadas de olhos abertos e quando seguidas de (OF) foram realizadas com os olhos fechados. Os indivíduos foram instruídos a posicionar-se sobre a plataforma de força com os pés separados na largura do qua- dril, cabeça direcionada à frente, olhos fixados em um alvo a uma distância de aproximadamente de 2 metros. A posição dos pés foi marcada em um papel milimetrado e fixada na plataforma para que cada tentativa fosse realizada com o mesmo posicionamento. Foram realizadas seis tentativas de 30 segundos cada, três com o indivíduo com os olhos abertos e três tentativas com os olhos fechados de maneira intercalada, a frequência utilizada de aquisição da plataforma de força foi de 100Hz. Durante as coletas os sujeitos permaneceram descalços, em apoio bipodal com os braços estendidos ao longo do corpo. Os dados obtidos foram analisados através do Software R [18], versão 2.15.2, para Windows. Realizaram-se as distri- buições de frequência e de médias. Com o intuito de avaliar a relação entre ter ou não IUE e das variáveis categóricas foi utilizado o teste Exato de Fisher [19]. Para a análise de comparação dos dois grupos, com e sem IUE, foi utilizado o Teste de Hipótese para Comparação 259Fisioterapia
Compartilhar