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Causas de Exclusão da Ilicitude

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ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)
É contrariedade de uma conduta com o direito, causando potencial ou efetiva lesão a um bem jurídico. Sem dúvida, a ilicitude possui relação com a tipicidade, sendo esta um indício daquela. Entretanto, há causas que excluem a antijuridicidade ou a ilicitude do fato, prevista no art.23 do C.P, a saber:
ART. 23, I – ESTADO DE NECESSIDADE
Conceito: art.24, CP
Teorias: a) diferenciadora – afirma que, se o bem salvo for mais importante que o sacrificado como, por exemplo, para salvar uma pessoa há destruição de um bem patrimonial, exclui-se a antijuridicidade (estado de necessidade justificante). No entanto, se os bens conflitantes tem o mesmo valor como, por exemplo, vida por vida, afasta-se a culpabilidade (estado de necessidade exculpante); b) unitária – em qualquer dos casos acima há exclusão de antijuridicidade. É a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro. 
Natureza Jurídica: causa excludente de antijuridicidade (ou ilicitude).
Faculdade ou direito: esclarecem André Estefam e Victor Gonçalves (Direito Penal Esquematizado, 2013, p.391) que: a doutrina tradicional via no estado de necessidade uma faculdade do agente e não um direito. Argumenta-se: no estado de necessidade, há um conflito entre dois ou mais bens ou interesses legítimos, sendo todos protegidos pelo Direito. Diante do perigo, o titular de um direito, para salvá-lo, ofende o de terceiro, o qual não tem obrigação de permitir o perecimento de seu bem, pois também dispõe de um interesse legítimo. Se a todo direito corresponde uma obrigação, e se o terceiro não está obrigado a deixar seu bem lesionado, ninguém tem direito de agir em estado de necessidade, mas mera faculdade legal. Para a doutrina moderna, no entanto, as pessoas têm direito de agir em estado de necessidade. O sujeito passivo dessa relação jurídica não é como se pensava, o terceiro titular do bem perecido, mas sim o Estado, que tem a obrigação de reconhecer a licitude da conduta do agente. 
Requisitos: 1) Situação de necessidade: a) perigo atual: b) ameaça a direito próprio ou alheio; c) o perigo não pode ter sido voluntariamente pelo agente: d) inexistência do dever legal de arrostar o perigo. 2) Fato necessitado: a) inevitabilidade do comportamento; b) razoabilidade do sacrifício; c) conhecimento da situação justificante.
Espécies
Quanto à titularidade: a) estado de necessidade próprio: é o invocado para preservar bem jurídico pertencente ao autor do fato necessitado; b) estado de necessidade em prol de terceiro: é o invocado para preservar bem jurídico. 
Quanto à pessoa que sofreu o sacrifício do bem jurídico: a) estado de necessidade agressivo: ocorre quando, para preservar bem jurídico próprio ou alheio, o agente sacrifica bem jurídico pertencente a um terceiro inocente; b) estado de necessidade defensivo: ocorre quando, para preservar bem jurídico, próprio ou alheio, o agente sacrifica bem jurídico pertencente ao causador do perigo.
Quanto ao conhecimento da situação de perigo: a) real: ocorre quando se verificam, de fato, todos os requisitos da situação de necessidade, excluindo-se antijuridicidade; b) putativo: ocorre quando não subsistem, de fato, todos os requisitos legais da situação de necessidade, mas o agente os julga presente. Se houver erro escusável, exclui-se a culpabilidade (art.20§1º, 1ª parte). Se for inescusável, o agente responde por crime culposo, se houver a forma culposa (art.20 §1ª, parte final). 
ART.23, II – LEGÍTIMA DEFESA
Conceito: art.25 do CP
Natureza Jurídica: causa excludente de antijuridicidade (ou ilicitude).
Requisitos: 1) agressão injusta; 2) atual ou iminente; 3) direito próprio ou de terceiro; 4) repulsa com os meios necessários; 5) uso moderado de tais meios; 6) conhecimento da situação justificante (animus defendendi).
Espécies de legítima defesa:
#sucessiva: é a reação contra o excesso. A pessoa que inicialmente se encontrava em legítima defesa, acaba praticando excesso, permitindo, por isso, que o agressor defenda-se;
# real: é a que efetivamente exclui9 a antijuridicidade;
# própria: o sujeito atua em prol de si mesmo;
# de terceiro: ocorre quando o sujeito defende direito alheio.
Atenção
# legítima defesa recíproca: a legítima defesa contra legítima defesa não é admissível, salvo se uma for putativa;
# legítima defesa putativa: ocorre quando o sujeito age de boa fé, imaginando a situação ensejadora da legítima defesa. Este caso constitui modalidade de erro, nos termos do art.20§1º, ou 21, ambos do Código Penal.
Os ofendículos, instrumentos utilizados para a defesa de bem jurídico, entre outros: cacos de vidros, lanças, cercas eletrificadas, armadilhas, não enseja a responsabilidade de que os utilizou. No entanto, a jurisprudência recomenda que o instrumento seja sempre visível e inacessível a terceiro inocente. Por exemplo: “cuidado cão bravio ou cerca eletrificada”. Se houver avisos e mesmo assim atingir um inocente, existirá a legítima defesa putativa. Todavia, se o ofendículo atingir um criminoso, quem o colocou estará acobertado pela legítima defesa preordenada.
Registre-se ainda que a doutrina admite a existência de causas supralegais, não previstas em lei, de exclusão de antijuridicidade, com supedâneo na analogia in bonam partem. Por exemplo, o consentimento do ofendido nos tipos penais em que o bem jurídico é disponível. No entanto, o assentimento da vítima atua como exclusão de tipicidade quando a infração penal estabelece o dissenso da vítima como elementar como no caso do crime de violação de domicílio, previsto no art.150 do CP.
Excesso (art.23, §Un.)
É o emprego de meio desnecessário ou a falta de moderação na contenção de uma agressão injusta.
Segundo André Estefam e Victor Gonçalves (Direito Penal Esquematizado, 2013, p.400) há duas formas:
# intencional, voluntário ou consciente, quando o agente tem plena consciência de que a agressão cessou e, mesmo assim, prossegue reagindo, visando lesar o bem do agressor; nesse caso, responderá pelo resultado excessivo a título de dolo ( é o chamado excesso doloso);
# não intencional, involuntário ou inconsciente, o qual se dá quando o sujeito, por erro na apreciação da situação fática, supõe que a agressão ainda persiste e, por conta disso, continua reagindo sem perceber o excesso que comete. Se o erro no qual incorreu for evitável (isto é, uma pessoa de mediana prudência e discernimento não cometeria o mesmo equívoco no caso concreto), o agente responderá pelo resultado a título de culpa, se a lei previr a forma culposa (excesso culposo). Caso, contudo, o erro seja inevitável (qualquer um o cometeria na mesma situação), o sujeito não responderá pelo resultado excessivo, afastando-se dolo ou culpa (excesso exculpante ou legítima defesa subjetiva).
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE ESTADO DE NECESSIDADE E LEGÍTIMA DEFESA
SEMELHANÇAS: possuem a mesma natureza jurídica (causas excludentes de ilicitude ou antijuridicidade); valem para todas as normas incriminadoras, onde há agressões em conflitos; para serem validados devem atender aos respectivos requisitos; ambos o agente responderá pelo excesso.
DIFERENÇAS:
# no estado de necessidade há agressão justa contra agressão justa; já na legítima defesa há agressão justa contra agressão injusta.
# no estado de necessidade a agressão é atual; na legítima defesa é atual ou iminente;
ART. 23, III – EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E ESTRITO CUPRIMENTO DE DEVER LEGAL.
André Estefam e Victor Gonçalves (Direito Penal Esquematizado, 2013), tratam de excludentes de ilicitude “em branco”, pois seu conteúdo se deduz de outra norma da mesma hierarquia ou inferior.
Exercício Regular de Direito: resulta da harmonização do Direito Penal com outros ramos jurídicos. Exemplo: violência desportiva. Pais aplicando adequadamente o jus corrigendi no filho.
Estrito cumprimento de dever legal: ocorre quando o agente público realiza condutas, tendo poder até para praticar fatos que são típicos, mas não ilícitos, se forem praticados de forma legal. Requisitos: a) existência previa de dever legal;b) atitude pautada dentro da legalidade; c) conduta como regra de agente público e, excepcionalmente de particular. Exemplos: violência para executar prisão; execução de mandado de busca e apreensão com arrombamento; agente policial infiltrado.

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