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Jose Carlos Libâneo - ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLAR Teoria e prática

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CAPITULO 1
A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE APRENDIZAGEM DO PROFESSOR. 
Os estudos recentes sobre o sistema escolar e as políticas educacionais têm se centrado na escola como unidade básica e espaço de realização dos objetivos e metas do sistema educativo. Uma dessas estratégias diz respeito à descentralização do ensino, atribuindo às escolas maior poder de decisão e maior autonomia. É por essa razão que as reformas educativas de vários países, as propostas curriculares, as leis e resoluções sobre o ensino, os projetos de investigação pedagógica, recorrem hoje, cada vez mais, a estratégias de ação como a autonomia das escolas, o projeto pedagógico, a gestão centrada na escola e a avaliação institucional. 
O pedagogo português Antônio Nóvoa conta que nos anos de 1960 a 1970 as pesquisas em educação se destacaram pela constatação da relação entre o funcionamento dos sistemas escolares e as desigualdades sociais. Foram feitos vários estudos mostrando os mecanismos pelos quais as escolas produziam desigualdades nas aprendizagens escolares. Após esse período, já por volta dos anos 80, a escola voltou a ter sua importância social reconhecida. Se, por um lado, ela poderia ser culpabilizada pela discriminação e exclusão de alunos provenientes das camadas populares, por outro, ela poderia ser um meio indispensável de elevação do nível cultural, de formação para a cidadania e de desenvolvimento de conhecimentos e capacidades para enfrentamento das condições adversas de vida. Com base nesse entendimento, passou-se a valorizar o estudo da escola como ponto de confluência entre as análises sociopolíticas mais globais e as abordagens centradas na sala de aula. Ou seja, pensa-se hoje que uma visão globalizada que não chega à escola ou uma visão de sala de aula sem referência à estrutura social mais ampla resultam de análises incompletas e parciais. É assim que as escolas, enquanto organizações educativas ganham dimensão própria — como um lugar onde também se tomam importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas. (Nóvoa, 1995) 
Há pelo menos duas maneiras de ver a gestão centrada na escola. Conforme o ideário neoliberal, colocar a escola como centro das políticas significa liberar boa parte das responsabilidades do Estado, dentro da lógica do mercado, deixando às comunidades e às escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. Na perspectiva sociocrítica significa valorizar as ações concretas dos profissionais na escola decorrentes de sua iniciativa, de seus interesses, de sua participação, dentro do contexto sociocultural da escola, em função do interesse público dos serviços educacionais prestados sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. 
Nessa segunda perspectiva, a escola é vista como um espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída pelos seus componentes, um lugar em que os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender mais sobre sua profissão. A organização e a gestão da escola adquirem um significado bem mais amplo, para além de referir-se apenas a questões administrativas e burocráticas. Elas são entendidas como práticas educativas, pois passam valores, atitudes, modos de agir, influenciando a aprendizagem de professores e alunos. Nesse sentido, todas as pessoas que trabalham na escola participam de tarefas educativas, embora não de forma igual. Vejamos alguns exemplos de como a organização da escola funciona como prática educativa: 
.
O estilo de gestão adotado pela direção influencia as interações entre as pessoas (professores, alunos , funcionários ) determinando as mais variadas práticas e formas de relacionamento.
O atendimento que a secretaria da escola dá aos pais pode ser atencioso ou mal-educado, grosseiro ou delicado, respeitoso ou desrespeitoso.
A preparação e distribuição da merenda pelas merendeiras envolvem atitudes e modos de agir que podem influenciar a educação das crianças de forma positiva ou negativa.
As reuniões pedagógicas coordenadas pelo diretor ou pelo coordenador pedagógico podem ser um espaço de participação de professores e pedagogos ou de manifestação do poder pessoal do diretor ou coordenador.
A escola pode ser organizada para funcionar "cada um por si", estimulando o isolamento, a solidão e a falta de comunicação ou pode estimular o trabalho coletivo, solidário, negociado, compartilhado.
As formas de funcionamento, as características de relacionamento entre as pessoas, as decisões tomadas em reuniões, a cultura, os modos de pensar e agir que se desenvolvem no cotidiano da escola entre professores, alunos e funcionários, expressam práticas grupais que afetam o trabalho na sala de aula.
A percepção e as atitudes da direção e dos professores em relação aos alunos são importantes fatores de sucesso ou insucesso escolar.
O comportamento dos alunos, suas atitudes, seus modos de agir dependem, em boa parte, daquilo que presenciam e vivenciam no dia a dia da escola.
Parece claro, portanto, que a presença ou ausência de certas características organizacionais das escolas — tais como o estilo de direção, o grau de responsabilidade dos seus profissionais, a liderança organizacional compartilhada, participação coletiva, o currículo, a estabilidade profissional, o nível de preparo profissional dos professores etc. — são determinantes para eficácia e para o nível de aproveitamento escolar dos alunos.
Há, no entanto, uma característica das organizações escolares de suma relevância para as práticas de gestão: a cultura organizacional ou cultura da escola. Tem sido cada vez mais importante compreender a escola como lugar de construção e reconstrução da cultura, não apenas a cultura científica, mas a cultura social, a cultura das mídias, a cultura dos alunos, a cultura da escoa. Segundo o autor espanhol, Angel Pérez Gómez (2002, p. 17),
a escola, e o sistema educativo em seu conjunto, pode ser considerada como uma instância de mediação cultural entre os significados, sentimentos e condutas da comunidade social e o desenvolvimento humano das novas gerações.
Nesse sentido, as escolas podem ser consideradas lugares de intercruzamento de culturas', entre elas, a cultura da escola. A cultura da escola refere-se àqueles significados, modos de pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionamento que, de certa forma, mostram a identidade e os traços característicos da escola e das pessoas que nela trabalham. A cultura da escola (ou cultura organizacional) é o que sintetiza os sentidos que as pessoas dão às coisas, gerando um padrão coletivo de pensar e perceber as coisas, e de agir.
Portanto, não conhecemos uma escola apenas pelo que se vê ou pelo que aparece mais diretamente à nossa observação (as formas de gestão, as reuniões, a elaboração do projeto pedagógico e do currículo, as relações sociais entre os integrantes da escola etc.). É preciso captar aqueles significados, valores, atitudes, modos de convivência, formas de agir e de resolver problemas, frequentemente ocultos, invisíveis, que vão definindo uma cultura própria de cada escola. A pergunta é: haverá uma relação entre a organização da escola, a cultura organizacional e a sala de aula? A resposta é positiva, pois as práticas e os comportamentos das pessoas manifestadas na convivência diária influenciam as práticas e comportamentos dos professores nas salas de aula.
Mas, que fatores produzem essa cultura organizacional? É claro que há nela um papel acentuado do sistema de ensino, da estrutura hierárquica e das várias instâncias e formas de exercício do poder, das normas oficiais, dos regulamentos, dos modos de agir já consolidados etc. Mas há também o papel da subjetividade das pessoas, do modo como as pessoas pensam e agem, das crenças e valores que elas vão formando ao longo de suas vidas, na família, nas relações sociais, na formação escolar. Ou seja, também as pessoas constroem uma cultura organizacional. Há, portanto, uma trama de relações implicadas na escola. Por um lado, a organização educaos indivíduos que a compõem; por outro, os próprios indivíduos educam a organização, à medida que são eles que a constituem e, no final de contas, a definem com base em seus valores, práticas, procedimentos, usos e costumes. "Os indivíduos e os grupos mudam, mudando o próprio contexto em que trabalham". (Amiguinho e Canário, 1994)
Em síntese, por detrás do estilo e das práticas de organização e gestão está uma cultura organizacional, ou seja, há uma dimensão cultural que caracteriza cada escola, para além das prescrições administrativas e das rotinas burocráticas. Portanto, para compreendermos as mútuas interferências entre organização da escola e organização da sala de aula, é preciso considerarmos, conjuntamente, dois aspectos: a dinâmica organizacional já existente e a cultura da organização escolar, própria de cada escola. E se estamos convictos de que as organizações educam, as formas de organização e gestão têm uma dimensão fortemente pedagógica, de modo que se pode dizer que os profissionais e usuários da escola aprendem com a organização e as próprias organizações aprendem, mudando junto com seus profissionais
A participação do professor na organização e gestão da escola
Pela participação na organização e gestão do trabalho escolar, os professores podem aprender várias coisas: tomar decisões coletivamente, formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas as preocupações, desenvolver o espírito de solidariedade, assumir coletivamente a responsabilidade pela escola, investir no seu desenvolvimento profissional. Mas, principalmente, aprendem sua profissão. É claro que os professores desenvolvem sua profissionalidade primeiro no curso de formação inicial, na sua história pessoal como aluno, nos estágios etc. Mas é imprescindível ter-se clareza hoje de que os professores aprendem muito compartilhando sua profissão, seus problemas, no contexto de trabalho. É no exercício do trabalho que, de fato, o professor produz sua profissionalidade. Esta é hoje a ideia chave do conceito de formação continuada.
Colocar a escola como local de aprendizagem da profissão de professor significa entender que é na escola que o professor desenvolve os conhecimentos e as competências do ensinar, mediante um processo ao mesmo tempo individual e coletivo. Internalizar saberes e competências significa "saber encontrar e pôr em prática respostas apropriadas ao contexto na realização de atividades de um projeto". Falar de "competências" não é a mesma coisa que falar de "qualificações". As qualificações referem-se à aquisição de saberes requerido para o exercício de uma profissão e à confirmação legal dessa aquisição mediante diplomas, certificados etc As competências referem-se a conhecimentos, habilidades e atitudes obtidas nas situações de trabalho, no confronto de experiências, no contexto do exercício profissional. A competência profissional é a qualificação em ação, são formas de desempenho profissional em que a qualificação se torna eficiente e atualizada nas situações concretas de trabalho. (Canário, 1997)
O sentido de saberes e competências profissionais não podem ser reduzidos a habilidades e destrezas técnicas, isto é, ao saber fazer. Não se quer um professor-técnico cujo conhecimento se restrinja ao domínio das aplicações do conhecimento científico e a regras de atuação. Se a formação de professores se restringisse ao domínio de técnicas formuladas por especialistas e à sua aplicação, não haveria necessidade de um currículo teoricamente consistente e nem preparação em nível universitário.
A internalização de saberes e competências profissionais supõem conhecimentos científicos e uma valorização de elementos criativos voltados para a arte do ensino, dentro de uma perspectiva crítico-reflexiva. A docência não estará reduzida a uma atividade meramente técnica, mas também intelectual baseada na compreensão da prática e na transformação dessa prática.
Essa é a razão pela qual as escolas se constituem em locais de aprendizagem dos professores e de desenvolvimento profissional. Esse contraste entre a prática e os conhecimentos teóricos aparece já na formação inicial de professores, nas atividades de estágio supervisionado, mas ocorrerá, efetivamente, por meio do exercício profissional, pela ação e pela reflexão com seus pares no trabalho e sobre o cotidiano dele. É na escola que o professor coloca em prática suas convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e profissionais. O professor participa ativamente da organização do trabalho escolar formando com os demais colegas uma equipe de trabalho, aprendendo coletivamente novos saberes e competências assim como um modo de agir coletivo. O professor é participante ativo de uma comunidade profissional de aprendizagem, atuando no seu funcionamento, na sua animação e no seu desenvolvimento. Por outro lado, a estrutura e a dinâmica organizacional atuam na produção de suas práticas profissionais. Há uma concomitância entre o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento organizacional
Uma das funções profissionais básicas do professor é participar ativamente na gestão e organização da escola, contribuindo nas decisões de cunho organizativo, administrativo e pedagógico-didático. Para isso, ele precisa conhecer bem os objetivos e o funcionamento de uma escola, dominar e exercer competentemente sua profissão de professor, trabalhar em equipe e coopera r com os outros profissionais.37
Conhecendo as condições sociais, organizacionais, administrativas e pedagógico-didáticas da escola, o professor estará capacitado a tirar proveito das condições já existentes e aprimorá-las, ou a transformar e criar outras pela sua iniciativa e iniciativa dos demais membros da escola. Dessa forma, pelo conhecimento teórico e pela aquisição de competências operativas e práticas, pode instrumentalizar-se para influir nas formas de organização e gestão na escola e em outras instâncias da sociedade das quais participa (por exemplo, organizações sindicais, científicas, culturais ou comunitárias)
O desenvolvimento pessoal e profissional do professor para participar da gestão da escola requer os seguintes saberes e competências, entre outros:
Elaboração e execução do planejamento escolar: projeto pedagógico-curricular, planos de ensino, planos de aula.
Organização e distribuição do espaço físico, qualidade e adequação dos equipamentos da escola e das demais condições materiais e didáticas.
Estrutura organizacional e normas regimentais e disciplinares.
Habilidades de participação e intervenção em reuniões de professores, conselho de classe, encontros, e em outras ações de formação continuada no trabalho.
Atitudes necessárias à participação solidária e responsável na gestão da escola como cooperação, solidariedade, responsabilidade, respeito mútuo, diálogo.
Habilidades para obter informação em várias fontes, inclusive nos meios de comunicação e informática.
Elaboração e desenvolvimento de projetos de investigação.
Princípios e práticas de avaliação institucional e avaliação da aprendizagem dos alunos.
Noções sobre financiamento da educação e controles contábeis, assim como formas de participação na utilização e controle dos recursos financeiros recebidos pela escola.
Enfrentando a mudança
O que é a mudança? Mudança significa transformação, alteração de uma situação, passagem de um estado a outro. Os educadores enfrentam hoje mudanças profundas nos campos econômico, político, cultural, educacional e geográfico. O ensino tem sido afetado por uma série de fatores: mudanças nos currículos, na organização das escolas (formas de gestão, ciclos de escolarização, concepção de avaliação etc.), introdução de novos recursos didáticos (televisão, vídeo, computador, internet) e desvalorização da profissão. Isso leva a mudanças na organização escolar e na identidade profissional de professor, que é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem a especificidade do trabalho de professor 
Na verdade, em toda a nossa vida passamos pormudanças, elas sempre estão acontecendo ao nosso redor — nossa própria vida muda a cada dia, mudam nossos filhos, nossos amigos, muda a sociedade, mudam os costumes... As escolas precisam organizar-se para promover a mudança, mas respeitando os significados, os valores, as atitudes e as práticas das pessoas.
Precisamos, pois, ter uma atitude positiva frente à mudança, reconhecendo que ela faz parte da nossa vida e das instituições, que ela não é uma ameaça, mas sim, uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional 
Uma das formas mais eficazes de aprender a enfrentar as mudanças e ir, ao mesmo tempo, construindo uma nova identidade profissional é o desenvolvimento de uma atitude crítico-reflexiva, isto é, o desenvolvimento da capacidade reflexiva com base na própria prática. É frequente a pergunta sobre o que vem primeiro: a reflexão ou a ação. Os professores modificam suas práticas profissionais porque mudam suas opiniões, suas percepções, seus valores ou só modificam suas opiniões e valores após terem sido bem sucedidos numa técnica ou procedimento? A questão não é inútil, tanto é que as duas ideias têm adeptos. Em muitos cursos de formação de professores vigora a ideia de que uma boa teoria garantirá por si só a prática. Mas é muito comum, também, pensar que é somente na prática que as pessoas aprendem, sem necessidade de teoria.
De fato, não é verdade que basta uma boa teoria para que um profissional tenha êxito na prática. Mas, também, não é verdade que a prática se basta por si mesma. Nem toda prática pode ser justificada como adequada, assim como não é possível qualquer reflexão sobre a prática se não há da parte do professor um domínio sólido dos saberes profissionais, incluída aí uma boa cultura geral. E, mais importante do que isso, não haverá muito avanço na competência profissional do professor se ele apenas pensar na sua prática corrente sem recorrer a um modo de pensar obtido sistematicamente, a partir do estudo teórico das disciplinas pedagógicas e da disciplina em que é especialista. Sem teoria, sem desenvolvimento sistemático de processos de pensamento, sem competência cognitiva, sem o desenvolvimento de habilidades profissionais, o professor permanecerá atrelado ao seu cotidiano, encerrado em seu pequeno mundo pessoal e profissional. Seria uma má estratégia de formação de quadros docentes reservar a capacidade de pensar de forma mais elaborada para aquisição de uma sólida formação científica apenas aos pesquisadores e docentes das universidades. A busca da profissionalidade docente não pode transformar-se em mais uma forma de exclusão do professorado. 
Pensamos que, para enfrentar as mudanças, a ação e a reflexão atuam simultaneamente, porque elas estão sempre entrelaçadas. Podemos refletir sobre nossa ação, transformando nossa ação em pensamento. Ao mesmo tempo, podemos traduzir ideias em ações. Propõe-se, assim, uma formação profissional — tanto a inicial como a continuada — baseada na articulação entre a prática e a reflexão sobre a prática, de modo que o professor vá se transformando em um profissional crítico-reflexivo, isto é, um profissional que domina uma prática refletida. 
A pesquisadora Selma Pimenta (1999) tem ressaltado em seus escritos que o trabalho de professor é um trabalho intelectual e não um trabalho de técnico executor. O trabalho de professor implica compreender criticamente o funcionamento da realidade e associar essa compreensão com o seu papel de educador, de modo a aplicar sua visão crítica ao trabalho concreto nos contextos específicos em que ele acontece. Para isso, recomenda "valorizar os processos de reflexão na ação e de reflexão sobre a reflexão na ação, como processos de construção da identidade dos professores". Escreve ainda Pimenta (id., p. 31): 
A formação de professores na tendência reflexiva se confi-gura como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores e das instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da formação contínua dos professores, nos locais de trabalho, em redes de autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. 
Nas escolas, portanto, a construção da identidade profissional de professor depende em boa parte das formas de organização do trabalho escolar. Em especial, depende de uma boa estrutura de coordenação pedagógica que faça funcionar uma escola de qualidade, propondo e gerindo o projeto pedagógico, articulando o trabalho de vários profissionais, liderando a inovação e favorecendo a constante reflexão na prática e sobre a prática. O pedagogo escolar deverá ser o agente articulador das ações pedagógico-didáticas e curriculares, assegurando que a organização escolar vá se tornando um ambiente de aprendizagem, um espaço de formação continuada onde os professores refletem, pensam, analisam, criam novas práticas, como sujeitos pensantes e não como meros executores de decisões burocráticas.
Uma coisa é certa: as pessoas arrumam tempo para as coisas que compreendem às quais atribuem sentido e nas quais acreditam. Os dirigentes da escola precisam, então, ajudar os professores a partir da reflexão sobre a prática, a examinar suas opiniões atuais e os valores a que as sustentam e a colaborar na modificação dessas opiniões e valores tendo como referência as necessidades dos alunos e da sociedade, e os processos de ensino e aprendizagem.
O desenvolvimento profissional e a conquista da identidade profissional dependem de uma união entre os pedagogos especialistas e os professores, assumindo junta a gestão do cotidiano da escola e articulando o projeto pedagógico num todo, o sistema de gestão, o processo de ensino e aprendizagem e a avaliação. Fazendo assim, ter-se-á uma organização preocupada com a formação continuada e com a discussão conjunta dos problemas da escola. Discussão essa que é de natureza organizacional, mas principalmente pedagógica e didática.