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Bioquímica Cervejeira Me. Laisa Sincero Rabelo de Oliveira Raniero Me. Ghiovani Zanzotti Raniero NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RANIERO, Ghiovani Zanzotti; RANIERO, Laisa Sincero Rabelo de Oliveira. Bioquímica Cervejeira. Ghiovani Zanzotti Raniero e Laisa Sin- cero Rabelo de Oliveira Raniero. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 176 p. “Graduação - EAD”. 1. Bioquímica 2. Cervejeira 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 572 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Coordenador de Conteúdo Diogo Henrique Hendges. Designer Educacional Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Cíntia Prezoto Ferreira e Érica Fernanda Ortega. Editoração Isabela Mezzaroba Belido. Ilustração Mateus Calmon Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração, Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon , Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi, Fotos Shutterstock. PALAVRA DO REITORPALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Fazer cerveja é relativamente um processo muito simples, você deve apenas seguir uma receita, do mesmo modo que se faz um bolo. Contudo, não é bem assim. Veremos, neste livro, os processos bioquímicos que englobam a produção de cerveja. Você conhecerá os componentes presentes na cerveja e os processos que os microrganismos cervejeiros realizam para conseguir produzir diferentes tipos de cerveja. Outro ponto de dificuldade ao se produzir cerveja é repetir uma receita e chegar ao mesmo resultado. Durante o processo de produção, são realizadas muitas reações bioquímicas que influenciamnas características sensoriais de uma cerveja. Para determinar essas reações, devemos ter em mente os conhecimentos da bioquímica cervejeira para priorizar as reações desejáveis e evitar as reações que não são admitidas em determinados estilos. Seguiremos uma sequência de conhecimentos, abrangendo as unidades químicas dos microrganismos e os componentes de sua estrutura celular. Para mostrar que a cerveja é um produto obtido da sobrevivência de mi- crorganismos que, para produzir as biomoléculas necessárias para a vida, produzem diversos compostos que compõem a cerveja. Como toda vida precisa de água, com a nossa levedura cervejeira não seria diferente, então, você verá o efeito da água sobre as biomoléculas e o que ocorre na produção de cerveja, como, por exemplo, a produção de proteínas e lipídeos pelas leveduras para se produzir novas células. Para isso, estudaremos aminoácidos, peptídeos, proteínas, lipídeos, carboidratos e como eles compõem nossa cerveja. Um passo fundamental do conhecimento necessário para produzir cerveja é o entendimento das enzimas. Elas são catalizadores de reações biológi- cas que aceleram reações químicas possíveis de acontecer naturalmente. Entendendo os processos enzimáticos e suas características, podemos ma- nipular a produção cervejeira a nosso gosto, podendo criar diversas outras cervejas com os mesmos ingredientes, manipulando apenas as atividades enzimáticas. Elas também são usadas para corrigir eventuais problemas da cerveja, como você verá neste livro. Um fator importante na bioquímica é a energia. Tudo se trata de energia. Energia para manter-se vivo e como os microrganismos produzem energia. Veremos as principais rotas metabólicas que as leveduras e microrganismos cervejeiros realizam para conseguir energia e todos os compostos envolvi- dos durante essas rotas, pois eles estarão presentes na cerveja e realizaram outras reações que afetarão a cerveja. Na última etapa do livro, entraremos nos conhecimentos sobre a biotecno- logia e como podemos mudar as características dos microrganismos para produzir outros compostos na nossa cerveja. Com os conhecimentos que verá neste livro, esperamos que você possa evitar possíveis erros na produção cervejeira, consiga corrigir as alterações indesejadas do processo de produção e consiga fazer com que cada teste de cerveja saia melhor que o anterior. Então, vamos estudar, porque bioquímica é uma disciplina maravilhosa, especialmente para nós, cervejeiros. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Me. Ghiovani Zanzotti Raniero Mestrado em Ciência de alimentos, em 2018; Graduação em Engenharia de alimentos pela UEM, em 2018; Graduação em Física pela Universidade Estadual de Maringá, em 2014. Tra- balhou 2 anos como voluntário e 1 ano como bolsista pela capes, como monitor do show de física, no MUDI (museu dinâmico interdisciplinar). Autor de um projeto PIC, TCC, Projeto de indústria e Estágio de conclusão de curso na área de Produção Cervejeira. Está cursando Doutorado na área de Produção Cervejeira. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4462472J2 Me. Laisa Sincero Rabelo de Oliveira Raniero Mestrado em Ciência Animal, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2015) e Gra- duação em Zootecnia, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2013). Atualmente é es- tudante da Medicina Veterinária. Doutoranda em Ciência Animal pela UEM, com estudos na área de Genética. Tem experiência na área de Zootecnia e Medicina Veterinária com ênfase em Produção Animal, atuando, principalmente, nos seguintes temas: ECG, IATF, Deslorelina intramuscular, Bovinocultura, Tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus). Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8738592E9 Macromoléculas Cervejeiras 13 53 Introdução à Bioquímica Cervejeira Introdução à Biotecnologia 147 Integração e Regulação Metabólica 117 85 Enzimas Cervejeiras Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. Molécula de água 99 Cinética Enzimática 36 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Ghiovani Zanzotti Raniero • Introduzir as bases físico-químicas dos organismos vivos. • Estudar a composição molecular, estrutural e funcional das células. • Fornecer o conhecimento das biomoléculas e suas estru- turas conjugadas. • Proporcionar a compreensão dos principais processos envolvidos sobre a água no processo cervejeiro. • Introduzir as principais relações dos componentes bio- químicos na produção de cerveja. Unidade química dos organismos vivos Estrutura celular O efeito da água sobre biomoléculas Introdução à bioquímica cervejeira Composição química das biomoléculas Introdução à Bioquímica Cervejeira Unidade Química dos Organismos Vivos Olá cervejeiro(a), neste livro, encontraremos o conhecimento necessário para entendermos as transformações bioquímicas que ocorre durante a produção de cerveja. Tal conhecimento é importante porque quan- to mais soubermos sobre a matéria, melhor po- demos manipulá-la ao nosso favor. Ao entender as reações bioquímicas presentes na produção cervejeira, podemos, a partir daí, melhorar ou simplesmente alterar os fatores que nos interessa, por exemplo uma maior geração de álcool ou um maior corpo na cerveja. Essas reações serão estudadas no decorrer des- te livro, mas, primeiramente, devemos nos focar na introdução da bioquímica, uma vez que os co- nhecimentos abordados nesta primeira unidade serão usados para elucidar as reações posteriores. Esperamos que esses conhecimentos sejam carre- gados durante toda sua carreira como cervejeiro. Toda a matéria do universo é composta por prótons, nêutrons e elétrons fundamentalmente; 15UNIDADE 1 quando combinados de forma específica, dão origem a átomos que, por sua vez, quando organi- zados, formam estruturas deno- minadas moléculas. Mais uma vez, essas moléculas são a com- posição dos seres vivos, e todas essas estruturas, quando isola- das e analisadas de maneira in- dividual, seguem todas as leis da química e física que descrevem o comportamento da matéria. Então, podemos perceber que quando olhamos as estru- turas dos seres vivos e suas rea- ções, podemos notar que essa coleção de moléculas não são escolhidas ao acaso, cada uma tem uma função inerente, que atuará como um computador matematicamente programado, que descreverá um comporta- mento extraordinário. Você irá ver, neste tópico, as características dos organismos vivos e o que os diferem da matéria inanimada. Devemos, a partir daí, incluir as definições gerais da vida, para podermos descrever o conjunto de prin- cípios que regem todos os or- ganismos vivos. Veremos, tam- bém, que apesar de focarmos na produção cervejeira, esses princípios que nosso fermen- to cervejeiro irá seguir será o mesmo que toda a vida na terra de certa forma escolheu. Esses princípios são a base das células e ajudarão você a interpretar o grande quadro da vida. As Diversas Características da Vida Para entendermos o que difere os organismos vivos da matéria ina- nimada, primeiramente devemos observar como os organismos são altamente organizados e estruturalmente complexos. A matéria ina- nimada – constituída por areia, terra, rochas e água – é, normalmente, constituída de compostos químicos simples quando comparados às estruturas internas dos organismos vivos (Figura 1) que são altamente complexos e diferenciados, com estruturas funcionais únicas. Figura 1 - Representação das células do fermento de leveduras, Saccharomyces cerevisiae, que são organismos vivos unicelulares O segundo ponto que iremos abordar sobre os organismos vivos é seu comportamento com a energia, sua capacidade de transfor- mação e obtenção.Você já ouviu falar na célebre frase do cientista francês Antoine-Laurent de Lavoisier? “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” A energia não pode ser provinda do nada, ela deve ser transfor- mada, e os organismos vivos conseguem manipular essa energia para manter suas estruturas, realizar trabalhos mecânicos, osmótico, químico, entre outros processos. Por meio da energia química e/ou radiante da luz solar, esses trabalhos são possíveis (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). A matéria inanimada sempre procura um estado de equilíbrio com o meio, e sua estrutura tende sempre seguir sua entropia, ou seja, maior grau de desordem. O terceiro ponto que iremos abordar é o mais característico da vida e, normalmente, o ponto de exclusão dos vírus, que é a capa- cidade de autoreplicação e automontagem (Figura 2). 16 Introdução à Bioquímica Cervejeira Uma bactéria se reproduz tão rapidamente que poderemos, a partir de uma única célula, atingir a contagem de 106 (um milhão) de células idênticas em menos de 24 horas (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). As leveduras se reproduzem em uma taxa bastante elevada, mas devemos sempre ter em mente que a contaminação bacteriana pode influenciar as características sensoriais da sua cerveja, de maneira indesejada ou não. Tanto as células das bactérias, como as células das levedu- ras e de todos os seres vivos apresentam milhares de estruturas complexas e semelhantes às células de origem, podendo ser replicadas por meio da transcrição de seu DNA. Essas características, anteriormente citadas, não são encontradas na matéria inanimada, po- demos verificar semelhanças entre alguns com- parativos, mas nunca encontraremos todas essas características na matéria inanimada de uma só vez. O crescimento de cristais formam estruturas replicáveis, mas são muito menos complexos que as estruturas das células e são estáticas, não apre- sentam o dinamismo encontrado nas células vivas. Cada componente de um ser vivo apresenta funções específicas, não somente para grandes animais ou plantas, mas também nos nossos mi- crorganismos cervejeiros, que possuem compos- tos químico individuais com funções específicas. Esses componentes químicos são dinâmicos e es- tão em constante alterações provocadas por mu- danças coordenadas ou compensatórias, obtendo, assim, um conjunto de características distintas daquela encontradas pelos constituintes particu- lares (NELSON; COX, 2014). A Utilização da Bioquímica para Explicar a Vida Todos os elementos que estão presente nos seres vivos se comportam inegavelmente pelas leis da química, mas, como você sabe, isso não é sufi- ciente para explicar toda a lógica que rege a vida. Temos que incluir outros princípios para enten- der esse comportamento, que também não são regidos pelas leis da física ou por conceitos ainda Figura 2 - Representação de célula durante a divisão celular com cromossomos aparentes 17UNIDADE 1 desconhecidos. Esses princípios que regem as mo- léculas nas células são relacionados às caracterís- ticas encontradas na natureza. Por isso, devemos analisar esse conhecimento do ponto de vista das biomoléculas, suas funções e interações. Ao chegar aqui, você já deve perceber que a soma de um monte de matéria inerte é o que provém a vida. Você consegue perceber que nós somos um aglomerados de moléculas estudando moléculas? E que essa admirável combinação de atributos é o que torna a vida possível? Qual é o ponto que separa esse aglomerado de matéria inerte em vida? Este é o papel da bioquímica, o de determinar como tudo isso é possível. Veremos, aqui, quais os passos que as leveduras tomam para manter-se vivas e gerar seus produtos de interesse (NELSON; COX, 2014). A Química da Vida Assim como um programa de computador com lógica programada, cada átomo e molécula se comporta com uma programação exclusiva, fa- zendo colisões e reações seguindo as leis que re- gem todo o nosso universo. Toda a vida que até agora conhecemos seguem os mesmos mecanismos a partir de poucos com- postos simples. Uma série de ligações covalentes de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, que vão dar origem aos monossaca- rídeos, aminoácidos e nucleotídeos que, por sua vez, darão origem aos ácidos nucleicos, polissa- carídeos e proteínas. Assim como um computador realiza todas suas funções apenas com as informações binárias de 0 e 1, ou preenchido e vazio, a vida segue uma programação quaternária regida em, algumas ve- zes, pelos ácidos desoxirribonucleicos (DNA) e, em outros casos, pelos ácidos ribonucleicos (RNA). Essas informações darão origem à síntese de proteínas que serão compostas por somente 20 aminoácidos. Desde a espuma de uma deliciosa cerveja Porter até as proteínas que constituem suas papilas gustativas são formadas por oito tipos de nucleotídeos que formarão todos os ácidos nu- cleicos e os 20 tipos de aminoácidos, que estarão presente em todo ser vivo deste planeta até então observado. Essa infinidade de possibilidade de combinações desse aminoácidos serão precursores de todo o tipo de biomoléculas (KUNZE, 2014). O excelente livro “O guia do mochileiro das galáxias”, de Douglas Adams, uma civilização constrói um supercomputador para responder qual o sentido da vida, do universo e tudo mais. No final, a resposta é somente um número, como se fosse uma informação vetorial em módulo, 42; mas será que fizeram a pergunta certa? Você já se perguntou qual o sentido da vida? A resposta é mais simples do que parece: é se desen- volver e reproduzir. Esse comando é o que rege as reações que ocorrem tanto na cerveja como em qualquer ser vivo do planeta Terra. 18 Introdução à Bioquímica Cervejeira A Utilização da Energia das Biomoléculas Tudo na natureza tende a um estado de equilí- brio. Para evitar essa tendência, a vida necessita de um suprimento constante de energia para não se tornar, novamente, matéria inerte. Os seres vi- vos armazenam e transformam energia, desde a captura da energia solar ou pela extração de ali- mentos oxidáveis, para realizar os processos que necessitam. Nossos microrganismos cervejeiros, por exem- plo, utilizam da energia solar que a cevada arma- zenou na forma de amido e que suas enzimas con- vertem em glicose. A degradação e transformação da glicose em outros compostos, como dióxido de carbono, água e etanol ou para conversão em lipí- deos e proteínas, refletem um estado estacionário dinâmico da vida. Uma vez que os componentes das células tendem a manter-se constante e fora de equilíbrio; as biomoléculas estão em constante trânsito (KUNZE, 2014). A primeira lei de Newton, sobre a inércia dos corpos, ensina-nos que para que um corpo saia de seu estado inercial, precisa-se aplicar uma força, se essa força deslocar o corpo, ele realiza trabalho, e trabalho é energia. Essa energia que deve haver disponível para realizações das funções das bio- moléculas é chamada de energia livre. Em um sistema fechado, com um número de moléculas que não variam, as reações químicas ocorrem espontaneamente até atingir um estado de equilíbrio. A quantidade final e inicial de ener- gia varia e é chamado de variação da energia livre (∆G), que indicam o quanto as reações das biomoléculas estão longe do estado de equilíbrio. Se o produto dessas reações tiver menos energia livre do que seus reagentes, sua ∆G será negativa e a reação liberará essa energia, sendo chamada de exergônica. Se o contrário acontecer e a ∆G for positiva, indica que o produto tem mais energia que seus reagentes e a reação absorveu energia para acontecer, sendo denominado como uma reação endergônica. Quando uma reação libera energia, ela a trans- forma de várias maneira, como em som, calor e trabalho, e a parte dessa energia que não é apro-veitável é chamada de entropia, que é a medida do nível de desordem do universo. Todas essas rea- ções são feitas para manter a vida e a estrutura da célula, para que as informações do DNA possam ser transmitidas. Com essa ideia da matemática da vida que chamamos de bioquímica, iremos adentrar os conceitos celulares e as reações que ocorrem na nossa produção cervejeira (LEHNIN- GER; NELSON; COX, 1995). Apesar da cerveja ser, basicamente, o produto do metabolismo da levedura, este é de extremo interesse, e suas vias metabólicas é o que criam sabores e características marcantes para cada es- tilo de cerveja que iremos, futuramente, aprender. 19UNIDADE 1 Ao se falar sobre produção de cerveja ao nível mi- crobiológico, não podemos nos ater somente em um único grupo de microrganismos, no caso as levedura, pois não são somente elas que você en- contrará em sua vida de cervejeiro. Alguns desses microrganismos terão que ser evitados, por isso você deve conhecer seu inimigo; bactérias tam- bém poderão ser usadas na elaboração de receitas para a formação de outros compostos. Existem diversos microrganismos que conseguem conver- ter a glicose em etanol, mas, com certeza, para os nossos fins, as leveduras do gênero Saccharomyces spp. são as mais eficazes (LIMA; ANGNES, 1999). Para entender as diferenças que ocorrem nes- ses microrganismos, iremos adentrar nas unida- des estruturais e funcionais que regem todos os seres vivos: as células. Existem diversos tipos de organismos vivos, desde os grandes e visíveis, que são multicelulares, até os unicelulares e microscópicos. Embora haja diferenças entre eles, todos apresentam certas ca- racterísticas estruturais em comum. Uma delas é a membrana plasmática que, por sua vez, delimita a célula de sua vizinhança, que é composta por lipídeos e proteínas, formando uma bicamada lipí- dica mantida unida por ligações hidrofóbicas não covalentes, formando uma camada fina, flexível e resistente em volta da célula (Figura 3). Estrutura Celular 20 Introdução à Bioquímica Cervejeira Essa membrana é responsável por transportar, por meio das proteínas nela presentes, íons, mo- léculas e informações do meio externo. Durante o processo de divisão celular, são gerados pro- teínas e lipídios que serão inseridos na mem- brana para que as duas novas células tenham suas próprias membranas. Além de realizar um processo de fissão durante a divisão, é possível observar que algumas células pode fazer fusão de membrana sem comprometer sua estrutura. Também são responsáveis pelos processos de transporte de nutrientes conhecidos como exo- citose e endocitose. Envolto pela membrana plasmática, encontra- remos o citoplasma, contendo uma grande diver- sidade de partículas em suspensão em um meio aquoso, chamado de citosol, que, por sua vez, tem consistência gelatinosa rica em uma composição complexa de biomoléculas. Nele, está presente enzimas, moléculas de RNA, nucleotídeos e ami- noácidos, metabólitos e coenzimas. Dentre as inúmeras partículas em suspensão no citosol, encontra-se uma grande variedade de orga- nelas que são limitadas por membranas conhecidas com ribossomos. Eles são máquinas enzimáticas da célula que favorecem a síntese de proteína. Figura 3 - Ilustração da membrana da célula Como a camada lipídica da membrana não é composta por ligações covalentes, acaba deixando a estrutura incrivelmente flexível, permitindo alterar tamanho e forma da célula. Como essa camada é constituída por lipídeos, a utilização de detergentes quebra a parede celular, matando a célula, por isso higienizamos, primeiramente, uma superfície com agentes saponificantes antes de expor essa superfície a um alimento. 21UNIDADE 1 O conjunto de informações presentes no DNA é chamado de geno- ma, que é responsável por administrar toda a vida celular, que pode ser encontrado em estruturas chamadas de núcleo ou em nucleoide. Como o DNA normalmente é maior que a própria célula, ele é eno- velado e empacotado para dentro do núcleo ou nucleoide (Figura 4). No caso das bactérias, o DNA não é encontrado no núcleo e fica disperso no citoplasma da célula. Então, recebem o nome de proca- riotos (que vem do grego pro- “antes”, e karyon “núcleo”), e temos os organismos eucariontos (eu do grego significa verdadeiro). Caracte- risticamente estas células apresentam indícios de que vieram evoluídas biologicamente de células procariotas, pois, se observarmos, elas apre- sentam um elaborado sistema de membranas muito provavelmente advindas de invaginações da membrana plasmática, realizadas por proteínas contráteis existentes no citoplasma, o que corrobora esta hi- pótese é que as membranas intracelulares das procariotas apresentam uma assimetria similar à encontrada na membrana plasmática das eucariotas. Os organismos eucariotos possuem organelas que não são encontradas nos procariotos, como os lisossomos, mitocôndrias, com- plexo de Golgi e retículo endoplasmático; e nas células que conseguem Durante o processo de fermentação, ocorre geração de ácidos orgânicos e outros compostos que oca- sionam a redução do pH. Esse mecanismo beneficia as leveduras, uma vez que as bactérias, normal- mente, não conseguem trabalhar nessa faixa de pH, que está abaixo de 5,0. Durante a fermentação, você poderá notar que o pH será constantemente reduzido até estabilizar. Se o meio começar a ficar impróprio para as leveduras, poderá ocorrer quebra da membrana plasmática, expondo o citoplas- ma. Você notará que o pH de sua cerveja começará a aumentar. Esse fator deve ser evitado, o que ocasionaria alteração sensorial, por isso utilize cepas de leveduras confiáveis e siga a recomendação do fabricante. Um outro fator que pode ajudar a resolver esse problema é a retirada de um pouco do fermento ainda durante a fermentação, que é chamada de purga do fermento inativo (morto). Figura 4 - Representação de DNA Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). realizar a fotossíntese, temos os cloroplastos. Até aqui, nós relembramos várias características das células e suas funções; apesar de abrangente, todo esse conhecimento pode e deve ser relacionado diretamente à produção de cerveja. Iremos, a partir daqui, concentrar-nos em células eucariontes, uma vez que as leveduras fazem parte do reino Fungi e sua principal característica é ser formado por organismos eucariontes que não realizam fotossíntese. Muitas das organelas responsáveis pela produção de energia na fabricação de cerveja serão vistas posteriormente e relacionadas a esses indivíduos. Contudo, o estudo de procariontes deve ser incluso, pois as bactérias também realizam papel na fabricação, assim como os organismos fotossintetizantes, uma vez que a cevada cervejeira é um deles (MALHOTRA, 2012). 22 Introdução à Bioquímica Cervejeira Comparando Dimensões Celulares Figura 5 - Representação de uma Câmara de Neubauer (a) e como posicioná-la em um microscópio (b). Estudo das Procarióticas Existem dois grandes grupos de células procarió- ticas conhecidas como arqueobactéria (do grego arché, “origem”) e a eubactéria. Esta última é en- contrada na superfície da água, tecido de animais e no solo. Elas também são subdivididas por grupos que as classificam conforme o meio onde melhor se desenvolvem. Por exemplo, existem o grupo dessas bactérias que se utilizam do oxigênio molecular (O2) para realizações de obtenção energética, co- nhecidos como aeróbicos. Existem, também, or- ganismos que vivem em ambientes completamente sem oxigênio, conhecidos como anaeróbicos. É provável que todas as células vivas tenham sido originadas dos mesmos progenitores, compartilhando as mesmas características fundamentais. É possível encontrar semelhan- ças genéticas entre E. coli, Saccharomyces e Chlamydonas, que produzem semelhantes enzimas, entre outroscompostos. A facilida- de de multiplicação dessas cepas permitiu os cientistas constarem alteração genética após repetições de multiplicação. De maneira geral, as células são microscópicas, ou seja, estão na escala de leitura de micrometros (µm). As células de plantas e animais têm tamanho médio, variando de 5 a 100 µm; enquanto muitos organis- mos unicelulares apresentam de 1 a 2 µm. Isso pro- vavelmente ocorre pela quantidade de biomolécu- las necessárias para cada tipo de microrganismo. Já as Saccharomyces cerevisiae apresentam tamanho entre 5 a 10 µm. Em um microscópio ótico, com ampliação de 10x a 20x, já é possível contá-las, para isso, normalmente, usamos um artefato conhecido como Câmara de Neubauer (Figura 5). 23UNIDADE 1 Muitos desses organismos vivem, exclusi- vamente, sem oxigênio, por isso são conheci- dos como anaeróbios estritos. Ao entrarem em contato com oxigênio, eles morrem. Existem os microrganismos que conseguem viver em dois meios, tanto na presença ou na ausência do oxi- gênio, são conhecidos como anaeróbios facul- tativos; nesse grupo, encontramos as leveduras. Todos os organismos se enquadram na clas- Figura 6 - Bactéria E. coli. Podemos notar a falta de núcleo, e seu DNA é uma longa molécula circular simples e única sificação de quimiotróficos, ou seja, que conse- gue retirar energia de reações químicas. Se essa obtenção é proveniente da luz, então esse grupo pode ser classificados como fototróficos. Se sua obtenção vem de fontes, como CO2 e NH3, eles também são conhecidos como autotróficos; mas, se precisam de outros elementos previamente disponível no meio, são chamados de hetero- tróficos (LEHNINGER; NELSON; NOX, 1995). Uma procariótica bastante conhecida e também a melhor estudada é a Escherichia coli spp. (Fi- gura 6). Ela tem 2 µm de comprimento e menos de 1 µm de diâmetro, é normalmente inofensiva dentro do intestino dos mamíferos e faz parte do grande grupo das enterobactérias. Os ribosso- mos bacterianos são menores quando compara- dos aos dos eucariontes, mas a função desempe- nhada por eles é a mesma: a sínteses de proteína a partir do RNA mensageiro. Nós iremos estudar, futuramente, neste livro, estruturas circulares de DNA não essenciais que estão dispersos no citoplasmas dessas bactérias, conhecidas como plasmídeos, esses segmentos de DNA são muito utilizados por geneticistas para a manipulação genética. Essas estruturas são usadas para a tro- ca de infração genética entre microrganismos, adquirindo, assim, resistência a antibióticos e a toxinas do meio ambiente onde se encontram (NELSON; COX, 2014). 24 Introdução à Bioquímica Cervejeira Estudo das Eucariotas Por causa de evidências fósseis, é possível atribuir que as células eucariotas sejam uma evolução das células procarióticas, que ocorreram a cerca de 1,5 bilhão de anos. Ocorreram três principais al- terações para ser possível essa transformação. A primeira delas foi que as células adquiriram mais DNA, surgindo mecanismos que compactaram e dobraram esse DNA em complexos de proteínas específicas, e dividiram essa informação para as células filhas durante a divisão celular, formando enovelados de DNA conhecidos como cromos- somos (Figura 7). Figura 7 - Representação de um Cromossomo O segundo passo dessa evolução foi separar esse material genético do citoplasma por uma segunda membrana, dando origem ao núcleo, onde o ma- terial genético dá origem ao RNA e as proteínas podem ser sintetizadas no citoplasma. O terceiro ponto desse processo foi a asso- ciação simbiótica, na qual diferentes bactérias se uniram, como a fotossíntese e o metabolismo anaeróbio, que, futuramente, tornaram-se perma- nentes. Algumas bactérias aeróbicas evoluíram para mitocôndrias das células eucariontes moder- nas, e as cianobactérias fotossintetizantes evoluí- ram para os cloroplastos das células das plantas. Você pode notar que essa simbiose favorece os dois organismos, um especializado em gerar energia e outro em capturar nutrientes. É possível perceber que o DNA da mitocôndria é diferente do DNA da célula, mais ponto para corroborar a tese que a mitocôndria foi uma célula fagocitada (significado: ingerir ou englobar partículas ou células) por outra. Graças ao grande número de organelas presentes nas células eucariontes, ela tem um volume celular que vai de 1.000 a 10.000 vezes o volume das procariontes. Essas organelas também são envolvidas por membranas, evitan- do, assim, que sejam digeridas dentro das células (NELSON; COX, 2014). Uma característica marcante das membranas plasmáticas é que elas apresentam receptores de sinais, em que sítios de ligação altamente especí- ficos sinalizam o que ocorre no meio extracelular. Elas possuem uma variedade de transportadores, que são proteínas que atravessam a membrana e conseguem fazer o transporte de nutrientes para dentro da célula, também conseguem transportar para fora os produtos residuais gerados durante a síntese de moléculas. Por exemplo, alguns des- ses receptores que se encontram na superfície da membrana estão diretamente ligados com canais iônicos, possibilitando, assim, que esses canais sejam abertos quando o receptor estiver ocupa- do. Essa tradução de sinal permite que enzimas possam ser ativadas ou inibidas na superfície da membrana de acordo com o meio externo. Du- rante a fermentação do mosto cervejeiro, essa re- cepção de sinal torna possível saber se a levedura deve produzir ou não a enzima invertase para a facilitação da fermentação dos açúcares. Dois processos muito comuns realizados pelos organismos unicelulares são a endocitose, que é o transporte de material para dentro da célula, e a exocitose, uma vesícula é criada para descar- 25UNIDADE 1 regar produtos indesejados que caminharam do citoplasma até a saída da membrana plasmáti- ca. Esses processos fazem parte de um sistema de membranas que inclui o retículo endoplas- mático e o complexo de Gol- gi (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). O retículo endoplasmático é uma rede de espaços altamente enovelado que percorre todo o citoplasma, onde são ligados os ribossomos em sua parede ex- terna, que realizaram a síntese de proteínas. Ele pode ser divi- dido em retículo endoplasmá- tico rugoso e retículo endo- plasmático liso (Figura 8). Outra importante organe- la presente nas eucariotas é o complexo de Golgi, que é res- ponsável por processar e dis- tribuir proteínas, formado por uma junção de várias membra- nas denominadas dictiossomos; é comumente visto que esse empilhamento forma, em suas bordas, pequenas vesículas esfé- ricas bem menores. As proteínas lá sintetizadas são alteradas, en- velopadas e transportadas para seu local de atuação específico. Por último, mas não menos importante, temos as mitocôn- drias (Figura 9), conhecidas por serem as usinas de energia das células eucariotas aeróbicas. Apresentam o tamanho de uma bactéria e estão em grande número nas células, podendo chegar a milhares. Possuem DNA próprio e realizam a transformação química de glicose em gás carbônico e água, é responsável pela cadeia respiratória. A energia produzida é convertida em ATP (adenosina trifosfato), que será melhor estudada posteriormente neste livro, ela é o motivo do consumo de carboidratos, lipídeos e proteínas pelas células. Figura 8 - Retículo endoplasmático rugoso e liso em volta do núcleo Figura 9 - Representação de uma mitocôndria 26 Introdução à Bioquímica Cervejeira Outros Organismos Várias outras estruturas são en- contradas em diversos seres vi- vos, em seres multicelulares; ape- sar de todas as células possuírem as mesmas informações de DNA, cada conjunto celular apresenta características distintas. Outras formas também encontrada na natureza são os vírus(Figura 10), que são pedaços de DNA ou RNA encapsulados que não têm função até estarem dentro de uma célula. Uma vez conec- tados à parede celular, eles inje- tam seu material genético que é encaminhado para a produção e síntese de novos vírus dentro da célula hospedeira, então, sua pa- rede é rompida liberando mais vírus e o processo se repete. As mitocôndrias, ao contrário das outras estruturas membranosas, são produzidas pela divisão das próprias mitocôndrias, como sendo estruturas isoladas dentro das células. Você possui, em suas mitocôndrias, o mesmo material genético que os encontrados nas mitocôndrias das células de sua mãe, e não nas do seu pai, porque elas estavam presentes no óvulo que se multiplicaram enquanto as células se dividiam. Figura 10 - Vírus 27UNIDADE 1 Para entendermos a composição da nossa cerveja, devemos entender a função e a forma biológica em termos químicos, para isso, iremos adotar as formas mais químicas e individuais dos compo- nentes, pegando, por exemplo, uma proteína e caracterizá-la por meio de sua estrutura química ou pela forma que é realizada sua atividade cata- lítica. Para se produzir uma boa cerveja, devemos garantir que o mosto tenha todos os nutrientes químicos necessários para a levedura, então, de- vemos fazer os seguintes questionamentos: quais elementos químicos as células precisam? Quais moléculas estão presentes nas células? Quais são as proporções que elas apresentam? Por que suas funções são tão adaptadas a células? Levaremos em conta os princípios químicos dessas moléculas biológicas como as ligações covalentes entre os átomos de carbono e desses átomos com outros elementos, estereoquímica dos compostos de carbono e as reações químicas comuns, estrutura tridimensional e grupos fun- cionais. Em seguida, iremos ver a formação de macromoléculas pelas unidades monoméricas e sua origem a partir dos compostos simples encon- trados no planeta Terra (MORAN et al., 2013). Composição Química das Biomoléculas 28 Introdução à Bioquímica Cervejeira Composição Química da Matéria Viva Antoine Lavoisier (1743-1794) notou que a maté- ria viva era diferente da matéria inanimada, que o mundo mineral possui uma química relativamente simples, enquanto o mundo animal e o vegetal era dotado de uma certa complexidade. Ele sabia que o mundo animal era rico nos elementos de carbono, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Esse estudo prévio da química orgânica nos deu valiosos conheci- mentos para o desenvolvimento da bioquímica. Iremos revisar, então, alguns conceitos de química orgânica, como ligação entre átomos de carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, e os grupos que resultam dessa diversidade de compostos orgâni- cos (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). A vida é formada, principalmente, por elemen- tos leves, se considerarmos os quatros elementos mais abundantes nos seres vivos em relação molar – que são o hidrogênio, oxigênio, o nitrogênio e o car- bono – somam juntos 99% da matéria da maioria das células. No quesito de formar uma, duas, três e quatro ligações respectivamente, eles são os mais le- ves encontrados na tabela periódica; em geral, essa característica proporciona fazer as ligações quími- cas mais fortes. Contudo, você viu essas ligações em química cervejeira. Esses elementos necessários para a vida são encontrados em abundância na água do mar, também eram encontrados na atmosfera da Terra primitiva, que provavelmente era constituída de amônia, água e hidrogênio, compostos estes que são necessários para se iniciar as biomoléculas. Biomoléculas As biomoléculas são compostos de carbono, esse elemento representa mais da metade do peso seco das células. Vamos considerar o me- tano (CH4), ele é o hidrocarboneto mais sim- ples que temos, no qual um carbono realiza um compartilhamento de elétrons com quatro áto- mos de hidrogênio, formando quatro ligações simples entre eles. O carbono também pode realizar ligações simples e duplas com átomos de oxigênio e nitrogênio. Sua capacidade de realizar ligações simples e estáveis entre outros átomos de carbono tem papel fundamental nas biomoléculas, ele também é capaz de realizar ligações simples, duplas e triplas entre os seus átomos (Figura 11). Os átomos de carbono podem formar es- truturas ramificadas, cíclicas, em formas de gaiola ou caixa. São fixados a esses esqueletos de carbono grupos de átomos conhecidos como grupo funcionais, que garante à molécula pro- priedades químicas específicas. Esses esquele- tos carbônicos são denominados compostos orgânicos, que, por sua vez, formam a maio- ria das biomoléculas. Podemos deduzir que a grande versatilidade das ligações dos átomos de carbono foram as responsáveis pela origem e evolução da vida (MORAN et al., 2013). 29UNIDADE 1 Determinação das Propriedades Químicas As propriedades químicas das biomoléculas são determinadas pelos seus grupos funcionais; os átomos de hidrogênio, no esqueleto de carbono, podem ser substituídos por outros elementos, dando origem a diferentes compostos orgânicos. Esses compostos são classificados em famílias, como os álcoois, aminas, aldeídos, cetonas e os ácidos carboxílicos. Também existem biomolécu- las que são polifuncionais, podendo conter gru- pos funcionais diferentes, como os aminoácidos, que funcionam como unidades monoméricas de proteínas, contendo um grupo amino e um grupo carboxila (LIMA; ANGNES, 1999). Outra característica crucialmente importante das biomolécula é sua estrutura tridimensional característica. Essas estruturas são conhecidas como estereoisômeros. Uma classe especial são conhecidos como enantiômeros, que são compostos que geram imagens de si mesmo e que não são sobrepostas. Todas as característi- cas químicas dos enantiômeros são as mesmas, exceto que um deles desviará a luz polarizada para a direita e outro para a esquerda. Figura 11 - Representação das ligações entre os átomos de carbono, oxigênio, nitrogênio e entre si Fonte: Lehninger, Nelson e Cox (1995, p. 12). Outra característica fundamental do carbono é sua formação de estrutura tridimensional. Ne- nhum outro elemento consegue formar molécu- las com tal variedade de formas e tamanhos com tantos grupos funcionais. Sua configuração tetraédrica é formado por ângulos de 109,5º entre suas ligações e um com- primento médio de 0,154 nm, ou seja, cerca de dez mil vezes menor que as bactérias. Essas ligações podem girar em seu eixo, sendo res- tritas somente em cadeias muito grandes ou com grupos muito carregados eletricamente. No caso das duplas ligações, sua estrutura se torna relativa- mente mais rígida, por isso a liberdade de rotação diminui quando comparado às ligações simples. 30 Introdução à Bioquímica Cervejeira Macromoléculas Elas são polímeros (ou seja poli “muitos” e meros “partes”, muitas unidades simples ou puras ligadas) de alto peso molecular, consti- tuídos por subunidades monoméricas relativamente simples. Um exemplo de macromolécula são as proteínas – longos polímeros de aminoácidos – que, juntamente com a água, constitui a maior parcela do peso das células. Podem servir como elementos estru- turais ou/e transportadoras de sinais específicos, também podem ter atividade catalítica e funcionar como enzima. Outra macromolécula importante são os ácidos nucleicos, DNA e RNA, que são polímeros de nucleotídeos. Temos, também, os polissacarídeos (Figura 12) – polímeros de açúcares simples, e suas funções são: armazenamento de energia, liberadores de energia e elementos estruturais extracelulares. Temos, ainda, os lipídios – derivados oleosos de hidrocarbonetos, são os componentes es- truturais das membranas e um alimento muito rico em energia. Figura 12 - Polissacarídeo As macromoléculas (proteína, ácidos nucleicos,polissacarí- deos e lipídeos) são constituí- das por subunidades monomé- ricas arranjadas em famílias. As subunidades das proteínas são 20 aminoácidos diferentes, que possuem um grupo amino e um grupo carboxila ligados a um mesmo carbono, chamado de carbono-α. O que difere es- ses α-aminoácidos é somente a suas cadeias laterais As unidades estruturais dos ácidos nucleicos possuem ape- nas oito nucleotídeos diferentes, quatro deles formarão as estru- turas do DNA, e outros quatro formarão as estruturas do RNA. Cada nucleotídeo é feito por uma base orgânica nitrogenada, um açúcar de cinco carbonos e uma molécula de fosfato. Cinco bases nitrogenadas combinadas com dois tipos de açúcares for- mão os oitos nucleotídeos de DNA e RNA (Figura 13) (NEL- SON; COX, 2014). 31UNIDADE 1 Os lipídeos são estruturas consti- tuídas por poucos tipos de subu- nidades. A maioria dessas molé- culas contém um ou mais ácidos graxos de cadeia longa, em que os compostos mais típicos são o pal- mítico e o oleato, e podem apre- sentar um álcool, como o glicerol ou, também, um grupo fosfato. Então, apenas alguns compostos orgânicos são responsáveis por gerar a maioria das biomoléculas. A ordem Energética da Vida Pela segunda lei da termodinâmica, em direção a um universo, a ten- dência é que a desordem sempre aumente. Essa desordem da matéria é chamada de entropia, é expressa pela letra S. Então, é bem impro- vável que os aminoácidos em uma proteína se unifiquem de modo organizado e único por si só, é necessário gasto de energia para criar a ordem. O químico J. Willard Gibbs descreveu a teoria das variações energéticas para as reações químicas (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995; MALHOTRA, 2012). Ele relacionou a quantidade de energia livre que existe nas mo- léculas (G, energia livre de Gibbs), com três termos quantitativos: a Figura 13 - RNA e DNA, com suas bases nitrogenadas 32 Introdução à Bioquímica Cervejeira entalpia (H), que está relacionada à quantidade e ao tipo de ligação realizada; a entropia (S); e a tem- peratura (T) expressa em Kelvin. Então, a definição de energia livre na matéria é G = H – T S. Desse modo, quando uma reação química ocorre sem a variação da temperatura, temos uma variação no número de interações não covalentes, quebradas e formadas, determinadas pela variação da entalpia (∆H) e pela variação da desordem do sistema (∆S). Assim temos: ∆G = ∆H – T ∆S Então, essa reação pode acontecer espontanea- mente se o ∆G for negativo. Assim, se a síntese de aminoácidos e proteínas tem ∆G positivo, para essa reação ocorrer, a célula deve dispor de meca- nismos para que a quantidade de energia total na reação seja sempre maior, acoplando, assim, essas reações a outras mais energéticas. Imagine a seguinte situação: troque o termo energia por dinheiro, se você quer construir algo, você precisa ter dinheiro para comprar os materiais. Você tem R$ 100,00, se você pagar os materiais e sobrar R$ 40,00, você teve uma variação de dinheiro de menos R$ 60,00. Então, como na energia livre de Gibbs, para as reações acontecerem, os produtos têm que ter menos energia que os reagentes. Se o seu dinheiro não for suficiente, não é pos- sível ficar em dívida com a natureza. Assim, essa diferença deve vir de uma outra reação, como um empréstimo de uma outra pessoa. Nas reações químicas, outros componentes podem ceder a energia que falta para a reação ocorrer (David L. Nelson e Michael M. Cox). O Surgimento das Biomoléculas na Terra Todos os seres vivos na Terra são constituídos pelas mesmas três dúzias de macromoléculas, é uma das evidências que toda a vida descendem de uma linhagem única de células primordiais. Para tentar explicar a origem dos compostos orgânicos, em 1922, o bioquímico Alexander Oparin propôs uma teoria de que, na origem do planeta Terra, a atmosfera fosse muito diferente do que é hoje, sendo rica em metano, amônia e vapor d’agua, e sem oxigênio, sendo uma atmosfera redutora e não oxidante. Essa teoria dizia que as condições atmosféri- cas e descargas elétricas forneciam condições de síntese de compostos orgânicos simples que se dissolviam nos mares antigos que, ao longo de milhões de anos, ficaram ricos nessa variedade de compostos orgânicos. Formando uma espécie de “sopa prebiótica ou sopa primordial”, que era constantemente aquecida, aumentando, assim, a possibilidade de reação, até se associarem em membranas e catalisadores, os quais se uniram uns aos outros para se tornar os precursores das células primitivas. Um experimento clássico desenvolvido por Stanley Miller e Harld Urey, em que uma mis- tura gasosa contendo NH3, CH4, vapor d’água e H2 foi exposta a centelhas elétricas, simulando relâmpagos na atmosfera, por períodos de se- manas. Ao analisar o conteúdo do frasco, a fase gasosa continha CO e CO2, e os compostos quí- micos iniciais. Na fase aquosa, foi encontrada uma variedade de compostos orgânicos, como aminoácidos, hidroxiácidos, aldeídos, álcoois e ácido cianídrico. Foi a partir desse experimento que possibilitou a produção abiótica, ou seja, não biológica das biomoléculas em tempos re- lativamente curtos e condições relativamente brandas. 33UNIDADE 1 A experiência de Miller e Urey foi repetida diversas vezes de forma mais refinada. Com o passar dos anos, os aparelhos de análises se tornaram mais precisos e foram descobertos, também, outros componentes essenciais. Esses compostos incluem: 10 aminoácidos comuns, uma grande variedade de ácidos mono, di e tricarboxílicos, formaldeídos, adenina e ácidos graxos que são possíveis de se avaliar em método HPLC sigla em inglês para high performance liquid chromatography ou cromatografia líquida de alta eficiência, é um método de separação de compostos químicos em solução, é utilizada na química analítica para identificar e quantificar cada componente em uma mistura (Figura 14). Em determinadas condições, os formaldeídos se polimeriza para formar açúcares de três, quatro, cinco e seis carbonos. Além dos muitos monô- meros formados, também aparecem polímeros de nucleotídeos (ácidos nucleicos) e aminoácidos (proteínas), nesses experimentos. Muitos experimentos posteriores foram rea- lizados. Encontraram-se evidências da forma- ção de proteínas e RNA, que pode agir como catalisador de reações e é razoável que tenha Figura 14 - HPLC, aparelho de cromatografia capaz de analisar compostos, individualmente desempenhado um papel crucial como repo- sitório de informação e servindo como catali- sador na evolução prebiótica. Você deve se ater ao fato de que essas reação foram continuadas durante milhões e milhões de anos até se fun- direm em uma célula. Todos os experimentos que cercam essa teoria não têm mais que 70 anos; com o passar do tempo, mais e mais evi- dências se somaram e corroboraram a esse fato (NELSON; COX, 2014). 34 Introdução à Bioquímica Cervejeira A Evolução Biológica Os organismos vivos, hoje, em sua maioria, sinte- tizam proteínas e lipídios a partir da informação contida em seu DNA, que apresenta a capacidade de catalisar, replicar e reparar os ácidos nucleicos. Entretanto, as evidências apontam que vida pode ter surgido não pelo DNA, mas pelo RNA, pelo fato das moléculas do RNA agir como catalisadores em sua própria formação, isso sugere que o RNA pode ter sido o primeiro gene e o primeiro catalisador, sendo uma estrutura que sua própria síntese per- mita que ela se replique e se autoperpetue. Assim, a constância dessa autorreplicação ao decorrer na síntese poderia não ser perfeita, causando varia- ções de RNA, podendo gerar replicantes ainda melhores. Dessa forma, quem capturar o maior número de nucleotídeos era selecionado para não desaparecer da população de RNA replicantes. Nesse mundo deRNA, variantes dessas molécu- las se especializaram na capacidade de condensar os aminoácidos em peptídeos. Os peptídeos for- mados reforçariam a capacidade do RNA em se re- duplicar, podendo sofrer alteração e, consequente- mente, replicadores mais eficientes. Algum tempo depois, durante a evolução desse sistema primitivo de síntese de proteína, ocorreu a formação das mo- léculas de DNA, que conservavam a informação da replicação de RNA; este passou a tomar para si a síntese de proteínas e, por semelhantes, a sínte- se dos lipídeos, formando, envolta deles, camadas impermeáveis de lipídeos e proteínas, impedindo que fossem digeridos por outros RNAs. 35UNIDADE 1 A água é um dos mais importantes elementos para a vida dos seres vivos em geral e é a substância mais abundante no corpo humano, correspondendo a 70% da composição corporal. Hoje, sabemos que a origem da vida na Terra ocorreu na água e, a partir de então, em qualquer ambiente onde é encon- trado esse líquido, quase sempre são encontradas diversas e numerosas formas de vida. A água é o meio de predileção das interações moleculares e as reações químicas celulares, como as reações do metabolismo da célula. Para um entendimento des- ses processos, é importante conhecer as estruturas químicas que estão envolvidas na manutenção de suas ligações e interações moleculares e na forma- ção de biomoléculas (NELSON; COX, 2014). As ligações covalentes são envolvidas na for- mação das biomoléculas, que ocorrem com com- partilhamento de elétrons. As ligações químicas não covalentes, como ligações de hidrogênio, liga- ção iônica, forças de Van der Waals e a interação hidrofóbica são fundamentais para a manutenção das estruturas das biomoléculas, bem como nas suas interações moleculares no ambiente celular. O Efeito da Água sobre Biomoléculas 36 Introdução à Bioquímica Cervejeira Estruturas Químicas da Água A água é composta de um átomo de oxigênio e dois átomos de hi- drogênio, os átomos de hidrogênio se ligam de forma covalente ao átomo de oxigênio, fazendo o compartilhamento com ele de um par de elétrons (Figura 15). O oxigênio apresenta dois pares de elétrons que não são compartilhados. Dessa forma, existem quatro pares de elétrons em volta do átomo de oxigênio, dois deles envolvidos nas ligações covalentes com o hidrogênio e dois pares não comparti- lhados no outro lado do átomo de oxigênio. Polaridade da Água O átomo de oxigênio é mais eletronegativo em relação ao de hidrogênio, quer dizer que, o oxi- gênio atrai os elétrons que estão envolvidos na ligação oxigênio – hidrogênio, mais fortemente que o hidrogênio. O ângulo de ligação H – O – H é de 104,5°, levemente menor que o ângu- lo 109,5° de um tetraedro perfeito, devido ao agrupamento dos orbitais não ligantes do átomo de oxigênio (Figura 15). Essa propriedade é de extrema importância na polaridade da molécula de água, deixando o oxigênio com os elétrons mais próximos e o hidrogênio com os elétrons mais afastados. Desse jeito, a molécula de água é polar, sendo o oxigênio seu polo negativo e os hidrogênios seus polos positivos. Interações em Sistemas Aquosos As ligações que são feitas com o hidrogênio, Figura 16, entre as moléculas de água, fornecem as forças ligantes que fazem a água estar líquida à temperatura ambiente e formar gelo em baixas temperaturas com arranjos altamente ordenados de moléculas. A dis- solução das biomoléculas polares em água é possível, pois troca as interações entre as próprias moléculas de água por interações mais favoráveis entre a água e um soluto. Por outro lado, as biomoléculas apola- res são muito pouco solúveis em água, porque elas interferem nas interações do tipo água com água, mas são incapazes de formar interações do tipo água com soluto. Em casos de soluções aquosas, as moléculas apolares tendem a formar agregados. Em 25 ºC (temperatura ambiente), a energia térmica de Molécula de água Figura 15 - Estrutura da molécula de água Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014, p. 48). 37UNIDADE 1 uma solução aquosa é da mesma intensidade que a necessária para romper as ligações de hidrogênio, ou seja, quando a água é aquecida, o aumento da temperatura é observado no aumento da velocidade de cada molécula de água. Figura 17 - Ligações de hidrogênio no gelo Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014, p. 49). Substâncias que se Solubilizam em Meio Aquoso Os íons carregam, em sua composição, cargas elétricas, sejam elas positiva ou negativa. Tais substâncias conseguem se dissolver em água pela capacidade de hidratação junto às moléculas de água. A carga positiva da substância iônica atrai a carga parcial negativa da molécula da água, da mesma forma que a carga negativa da substância ionizada atrai a carga parcial positiva da molécula de água. Dessa forma, a solubilização do cloreto de sódio, ou sal de cozinha (NaCl), em água, por exemplo, acontece com a dissociação dessa mo- lécula em seus íons sódio (Na+), que têm a carga positiva, e cloreto (Cl-) que tem sua carga negativa (Figura 18). Figura 16 - Duas moléculas de H2O unidas por ligação de hidrogênio Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014, p. 48). Redes estendidas de moléculas de água unidas por ligações de hidrogênio também formam pontes entre solutos (proteínas e ácidos nucleicos) que permitem que as moléculas maiores interajam umas com as outras por distâncias de vários na- nômetros sem se tocarem fisicamente. Em temperatura ambiente, na água em seu estado líquido e pressão atmosférica, as molécu- las estão desarranjadas, realizando movimentos contínuos; no entanto, no estado sólido (gelo), cada molécula de água permanece fixa no espaço, formando uma estrutura de rede regular (Figura 17). A capacidade de expansão da água quando congelada – aproximadamente 0 ºC - deve-se pela diferença de densidade que, quando está líquida, é de 1,0 g/ml e sólida tem densidade de 0,92 g/ml. Por exemplo, a água apresenta o que chamamos de dilatação anômala da água quando está entre de 0 ºC a 4 ºC; neste intervalo, o volume da água diminui após 4 ºC. 38 Introdução à Bioquímica Cervejeira Ligação iônica A ligação iônica ocorre com a atração de cargas elétricas opostas dos átomos, eles podem se ioni- zar e atingir a estabilidade do número de elétrons, perdendo ou ganhando elétrons, por exemplo, o sódio (Na), que pode doar um elétron para o cloro (Cl), gerando os íons Na+ e Cl-. O par iônico é mantido junto por uma forte atração eletrostática, denominada ligação iônica. Interações hidrofóbicas As interações hidrofóbicas são resultados das as- sociações dos grupos apolares (hidrocarbonetos) em meio aquoso, direcionada pela minimização das interações desfavoráveis das moléculas da água com os grupos apolares. Muitas biomolé- culas são anfipáticas, como proteínas, pigmentos, certas vitaminas e os esteroides; e fosfolipídios de membranas apresentam regiões polares e apola- res. As estruturas formadas por essas moléculas são estabilizadas por interações hidrofóbicas entre as regiões apolares. As interações hidrofóbicas entre os lipídeos e entre lipídeos e proteínas são as mais importantes na determinação da estrutura de membranas biológicas. Interações hidrofóbicas entre aminoácidos apolares também estabilizam as estruturas tridimensionais das proteínas. Na formação das micelas (ácido graxo mais água), ocorre a associação das caudas apolares dos ácidos graxos para escapar da água formando, assim, um núcleo compacto apolar. A interação hidrofóbica é a atração que mantém as caudas apolares nesse núcleo apolar. Os grupos polares do ácido graxo, por sua vez, voltam-se para a água, interagindo com esse líquido por formação de pontes de hidrogênio ou formando uma camada de hidratação (Figura 19).Na formação dos lipos- somos, os ácidos graxos formam vesículas micros- cópicas compostas de uma ou mais membranas lipídicas, não envolvendo um compartimento aquoso (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Figura 18 - Estrutura do cloreto de sódio, quando dissociado em água, formando íons Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 39UNIDADE 1 Os Solutos Afetam as Propriedades Associativas das Soluções Aquosas Em geral, solutos de diversos tipos modificam algumas propriedades físicas da água (solvente): a pressão de vapor, o ponto de ebulição e o ponto de congelamento, além da pressão osmótica. São chamadas de propriedades coligativas ou associadas, pois o efeito de solutos, nas quatro propriedades, tem o princípio da concentração da água mais baixa nas soluções do que na água pura. Figura 19 - Etapas de formação de micelas: (A) Representação extremidade hidrofílica; (B) Ordenação das moléculas com consequente diminuição do número de moléculas de água; (C) Formação da micela com eliminação da água Fonte: adapatada de Lima e Angnes (1999). 40 Introdução à Bioquímica Cervejeira Pressão Osmótica A osmose é o processo espontâneo no qual as mo- léculas solventes atravessam uma membrana semi- permeável de uma solução de baixa concentração de soluto para uma solução de alta concentração de soluto. Os poros na membrana devem ser suficien- temente adequados para permitir que as moléculas solventes permeiem as duas direções (Figura 20); entretanto devem ser pequenos para a passagem de grandes moléculas de soluto ou íons. A pressão osmótica é a pressão necessária para interromper Figura 20 - Osmose e a medida da pressão osmótica. (a) O estado inicial; (b) O estado final; e (c) A pressão osmótica Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 56). o fluxo líquido de água por meio da membrana. Ela, portanto, depende da concentração do soluto. As células podem ganhar ou perder água devido a concentração de soluto em relação ao seu meio; se as células estão em solução isotônica (mesma con- centração dos dois lados da membrana semiper- meável), a célula, portanto, nem ganha nem perde água. Já em meio hipotônico, as células são colo- cadas em uma solução com concentração baixa de soluto e a água se move para o interior da célula. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 41UNIDADE 1 Escala de pH Para evitar o uso de exponenciais para expressar as concentrações dos íons de hidrogênio em solu- ções, usa-se a escala de pH, que apresenta valores que vão do 0 até 14 (Tabela 1). Assim, uma solução ácida apresenta valores de pH de 0 a 6.9. Uma solu- ção neutra tem o valor de pH igual a 7 e as soluções alcalinas ou básicas apresentam valores de pH de 7.1 até 14, seguindo a expressão pH=-log[H+]. Tabela 1 - A escala de pH [H+] (mol L-1) pH [OH-](mol L-1) pOH 100(1) 0 10-14 14 10-1 1 10-13 13 10-2 2 10-12 12 10-3 3 10-11 11 10-4 4 10-10 11 10-5 5 10-9 9 10-6 6 10-8 8 10-7 7 10-7 7 10-8 8 10-6 6 10-9 9 10-5 5 10-10 10 10-4 4 10-11 11 10-3 3 10-12 12 10-2 2 10-13 13 10-1 1 10-14 14 100(1) 0 Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A expressão pOH ou potencial hidroxiliônico é usada para descrever a concentração de OH– de uma solução; o pOH é definido pela expressão pOH = -log [OH– ], que é análoga à expressão para o pH. Observe que, em todos os casos, pH+pOH=14. 42 Introdução à Bioquímica Cervejeira No decorrer deste tópico, entraremos em deta- lhes específicos de cada parte para a produção de cerveja. Toda cadeia de produção envolve muita bioquímica, e quanto maior for seu conhecimento sobre o tema, melhor você manipulará as maté- rias-primas ao seu favor. A nossa espécie produz essa bebida a muito tempo. O registro de produção dos sumérios data de mais de 6.000 anos; outros indicam que a fermentação alcoólica de cereais possa passar de 10.000 anos, então, como você pode imaginar, fazer cerveja não é algo tão complexo assim, e realmente não é. Contudo, existem alguns degraus pelo caminho, repetir a mesma receita já não é algo tão simples, fazer uma boa cerveja é mais um degrau de dificuldade, repetir uma boa recei- ta várias vezes e obter a mesma cerveja é muito difícil. Provavelmente, queremos chegar na etapa de fazer uma boa cerveja repetitivamente, a nível comercial, e para isso você deve ter muito conhe- cimento sobre o tema (KUNZE, 2014). Existem muitas etapas bioquímicas durante todo o processo e muitas delas não estão ao seu alcance de manipulação, por isso é sempre im- portante ter uma boa matéria-prima e trabalhar em um ambiente livre de contaminação, porque, senão, os resultados serão imprevisíveis. Introdução à Bioquímica Cervejeira 43UNIDADE 1 Etapas de Produção Vamos dividir a fabricação de cervejas em etapas para facilitar a visualização do quadro geral. A primeira delas começará, normalmente, a mais de um ano da cerveja pronta, que é produção da cevada cervejeira e a transformação dela em malte. A segunda etapa que iremos focar, até com mais afinco, porque realmente podemos alterar as características, é a mosturação, em que ocorrerá a transformação do amido em açúcares fermen- tescíveis. A terceira etapa é a escolha do fermento cervejeiro, essencial para as características que você quer obter e, por último, as etapas da fer- mentação e a transformação do mosto em cerveja. Durante cada um desses processos, existe muita bioquímica empregada e muitas transfor- mações são feitas. Pontos importantes que acon- tecem nessas etapas serão melhor aprofundadas em outros livros desse curso. O nosso interesse é introduzir as bases das reações bioquímicas desses processos (KUNZE, 2014). Obtenção de Malte Existem vários cultivares de cevada (Figura 21), entre elas a cevada cervejeira. Outros cereais também podem ser usados para produzir cer- veja, como o trigo, arroz, aveia e milho, mas para produzir cerveja com eles, o processo é muito semelhante e passa pelas mesmas etapas bioquí- micas. Como todo ser vivo, a planta de cevada também procura a reprodução para passar sua informação adiante, como um mecanismo para evitar a morte, e como toda a planta, ela produz sementes para esse fim. As sementes de cevada são constituídas por três partes essenciais, podendo ser dividida em gérmen, endosperma e casca. O gérmen da ceva- da é a parte da semente que dará origem à nova planta; todas as suas células contêm informação genética para isso, mas cada grupo cumprirá uma função predeterminada. Quando as proteínas que estão presentes em sua parede celular transmi- tirem as informações que o meio onde essa se- mente se encontra é propício a vida, começarão uma série de reações bioquímicas para dar origem a uma nova planta. Essa etapa é desencadeada pelo aumento da quantidade de água na semente e temperatura correta. Figura 21 - Cevada cervejeira O gérmen começará a produzir enzimas que ini- ciarão o processo de digestão da endosperma, transformando o amido em açúcares menores, que serão transformados em proteínas, lipídeos, aminoácidos e energia para fabricar novas célu- las até a nova planta ter tamanho suficiente para obter energia da fotossíntese. O endosperma é uma reserva gigante de amido que a planta produziu, convertendo moléculas de CO2 e água em açúcares, como uma reserva de energia. Muitas enzimas são utilizadas nesse processo, de forma análoga ao nosso corpo estocar gordura. 44 Introdução à Bioquímica Cervejeira Por último, temos a casca da cevada, que utilizaremos como um tecido filtrante para clarificar o mosto. Essa casca possui celulose, que também é uma cadeia a açúcares, por isso também é chamada de polissacarídeo. As en- zimas geradas na germinação não são capazes de hidrolisar esses açúcares,eles se manterão íntegros e serão um subproduto da fabricação, neles também são encontrados os taninos, que são moléculas que darão sabor adstringente à sua cerveja, e sua extração deve ser evitada. Para se obter o malte, não realizaremos todas essas etapas, uma vez que não queremos perder a reserva de amido do endosperma. Sendo as- sim, quando o gérmen produzir as enzimas de nosso interesse, o grão é seco e suas radículas são polidos. Bioquímica da Mosturação O objetivo do processo de mosturação é criar um meio de cultivo para as leveduras, um meio estéril, sem contaminação e com todas as bio- moléculas necessárias para a vida. A cevada possui todos os nutrientes que toda a vida pre- cisa, mas assim como a vida primitiva precisou proteger esses nutrientes, cada célula da cevada também está protegida. Seus aminoácidos estão convertidos em proteínas e quando essas pro- teínas forem aquecidas na fervura da cerveja, sofrerão desnaturação e decantarão, levando consigo muitos nutrientes. Uma das primeiras etapas durante o aqueci- mento do mosto é a fase das proteases. Essas en- zimas realizarão a quebra de várias moléculas grandes de proteínas, tornando-a menor; essas proteínas ajudarão na formação de espuma da cerveja, elas também são precursoras de aromas que são, posteriormente, formados. A segunda etapa que ocorrerá é uma importante fase bioquímica, onde enzimas amilases ( Figura 22), ini- ciarão o processo de quebra do amido, assim como ele seria realizado para o crescimento da planta. Figura 22 - Estrutura da enzima α-amilase Elas realizam a hidrólise, liberando diversos tipos de açúcares que serão, posteriormente, estudados. Os açúcares menores serão consumidos pelas le- vedura, e os maiores serão parcialmente respon- sáveis pelo corpo da cerveja. A temperatura é uma grandeza física que mede o grau de agitação das moléculas, ela ajuda a aumentar a quantidade de reações químicas em um meio, mas em excesso, ele desnatura as biomoléculas, como as enzimas, por exemplo, elas perdem sua estrutura, uma vez que isso acontece, o processo não pode ser retomado. Isso também garante a morte de organis- mos contaminantes na cerveja. Para se fazer uma característica cerveja de trigo, essa fase é muito importante para gerar com- postos necessários para a criação de aromas que remeterão a cravo durante a fermentação do mosto. Se essa etapa for excessiva ou não ocorrer, essa característica sensorial será afeta- da. Lembrando que devemos usar um fermento específico para isso. 45UNIDADE 1 Durante o processo de fervura, é adicionado o lúpulo na cerveja, para conferir aroma e gosto amargo característico. Antigamente, ele possuía a função principal de conservante, evitando que a cerveja estragasse, ao passo que, hoje, as cervejas são pasteurizadas, dimi- nuindo-se a necessidade de adição de conservantes. O Fermento Cervejeiro As leveduras do gênero Saccharomyces cerevisiae (Figura 23) são consideradas cosmopolitas, sendo conhecidas, também, como fer- mento cervejeiro ou de pão e, assim como toda célula viva, o fer- mento precisa dos mesmos compostos que qualquer outro ser vivo. Figura 23 - Células de Saccharomyces cerevisiae Existem diferentes cepas dessa levedura, semelhante a quando estu- dados os RNAs recombinantes; pequenas diferenças em seus DNAs ocasionam diferentes sínteses de compostos, podendo gerar cervejas diferentes, mesmo seguindo a mesma receita. Outro caso a se consi- derar é a temperatura de trabalho das leveduras, que podem, também, gerar aromas e sabores conforme sua temperatura de fermentação. O fermento cervejeiro é relativamente mais caro que os ou- tros fermentos disponíveis no mercado, como as Saccharomyces cerevisiae, que fermentam pão ou produzem etanol na indústria sucroenergética. Além de serem testados e padronizados, eles devem ser assegurados que, durante a fermentação, não gerem elevadas concentrações de álcoois superiores e outras toxinas. A Fermentação A fermentação é o processo no qual carboidratos serão convertidos em álcool, mas durante esse processo, muitas reações bioquímicas ocorrem. Durante o processo de ob- tenção de cerveja, as leveduras utilizam de processos respi- ratórios e fermentativos que elevaram o número de células presentes. Devemos nos preo- cupar se o mosto produzido tem todas as condições bioquí- micas necessárias para que esse processo não gere compostos indesejáveis. Ao gerar um mosto mui- to rico em açúcares e poucas proteínas, as leveduras terão que gerar proteínas e lipídios a partir de moléculas de açúcar, isso gerará uma série de com- postos que sofrem reações em cadeias, como o caso da ge- ração do diacetil, que deixará sua cerveja com características amanteigadas. Neste livro, você verá o porquê do ajuste do pH para potencializar o trabalho das enzimas e quais as correções da água deverão ser feitas para garantir que as leveduras traba- lham sem se estressar. 46 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os seres vivos são construídos por biomoléculas, que são formadas por ele- mentos químicos. Os seres vivos, em geral, têm suas estruturas baseadas em qual elemento? a) Hidrogênio. b) Nitrogênio. c) Oxigênio. d) Carbono. e) Fósforo. 2. Sobre os fatores que caracterizam os seres vivos, analise as afirmativas. I) Os organismos vivos são altamente organizados e estruturalmente complexos, no mesmo nível dos cristais de rochas. II) Os organismos vivos conseguem manipular a energia para manter suas es- truturas, realizar trabalhos mecânicos, osmótico, químico, entre outros pro- cessos. III) Possuem a capacidade de autorreplicação e automontagem. IV) Se um organismo possuir todos os aminoácidos, eles são capazes de sintetizar qualquer substância orgânica. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 47 3. Sobre os biocomponentes da matéria viva, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( Os organismos vivos sempre produzem misturas racêmicas. )( As subunidades das proteínas são 20 aminoácidos diferentes. )( Com apenas 8 nucleotídeos diferentes, são as unidades estruturais dos ácidos nucleicos. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 4. Se uma reação libera energia, ela é chamada de exotérmica; o que ocorre com a energia livre de Gibbs dos reagentes? 48 Cosmos: A Spacetime Odyssey Ano: 2014 Sinopse: Cosmos: Odisseia no Espaço inventa novas narrativas científicas de maneira a revelar a imensidão do universo e reinventar elementos míticos da série original, incluindo o calendário cósmico (Cosmic Calendar) e a Nave espa- cial da Imaginação (Ship of the Imagination). Unindo ceticismo e pensamento e interligando a ciência rigorosa com elementos visuais, emocionais e espirituais, esta é uma experiência transcendente – a visão do cosmos na sua imensa escala tal como a conhecemos. FILME 49 KUNZE, W. Technology Brewing and Malting. 5. ed. Berlin: Vlb, 2014. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica. São Paulo: Sarvier, 1995. LIMA, A. W. O.; ANGNES, L. Biocatálise em meios aquo-restritos: fundamentos e aplicações em química ana- lítica. Quím. Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 229-245, abr. 1999. MALHOTRA, V. K. Biochemistry for students. 12. ed. New Delhi: Jaypee Brothers Medical Publishers (P) Ltd, 2012. MORAN, L. A.; HORTON, H. R.; SCRIMGEOUR, K. G.; PERRY, M. D. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,2014. 50 1. D. As biomoléculas são estruturas baseadas em carbono, por ser o elemento mais leve a fazer 4 ligações. 2. B. A primeira alternativa está errada, pois os organismos vivos são mais complexos e mais variados estru- turalmente que os cristais, e a última está errada, porque ele também necessita da informação do DNA para sintetizar compostos. 3. D. Os organismos não produzem misturas racêmicas. 4. Para a reação ocorrer espontaneamente, a energia livre de Gibbs deve ser maior nos reagentes que no produto da reação. Mesmo assim, não é garantia que a reação ocorra de maneira rápida, é um indicativo de que a reação possa ocorrer. Por isso, as enzimas realizam as reações possíveis de maneira rápida. 51 52 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Ghiovani Zanzotti Raniero • Transmitir conhecimentos sobre aminoácidos e peptídeos. • Compreender as características físico-químicas das pro- teínas e sua função na produção de cerveja. • Compreender as características físico-químicas dos lipí- deos e sua função na produção de cerveja. • Compreender as características físico-químicas dos car- boidratos e sua função na produção de cerveja. • Introduzir as relações entre eles nos principais insumos, mosto e cervejas. Aminoácidos e Peptídeos Proteínas Carboidratos Insumos, Mosto e CervejasLipídeos Macromoléculas Cervejeiras Aminoácidos e Peptídeos Olá, cervejeiro(a), começaremos, agora, um aprofundamento dos principais componentes da cerveja: os aminoácidos, peptídeos, proteínas, lipídeos e carboidratos estarão presentes durante todo o processo de produção de cerveja. É importante estudá-los separadamente para uma compreensão melhor de cada biomolécula, mas lembre-se que todos esses compostos estão em constantes mudanças e biorreações, algumas delas poderão ocorrer de forma isolada. As macromoléculas mais presentes em todos os seres vivos são as proteínas, você irá estudá-las melhor no decorrer deste livro. Elas são respon- sáveis por uma grande diversidade de funções biológicas pelas quais as informações genéticas são expressas. Elas são compostas por subunidades mono- méricas, de certa forma simples, compostas por um conjunto de 20 aminoácidos, que são ligados covalentemente em sequências lineares, podendo, assim, gerar incontáveis combinações possíveis, que estão presentes em todos os seres vivos do planeta. 55UNIDADE 2 O que é mais notável é que combinações di- ferentes desses mesmos 20 aminoácidos podem gerar funções completamente diferentes nas proteínas. Essas proteínas, por sua vez, podem sintetizar diversos componentes, como outras proteínas, enzimas, hormônios, teia de aranha, cabelos e pelos, venenos e antibióticos e, até mes- mo, o material mais dúctil conhecido pelo ser humano, que é o dente da lesma do mar, sendo mais resistente que diamante. Aminoácidos O estudo dessas unidades monoméricas de pro- teínas delongou cerca de 132 anos, desde o desco- brimento da asparagina, em 1806, até o descobri- mento da treonina, o último dos 20 aminoácidos a ser descoberto, em 1938. Seus nomes são, nor- malmente, provindos das fontes onde foram isola- dos inicialmente (LEHNINGER, NELSON; COX, 1995). Por exemplo, a asparagina foi, originalmen- te, isolada do aspargo; o ácido glutâmico, do glúten do trigo; e a glicina deriva do grego glykos, que significa doce. Todos esses aminoácidos têm uma estrutura semelhante, com um grupo carboxila e um grupo amino ligados em um átomo de carbono, conhe- cido como carbono α. O que os difere é o grupo radical, conhecido como grupo R, que altera suas estruturas, carga elétrica, tamanho e solubilidade em água. Aminoácidos Figura 1 - Aminoácido padrão com o grupo radical R Esses 20 aminoácidos são conhecidos como ami- noácidos padrão, primário ou normais. Eles são conhecidos por três letras derivadas do seu nome em língua inglesa, ou por símbolo de uma úni- ca letra. Eles podem sofrer alterações dentro das proteínas depois de sintetizados, dando origem a outros aminoácidos (NELSON; COX, 2014). 56 Macromoléculas Cervejeiras Valores de pKa Aminoácido Abreviação/Símbolo Mr pK1 (—COOH) pK2 (—NH3 +) pKR (grupo R) pl Índice de hidropatia Ocorrência em proteínas (%) Grupos R alifáticos, apolares Glicina Gly G 75 2,34 9,60 5,97 -0,4 7,2 Alanina Ala A 89 2,34 9,69 6,01 1,8 7,8 Prolina Pro P 115 1,99 10,96 6,48 -1,6 5,2 Valina Val V 117 2,32 9,62 5,97 4,2 6,6 Leucina Leu L 131 2,36 9,60 5,98 3,8 9,1 Isoleucina Ile I 131 2,36 9,68 6,02 4,5 5,3 Metionina Met M 149 2,28 9,21 5,74 1,9 2,3 Grupos R aromáticos Fenilalanina Phe F 165 1,83 9,13 5,48 2,8 3,9 Tirosina Tyr Y 181 2,20 9,11 10,07 5,66 -1,3 3,2 Triptofano Trp W 204 2,38 9,39 5,89 -0,9 1,4 Grupos R polares, não carregados Serina Ser S 105 2,21 9,15 5,68 -0,8 6,8 Treonina Thr T 119 2,11 9,62 5,87 -0,7 5,9 Cisteína Cys C 121 1,96 10,28 8,18 5,07 2,5 1,9 Asparagina Asn N 132 2,02 8,80 5,41 -3,5 4,3 Glutamina Gln Q 146 2,17 9,13 5,65 -3,5 4,2 Grupos R carregados positivamente Lisina Lys K 146 2,18 8,95 10,53 9,74 -3,9 5,9 Histidina His H 155 1,82 9,17 6,00 7,59 -3,2 2,3 Arginina Arg R 174 2,17 9,04 12,48 10,76 -4,5 5,1 Grupos R carregados negativamente Aspartato Asp D 133 1,88 9,60 3,65 2,77 -3,5 5,3 Glutamato Glu E 147 2,19 9,67 4,25 3,22 -3,5 6,3 Tabela 1 - Os 20 Aminoácidos e seus respectivos símbolos e informações moleculares Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 77). Você pode perceber que os aminoácidos tem um carbono central e quatro radicais diferentes ligados em seu carbono, com exceção da Glicina, que possui dois átomos de hidrogênio. Sendo assim, quando um carbono possui quatro radicais diferentes, ele é chamado de carbono quiral, onde os grupos podem ocupar posições diferentes no espaço, gerando imagens não sobrepostas umas às outras. 57UNIDADE 2 Lembrando que cada carbono quiral pode ge- rar dois compostos distintos, com o mesmo número de átomos, peso molecular, densidade, ponto de ebulição e fusão, mas que desviam a luz polarizada de maneira diferente, um para direita e o outro para a esquerda, sendo cha- mados de enantiômeros ou esterioisômeros, que já conceituamos na Unidade 1 deste livro. Parece não haver diferença significativa entre eles, mas existe uma que é fundamental. Uma enzima, por exemplo, tem sítios ativos que devem encaixar os composto específicos, e um grupo radical está localizado à direita e o sítio da enzima está para a esquerda, por isso não haverá o encaixe necessário para sintetizar esse composto, podendo até desativar a enzima e diminuir a síntese do composto de interesse. Como tudo na ciência precisa de um ponto inicial de referência, não seria diferente com os aminoácidos. O composto de referência es- colhido foi o gliceraldeído, um açúcar de três carbonos, sendo o menor a possuir um carbono assimétrico. Assim, todos os compostos qui- rais que desviam a luz para a mesma direção do L-gliceraldeído são designado pela letra L, de Levógiro, que deriva de levo e significa es- querda. Se desviam a luz para o mesmo lado do D-gliceraldeído são designados pela letra D, de Dextrógiro, que vem de dextro que, por sua vez, significa direita. A natureza escolheu os aminoácidos Le- vógiros: nas proteínas, por exemplo, todos os aminoácidos desviam a luz para a esquerda, somente um pequeno grupo de aminoácidos encontrados em parede celular de bactéria e al- guns peptídeos que têm funções de antibióticos desviam a luz de maneira dextrógiro (MORAN et al., 2013). DesoxirriboseRibose Figura 2 - Ribose e desoxirribose e os pontos de carbonos quirais em suas estruturas 58 Macromoléculas Cervejeiras Quando em soluções aquosas, os aminoácidos são ionizados, podendodoar ou receber elé- trons, possuindo, assim, poten- cial hidrogeniônico e se com- portando como base ou ácido, é um fator importante para entender o comportamento e estruturas das proteínas e a determinação da sequência e composição dos aminoácidos das moléculas de proteína. Uma característica peculiar dos α-aminoácidos é que pos- suem natureza dipolar, o que eleva seu ponto de fusão quan- do comparados a compostos orgânicos de tamanho similar. Podemos, também, classificar os aminoácidos pelos seus grupos R, em particular a polaridade de cada radical, podendo dissociar facilmente em água ou, até mes- mo, ser insolúvel. Os 20 aminoá- cidos podem ser divididos em cinco classes, sendo: não polar e alifático, aromática, polar não car- regada, negativamente carregada e positivamente carregada. Já foram encontrados mais de 300 aminoácidos nas células e com variáveis funções, mas nenhum deles foi encontrado nas proteínas, que são oriundos das modificações dos 20 aminoácidos primários (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Peptídeos Quando os aminoácidos são ligados entre si por ligações covalen- tes, podendo ter de duas a milhares de unidades, são denominadas peptídeos, possuindo diversas e específicas funções e sendo sinteti- zadas até atingirem tamanhos de proteínas. Eles recebem esse nome por causa da ligação covalente de uma ligação amida substituída, chamada de ligação peptídica. Por exemplo, para formar um dipeptídeo, é necessária a remo- ção dos elementos formadores de água de um grupo α-amino de um aminoácido e um grupo α-carboxílico de outro aminoácido. A ligação peptídica é formada por reações de condensação, que são muito comuns na natureza celular. Para tornar essa reação favorá- vel ao nível termodinâmico, é necessário modificar quimicamente o grupo carboxila para a liberação do grupo hidroxila, ou seja, a liberação de água. Se temos três aminoácidos, é necessário duas ligações peptídi- cas entre eles para se formar um tripeptídeo, e na mesma lógica para formar tetra e penta peptídeos. Se o número de aminoácidos ligados for pequeno, ele é denominado oligopeptídeos, mas, se possuir uma grande quantidade dessas unidades, são denominados de polipeptídeos. Quando esses polipeptídeos possuírem peso mo- lecular acima de 10.000, eles são consideradas proteínas e formarão Quando um composto é sintetizado de maneira artificial, ele gera uma mistura racêmica, onde iguais concentrações de levógiros e dextrógiros são formados. Como suas propriedades físico-químicas são basicamente iguais, são muito difíceis de serem separados. Quando um medicamento é feito, ele pode gerar um composto que cura, e o outro composto pode agir como um veneno para seu organismo. Assim, para separar esses compostos, pode ser muito dispendioso. Por isso, alguns medicamentos específicos para doentes terminais são extremamente caros, podendo atingir milhares de dólares o grama de medicamento. 59UNIDADE 2 estruturas coesas que seguram o CO2 e formam espuma na cerveja, sem elas o CO2 se dispersa facilmente do líquido. Como cada aminoácido perdeu um átomo de hidrogênio do grupo amino e uma hidroxila do seu grupo carboxila, os aminoácidos dos peptídeos são chamados de resíduos. Quando os peptídeos são pequenos, eles são nomeados pela sequência de seus aminoácidos da esquerda para a direita de um grupo amina para um grupo carboxila. As ligações peptídicas são relativamente está- veis, pois sua reação de síntese ocorre de forma lenta mesmo sendo uma reação exergônica, são as reações mais importantes na formação de proteí- nas. Outra reação importante é a ligação dissulfeto que ocorre entre dois aminoácidos de cisteína. Os peptídeos sofrem ionização da mesma forma que os aminoácidos devido aos grupos de carga oposta, amino e carboxila, em suas extremidades, contribuindo assim para o comportamento áci- do básico dos peptídeos. Por sua vez, os grupos R também se ionizam, e essa somatória de cara- terísticas dá origem a técnicas de separação de peptídeos e proteínas. As ligações peptídicas podem ser hidrolisa- das por aquecimento com ácidos ou por enzimas chamadas de proteases, que são responsáveis pela quebra de proteínas e oligopeptídeos. Essa fase é importante na fabricação de cerveja, pois será responsável pela espuma característica de cada estilo. Se uma cerveja não passar por nenhuma rampa proteica ou o tempo da rampa for exces- siva, poderá influenciar o tempo de retenção de espuma. Lembrando que durante o aquecimento do mosto, sempre teremos autuação de proteases. Peptídeos de cadeia pequena possuem diversas atividades biológicas, principalmente hormônios, que funcionam como mensageiros químicos res- ponsáveis por regular as atividades celulares. Mui- tos dos antibióticos e venenos de fungos, como a amanitina, que é extremamente tóxica, são outros exemplos de peptídeos de cadeia curta. Ligação Peptídica Figura 3 - Ligação peptídica 60 Macromoléculas Cervejeiras As proteínas realizam catálise de quase todas as reações presentes nas células, além da função es- trutural que elas exercem. Sempre se envolve pelo menos uma proteína em quase toda reação que ocorre nas células. No entanto, o principal papel desempenhado pelas proteínas é o armazenamento de informações genéticas; no nosso DNA existem segmentos que guardam informações de como sin- tetizá-las com uma sequência específica de ami- noácidos. Elas estão entre as macromoléculas mais abundantes e com grande variedade de funções: em uma única célula existem milhares e diversos tipos de proteínas atuando simultaneamente. Você estudará, agora, as propriedades gerais que envolvem as proteínas, como a estrutura pri- mária que a compõem, a sequência de resíduo de aminoácidos, seu esqueleto covalente e, até mes- mo, como purificá-las. Veremos que a estrutura primária consiste em uma sequência de aminoácidos unidos por ligações peptídicas e inclui quaisquer pontes dis- sulfeto. Quando unidas, formam o polipeptídio que pode ser disposto em unidades de estrutura secundária, como em uma hélice α. A hélice é uma parte da estrutura terciária do polipeptídio dobra- do, que é uma das subunidades que compõem a estrutura quaternária da proteína multi-subuni- dade (NELSON; COX, 2014). Podemos ver essas estruturas na imagem a seguir. Proteínas 61UNIDADE 2 É importante conhecer alguns aspectos fundamen- tais das proteínas, como seu tamanho, quais formas assumem, o papel que desempenha e suas proprie- dades químicas, pois essas informações têm papel fundamental em muitos dos problemas encontrados na produção cervejeira. Um exemplo claro é a inte- ração de proteínas do glúten e polifenóis presentes na cerveja, que reagem em baixas temperaturas, ocasionando a turvação a frio, que é indesejada em uma cerveja pilsen, por exemplo. Para resolver o pro- blema, algumas empresas filtram a cerveja abaixo de 0 ºC para evitar esse fenômeno comum. Vamos, agora, separar alguns tipos de proteínas pelas suas funções biológicas distintas. Enzimas Você encontrará adiante, neste livro, um tópico somente destinado a elas, é o mais variado e al- tamente especializado grupo de proteínas e que agem como catalisadoras de reações químicas. Elas participam de quase todas as reações de biomoléculas orgânicas da célula, diminuindo a energia de ativação necessária para que a reação ocorra. Existem milhares de enzimas diferentes presentes em todos os seres vivos e cada uma delas é capaz de realizar mais que uma reação específica. Estrutura Primária Resíduos de Aminoácidos Cadeia Polipeptídica Subunidades reunidasHélice α Estrutura Secundária Estrutura Terciária Estrutura Quaternária Figura 4 - Estruturas primárias, secundárias, terciárias e quaternárias da hemoglobina O genoma Humanojá foi completamente desvendado com todas as sequências de ácidos desoxir- ribonucleicos contidos nela, mas as informações de ACTG não nos dizem em nada especificamente. É basicamente tentativa e erro descobrir qual pedaço de DNA é responsável pela produção de uma determinada enzima ou proteína. Sendo assim, o estudo de proteínas ainda tem um longo tempo de descobrimento na vida da ciência moderna. Existem computadores que calculam esses padrões, calculando até como uma proteína específica se comporta ou participa de reações. Isso está presente até mesmo para desvendar doença e encontrar possível cura para tal. 62 Macromoléculas Cervejeiras Proteínas Transportadoras Como o nome diz, proteínas transportadoras são aquelas que carregam nutrientes em fluxo bilateral nas células, podendo até percorrer via corrente sanguínea o transporte de nutrientes entre os órgãos de nosso corpo. Elas ligam-se, também, a componentes presentes no mosto cervejeiro e encaminham para dentro das leve- dura e/ou bactérias presentes, como a glicose, maltose, aminoácidos, lipídeos e outras subs- tâncias que devem ser transportada através da membrana celular (MALHOTRA, 2012). Proteínas de Armazenamento de Nutrientes Um caso bastante conhecido por nós é a se- mente da cevada, além de outras diversas se- mentes, como o milho, trigo e arroz, que arma- zenam proteínas, nutrientes necessários para a germinação dos grãos e a geração de malte. Outros exemplos bastante comuns são o caso da albumina presente na clara do ovo, a caseína presente no leite e a ferritina encontrada em tecido animal e em vegetais que armazenam ferro. Figura 5 - Albumina e caseína, proteínas que armazenam energia Proteínas Contráteis ou de Motilidade São responsáveis pela locomoção das bactérias, pela habilidade de contração e movimentação de cílios e flagelos para propeli-las. Podem mudar de forma com a capacidade de se contrair e se deslocar no meio. Exemplos disso também são encontrados no sistema contrátil do músculo esquelético, como a actina e miosina, que, na presença de ATP, são responsáveis pela conversão de energia química em mecânica nos músculos. 63UNIDADE 2 Figura 6 - Actina (em amarelo) e Miosina (em verde), sobre ação em um músculo Proteínas Estruturais São proteínas que servem como cabos ou filamen- tos de suporte para as células, fornecendo resistên- cia a estruturas. Um exemplo é o colágeno que é o principal componente de tendões e cartilagens que possuem alta resistência à tensão. Cabelo, unha e penas têm a proteína queratina, e a fibroína é a proteína que compõe a seda e a teia de aranha. O couro é, basicamente, colágeno e está presente em muitas gelatinas, que são usadas para a clarificação de cervejas, formando redes que decantam arras- tando as leveduras suspensas na cerveja. Figura 7 - Colágeno em formação de tripla hélice Proteínas de Defesa Imunoglobulinas ou anticorpos são ótimos exem- plos de proteínas que protegem nosso organismo contra a invasão de bactérias e vírus, ou de pro- teínas estranhas provindas de outras espécies. A ricina, por exemplo, é uma proteína encontrada na semente de mamona, é uma proteína de defesa. Toxina Ricina Estrutura de Fita de Proteína Figura 8 - Ricina, uma proteína tóxica produzida por plan- tas, como a mamona Proteínas Reguladoras A atividade metabólica e fisiológica das células podem ser reguladas por ações de proteínas, entre elas, temos os hormônios, como a insulina, respon- sável pela regulação do metabolismo de açúcares. Existem, também, proteínas reguladoras que se ligam ao DNA para regular a síntese de enzimas e síntese de RNA durante a divisão celular. Figura 9 - Estrutura da insulina 64 Macromoléculas Cervejeiras Outras Proteínas Existem diversos outros tipos de proteínas com funções que são difíceis de classificar por causa da sua especificidade, como o plasma sanguíneo de peixes da Antártida, que atuam como anticongelante, ou como a monelina, que pode ser usado como adoçante artificial. É incrível imaginar que todas essas proteínas são formadas apenas pelos 20 aminoácidos essenciais, e apresentam todas essas funções tão diferentes e extraordinárias. Características das Proteínas Como você estudou anterior- mente, vimos que as proteínas são cadeias extremamente lon- gas de aminoácidos. Para se ter uma pequena noção, temos o caso do citocromo humano, que possui 104 resíduos de aminoácidos e um peso mo- lecular de 13000 g.mol-1, po- dendo, por exemplo, chegar a valores incríveis, como a pro- teína apolipoproteína B, com 4536 resíduos de aminoácido e peso molecular de 513.000, e a glutamato desidrogenase, que possui 1.000.000 em peso mo- lecular e mais de 8300 resíduos de aminoácidos, entre outros (NELSON; COX, 2014). Existem, também, um sistema de multi-subunidades, onde várias cadeias de polipeptídeos se unem para formar a proteína, podendo ser cadeias polipeptídicas idênticas ou variadas. Existem vários métodos físico-químicos para determinar o peso dessas proteínas. Uma forma simples e aproximada para saber o nú- mero de resíduos de aminoácidos é dividir seu peso molecular por 110; mesmo que a média de peso molecular dos 20 aminoácidos primários seja de 138 g.mol-1, eles não aparecem com a mesma intensidade, por isso se usa um valor empírico aproximado; também é descontado o peso molar da água que é perdida na síntese de aminoácidos. A hidrólise de proteínas se assemelha ao que ocorre aos peptí- deos em soluções ácidas ou básicas, produzindo uma mistura de aminoácidos livres com números variados de suas quantidades, podendo, em certas vezes, nem aparecer em determinada proteína ou se repetir diversas vezes em outras. Por exemplo, ao se cozinhar uma carne por um tempo excessivo, isso ocasiona a hidrólise das proteínas, podendo desde amaciá-la até mesmo desfazê-la, perden- do, assim, o sabor de carne (LIMA; ANGNES, 1999). Existem proteínas que são feitas exclusivamente de aminoácidos, mas existe um outro grupo chamado de proteínas conjugadas, que possuem componentes químicos em adição ao aminoácidos. Essa parte não aminoácido que compõe a proteína conjugada é chama- da de grupo prostético e é classificada pelos grupos prostéticos. Como as lipoproteínas que contêm lipídeos em associação aos ami- noácidos, temos também as glicoproteínas e metais proteínas, que são associação de açúcares e metais, respectivamente. As proteínas podem possuir, também, mais de um grupo prostético. Figura 10 - Citocromo, uma proteína conjugada responsável pela produção de ATP 65UNIDADE 2 Separando e Purificando Proteínas duzir gradualmente o número de contaminantes até chegar em uma quantidade suficiente para se utilizar métodos cromatográficos, por exemplo. Um método que se popularizou muito para a pu- rificação de proteínas é a utilização de membranas semipermeáveis, que, inicialmente, separam as proteínas por tamanho. A utilização de proteínas está ligada a vários fatores na produção cervejeira, que abrange desde a formação de espuma até a estabilidade da bebida frente ao tempo de prateleira previamente estabe- lecido. Durante esse tempo, elas não devem sofrer reações na garrafa para que não ocorra mudan- ça de sabor. Você estudará a formação de vários compostos de interesse devido às reações com proteínas (MALHOTRA, 2012). Figura 11 - Aparelho de cromatografia de troca iônica Moléculas de Solvente H2O As móleculas de água viajam através da membrana Membrana Semipermeável Figura 12 - Exemplo de osmose, um fenômeno proveniente de membranas Para se estudar uma proteína em qualquer uma das atividades que ela possa fazer, é necessário, primei- ramente, separá-la das demais presentes no meio celular. Existem diversas técnicas de separaçãoe quantificação de proteínas e, com a tecnologia, es- sas técnicas se tornam mais precisas e, consequen- temente, menos dispendiosas para os devidos fins. Como na química, a separação de substâncias ocorre segundo as grandezas que as diferem, como a solubilidade, tamanho e carga elétrica, que são as principais características que diferem as proteínas. Elas, em geral, são encontradas em tecido animal, vegetal e microbiano, tendo que se romper as cé- lulas para que fiquem expostas ao meio em uma solução denominada de extrato bruto. Um método comum de separação de proteí- nas, a partir do extrato bruto, é a cromatográfica de troca iônica, que separa proteínas que possuem carga elétrica diferentes. Pode-se, também, utilizar métodos cromatográficos, que seguem os mesmos princípios anteriormente citados, e métodos não cromatográficos, como colunas de precipitação seletiva com auxílio de sais, ácidos e altas tempe- raturas (MORAN et al., 2013). Para se purificar uma proteína desconhecida, são utilizados vários métodos por tentativa e erro, mas com a orientação de protocolos laboratoriais, que opta por métodos mais baratos, para se re- 66 Macromoléculas Cervejeiras Os lipídeos biológicos compartilham uma carac- terística clara entre eles, que é sua insolubilidade em água. Suas diversas funções são tão variáveis quanto as funções biológicas que essas estruturas exercem no seres vivos. Estão presentes em grandes volumes nas células, podendo chegar a mais da me- tade do peso, no caso dos fosfolipídeos e os esteróis. Também são a maior fonte de energia calo- rífica para armazenamento em forma de óleos e gorduras. Existem vários outros tipos de lipídeos que se encontram em menor número nas célu- las e desempenham vários outros papéis, como cofatores enzimáticos, hormônios, mensageiros, pigmentos e âncoras hidrofóbicas. Os óleos e gorduras são derivados dos ácidos graxos, que, por sua vez, derivam dos hidrocarbo- netos, que são estruturas de carbono e hidrogênio que geram uma estrutura apolar e seu estado de oxidação é mínimo, ou seja, sua oxidação com- pleta gera CO2 e H2O nas células. Os hidrocar- bonetos derivados de petróleo e outros combus- tíveis fósseis sofrem uma combustão explosiva nos motores de combustão interna e essa reação é extremamente exergônica. Lipídeos 67UNIDADE 2 Esses ácidos graxos apresentam de 4 a 36 átomos de carbono, os quais são compostos de ácidos carboxílicos com cadeias hidro- carbonadas. Essas cadeias podem ser totalmente saturadas, não contendo, assim, nenhuma dupla ligação, podendo possuir várias duplas ligações em suas cadeias. Assim, uma nomenclatura muito simples é usada para esses hidrocarbonetos, como a utilização do número de carbonos e de duplas ligações separados por dois pontos. O ácido palmítico, por exemplo, é um ácido graxo saturado e contém 16 átomos de carbono; é denominado como 16:0. O ácido oleico, porém, que tem 18 átomos de carbono e uma dupla ligação é chamado de 18:1. Mais uma forma de diferenciá-los é a utiliza- ção de números subscritos seguido de uma letra grega ∆ (delta). Tomando o ácido graxo que tem 20 carbonos e duplas ligações entre os carbonos C-9 e C-10 e mais uma entre os carbonos C-12 e C-13 a partir da carboxila, é designada a nomenclatura 20:2(∆9,12). A ocorrência mais comum dos ácidos graxos é de não ter cadeias ramificadas e possuir de 12 a 24 átomos de carbono e ocorrência maior em números pares de carbono. C O-O C O-OGrupo carboxil Cadeia hidrocarbonada Figura 13 - Imagem ilustrativa dos ácidos graxos saturados e insaturados, indi- cando o grupo carboxila Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Outra ocorrência comum nas cadeias desses ácidos graxos é que as duplas ligações ocorrem com regular frequência entre os carbo- nos C-9 e C-10 entre os ácidos graxos monoinsaturados. Por sua vez, nos poli-insaturados, são normalmente encontrados no carbono 12 e no carbono 15, a partir da carboxila. Essas duplas ligações que ocorrem em quase todos os ácidos graxos estão na configuração cis, o que torna a absorção e o metabolismo das gorduras trans um desafio ao corpo. O comprimento e o número de insaturações de uma cadeia de ácido graxo é responsável pelas propriedades físicas dele. Como a pequena solubilidade em água causada por sua cadeia não polar, o ácido láurico tem 12 carbonos saturados, possui uma solubilidade em água de 0,063 mg/g de água. Para se ter uma ideia, a glicose, por exem- plo, tem uma solubilidade em água na ordem de 1.100 mg/g de água. A solubilidade diminui quanto mais saturada e maior a cadeia de hidrocarboneto dos ácidos graxos. A parte solúvel dessa cadeia é o grupo carboxila que é polar. Outro fator que é influen- ciado pelo grau de insaturação e pelo tamanho da cadeia car- bônica é o ponto de fusão dos ácidos graxos. Se pegarmos os ácidos graxos 12:0 e 24:0 em temperatura ambiente (25 ºC), eles possuem consistência cero- sa, e, se possuírem insaturações em suas cadeias, são líquidos oleosos. Se os compostos são livres de insaturações, isso ga- rante a sua estrutura de carbo- no-carbono uma grande flexibi- lidade, em que os impedimentos estéricos devido aos átomos ad- jacentes são atenuados. O ácido esteárico, por exemplo, possui 18 carbonos e nenhuma dupla ligação entre eles, permite que sua estrutura forme arranjos quase cristalinos, fazendo que 68 Macromoléculas Cervejeiras seus átomos fiquem de forma alongada, formando arranjos quase cristalinos por causa da interação entre suas moléculas vizinhas por contato de Van der Waals (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Entretanto, a dupla ligação do ácido oleico, um outro ácido graxo de 18 carbonos, não permite a rotação na cadeia e introduz uma curvatura rígida, gerando assim uma dificuldade de cristalização, pois suas interações mútuas são mais fracas, tor- nando-o líquido em temperatura ambiente. Sendo assim, gasta-se menos energia para se desfazer essas interações entre as moléculas desse ácido graxos, tornando seu ponto de fusão mais baixo. Em animais vertebrados, é possível encontrar ácidos graxos livres, que circulam com outros li- gados a proteínas transportadoras e que possuem sua carboxila livre. Existem derivados de ácidos carboxílicos que não possuem o grupo carboxila, como os ésteres e as amidas, tornando-os ainda mais insolúveis em água. Um grupo simples de lipídeos que constituem os ácidos graxos são os triacilgliceróis, também chamados de triglicerídeos, em que uma molécula de glicerol realiza ligações éster de suas hidroxilas com três moléculas de ácido graxo, formando, assim, uma estrutura neutra. Seus ácidos graxos podem se repetir ou ser diferentes entre si. Figura 14 - Representação de um triglicerídeo Por exemplo, se uma molécula de glicerol estiver ligada a três moléculas de ácido graxo 16:0, ele será um triglicerídeo simples e sua no- menclatura será triestearina; se for uma molé- cula de glicerol e três de ácido palmítico 18:0, é denominado tripalmitina; se for com três ácidos oleicos 18:1, sua nomenclatura é trioleína. Agora, se eles possuírem ácidos graxos diferentes, sua nomenclatura deve abranger todos os compostos de maneira não ambígua, com o nome e posição de cada um deles. Os triacilgliceróis possuem uma cadeia mui- to volumosa, o que faz sua densidade diminuir, e como as carboxilas fazem ligação éster com o glicerol, as torna moléculas insolúveis em água. Como exemplo, temos o óleo de cozinha e água: por ser menos denso, o óleo flutua na água. Triacilgliceróis como Fonte de Energia Os triacilgliceróis são encontrados no citosol das células eucariontes, como as leveduras cervejei- ras, na forma de gotículas microscópicas oleosas, que servirão como depósito de combustível me- tabólico.Por outro lado, nos animais vertebrados existem células específicas para o armazenamento desses triglicerídeos, que são as células de gorduras que são chamadas de adipócitos, os quais preen- chem quase toda a célula com essas gorduras. Tam- bém são encontrados nas sementes das plantas como precursores biossintéticos, que forneceram a energia necessária para a germinação do grão. A vantagem de se estocar triacilgliceróis em vez de polissacarídeos é que os carbonos dos ácidos graxos são mais reduzidos do que os carbonos das moléculas de açúcar, gerando, assim, uma quantidade maior de energia pela mesma quantidade mássica de carboidratos, mais que duas vezes em compa- ração. Outra característica fundamental é que os triglicerídeos são hidrofóbicos e não necessitam de 69UNIDADE 2 água como os carboidratos para se reduzirem, necessitando, assim, de menos água armazenada para se transformarem em energia química (MORAN et al., 2013). O glicogênio e a glicose são fontes imediatas de energia disponíveis no corpo, e sua quantidade no corpo está limitada a mais ou menos um dia de energia disponível. Os triglicerídeos, por sua vez, em uma pessoa obesa, podem estar na faixa de 15 a 20 Kg no corpo, o que é energia suficiente para suprir as necessidades energéticas por meses. Molécula de GlicogênioMolécula de Glicogênio Glicose Figura 15 - Moléculas de glicogênio e glicose Os alimentos, em geral, possuem uma grande variedade de trigli- cerídeos, com diferentes confi- gurações de duplas ligações nas cadeias de ácido graxos. Lem- brando que quanto maior for o número de duplas ligações, ou seja, de insaturações, mais ele se encontrará na forma líquida em temperatura ambiente, como o óleo de soja, milho ou oliva, mas se possuir poucas insaturações, como a manteiga ou a gordura bovina, ele será encontrado na forma sólida em temperatura ambiente. É possível desfazer as in- saturações que ocorrem nas cadeias dos ácidos graxos pela hidrogenação catalítica, onde suas duplas ligações se saturam na presença de hidrogênio. Um exemplo disso é o que ocorre na fabricação de margarina, onde o óleo de soja é convertido em gordura saturada, chamada de gordura hidrogenada, solidifi- cando, assim, o óleo de soja em temperatura ambiente. Como as insaturações são instáveis, elas também são fa- cilmente oxidáveis, gerando rancificação, conhecida como clivagem oxidativa das duplas ligações, gerando sabores e cheiros desagradáveis com a produção de aldeídos e ácidos carboxílicos de cadeia menor. 70 Macromoléculas Cervejeiras Reação da enzima de clivagem da glicina Glicina ligada covalentemente PLP CH NH H HC C H H+ H C S S HS H Lys PLP H S S C O O O Carbânion ataca o ácido lipoico oxidado, componente da enzima H. Um metileno é transferido para o H4- folato, com eliminação de amônia. A ligação ao PLP é revertida. O ácido lipoico é reoxidado. A descarboxilação da glicina forma um carbânion estabilizado pelo PLP. Carbânion estabilizado pelo PLP Enz P Enx H Enx H Enx H Enx H Enx H Enx L Enx T Enz Enz CO21 2 3 4 5 + PLP CH NH + PLP CH CH2H3N NH + - HS H4-folato Nx, N10 - - metileno H4-folato HS HS S S NAD+ NADH + NH3 Figura 16 - Clivagem oxidativa da glicina Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Hidrólise de Triacilgliceróis As ligações que ocorrem nos triacilgliceróis, liga- ções éster, são facilmente hidrolisáveis por ácidos ou bases. Essas reações geram sabão, por exem- plo, em gordura animal na presença de NaOH ou com KOH, é gerado glicerol e sais de Na+ e K+ juntamente com ácidos graxos. Esses sabões são conhecidos pela capacidade de se solubilizar em água e diminuir a tensão superficial entre suas moléculas, gerando dispersão ou aglomerando substâncias insolúveis em água, como a própria gordura, em partículas conhecidas como micelas. Figura 17 - Reação de saponificação do óleo de palma Outra forma de hidrólise de triacilgliceróis é reali- zada por enzimas lipases, que catalisam as reações de digestão e absorção de gorduras, normalmente em pH neutro. Essas lipases estão presentes nas células e quebram as gorduras e óleos para serem utilizadas como combustível celular. 71UNIDADE 2 Formação de Estruturas de Membrana Solução Aquosa Solução Aquosa ESTRUTURA DE LIPOSSOMOESTRUTURA DO FOSFOLIPÍDIOS Calda Hidrofóbica Cabeça Hidrofílica Figura 18 - Exemplo de dupla camada lipídica Como você já deve ter estudado, a membrana ce- lular é composta por uma dupla camada lipídica, sendo assim, essa camada hidrofóbica isola a água tanto do meio externo como a água presente no citosol das células. Essa é uma barreira contra a passagem de substâncias polares e íons, assim, o transporte dessas substâncias para dentro ou para fora das células é feita pelas proteínas. Existem três classes de lipídeos presentes na composição das células, os glicerofosfoli- pídeos, os esfingolipídeos e os esteróis. Nessas três classes de lipídeos, pela grande variedade de combinações de ácidos graxos, aparece uma diversidade enorme de componentes nas pare- des celulares. 72 Macromoléculas Cervejeiras A cada ano, a fotossíntese realizada pelas plantas e algas transforma mais de 100 bilhões de tone- ladas de CO2 e H2O em carboidratos, que são a forma mais abundante de biomoléculas do plane- ta. A oxidação dos carboidratos é a principal via metabólica em muitas células que não realizam fotossíntese; a junção de várias unidades de sa- carídeos é denominada de polissacarídeos, que podem ser insolúveis em água graças à sua mo- lécula não polar, e podem funcionar tanto quanto elementos estruturais da células bacterianas, vege- tais e animais como proteção para suas paredes. A parte de lubrificação das articulações esqueléticas e fornecimento de coesão entre as células pode ser feita por polissacarídeos de carboidratos. As substâncias que liberam carboidratos por hidrólise são chamadas de poliidroxialdeídos ou poliidroxicetonas. Além de poderem conter, em suas cadeias, enxofre, fósforo e nitrogênio, os car- boidratos, em sua maioria, ajustam-se na fórmula empírica (CH2O)n, e muitos desses compostos “hidratos de carbono” obedecem a relação C:H:O com 1:2:1, como, por exemplo, a glicose, que possui fórmula C6H12O6 e pode ser escrita como (CH2O)6 ou C6(H2O)6 (NELSON; COX, 2014). Carboidratos 73UNIDADE 2 A palavra sacarídeo deriva da palavra grega sakkharon que significa açúcar. Podem ser divi- didos em três classes principais de carboidratos, que são os monossacarídeos, oligossacarídeos e os polissacarídeos. Como o nome já diz, os monos- sacarídeos são açúcares simples, contendo uma única unidade de poliidroxialdeído ou cetona. A D-glicose é o monossacarídeo mais abundante na natureza (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Quando se tem uma cadeia curta com unida- des de monossacarídeos conectadas com ligações glicosídicas é chamada de oligossacarídeos. Os dissacarídeos, moléculas formadas pela união de dois monossacarídeos, são os oligossacarídeos mais abundantes. A sacarose, ou açúcar de co- zinha, que, no Brasil, é proveniente da cana-de- -açúcar, é um dissacarídeo formado pela união de uma D-glicose com uma D-frutose, dois mo- nossacarídeos, cada um com seis átomos de car- bonos, conectados por uma ligação covalente. A nomenclatura de mono e dissacarídeos termina com o sufixo “ose”. Outro monossacarídeo que podemos citar é a galactose. Figura 19 - Molécula de Sacarose O número de ligações de moléculas de monossa- carídeos pode chegar a milhares de unidades e são chamadas de polissacarídeos, podendo ocorrer em cadeias lineares, comono caso da celulose, ou em cadeias ramificadas, como o amido. A glicose, por exemplo, pode gerar polímeros, como o ami- do e a celulose, nos quais a diferença está no tipo de ligação glicosídica. Monossacarídeos e Dissacarídeos Os monossacarídeos são aldeídos ou cetonas com um ou mais grupos hidroxilas na molécula; são o grupo mais simples dos carboidratos e, a partir deles, são feitos os dissacarídeos, oligossacarí- deos e os polissacarídeos. A glicose e a frutose são exemplos de monossacarídeos de seis carbo- nos que possuem cinco grupos hidroxila. Esses grupos hidroxilas geralmente estão associados a carbonos quirais e é muito comum a ocorrência de estereoisômeros nos monossacarídeos. Estes são encontrados na forma sólida, são in- colores e cristalinos, são solúveis em água, mas não são solúveis em solventes apolares e, normalmen- te, têm sabor doce. São constituídos, também, por uma cadeia não ramificada de carbonos ligados entre si por ligações covalentes simples. O grupo carbonila que constitue os monos- sacarídeos é formado por um átomo de oxigênio que realiza uma dupla ligação com um átomo de carbono; cada um dos outros carbonos possui um grupo hidroxila. Se o grupo carbonila se encontra na extremidade da cadeia do monossacarídeo, ele é um aldeído denominado aldose, mas se a carbonila está localizada em outro carbono do centro da cadeia, o monossacarídeo é uma cetona, denominada cetose. Os monossacarídeos mais simples são as trioses. 74 Macromoléculas Cervejeiras Álcoois Etanol Grupo Hidroxila Grupo formilo Grupo Carbonilo Grupo CarboxiloÁcido acético Acetona Etanal Ácidos Cetonas Aldeídos Figura 20 - Representação dos grupos: álcoois, aldeídos, ácidos e cetonas Monossacarídeos, como as tetroses, pentoses, he- xoses e heptoses possuem quatro, cinco, seis e sete carbonos, respectivamente. Elas também podem possuir aldoses e cetoses em suas cadeias, sendo chamadas de aldotetroses e ceratoses, e assim por diante, dependendo do número de carbonos em sua cadeia. Os monossacarídeos são tão impor- tantes que são constituintes fundamentais dos nucleotídeos, como a ribose e a desoxirribose. Você já estudou sobre a formação de carbonos quirais: os monossacarídeos, exceto a diidroxia- cetona, possuem esses carbonos e, então, é claro que possuem, também, formas isoméricas opti- camente ativas. Glicose e Maltose Com certeza, os dois carboidratos mais impor- tantes da fermentação de cereais e amidos são a glicose e a maltose. Como vimos, a glicose tem fórmula química C6H12O6, e a maltose é a junção de duas glicoses. Vamos ver, na Unidade 4 deste livro, as etapas de conversão de açúcares em ATP e álcool. Outro açúcar importante é um monossacarí- deo chamado frutose, que possui a mesma fór- mula química, mas com disposição diferente da glicose. O dissacarídeo formado da união de uma glicose e uma frutose é chamado de sacarose, o nosso açúcar de cozinha. O que devemos saber é que os principais açú- cares utilizados na fermentação das nossas leve- duras são a glicose e a maltose. Se adicionarmos sacarose na produção de cerveja, ela também se torna álcool. Contudo, lembre-se que é possível saber, por exames de carbono, se o álcool da cer- veja veio de um cereal maltado ou de outra fonte, como o de cana-de-açúcar; a legislação brasileira não permite que os açúcares da cerveja ultrapas- sem 45% em peso, em relação aos açúcares de malte. Isto é, 55% dos açúcares da cerveja devem vir de cevada maltada. (BRASIL, 2009). Figura 21 - Molécula de Maltose 75UNIDADE 2 Uma vez estudadas as principais macromoléculas que podem ser encontradas na cerveja, é hora de descobrir onde elas exatamente aparecem e qual seu papel no processo de fabricação da cerveja. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Os insumos cervejeiros contemplam uma gama muito extensa de matérias-primas e produtos, portanto, é necessário focar esse tópico apenas nos insumos principais: o malte, o lúpulo e a levedura. O malte é encontrado no mercado em uma grande variedade, podendo ser desde muitas va- riedades do malte (oriubda da cevada) até maltes de trigo, sorgo, arroz, centeio, entre outros. Entre- tanto, alguns aspectos gerais podem ser traçados para os maltes como um todo a partir do estudo do malte de cevada. Insumos, Mosto e Cervejas 76 Macromoléculas Cervejeiras De maneira geral, a cevada maltada contém entre 70 a 85% de carboidratos totais, 10 a 12% de proteínas, 2 a 4% de material inor- gânico, 1,5 a 2% de lipídeos e 1 a 2% de outras substâncias. Para a mosturação da cerveja, os carboidratos são os compostos mais importantes do malte, uma vez que eles são os amidos, açúca- res, celulose, hemicelulose e gomas. O amido é o carboidrato mais importante e abundante do malte, contemplando cerca de 50 a 75% do material vegetal, sendo a maior fonte de açúcares fermentescí- veis do mosto. Por sua vez, o conteúdo de açúcar livre diretamente na cevada maltada é muito pequeno, cerca de 2%, enquanto que a celulose corresponde a cerca de 6% dos carboidratos e está presente, exclusivamente, na casca do malte; uma vez que elas são insolúveis, pouco influenciam no produto final (KUNZE, 2014). Entretanto, as hemiceluloses configuram um ponto delicado: uma vez que são compostas por pentosanos e β-glucanos, estes últimos podem causar excesso de turbidez, problemas de filtragem e demais empecilhos na produção de cerveja, devido à sua alta visco- sidade. Por conta dos β-glucanos, no passado, era recomendado uma rampa de 40 ºC na mosturação para ativar a enzima β-glucanase, a qual quebra a hemicelulose em β-glucanos. Hoje, os maltes são altamente modificados e a rampa de 40 ºC não é mais necessária. Polímero de Celulose e seu monômero de Beta-Glicose Monômero de Beta-Glicose Celulose Figura 22 - Celulose e beta-glucano As proteínas presentes no malte são importantes para a cerve- ja, pois elas estão associadas à retenção de espuma e também turbidez. Com a evolução da tecnologia de produção de ce- vada e malteação, as proteínas presentes nos maltes moder- nos possuem alto ou médio peso molecular, em contraste com o passado, quando eram encontradas proteínas de alto e altíssimo peso molecular. Por esse motivo, era necessária uma rampa na faixa dos 50 ºC para quebrar essas proteínas de alto e altíssimo peso molecular em proteínas de médio peso mole- cular, a fim de não prejudicar a retenção de espuma. Mais adiante, quando for o momento de discutir o processo de brassa- gem, iremos voltar a esse assun- to e debater um pouco melhor a ação das proteínas durante a fabricação de cerveja. Os lipídeos, porém, com- preendem uma fração muito pequena do malte (cerca de 2%) e consistem, basicamen- te, em ácidos graxos. Sua im- portância é fundamental para saúde da levedura, como será discutido detalhadamente no tópico apropriado. 77UNIDADE 2 Os materiais inorgânicos presentes no malte são fosfatos, sais e silicatos. Esses primeiros são encontrados em maior quantidade, cerca de 35% do conteúdo de minerais, possuem atuação fun- damental para a fermentação, já que são usados em muitas reações químicas nesse período. Por outro lado, os sais são majoritariamente compos- tos por sais de zinco, os quais são fundamentais para a saúde da levedura. Os silicatos são en- contrados em abundância na casca do malte e estão associados à turbidez na cerveja finalizada (KUNZE, 2014). Por último, mas não menos importante, exis- tem outros componentes no malte que podem afetar diretamente o produto final; um exemplo é o tanino. Este é um polifenol presente majori- tariamente na casca do malte, uma alta concen- tração pode levar a off-flavors,como amargor indesejado ou sensação de adstringência exces- siva, além de poder se ligar a proteínas, causando aumento da turbidez. Uma vez que o tanino é ácido, fazer a lavagem dos grãos com água cujo pH é muito alcalino pode ajudar na extração de polifenol. Ácido tânico Figura 23 - Molécula de ácido tânico Os lúpulos, por sua vez, são parte fundamental do processo de fabricação de cerveja, uma vez que atuam tanto no sabor quanto nas características físicas das cervejas, além de ser bacteriostático, ajudando na preservação da cerveja contra agente biológicos contaminantes. Sua composição varia bastante, a depender da variedade de lúpulo esco- lhida; mas, de forma geral, é possível afirmar que sua composição gira em torno de: Proteína 20% Agentes de amargor 19% Minerais 8% Polifenóis 3,5% Óleos totais 0,5% Tabela 2 - Porcentagem de compostos no lúpulo Fonte: adaptada de Kunze (2014). Embora as proteínas presentes no lúpulo correspondam a uma grande parcela de sua composição, devido à pequena quantidade de lúpulo utilizada na maior parte das receitas, a concentração dessas proteínas se torna irrisória no produto final, não havendo, portanto, contribuição alguma ao produto final. No entanto, os agentes de amargor, no caso as humulonas (ou α-ácidos como são mais conhe- cidos), C21H30O5, como principais representantes, afetam diretamente a qualidade da cerveja acabada (KUNZE, 2014). 78 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Sabemos que a base da vida tem origem nas moléculas conhecidas como ami- noácidos. Sobre esse grupo de biomoléculas, é incorreto afirmar que: a) Formam a base de nosso DNA. b) Muitos possuem uma pentose em sua molécula. c) Os aminoácidos formam os peptídeos. d) Os aminoácidos são constituídos por proteínas. e) O mosto cervejeiro necessita de aminoácidos como nutrientes para leveduras. 2. As afirmações a seguir estão relacionadas com os conceitos sobre proteínas. Analise-as. I) As proteínas presentes na cerveja devem ser eliminadas durante a fervura porque não têm função na cerveja pronta. II) As proteínas podem ser purificadas e cristalizadas para serem estudadas. III) Proteínas de alto peso molecular podem ser reduzidas de tamanhos por diversos fatores, como temperatura ou processos enzimáticos. IV) Proteínas não são afetadas por alterações de pH, uma vez que elas são cristais. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 79 3. As afirmações a seguir referem-se aos lipídeos. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( Todo lipídeo é uma gordura, mas nem todas as gorduras são lipídeos. )( A característica principal de um lipídeo é ser apolar. )( Lipídeos podem ser sintetizados a partir de açúcares. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 4. O que são monossacarídeos? Cite os 3 principais exemplos. 80 Bioquímica Aplicada - Reconhecimento e Caracterização de Biomoléculas Autor: Luziane P. Bllé e Silvana Sandri Editora: Saraiva Sinopse: essa obra proporciona aos leitores o entendimento dos fundamentos bioquímicos das macromoléculas. Explica o que são biomoléculas, como são for- madas e estruturadas e quais suas funções nos sistemas biológicos. Apresenta as unidades básicas e complexas que formam as células; descreve proteínas, enzimas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucleicos (DNA e RNA), moléculas essenciais para o entendimento do funcionamento dos organismos vivos. Mostra, também, as relações das biomoléculas com processos fisiológicos e patológicos. Cada capítulo inclui ilustrações e tabelas, além de exercícios de fixação práticos e teóricos. O conteúdo pode ser aplicado para os cursos técnicos em Alimentos, Análises Clínicas, Análises Químicas, Biotecnologia, Citopatologia, Controle Ambiental, Farmácia, Hemoterapia, Meio Ambiente, Petroquímica, Química, entre outros. LIVRO O Óleo de Lorenzo Ano: 1992 Sinopse: um garoto levava uma vida normal até que, quando tinha seis anos, es- tranhas coisas aconteceram, pois ele passou a ter diversos problemas de ordem mental que foram diagnosticados como ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em, no máximo, dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. FILME Diversos blogs na internet trazem conceitos de fermentação e produção de cerve- ja; esse texto da cervejaria Inglorious está bem fundamentado e contém diversas informações relevantes que foram tratadas neste livro. Fazer cerveja é algo relativa- mente simples, como se fazer um pão seguindo uma receita, mas quando algo sai errado é que entram seus conhecimentos sobre o assunto para poder corrigi-los. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 81 BRASIL. Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009. Regulamenta a Lei no. 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Presi- dência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/ d6871.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. KUNZE, W. Technology Brewing and Malting. 5. ed. Berlin: Vlb, 2014. LEHNINGER, A.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica. São Paulo: Sarvier, 1995. LIMA, A. W. O.; ANGNES, L. Biocatálise em meios aquo-restritos: fundamentos e aplicações em química analí- tica. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 229-245, mar./abr. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0100-40421999000200015&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 17 abr. 2019. MALHOTRA, V. K. Biochemistry for students. 12. ed. New Delhi: Jaypee Brothers Medical Publishers (P) Ltd, 2012. MORAN, L. A.; HORTON, H. R.; SCRIMGEOUR, K. G.; PERRY, M. D. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. NELSON, D. L. COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 82 1. D. Os aminoácidos são constituídos por proteínas - O correto é que as proteínas são constituídas de ami- noácidos. 2. B. I (errada)- As proteínas presentes na cerveja devem ser eliminadas durante a fervura porque não têm função na cerveja pronta. - As proteínas são fundamentais na cerveja para o crescimento de leveduras e formação de corpo e espuma. IV (errada)- Proteínas não são afetadas por alterações de pH, uma vez que elas são cristais. - Proteínas possuem cargas e são afetadas pelo pH, elas podem ser cristalizadas, mas não são cristais. 3. D. Todo lipídio é uma gordura, mas nem todas as gorduras são lipídeos- está incorreta/falsa porque toda gordura é um lipídio, mas nem todo lipídio é uma gordura. 4. Os monossacarídeos são carboidratos simples, solúveis em água, que não podem ser quebrados pela digestão em moléculas de açúcares menores. Os monossacarídeos mais conhecidos são a glicose, a fru- tose e a galactose. 83 84 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Ghiovani Zanzotti Raniero • Introduzir os conhecimentos sobre a estrutura, proprie- dades e funções das enzimas. • Apresentar ao aluno os principais mecanismos de reações enzimáticas em processos cervejeiros. • Conhecer as propriedades das velocidades de reações en- zimáticas e cálculos envolvidos na fabricação de cervejas. • Fornecer os conhecimentos sobre a estrutura, proprie- dade e funções das enzimas amilases como catalisadores biológicos.• Fornecer os conhecimentos sobre a estrutura, proprieda- de e funções das enzimas proteases como catalisadores biológicos. Introdução às Enzimas Mecanismos de Reação Enzimática Amilases ProteasesCinética Enzimática Enzimas Cervejeiras Introdução às Enzimas As enzimas são proteínas altamente especializadas: elas catalisam reações biológicas, ou seja, diminuem a energia de ativação necessária para que uma rea- ção ocorra. Elas possuem uma alta eficiência catalí- tica; um alto grau de especificidade pelos substratos aumenta a velocidade das reações químicas e traba- lham em condições suaves de temperatura e pH. É difícil encontrar catalisadores não biológicos com tantas propriedades como as enzimas. Elas são responsáveis pelas principais reações que ocorreram na nossa cerveja, e entender como elas funcionam é a chave para a manipulação dos processos cervejeiros, sendo esta, sem dúvida, uma das mais importantes passagens deste livro e também do nosso curso. As enzimas agem em sequências organizadas e podem catalisar centenas de reações sucessivas. Chamamos essas reações em conjunto de vias metabólicas, pois, por meio delas, os nutrientes podem ser degradados e a energia química presente nelas pode ser transformada, ar- mazenada ou transportada para as mais diversas funções da vida. Muitas das enzimas que partici- pam do metabolismo são enzimas regulatórias: elas atuam como instrumentos de interrupção e ativa- ção de processos, fazendo, assim, que as necessida- des dos organismos se mantenham em harmonia. 87UNIDADE 3 Existem diversas funções para a aplicação de enzimas, desde a medicina como também na pro- dução de alimentos ou, até mesmo, na limpeza da nossa casa. Veremos muitas dessas funções aplicadas na indústria cervejeira e, também, as vias metabólicas que empregam diversas enzi- mas, como na transformação de glicose em etanol (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). A maior parte da bioquímica é, sem dúvida, o estudo sobre as enzimas. Já no século XIX, a catáli- se biológica foi descrita por meio de estudos sobre a digestão de carne por secreções do estômago e como a saliva era capaz de quebrar o amido dos vegetais em açúcares simples. A catálise é a modificação da velocidade de uma reação química causada por um agente externo que não será consumido na reação e pode ser recuperado no final dela. Figura 1 - Representação de RNA Por volta de 1850, Louis Pasteur estuda a trans- formação de açúcar em álcool e postula que a levedura fazia essa transformação por meio do que ele chamou de “fermentos”. Esses fermentos, depois, foram renomeados como enzimas; eram estruturas que não podiam se separar das células vivas, uma teoria que prevaleceu por muitos anos, até que, em 1897, Eduard Buchner mostrou que um extrato de leveduras era capaz de fermen- tar o açúcar em álcool, mostrando, assim, que as enzimas poderiam atuar sem a presença das células vivas. Essa descoberta deu início a um grande número de estudos sobre as propriedades catalíticas das enzimas. Outro grande salto para o estudo da bioquími- ca das enzimas ocorreu em 1926, quando James Summer isolou e cristalizou a uréase. Demons- trando que esses cristais da enzima urease eram feitos, exclusivamente, de proteínas, ele propôs que todas as enzimas eram feitas de proteínas. Na década de 30, John Northrop e sua equipe cristalizaram pepsina e tripsina bovina e veri- ficaram que também se tratavam de proteínas, isso deu mais força para a ideia de Summer. 88 Enzimas Cervejeiras No entanto, essa ideia não é totalmente verdade, pelo menos em parte, a maioria das enzimas são proteínas, existindo um pequeno grupo de mo- léculas de RNA que possuem atividade catalítica. Para ter atividade catalítica, as enzimas neces- sitam estar em uma estrutura correta; quando ela perde aminoácidos, ou quebra-se sua estrutura tri- dimensional, ela perde essa atividade, tudo depende da integridade da formação proteica. Assim, para que uma enzima desempenhe seu papel, é funda- mental que as estruturas proteicas primária, secun- dárias, terciárias e quaternárias estejam na estrutu- ra correta para o exercício da atividade catalítica. Como as proteínas, as enzimas possuem alto peso molecular, que pode variar de 12.000 a mais de um milhão. Muitas dessas enzimas não necessitam de nada mais que seus grupos de aminoácidos para se tornarem ativas, outras necessitam de íons inorgânicos como Fe2+, Mg2+, Mn2+ ou Zn2+, que são chamados de cofatores. Quando uma enzima contém esses íons em sua estrutura, ela é chamada de coenzima. As enzimas podem necessitar de mais de um cofator, podendo ter vários grupos metálicos para realizar corretamente suas funções. A parte do íon que está ligada na coenzima da enzima é chamada de grupo prostético. Se uma enzima estiver ligada a uma coenzima e/ou aos seus íons metálicos, ela é denominada de holoenzima, enquanto a parte proteica da enzima é chamada de apoenzima ou apoproteína. As coenzimas necessitam de vitaminas e nutrientes orgânicos em pequenas quantidades que ingerimos diaria- mente, que servem como precursores de reação de grupos funcionais específicos. Para ocorrer a regulação enzimática, como ativação ou desativa- ção da atividade enzimática, as enzimas podem sofrer diversos processos, como a fosforilação ou glicosilação (NELSON; COX, 2014). Para se classificar uma enzima, é comum se utilizar do sufixo “ase” juntamente com o nome do substrato, ou a palavra ou frase que descreve a atividade que ela realiza. Deste modo, podemos observar o caso da enzima urease, que realiza a hidrólise da ureia. Outro caso que podemos ci- tar é a DNA polimerase, que realiza a catálise da síntese do DNA. Também existem enzimas que possuem nomes independentes de seus substratos, como a pepsina e a tripsina. Elas podem receber mais de um nome pela mesma enzima, pois po- dem sintetizar mais de um componente. Ocorrem fatos, também, em que duas enzimas diferentes possuem o mesmo nome (MORAN et al., 2013). Para tentar resolver essas ambiguidades e com o número de novas enzimas sempre aumentando, existe um sistema internacional para classificação de enzimas, no qual elas são classificadas em seis diferentes grupos e, posteriormente, são agru- padas em subclasses conforme o tipo de reação que elas catalisam. Esses seis grandes grupos são: 1-Oxidorredutases, 2-Transferases, 3-Hidrolases, 4-Lipases, 5-Isomerases e 6-Ligases (LEHNIN- GER; NELSON; COX, 1995). Essa classificação é correspondente a EC (En- zyme Commission Numbers), por exemplo, a nossa enzima fundamental para a produção de cerveja é a α-amilase, como o nome já diz, ela é uma enzima que sintetiza molécula de amido e seu número EC é 3.2.1.1. O primeiro número é o 3, que indica que é uma enzima que realiza hidrólise, ou seja, realiza a transferência de grupos funcionais para a água; o segundo número é o 2, isso indica que ela faz parte da glicosilases, que são enzimas que realizam rea- ção com a glicose; o terceiro número é o 1, indica que são enzimas glicosidases, isto é, enzimas que hidrolisam compostos O- e S-glicosídeos. Por sua vez, o último número 1 da sequência 3.2.1.1 é o que classifica ela como a enzima α-amilase. Outra enzima importante é a β-amilase que realiza quase que a mesma reação, mas não gera os mesmos compostos; seu número é 3.2.1.2, por se tratar de outra enzima (MALHOTRA, 2012). 89UNIDADE 3 Como Trabalham as Enzimas Todas as reações que as enzimas realizam ocorrem naturalmente na natureza: as moléculas se coli- dem, trocam elétrons e átomos e formam outros compostos; mas, sem as enzimas, essas reações são extremamente lentas e alea- tórias, podendo gerar inúmeros compostos indesejáveis, como no caso de reações com car- bonos quirais. Então,por esses motivos, as enzimas se tornam fundamentais para os sistemas vivos, acelerando reações e ge- rando compostos específicos. Algumas reações são bem im- prováveis de acontecer em meio aquoso e em pH próximo ao neutro, como em moléculas ou intermediários carregados ele- tricamente que se afastam um dos outros, ou com molécula que devem estar em posições corre- latas para que as reações ocor- ram (LIMA; ANGNES, 1999). As enzimas conseguem transpor todas essas barreiras, fornecendo um sistema mais fa- vorável energeticamente. Existe, na enzima, uma cavidade ou fen- da onde as reações enzimáticas ocorrem, essa região é chamada de sítio ativo, onde as moléculas que se ligam nessa região da en- zima são chamadas de substrato. O ponto crucial para definirmos matematicamente as reações que ocorrem na enzima, assim como sua cinética enzimática das reações e a descrição dos mecanismos que as envolve é o que denominamos de complexo enzima-substrato. ENZIMAS Substrato Ligação Sítio Ativo Enzima Substrato Sítio Ativo Enzima Enzima Complexo enzima-substrato Quebra da ligação sob tensão Produtos Enzima Complexo enzima-substrato Produtos Figura 2 - Representação do sítio ativo e reação enzimática A visão geral das reações enzimáticas pode ser descrita por meio de quatro passos, em que temos, primeiramente, a enzima e o substrato, que, por sua vez, forma o complexo enzima-substra- to; o substrato é convertido em produto e forma o complexo enzima-produto; por fim, temos a enzima livre mais o produto gerado, da seguinte forma: E+S ES EP E+P 90 Enzimas Cervejeiras Você aprendeu, na disciplina de Química Cervejeira I, que existe diferença entre equilíbrio químico e velocidade de reação. Os catali- sadores têm a função de reduzir a velocidade de reação, não afetando o equilíbrio químico das reações. Estas ocorrem, normalmente, gas- tando energia; nas reações enzimáticas, o que ocorre é a diminuição da energia necessária para que a reação ocorra. Lembrando que essas reações ocorrem devido à energia livre de Gibbs presente nos sistemas. Em nível basal, ou seja, em forma normalmente estável, as mo- léculas possuem uma quantidade característica de energia livre. Para se determinar a energia livre nas moléculas, é usada a variação da energia livre de Gibbs, ou seja ∆Gº; e como padrão inicial, são utilizados os sistemas de energia padrão no sistema internacional: a temperatura de 298 K (25 ºC), a pressão atmosférica de 101,3 kPa e, para cada soluto, a concentração de 1 mol L-1. Desse modo, temos todos os padrões adotados para se determinar a energia livre padrão. Nos sistemas vivos, a concentração dos íons H+ são muitos distantes de 1 mol L-1. Sendo assim, podemos adotar como referência o pH 7,0 como padrão para se determinar a variação da energia livre existente nos sistemas. O equilíbrio de energia que encontramos entre substrato e pro- duto reflete a diferença em energia livre dos seus estados naturais. Como mostra a figura, a energia do estado basal P, que é a energia natural do produto, é menor que a energia do estado basal do subs- trato, assim, temos que o ∆Gº para essa reação é negativa e, sendo assim, a reação é favorecida para favorecer o produto; este equilíbrio não é afetado por nenhum catalisador. ∆G+ ++ S P ∆G+ ∆G’o + SP Estado de Transição ( ) S Estado fundamental Coordenada da reação P Estado fundamental En er gi a liv re , G Figura 3 - Gráfico da relação de energia livre de Gibbs e a transformação de substrato em produto Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 192). Mesmo que o equilíbrio da reação de substrato para produto seja fa- vorecido, isso não significa que a reação ocorrerá de forma rápida. A velocidade de reação depen- de de um fator completamente diferente. Podemos observar na Figura 3 que existe uma barreira energética entre o substrato e o produto. Essa barreira represen- ta a energia necessária para que a transformação química ocorra no sentido de alinhar os grupos químicos dos reagentes, para a formação de cargas elétricas transientes, para transformações ou rearranjo de ligações necessá- rias para que as reações ocorram (MORAN et al., 2013). Então, para sofrer a reação, as substâncias precisam de ener- gia suficiente para transpor essa “colina” de energia. Essa elevação para um nível superior de energia a transporta até o topo da colina, onde, para cada lado, a reação substrato/produto pode ser al- cançada; para essa etapa damos o nome de estado de transição. Ele não deve ser confundido com o intermediário de reação, na eta- pa de estado de transição, é apenas um momento molecular no qual eventos como o rompimento de ligações, formação de ligações e o desenvolvimento de cargas ocor- rem o colapso, tanto para a forma- ção de produto como a formação de substrato; essa probabilidade é igualmente distribuída nesse ponto (MALHOTRA, 2012). 91UNIDADE 3 Então, temos diferentes níveis de energia no sistema, a diferença entre o nível basal das substâncias e o nível do estado de transição é chamada de energia de ativação, em que esta está correlacionada à velocidade de reação: se a energia de ativação for muito elevada, a sua velocidade de reação é reduzida, e o contrário também é verdadeiro, se a energia de ativação é muito reduzida, isso favorece que a reação aconteça, então sua velocidade de reação aumenta. ∆G ++ não catalisada Estado de Transição ( ) ++ ++ ∆Gcatalisada ++ S ES EP Coordenada da reação PE ne rg ia li vr e, G Figura 4 - Representação da diminuição da energia de ativação na catálise enzimática Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014, p. 196). A velocidade de reação pode ser influenciada por outros fatores, como o aumento da temperatura, que faz as moléculas realizarem mais co- lisões, o que favorece a reação ocorrer. A energia de ativação também pode ser reduzida com a introdução de um catalisador, que aumenta a velocidade de reação pela diminuição da energia de ativação, lem- brando que eles participam das reações, mas não são consumidos ou alterados durante esse processo (LIMA; ANGNES, 1999). As enzimas são catalisadores e não são exceção à regra: elas não afetam o equilíbrio da reação. Na equação de formação de produto por enzimas, veja que as setas são bidirecionais, isso indica que qualquer enzima que catalisa uma reação de substrato em produto também catalisará a reação de produto em substrato. O ponto de equilíbrio da reação não é afetado pela presença da enzima, ela não é gasta no processo e seu único papel é acelerar a interconversão de substrato e produto. A reação que contém a enzima apropriada atinge o ponto de equilíbrio muito mais rápido, porque sua velocidade de reação é aumentada. Vamos pegar como exemplo a transformação da glicose e O2 que reagem para formar CO2 e H2O: C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + Energia (oxidação da glicose produtora de energia). A variação da energia livre de Gibbs, nessa reação, é grande e negativa, ou seja, libera muita energia e favorece a formação dos produtos. Por outro lado, a glicose é um composto muito estável e pode ser armazenada em presença de O2 sem que esses compostos reajam entre si. O que podemos notar é que essa estabilidade vem do fato de que a energia de ativação é muito elevada para que ocorra a reação. Dentro da célula, na presença de O2, a glicose é con- vertida em CO2 e H2O por uma série de enzimas que catalisam a reação de forma organizada e controlada, convertendo a energia química presente nas ligações de carbono e hidrogê- nio em outras formas químicas, que serão disponibilizadas na célula conforme sua necessida- de (NELSON; COX,2014). 92 Enzimas Cervejeiras Para trabalhar com enzimas, um dos fatores im- portantes é entender seu funcionamento. Existem várias etapas enzimáticas no processo: uma enzi- ma pode realizar mais de uma função ou dez en- zimas são necessárias para realizar uma só função, tal como dividir uma molécula de açúcar ao meio. Esses processos podem ser interrompidos com a inibição de uma enzima específica do processo, que é o caso de muitos medicamentos para con- trole de doenças. Então, entender o mecanismo de reação de uma enzima é a chave para se manipular o processo enzimático. Na prática, os processos são formados por di- versos passos envolvendo a formação e o consu- mo de diferentes espécies químicas transientes, que são chamados de intermediários da reação. Quando montamos a equação de transformação de substrato em produto, os complexos formados entre enzima-substrato e enzima-produto são os intermediários. Se existem vários passos durante o processo, a velocidade de reação é determina- da pela etapa de maior energia de ativação, onde será o gargalo da reação e é chamado de passo limitante da velocidade. Ele é o passo de maior energia nas interconversões das reações de pro- duto e substrato (LIMA; ANGNES, 1999). Mecanismo de Reação Enzimática 93UNIDADE 3 Vamos relembrar: as energias de ativação são barreiras das reações químicas, elas vão impedir que as reações aconteçam, mesmo se seu potencial seja favorável, o que é crucial para a vida, porque quanto maior for a barreira energética de uma subs- tância, maior será sua estabilidade. Sem as barreiras energéticas, as macromoléculas complexas se trans- formariam em moléculas simples de suas subunida- des, nem mesmo os processos metabólicos seriam possíveis nas células. Assim, as enzimas desempe- nham o papel de diminuir a energia de ativação de maneira seletiva para que as reações ocorram em harmonia na célula (MORAN et al., 2013). A Termodinâmica das Reações Enzimáticas Para que as reações aconteçam, temos que priori- zar seu estado de equilíbrio, que está relacionado à variação da energia livre de Gibbs, e entender que a velocidade da reação tem definições ter- modinâmicas bem claras. Entender essas relações termodinâmicas é o próximo passo para o enten- dimento de como as enzimas trabalham. O equilíbrio químico de S P é descrito por uma constante de equilíbrio: KC. Essa constante de equilíbrio pode ser expressa pela relação molar dos componentes da reação: O que determina a velocidade de uma reação é a concentração do reagente, ou dos reagentes que as compõem, e por uma constante de velocidade, que é representada pela letra K. Então, se temos uma reação enzimática acon- tecendo na nossa cerveja ou mosto, onde S→P, podemos determinar a velocidade da reação, onde podemos correlacionar K com a reação de substrato em produto por unidade de tempo, e é expressa por uma lei da velocidade, onde a velocidade é determinada pela letra V: V=K[S] Essa é uma expressão para uma reação de primeira ordem, em que a reação só depende da concen- tração de substrato. O que podemos tirar dessa expressão é que o valor de K expressa a probabi- lidade da reação ocorrer. Por exemplo, se o valor de K é de 0,05s-1, isso indica que há uma probabili- dade de 5% do substrato disponível ser convertido em produto em 1 segundo. Imagine, agora, uma reação onde o valor de K seja 500s-1, isso indica que toda reação ocorrerá em uma fração de segundos. Agora, se a reação depende de mais um substrato, a reação é chamada de segunda ordem e o valor de K também passa a ser uma expressão de segunda ordem, e a expressão de velocidade passa a ser: V = K[S1][S2] Pelas leis da termodinâmica, podemos correlacionar a variação da energia de Gibbs com a constante de equilíbrio da reação pela equação: ∆ Gº’ = -R T l n Kc Na equação, R é a constante universal dos gases (8,315 J.mol-1.K-1), e T é a temperatura absoluta de 298 K. O importante dessa equação é notar que a constante de equilíbrio é uma grandeza direta com a variação da energia livre. Então, temos que um grande valor de ∆Gº negativo, representando que a reação é favorável, mas não tem relação com a velocidade da reação. 94 Enzimas Cervejeiras Vamos imaginar a oxidação de um carboidrato, em que uma molécula de carbono recebe oxi- gênio e forma água e dióxido de carbono. Ela pode acontecer de maneira relativamente rápida se colocarmos fogo em amido, por exemplo, ou de maneira lenta, como nas transformações que ocorrem nas células e liberam energia de forma gradual. Vimos essa reação anteriormente com glicose e oxigênio. Então, a mesma reação pode ter um valor de K diferente conforme as condições do meio (MALHOTRA, 2012). Agora, iremos focar em como as enzimas fa- zem essas reações, que podem ocorrer em ordens de magnitudes de 7 a 14 mais rápidas do que acon- teceriam em condições sem catálise. Este é o caso da urease, que aumenta a velocidade de reação em um fator de 1014, formando, em segundos, pro- dutos que demorariam milhares de anos para se formar naturalmente. Já vimos parte da explicação da ação enzimá- tica que ocorre para realizar a transformação de substrato em produto pelos grupos funcionais nas enzimas, como as cadeias laterais de resíduos de aminoácidos, íons metálicos e coenzimas, que rotacionam e posicionam o substrato de maneira certa, que facilite a reação. Outra função desses grupos funcionais é agir transitoriamente como substrato para ativar a reação, providenciando, assim, uma via de reação energética mais baixa (NELSON; COX, 2014). O que de fato separa as enzimas dos outros catalisadores é que elas formam interações fra- cas, não covalentes, formando um complexo ES específico. As interações que ocorrem aqui são aquelas que já estudamos, como as pontes de hidrogênio e as interações hidrofóbicas, iônicas e de Van der Waals. A formação do complexo ES é acompanhada por uma pequena liberação de energia livre, que fornece um pouco de energia para a formação final da interação. Essa energia provinda da interação é chamada de energia de ligação, e é a maior fonte de energia livre usada pela enzima para baixar a energia de ativação das reações. Vamos englobar as reações enzimáticas em dois princípios fundamentais. Primeiro, as inte- rações fracas que ocorrem nas inúmeras ligações durante a formação do complexo ES é o que for- nece energia livre e especificidade para as reações ocorrerem com menos energia. Segundo, os sítios ativos das enzimas são complementares aos esta- dos de transição das reações que elas catalisam e não aos substratos em si. Um modelo que perdurou por muito tempo na bioquímica foi proposto por Emil Fischer, em 1894, em que as enzimas eram uma estrutura perfeitamente complementar ao seu substrato, formando um modelo “Chave-Fechadura”. Isso é realmente uma ideia muito elegante, porém, se a enzima for totalmente complementar a seu substrato, as reações realizadas por ela seriam pouco eficientes, pois, uma vez que se ligassem, não teriam motivos energéticos para que essa ligação se rompesse. As enzimas são, na verda- de, complementares ao seu estado de transição (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Para en- tender, vamos usar o exemplo de uma “batonase” conforme a Figura 5. 95UNIDADE 3 Imagine um bastão sendo quebrado ao meio: o nosso substrato é bastão de metal, como o amido é o substrato para se fazer cerveja, e deve ser que- brado. Na Figura 5, podemos observar, no pri- meiro modelo, onde o substrato é naturalmente convertido em produto, onde ele passa pelo seu estado de transição e, finalmente, é dividido. Essa reação é causada por forças magnéticas que do- bram o substrato. Agora, na ideia de chave e fechadura, pode- mos observar em (b) uma enzima que chama- remosde “Bastonase”: vemos que a enzima é complementar ao substrato, o que impede que as forças magnéticas capazes de transformar o substrato em seu estado de transição não pode atuar porque a enzima está impedindo que o substrato se dobre. A noção moderna de catálise enzimática pro- põe que a enzima se encontra na forma comple- mentar ao estado de transição como em (c), onde a enzima fornece a estrutura necessária para que o substrato atinja seu estado de transição utili- zando-se de menos energia, favorecendo, assim, que a reação aconteça (NELSON; COX, 2014). S P P P P P ++ ++ ++ ++ ++ ++ ++ + Substrato (bastão metálico) Estado de transição (bastão curvado) Produto (bastão quebrado) a) Sem enzima b) Enzima complementar ao substrato c) Enzima complementar ao estado de transição Enzima- Magnetos Poucos produtos ES ES ES ES S S S E ΔG não cat ++ΔG não cat ++ΔG não cat ++ΔG ΔGM ΔGM cat ++ΔG Coordenada da reação Coordenada da reação En er gi a liv re , G En er gi a liv re , G Coordenada da reação En er gi a liv re , G Figura 5 - Representação de um catálise enzimática Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 196). 96 Enzimas Cervejeiras Você já estudou, anteriormente, que as enzimas têm tamanho, peso e funções diferentes. Elas po- dem ser purificadas e cristalizadas para serem me- lhor estudadas. Existem diversas abordagens que podem ser usadas para estudar os mecanismos de reação enzimática dessas enzimas purificadas. Um ponto importante a ser observado é o conhe- cimento da estrutura tridimensional da proteína. Veremos, na Unidade 5, que é possível até mesmo mudar de maneira definitiva, uma sequência de aminoácidos de uma proteína por técnicas de en- genharia genética. Contudo, a cinética enzimática, ou velocidade da reação catalítica, permite-nos analisar muito sobre uma determinada enzima. A cinética é o estudo de como os fatores que envolvem a reação afetam a velocidade da reação catalítica. Esse tipo de estudo é um dos mais antigos realizados quan- do se trata dos mecanismos enzimáticos (LIMA; ANGNES, 1999). Vamos estudar, aqui, conceitos que deverão ser sempre levados em consideração na indústria cervejeira. Esses conhecimentos abrangem desde a fixação de amido pela fotossíntese, que ocorre na cevada, até as reação de conversão de açúcar Cinética Enzimática 97UNIDADE 3 em álcool, entre outras, que transformam o mosto em cerveja. A cinética enzimática deve ser sempre analisada quando se compra enzimas para adição na cerveja, que poderão desde eliminar o glúten até inibir o diacetil. Concentração de Substrato Para entrarmos nos conceitos de cinética enzi- mática, devemos retornar às teorias básicas e de- finições fundamentais. Um fator que afeta direta- mente a cinética enzimática é a concentração de substrato [S]. É desafiador estudar a concentração de substrato, pois ele está sempre mudando em relação ao tempo, pois a enzima está constante- mente convertendo-o em produto. Para simplifi- car essa análise, medimos a velocidade inicial da reação, que chamaremos de V0. Quando fazemos um experimento de cinéti- ca enzimática, a concentração de substrato deve ser muito maior que a concentração de enzima, que chamaremos de [E]. Assim, quando [S]>>[E], teremos a concentração de substrato sendo lenta- mente convertida em produto ([P]), e para tempos relativamente curtos, teremos que [S] poderá ser considerada uma constante. Veremos, na Figura 6 a seguir, uma relação de aumento da concentração de substrato, manten- do-se a concentração de enzima constante. Surge, aqui, um aumento da V0 pela variação de [S] de maneira direta até uma tendência de estabilida- de. Note que, no início do gráfico, um pequeno aumento na [S] gera um grande aumento quase que linear na V0, e em concentrações maiores de substrato V0, aumenta cada vez menos em relação ao aumento de [S], até que, finalmente, o aumen- to de [S] não afeta o crescimento de V0, fazendo, assim, que se atinja um patamar para valores da velocidade inicial que é chamado de velocidade máxima, Vmax. Vmáx Vmáx Km 1 2 Concentração de substrato, [S] (mM) Ve lo ci da de In ic ia l, V 0 (µ M /,m in ) Figura 6 - Efeito da concentração de substrato na velocidade inicial de uma reação enzimática Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 201). Em 1903, Victor Henri fez uma proposição funda- mental para o estudo de enzimas, em que a chave para a compreensão do comportamento cinético está no complexo ES. Isso foi o ponto de partida para a discussão da catálise enzimática, onde a enzima liga-se à molécula do substrato e forma um complexo ES, tornando-se um passo obriga- tório para o processo de catálise. Em 1913, temos a expansão dessa ideia por estudos matemáticos propostos por Leonor Michaelis e Maud Menten. A proposição deles, primeiramente, é de que a enzima se combina de maneira reversível com o substrato para formar o complexo ES, em uma etapa rápida e reversível (LEHNINGER; NEL- SON; COX, 1995): No passo seguinte, que é relativamente mais lento, o complexo ES se desfaz e temos, novamente, o aparecimento da enzima livre e a formação do produto da reação P: 98 Enzimas Cervejeiras A reação de formação de produto é mais lenta nesse exemplo, sendo assim, ela se torna o limi- tante da velocidade de transformação global do reagente em produto. Desta forma, podemos rela- cionar que a velocidade da reação é proporcional à concentração do complexo ES. Figura 7 - Leonor Michaelis/ Maud Menten Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 201). Quando um processo catalítico é realizado, sem- pre se encontrará as duas formas da enzima, uma na forma livre E, e a outra na forma do complexo ES. Se a concentração do substrato [S] for muito pequena, a enzima é encontrada na maior parte na forma livre. Assim, o que limita a velocidade da reação é a concentração de substrato. Agora, se [S] aumenta, temos que, gradativamente, também se aumenta a forma ES, e quando todas as enzi- mas forem encontradas na forma de complexo, a reação terá encontrado o seu Vmax. Desse modo, dizemos que a enzima está saturada, pois a quan- tidade de enzima livre E se tornou insignificante, e o aumento de [S] não afeta mais a velocidade da reação enzimática. Ao iniciar uma reação enzimática onde [S]>>[E], ocorre um período de adaptação inercial, conheci- do como estado pré-estacionário, durante o qual ocorre a formação dos complexos ES. Esse período ocorre de maneira rápida e espontânea e não pode ser facilmente visualizado, ela atinge um estado estacionário, onde o número de ES não se altera. Nos trabalhos de Michaelis e Menten, assim como a maioria dos trabalhos e laudos empresa- riais sobre enzimas, as medidas iniciais refletem o estado estacionário, em que a velocidade V0 medi- da se limita aos tempos iniciais da reação. Assim, esse tipo de análise é conhecida como cinética do estado estacionário (LIMA; ANGNES, 1999; MORAN et al., 2013). A equação de Michaelis-Menten descrevem com precisão uma curva, mais precisamente uma hipérbole retangular, que expressa a relação da ve- locidade da reação em relação à concentração de substrato. Muitas enzimas obedecem essa relação, e os termos mais importantes são [S], V0, Vmax e a constante da enzima que é expressa por Km e é chamada de constante de Michaelis-Menten: Essa equação pode ser algebricamente rearranjada de diversas formas para que se possa obter aná- lises gráficas e obter informações experimentais. Todas as variáveis da equação de Michaelis-Men- ten podem ser obtidas de maneira experimental e plotar os valores em gráficos permitem análises de muitosfatores intrínsecos das enzimas. Como o gráfico se trata de uma variação, pode- mos aplicar os conceitos de derivada para linearizar as curvas do gráfico. Quem podia imaginar tanta matemática para se fazer cerveja, não é mesmo? Uma outra forma simples de linearizar um gráfico hiperbólico é inverter os dois lados da equação de Michaelis-Menten: Ao separarmos os componentes do numerador do lado direito da equação, podemos simplificar a expressão para: 99UNIDADE 3 Essa expressão é de muita ajuda na bioquímica cervejeira, assim como em toda a bioquímica enzimática do mundo, pois possibilita o estudo de diversas características de nossas enzimas de interesse, e é conhecida como equação de Lineweaver-Burk. Por meio do gráfico construído por ela, podemos observar que obtemos uma linha reta quando os valores de 1/V0 e os valores de 1/[S] são plotados. 1 Km Km 1 Vmáx Vmáx 1 V 0 1 [S] 1 mM( ( 1 µM /m in ( ( Inclinação = Figura 8 - Gráfico do duplo recíproco ou de Lineweaver-Burk Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A inclinação da reta é o valor de Km/Vmax, e onde ocorre a intercep- tação com o eixo 1/Vo é igual a 1/Vmax. Onde ocorre a interceptação da reta com o eixo 1/[S] é igual a -1/Km. Esse gráfico de Linewea- ver-Burk, também conhecido como gráfico duplo-recíproco, tem a vantagem de permitir a determinação de Vmax de maneira acura- da, e os outros fatores envolvidos com uma menor quantidade de dados. Se a enzima já é conhecida por obedecer os parâmetros de Michaelis-Menten, no gráfico de Lineweaver-Burk, a reta pode ser extrapolada com poucos pontos (MORAN et al., 2013). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Cinética Enzimática 100 Enzimas Cervejeiras A maior reserva alimentar de polissacarídeos na natureza é a celulose, e logo após vem o amido (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). O Amido, então, além de ser nosso principal fator de inte- resse para a produção de cerveja, uma vez que ele será transformado em açúcares fermentescíveis ou não, ele também é uma importante fonte de nutrição para diversos organismos vivos. O amido é sintetizado nos plastídeos das plantas, presentes em suas folhas, e é acumulado em forma de grâ- nulos insolúveis. Ele é composto por unidades de glicose que são unidas por ligações glicosídicas, neste caso, temos dois tipos de moléculas: a ami- lose e a amilopectina. A amilose é insolúvel em água e tem uma con- figuração linear unida por ligações do tipo α-1,4; enquanto a amilopectina possui uma cadeia ra- mificada de polímeros de glicose que possuem ligações de glicose α-1,4 e ramificações na ca- deia, gerando ligações do tipo α-1,6. Os níveis de amilose e amilopectina variam de acordo com a planta, mas, normalmente, é encontrado em um fator de 1 para 3 a quantidade de amilose em re- lação a amilopectina. Amilases 101UNIDADE 3 Para se quebrar o amido em moléculas de açúcares menores, são necessárias as enzimas amilases, proteínas específicas produzidas por diversas espécies na natureza, incluindo os seres humanos. A formação dessas enzimas é fator crucial para se maltear os grãos de cereais para a fabricação de bebidas (KUNZE, 2014). Embora muitos organismos as produzam, na indústria em geral, são utilizadas as amilases provenientes de bactérias ou fungos, que normalmente secretam a enzima para fora da célula e realizam uma digestão extracelular, produzindo açúcares solúveis, como glicose e maltose, que são absorvidos e processados pelas células. Uma vez que as amilases se encontram no meio extracelular, elas podem ser filtradas por serem menores que as células e as moléculas de amidos presentes. Depois, uma nova filtração é realizada para se sepa- rar as moléculas de açúcares e água que são menores que as enzimas. α-amilase Como já vimos, as amilases que- bram as moléculas de amido para obtenção de açúcares, conforme o mecanismo de quebra das en- zimas, elas são classificadas em α-amilase, β-amilase e amiloglu- cosidase. As α-amilase realizam a quebra das ligações α-1,4 das moléculas de amido em qualquer ponto, podendo quebrar o polis- sacarídeo em diversos tamanhos de unidades de glicose e formatos com ramificações ainda presentes. As α-amilases são classifica- das como EC 3.2.1.1, no banco mundial de enzimas, como já comentamos, e pertencem à família 13 (GH-13) do grupo das enzimas glicosil hidrolase. A maioria delas são metaloenzi- mas que necessitam de íons cál- cio (Ca2+) para sua estabilidade, integridade estrutural e realiza- ção das atividades catalíticas. Amilose Amilopectina Figura 9 - Amilose e amilopectina Figura 10 - Representação de uma alfa amilase 102 Enzimas Cervejeiras Elas geram diversos tipos de açúcares; se elas atuam durante muito tempo, a tendência é que todas as ligações α-1,4-glicosídicas sejam desfeitas e gere uma grande quantidade de moléculas de glicose presente na solução. As moléculas de glicose que estão ligadas por outros tipos de ligações não serão afetadas e darão origem a outros açucares. Então, se o tempo de atuação da α-amilase for priorizado de maneira excessiva, podemos ter uma cerveja de baixo corpo e maior teor alcoólico, uma característica que, normalmente, obtemos ao priorizar o tempo de atuação das β-amilases. Outro ponto im- portante a se considerar é o equilíbrio do tempo ótimo de atuação das α-amilases se o objetivo é uma cerveja de baixo teor alcoólico e muito corpo (KUNZE, 2014). Com base nos produtos finais, podemos classificar as α-amilases de diversas formas: amilases sacarificantes, liquefazíveis, formação de maltose, formação de maltotetraoses, formação de maltopentaose e formação de maltohexaose. Na família das hidrolases glicosídi- cas, transferases e isomerases, a α-amilase é a maior representante, compreendendo 30 especificidades enzimáticas diferentes. Figura 11 - Alfa-Amilase, uma enzima que hidrolisa polissacarídeos, como amido e glicogênio, para glicose, maltose e dextrinas. Podemos classificá-las, ainda, em quatro grupos: exoamilases, en- doamilases, enzimas desramificantes e transferases. As exoamilases quebram as ligações α-1,4 ou α-1,6 de ma- neira externa dos resíduos de glicose, gerando produtos anomé- ricos α- ou β-. As endoamila- ses quebram as ligações α-1,4 de maneira interna, gerando cadeias de açúcares meno- res e padronizados. As enzi- mas desramificantes clivam as ligações α-1,6, deixando os polissacarídeos de glicose lineares. As transferases que- bram e formam ligações glico- sídicas do tipo α-1,4 de uma molécula para a outra, que se torna um receptor glicosídi- co (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). β-amilases São enzimas responsáveis pela quebra das extremidades não redutoras das cadeias de ami- lose, amilopectina e moléculas de glicogênio. Elas quebram as ligações α-1,4, produzindo glicose-glicose, sempre duas unidades por vez, formando, as- sim, o açúcar conhecido como maltose. Ela é classificada como EC 3.2.1.2, no banco mundial de enzimas. A Tabela 1 foi retirada do ilustre livro Handbook Of Bre- wing: Processes, Technology, Markets, onde podemos e de- vemos nos ater às informações de pH, temperatura, produtos e substratos gerados pelas enzi- mas no mosto cervejeiro (HM ESSLINGER, 2009). 103UNIDADE 3 Tabela 1 - As principais Enzimas Atuantes no Mosto Cervejeiro Enzima Temp. Enzimática ótima no mosto (° C) pH óti- mo no mash Substrato Produto Citólise β - glucan solubilase 62 – 65 6,8 Limite da matriz Β - glucana Β-glucana molecular de alta solubilidade Endo-1-3-β – glucanase <60 4,6 Β-glucana mo- lecular de alta solubilidade Β-glucano de baixo peso molecular, celobiose,Laminaribiose Endo –1-4 - β – gluca- nase 40 – 45 4,5 – 4,8 Β-glucana mo- lecular de alta solubilidade Β-glucano de baixo peso molecular, celobiose, Laminaribiose Exo - β – glucanase <40 4,5 Celobiose, laminaribiose Glucose Proteólise Endopepti- dase 45 – 50 3,9 – 5,5 Proteínas Peptídeos e aminoáci- dos livres Carboxipep- tidase 50 4,8 – 4,6 Proteínas e peptídeos Aminoácidos livres Aminopepti- dase 45 7,0 – 7,2 Proteínas e peptídeos Aminoácidos livres Dipeptidase 45 8,8 Dipeptídeos Aminoácidos livres Amilose α-amilase 65-75 5,6 – 5,8 Α -glucanos de alto peso mole- cular e baixo Polissacarídeos, Oligossacarídeos Outras Enzimas β-amilase 60-65 5,4 – 5,6 Α -glucanos Maltose Maltase 35-40 6,0 Maltose Glucose Dextrinase Limite 55-65 5,1 Limite de dextrina Dextrinas Lipase 55-65 6,8 – 7,0 Lípidos, hidrope- róxidos lipídicos Glicerina mais ácidos graxos de cadeia longa livres, ácidos graxos, hidroperóxidos Lipoxigenase 45-55 6,5 – 7,0 Ácidos graxos de cadeia longa livres Hidroperóxidos de ácidos graxos Polifenol oxidase 60-65 6,5 – 7,0 Polifenóis Polifenóis oxidados Peroxidase >60 6,2 Substratos orgânicos e inorgânicos Radicais Livres Fosfatases 50-53 5,0 Fosfato de ligação orgânica Fosfato Inorgânico Fonte: adaptada de HM Esslinger (2009). 104 Enzimas Cervejeiras Como podemos notar, a temperatura ótima para atuação da β-amilase é na faixa 60-65 ºC, enquanto a temperatura ótima de trabalho para a α-amilase é na faixa de 65-75 ºC. Veja, no nosso corpo, temos diversas enzimas que realizam as mesmas funções, mas com temperatura e pH diferentes. Sabendo esses pontos, podemos determinar onde os com- postos estão sendo processados e identificar uma doença no fígado ou mal estar passageiro (LEH- NINGER; NELSON; COX, 1995). Então, existem diversos tipos de α-amilase e β-amilase, por exemplo, as fúngicas suportam tem- peraturas superiores a 80 ºC; devemos notar que as amilases vegetais da cevada trabalham em torno desses valores. Agora, imagine que a molécula de amido seja uma árvore que você deseja cortar em pequenos pedaços, e esses pequenos pedaços como folhas e pó de serra sejam os açúcares fermentescíveis. Para isso, você tem duas ferramentas, uma tesoura de poda e uma motosserra, que representam as β-ami- lases e α-amilases, respectivamente (Figura 12). O mais lógico a se pensar seria cortar a árvore com a motosserra e depois utilizar a tesoura para remo- ver as folhas; infelizmente não é isso que ocorre na produção de cerveja, pois a temperatura de traba- lho da α-amilase é superior à temperatura ótima de trabalho da β-amilase, e uma vez passada essa temperatura, com o tempo prolongado, a enzima se desnatura e não retorna à sua função. a) b) c) d) α α α: α-amilase β: β-amilase α β ββ β β β β β β β β β β β β β β ββ β β β β α α Glicose Maltose Maltotriose Dextrina limite Resíduo de Glicose Figura 12 - Amilases atuando sobre o amido Fonte: adaptada de Kunze (1996). 105UNIDADE 3 Então, ao deixar seu mosto em uma temperatura ideal para a β-amilase, irá gerar maltose que será consumida pela levedura e transformada em eta- nol. Seria possível cortar a “árvore” somente com a tesoura de poda, mas isso demora muito tempo. É possível hidrolisar toda a molécula de amido somente com a α-amilase, mas ela gera diversos tipos de açúcares, pois ela quebra as ligações em quaisquer pontos; se usada durante um intervalo grande de tempo, podemos chegar a ter somente sacarídeos de cadeias curtas, gerando, também, uma cerveja muito alcoólica e sem corpo (NEL- SON; COX, 2014). Amiloglicosidase Não podemos deixar de falar, neste livro, da enzima amiloglicosidase (EC 3.2.1.3). Ela é res- ponsável por liberar unidades de glicose a partir da extremidade não redutora das moléculas de glicogênio: amilopectina e amilose. Ela possui a capacidade única entre as amilolíticas de clivar as ligações α-1,4 e α-1,6 do amido. Assim, ela pode gerar um xarope de glicose mesmo nas ramificações da molécula de amido. Um fator importante das amiloglicosidase para a cerveja está ligado mais na produção do malte, uma vez que a quantidade de α-amilase supre a mosturação (KUNZE, 2014). Durante o processo de transformação dos grão de cereais em malte, o gérmen produz enzimas que vão digerir o amido e transformar em energia e compostos para a planta. A amiloglicosidase fará um papel importante de deixar glicose disponível no malte, durante o processo de torra do grão em temperaturas elevadas, o açúcar irá se complexar com aminoácidos em processos conhecidos como reação de Maillard, o que, por sua vez, gerará uma infinidade de compostos que darão sabores e aromas diferenciados para cada processo e pro- duto, gerando nossos maltes especiais. Glucanase Nesse caso em específico, iremos focar nas β-glucanases, que são responsáveis por fazer a quebra das moléculas de β-glucanos que estão localizados nas paredes celulares do endosper- ma de grãos, como a cevada, trigo e outros. Os β-glucanos são unidades de glicose ligados por ligações do tipo β-1,3 ou β-1,4 e dão rigidez às paredes celulares. Concentrações elevadas de β-glucanos afetam, principalmente, a filtração da cerveja e torna o líquido espesso. As β-glucanases fazem a hidrólise das liga- ções β-1,3 das moléculas de glucanos, deixando os grãos macios e ajudando na liberação do amido durante a mosturação. Essa enzima é muito utilizada na fabricação de malte; se os níveis de glucanos são elevados, a maceração e a germinação devem ser estendidas para a redução deste composto. 106 Enzimas Cervejeiras Sabemos que a água e os açúcares são os com- postos de maior composição no mosto cervejeiro, mas eles sozinhos não formam a cerveja. As pro- teínas do malte são essenciais para a fermentação pelas leveduras e para dar corpo e espuma para a cerveja. No grão de cevada, as proteínas servem como alimento para o embrião, durante o processo de maltagem; mais precisamente na maceração do grão, enzimas hidrolisam proteínas grandes, transformando-as em albuminas menos com- plexas, que são frações proteicas coaguláveis e também abrangem as solúveis ou, até mesmo, para peptídeos e aminoácidos mais simples. No mosto, esses compostos se complexam com sais minerais e diminuem o pH da solução (KUNZE, 2014). Na cerveja, os esforços não são para eliminar as proteínas, o que se deve ser feito é reduzir o tamanho da cadeia polimérica de peptídeos, que chegam a 150.000 unidades, para frações coloidais menores e solúveis na faixa de 10.000 a 100.000 com um peso molecular médio na faixa dos 30.000. Em alta concentração desses compostos na cerveja, ocorrem fatores conhecidos como chill haze, que é conhecido como turvação a frio, é produzido pela complexação proteína-polifenol, Proteases 107UNIDADE 3 em que o polifenol é oriundo dos lúpulos, causa uma nebulosidade irreversível ou aromas pela oxidação desses compostos. Então, o objetivo das proteases durante a ma- ceração é reduzir o tamanho dos grandes comple- xos proteicos do malte para subunidades menores, como albuminas intermediárias, que possuem peso molecular na faixa de 5.000 a 12.000, e para proteoses, peptonas e peptídeos que possuem peso molecular entre 400 a 1500. Essas cadeias menores podem se dissolver ou formar complexos coloidais com as resinas do lúpulo, e vão ser trans- portados para a cerveja pronta (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995). Durante a fermentação, as leveduras aumen- tam seu número de células consideravelmente e, para isso, ela deve produzir proteínas e lipídios para construir paredes celulares. As substâncias nitrogenadas são fundamentaispara esse proces- so, como os aminoácidos e peptídeos. Os com- postos nitrogenados de cadeias maiores, como as albuminas, por sua vez, formarão o corpo e espuma da cerveja. Todos esses compostos nitro- genados constituem cerca de três a seis por cento do extrato de mosto. Os compostos nitrogenados do malte são transportados para as leveduras em uma fração que vai de 25 a 50%. Em geral, nos maltes que possuem maior quantidade de proteínas, ocorrem fenômenos de polvilhamento, em que grânulos são formados, mas também apresentam maior ati- vidade enzimática. Maltes com menos proteínas têm, consequentemente, menor poder enzimático e devem ser cuidadosamente macerados na mal- taria (KUNZE, 2014). O mosto cervejeiro é constituído por fatores que favorecem a atividade enzimática, que é pre- viamente garantido pelo resfriamento do malte verde durante a malteação. Isso torna possível a completa redução das proteínas e carboidratos da cevada em um extrato solúvel. Durante a mostura- ção, enzimas proteolíticas associadas à maltagem são empregadas no processo para superar quais- quer falhas no malte. As ligações peptídicas (CO-NH) são substituí- das por moléculas de água e os grupos proteolíticos (peptizantes) reduzem as proteínas de alto peso molecular em peptídeos e aminoácidos mais sim- ples em uma série de reações intermitentes. A faixa ótima de trabalho das proteases está em torno dos 45-50 ºC, principalmente as peptase e peptidases, e pH em torno de 4,6-5,3. Elas solubi- lizam as proteínas e reduzem, sequencialmente a proteínas, peptonas, polipeptídeos e aminoácidos. Outras Enzimas Importantes A fitase e a fosfatase acidificam o malte, o que re- duz o pH por meio do ácido fítico e atuam na faixa ótima de 35-50 ºC. Também são responsáveis por aumentar o conteúdo mineral solúvel no mosto. Outras enzimas, como as celulase, hemicelulase, colagenase e pectinase, trabalham na mesma faixa de temperatura e atuam dissolvendo as paredes ce- lulares da casca do endosperma e formam gelatinas e pectinas, que ajudarão na formação de coloides que clarificam o mosto durante a fervura. Outras enzimas comerciais podem ser empre- gadas durante a fabricação da cerveja durante todo o processo. Uma dessas enzimas é comercializada como clarificante. Como já vimos, a turvação a frio é a complexação de uma proteína, que, em tempe- raturas próximas a zero grau Celsius, se complexa com polifenóis e turva a cerveja. Isso é um problema, principalmente na fabricação de Standard Lager, que popularmente conhecemos como Pilsen, um processo tecnológico que, normalmente, é aplicada a filtração abaixo de zero. Uma cerveja clara que se tur- va quando resfriada pode ser filtrada ou duplamente filtrada abaixo de 0 ºC para remover essa névoa e tornar a cerveja novamente cristalina a tempera- 108 Enzimas Cervejeiras turas muito baixas. A solução de um problema passa se tornar uma propaganda para a marca. Outro método para se resol- ver esse problema é a adição de enzimas clarificantes durante a fermentação, em que as proteí- nas que futuramente iriam se complexar com polifenóis serão, agora, quebradas e transforma- das em peptídeos menores que ajudarão na retenção e formação de espuma. Se o tempo de fer- mentação e descanso do diacetil for longo o suficiente, juntamen- te com a atividade da enzima cla- rificante que quebra a ligação da prolina, um aminoácido presente no glúten, ele terá sua cadeia re- duzida e a cerveja sairá sem glú- ten, podendo se tornar um novo marketing para o produto. Muitas das proteínas maiores continuarão no mosto e, mesmo após a filtração das casca, você ainda pode notar o líquido turvo. Isso é corrigido de diversas ma- neiras: com a adição do lúpulo no qual proteínas se complexam com resinas formando coloides, fervura que desnatura as proteí- nas e redução do pH que chega próximo ao ponto isoelétrico de proteínas. Esses fatores combina- dos ajudam muito na clarificação da sua cerveja (KUNZE, 2014). Se essas etapas não forem su- ficientes, provavelmente sua safra de malte está com elevado teor de proteínas, então, lembre-se de aumentar o tempo de sua rampa proteica durante a mosturação. 109 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Para ocorrer a regulação enzimática, como ativação ou desativação da atividade enzimática, as enzimas podem sofrer diversos processos, como: a) Fosforilação ou glicosilação. b) Peptização ou clivagem. c) Halo Esterificação ou desnaturação. d) Glicofosforização ou vitaminação. e) Saturação ou evaporação. 2. Sobre cofatores enzimáticos, analise as afirmativas. I) As enzimas sempre necessitam de mais de um cofator, podendo ter vários grupos metálicos para realizar corretamente suas funções. II) A parte em que o íon que está ligado na coenzima da enzima é chamada de grupo prostético. III) Se uma enzima estiver ligada a uma coenzima e/ou seus íons metálicos, ela é denominada de holoenzima. IV) A parte proteica da enzima é chamada de apoenzima ou apoproteína. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 110 3. Sobre a catálise enzimática, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): )( A enzima fornece a estrutura necessária para que o substrato atinja seu estado de transição utilizando-se de menos energia. )( A enzima funciona como um modelo chave-fechadura, onde o substrato se encaixa perfeitamente no sítio ativo da enzima. )( A noção moderna de catálise enzimática propõe que a enzima se encontra na forma complementar ao estado de transição. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 4. Qual a diferença entre amilose e amilopectina? 111110 A Arte da Fermentação - Explore Os Conceitos e Processos Essenciais da Fermentação Praticados ao Redor do Mundo Autor: Sandor Ellix Katz Editora: SESI-SP Sinopse: “A Arte da Fermentação” é muito mais que um livro de receitas… É bem verdade que o livro ensina como fermentar, mas, muito mais importante que isso, você conhecerá as implicações da fermentação e saberá porque um ato tão cotidiano e prático, como fazer o próprio chucrute, é nada menos que uma maneira de se engajar no mundo. Melhor ainda, uma maneira de se engajar em vários mundos diferentes, um aninhado dentro do outro: o mundo invisível dos fungos e bactérias; a comunidade na qual você vive; e a indústria alimentícia que está minando a saúde do nosso corpo e do nosso planeta. Isso tudo pode parecer grandioso demais para um simples pote de chucrutes, mas a incrível façanha que Sandor Katz conseguiu realizar nesse livro é convencer o leitor da verdade dessa alegação. Fermentar a sua própria comida significa fazer um eloquente protesto – dos sentidos – contra a homogeneização dos sabores e das experiências alimentares que hoje se estende como uma vasta planície indiferenciada por todo o nosso planeta. O ato também é uma declaração de independência de uma economia que preferiria que fôssemos todos consumi- dores passivos de suas commodities em vez de criadores de produtos originais para nos expressar e expressar os lugares onde vivemos. LIVRO Beer Hunter Ano: 1989 Sinopse: uma série de seis episódios que retrata o Jornalista inglês Michael Jackson, que é autor de vários livros sobre cerveja, viajando para vários países nos anos 90 para mostrar cervejarias e difundir a cultura da cerveja. FILME 112 KUNZE, W. Technology Brewing and Malting. Berlin: Vlb, 1996. KUNZE, W. Technology Brewing and Malting. 5. ed. Berlin: Vlb, 2014. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica. SãoPaulo: Sarvier, 1995. LIMA, A. W. O.; ANGNES, L. Biocatálise em meios aquo-restritos: fundamentos e aplicações em química analí- tica. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 229-245, mar./abr. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0100-40421999000200015&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 17 abr. 2019. MALHOTRA, V. K. Biochemistry for students. 12. ed. New Delhi: Jaypee Brothers Medical Publishers (P) Ltd, 2012. MORAN, L. A.; HORTON, H. R.; SCRIMGEOUR, K. G.; PERRY, M. D. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. HM Esslinger, Editor. Handbook Of Brewing: Processes, Technology, Markets: Wiley - VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, Postfach 10 11 61, 69451 Weinheim, 2009. 113 1. A. Para ocorrer a regulação enzimática, como ativação ou desativação da atividade enzimática, as enzimas podem sofrer diversos processos, como a fosforilação ou glicosilação. 2. D. A afirmação I está incorreta, pois o certo seria: as enzimas podem necessitar de mais de um cofator, po- dendo ter vários grupos metálicos para realizar corretamente suas funções. As afirmações II, III e IV dizem exatamente sobre cofatores. 3. E. A noção moderna de catálise enzimática propõe que a enzima se encontra na forma complementar ao estado de transição, onde a enzima fornece a estrutura necessária para que o substrato atinja seu estado de transição utilizando-se de menos energia, favorecendo, assim, que a reação aconteça. O substrato não se encaixa perfeitamente ao sítio da enzima, pois, assim, o produto não seria liberado. 4. A amilose é insolúvel em água e tem uma configuração linear unida por ligações do tipo α1,4, enquanto a amilopectina possui uma cadeia ramificada de polímeros de glicose que possuem ligações de glicose α-1,4, e possui ramificações na cadeia gerando ligações do tipo α-1,6. 114 115 116 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Ghiovani Zanzotti Raniero • Conhecer as propriedades termodinâmicas dos sistemas biológicos e os mecanismos de obtenção e uso da energia pelos seres vivos. • Fornecer os conhecimentos sobre o processo de glicó- lise e geração de ATP, assim como o catabolismo das hexoses. • Transmitir conhecimentos sobre geração de energia pela regeneração do ácido cítrico. • Aprofundar a percepção sobre a importância da formação de compostos durante a oxidação de ácidos graxos. • Proporcionar conhecimentos sobre conceitos teóricos fundamentais da síntese de carboidratos e lipídeos. Termodinâmica e bioenergia Glicólise Oxidação dos ácidos graxos Biossíntese de carboidratos e lipídeosCiclo do ácido cítrico Integração e Regulação Metabólica Termodinâmica e Bioenergia Nesta unidade, iremos focar na matemática que rege o mundo, mostrar como, na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Cada reação que estudamos, cada movimento de todos os compostos desse mundo, obedecem às mesmas leis da física e química, que descrevemos por meio da matemática. As reações que acontecem para a produção da nossa cerveja, também acontecem no nosso or- ganismos, veremos as reações de energia e trans- formação de matéria que acontece em uma mo- lécula de açúcar para virar etanol; e a energia que compõe várias outras reações de nosso interesse. A fim de crescer, reproduzir-se e, principal- mente, de se manter vivo, as células e os orga- nismos vivos devem realizar trabalho. Todos os organismos vivos possuem a capacidade de con- trolar a energia e também de direcioná-la para o trabalho biológico. 119UNIDADE 4 Os organismos realizam notáveis transforma- ções da energia, ou seja, mudam uma forma de energia para outra. Por exemplo: usam a energia química do combustível para sintetizar macro- moléculas, convertem os gradientes de concen- tração e elétricos em calor e movimento, assim como transformam a energia luminosa em todas as outras formas de energias, como é o caso dos organismos fotossintéticos (LEHNINGER; NEL- SON; COX, 1995). A bioenergética estuda essas mudanças de formas de energia que ocorrem na natureza, nos processos químicos, assim como nas células vivas. Por meio das observações quantitativas realizadas nas mudanças de formas da energia, levaram a formulação das duas leis da termodinâmica: • 1ª Lei: a energia pode ser transportada ou mudar sua forma, mas não pode ser criada ou destruída. • 2ª Lei: em todos os processos naturais, a entropia do universo aumenta, ou seja, pode ocorrer tanto em uma direção como em outra. Para entender as aplicações da segunda lei aos sistemas biológicos, é necessário definir, pri- meiramente, esses sistemas e o seu ambiente, que juntos compõem o universo. Sistemas são os componentes que são submetidos a algum processo físico ou químico, podendo ser, por exemplo, uma célula, um organismo ou, até mes- mo, dois compostos reagentes. O sistema troca matéria e energia com seu ambiente e nunca atingem o equilíbrio com seu meio ambiente. Além disso, as células são sistemas isotérmicos, ou seja, são aquelas que funcionam essencialmen- te em temperaturas constantes, assim, o fluxo de calor não é uma fonte de energia para elas, sendo que o calor realiza trabalho apenas quando passa por regiões ou objetos com temperaturas inferio- res. Dessa forma, a energia que as células podem e devem usar é a livre. A energia livre é descrita como uma função da energia livre de Gibbs (G). Essa função permite preestabelecer o sentido das reações químicas, bem como sua posição de equilíbrio e a quanti- dade de trabalho que podem realizar em tempe- ratura e pressão constante. Se o calor não é uma fonte de energia, de onde, então, as células adquirem a energia livre? Pois bem, as células heterotróficas adquirem por meio das moléculas de nutrientes, enquanto que as cé- lulas fotossintetizantes adquirem a energia livre da radiação solar absorvida. Tanto as células heterotróficas quanto as células fotossintetizantes transformam essa energia livre em ATP (adenosina trifosfato), assim como em outros compostos abundantes de energia, os quais são capazes de fornecer energia para a realização de trabalho biológico em temperaturas constantes. Em suma, os organismos vivos mantêm sua organização interna com o intuito de captarem a energia livre do meio, seja em forma de nutrientes ou de luz solar, e devolvem a ele uma quantidade de energia igual, na forma de calor e entropia. Todos os seres vivos, incluindo nossas leveduras cervejeiras, utilizam o ATP como fonte de energia; e umas das principais vias metabólicas para a ob- tenção do ATP durante a fermentação é a glicólise (NELSON; COX, 2014). 120 Integração e Regulação Metabólica A glicose é metabolizada em piruvato pela gli- cólise (do grego glykys, “doce” ou “açúcar”, e lysis, “quebra”), que envolve uma série de etapas enzi- máticas que produz duas moléculas de ATP por molécula de glicose. A glicólise é uma via central quase universal do catabolismo da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A glicose é um combustível importante para a geração de ATP para satisfazer as demandas bioenergéticas da cé- lula e para obtenção de energia na via anaeróbica, conhecida como fermentação. O primeiro passo da glicólise envolve a fos- forilação da glicose pela hexocinase para gerar glicose-6-fosfato, e prossegue com uma série de reações enzimáticas que ocorre em dez etapas, sendo as primeiras cinco a fase preparatória, e as outras cinco a fase de pagamento, que geram, no final, duas moléculas de piruvato e duas ATPs (LIMA; ANGNES, 1999). Glicólise 121UNIDADE 4 A Fosforilação da Glicose Na primeira etapada glicólise, a glicose é ativada para as reações subsequentes, pela fosforilação em C-6, formando glicose-6-fosfato, com ATP como doador de grupo fosforil, formando ADP. Essa reação é irreversível em condições intracelulares e catalisada pela hexoquinase. CH2 O OH OH OPO2- H H HH H OH Mg2+ ATP ADP HO OH O OH H H HH H OHHO OH Glicose Glicose-6-fosfato CH2 Hexocinase 3 6 5 4 3 2 1 ΔG’o = - 16,7 kJ/mol Figura 1 - Fosforilação da glicose Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A Conversão de Glicose-6-fosfato a Frutose-6-fosfato A enzima fosfohexose-isomerase catalisa a isomerização reversível da glicose-6-fosfato (aldose) utili- zando um intermediário enediol, facilitando, assim, a formação da frutose-6-fosfato (cetose). Mg2+ 3 H OH OH OH HO H H H O Glicose-6-fosfato Frutose-6-fosfato 3 O OH H HH CH2OPO 2- CH2OHH OHHO 5 6 3CH2OPO 2- 6 5 4 3 2 1 4 2 1 ΔG’o = 1,7 kJ/mol Fosfo-hexose- isomerase Figura 2 - Conversão de glicose-6-fosfato a frutose-6-fosfato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 122 Integração e Regulação Metabólica A Fosforilação da Frutose-6-fosfato a Frutose-1,6-bifosfato A enzima fosfofrutocinase-1 (PFK-1) catalisa a transferência de um grupo fosforil do ATP para a frutose-6-fosfato, formando frutose-1,6-bifosfato. A enzima que forma a frutose-1,6-bifosfato é cha- mada de PFK-1. A reação com PFK-1 é essencialmente irreversível em condições celulares; a partir dessa reação, a frutose-1,6-bifosfato só pode ser direcionada para a glicólise, mas a reação anterior, glicose-6-fosfato e frutose-6-fosfato, pode ter outros destinos possíveis. Frutose-6-fosfato ΔG’o = -14,2 kJ/mol OH OH HO H H H O CH2-OH 3CH2OPO 2- 6 5 4 3 2 1 Frutose-1,6-bifosfato OH OH HO H H H O CH2-OPO 2- 3CH2OPO 2- 6 5 4 3 2 1 Mg2+ ATP ADP Fosfofrutocinase-1 (PFK-1) 3 Figura 3 - Fosforilação da frutose-6-fosfato a frutose-1,6-bifosfato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A Clivagem da Frutose-1,6-bifosfato A enzima frutose-1,6-bifosfato-aldolase, muitas vezes chamada, simplesmente, de aldolase, catalisa uma condensação aldólica reversível. A frutose-1,6-bifosfato é clivada para a formação de duas trioses-fosfato diferentes, a aldose gliceraldeído-3-fosfato e a cetose di-hidroxiacetona-fosfato. ΔG’o = 23, kJ/mol Frutose-1,6-bifosfato OH OH C O C CHOH O H HO H H H O 3 3 3 3 CH2OPO 2- CH2OPO 2- CH2OPO 2- CH2OPO 2- 6 5 4 3 2 1 Di-hidroxiacetona- -fosfato Gliceraldeído-3- -fosfato Aldolase (1) (2) (3) (4) (5) (6)CH2OH + Figura 4 - Clivagem da frutose-1,6-bifosfato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 123UNIDADE 4 A Interconversão das Trioses-fosfato Apenas uma das duas trioses-fosfato formada pela aldolase, o gliceraldeído-3-fosfato, pode ser direta- mente degradada nas etapas subsequentes da glicólise. O outro produto, a di-hidroxiacetona-fosfato, é rápida e reversivelmente convertida a gliceraldeído-3-fosfato pela quinta enzima da sequência glicolítica, a triose-fosfato-isomerase, formando, assim, duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato. ΔG’o = 7,5 kJ/mol C O C HCOH O H 33CH2OPO 2- CH2OPO 2- Di-hidroxiacetona- -fosfato Gliceraldeído-3- -fosfato Triose-fosfato isomerase CH2OH Figura 5 - Interconversão das trioses-fosfato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A Fase de Pagamento da Glicólise A fase de pagamento da glicólise inclui as etapas de fosforilação que conservam energia, nas quais parte da energia química da molécula da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. Lembrando que cada molécula de glicose rende duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato e que seguem na mesma segunda fase da glicólise, então, a conversão das duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato a duas moléculas de piruvato é acompanhada pela formação de quatro moléculas de ATP a partir de ADP. No entanto, o rendimento líquido de ATP por molécula de glicose consumida é de apenas dois, já que dois ATP foram consumidos na fase preparatória da glicólise. A Oxidação do Gliceraldeído-3-fosfato a 1,3-bifosfoglicerato A primeira etapa da fase de pagamento é a oxidação do gliceraldeído-3-fosfato a 1,3-bifosfoglicerato, catalisada pela enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. A transferência de grupo fosforil de 1,3-bifosfoglicerato pode extrair muita energia útil. A enzima fosfoglicerato-cinase transfere o grupo fosforil de alta energia do grupo carboxil do 1,3-bifosfoglice- rato para o ADP, formando ATP e 3-fosfoglicerato. A enzima fosfoglicerato-cinase catalisa a reação em ambos os sentidos. 124 Integração e Regulação Metabólica A Conversão de 3-fosfoglicerato a 2-fosfoglicerato A enzima fosfoglicerato-mutase catalisa o deslocamento reversível do grupo fosforil entre C-2 e C-3 do glicerato; Mg2+ é essencial para essa reação. ΔG’o = 4,4 kJ/mol Fosfoglicerato- -mutase 3-Fosfoglicerato 2-Fosfoglicerato 3 3 Mg2+C HC OH O-O CH2 O PO 2- C HC O-O CH2 OH PO2-O Figura 8 - Conversão de 3-fosfoglicerato a 2-fosfoglicerato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A Desidratação de 2-fosfoglicerato a Fosfoenolpiruvato A enolase promove a remoção reversível de uma molécula de água do 2-fosfoglicerato para gerar fosfoe- nolpiruvato (PEP). A reação converte um composto relativamente de baixo potencial de transferência de grupo fosforil (o ∆G’° para a hidrólise de 2-fosfoglicerato é -17,6 kJ/mol) para um com alto potencial de transferência de grupo fosforil (o ∆G’° para a hidrólise de PEP é -61,9 kJ/mol). ΔG’o = 7,5 kJ/mol 2-Fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato OPO2- C CH HO H2O CH2 CH2 O-O C O-O 3 OPO2-C 3 Enolase Figura 9 - Desidratação de 2-fosfoglicerato a fosfoenolpiruvato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Fosfoglicerato-cinase 1,3-Bifosfoglicerato +C HCOH OO 3CH2OPO 2- Mg2+ P O- O- O P P O Rip Adenina ADP ΔG’o = -18,5 kJ/mol 3-Fosfoglicerato 3 C HCOH O-O CH2OPO 2- OPO- O- P P O Rip Adenina ATP Figura 7 - Transferência de grupo fosforil de 1,6-bifosfoglicerato a ADP Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 125UNIDADE 4 A Transferência de um Grupo Fosforil do Fosfoenolpiruvato para ADP A última etapa na glicólise é a transferência do grupo fosforil do fosfoenolpiruvato ao ADP, catalisada pela piruvato-cinase, que exige K+ e Mg2+ ou Mn2+. ΔG’o = -31,4 kJ/mol ΔG’o = kJ/mol C O-O CH2 C O +P O O- O- P P O Rip Adenina ADPFosfoenolpiruvato Mg2+, K+ Piruvato- -cinase C O-O CH3 C O + P O- OO- P P O Rip Adenina ATP Piruvato Figura 10 - Transferência de um grupo fosforil do fosfoenolpiruvato para ADP Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Destinos do Piruvato em Condições Anaeróbias O piruvato formado na etapa final da glicólise é oxidado a acetato (acetil-CoA), que entra no ciclo do ácido cítrico e é oxidado a CO2 e H2O. O NADH formado pela desidrogenação do gliceraldeído- -3-fosfato é, finalmente, reoxidado a NAD+ pela transferência de seus elétrons ao O2 na respiração mitocondrial. No entanto, em condições de hipóxia (pouco oxigênio) – assim como no músculo esquelético em atividade intensa, nos tecidos vegetais submersos ou nas bactérias lácticas –, o NADH gerado pela glicólise não pode ser reoxidado pelo O2. A falha na regeneração de NAD + deixaria a célula carente de aceptor de elétrons para a oxidação de gliceraldeído-3-fosfato, e as reações geradoras de energia da glicólise cessariam.Portanto, NAD+ deve ser regenerado de outra forma. Quando tecidos de animais não podem ser supridos com oxigênio suficiente para realizar a oxida- ção aeróbia do piruvato e do NADH produzidos na glicólise, NAD+ é regenerado a partir de NADH pela redução do piruvato a lactato, assim como os eritrócitos produzem lactato a partir de glicose. Fermentação Etanólica O etanol é o produto reduzido na fermentação alcoólica. Leveduras e outros microrganismos fermen- tam glicose em etanol e CO2, em vez de lactato. A glicose é transformada em piruvato pela glicólise, e o piruvato é convertido em etanol e CO2 por duas etapas: • Na primeira, o piruvato é descarboxilado em uma reação irreversível catalisada pela piru- vato-descarboxilase, que requer Mg2+ e contém uma coenzima fortemente ligada, a tiami- na-pirofosfato, convertendo, assim, piruvato em acetaldeído. 126 Integração e Regulação Metabólica • Na segunda etapa, o acetaldeído é reduzido a etanol pela ação da álcool-desidrogenase, com o poder redutor fornecido pelo NADH derivado da desidrogenação do gliceraldeído-3-fosfato. Etanol e CO2 são, então, os produtos finais da fermentação etanólica, e a equação geral é: Glicose + 2ADP + 2Pi → 2 etanol + 2CO2 + 2ATP + 2H2O A piruvato-descarboxilase está presente na levedura utilizada para fabricação de cerveja e pão (Saccharomyces cerevisiae) e em todos os organismos que fermentam glicose em etanol, incluindo algumas plantas. O CO2 produzido pela piruvato-descarboxilase na levedura da cerveja é responsável pela efervescência caracterís- tica do champanhe. A antiga arte de fazer cerveja envolve vários processos enzimáticos, além das reações da fermentação alcoólica. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Fermentação Lática Algumas bactérias indesejáveis ou não nas cervejas, dependendo do estilo, quando não são supridas com oxigênio suficiente para realizar a oxidação aeróbia do piruvato e do NADH produzidos na glicólise, o NAD+ é regenerado a partir de NADH pela redução do piruvato a lactato. A redução do piruvato por essa via é catalisada pela lactato-desidrogenase, que forma o isômero L do lactato em pH 7 (NELSON; COX, 2014), como na figura a seguir: C O-O C HO H O-O CH3 C CH3 CO Piruvato L-Lactato Lactato- -desidrogenase NADH + H+ NAD+ �G’º = -25,1kJ/mol Figura 12 - Conversão de piruvato em lactato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 127UNIDADE 4 O ciclo de ácido cítrico, também conhecido como ciclo de Krebs (em homenagem ao cientista que o descobriu, Hans Krebs), é um passo central para o metabolismo de uma célula, que se trata de uma série de reações enzimáticas que oxidam a matéria orgânica, como carboidratos, aminoácidos, corpos cetônicos e ácidos graxos, portanto, ele remove elétrons dessa matéria orgânica e transfere para o NAD e pro FAD, transformando-as em NADH e FADH2, dessa forma, essas moléculas são capazes de transportar a energia, para que, posteriormente, seja produzido o ATP. Como primeira etapa do ciclo, temos a con- versão do Piruvato a Acetil-Coenzima A ou, abre- viando, Acetil-CoA: Ciclo do Ácido Cítrico 128 Integração e Regulação Metabólica C O-O O CH3 CH3 CO2 CC O + Piruvato Acetil-CoA Complexo da piruvato-desigrogenase (E1+ E2 + E3) CoA-SH S-CoANAD + NADHTPP, lipoate, FAD ΔG’o = -33,4 kJ/mol Figura 13 - Conversão de piruvato em acetil-CoA Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Aqui, temos uma reação de descarboxilação, ou seja, o Piruvato perde um CO2, partindo de um nível maior para um nível menor de energia, e devido essa liberação de energia, a Coenzima A substitui o CO2, e o NAD + é convertido a NADH, ou seja, o NAD+ passa de um nível menor para um nível maior de energia. Na segunda etapa do ciclo, temos a reação de união do Acetil-CoA com oxaloacetato, formando o Citrato: CH3 C S-CoA CoA-SHH2OAcetil-CoA Oxaloacetato + O CH2 C Citrato O O C CH2 CH2COO- COO- COO- O- COO- Citrato-sintase HO C ΔG’o = -32,2 kJ/mol Figura 14 - Acetil coenzima-A sendo convertida a citrato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Nessa reação, partimos de um nível menor para um nível maior de energia, ao unir o Acetil-CoA com uma cadeia de dois carbonos, ao oxaloacetato, com uma cadeia de quatro carbonos, assim formamos o Citrato, que possui uma cadeia com seis carbonos. O que fornece a energia necessária para a reação é a saída da Coenzima A, isso justifica a conversão do piruvato, já que sem a presença da Coenzima A, o Citrato não seria formado. Na terceira etapa, a molécula de citrato sofre a liberação de uma molécula de água, dando origem ao Aconitato. Na quarta etapa, a molécula de água volta a ligar-se ao Aconitato, porém, com outra configuração: CH2 COO- COO- COO- Aconitase Aconitase C C H Citrato cis-Aconitato H HO H2O H2O COO- COO-C C H CH2 COO - COO- COO- Isocitrato COO-C C H HO CH2 COO - ΔG’o = 13,3 kJ/mol Figura 15 - Citrato sendo convertido em Isocitrato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 129UNIDADE 4 A terceira e a quarta etapas vêm com o objetivo de preparar a molécula para a posterior remoção de um CO2 e produção de NADH, que, na molécula de Citrato, é dificultada devido a presença de uma hidroxila no carbono em que o CO2 é ligado. Na quinta etapa, temos o Isocitrato, sendo levado a α-Cetoglutarato: COO- C C C O Isocitrato O Isocitrato é oxidado pela transferência de do hidreto ao NAD+ ou NADP+ (dependendo da isoenzima da isocitrato- -desidrogenase). A descarboxilação é facilitada pela re- moção dos elétrons pelo carbonil adjacente e pelo Mn2- coordenado O rearranjo do intermediário enol gera α-cetoglutarato. α-Cetoglutarato. O O- O- CH2 H H O H C O- Mn2+ Mn2+ O- C O C O O- O- C O O-O COO- C O CH2 CO2 H C COO- CH2 COO- CH2 C C H C C C O H H NAD(P)+ NAD(P) H + H+ H+ Isocitrato- -desidrogenase 1 2 3 Oxalosuccinato Figura 16 - Isocitrato sendo transformado a α-Cetoglutarato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Conforme discutido, a mudança de posição da hidroxila provocada pelas etapas três e quatro permite que a descarboxilação aconteça liberando energia, que será utilizada para passar o NAD+ para NADH. Na sexta etapa, temos uma reação de descarboxilação, com o α-Cetoglutarato perdendo um CO2, partindo de um nível maior para um nível menor de energia; devido essa liberação de energia, a Coen- zima A substitui o CO2, formando o Succinil CoA, e o NAD + é convertido a NADH. CH2 CH2 C O CH2 CO2 C O COO- CH2 COO - Succinil-CoA S-CoACOO- α-Cetoglutarato CoA-SH NAD+ NADH + Complexo da α-C=cetoglutarato-desidrogenase ΔG’o = -33,5 kJ/mol Figura 17 - α-Cetoglutarato se transformando em Succinil-CoA Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). A sétima etapa se dá com o Succinil CoA sendo levado a Succinato, perdendo sua Coenzima A; essa perda libera energia para que uma guanosina difosfato (GDP) se ligue a um fosfato inorgânico presente no meio, formando a guanosina trifosfato (GDP), porém, esse GTP perde esse fosfato a uma molécula de adenosina difosfato (ADP), formando uma Adenosina trifosfato (ATP), desta forma, o GTP volta ao seu estágio de GDP. 130 Integração e Regulação Metabólica CH2 C O CH2 COO - CH2 CH2 COO- COO- S-CoA GDP + Pi GTP CoA-SH Succinil-CoA Succinil ΔG’o = -2,9 kJ/mol Succinil-CoA-sintetase Figura 18 - Succinil-CoA sendo transformada em Succinato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Na oitava etapa, o Succinato é levado a Fumarato, onde uma molécula de FAD remove dois hidrogêniosda cadeia do Succinato, criando uma ligação dupla, como é possível observar. O succinato possui um nível de energia mais alto que a molécula de Fumarato, ou seja, ele libera energia para a formação do FADH2. CH H H HC C C H H COO- COO- -OOC COO- FADH2FAD Succinato Fumarato ΔG’o = 0 kJ/mol Succinato-desidrogenase Figura 19 - Succinato a Fumarato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). É interessante ressaltar o motivo pelo qual essa reação ocorre com uma molécula de FAD em vez de uma molécula de NAD+, acontece que o NADH necessita de mais energia para ser formado que o FADH2, e a reação de oxidação do Succinato não libera energia suficiente para a criação de uma molécula NADH, consequentemente, uma molécula de FADH2 é capaz de armazenar uma quantia menor de energia do que a molécula de NADH. Na nona etapa, o fumarato é convertido a malato por meio da reação de adição de H2O: OH- H+ C C H H COO- -OOC Fumarato Fumarase Fumarase C C H OH H COO- -OOC Carbânion do estado de transição C C H OH H H COO- -OOC L-Malato ΔG’o = -3,8 kJ/mol Figura 20 - Fumarato a Malato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 131UNIDADE 4 Por fim, na décima etapa, o Ma- lato é convertido a Oxalacetato pela reação de oxidação provo- cada pela molécula de NAD+, sendo levada à NADH. Sendo assim, o ciclo se comple- ta, conforme vemos na figura 22. Em um ciclo, temos a produ- ção de uma molécula de Ade- nosina trifosfato (ATP), uma molécula de FADH2 e quatro moléculas de NADH, pensando que a glicólise produz dois pi- ruvatos, temos o dobro de pro- dutos por molécula de glicose, posteriormente, as moléculas de FADH2 e NADH participam da respiração celular, gerando ATP para a célula. A próxima etapa é a fosfori- lação oxidativa, onde uma série de 4 proteínas localizadas nas mitocôndrias realizam uma sé- rie de reações de conversão do FADH2 e do NADH com auxílio do oxigênio e fecharam a conta de 36 ATPs para cada molécula de glicose consumida. Sendo as- sim, uma levedura prefere respi- rar do que fermentar, porque, na fermentação, ela recebe apenas dois ATPs de energia para cada molécula de glicose consumida. Lembre-se que toda a ener- gia proveniente da fermentação vem da glicólise, e a fermenta- ção para gerar etanol, ácido lático ou ácido acético serve somente para a levedura re- cuperar o NADH em NAD+ e voltar a realizar a glicólise. CHO H CH2 COO- COO- CO CH2 COO- COO- L-Malato Oxaloacetato NAD+ H+NADH + L-malato-desidrogenase ΔG’o = 29,7 kJ/mol Figura 21 - Malato a Oxaloacetato Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). CO2 CO2 Acetil-CoA Citrato Isocitrato α-Cetoglutarato Succinil-CoA Succinato Fumarato Malato Oxaloacetato NADH NADH NADH GTP (ADP) FADH2 Ciclo do ácido cítrico Figura 22 - Ciclo do ácido cítrico completo Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). 132 Integração e Regulação Metabólica Ácidos graxos são compostos orgânicos formados por uma cadeia linear de átomos de carbono liga- da a átomos de hidrogênio; em uma das pontas, apresenta um grupo carboxílico (-COOH). São pouco encontrados no organismo e facilmente encontrados ligados a um álcool. A partir dos ácidos graxos são formados diferentes lipídios (SABARENSE; PELUZIO, 2008). A composição média do lúpulo (% em massa) consiste em, aproximadamente, 2,5% de ácidos graxos. Na fermentação da cerveja, ocorrem rea- ções que influenciam diretamente o sabor do pro- duto final, algumas dessas reações são a formação de álcoois superiores e ácidos graxos. Se a cerveja permanecer por um longo tempo no fermenta- dor, após a fermentação terminar, poderá gerar a degradação dos ácidos graxos no Trübung – pa- lavra em alemão que significa nebulosidade, que chamamos de “Trub” – e resultar em uma cerveja com sabor de sabão (WECKL, 2018, on-line)1. Sem a levedura, as enzimas presentes na cerveja continuam a influenciar na composição química da cerveja, que pode sofrer reações após envasada, ocasionando um dos defeitos (off-flavours) da cer- veja, associado ao composto trans-2-nonenal – um Oxidação dos Ácidos Graxos 133UNIDADE 4 composto volátil que atribui à cerveja um aroma de papelão. As reações de oxidação podem ser o mecanismo que mais influên- cia na deterioração da cerveja, o tempo de preparação e a tempe- ratura aceleram esse processo, o que leva a um envelhecimento mais rápido da cerveja. Os com- postos aldeídos na cerveja são derivados dos ácidos graxos e lipídios do lúpulo, são formados pela clivagem beta da cadeia dos ácidos graxos. Existem duas vias para essa reação acontecer, pelo método enzimático ou pelo me- canismo da auto-oxidação, con- forme demonstrado na figura 23. Lipídios Enzimático Lipase Lipoxygenase Precursores T-2-nonenal 9 - LOOH 9 - LOOH O2 Ác. Graxos livres Auto-oxidação Não Enzimático Figura 23 - Mecanismos de oxidação dos lipídios Fonte: adaptada de Weckl (2018, on-line)1. A enzima lipoxigenase, presente nos tecidos vegetais, atua no processo para iniciar a deterioração oxidativa, esse processo inicia durante a separação do óleo das sementes oleaginosas, presentes no malte. A oxidação catalisada por enzimas se dá, principalmente, na mostura, devido a ação da lipase e da lipoxigenase, assim, ocorre a desidrogenação dos ácidos acil-CoA, produzindo uma ligação dupla entre os átomos de carbono, resultando na molécula trans-2-nonenal. A reação genérica pode ser observada pela Figura 24. R C C C C OH H O S-CoA S-CoA trans-Δ2- Enoil-CoA CH2 FAD CH2 CH2 FADH2 R CH2 (C16) Palmmitoil-CoA Acil-CoA- -desidrogenase αβ Figura 24 - Reação de oxidação para produção de trans-2-nonenal Fonte: adaptada de Lehninger, Nelson e Cox (1995). 134 Integração e Regulação Metabólica Esse efeito pode ser reduzido se, durante o processo cervejeiro, for reduzido a incorporação de O2 no mosto, e essa se inicia a uma temperatura acima de 65 °C, pois em temperaturas elevadas, as en- zimas são inativadas. O mecanis- mo da auto-oxidação ocorre em três etapas, como mostrado na Figura 25. Nos óleos vegetais, podem existir traços de hidroperó- xidos, que são formados pela ação da lipoxigenase no vege- tal, formando radicais hidroxi- las, o que inicia a formação dos radicais lipídicos que condiz a inicialização da oxidação (IN- SUMOS, 2010, on-line). Seguindo a inicialização, ocorrem as reações de propaga- ção; neste momento, um radical lipídico é convertido em um ra- dical diferente, podendo ocor- rer a eliminação de um átomo de hidrogênio de uma molécula lipídica ou a adição de oxigênio para um radical alquila. Em áci- dos graxos poli-insaturados, a eliminação do hidrogênio acon- tece facilmente no grupo meti- leno, o radical formado a partir desse mecanismo é deslocado ao longo dos átomos de carbo- no e a reação com o oxigênio começa, isso leva à formação de hidroperóxidos de ácidos (NELSON; COX, 2014). Os radicais alcoxi formados pela decomposição de hidroperóxidos podem liberar hidrocarbonetos voláteis, álcoois e aldeídos que não são mais ligados à estrutura do ácido graxo, conforme demonstrado na Figura 26. CH3CH2CH2CH2CH2CHCH = CHCH = CH (CH2)7COOH O-OH CH3CH2CH2CH2CH2 - CH - CH = CHCH = CH (CH2)7COOH -OH• O• CH3CH2CH2CH2CH2 CHO + •CH + CH CH = CH (CH2)7COOH Hexanal 13-hidroperóxido Radical alquila Figura 26 - Reação de decomposição de hidroperóxidos Fonte: adaptada de Insumos (2010, on-line). Toda a quantidade de trans-2-nonenal é formada durante a fervura, pelos compostos que as enzimas produziram durante a mosturação. Durante esse processo, asmoléculas de trans-2-nonenal podem se ligar a aminoácidos e proteínas, resultando em uma base de Schiff (LERMUSIEAU et al., 1999). Bases de Schiff possuem baixa estabilidade, da mesma forma que há uma tendência para sua formação, isso também pode ser observado para a sua dissociação. Devido ao pH da cerveja, as bases de Schiff, em meio ácido, apresentam maior facilidade de neutralização, com isso, é de se esperar que depois da cerveja envasada haja a liberação dos compostos trans-2-nonenal (INSUMOS, 2010, on-line). Inicialização Propagação Término Segunda Iniciação Iniciação catalisasa por metais: X• + RH R• + O2 R• + XH + OH + M(n+1)+ M(n+1)+ ROOH + R• ROOR + O2 ROOR + ROOH + ROOH + H+ + Mn/+ RR RO• + •OH RO• + ROO• + H20 ROO• + R’H ROO• + ROO• ROO• ROO• RO•Mn+ ROO• + R• R• + R• ROOH 2 ROOH Figura 25 - Reações dos mecanismos de auto-oxidação Fonte: adaptada de Insumos (2010, on-line). 135UNIDADE 4 Biossíntese se refere às reações que ocorrem em um organismo, de maneira que as moléculas mais simples são transformadas em moléculas ou bio- moléculas mais complexas. Os carboidratos, por exemplo, mais conhecidos como açúcares, são as principais fontes de energia dos organismos e são fabricados pelas células vegetais por meio da fotossíntese. A planta, em seu processo da fotos- síntese, acumula energia a partir da luz para uso no seu metabolismo, formando o ATP (Adenosina Trifosfato) (Figura 27). Carboidratos e lipídios são quebrados pela célula e consumidos na forma de ATP a partir de ADP (Adenosina Difosfato) e Pi (Fósforo inorgânico). Biossíntese de Carboidratos e Lipídios 136 Integração e Regulação Metabólica Figura 27 - Adenosina trifosfato A germinação é um processo anfibólico que en- volve reações catabólicas e reações anabólicas; a germinação da cevada produz enzimas que que- bram parcialmente o amido e as proteínas, a partir daí, o cereal passa a se transformar em malte. A intensidade dessa quebra é fundamental na for- mação do sabor e dos aromas do malte, essa inten- sidade é chamada grau de modificação do malte. O lúpulo contém, em média (% em massa), 2,5% de ácidos graxos e lipídeos, 2% de carboi- dratos simples e 15% de proteínas. A proteína é armazenada em corpúsculos envolvidos por uma membrana, chamados corpúsculos de aleurona. As membranas dos corpúsculos de aleurona e os esferossomos também são constituídos de proteínas, lipídios e podem ser metabolizados durante o desenvolvimento do embrião. A ger- minação das sementes pode ser classificada em três etapas (NELSON; COX, 2014). 1. Embebição de água. 2. Reativação de organelas e macromolécu- las preexistentes. 3. Respiração de reserva (gera ATP como fonte de energia para o crescimento). Quando o grão de cevada começa a germinar, sua radícula atinge ¾ do tamanho do grão, neste ponto, tem-se o malte “verde”, que, em seguida, passa por secagem ou torrefação, finalizando como o malte conhecido para a fabricação de cerveja. O mosto, quando fermentado, produz cerveja, que destilada produzirá uísque. As atividades biossintéticas no processo cervejeiro acontecem durante a primeira fase do processo, em que o malte e outras matérias- -primas são misturadas à água, resultando em um líquido açucarado (mosto) que, em seguida, é aque- cido para facilitar a dissolução dos ingredientes. Esse aquecimento não deve passar dos 72 °C para que não haja desnaturação/inativação da atividade enzimática que ocorrerá (PINHEIRO; PORTO; MENEZES, 2005; ROSA; AFONSO, 2014). Os carboidratos, no caso da cerveja, são for- necidos em forma de açúcares, que são extraídos dos grãos do malte, estes fornecem nutrientes para o fermento e são precursores na formação do ál- cool. Para entender melhor o processo, na figura a seguir, é mostrado a molécula da glicose ( Figura 28), em sua forma mais simples. Glicose Figura 28 - Molécula de glicose As moléculas de glicose podem se combinar e for- mar estruturas de tamanhos variáveis, podendo formar açúcares mais complexos. As moléculas com apenas um, dois ou três resíduos de glicose são importantes para a fermentação, enquanto as de açúcares maiores, como amido, amilose e amilopectina, são quebrados em açúcares meno- res durante o processo de mosturação do mosto. Alguns açúcares mais complexos possuem diferentes ligações glicose-glicose, fornecendo uma abundância de moléculas de açúcar que 137UNIDADE 4 não são quebradas pelo fermento cervejeiro. No caso das cervejas light, é necessário o uso de en- zimas especiais capazes de quebrar os açúcares complexos, o que possibilita a fermentação pro- duzir etanol e dióxido de carbono como produ- tos principais e ésteres desejáveis ou indesejáveis (acetato de etila, acetato de isoamila, acetato de n-propila), ácidos (acético, propiônico) e álcoois superiores (1-propanol, 2-metil-1-propanol, 2-metil-1-butanol e 3-metil-1-butanol) como produtos secundários, fornecendo propriedades sensoriais, ou seja, que fornece características à cerveja, que podem ser percebidas pela cor, odor e sabor (PINHEIRO; PORTO; MENEZES, 2005; ROSA; AFONSO, 2014). Outro açúcar encontrado é a frutose, um açú- car mais simples, que pode combinar entre si ou com a glicose, resultando em outros açúcares mais complexos (sacarose e rafinose) (Figura 29), que também são importantes na fabricação da cerve- ja. Para melhor entendimento, a figura mostra a estrutura de uma molécula de rafinose composta por duas moléculas de glicose e uma molécula de frutose (BOBBIO, F.; BOBBIO, P., 2003). Raf nosei Figura 29 - Molécula de rafinose As leveduras de uma cerveja Lager podem dividir a rafinose em duas moléculas de glicose e uma de frutose. A molécula de frutose pode ser fermenta- da por qualquer levedura (Lager e Ale), porém, o açúcar residual formado pelas duas moléculas de glicose, conhecido como melibiose, diferentemente da maltose, pode ter suas ligações quebradas ape- nas pela levedura da cerveja Lager; enquanto a le- vedura da Ale é incapaz de dividir essa ligação, não sendo completamente processada por essa levedu- ra. Por isso, a fermentação é a fase mais importante no processo cervejeiro, pois essa etapa irá definir o paladar da cerveja, pois influenciará fortemente o sabor, não sendo somente a fermentação que in- fluencia o sabor da cerveja (PINHEIRO; PORTO; MENEZES, 2005; ROSA; AFONSO, 2014). 138 Integração e Regulação Metabólica Os lipídios, por outro lado, são moléculas de gordura provenientes de três fontes: malte, oxi- dação do lúpulo e metabolismo da levedura. São a principal forma de armazenamento de energia na maioria dos organismos e os principais consti- tuintes das membranas celulares, podem auxiliar na absorção e no transporte das vitaminas lipos- solúveis (A, D, E e K), precursores de hormônios e âncoras para proteínas de membrana, atuam como pigmentos e detergentes e podem interferir na tex- tura e sabor de alimentos (NELSON; COX, 2014). No caso da cerveja, os lipídios podem consistir grande parte do Trub – matéria que se acumula no fundo do fermentador. Um mosto turvo pode apre- sentar de 5 a 40 vezes o conteúdo lipídico de um mosto limpo. Os lipídios contribuem para a viabili- dade da fermentação pelo transporte de nutrientes por meio da membrana celular do fermento. Conhecendo as formas de atuação dos lipídios, percebe-se, então, que, no processo cervejeiro, ele pode apresentar vantagens e desvantagens. Os li- pídeos podem capacitar o fermento e pode ser um inibidor na formação de ésteres desagradáveis, sen- do vantajoso no andamento do processo. Por atuar como um detergente, pode trazer a desvantagem ao dissolver a espuma da cerveja ou pode atrapalhar todo o processo de fabricação por ser facilmen- te oxidado,resultando em cervejas com gosto de sabão, gordura ou cerveja velha (AMBEV, 2011). Devido às contribuições positivas e negativas dos lipídios ao processo de fabricação da cerve- ja, cabe uma análise pessoal de cada cervejeiro ao estabelecer as preferências do produto final para ser obtido. Aos processos em que os lipídios são considerados com contribuições positivas, o processo ocorre com a transferência do mosto da fermentação para um segundo fermentador, após alguns dias da primeira fermentação estar completa. Assim, a levedura pode ter acesso aos lipídios durante a fase crítica da fermentação e, em seguida, o Trub que se acumula no fermentador é retirado. Cada processo deve ser analisado indivi- dualmente, visto que as leveduras podem produzir quantidades e tipos diferentes de lipídios; essa diferença contribui em sabores diferentes e espe- cíficos que ajudam a definir um estilo de cerveja. Se a cerveja for totalmente separada dos lipídios, o produto final perderá alguns sabores que po- deriam ser produzidos (ROSA; AFONSO, 2014). Whirlpool é uma técnica que pode ser utilizada para que o Trub decante para o centro da tina, um redemoinho vigoroso é gerado após o término da fervura, formando um cone de resíduos, assim, a cerveja pode ser extraída perto das paredes da tina sem que os resíduos do centro sejam transferidos para os fermentados e gerem gosto ruim na cerve- ja. Se o mosto for resfriado na mesma tina da fer- vura, pode ocorrer a formação de Cold-Break, no qual as proteínas se coagulam no mosto, e faz-se necessário evitar que o cold-break vá em excesso para o fermentador, evitando problemas com a cerveja (ROSA; AFONSO, 2014). 139 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A bioenergética estuda mudanças de energia que ocorrem na natureza, nos pro- cessos químicos, assim como nas células vivas. Por meio das observações quan- titativas realizadas nas mudanças de formas da energia, podemos afirmar que: I) A energia pode ser transportada ou mudar sua forma, mas não pode ser criada ou destruída. II) Em todos os processos naturais, a entropia do universo aumenta, ou seja, pode ocorrer em uma direção como em outra. III) A energia de um sistema sempre aumenta e pode ser criada quando neces- sário. IV) Quando se consome moléculas químicas, podemos criar energia e realizar trabalho. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 2. A glicólise é uma via central quase universal do catabolismo da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. Sobre essa via, é correto afirmar que: a) A glicose não é um combustível importante para a geração de ATP. b) Não serve como obtenção de energia na via anaeróbia. c) Não é o passo inicial para obtenção de piruvato. d) A glicólise gera um saldo de 4 ATPs. e) São geradas duas moléculas de CO2 durante a glicólise. 140 3. Sobre a respiração e fermentação, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F). )( A respiração celular gera 36 ATPs para cada glicose consumida. )( O ciclo do ácido cítrico gera somente 2 ATPs. )( A energia da fermentação vem somente da glicólise. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 141140 Larousse da Cerveja Autor: Ronaldo Morado Editora: Alaúde Sinopse: esse é o livro perfeito para quem já ama cerveja e também para quem quer tonar-se um expert na bebida. Ao longo de centenas de páginas ricamente ilustradas, o livro apresenta um panorama histórico completo; descreve os am- bientes, os utensílios e o serviço perfeito; aborda as principais escolas cervejeiras do mundo e, ainda, relaciona a bebida com a gastronomia. Essa nova edição ampliada e atualizada traz um exclusivo capítulo sobre a indústria cervejeira no Brasil, analisando toda a cadeia produtiva e o mercado atual. Além disso, o guia de estilos de cerveja foi completamente reformulado, conforme as atuais diretrizes do Beer Judge Certification Program (BJCP) – o maior e mais renomado programa de certificação de avaliadores de cerveja do mundo. Ao final do livro, o leitor vai encontrar uma lista de bares, museus e festivais ao redor do planeta que celebram uma das bebidas mais populares e queridas do mundo. LIVRO Os Novos Mestres Cervejeiros Ano: 2013 Sinopse: documentário focado nos Estados Unidos e a revolução que a cerveja fez no país. Mostra como os produtores de cerveja ajudaram a economia local, as leis que impedem o desenvolvimento de cervejarias em alguns estados, sobre a união de cervejeiros artesanais. FILME 142 AMBEV. Programa de formação técnica de cervejeiros. Jacareí: AmBev, 2011. BOBBIO, F. O.; BOBBIO, P. A. Introdução à química de alimentos. 3. ed. São Paulo: Varela, 2003. INSUMOS. A rancidez oxidativas em alimentos. Aditivos e Ingredientes, 2010. Disponível em: http://insumos. com.br/aditivos_e_ingredientes/materias/209.pdf. Acesso em: 18 abr. 2019. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica. São Paulo: Sarvier, 1995. LERMUSIEAU, G.; NOEL, S.; LIÉGEOIS, C.; COLLIN, S. Nonoxidative mechanism for development of trans- -2-nonenal. Journal of the American Society of Brewing Chemists, v. 57, p. 29-33, 1999. LIMA, A. W. O.; ANGNES, L. Biocatálise em meios aquo-restritos: fundamentos e aplicações em química ana- lítica. Quím. Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 229-245, abr. 1999. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. São Paulo. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. PINHEIRO, D. M.; PORTO, K. R. de A.; MENEZES, M. E. da S. A química dos alimentos: carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e minerais. Maceió: UFAL, 2005. ROSA, N. A.; AFONSO, J. C. A química da cerveja. Revista Química Nova na Escola, v. 37, p. 98-105, 2014. SABARENSE, C. M. S.; PELUZIO, M. C. G. Lipídios. In: COSTA, N. M. B.; PELUZIO, M. C. G. Nutrição Básica e Metabolismo. Viçosa: UFV, 2008. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: https://www.youtube.com/watch?v=Ii5QrDYAVjo. Acesso em: 22 abr. 2019. 143 1. A. 1ª Lei: a energia pode ser transportada ou mudar sua forma, mas não pode ser criada ou destruída. 2ª Lei: em todos os processos naturais, a entropia do universo aumenta, ou seja, pode ocorrer em uma direção como em outra. 2. E. Durante a glicólise, a molécula de glicose é quebrada em 2 piruvatos, gerando 2 ATPs, e essa via não gera CO2. 3. A. Verdadeira. A respiração celular gera 36 ATPs para cada molécula de glicose consumida. Verdadeira. O ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico gera apenas 2 ATPs de energia. Verdadeira. Lembre-se que toda a energia proveniente da fermentação vem da glicólise e a fermentação para gerar etanol, ácido lático ou ácido acético serve somente para a levedura recuperar o NADH em NAD+ e voltar a realizar a glicólise. 144 145 146 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Laisa Sincero Rabelo de Oliveira Raniero • Identificar os elementos estruturais dos genes, dos cro- mossomos e do DNA. • Compreender os processos envolvidos no metabolismo do DNA, do RNA e de proteínas. • Identificar os principais processos de regulação da expres- são gênica em organismos. • Conhecer as principais técnicas de biologia molecular. • Proporcionar o conhecimento sobre as diretrizes e normas para o trabalho com seres humanos e animais. Genes e Cromossomos Metabolismo do DNA e RNA Organismos Geneticamente Modificados Bioética e LegislaçãoTecnologia do DNA Recombinante Introdução à Biotecnologia Genes e Cromossomos Nesta unidade, iremos ter um contato geral sobre a biotecnologia, demonstrando sua existência nocotidiano e aplicação em pesquisas. Portando, nes- te momento introdutório, mostraremos uma linha cronológica com os acontecimentos e pesquisa- dores importantes para cada descoberta sobre a maquinaria do DNA. Em meados do ano de 1865, Gregor Johann Mendel compartilhou suas pesquisas que relatam as leis que regiam a hereditariedade. Ele percebeu a existência de fatores hereditários característicos que apresentava potencial para ser transmitido para as gerações sucessoras, levando-o a propor as leis relativas à herança de informações. Contudo, tal descoberta não teve o devido des- taque na época e, então, no início do século 20, os pesquisadores chamados Walter Sutton e Theodor Boveri, independentes um do outro, realizaram di- versos estudos na mesma época, a fim de elucidar qual seria a base molecular utilizada por Mendel, chegando à teoria cromossômica onde, resumida- mente, a pesquisa ocorreu com divisão celular na fase da meiose, observando o quanto os cromossomos emparelham-se e, posteriormente, segregam-se, de 149UNIDADE 5 forma autônoma, demonstrando capacidade de transmitir informações genéticas aos descendentes, ou seja, perceberam que o comportamento dos cromossomos se assemelhava aos fatores hereditários descritos por Mendel (KHAN ACADEMY, [2019], on-line)1. Figura 1 - Drosophila melanogaster Outro pesquisador envolvido em elucidar os cromossomos é Tho- mas Hunt Morgan, por volta de 1909, estudando as moscas de frutas (Drosophila melanogaster) (Figura 1); a fim de entender caracterís- ticas específicas que levavam à mutação, chegou à conclusão, junto com sua equipe, de que essas propriedades eram transmitidas pelo cromossomo sexual x. Ao observar o cromossomo, perceberam que seriam as proteínas as responsáveis pela codificação na informação genética, e as pri- meiras evidências de que o DNA é, na verdade, o codificador da in- formação genética surgiu com o experimento de Frederick Griffith, em 1920. Ele utilizou duas linhagens de bactérias: as ásperas, que eram não patogênicas, e as lisas, que eram altamente patogênicas, aplicando-as em camundongos. A linhagem lisa, ao ser aplicada nos animais, causava-lhes a morte, pois apresentava uma camada protetora resistente ao sistema imunológico dos camundongos. Portanto, o experimento consistia no aquecimento dessa linha- gem ao ponto de matá-las e, em seguida, injetando-a nos animais que, por sua vez, permaneceram vivos. Então, iniciou-se a segunda parte do experimento, que foi juntar uma parte da linhagem lisa morta pelo calor com a linhagem áspera que seria não patogênica e aplicar nos camundongos. Observou-se que essa mescla também causou a morte dos animais, indo contra a hipótese inicial de que os animais ficariam vivos, afinal a linhagem patogênica que teria causado a morte previamente havia sido destruída pelo calor. A análise feita, então, é de que algum tipo de molécula foi transferida das bactérias lisas para as ásperas, fazendo uma bactéria se trans- formar em outra; assim foi pro- posto a teoria sobre o princípio da transformação. A terceira equipe de pesqui- sa, que teve participação notó- ria neste processo de desven- dar os mistérios do DNA, foi coordenada por Oswald Avery, Colin MacLeod e Maclyn Mc- Carty que, com base no estudo anterior de Griffith, quiseram apontar qual seria exatamente tal molécula responsável por apresentar patogenia à bacté- ria não patogênica. Para este experimento, foi realizado uma espécie de separação física dos componentes da bactéria da linhagem lisa através da ação enzimática, sendo possível observar a interação dos ele- mentos fósforo e nitrogênio, componentes do DNA, que já era uma molécula conhecida na época e, após testes meticulo- sos que degradam proteínas e RNAs, perceberam uma baixa quantidade desses componen- tes. Resultado oposto foi obtido quando aplicado enzimas que degradam o DNA, em que a substância estudada foi degra- dada quase na sua totalidade. A conclusão obtida foi que o prin- cípio transformante era o DNA. 150 Introdução à Biotecnologia A comprovação da última pesquisa divulgada veio, em 1952, com o trabalho dos pesquisadores Alfred Hershey e Martha Chase ao levantarem a suposição de que havia a possibilidade de o ma- terial não ter sido completamente isolado, pois, assim como eles, muitos cientistas não acredita- vam que a molécula de DNA fosse responsável pela hereditariedade genética, uma vez que não se entendia sua complexidade suficiente. Para um resultado mais preciso, usaram o bacteriófago T2, um vírus que parasita bactérias, sua composição é de proteínas para a capa protetora e o DNA (Figu- ra 2). As informações obtidas pelos pesquisadores anteriores eram de que, ao injetar algo no interior das bactérias, era possível alterar as informações genéticas delas e descobriram que era possível aumentar a produção de bacteriófago T2. Por- tanto, se eles conseguissem identificar o que era esse componente, se seria proteínas ou se seria o DNA, eles estariam encontrando as evidências que procuravam de qual era o material que cons- titui a base molecular da codificação genética da hereditariedade (MARTINS E SILVA, 2006). Figura 2 - Capa proteica do bacteriófago T2 rodeada pela sua molécula de DNA única e linear 151UNIDADE 5 Os métodos determinados para formulação do estudo de Hershey e Chase foram a utilização de dois grupos de bacteriófago T2: um conten- do isótopos de fósforo radioativo, o fósforo 32, e outro contendo isótopos de enxofre radioativo, o enxofre 35. Esse processo foi importante, pois o fósforo é um componente do DNA e, portan- to, no primeiro lote, o marcador radioativo está incorporado no DNA e não em proteínas e, no segundo lote, o marcador radioativo enxofre será incorporado a proteínas, uma vez que é um componente delas. Posteriormente, injetaram os dois lotes em grupos diferentes de bactérias; após tempo suficiente para que ocorresse a infecção das bactérias pelos vírus, eles submeteram cada grupo há uma centrífuga, logo verifica-se que as células bacterianas maiores e portadoras de maior massa dirigem-se ao fundo; os vírus, por sua vez, são me- nores e, por terem menor massa, posicionam-se mais próximos à boca do tubo da centrífuga junto aos demais componentes presentes na solução, o chamado sobrenadante. Metabolismo do DNA e RNA 152 Introdução à Biotecnologia Dessa forma, foi possível observar que o de- positado ao fundo contém células bacterianas ou, ao menos, resto delas, e nele está presente o fósforo radioativo, o que significa que o DNA é o material genético que foi injetado pelos vírus no interior das bactérias. Entretanto, se observarmos que, em vez do fósforo, o enxofre foi depositado no fundo, significa que os vírus, na verdade, inje- taram proteínas no interior das bactérias. Ao fim dos experimentos, observou-se que no fundo dos tubos de ensaio encontra-se o fósforo radioativo, possibilitando aos dois pesquisadores concluírem que era o DNA, de fato, a base molecular da he- reditariedade, concordando com os três pesqui- sadores anteriores. Portanto, até agora conseguimos entender que um cromossomo representa uma cadeia de DNA enrolada em proteínas nucleares, sendo estas de- nominadas de histonas e associadas a outras pro- teínas (Figura 3). H2A H2A H3 DNA H3 H4 H4 H2B H2A H3 H4 H2B Figura 3 - Enrolamento do DNA ao redor do centro de uma histona Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2002, p. 996). As células apresentam 23 pares diferentes de cro- mossomos. Quando a fita de DNA está se dupli- cando, a molécula apresenta a forma linear, mas quando isto não está acontecendo, o DNA e as proteínas se organizam e assumem uma forma de X e, em um cromossomo especial, a forma de Y.Os cromossomos na forma de X, geralmente, possuem dois braços superiores menores identi- ficados pela letra “p”, derivada do francês “petit”, e dois braços inferiores maiores identificados por “q”, a letra sequencial ao p no alfabeto (Figura 4). Figura 4 - Representação cromossômica X e Y Por sua vez, o gene representa uma sequência de nucleotídeos no DNA contendo uma informação completa, ou um arquivo completo, capaz de fazer a célula sintetizar algo ou realizar uma determi- nada função. Este segmento de DNA, sequência de nucleotídeos ou arquivo pode ser maior ou menor, ou seja, há genes pequenos e grandes. Um gene pode regular parte de uma estrutura e outro gene a outra parte desta mesma estrutura, ou seja, os genes podem atuar em um mesmo processo. Os genes estão sequencialmente localizados no DNA, ou melhor, compõem o DNA e, juntamente com as proteínas nucleares, formam os cromossomos. Em cada um dos pares de cromossomos, temos genes diferentes. O lugar onde o gene se encontra na molécula do DNA também é referido como ló- cus gênico. A nomenclatura dos lócus gênicos, ou endereço do gene, é importante e segue as seguin- tes regras convencionadas internacionalmente: 1º é a letra D de DNA; 2º a designação do número ou letra do cromossomo; 3º o grau de complexidade 153UNIDADE 5 da sequência do DNA no local: S= simples, Z= altamente repetida, e F= sequências semelhantes entre genes; e 4º a ordem de descrição do gene. Desta forma, um exemplo seria: D7S122 ou gene no cromossomo 7, de sequência simples e descrito pela 122ª vez (CONSOLARO et al., 2004). Os cromossomos estão organizados aos pares e cada unidade do par é referida por cromossomo homólogo; cada par apresenta os mesmos genes nos mesmos loci (em latim corresponde ao plural de lócus ou lugar) e na mesma ordem sequen- cial. Em outras palavras, para cada característica ou função em nossas células, apresentam-se dois genes ou pares de genes, cada um em uma das unidades dos pares de cromossomos homólogos. Grosseiramente, um cromossomo homólogo seria a cópia do outro, então, cada um destes dois genes, responsáveis pela mesma característica ou função, fixados no mesmo local e ordem nos cromosso- mos homólogos, é denominado de alelo. A complexidade do DNA fascina pesquisadores do mundo todo desde muito tempo, e as sucessivas descobertas de como as informações são carre- gadas por ele pelas células do organismo encanta até mesmo quem não trabalha diretamente com isso. Os ácidos nucleicos e DNA, em particular, são macromoléculas fundamentais para a perpetuação da vida. Iremos discutir a complexidade de como o DNA carrega informações passadas de pais para filho e transmitir informações de como e quando sintetizam as proteínas necessárias para construção e manutenção do funcionamento do organismo. As Macromoléculas e sua Atuação nas Células O DNA e RNA são constituídos por nucleotídeos, o DNA é chamado de ácido desoxirribonucleico e RNA é chamado de ácido ribonucleico. O DNA é localizado em organismos unicelulares, bactérias, composições mais complexas, como os multicelu- lares, ou seja, na maioria dos seres vivos. Alguns vírus podem usar o DNA ou o RNA como seu material genético, porém não são considerados seres vivos por alguns cientistas por não conse- guirem reproduzir sem a presença do hospedeiro. DNA celular As células eucarióticas, do grego Eukarya, signi- fica núcleo perfeito ou verdadeiro, são também chamadas de eucélulas. O núcleo dessas células é protegido por uma membrana e possui organelas, como mitocôndrias; forma os organismos unice- lulares, como os protistas; alguns fungos, como as leveduras; e pluricelulares, como os fungos, plan- tas e animais. São tipos celulares mais complexos que os seres procariontes ou procariotas, do latim “pro”, primitivo, e “carionte”, relativo à carioteca. Nestes organismos, o DNA não fica envolto por membrana, localizado em uma região chamada de nucleóide; são organismos unicelulares em sua grande maioria. Portanto, nos eucariotos, o DNA caracteristica- mente se divide em pedaços lineares longos, que são os cromossomos e, por sua vez, nos seres pro- cariotos, os cromossomos são relativamente menos longos e tipicamente formam um anel. Os cromos- somos contêm milhares de genes que transmitem informações de produção específicas na célula. De DNA até Proteínas As sequências específicas de aminoácidos são codificadas por genes para a produção da pro- teína e, para isso, é necessário que seja feita uma cópia do RNA. Este, portanto, torna-se o mRNA, chamado de RNA mensageiro; pelo menos três resíduos de nucleotídeos no DNA são necessários 154 Introdução à Biotecnologia para codificar cada aminoácido, e o par de base timina (T) é transcrito no mRNA como uracila (U). Um primeiro códon específico na sequência estabelece a fase de leitura, na qual, a cada três re- síduos de nucleotídeos, inicia-se um novo códon, e a sequência de aminoácidos de uma proteína é definida por uma sequência linear de tripletes contíguos, e eles deverão codificar uma dada pro- teína (Figura 5). Isto consiste no chamado dogma central da biologia molecular: essa passagem de DNA para RNA e, então, proteína (Figura 5). DNA C C G G T A G C Arg Gly Tyr Thr Phe Ala Val Ser U G C C G A T G G A T T A A C G A U C A G T C T A C A U T A A T T A U U U G G C C C G C G C G A C T T A U G U T G A C T A C U U mRNA Polypeptide 5’ 5’3’ 3’ 3’5’ Template strand Carboxyl terminus Amino terminus Figura 5 - Formação do aminoácido a partir da leitura de 3 nucleotídeos Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 980). Conhecendo outros RNAs Como já vimos, existe o mRNA, porém existem três tipos básicos de RNA, que diferem entre si no peso molecular: o RNA ribossômico (RNAr ou rRNA), o RNA mensageiro (RNAm ou mRNA) e o RNA transportador (RNAt ou tRNA). O RNA ribossômico é o que apresenta maior peso mole- cular e constituinte majoritário do ribossomo, o RNA mensageiro é o de peso molecular interme- diário e atua conjuntamente com os ribossomos na síntese das proteínas; e o RNA transportador, que é o mais leve dos três, é responsável por trans- portar os aminoácidos que serão utilizados na síntese proteica. Ainda outras moléculas de RNA, como pequenos microRNAs (miRNA), agem como reguladores de outros genes, e novos tipos de RNAs não codificadores de proteínas estão sendo descobertos o tempo todo. Assim, é impor- tante observar que nem todos os genes codificam produtos proteicos. DNA RNA PROTEÍNA REPLICAÇÃO TRANSCRIÇÃO TRADUÇÃO Figura 6 - Dogma central da genética molecular Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 1086). 155UNIDADE 5 Estruturas dos nucleotídeos O DNA e o RNA são compos- tos por nucleotídeos, os quais são as unidades básicas. Eles possuem três componentes básicos: um açúcar pentose, uma base nitrogenada e uma ligação fosfato. Assim, basica- mente, um nucleosídeo é um nucleotídeo sem o grupo fos- fato, pois apresenta uma base nitrogenada, uma pentose, mas tem a ligação fosfato. Pentoses As unidades de pentoses são compostas por monossaca- rídeos com 5 átomos de car- bono; por sua vez, os ácidos nucléicos possuem dois tipos de pentoses: ribose e deso- xirribose. A ribose é pentose do RNA e a desoxirribose do DNA. Essas duas pentoses se diferenciam apenas na presen- ça do grupo hidroxila (OH) no carbono-2 da ribose, en- quanto na desoxirribose essa hidroxila é substituída por um átomo de hidrogênio. Por apresentar ribose, os nucleo- tídeos de RNA são denomi- nados ribonucleotídeos e os do DNA são desoxirribonu- cleotídeos. Bases nitrogenadasAs bases nitrogenadas dos nucleotídeos são moléculas com base de carbono feitas de nitrogênio. Cada nucleotídeo no DNA contém uma de quatro possíveis bases nitrogenadas conhecidas, são elas: adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T). Adenina e guanina são purinas, o que significa que suas estruturas contêm dois anéis de car- bono-nitrogênio unidos. Citosina e timina, em contraste, são pirimi- dinas e têm um único anel de carbono-nitrogênio. Em ambos, DNA e RNA, uma das pirimidinas é a citosina (C), mas a segunda pirimidina principal é a timina (T) no DNA e a uracila (U) no RNA (Figura 7). O O C C C C C CC N C HN CH CH CH C N H Uracila Timina Citosina Bases nitrogenadas Adenina Guanina N H O O O C HN HN H2N C N N N N N CH CH CH HC CH3 NH2 NH2 C N H O CHC N H N H Figura 7 - Bases nitrogenadas: Uracila, Timina, Citosina, Adenina e Guanina Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 10). A base de um nucleotídeo se liga covalentemente à pentose por meio de uma ligação covalente, denominada ligação glicosídica. As bases de pirimidinas se ligam à pentose por meio do nitrogênio do anel (N-1) com a hidroxila do C-1 da ribose ou desoxirribose. As bases de purinas se ligam à OH das pentoses por meio do nitrogênio 9 (N-9) do anel. Os átomos de carbono de uma molécula de açúcar de nucleo- tídeo são numerados como 1’, 2’, 3’, 4’ e 5’; 1’ é lido como “um linha”. 156 Introdução à Biotecnologia Em um nucleotídeo, o açúcar ocupa uma posição central, com a base ligada a seu carbono 1’ e o grupo (ou grupos) fosfato ligados ao carbono 5’. E como já sabemos, a cada 3 nucleotídeos, há a forma- ção de um aminoácido, base para a formação das proteínas. Na Figura 8, é demonstrado alguns dos aminoácidos que são transcritos através do código genético presente nos pares de base transcritos pelo RNA. Dupla Hélice do Dna e sua Descoberta Considerada uma das maiores descobertas científicas da atua- lidade, a dupla hélice ou dupla fita do DNA foi proposta por James Watson e Francis Crick, em 1953. Eles disseram que sua constituição seria de dupla hélice de cadeias antiparalelas de nu- cleotídeos conectadas por pontes de hidrogênio, que tinham seu estabelecimento nas chamadas bases complementares, púricas e pirimídicas, dos nucleotídeos. Dessa forma, a proposta des- ses pesquisadores consistia nos dados de difração de raios X, trabalho de Rosalind Franklin e de Maurice Wilkins (Figura 9), e na natureza química dos com- ponentes do DNA das razões de Chargaff. C COO- COO- COO- CH3 CH2CH2OH H3N H Alanina Serina Tirosina Histidina Cisteína Aspartato + CH3N H OH + COO- COO- CH3N H + CH2 CH3N H + COO- CH2 C C H3N H HC CH NH NH + + COO- CH2 SH CH3N H + Figura 8 - Seis dos 20 aminoácidos que formam todas as proteínas Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 20). Figura 9 - Rosalind Franklin e a chamada “fotografia 51”, imagem decisiva sobre a estrutura da molécula de DNA, em 1952 Fonte: Cold Spring Harbor Laboratory Archives ([2019], on-line)2. 157UNIDADE 5 Erwin Chargaff de- monstrou, por volta de 1949, que, no DNA, o número de unidades de guanina é seme- lhante ao número de unidades de citosina, e o número de unidades de adenina seria pro- porcional ao número de unidades de timi- na. Essas proporções mudam conforme a espécie estudada, por exemplo, as porcenta- gens encontradas des- sas unidades no DNA humano é de: A= 30,7%, T= 31,2%, G= 19,3% e C= 18,8%, enquanto da levedura é de: A= 31,3, T= 32,9, G= 18,7 e C= 17,1. Hoje, percebemos o quanto isso representava os pares de base que conhecemos; suas análises foram possíveis com o auxílio da cromatografia e espectrofotometria. Essas informações levaram Watson e Crick (Figura 10) a terem o seu modelo aceito pela comunidade científica, o que Linus Pauling e sua equipe que publicaram um trabalho semelhante dois meses antes dizendo que a estrutura do DNA era em tripla hélice não conseguiram. Em resumo, conseguimos dizer que, para formar a estrutura do DNA, cada base nucleotídica de uma fita deve estar pareada no mesmo plano com a base da outra fita. Essas ligações de hidrogênio podem ser formadas com três pontes entre G e C, representadas G=C, e apenas duas podem ser formadas entre A e T, simbolizadas A=T. Com essa informação, paramos de pensar na união das fitas de DNA e passamos a pensar na sua separação, afinal, quanto maior for a razão do pareamento de bases G=C para A=T, mais difícil se torna separá-las. Outros pareamentos de bases tendem (em vários graus) a desestabilizar a estrutura dupla helicoidal. Também coube a Watson e Crick estabelecer, em seu modelo, a direção que as fitas seguiriam, as- sim teriam que decidir se as fitas seriam paralelas ou antiparalelas, com duas extremidades diferentes uma da outra, ou seja, na extremidade 5’ se dá o início da cadeia de polinucleotídeo, e o grupamento fosfato 5’ do primeiro nucleotídeo da cadeia é predominante. Enquanto isso, na outra extremidade, a 3’, o grupamento da hidroxila 3’ do último nucleotídeo da cadeia fica exposto. O modelo antiparalelo (Figura 11) acabou sendo o mais aceito pela equipe e confirmado posteriormente com análises de raios X, portanto, as sequências de DNA são escritas na direção 5’ para 3’ e as ligações adicionadas à fita são chamadas de ligação fosfodiéster. Figura 10 - James Watson à esquerda e Francis Crick e a estrutura em dupla hélice da mo- lécula de DNA, em maio de 1953 Fonte: Watson (1980 apud STONE, 2003, on-line). 158 Introdução à Biotecnologia 5’ 5’ 3’ 3’ Figura 11 - Cadeias antiparalelas complementares do DNA propostas por Watson e Crick Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 289). O pareamento de bases é muito específico, garan- tindo, assim, a não formação de um par dentro da própria fita, ou seja, os tamanhos e grupos funcio- nais só funcionam com seu respectivo par, como a adenina (A) faz par apenas com a timina (T) e a guanina (G) pareia apenas com a citosina (C) nas fitas de DNA. Essa exclusividade de ligações permite que a complementariedade seja conheci- da apenas com a fita molde, assim, se a sequência da fita 5’ for AATCGCGA, a fita complementar será 3’ TTAGCGCT, aceitando-se que cada base combine com sua parceira. Replicação do DNA Pensaremos, agora, na separação das duas fitas do DNA, questão inicial que levou pesquisadores, após publicação de Watson e Crick, a estudarem o me- canismo básico da replicação do DNA. Os nomes despontados dentre os outros nesse quesito foram de Meselson e Stahl. Suas pesquisas tiraram da dú- vida as possíveis replicações do material genético: hipoteticamente, foram propostos três modelos explicando como isso acontecia no organismo, de forma conservativa, semiconservativa e dispersiva. • Replicação semiconservativa: cada uma das fitas serviria de molde para uma nova fita e, assim, cada uma das novas moléculas de DNA seria formada por uma fita antiga e uma fita nova. • Replicação conservativa: a estrutura base do DNA permanece de forma íntegra, ser- vindo apenas de molde para a formação da estrutura sucessora, a qual seria formada por duas novas cadeias de nucleotídeos. • Replicação dispersiva: cada fita é forma- da por porções da molécula inicial e por regiões sintetizadas de novo, a partir dos nucleotídeos presentes na célula. O experimento, portanto, de Matthew Meselson e Franklin Stahl, em 1958 (Figura 12), consistiu no cultivo de células de E.coli por muitas gerações em meio contendo apenas nitrogênio pesado,15N. As- sim, todo nitrogênio no DNA era de 15N, quando centrifugado em um gradiente de Cloreto de Césio (CsCl); uma vez que as células foramtransferidas para um meio contendo apenas nitrogênio leve, 14N, o DNA celular isolado após uma geração se equilibrou em uma posição mais alta no gradien- te de densidade. Um segundo ciclo de replicação gerou uma banda de DNA híbrido e outra banda contendo apenas [14N] DNA, confirmando a re- plicação em estado semiconservativa. 159UNIDADE 5 DNA pesado (15N) DNA híbrido (15N-14N) DNA híbrido DNA leve (14N) Molécula parental original Moléculas-�lhas da primeira geração Moléculas-�lhas da segunda geração Figura 12 - Experimento de Meselson-Stahl Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 1011). Apesar do experimento ter sido realizado em bactérias, pesquisas seguintes confirmaram a replicação semiconservativa de DNA em outros organismos, inclusive em humanos. Em 1966, já haviam sido estabelecidos os sig- nificados para todas as trincas de códons (Figura 13), que são a chave para a tradução do DNA, direcionando a síntese de proteínas específicas. A fase de leitura é estabelecida quando a tra- dução de uma molécula de mRNA é iniciada e mantida à medida que a maquinaria de síntese vai lendo a mensagem sequencialmente, de um triplete para outro. Se a fase de leitura inicial es- tiver com uma ou duas bases desalinhadas, ou se a tradução, de alguma forma, pular um nucleo- tídeo no mRNA, todos os códons subsequentes ficarão fora de registro; o resultado, geralmente, é uma proteína “errada” com uma sequência de aminoácidos distorcida. O códon de iniciação AUG é o sinal mais co- mum para o início de um polipeptídeo em todas as células. Os códons de parada (UAA, UAG e UGA), também denominados códons de térmi- no ou códons sem sentido, geralmente sinalizam o fim da síntese de polipeptídeos e não codifi- cam qualquer aminoácido conhecido (NELSON; COX, 2002). UCG Primeira letra do códon (extremidade 5’) Segunda letra do códon U UUU UUC UCU UCC UAA UAG CAU CAC CGU CGC CGA CGG CAA CAG UAU UAC UGU UGC UGA UGG UCAUUA UUG CUU CUC CCU CCC CCA CCG CUA CUG AUU AUC ACU ACC AAU AAC AGU AGC ACA ACG AAA AAG AGA AGG AUA AUG GUU GUC GCU GCC GAU GAC GGU GGC GAA GAG GGA GGG GCA GCG GUA GUG U C C A A G G Phe Ser Tyr Cys Cys Gly Gly Gly Gly Trp Arg Arg Arg Arg Arg Arg Tyr His His Gln Gln Asn Asn Asp Asp Glu Glu Lys Lys Parada Parada Parada Ser Ser Ser Ser Ser Pro Pro Pro Pro Thr Thr Thr Thr Ala Ala Ala Ala Phe Leu Leu Leu Leu Leu Leu Met Val Val Val Val lle lle lle Figura 13 - Aminoácidos codificados no mRNA Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 1107). 160 Introdução à Biotecnologia A regulação gênica se dá por ações interferen- tes nos resultados dos processos genéticos. Es- sas técnicas ocorrem, geralmente, logo no início da transcrição do DNA, sendo dependentes de proteína regulatória que podem ser opressoras ou ativadoras, chamadas de regulação negativa e positiva consecutivamente. As proteínas regulatórias são proteínas que regulam a transcrição do DNA; elas reconhecem sequências de informação genética específica. No interior desses domínios, os motivos estruturais comuns que se ligam ao DNA procarioto são a héli- ce-volta-hélice, o dedo de zinco e o homeodomínio. Hélice-volta-hélice: motivo de ligação do DNA, onde duas alfas hélices são conectadas por cadeia curta de aminoácidos e mantidas em ângulo fixo. Dedo de zinco: esses motivos são compostos por, aproximadamente, 30 aminoácidos. A característica que permite encontrá-los é que quatro dos resí- duos são quatro cisteínas ou duas cisteínas e duas histidinas, e coordenam um único átomo de zinco. Homeodomínio: é um motivo altamente con- servado e foi descoberto em genes homeóticos (ge- nes que regulam o desenvolvimento de padrões corporais). A sequência de DNA que codifica esse domínio é conhecida como homeobox. Tecnologia do DNA Recombinante 161UNIDADE 5 Conseguimos entender melhor como isso fun- ciona quando vimos este processo em bactérias. Os óperons são as unidades únicas de transcrição, onde estão agrupados os genes que codificam pro- dutos com funções interdependentes. Ao iniciar a transcrição gênica, é possível haver um bloqueio por meio de uma regulação negativa, ou seja, pela repressão de uma proteína específica em um sítio de DNA, e para que essa dissociação ocorra, é ne- cessário um indutor. Os óperons que produzem as enzimas da produção dos aminoácidos possuem um circuito regulatório chamado atenuação. Para isso, é usado um sítio da terminação da transcri- ção que, por sua vez, é chamado de atenuador no mRNA, a formação do atenuador é modulada por um mecanismo que acopla transcrição e tradução enquanto responde a pequenas alterações na con- centração de aminoácidos. Em eucariotos, a regulação positiva é mais co- mum do que a regulação negativa e a transcrição é acompanhada por grandes alterações na estrutura da cromatina. Os estudos são feitos levando em conta as interações entre promotores e RNA-polimera- se II (Pol II), a enzima responsável pela síntese de mRNAs de eucariotos. Em geral, promotores para a Pol II têm uma TATA box (sequência de TATA (A/T) A (A/T) (A/G)) e sequência Inr (iniciadoras) (Figura 14), bem como múltiplos sítios de ligação para ativadores de transcrição. Esses últimos sítios, algumas vezes localizados centenas ou milhares de pares de bases distantes da TATA box, são chamados de sequências ativadoras a montante, em leveduras, e potenciadores, em eucariotos superiores; grandes complexos de proteínas são geralmente necessários para regular a atividade de transcrição. Ainda é possível fazer a regulação gênica por meio de hormônios. Eles afetam esta regulação de duas formas basicamente: os hormônios esteroidais interagem diretamente com receptores intracelu- lares que são proteínas de regulação da ligação de DNA, e a ligação do hormônio tem efeitos posi- tivos ou negativos na transcrição dos genes-alvo do hormônio; hormônios não esteróides se ligam a receptores na superfície das células, disparando uma via de sinalização que pode levar à fosforilação de uma proteína regulatória, afetando sua atividade. Por último, a regulação pode ser mediada por RNA e desempenha um importante papel na ex- pressão gênica dos eucariotos, pois tem a capacidade de realizar a extensão de mecanismos conhecidos. Como as leveduras se reproduzem, em con- dições ideais, entre 90 e 120 minutos, o número de gerações sucessoras pode ocasionar crossing over e gerar mutações na sua levedura. Ao se reu- tilizar o fermento durante 5-6 fermentações, a probabilidade de mutação pode chegar a núme- ros consideráveis, por isso é impreciso garantir que o fermento inicial seria o mesmo após várias utilizações, o que, consequentemente, não seria possível garantir que serão produzidas cervejas com características sensoriais semelhantes. 5’ 3’ Várias sequências reguladoras TATA box TATAAA TAYYAN YY Inr Figura 14 – Algumas sequências comuns em promotores reconhecidos pela RNA-polimerase II Fonte: Adaptado de Nelson e Cox (2002). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 162 Introdução à Biotecnologia A manipulação da levedura Saccharomyces cere- visiae foi considerada a biotecnologia mais anti- ga relatada, pois este organismo é utilizado pela humanidade a fim de processar alimentos e gerar produtos comestíveis (McGOVERN et al., 2004). Segundo o FDA (Food and Drug Administra- tion), este organismo é um representante de uma categoria chamada GRAS – generally recognized as safe –, traduzido livremente fica: geralmente reconhecidocomo seguro, é uma designação da FDA de que um produto químico ou substância adicionada aos alimentos é considerado seguro por especialistas. A confiança em sua seguran- ça levou, também, o NIH (National Institutes of Health – Institutos Nacionais da Saúde) a liberar experimentos com a levedura da maior parte de suas restrições. Sua facilidade de cultivo, velocidade de mul- tiplicação e manipulação genética aumentaram o interesse da biotecnologia sobre a levedura, tanto que a S. cerevisiae se tornou o primeiro organismo a ter o genoma completamente se- quenciado e cientificamente mais bem estudado e caracterizado dentre todos os eucariotos (GOF- FEAU et al., 1996, BRACHMANN et al, 1998; Organismos Geneticamente Modificados 163UNIDADE 5 DEQUIN, 2001). Com o tempo, as leveduras de cerveja e as leveduras para produção de pão tor- naram-se cada vez mais distintas das de vinho, principalmente como resultado do uso repetido e de múltiplas mutações. A modificação genética direcionada de uma cepa de levedura é uma maneira de aumentar a qualidade da cerveja e melhorar a economia do processo produtivo. As leveduras cervejeiras pas- saram a receber DNA de outras espécies do gêne- ro Saccharomyces (S. eubayanus, S. kudriavzevii) em seu genoma e, portanto, são distinguíveis das leveduras fermentativas por seus genótipos. Como resultado, hoje em dia, são usadas leve- duras híbridas criadas pela natureza; essas cepas podem ser divididas em cepas de levedura de fundo, conhecidas como S. pastorianus; as prin- cipais cepas de levedura são conhecidas como S. cerevisiae. Estas cepas contidas nas coleções de microrganismos industriais não diferem muito no fenótipo entre si, ou em cervejas produzidas por elas, especialmente cerveja com caracteres sensoriais uniformes produzidos em grandes cervejarias. Além disso, a maioria dessas cepas satisfaz, pelo menos parcialmente, os requisitos para a produção industrial intensiva. No futuro, portanto, uma variedade maior de leveduras de cerveja com diferentes características tecnológicas pode tornar a cerveja mais barata. Ao mesmo tempo, uma escolha mais ampla de variedades disponíveis tornará possível direcionar as características sensoriais da cerveja, oferecendo opções para tipos de cerveja diferentes ou total- mente novos (KARABÍN et al., 2018). O termo organismo geneticamente modifica- do (OGM), segundo a legislação brasileira, regida pela Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, é todo o organismo que tiver seu DNA modificado por meio de qualquer técnica da engenharia gené- tica e tiver fragmentos de DNA/RNA exógeno no produto final. Estas técnicas foram descritas, pela primeira vez, na década de 70, utilizam di- gestão enzimática e ligação do DNA e resultam em deleção ou inserção de DNA, geralmente de outro organismo. Essa denominação independe da origem do material genético, e alteração no genoma ocorre entre DNAs de espécies que não são compatíveis sexualmente. A engenharia genética contribui para desen- volver organismos com características de interesse específico, como coloração, tamanho e velocidade de crescimento. Inicialmente, a seleção das se- mentes era realizada apenas por meio de técnicas convencionais, como o cruzamento entre plantas; com o passar dos anos, foi descobrindo como as características são passadas de uma geração para outra e qual o papel da genética neste processo. Então, um organismo que é modificado por meio da adição de um ou mais genes provenientes de uma espécie não compatível sexualmente, é denominado transgênico. Este é um tipo de OGM, mas nem todo OGM é um transgênico, como é o caso do cisgênico, pois no OGM, a modificação pode ou não inserir genes externos no DNA do organismo. Para o desenvolvimento de um orga- nismo transgênico são necessários muitos anos de pesquisa e milhões de dólares de investimento. O trabalho envolve cientistas de diversas áreas do conhecimento, a exemplo de biologia, genética e agronomia. E o cisgênico é um organismo que passou por um procedimento que envolve a tecnologia do rDNA, mas com o uso de genes de espécies que podem ser cruzadas naturalmente. Um dos exem- plos mais conhecidos de cisgenia é resultante da pesquisa para tornar batatas resistentes ao pató- geno Phytophthora, realizado na Holanda. Para chegar ao resultado desejado, os pesquisadores implantaram, nas batatas, um gene de resistência ao fungo presente em batatas selvagens. 164 Introdução à Biotecnologia Historicamente, a segurança dos OGMs criados pela pesquisa do rDNA, DNA recombinante, foi questionada pelos cientistas, já que o OGM re- sultante pode ter características que diferem de forma imprevisível das dos organismos parentais e pode apresentar propriedades imprevisíveis no laboratório ou na prática para animais e seres hu- manos, ou, em caso de fuga acidental, para o meio ambiente. Enquanto alguns cientistas e outros res- ponsáveis pela detecção de riscos queriam pôr fim a todas as pesquisas de rDNA por causa dessa incerteza, era amplamente reconhecido que o co- nhecimento biológico obtido pelo uso do rDNA para estudar organismos vivos era enorme. Um sistema para o gerenciamento de riscos potenciais foi concebido no final do ano de 1970, operacional até a data, e com um mecanismo público para avaliar e minimizar os riscos potenciais de toda a pesquisa, contendo ou confinando organismos recombinantes. Inicialmente, alguns experimen- tos foram proibidos. Bioética e Legislação 165UNIDADE 5 Portanto, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) foi criada, em 2005, com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao governo federal na formu- lação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa aos OGMs – bem como no estabelecimento de normas téc- nicas de segurança e pareceres técnicos conclu- sivos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para ativi- dades que envolvam construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivados. Ante aos avanços progressivos tecnológicos e científicos descritos até o momento neste capítulo, a educação global sobre a bioética tem sido revista e reformulada a todo momento. Notícias relacio- nadas a novas descobertas científicas e a utilização de novos métodos tecnológicos são veiculadas e, consequentemente, assistidas diariamente. Neste sentido, entende-se que o rápido desenvolvimento tecnológico e científico pode levar tanto à melho- ria das condições humanas, como à sua piora, de- pendendo da forma que foi tratada. Esses avanços e aplicação de tecnologia em processos biológicos são chamados de biotecnologia. Os recentes avanços da biotecnologia per- mitiram que novas metodologias fossem desen- volvidas com inúmeros e benéficos resultados no tratamento de diversas patologias. Apesar dos proveitosos resultados, tais inovações po- derão ter utilizações bélicas (armas biológicas), uma vez que seus limites são ainda muito im- precisos. Em 2005, em razão do grande avanço bio- tecnológico, foi criada a Lei de Biossegurança 11.105/2005 – que estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre todas as pesqui- sas que envolvam material biológico. As diretrizes da referida lei apontam para o estímulo ao avanço científico, à proteção à vida e à saúde humana, à animal e à vegetal e à observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente. Segundo Garrafa (2015 apud PEZENTE, 2017), frente aos avanços biotecnológicos, ‘o li- mite não é mais técnico, e, sim, ético’. A questão que se coloca não é mais “não vou fazer porque não posso”, mas sim, “não vou fazer porque não devo fazer”.E esse limite ético é dado pela ética aplicada, nesse caso, a bioética. Esta refere-se ao ramo da ética que enfoca questões referentes à vida humana e, portanto, à saúde. É um estudo sis- temático da dimensão moral das ciências da vida e dos cuidados à saúde, que busca entender o signi- ficado e o alcance das novas descobertas, criando regras que possibilitem o melhor uso dessas novas tecnologias sem prejuízos ao ser humano. Bioética e Biossegurança podem ser entendi- das, em sentido amplo, como ferramentas teóri- cas e práticas pertinentes que estudam, avaliam, normatizam e controlam as ações, os produtos e os dispositivos resultantes da competência biotec- nocientífica aplicada para transformar sistemas vivos. Sabemos que o progresso da ciência é, de fato, bem mais veloz do que as reflexões sobre as suas repercussões na biosfera e na vida humana, o que torna mais angustiante e premente a discussão acerca dos limites da sua intervenção sobre a vida humana, animal e ambiental. 166 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Uma sequência de RNA é mostrada a seguir: ACG AAA GAU UCG Primeira letra do códon (extremidade 5’) Segunda letra do códon U UUU UUC UCU UCC UAA UAG CAU CAC CGU CGC CGA CGG CAA CAG UAU UAC UGU UGC UGA UGG UCAUUA UUG CUU CUC CCU CCC CCA CCG CUA CUG AUU AUC ACU ACC AAU AAC AGU AGC ACA ACG AAA AAG AGA AGG AUA AUG GUU GUC GCU GCC GAU GAC GGU GGC GAA GAG GGA GGG GCA GCG GUA GUG U C C A A G G Phe Ser Tyr Cys Cys Gly Gly Gly Gly Trp Arg Arg Arg Arg Arg Arg Tyr His His Gln Gln Asn Asn Asp Asp Glu Glu Lys Lys Parada Parada Parada Ser Ser Ser Ser Ser Pro Pro Pro Pro Thr Thr Thr Thr Ala Ala Ala Ala Phe Leu Leu Leu Leu Leu Leu Met Val Val Val Val lle lle lle Fonte: Nelson e Cox (2002, p. 1107). 167 Usando o diagrama de códons fornecido, qual é a sequência de aminoácidos que é produzida quando este gene é traduzido? Escolha 1 resposta: a) ( ) Thr - Lys - Asp. b) ( ) Cys - Phe - Leu. c) ( ) Thr - Asn - Glu. d) ( ) Cys - Lys - Glu. e) ( ) Lys - Phe - Glu. 2. O que são OGMs? 3. Comente as principais diferenças entre organismos transgênicos e cisgênicos. 168 Genética Para Leigos - Edição de Bolso Autor: Tara Rodden Robinson Editora: Alta Books Sinopse: um guia de linguagem simples sobre esse assunto fascinante. Genética Para Leigos – Edição de Bolso é uma visão geral de todo o campo da genética. Seu objetivo é explicar cada tópico de forma que qualquer um, mesmo sem quaisquer conhecimentos prévios sobre genética, possa acompanhar o assunto e compreender como ela funciona. Como na primeira edição clássica, é incluso muitos exemplos das descobertas científicas mais recentes. O livro cobre, de forma detalhada, alguns dos tópicos mais quentes sobre os quais você pode ter ouvido falar nos noticiários: clonagem, terapia gênica e investigação forense. Remete ao lado prático da genética: como ela afeta a sua saúde e o mundo ao seu redor. Resumindo, esse livro tem por objetivo ser uma sólida introdução às bases da genética e prover alguns detalhes sobre o assunto: pule na genética – informe-se sobre como a informação genética é dividida durante a divisão celular e como a herança das características funciona; escave o DNA – descubra como o seu DNA é montado, como ele é copiado e como as plantas de construção para o seu corpo são codificadas pela dupla-hélice; brinde à saúde – entenda como a genética afeta sua saúde e consiga um resumo sobre os últimos avanços em aconselhamento genético, doenças herdadas, genética e câncer, e distúrbios cromossômicos; fique por dentro – aprenda sobre o impacto da genética, as- suntos em alta, como a genética de populações, evolução, investigação forense, clonagem, questões éticas e muito mais. LIVRO That’s odd, let’s drink it – Sam Calagione Ano: 2015 Sinopse: essa é um websérie de seis episódios, em que o cervejeiro Sam se uniu a seis pessoas importantes de diversas áreas, como: gastronomia, esporte, música, comédia e moda, para falar sobre cervejas e produzir também! FILME 169 BRACHMANN, C. B. et al. Designer deletion strains derived from Saccharomyces cerevisiae S288C: a useful set of strains and plasmids for PCR-mediated gene disruption and other applications. Yeast, 14, p. 115-132, 1998. BRONDANI, A. OGM e Transgênicos: você sabe a diferença? Conselho de Informações sobre Biotecnolo- gia. 2019. Disponível em: https://cib.org.br/faq/ogm-e-transgenicos/?utm_source=post-fb-OGM-transgeni- cos&utm_medium=pilar. Acesso em: 22 abr. 2019. CONSOLARO, A. et al. Genetics and heredity concepts applied to the comprehension of dental resorp- tions during orthodontic movement. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, Marin- gá, v. 9, n. 2, p. 79-94, abr./maio 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1415-54192004000200009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 abr. 2019. COSTA, T. E. M. M.; DIAS, A. P. M.; SCHEIDEGGER, E. M. D. et al. Risk assessment of genetically modified organisms. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 327-336, jan. 2011. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000100035&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 abr. 2019. DEQUIN, S. The potential of genetic engineering for improving brewing, wine-making and baking yeasts. Appl Microbiol Biotechnol, 56, p. 577-588, 2001. GARRAFA, V. Bioética e ciência: Até onde avançar sem agredir. Entrevista com Volnei Garrafa. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/direitosglobais/paradigmas_textos/bioetica2.html. Acesso em: 23 abr. 2019 GOFFEAU, A. et al. Life with 6.000 genes. Science, 274:546, p. 563-567, 1996. KARABÍN, M. et al. Enhancing the performance of brewing yeasts. Biotechnology Advances, [s.l.], v. 36, n. 3, p. 691-706, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0734975017301660?via%3Dihub. Acesso em: 23 abr. 2019. MARTINS E SILVA. J. Bioquímica da Informação Genética. Faculdade de Medicina da Universidade de Lourenço Marques, Moçambique. Lisboa: Publicações Ciência e Vida Lda, 2006. Disponível em: http://reposi- torio.ul.pt/bitstream/10451/1120/1/17160_Bioquimica_da_Informacao_Genetica.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019. McGOVERN et al. Fermented beverages of pre- and proto-historic China. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 101:17593-17598, 2004. NELSON, L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninguer. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. PEZENTE, V. T. Bioética e Biossegurança: Interface necessária no ensino da biotecnologia em programas de pós-graduação no Brasil. Revista de Ciências da Saúde, n. 2, p. 85-89, 2017. 170 STONE, M. J. History of the Baylor Charles A. Sammons Cancer Center. 2003. Disponível em: https:// www.researchgate.net/publication/7488979_History_of_the_Baylor_Charles_A_Sammons_Cancer_Center. Acesso em: 24 abr. 2019. WATSON, J. D. The Double Helix: a personal account of the discovery of the structure of DNA: Text, Com- mentary, Reviews, Original Papers. Ed. Gunther S. Stent, New York and London: W. W. Norton & Co, 1980. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: https://pt.khanacademy.org/. Acesso em: 22 abr. 2019. 2Em: http://library.cshl.edu/archives. Acesso em: 22 abr. 2019. 171 1. A. ACG codifica para treonina (Thr); AAA codifica para lisina (Lys); GAU codifica para ácido aspártico (Asp). 2. OGM são organismos geneticamente modificados e é todo organismo que teve seu DNA modificado por meio de qualquer técnica da engenharia genética e teve fragmentos de DNA/RNA exógeno no produto final. 3. Um organismotransgênico é proveniente de uma espécie não compatível sexualmente e o cisgênico é um organismo que passou por um procedimento de ser cruzado naturalmente. 172 173 174 175 CONCLUSÃO Chegamos ao final da nossa bioquímica cervejeira, mas nossos estudos não param por aqui. Tudo o que foi visto neste livro é apenas uma pequena ideia das reações bioquímicas que ocorrem na cerveja. Ainda existem muitas reações importantes a serem elucidadas no futuro e outras que não abrangemos aqui. Passamos pela origem e o sentido da vida e vimos que os mesmos compostos que nosso corpo precisa também são necessários para que as nossas leveduras cer- vejeira consigam viver, desde os carboidratos que fazem a manutenção energética, as proteínas e lipídeos que compõem sua parede celular, os compostos nitrogenados que formam os aminoácidos e enzimas funcionam dentro das leveduras. Vimos como as dez etapas da glicólise gasta e gera energia e, subsequente, temos as respirações celulares que as leveduras irão fazer nas primeiras horas no fermen- tador, enquanto o mosto ainda possui oxigênio; e como o ciclo do ácido cítrico e a fosforilação oxidativa gera ATPs suficientes para que as leveduras se reproduza e aumente de volume, fermentando mais rápido a cerveja. Passamos, também, pela importância dos processos enzimático e como afetam nossa produção cervejeira, que vai desde a produção do malte até as últimas etapas antes da pasteurização da garrafa. A utilização de enzimas comerciais que nos auxi- liam nos processos de obtenção de cervejas mais claras e que evitam a turvação a frio. Outro ponto importante a ser sempre lembrado é da oxidação dos ácidos graxos que geram uma infinidade de composto, também devemos evitar a oxigenação da cerveja durante a fermentação e depois da cerveja pronta. Muitos conceitos visto aqui serão fundamentais para o entendimento dos even- tuais contratempos que você encontrará produzindo cerveja. Sabendo os fatores que os acarretaram, será possível intervir e corrigi-lo. Outro ponto a se considerar é levar esses conhecimentos para se fazer uma cerveja cada vez melhor. Desejo a você um ótimo curso, e que cada cerveja saia cada vez mais gostosa. Um grande abraço! Introdução à Bioquímica Cervejeira Macromoléculas Cervejeiras Enzimas Cervejeiras Integração e Regulação Metabólica Introdução à Biotecnologia Molécula de água Cinética Enzimática _GoBack _gjdgxs _sm80b6ki8idr _rsyeu8ybqnnn _q0ss7kuqjrjp _vydl5wqtu1rf _pq88ekbsr9bs _xtp6qmjr5yy2 _k9llv65nznpe _8h28phk67660 _4ubv78wgk74t _zdziyu4woosa _ff9aggchjy7h _p0690od8pmmz _f5kr4rg2tdfn _7ibhk9xfac3g _yerk6y7f6oh7 _fqirwgvsh2mj _r7pr4y6sfutr _vbfxfpsiyt9r _kfvx1k3l443d _2m9mekxsu5u0 _6p5qbjbf0470 _plw4gmv17vwn _4z675hjm3vk _g0pghy5a4ssk _owadkdsoe651 _icuob42jjqi _fwbh3i610nn1 _j4hlp8rmn44 _wnvk8yb0o2f2 _6ktjtubasz2b _6tvb5hifjmzd _djecy893e6fb _3jxuj6ue6887 _25gdg4ubtnmi _hcoylkqnzq1v _wxlgv9hsmrmq _vzccfnj6gwlx _lmaxye9hxlg2 _rnu410408bye _ch48lxz00h2e _aoxdtez65mx7 _hsou8jbhabxo _bd02gbfzsq9l _30qfjd1ijjo0 _4djj48nc35gk _b7bq1xwdta7k _bem4if5t7hkc _hzhligw26gvl _tn02cal8v1q2 _xvl3p3wdnwfk _k5lqp3gdsbjr _dp33qx9s1uoa _za9c3yy1ziz7 _epp1czhg13du _is9fwur7csv1 _6c7d2imp74z4 _o0fw8er39ibq _bvduz2lou955 _sz73jpgihudb _k97s2u600kb4 _f7z1n0u3scuv _aakl6fr51i5d _e0inmdh6gz3r _42ac2u3cbztf _kqzv2ekhdrnr _qmje413fgaqn _ygorrc6iq71n _l2hdrcv6zds _77cahap37or9 _GoBack _n8r5wtvy2q5u _e1txib80yr9x _i86191dftj4n _ygsi2nvcz1kz _xszvekdjsenh _y8gkzigqqjvg _17my0s27vvb _h7620kvz8tav _d178gvst8htl _7yitp8gxgi9m _74rc61g8fycs _ox0txogy1yh6 _t5xcgu2b5or5 _7wyr0qxnq21j _serkk0a8ut56 _ywi1b3bacorh _ltmtof6orrst _jfp6tpyhelpj _35qln7c2812l _t620wenu2iuw _a03l7eyc7oaf _7askqvx8mbuc _wt54y5dqrfc7 _u17cwjdvatrm _ik1mo0gblt6b _r2krk7yt131h _6hek5h2g7rs5 _c12uabytv2pz _hzksm8let6n9 _m9932mb9uyz8 _3wkpt46v2adv _rjpkj55wcaj2 _GoBack