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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL WILTON ROGÉRIO SANTOS MACIEL RELAÇÕES DE MERCADO ENTRE FORNECEDORES E PRODUTORES DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO CENTRO-SUL MATOGROSSENSE. Cuiabá – MT 2014 2 WILTON ROGÉRIO SANTOS MACIEL RELAÇÕES DE MERCADO ENTRE FORNECEDORES E PRODUTORES DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO CENTRO-SUL MATOGROSSENSE. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo Cuiabá – MT 2014 3 WILTON ROGÉRIO SANTOS MACIEL RELAÇÕES DE MERCADO ENTRE FORNECEDORES E PRODUTORES DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO CENTRO-SUL MATOGROSSENSE. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do título de Mestre. Aprovada em : 07/11/2014 CONCEITO : A BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo Universidade Federal de Mato Grosso Orientador Prof. Dr. Arturo Alejandro Zavala Zavala Universidade Federal de Mato Grosso Examinador Interno Prof. Dr. Cicero Antonio de Oliveira Tredezini Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Examinador Externo 4 Quem souber acumular forças no período de ação impossível, poderá realizar grandes obras! 5 AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho não teria sido, de forma alguma, possível sem a colaboração de várias pessoas, as quais me ajudaram em todas as fases desta etapa da minha vida, desta forma meus agradecimentos e gratidão: Ao Pai Celestial, que sempre esteve ao meu lado para me guiar e iluminar nas horas difíceis, dando energia para a realização deste trabalho diante das muitas dificuldades e obstáculos encontrados. Aos meus pais, Wilson Maciel da Cruz (in memoriam) e Maria José Santos Maciel da Cruz, pelo apoio e incentivo para a minha formação moral e profissional. A minha esposa Mariana Torres Licursi Vieira pelo amor, compreensão e companheirismo em todos os momentos, indispensável para superar os momentos difíceis. Aos meus orientadores Dra. Sandra Cristina de Moura Bonjour (in memoriam) e Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo, pelos ensinamentos, incentivo e contribuições para a conclusão deste trabalho. Aos professores do Programa de Pós-graduação – Mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento Regional (PPG-ADR) pelos conhecimentos e ensinamentos. Aos amigos do curso do mestrado, pelas contribuições, trabalhos realizados em conjuntos, apoio, e pelas amizades. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de estudo concedida. 6 RESUMO Os pecuaristas, agentes econômicos de grande relevância desta cadeia produtiva, desempenham importante atividade para a organização e gestão da produção em um sistema agroindustrial duplamente concentrado, tornando-se fundamental a análise das relações de mercado com seus fornecedores. Esta dissertação avaliou como as estratégias de mercado, entre produtores de bovinos de corte do centro-sul mato-grossense e seus fornecedores de insumos, podem conferir maior competitividade aos pecuaristas. Foram identificados e classificados os principais grupos de fornecedores de insumos para os produtores de bovinos de corte e determinou-se como ocorrem as relações comerciais entre fornecedores e produtores. Através da análise de SWOT, avaliou-se quais as estratégias de mercado seriam mais adequadas para que os pecuaristas de corte obtenham maior competitividade. Através de uma visão técnica e econômica da atividade foram identificados e classificados os principais grupos de insumos pecuários e fornecedores desta cadeia produtiva. Com base nos resultados após a análise do ambiente externo, esse trabalho aponta as oportunidades presentes que devem ser exploradas, entretanto, destacam-se também possíveis ameaças que o setor deve estar atento, devendo antecipar ações para contornar essas barreiras e garantir a competitividade neste elo inicial da cadeia produtiva. As relações comerciais envolvendo os fornecedores e pecuaristas e, a frequência de aquisição dos insumos pertencentes aos diversos grupos não seguem um perfil padrão ou esperado. Todavia, algumas estratégias de gestão são utilizadas na atividade, principalmente quanto à redução de custos fixos, como é o caso da contratação de mão de obra terceirizada durante diferentes períodos no ano. A tendência é permanecer na atividade os médios e grandes produtores, que terão maior facilidade de se profissionalizarem, partindo para uma economia de escala. Por fim, têm-se as conclusões denotando a percepção crítica em torno da temática trabalhada e as sugestões, do ponto de vista organizacional, para incremento e colaboração no desenvolvimento desta cadeia produtiva. Palavras-chave: pecuária bovina, insumos, relações de mercado, Mato Grosso, análise SWOT. 7 ABSTRACT Ranchers, economic agents of great importance in this production chain, play an important activity for the organization and production management in a doubly concentrated agribusiness system, making it fundamental analysis of market relations with its suppliers. This work evaluated as market strategies, including producers of beef cattle from the south- central Mato Grosso and their input suppliers, can provide greater competitiveness to ranchers. They were identified and classified the main groups of input suppliers to producers of beef cattle and was determined to occur commercial relations between suppliers and producers. Through SWOT analysis, we defined which market strategies would be most suitable for the cutting ranchers get more competitive. Through a technical and economic view of activity were identified and classified the main groups of livestock inputs and suppliers of this production chain. Based on the results after the analysis of the external environment, this work points out present opportunities that should be explored, however, also highlight possible threats that the industry should be aware and should anticipate actions to overcome these barriers and ensure competitiveness in this link Initial production chain. Trade relations involving suppliers and ranchers and the frequency acquisition of inputs belonging to different groups do not follow a standard or expected profile. However, some management strategies are used in the activity, especially regarding the reduction of fixed costs, such as the hiring of outsourced work during different periods in the year. The tendency is to stay in the activity medium and large producers, which will be easier to professionalize, leaving for an economy of scale. Finally, we have the findings denoting the critical perception around the theme crafted and suggestions from an organizational point of view,to increase cooperation and the development of this production chain. Keywords: cattle raising, inputs, market relations, Mato Grosso, SWOT analysis. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Distribuição espacial dos biomas no território do Estado de Mato Grosso no ano de 2012. .................................................................................................................... 26 Figura 2: Regiões Pólo do Estado de Mato Grosso sistematizada pela Acrimat no ano de 2012. ......................................................................................................................... 29 Figura 3: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 1997 (24,44%)............................................................... 32 Figura 4: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 2002 (26,59%)............................................................... 33 Figura 5: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 2011 (27,58%)............................................................... 34 Figura 6: Agentes genéricos da cadeia produtiva da bovinocultura de corte no Estado de Mato Grosso no ano de 2014. .................................................................................. 58 Figura 7: Situação dos frigoríficos SIF em Mato Grosso em janeiro de 2012. ........................ 97 Figura 8: Mapa das plantas frigoríficas do Estado de Mato Grosso associadas a ABIEC no ano de 2014. ............................................................................................................. 98 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Evolução do efetivo do rebanho bovino no estado de Mato Grosso no período de 1993 a 2013 (cabeças). ............................................................................................. 30 Gráfico 2: Evolução das áreas de pastagens no Estado de Mato Grosso no período de 1996 a 2011 (hectares). ..................................................................................................... 31 Gráfico 3: Taxa de Lotação (cabeças/hectares) no período de 1996 a 2013. ........................... 37 Gráfico 4: Percentual de aquisição de alimentos para nutrição no ano de 2013. ..................... 85 Gráfico 5: Frequência de aquisições de insumos para nutrição animal no ano de 2013. ......... 86 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Três estratégias genéricas de Michael Porter. .......................................................... 51 Tabela 2: Origem do fator e auxílio na conquista do objetivo. ................................................ 61 Tabela 3: Diagnóstico SWOT. ................................................................................................. 64 Tabela 4: Caracterização das propriedades quanto aos seus rebanhos, áreas totais e áreas de pastagens no ano de 2013. ....................................................................................... 67 Tabela 5: Distribuição dos fornecedores de fertilizantes nas regiões do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. ............................................................................................ 74 Tabela 6: Distribuição dos fornecedores de fertilizantes na região Centro-Sul do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. .................................................................................. 75 Tabela 7: Distribuição de fornecedores para alimentação animal nas regiões do Estado de Mato Grosso e seus respectivos rebanhos bovinos (cab) no ano de 2013. .............. 76 Tabela 8: Distribuição de fornecedores para alimentação animal nos municípios pertencentes a região centro-sul do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. ......... 77 Tabela 9: Distribuição de fornecedores de sementes e mudas nas regiões do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. .................................................................................. 78 Tabela 10: Distribuição de fornecedores de sementes e mudas nos municípios pertencentes a região centro-sul do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. .............................. 79 Tabela 11: Frequência de reposição de animais no plantel dos pecuaristas da região centro- sul do Estado de Mato Grosso no ano de 2013. ....................................................... 81 Tabela 12: Frequência de utilização de assistência técnica e mão de obra terceirizada no ano de 2013. ............................................................................................................. 83 Tabela 13: Frequência de aquisições de insumos para nutrição animal no ano de 2013. ........ 86 Tabela 14: Tempo de atuação profissional dos responsáveis pela pecuária de corte e tempo que as mesmas exploram comercialmente a pecuária de corte no ano de 2013. ..... 89 Tabela 15: Frequência de venda de bovinos destinados à abate na região centro-sul no ano de 2013. .................................................................................................................... 92 Tabela 16: Grau de importância das variáveis fundamentais para a pecuária de corte no ano de 2013. .................................................................................................................... 93 Tabela 17: Relação das plantas frigoríficas do Estado de Mato Grosso associadas a ABIEC no ano de 2013. ........................................................................................................ 99 11 Tabela 18: Grau de importância para os principais problemas enfrentados na aquisição de insumos pecuários no ano de 2013. ....................................................................... 102 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14 O problema e sua importância ........................................................................................... 15 Objetivo Geral ................................................................................................................... 18 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 18 1. A PECUÁRIA DE CORTE ............................................................................................ 21 1.1. A pecuária de corte no Mundo, no Brasil e em Mato Grosso .................................... 21 1.2. Estratégias e modos de produção pecuária ................................................................. 38 2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 42 2.1. Custos, lucro e retorno na pecuária de corte............................................................... 42 2.2. Maximização dos lucros na pecuária .......................................................................... 45 2.3. O binômio risco e retorno ........................................................................................... 46 2.4. Estratégia e competitividade na pecuária ................................................................... 47 2.5. Aspectos e relações mercadológicas no agronegócio ................................................. 51 2.6. Análise do ambiente interno – forças e fraquezas ...................................................... 54 3. METODOLOGIA ...........................................................................................................56 3.1. Delimitação do espaço de análise ............................................................................... 56 3.2. Agentes-chaves selecionados ..................................................................................... 57 3.2. O modelo analítico: forças competitivas de Porter e a análise SWOT....................... 59 3.3. Coleta de dados .......................................................................................................... 64 3.4. Avaliação dos resultados ............................................................................................ 65 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 67 4.1. Principais grupos de insumos para a bovinocultura de corte ................................. 68 4.1.1. Agrotóxicos ................................................................................................. 69 4.1.2. Animais para reposição ............................................................................... 69 4.1.3. Combustível e energia ................................................................................. 69 4.1.4. Fertilizantes e corretivos ............................................................................. 70 13 4.1.5. Mão de obra ................................................................................................. 70 4.1.6. Máquinas e implementos agrícolas ............................................................. 71 4.1.7. Nutrição animal ........................................................................................... 71 4.1.8. Reprodução e Genética................................................................................ 72 4.1.9. Sanidade animal .......................................................................................... 73 4.1.10. Sementes de pastagens e cercas .................................................................. 73 4.1.11. Terra ............................................................................................................ 73 4.2. Fornecedores no Estado de Mato Grosso ............................................................... 73 4.3. Relações comerciais entre fornecedores e pecuaristas ........................................... 80 4.3.1. Relação por aquisição de agrotóxicos ......................................................... 81 4.3.2. Relação por compra de animais para reposição .......................................... 81 4.3.3. Relação por aquisição de combustíveis ....................................................... 82 4.3.4. Relação por aquisição de fertilizantes ......................................................... 82 4.3.5. Relação por contratação de mão de obra ..................................................... 83 4.3.1. Relação por aquisição de máquinas e implementos agrícolas ..................... 84 4.3.2. Relação por aquisição de insumos para a nutrição animal .......................... 84 4.4. Ambiente interno da pecuária de corte ................................................................... 87 4.4.1. Strengths (forças) ........................................................................................ 88 4.4.2. Weaknesses (fraquezas) .............................................................................. 90 4.5. Ambiente externo da pecuária de corte .................................................................. 94 4.5.1. Opportunities (oportunidades)..................................................................... 94 4.5.2. Threats (ameaças) ........................................................................................ 96 5. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 105 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 109 ANEXOS ............................................................................................................................... 113 14 INTRODUÇÃO O estado de Mato Grosso é um dos principais produtores agrícolas do país, se destacando principalmente pela alta produção de alimentos que contribuem significativamente para a geração de divisas e o abastecimento. A bovinocultura de corte, uma das atividades desempenhada pela pecuária mato- grossense, possui importância fundamental não só pela sua função de fornecer produtos para a nutrição humana, mas também por exercer influência direta na geração e manutenção dos trabalhadores que estão inseridos neste sistema de produção, assim como nas inúmeras indústrias frigoríficas deste e de outros estados vizinhos que dependem da atividade exercida pelos pecuaristas. Não obstante, torna-se fundamental para início desta leitura salientar o significado do termo “pecuária”, onde segundo Polito (2004) pode ser compreendido como: a atividade relativa a criação de gado. Ainda segundo o autor, o significado do termo “gado” refere-se a animais, geralmente criados no campo, para serviços agrícolas e consumo doméstico, ou para fins industriais e comerciais. Embora existam importantes atividades compreendidas pela pecuária de corte, como as produções de suínos, caprinos, ovinos e aves, este trabalho se dedica à bovinocultura de corte. Desta forma, neste trabalho, o termo “pecuária de corte” se restringe especificamente as atividades relacionadas com a criação de gado bovino destinado ao abate. Agentes econômicos de grande relevância desta cadeia produtiva, os pecuaristas desempenham importante atividade para a organização e gestão da produção em um sistema agroindustrial duplamente concentrado, tanto a montante como a jusante do estabelecimento rural, tornando-se fundamental a análise das relações de mercado com os fornecedores de insumos e as indústrias frigoríficas. Toda essa produção deve ainda estar alicerçada sobre a sustentabilidade ambiental, social e econômico-financeira. Desta forma, o presente trabalho levou em consideração a cadeia produtiva da pecuária de corte, com foco nas atividades desempenhadas pelos produtores (pecuaristas) de forma a contribuir para o desenvolvimento da atividade frente a um mercado cada vez mais competitivo. 15 O problema e sua importância Segundo Silva, Zanine, & Lírio (2005), o agronegócio brasileiro é um dos principais setores em crescimento no Brasil, e com isso, a sua importância no segmento vem refletindo no comércio externo, tornando-se evidente, ano a ano, o avanço para os mercados internacionais. Pode ser compreendido como um sistema constituído de cadeias produtivas compostas por fornecedores de insumos e serviços, produção agropecuária, indústria de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, tendo como objetivo comum, suprir o consumidor de produtos de origem agropecuária. Tal destaque na economia deve-se à utilização da tecnologia a favor de produtores e fornecedores participantes do setor, que nos últimos 20 anos atingiram patamares expressivos de produtividade da terra. Pode-se exemplificar o aumento do nível tecnológico na produção com o fato de o Brasil ter conseguido dobrar a produção de grãos em 20 anos, utilizando a mesma área plantada. Tal desempenho pôde ser conquistado graças à utilização dos insumos de primeira linha, disponíveis para o setor (GUANZIROLI, 2006). O agronegócio brasileiro continuou crescendo em junho (0,11%), acumulando expansão de 1,90% no primeiro semestre de 2014. As perspectivas de aumento da produção para o conjunto das atividades agropecuárias, em conjunto com o maiorpatamar de preços na comparação entre os semestres (2014/2013) explicam o resultado positivo do setor. O segmento primário da pecuária se destacou acumulando alta de 5,52% no período. Embora de forma menos expressiva, o segmento primário da agricultura também cresceu, 2,91% (CEPEA, 2014). Como Schoenherr (2012) demonstrou em sua pesquisa ao calcular o PIB das principais cadeias da pecuária no Estado de Mato Grosso, tais como: a bovinocultura de corte, a avicultura e a suinocultura, percebeu que a pecuária é importante para a economia do estado, sendo que a mesma foi responsável por 16% do PIB estadual de 2007. O território brasileiro possui cerca de 388 milhões de hectares de terras agricultáveis, férteis e de alta produtividade. Descontando-se as reservas legais, florestas, pastagens e plantações já existentes, existem cerca de 90 milhões de hectares que ainda não foram explorados, posicionando o país como o de maior disponibilidade de crescimento para agropecuária e outros setores participantes da cadeia produtiva do agronegócio (ROCHA, 2007). 16 O Brasil possui o segundo maior rebanho de bovinos do mundo, ficando atrás somente da Índia, que por questões religiosas não utiliza a pecuária com fins lucrativos. Sendo assim, o Brasil passa a ter o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, com potencial de aumentar ainda mais as suas exportações, com custos mais baixos e com competitividade no mercado internacional (BARBOSA e MOLINA, 2007). A carne bovina é um dos itens mais importantes dentro da dieta alimentar do brasileiro e, seu consumo apresenta um dos maiores potenciais de crescimento dentro do agronegócio. Isso se deve à melhora do poder aquisitivo dos consumidores brasileiros e, à adequação da cadeia de produção a esse aumento de consumo. A produção dos animais e a indústria estão passando por um processo de evolução que se tornou quase uma questão de sobrevivência para toda cadeia produtiva (ZEN, 2004). Com todo destaque que a pecuária nacional vem recebendo, tanto no mercado interno, como o mercado externo, a criação de animais com a finalidade de produzir carne tem evoluído. A sobrevivência dentro da atividade depende de saber quanto custa produzir. Assim, o produtor rural deve encarar sua propriedade como uma empresa do ramo do agronegócio, com o objetivo de minimizar custos, viabilizar sua produção e ofertar ao mercado produtos de qualidade. Um fator preocupante dentro das cadeias produtivas do agronegócio é a alta dos insumos, segmento que mais cresceu em janeiro de 2011. A elevação dos preços destes insumos comprime a renda dos produtores, podendo levá-los a empregar pacotes tecnológicos menos modernos, tanto na lavoura (por meio de menor uso de adubos e fertilizantes), quanto na alimentação animal (via rações com menor concentração de compostos nutricionais ou até mesmo o não fornecimento de suplementos nutricionais), interferindo assim, na produção e reprodução dos animais e consequentemente na produção de carne. A alta na cotação do complexo soja (grão, óleo e farelo) e, principalmente do milho, influencia diretamente no valor das rações, uma vez que sua formulação é composta basicamente de 60% de milho e 30% de farelo de soja (CNA, 2011). A melhoria da competitividade da agricultura e pecuária do Brasil, sobretudo no período de 2000 a 2009 e, o empenho do governo e da iniciativa privada em estimular e divulgar o produto agrícola brasileiro no exterior tem aumentado significativamente as exportações do agronegócio (SILVA, LIMA e BATISTA, 2009). A agropecuária foi a atividade que mais cresceu no período de 2000 a 2010, mostrando que o setor contribui de forma significativa e eficiente na economia nacional, uma 17 vez que o crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) do setor tem apresentado saldos positivos durante todo o ano de 2010 e no primeiro semestre de 2011, apontando uma média de crescimento anual entre o período de 2000 a 2010, de 4,08%, enquanto o PIB geral do Brasil mostra por ano uma média de avanço de 3,70%. Em valores, o PIB brasileiro totalizou em 2010 R$ 3,770 trilhões e somente o PIB da agropecuária foi responsável por R$ 180,8 bilhões. No primeiro trimestre de 2010, o setor registrou R$ 45,6 bilhões, com participação de 5,8% no PIB e, tais dados quando comparado ao último trimestre de 2010, confirmam um aumento da participação em 3,3% (ARAÚJO, 2011). O Brasil é um grande produtor mundial de proteína animal e tem no mercado interno o principal destino de sua produção. Considerando a produção brasileira de carnes (bovina, suína e de aves) em 2010, estimada em 24,5 milhões de toneladas, tem-se que 75% dessa produção é consumida internamente no país. Neste mesmo ano, o consumo per capita de carnes aumentou em relação ao ano anterior chegando a 37,4 kg para carne bovina; 43,9 kg de carne de aves e 14,1 kg de carne suína, refletindo o bom desempenho da economia brasileira (MAPA, 2010). A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países. O rebanho bovino brasileiro proporciona o desenvolvimento de dois segmentos lucrativos: as cadeias produtivas da carne e leite. O valor bruto da produção desses dois segmentos, estimado em R$ 67 bilhões, aliado a presença da atividade em todos os estados brasileiros, evidenciam a importância econômica e social da bovinocultura em nosso país (MAPA, 2011). O clima tropical e a extensão territorial do Brasil contribuem para esse resultado, uma vez que permitem a criação da maioria do gado em pastagens. Além disso, o investimento em tecnologia e capacitação profissional; o desenvolvimento de políticas públicas, que permitem que o animal seja rastreado do seu nascimento até o abate; o controle da sanidade animal e segurança alimentar contribuíram para que o País atendesse às exigências dos mercados rigorosos e conquistasse espaço no cenário mundial (MAPA, 2011). Os resultados confirmam a relevância dos setores da pecuária em termos de suas relações comerciais com as atividades existentes na economia, assim como a importância dos produtos deste setor no mercado internacional, ou seja, as exportações deste setor permitem ganhos cambiais para o país, além de causar efeitos positivos à produção de diversos outros setores da economia a eles relacionados. Sabe-se da teoria econômica que, à medida que a 18 economia vai crescendo, habitualmente uma porção cada vez menor do PIB provém do setor primário, e uma quantidade cada vez menor da força de trabalho depende diretamente da atividade deste setor, o que não diminui a sua importância na economia, mas sim conduz à mudança de ênfase quanto aos papéis do setor primário no crescimento econômico (SCHOENHERR, 2012). A desaceleração dos preços agropecuários marcou o fim do primeiro semestre de 2014, mas, ainda assim, o cenário se manteve positivo na comparação com 2013. Paralelamente, os insumos seguiram desvalorizados, diminuindo a pressão desses custos sobre as margens do produtor. Este cenário refletiu a inflação, medida pelo IPCA, que em junho foi de 0,40% contra 0,46% em maio. Passada a Copa do Mundo e as expectativas de movimentação do mercado em relação ao mundial, o quadro é de incertezas. Considerando-se os preços em desaceleração e o ritmo mais fraco da economia, as margens devem ficar mais encolhidas. Além disso, os resultados das sondagens do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia/FGV) apontam para níveis de confiança empresarial no menor patamar desde o segundo trimestre de 2009, ano da última crisemundial (CEPEA, 2014). Neste cenário o presente estudo pretende responder o seguinte problema de pesquisa: O planejamento estratégico da produção pecuária, levando em consideração os custos, lucros e retorno na atividade, associado com as estratégias de mercado, podem conferir maior competitividade aos produtores da bovinocultura de corte do centro-sul mato-grossense e favorecer suas relações com os fornecedores de insumos? Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho está centrado na avaliação de como as estratégias de mercado entre produtores de bovinos de corte do centro-sul mato-grossense e fornecedores de insumos podem conferir maior competitividade aos pecuaristas. Objetivos Específicos Pretende-se ainda a determinação dos seguintes objetivos específicos, tais como: a) Identificar e classificar os principais grupos de fornecedores de insumos para os produtores de bovinos de corte; 19 b) Determinar como ocorrem as relações comerciais entre fornecedores de insumos e produtores; c) Avaliar através da análise de SWOT, quais as estratégias de mercado seriam mais adequadas para que os pecuaristas de corte obtenham maior competitividade. O estudo deste elo inicial da cadeia produtiva da bovinocultura de corte, fornecedores de insumos e produtores de bovinos de corte justificam-se tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Muito mais do que uma identificação das instituições que compõem este elo da cadeia, abre-se a perspectiva de investigação e análise das relações de mercado entre os mesmos, ou seja, além de entender os arranjos institucionais presentes, o trabalho permitirá uma melhor compreensão de como e em quais circunstâncias ocorrem as relações entre os fornecedores de insumos e os pecuaristas da bovinocultura de corte. O gerenciamento da cadeia de suprimentos é de vital importância para as empresas produtoras da carne bovina. As mudanças nas condições de mercado e competitividade internacional estão englobadas em uma dinâmica constante, onde os custos de produção, cada vez mais instáveis, requerem um melhor planejamento estratégico e interação com os fornecedores. Outro ponto a ser destacado é a recente mudança na legislação ambiental, onde segundo Brasil (2012), estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de preservação permanente e as áreas de reserva legal, desta forma, alterando as dimensões territoriais disponíveis para a exploração da atividade pecuária, e com isso a necessidade de intensificar a lotação das pastagens ou sistemas produtivos, reflexo este que também é corroborado pelo avanço da agricultura sobre as áreas de pastagens no Estado de Mato Grosso. Do ponto de vista teórico, a investigação conjunta dos elementos permite a reunião destes conceitos focalizando o objetivo principal das organizações que é o planejamento estratégico voltado para o alcance da vantagem competitiva. Esta visão integrada da realidade pode servir de base para a elaboração de trabalhos futuros. No caso da bovinocultura pode-se usar como exemplo o próprio processo produtivo que, apesar de uma grande complexidade técnica, necessita de planejamento e alocação correta de insumos para que se obtenha um produto de alta qualidade, com baixo custo de 20 produção, e um tempo menor de produção, para serem disponibilizados às indústrias frigoríficas e ao mercado consumidor. No presente estudo, procura-se identificar as práticas de relacionamento entre fornecedores de insumos e produtores de bovinos de corte no estado de Mato Grosso. Além disso, se avaliam as possibilidades de redução dos custos e o impacto destas práticas de relacionamento de mercado sobre a forma de orientação da cadeia de suprimentos e o desempenho dos pecuaristas e seus fornecedores. Não obstante, este trabalho está estruturado em capítulos, com o objetivo de sistematizar e otimizar o raciocínio lógico em torno de um debate construtivo para o desenvolvimento sustentável desta cadeia produtiva. No primeiro capitulo tem-se a caracterização da cadeia produtiva da bovinocultura de corte, bem como o sistema agroindustrial em que está inserida, no estado de Mato Grosso. No segundo capítulo tem-se uma revisão bibliográfica sobre tópicos relevantes na administração e gestão econômica da atividade pecuária, além de se evidenciarem possíveis estratégias para os diferentes ambientes regionais. Já no terceiro capítulo, será determinada a metodologia de como serão coletadas e analisadas as informações que servem de base para as discussões do capítulo posterior. No último capítulo apresentam-se os resultados, análises e discussões das informações obtidas na pesquisa, bem como correlacionam-se as mesmas com dados de outras pesquisas realizadas dentro desta temática. Por fim, têm-se as conclusões denotando a percepção crítica em torno da temática trabalhada e as sugestões, do ponto de vista organizacional, para incremento e colaboração no desenvolvimento da cadeia produtiva. 21 1. A PECUÁRIA DE CORTE Segundo Batalha et al. (2011), o Sistema Agroindustrial (SAI) pode ser considerado como o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoitos, massas etc.) ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma matéria-prima agropecuária ou produto final específico. Ainda segundo Batalha et al. (2011), o conceito de Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA), ao contrário do complexo agroindustrial (que tem como ponto de partida determinada matéria-prima de base), pode ser definida a partir da identificação de determinado produto final, e posteriormente a identificação dos atores que são responsáveis pelas várias operações técnicas, comerciais e logísticas. Os atores econômicos, dentro de uma cadeia de produção, irão posicionar-se de forma a obter o máximo de margens de lucro em suas atividades, ao mesmo tempo em que tentam apropriar-se das margens dos outros atores presentes. Este jogo representa o principal fundamento da estratégia industrial. Assim, a definição de uma estratégia em face da concorrência tem por objetivo posicionar a firma na melhor situação possível para se defender contra as forças da concorrência ou transformá-las a seu favor (BATALHA, ET AL., 2011). 1.1. A pecuária de corte no Mundo, no Brasil e em Mato Grosso Segundo Vasconcelos & Garcia (2008), um dos precursores da teoria econômica clássica, Thomas Malthus (1766-1834), foi o primeiro economista a sistematizar uma teoria geral sobre a população. Ao assinalar que o crescimento da população dependia rigidamente da oferta de alimentos, Malthus deu apoio à teoria dos salários de subsistência. Para Malthus, a causa de todos os males da sociedade residia no excesso populacional: enquanto a população crescia em progressão geométrica, a produção de alimentos seguia em progressão aritmética. Assim, o potencial de crescimento da população excederia em muito o potencial da terra na produção de alimentos. Desta forma, indo de encontro à atual situação mundial, onde temos um grande excedente populacional se comparado à produção de alimentos. Um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta hoje é a problemática da fome que afeta aproximadamente 920 milhões de pessoas. Do ponto de vista estatístico, uma em cada seis pessoas está nesta situação dramática e degradante. Simultaneamente, o quadro 22 nutricional é desolador, causando sofrimento, patologias e mortes nos grupos sociais mais vulneráveis. A título de exemplo, estima-se que uma criançamorre de fome e subnutrição a cada 5 segundos (FUNDAÇÃO MATO GROSSO, 2011). Projeções da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que a produção alimentar no mundo deve crescer em 70% para garantir segurança alimentar a uma população estimada em nove bilhões em 2050. Esse crescimento deve resultar mais de um salto de produtividade e não propriamente da expansão das áreas de cultivo, como aconteceu no passado (FUNDAÇÃO MATO GROSSO, 2011). O desenvolvimento do setor pecuário responde a uma série de fatores que induzem mudanças nos sistemas de produção. Em escala mundial, o mais importante desses fatores é a crescente demanda por alimentos de origem animal. O consumo global de carne e de leite tem aumentado rapidamente desde o início da década de 1980. Os países em desenvolvimento são responsáveis por boa parte desse crescimento. A influência que o poder aquisitivo exerce sobre os hábitos de consumo é maior em populações de baixa e de média renda. A urbanização é outro fator que contribui para as mudanças no setor pecuário. Também há modificações qualitativas como no estilo de vida e nas tendências alimentares gerais, o que favorece o consumo de alimentos processados e pré-preparados. O fato mais recente é o surgimento (sobretudo em países mais ricos) de um número significativo de consumidores cujas decisões de compra são influenciadas por preocupações relativas à saúde, ao meio ambiente, à ética, ao bem-estar animal e ao desenvolvimento social (FAO, 2010). Ainda segundo FAO (2010), alguns sistemas de produção se destacam como resposta do setor pecuário, entre eles: sistemas de produção sem terra, sistema de produção baseados em pastagens, e sistemas mistos de exploração agropecuária. Os sistemas de produção sem terra surgem com o crescimento da produção industrializada de larga escala em muitas partes do mundo em desenvolvimento como sendo a tendência economicamente mais significativa da pecuária mundial. O processo de industrialização abrange intensificação, aumento de escala e concentração geográfica e social da produção. Tem como foco a maximização da produção de um produto específico. Os sistemas baseados em pastagens são encontrados em todas as regiões e zonas agroecológicas do mundo – principalmente em lugares onde é difícil ou impossível o crescimento dos cultivos agrícolas. Entre eles estão os sistema tradicionais de criação em áreas secas, frias e montanhosas; grandes propriedades onde se pratica a criação extensiva; e os sistemas com alto nível de insumos praticados em áreas de clima temperado de países 23 desenvolvidos. Os sistemas mistos de exploração agropecuária (com cultivos e produção animal na mesma propriedade) predominam nas pequenas propriedades de todos os países em desenvolvimento. Nesses sistemas, os animais são utilizados em múltiplos propósitos, sendo que um deles é o fornecimento de insumos para os cultivos agrícolas. Segundo FAO (2013), com relação à situação da alimentação e da agricultura mundial, existem cerca de 1.400 milhões de cabeças de gado no mundo, onde apesar da cultura do arroz ser responsável pela principal fonte de alimentação da metade da população mundial, a carne representa papel fundamental no fornecimento de proteína animal, disponibilizando anualmente cerca de 42 quilogramas por habitante. O Brasil é um país de características continentais. Seu território, de 8,5 milhões de km², é dividido em cinco grandes regiões estruturadas em 26 estados e o Distrito Federal. Com 47,8% da área total da América do Sul, figura como o quinto maior país do mundo, atrás da Rússia, Canadá, Estados Unidos e China. Sua fronteira seca, com 10 países do continente, é de 16,9 mil km, e sua costa abrange 7,5 mil km (FIESP, 2008). Segundo a Fundação Mato Grosso (2011), o Brasil não só esta entre as maiores economias mundiais, como também é atualmente um dos maiores produtores e exportadores de grãos, de carne bovina, suína e aves, ovos e outros alimentos. Possui ainda um dos maiores contingentes da biodiversidade existentes no planeta. Tem uma rede institucional (publica e privada) que favorece a pesquisa agrícola e a transferência de tecnologia, resgatou o tema da segurança alimentar como uma prioridade, e tornou o direito a alimentação adequada um direito constitucional. O Brasil tem, desse modo, potencial para contribuir em duas frentes distintas e complementares: a primeira, através da produção direta dentro do território Brasileiro; e, a segunda, levando a experiência brasileira no campo tecnológico e na viabilização de cadeias produtivas para outros continentes, quer na África, na Ásia, ou em alguns países mais carentes da América Latina. O cenário da produção pecuária brasileira foi pouco favorável no ano de 2012. A atividade passou por aumentos nos custos dos principais insumos de produção, tais como produtos veterinários, e dificuldades de obtenção de milho e soja, importantes componentes da ração animal, sobretudo para avicultura e suinocultura. Os problemas envolveram a escassez de milho e soja, passando por dificuldades logísticas de distribuição. Os problemas climáticos tiveram parcela significativa de influência, devendo-se ressaltar a seca que afetou o Norte e o Nordeste do País. A seca prolongada resultou na redução de muitos plantéis, 24 sobretudo o de bovinos, causando impactos sobre a produção e produtividade de leite (IBGE, 2012). O efetivo de bovinos foi de 211,279 milhões de cabeças no ano de 2012, variação de - 0,7% sobre 2011. O efetivo brasileiro, segundo os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture - USDA), ocupava a segunda posição no ranking mundial, ficando atrás somente da Índia. Neste país, embora tenha significativa importância, a criação de bovinos não se dá de forma comercial como ocorre no Brasil. Na sequência destacam-se os efetivos da China, dos Estados Unidos da América e da União Europeia. O Brasil ocupa também a segunda posição mundial na produção de carne bovina, sendo os Estados Unidos o maior produtor (USDA, 2013). Segundo o IBGE (2012), no Centro-Oeste do país, o efetivo de bovinos caiu 0,4% no comparativo 2012 e 2011, sendo sensíveis as variações negativas ocorridas em Mato Grosso (-1,8%) e Mato Grosso do Sul (-0,3%). Goiás, por sua vez, registrou aumento de 1,4% no efetivo de bovinos, assim como o Distrito Federal, 2,1%. Os maiores efetivos de bovinos encontravam-se nos Estados de Mato Grosso (13,6%), Minas Gerais (11,3%), Goiás (10,4%), Mato Grosso do Sul (10,2%) e Pará (8,8%). Suas participações conjuntas somavam 54,4% do efetivo nacional e mantiveram-se praticamente estáveis relativamente a 2011. Em termos municipais, os mais significativos efetivos foram localizados em São Félix do Xingu (PA), Corumbá (MS) e Ribas do Rio Pardo (MS), somando 2,4% de participação nacional. A pesquisa da produção pecuária municipal, referente ao ano de 2012, destaca ainda o ganho de importância no cenário da pecuária brasileira do município Novo Repartimento (PA), ocupando em 2012 a oitava posição e que em 2011 ocupava a 18º posição. Dentre os vinte municípios com os maiores efetivos, seis estavam situados no Mato Grosso, seis no Mato Grosso do Sul, seis no Pará, um em Goiás e um em Rondônia (IBGE, 2012). O Brasil tem condições ideais para produzir carne no padrão dos mercados mais exigentes, atendendo as exigências sanitárias, em um sistema economicamente viável, ecologicamente correto, garantindo a preservação do meio ambiente para as gerações futuras, além de oferecer condições ideais de bem estar aos animais, exigências estas que são solicitadas e preocupa o mercado compradora todo o momento. A pecuária brasileira, em seus diversos segmentos, vem apresentando notório avanço técnico no seu desempenho ano a ano, onde podemos observar a participação evidente no mercado internacional através da liderança absoluta na exportação de carne bovina. O Brasil vem se afirmando, frente aos consumidores, o indiscutível acerto em sua estrutura de pesquisa 25 e de manejo, que permite obter bons resultados para todos os agentes envolvidos no sistema produtivo. Mato Grosso teve sua origem no período colonial, com a descoberta das minas de Cuiabá. Inicialmente pertencia à capitania de São Paulo, mas depois houve um desmembramento e foi criada a capitania de Mato Grosso. Já na categoria de Estado foi dividido por duas vezes, no século XX, pelo Governo Federal e deu origem aos estados de Rondônia e Mato Grosso do Sul, mas mesmo assim continuou com uma vasta extensão territorial. Localizado na região Centro-Oeste do Brasil, é um dos maiores estados brasileiros em extensão territorial (SEPLAN/MT, 2012). O Estado de Mato Grosso, com capital em Cuiabá, é o terceiro estado brasileiro em extensão territorial, com uma área de 901.420, 70 km², representando 10,55% do território nacional. Possui 3.035.122 habitantes, sendo 2.482.801 na área urbana e 552.321 na área rural, com uma densidade populacional de 3,37 habitantes por km², distribuídos em 141 municípios (IBGE, 2010). Possui ainda delimitações nacionais e internacionais, limitando-se ao norte com Pará e Amazonas, ao sul, com Mato Grosso do Sul, ao leste, com Goiás e Tocantins, e ao oeste, com o Estado de Rondônia e com a República da Bolívia. O estado de Mato Grosso destaca-se pela diversidade de recursos renováveis, sendo o único estado brasileiro a possuir os três ecossistemas: a Floresta Amazônica, O Cerrado e o Pantanal, conforme a Figura 1. O bioma Amazônia abrange uma área de 49.053.882,8 hectares na porção norte de Mato Grosso. Nesse espaço geográfico, equivalente a 54,1% do território mato-grossense, vivem, aproximadamente, 1,0 milhão de pessoas. Este bioma, no sentido leste-oeste, estende- se desde os municípios de Canarana, Ribeirão Cascalheira, Bom Jesus do Araguaia, Alto Boa Vista, Canabrava do Norte, Santa Terezinha e Vila Rica até o extremo oeste, limite com o estado de Rondônia e até o sudoeste, limite com a Bolívia. A vegetação é constituída por grandes porções de florestas: ombrófila e estacional, ora em blocos contínuos, ora entremeados por porções de cerrados e campinaranas (SEPLAN/MT, 2012). 26 Figura 1: Distribuição espacial dos biomas no território do Estado de Mato Grosso no ano de 2012. Fonte: SEPLAN/MT (2012). O bioma Cerrado ocupa uma área de 36.326.680,8 de hectares e estende-se desde a fronteira com os estados de Tocantins e Goiás até com extremo oeste, limite com o estado de Rondônia. Nessa área que corresponde a 40,06% do território mato-grossense vivem, aproximadamente, 2,0 milhões de pessoas. As florestas estacionais e, principalmente, as savânicas que são as formações características deste Bioma. As savanas são constituídas por diferentes fitofisionomias que vão desde a mais aberta, com característica de campo (Campo Cerrado) até a mais fechada, com aspectos florestais (Cerradão). A fisionomia vegetal 27 predominante é constituída por bosques abertos, com árvores contorcidas e grossas de pequena altura (entre 8 e 12m), um estrato arbustivo e outro herbáceo, onde sobressaem as gramíneas e leguminosas (SEPLAN/MT, 2012). O Pantanal é o menor bioma de Mato Grosso. Ocupa uma área, na porção sul do Estado, de 4.938.865,4 hectares que equivale a 5,45% da área total de Mato Grosso, com uma população pouco acima de 100 mil habitantes. Situado entre o cerrado e o chaco boliviano, o Pantanal constitui um ambiente singular associado aos cursos de água e aos ciclos de cheias e vazantes que formam varjões, lagoas e banhados. A planície pantaneira é considerada a maior área alagável do mundo (SEPLAN/MT, 2012). A exploração da pecuária em Mato Grosso iniciou-se em 1737, com a chegada dos primeiros rebanhos de gado, que se aclimataram sem nenhum problema à paisagem natural mato-grossense, trazidos por Pinho Azevedo na expedição realizada com o fim de abrir uma estrada ligando Cuiabá a Goiás (BORGES, 2010). O bovino favorece o produtor por ser um animal extremamente sofisticado, que tem a capacidade de produzir um produto nobre, como a carne vermelha e o leite, a partir de matérias-primas de custos muito baixos, como, por exemplo, o capim e os resíduos agrícolas e agroindustriais. A pecuária de corte é um dos alicerces da economia neste estado, com um rebanho em torno de 29 milhões de cabeças de gado, distribuídos em 93.799 propriedades, que fazem de Mato Grosso um dos estados de posição de destaque nacional quanto ao efetivo do rebanho bovino e exportações de carne bovina (SEPLAN/MT, 2012). A pecuária de corte é uma atividade sólida, e quando bem planejada traz poucos riscos de insucesso, embora possua oscilações nos preços, acaba proporcionando grande liquidez ao pecuarista. Uma grande vantagem desta atividade é que o maior capital imobilizado se encontra na forma de animais 1 , que quando necessário por à venda, estando dentro do preço de mercado, a operação se realiza rapidamente. Outras atividades como a agricultura e as indústrias, o maior valor imobilizado está aplicado em máquinas e equipamentos os quais perdem rapidamente seus valores comerciais, com poucas possibilidades de serem comercializados. Na pecuária, trabalha-se com uma menor necessidade de mão de obra, o que diminui os custos operacionais. 1 Como consequência da grande valorização das terras mato-grossenses, tornou-se comum o arrendamento de pastagens ou de propriedades para a exploração da atividade pecuária. Se considerar o custo do hectare versus o tempo gasto para terminação dos animais, este custo representa em média 23% do faturamento obtido com a venda de cada animal. 28 No estado de Mato Grosso, a vacinação obrigatória do rebanho bovino e bubalino contra a febre aftosa, anualmente nos meses de maio e novembro, possui fundamental importância no controle sanitário do rebanho, contudo fornece dados importantes para o monitoramento quantitativo do efetivo de animais, uma vez que a vacinação é de caráter obrigatório e passível de multa. A campanha de vacinação do mês de novembro, também conhecida como de “mamando a caducando”, expressão popular no meio pecuário para se referir a todas as idades de bovinos e bubalinos, serve como um dos marcos para o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (INDEA/MT), monitorar e fiscalizar o efetivo do rebanho mato- grossense. Esta cadeia produtiva possui dentro de seu ambiente organizacional um importante agente, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT), cuja qual se objetiva na atuação em prol da classe de produtores, na defesa do interesse e sustentabilidade da atividade pecuária, através da promoção de cursos e palestras aos associados, articulações política e econômica junto aos órgãos do governo e outras entidades, e projetos que visam promover o desenvolvimento desta cadeia produtiva. Para desenvolver suas atividades a Acrimat divide estrategicamente o estado de Mato Grosso em Regiões Polo, denominadas: Noroeste, Arinos, Norte, Nordeste, Médio Norte, Oeste, Centro-Sul, e Sudeste. Estas regiões são similares às subdivisões adotadas pelo INDEA/MT, porém se diferenciam na decomposição da macrorregião Noroeste, nas regiões polo Noroeste e Arinos, conforme demonstradona Figura 2. 29 Figura 2: Regiões Pólo do Estado de Mato Grosso sistematizada pela Acrimat no ano de 2012. Fonte: Acrimat (2012). Para tanto, o INDEA/MT subdivide estrategicamente o estado em Regiões ou também conhecida como Macrorregiões, são elas: Noroeste, Norte, Nordeste, Médio Norte, Oeste, Centro-Sul, e Sudeste. Estas macrorregiões são novamente subdivididas em porções menores denominadas Microrregiões, onde estas serão compostas pelos municípios correspondentes, geralmente caracterizadas em torno de um munícipios com maior infraestrutura (conforme demonstrado no Anexo II deste trabalho). Segundo os dados das campanhas de vacinação contra febre aftosa ocorridas anualmente no mês de novembro, o rebanho bovino mato-grossense teve uma fase de pleno crescimento no período de 1993 a 2005, chegando a um percentual de variação de 189%, em seguida no período de 2005 a 2008 houve uma fase de declínio, em torno de 3%, e no período de 2008 a 2011 volta a crescer, a uma taxa de 13%, porém de 2011 até a última campanha de 30 vacinação tem-se novamente um declínio do efetivo do rebanho bovino, variando percentualmente em torno de 3%, conforme demonstrado no Gráfico 1. Gráfico 1: Evolução do efetivo do rebanho bovino no estado de Mato Grosso no período de 1993 a 2013 (cabeças). Fonte: INDEA (2013). O monitoramento das áreas de pastagens, um dos projetos executados pela Acrimat, teve como finalidade a realização de uma análise temporal das áreas ocupadas com pastagem no estado de Mato Grosso, realizado através da utilização de técnicas de sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas, onde foi executado em duas etapas, inicialmente realizando um levantamento referente ao período compreendido entre o ano de 1996 a 2008, e em uma segunda etapa, atualizando a evolução destas áreas de pastagens nos anos de 2009, 2010 e 2011. Conforme o Gráfico 2, a evolução das áreas de pastagens no Estado de Mato Grosso no período de 1996 a 2011 pode ser dividido em três momentos distintos: Crescimento, Manutenção, e Declínio. 9.000 10.000 11.000 12.000 13.000 14.000 15.000 16.000 17.000 18.000 19.000 20.000 21.000 22.000 23.000 24.000 25.000 26.000 27.000 28.000 29.000 30.000 M ilh ar e s 31 Gráfico 2: Evolução das áreas de pastagens no Estado de Mato Grosso no período de 1996 a 2011 (hectares). Fonte: Acrimat (2012). Na primeira fase, compreendida de 1996 até o ano de 2005, as áreas de pastejo estavam em acentuado processo de expansão, apresentando um percentual de crescimento de 18,16% neste período, conforme podemos observar nas figuras Figura 3 e Figura 4. 21.500 22.000 22.500 23.000 23.500 24.000 24.500 25.000 25.500 26.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 M ilh ar e s 32 Figura 3: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 1997 (24,44%). Fonte: Acrimat (2012). Nesta fase, observa-se que este crescimento esteve mais forte nas regiões Noroeste, Norte, Nordeste e Arinos, contudo tem-se também um pequeno crescimento nas regiões Oeste, Centro-Sul e Sudeste, e por fim uma diminuição das áreas de pastagens na região do Médio Norte. Esse crescimento pode ser evidenciado pela ocupação das “terras nuas” (fruto da exploração madeireira), pelas pastagens plantadas e consequente exploração pecuária, entretanto, a diminuição das pastagens da região médio norte, se justifica pelo início do processo de substituição das áreas de pastagens pelas lavouras, principalmente ligadas as culturas de milho e soja. Áreas de Pastagens Outras Áreas 33 Figura 4: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 2002 (26,59%). Fonte: Acrimat (2012). Segundo a Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral - SEPLAN/MT (2012), a capacidade potencial da atividade madeireira no Estado, em especial, nas regiões norte e noroeste do Estado, no início da primeira década do século XXI, 52% do território mato- grossense estava constituído pela floresta amazônica, com possibilidades de aproveitamento comercial. Deste total, 15% eram explorados comercialmente. O Estado possuía, também, 15 mil hectares de reflorestamento para serrarias e laminações (mogno, pinho e teca) e, aproximadamente, 15 mil hectares de eucalipto para fins energéticos. No período compreendido entre os anos de 2005 a 2008, conforme demonstrado anteriormente no Gráfico 2, a curva de crescimento das áreas de pastagens, até então observada na fase anterior, tende a se estabilizar, caracterizando neste período como uma fase de manutenção destas áreas de pastagens, onde a variação percentual ficou em torto de 0,36%, Áreas de Pastagens Outras Áreas 34 desta forma não apresentando aumento ou perdas significativas que pudessem influenciar na cadeia produtiva da pecuária de corte. Figura 5: Percentual de ocupação das áreas de pastagens em relação à área total do estado de Mato Grosso no ano de 2011 (27,58%). Fonte: Acrimat (2012). Na fase de declínio, compreendida no período de 2008 a 2011, as áreas de pastagens no estado de Mato Grosso reduziram a uma taxa percentual negativa de 3,35%. Nesta fase, conforme a Figura 5, o processo de crescimento das áreas de pastagens nas regiões noroeste, norte, nordeste, e arinos continua intenso, entretanto a região oeste que vinha aumentando suas áreas de pastagens passa a apresentar redução nesta fase, assim como a região do médio norte que em todas as fases apresentou diminuição. Porém, percebe-se um discreto crescimento nas áreas de pastagens nas regiões centro-sul e sudeste, e na região nordeste praticamente manteve-se estável as suas pastagens, contudo houve uma mobilidade interna Áreas de Pastagens Outras Áreas 35 nesta região fazendo com que as áreas de pastagens se deslocassem mais para a porção norte desta região. Importante destacar que mesmo tendo estas áreas osciladas e mobilizadas entre as diversas regiões do estado de Mato Grosso, não necessariamente implica em dizer que houve redução ou aumento no efetivo do rebanho, pois devido a sua complexidade técnica e avanços tecnológicos dos diversos sistemas de produção observam-se diferentes comportamentos e estratégias adotadas pelos pecuaristas, principalmente quando se levam em consideração as variáveis presentes no ambiente externo de cada região. Esta dinâmica das pastagens é um fato de extrema importância quando se analisa do ponto de vista de elaboração de políticas e ações institucionais e organizacionais para nova readequação no ambiente produtivo. Um exemplo desta situação pode ser destacado nas regiões do médio norte e sudeste, onde conforme o aumento dos preços e da rentabilidade da agricultura ocorria, acabou pressionando os pecuaristas a transformarem suas pastagens em áreas de lavouras, principalmente destinadas às culturas do milho, soja e algodão, entretanto, ações desempenhadas pelos diversos agentes institucionais e organizacionais (Embrapa, Universidades, Fundações, Cooperativas, Associações e Governo), proporcionaram alternativas para os pecuaristas aperfeiçoarem as áreas através da intensificação da pecuária de corte através do confinamento baseado na utilização de resíduosagrícolas e agroindustriais. Segundo o INDEA-MT, para melhor dimensionamento e acompanhamento do rebanho bovino e bubalino no estado, o mesmo foi dividido estrategicamente em macrorregiões, microrregiões e seus 141 municípios, conforme a ANEXO II, apresentando ainda a totalização do rebanho bovino por município: Entretanto, embora o INDEA-MT e os demais órgãos estaduais utilizem a atual divisão territorial do estado como forma de análise e formação de políticas públicas, a ACRIMAT possui em sua estrutura de análise uma oitava região denominada “Arinos”, formada pelos municípios: Tabaporã, Brasnorte, Juara, Novo Horizonte do Norte, Porto dos Gaúchos. Contudo percebe-se ainda que o rebanho bovino mato-grossense no ano de 2013 se concentrou mais nas regiões norte do estado, onde se predomina o bioma amazônico, apresentando os seguintes percentuais por região: Norte (19,35%), Nordeste (16,91%), 36 Noroeste (15,82%), Oeste (15,45%), Sudeste (15,41%), Centro-Sul (14,44%), e Médio Norte (2,62%). Embora o acompanhamento e monitoramento destes importantes fatores de produção citados anteriormente, área de pastagens e rebanho bovino, um importante indicador de produtividade se origina da razão destes, originando a chamada Taxa de Lotação. Desta forma, a taxa de lotação pode ser compreendida como a quantidade de área disponibilizada para uma dada quantidade de animais por um determinado período de pastejo. Importante salientar que a taxa de lotação é também um indicador que influencia tanto tecnicamente no controle da disponibilidade de forragens, como o retorno econômico da atividade. Na página seguinte, conforme o Gráfico 3, podemos observar através da analise da evolução das áreas de pastagens no Estado de Mato Grosso, correlacionando com a evolução do numero de cabeças do rebanho bovino, o comportamento da taxa de lotação das pastagens. Em uma cadeia de produção que tenha os agentes situados dentro da porteira (pecuaristas) desempenhando incrementos ou reduções em suas taxa de lotação, pode-se concluir genericamente duas situações: maior eficiência à medida que se tem maior rebanho em menor área de pastejo, ou o contrário, onde seria menor a eficiência à medida que uma menor quantidade de rebanho bovino ocupe uma mesma área ou até mesmo uma área maior de pastejo. Neste âmbito, pode-se observar que no Estado de Mato Grosso, a taxa de lotação tem uma tendência de comportamento ascendente, ou seja, nos últimos 18 anos analisados predomina-se maior eficiência no uso dos fatores de produção (pastagens e rebanho), uma vez que a razão entre eles vem apresentando maior rebanho em um menor espaço. Esse comportamento ascendente da taxa de lotação pode ser explicado genericamente por dois fatos. O primeiro seria a substituição da atividade pecuária pela agricultura, principalmente pelas lavouras de soja e milho, onde tal fato justifica-se pela maior rentabilidade conferida ao produtor. O segundo fato, surge em decorrência da diminuição das áreas de pastagens e aumento do numero de animais do rebanho bovino, de tal maneira que os pecuaristas que permanecem na atividade, são pressionados à aquisição de pacotes tecnológicos que promovam com maior eficiência a preparação/terminação dos animais existentes nas propriedades, gerando receita, e também para que não esgote a capacidade produtiva do pasto, principalmente no período de seca. 37 Gráfico 3: Taxa de Lotação (cabeças/hectares) no período de 1996 a 2013. Fonte: Adaptado de INDEA e Acrimat (2014). 0,68 0,69 0,70 0,71 0,72 0,73 0,74 0,75 0,76 0,77 0,78 0,79 0,80 0,81 0,82 0,83 0,84 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89 0,90 0,91 0,92 0,93 0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00 1,01 1,02 1,03 1,04 1,05 1,06 1,07 1,08 1,09 1,10 1,11 1,12 1,13 1,14 1,15 1,16 1,17 1,18 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 Hectares (milhões) Bovinos (milhões) Cabeças/Hectares 38 Segundo uma pesquisa realizada por Vetor Pesquisas (2010), o perfil do pecuarista mato-grossense é composto por 92,3% por homens e 7,7% por mulheres, onde a faixa etária predominante esta entre 45 a 59 anos, representando 49,6% dos entrevistados. O nível de escolaridade pôde ser caracterizado como 30,2% para os que possuíam até o 1° grau completo, 27,8% para 2° grau completo, 28,2% para ensino superior completo, 13,7% para pós-graduação. A pesquisa aponta ainda que os estados de origem dos pecuaristas que criam gado de corte no estado, foram predominantemente: São Paulo (25%), Mato Grosso (21,8%), Paraná (19%), Minas Gerais (14,5%), e outros estados (19,7%). A maioria dos pecuaristas de gado de corte do estado afirmou acessar o correio eletrônico, 67,7% dos entrevistados. Quanto a atividade profissional exercida pelos pecuaristas, esta mesma pesquisa constatou que 34,7% dos produtores não exercem outra atividade profissional além da pecuária de corte. Dentre os pecuaristas que exercem outras atividades além da pecuária de corte, se destacaram as atividades profissionais de Comerciantes (16,9%) e Empresários (10,5%). Ainda segundo Vetor Pesquisas (2010), o perfil da propriedade rural voltada para a pecuária de corte, constatou que 76,6% das terras utilizadas são próprias, enquanto 6,5% são terras arrendadas, e 16,9% do rebanho ocupam terras próprias e arrendadas. Outro ponto observado foi a predominância no estado de pecuaristas que atuam na atividade há mais de duas décadas. Quanto maior o rebanho maior é a presença de criadores que atuam na atividade há mais de 20 anos. Dentre as dificuldades enfrentadas para a realização da atividade pecuária em Mato Grosso, os pecuaristas citaram com maior ênfase: o alto custo da produção, as dificuldades para a regularização ambiental rural, o preço da arroba do boi e a seca ou escassez de chuvas. Com respeito à raça, segundo Vetor Pesquisas (2010), o gado bovino da raça Nelore mostrou-se predominante nos rebanhos mato-grossenses, com a prevalência de 96,4%. Destacou-se também que em Mato Grosso, os rebanhos de gado de corte formados por 301 a 1.000 cabeças representaram 39,1%, e rebanhos de 1001 a 3000 cabeças, 29%, mais de 3001 cabeças, 19%, e rebanhos com até 300 cabeças, 12,9%. 1.2. Estratégias e modos de produção pecuária Produção é o processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. O conceito de produção não se refere apenas aos bens 39 físicos e materiais, mas também aos serviços, como transportes, atividades financeiras, comércio e outras atividades (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). No processo de produção, diferentes insumos ou fatores de produção são combinados, de forma a produzir o bem ou serviço final. As formas como esses insumos são combinados constituem os chamados processos ou métodos de produção, que podem ser intensivos em mão de obra (utilizam mais mão de obra em relação a outros insumos), intensivos em capital ou intensivos em terra (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). Insumos – às vezes chamados de fatores de produção – são os ingredientes utilizados em conjunto pela firma por meio da tecnologia de que dispõe para obter a produção (BROWNING e ZUPAN, 2004). Os insumos podem ser definidos em termos amplos ou estritos. Uma definição mais ampla deve classificar todosos insumos como trabalho, terreno, matéria-prima ou capital. Ao considerar algumas questões, entretanto, pode ser útil adotar subdivisões mais estritas entre as classificações mais amplas. Por exemplo, o insumo trabalho empregado por uma firma deve incluir engenheiros, contadores, programadores, secretárias e gerentes. As matérias-primas devem englobar energia elétrica, combustível e água. O insumo capital deve incluir edificações, caminhões robôs e linhas automatizadas (BROWNING e ZUPAN, 2004). Para qualquer bem, o estado existente da tecnologia determina, em ultima instância, a quantidade máxima de produto que a firma pode produzir com quantidades específicas de insumos. Por estado da tecnologia entendam-se as “receitas” técnicas ou organizacionais que dizem respeito às várias maneiras como um produto pode ser obtido. A função produção sintetiza as características da tecnologia existente. A função de produção é a relação entre os insumos e o produto: ela identifica o produto máximo que pode ser produzido por período de tempo por cada combinação específica de insumos (BROWNING e ZUPAN, 2004). A escolha do método ou processo de produção depende de sua eficiência. O conceito de eficiência pode ser enfocado do ponto de vista técnico ou tecnológico, ou do ponto de vista econômico (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). Um método é tecnicamente eficiente (eficiência técnica ou tecnológica) quando, comparado com outros métodos, utiliza menor quantidade de insumos para produzir uma quantidade equivalente do produto. A eficiência econômica está associada ao método de produção mais barato (isto é, os custos de produção são menores) relativamente a outros métodos, para produzir uma mesma quantidade do produto (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). 40 O empresário, ao decidir o que, como e quanto produzir, com base nas respostas do mercado consumidor, modificará a quantidade utilizada dos fatores, para com isso variar a quantidade produzida do produto. A função de produção é a relação que mostra a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade física utilizada dos fatores de produção em determinado período de tempo (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). Segundo Vasconcelos e Garcia (2008), os fatores de produção no curto e longo prazos podem ser classificados como fixos e variáveis. Fatores de produção variáveis são aqueles cujas quantidades utilizadas variam quando o volume de produção se altera. Por exemplo: quando aumenta a produção, são necessários mais trabalhadores e maior quantidade de matérias-primas. Fatores de produção fixos são aqueles cujas quantidades não mudam quando a quantidade do produto varia. Por exemplo: as instalações da empresa e a tecnologia, que são fatores que só são alterados no longo prazo. As fases de criação da pecuária de corte podem ser dividas em cria, recria e engorda. Os pecuaristas podem praticar uma única fase, duas fases, ou ainda as três fases de criação de um bovino, também conhecido como pecuária de ciclo completo. Genericamente podem-se classificar os sistemas de produção na pecuária sob três formas: Suplementação a Pasto (Extensivo), Semiconfinamentos (Semiextensivo), e Confinamentos (Intensivo). A suplementação a pasto pode ser entendida como o sistema produtivo onde o animal passará pelas fases de cria, recria e engorda sobre regime de pastejo e fornecimento de algum suplemento nutricional visando complementar a dieta alimentar oferecida pelo pasto. Neste sistema inicia-se com a suplementação mineral, e dependendo da condição técnica das pastagens e do objetivo do pecuarista podem-se utilizar diferentes formulações, passando a suplementações minerais proteicas e energéticas à medida que se alteram as formulações com inclusões de cereais e subprodutos agroindustriais. O semiconfinamento é uma técnica destinada à engorda, que se baseia na utilização do fornecimento de ração concentrada para os animais, no próprio pasto, fornecidas em cochos projetados para esta finalidade, em um determinado período de tempo. O período do semiconfinamento geralmente é de até 100 dias e os ganhos de pesos são variáveis, dependendo da quantidade e qualidade da forragem disponível, que varia à medida que aumenta a seca, e consequentemente a qualidade das pastagens. O confinamento se caracteriza como um sistema produtivo na pecuária de corte onde o animal é completamente privado do hábito de pastejo, contido em pequenas áreas cercadas, 41 recebendo toda a sua dieta sólida e hídrica em cochos apropriados e posicionados estrategicamente. No início, este sistema produtivo tinha como principal justificativa permitir o aproveitamento do diferencial de preços do boi gordo entre a safra e a entressafra. O confinamento hoje no Brasil é uma atividade que apresenta rentabilidade reduzida e as justificativas para a sua adoção não são mais somente de ordem econômica, pois é também encarado como alternativa estratégica para reduzir a lotação das pastagens na seca, constituir uma reserva de alimentos volumosos, aumentar a escala de produção da propriedade, etc. Entretanto, ressalta-se que o confinamento em Mato Grosso passou a ser uma atividade muito viável para os agricultores, considerando o grande volume de resíduos que as culturas de soja, algodão, milho e girassol oferecem, onde somente os ruminantes como os bovinos conseguem transformar estes subprodutos de preços altamente vantajosos em proteína animal de qualidade. 42 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Custos, lucro e retorno na pecuária de corte O objetivo básico de uma firma é a maximização de seus resultados quando da realização de sua atividade produtiva. Assim sendo, ela procurará sempre obter a máxima produção possível em face da utilização de certa combinação de fatores (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). De modo geral, definem-se custos como medidas monetárias dos sacrifícios com os quais a organização deve arcar, a fim de atingir seus objetivos. Contabilmente ou sob a ótica da visão da gestão, essa afirmação pode ser interpretada de diferentes modos. Preços correspondem à importância recebida pelas empresas em decorrência da oferta de seus produtos ou serviços, e deve ser suficiente para cobrir todos os custos incorridos e ainda fornecer um lucro à empresa. Segundo Assef (2005), salvo raríssimas situações, quem forma este preço é o mercado em que ele se insere e, para que não fique alijado da competição, deve conhecer perfeitamente as regras de participação. Isto não quer dizer que sua empresa não possa definir preços diferenciados, em função de sua maior especialização, qualificação e percepção do consumidor de que seu produto ou atendimento são especiais. A volatilidade dos preços agrícolas é uma constante neste importante setor da economia mundial. Sendo a produção rural uma atividade dependente das condições climáticas, é compreensível que existam períodos de menor oferta, em função de secas prologadas, encarecendo os alimentos. E quando tudo ocorre bem, os estoques aumentam, perdendo o valor (FUNDAÇÃO MATO GROSSO, 2011). A otimização dos resultados da firma poderá ser conseguida quando for possível alcançar um dos dois objetivos seguintes: maximizar a produção para um dado custo total; ou minimizar o custo total para um dado nível de produção (VASCONCELOS e GARCIA, 2008). Segundo Birley e Muzyka (2001), a viabilidade dos negócios dependerá de como você pretende se organizar, sendo que para isso dependerá de questões como suas capacidades, disponibilidade de fornecedores, qualidade e financiamento, mas eventualmente ela dependerá da sua análise financeira. Colocado de forma simples, é preciso conhecer a resposta das questões: