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CAPÍTULO VIII SEGMENTO DE PRODUÇÃO Objetiva-se, neste capítulo, contextualizar uma discussão acerca dos direcionadores avaliados na pesquisa, os quais possibilitam retratar com clareza o desempenho do segmento de produção da cadeia produtiva de bovinos de corte do Estado de Mato Grosso. Para tanto, são usados os seguintes direcionadores: tecnologia, insumos, relações de mercado, estrutura de mercado, gestão e ambiente institucional. É importante, inicialmente, uma caracterização dos sistemas produtivos de bovinos de corte, com vistas ao melhor entendimento das diferenças e especificidades das regiões mato-grossenses em análise. 8.1. Caracterização dos sistemas produtivos Em face da ampla extensão de área e da grande diversidade agroecológica no Brasil, é possível a coexistência de diferentes tipos de sistema de produção de gado de corte; sistemas estes que variam desde o uso de baixa tecnologia até o de alta tecnologia. Assim, a atividade de pecuária de corte ocorre Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 213 sob variadas condições tecnológicas, agroecológicas, culturais e socioeconômicas, apresentando, dessa forma, variações nos indicadores técnicos e econômicos nas diferentes regiões produtoras (AMARAL, 2000). Os diferentes sistemas de produção resultam das distintas formas de combinar os recursos genéticos (raças, tipos etc.), os recursos ambientais e socioeconômicos disponíveis, associados ainda às práticas de manejo utilizadas e das possíveis interações entre estes. Os sistemas de produção mais eficientes são, em geral, aqueles que aperfeiçoam os recursos genéticos, ambientais e socioeconômicos e as práticas de manejo em todo o processo de produção (BARBOSA, 2007). No Mato Grosso, a atividade de pecuária de corte detém, de modo similar, o comportamento observado no país, sistemas produtivos com diferentes níveis tecnológicos e, em conseqüência, indicadores técnicos e econômicos diferenciados. Esses sistemas encontram-se distribuídos nas distintas regiões do Estado, apresentando-se em maior intensidade em umas regiões e em menor grau em outras. Na tentativa de se conseguir melhor caracterização dos sistemas produtivos de bovinos de corte no Estado de Mato Grosso, verificou-se a necessidade de se usarem na análise cinco regiões previamente definidas e que apresentam particularidades similares, são elas: Pantanal, Oeste, Centro-Sul, Norte-Nordeste e Leste. A região do Pantanal mereceu avaliação à parte, em razão de suas especificidades no que se refere ao seu ecossistema. No Estado de Mato Grosso, a bovinocultura de corte é predominante nas regiões Norte-Noroeste (Juara, Juína e Alta Floresta); Sudoeste (Cáceres, Pontes e Lacerda, Porto Esperidião e Vila Bela da Santíssima Trindade); Leste (Barra do Garças e Paranatinga) e Nordeste (Vila Rica) (IMEA, 2007). O sistema de produção de bovino de corte constitui-se de distintas etapas de criação: cria (produção de bezerros), recria (cria de bezerros e novilhos) e engorda (terminação de animais para abate). Há, ainda, sistemas em que ocorre integração entre as fases de recria e engorda e, em alguns casos, a fase de recria Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 214 pode ser reduzida ou suprimida – programa de novilho precoce, e sistemas de ciclo completo – cria, recria e engorda. De acordo com a opinião dos entrevistados da pesquisa, na região do Pantanal mato-grossense há predominância das fases de cria e recria e, em reduzida intensidade, a de engorda. Essa última quando ocorre é em razão de fatores conjunturais de preço e oferta de pasto abundante, em regiões que em geral estão expostas a fortes inundações. Já na região Oeste (Cáceres), o ciclo completo predomina, ou seja, ocorrem as três fases de criação: cria, recria e engorda. Na região Centro-sul, verifica-se a forte presença das fases de recria e engorda em Tangará da Serra; cria e ciclo completo em Rondonópolis; cria e recria em Paranatinga e em menor intensidade o ciclo completo. Na região Norte-Nordeste do estado tem-se a predominância do ciclo completo. No entanto, há fortes evidências de crescimento da especialização em cria no Norte, cria ou recria em Juína e Cotriguaçu, e cria e recria em Juara. A adoção dos diferentes sistemas, em que o ciclo completo apresenta maior expressividade, é justificada pela disponibilidade de terra nas distintas regiões mato-grossenses. 8.1.1. Fases de produção da bovinocultura de corte Fase de cria Essa fase, de grande influência na eficiência produtiva dos animais, engloba do nascimento do(a) bezerro(a) ao desmame, podendo se estender esporadicamente até 12 meses. Constitui-se de um rebanho de reprodutores, vacas, novilhas de reposição e bezerros(as) em aleitamento, rebanho esse que não tem se beneficiado na mesma intensidade das tecnologias incorporadas ao processo produtivo comparativamente àqueles participantes da fase de recria e engorda. Em geral, essa fase ocorre em regime extensivo a pasto, com pastagens nativas ou cultivadas. Com vistas a aumentar a produtividade nesse período de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 215 criação, alguns produtores utilizam a suplementação com concentrado, em cocho privativo, para os bezerros em amamentação, manejo esse definido como creep feeding. Com esse manejo, os bezerros podem alcançar melhor vigor, ou seja, podem obter melhor ganho de peso até a desmama e redução nas exigências das mães no fornecimento de leite, e, em conseqüência, menor intervalo entre partos, dado que as mães não apresentam grande desgaste e não há comprometimento da fertilidade. Nas regiões mato-grossenses essa prática tem sido utilizada por um número reduzido de propriedades de gado de corte, sendo mais usual na pecuária leiteira. Na fase de cria, a suplementação protéica energética, essencial aos bovinos em período de pastagens ruins, é pouco utilizada nas regiões em análise. Tal comportamento tem acentuado as carências nutricionais dos animais, impedindo que a taxa de natalidade média do rebanho apresente a mesma evolução observada nas demais fases de produção. A fase de cria ocupa posição de destaque na bovinocultura de corte da área do Pantanal e do Cerrado mato- grossense (BARROS; VASQUEZ, 2004). Dos 138.183 km2 de área do Pantanal, 35% pertencem ao Mato Grosso, ou seja, 48.364 km2, e as regiões distintas que o constitui, segundo as características hidrológicas, solo e vegetação, são: Cáceres, Poconé e Barão de Melgaço, Santo Antônio de Leverger, Livramento e Itiquira (ABREU et al., 2001). A fase de cria no Pantanal é desenvolvida em sistema de produção extensivo, e o manejo empregado leva em consideração o período de enchente. A alimentação dos animais é proveniente quase que unicamente de pastagens nativas: capim-mimoso (Axonopus), Mesosetum loliforme e grama-do- caramdazal (Panicum laxum) (ABREU et al., 2001). Fase de recria A fase de recria abrange o período que vai da desmama até o início da reprodução da fêmea ou de engorda dos machos. Em geral, é explorada em áreas de terras de fertilidade média e alta. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 216 O animal, na fase de recria, é mantido por maior período de tempo no sistema, principalmente em se tratando do subsistema tradicional de produção. A recria pode perdurar por até 30 meses em animais abatidos com quatro anos de idade. Há na fase de recria maior direcionamento de tecnologias, de forma distinta da fase de cria, principalmente no tocante à melhoria da nutrição animal.Essa é uma fase de significativa importância para o produtor, em razão da presença da grande liquidez comercial, que, por sua vez, possibilita a adequação da lotação dos animais em períodos distintos no ano e,ou, eventual necessidade de formação de caixa na atividade. Em se tratando da região do Pantanal, segundo Abreu; Moraes; e Siedl (2001), a fase de recria ocorre basicamente para novilha de reposição. Fase de engorda A fase de engorda é aquela que termina o animal para abate. De modo similar à fase de recria, essa recebe maior aporte de tecnologia comparativamente à fase de cria. A fase de engorda pode ser realizada em regime de confinamento, semiconfinamento e extensivo (pasto), e esses são diferenciados segundo os níveis tecnológicos usados (LAZZARINI NETO; NEHMI FILHO, 1994). O sistema confinado é intensivo, em que os animais são limitados a pequeno espaço, recebem suplementação alimentar, concentrado (ração) e volumoso (silagem ou feno), sem pastejo. Segundo os entrevistados, no Estado de Mato Grosso, em regiões onde a agricultura de grãos é praticada de maneira intensiva, a disponibilidade de resíduos agrícolas permite o confinamento à base de Ração Total de maneira econômica, modalidade essa de uso crescente no Estado. O semiconfinamento, por sua vez, é um sistema em que a atividade de engorda acontece tanto a pasto quanto em confinamento. Ou seja, é fornecido nesse sistema somente concentrado em cochos disponibilizados em pastos, e o pastejo é livre. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 217 O sistema extensivo ou a pasto é aquele que o animal recebe somente sal e pasteja totalmente livre, em que o pasto é a única fonte de alimento para ele. Em um sistema tradicional, ou seja, em que a produção é desenvolvida em pastagens extensivas, o período de engorda é de seis a oito meses. O avanço na genética animal bem como o uso de minerais proteinados no sistema de confinamento, segundo Bonjour (2000), têm propiciado melhor desempenho dos bovinos, contribuindo sobremaneira para o crescimento no referido sistema. Fase de recria e engorda A integração das fases recria e engorda é usual em grande número de propriedades produtoras de bovinos de corte no Brasil e, no Estado de Mato Grosso, conforme citado anteriormente, é predominante em Tangará da Serra (região Centro-sul), sendo o aporte de novas tecnologias direcionadas a essa fase substancial. Dentre essas, pode-se citar o programa de produção de novilho precoce. Uma gama de programas de produção de novilho precoce tem sido implementada no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Novilho Precoce – ABNP (1988), 63,5% das 6.685 propriedades pertencentes ao programa encontram-se na região Centro-Oeste. No entanto, a participação hoje das propriedades de Mato Grosso no referido programa nacional é ínfima, segundo comentários emitidos pelos entrevistados, que complementam mencionando que o Estado já teve o seu Programa Estadual de Novilho Precoce, e esse foi extinto em virtude da má condução desse Programa. Há, entretanto, uma Associação Mato-grossense de Novilho Precoce em processo de inanição. Mesmo com o fim do Programa, a prática de comercializar novilho precoce tornou-se comum, sinalizando que o programa estadual atingiu o seu propósito. No caso de novilho precoce, o período de retenção pode ser reduzido para 10 a 12 meses. E essa fase pode ser suprimida em caso de produção de novilhos superprecoces, uma vez que o abate ocorre de 12 a 15 meses de idade (IEL/CNA/SEBRAE, 2000). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 218 Fase de cria, recria e engorda As fases de cria, recria e engorda, ou seja, a verticalização da produção, são realizadas por pouco mais da metade de produtores de pecuária de corte no país. Ressalta-se, no entanto, que o sistema dificilmente é puro (CEPEA, 2007). Esse tipo de sistema é predominante nas regiões Oeste, Norte/Nordeste e Centro-Sul do Estado de Mato Grosso. 8.2. Tecnologia O direcionador tecnologia, que revela o estado da arte da bovinocultura de corte de Mato Grosso, ou seja, os aspectos que englobam a tecnologia adotada, o manejo utilizado na produção e os índices zootécnicos são avaliados segundo os elementos ou subfatores: qualidade das pastagens, sistema de criação e manejo nutricional, genética do rebanho e sanidade do animal. As tecnologias utilizadas, adaptadas às condições vigentes nos sistema de produção, têm como objetivo o aumento produtivo dos rebanhos e, conseqüentemente, a rentabilidade da atividade. Essas tecnologias, associadas ao manejo na produção, interferem nos índices zootécnicos dos diferentes sistemas de produção. A melhoria da eficiência produtiva, um dos objetivos-alvo de qualquer pecuarista, deve perpassar por variáveis associadas às pastagens, suplementação alimentar em pasto, confinamento, potencial genético, além dos aspectos sanitários. 8.2.1. Adoção de pastagens cultivadas ou formadas As pastagens naturais e formadas constituem a forma mais prática e econômica de alimentar os bovinos. A área com pastagens formadas tem sido ampliada no Estado de Mato Grosso e é predominante em quase todas as regiões do Estado, excetuando a região do Pantanal, em razão das especificidades inerentes à região, ou seja, do Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 219 seu ecossistema. A justificativa para esse crescimento tem sido apontada em virtude de maiores produtividades e ganho de rendimento. Dentre os cultivares adaptados e mais produtivos encontram-se as braquiárias decumbens e humídicola e o braquiarão (Brachiária brizanta), e em menor uso, o mombaça, tanzânia e jaraguá. A ampliação de área com pastagens formadas é resultante da adoção de melhores técnicas de plantio, manejo adequado e do uso de sementes melhoradas. No Estado de Mato Grosso, de acordo com os entrevistados, o sistema de pastagens mais usado é o pastejo contínuo, também definido como o tradicional, enquanto a rotação de pastagens56 tem sido uma prática utilizada por poucos produtores. De modo similar à rotação de pastagens, o consórcio de gramíneas com leguminosas quase inexiste nas distintas regiões. Alguns testes têm sido realizados na região Centro-Sul, porém ocorrem em número muito reduzido de propriedades. Foi citada a existência de alguns casos de consórcios de gramíneas com estilosantes. Segundo Corrêa e Santos (2007), a boa formação de pastos é um dos fatores-chave para o sucesso de sistemas de produção de animal em pastagens, e que o custo de formação de novas áreas com pastagens é o dobro do de recuperação. Em quase todas as regiões do Estado, as pastagens encontram-se, de modo geral, em estado de degradação, e tal fato é resultante de uma atividade que vem se descapitalizando ao longo do tempo, com maior agravamento nos últimos anos. A recuperação das pastagens, quando ocorre, se dá por meio da interação entre culturas (grãos) e pastagens (integração – agricultura pecuária), e, nesse caso, os custos de formação da pastagem são reduzidos com a produção de grãos. A degradação da área de pastagens ocorre também devido ao aumento na taxa média de lotação de animal (UA/ha). Segundo Souza, Zen e Ponchio (2006), essa cresceu no Brasil, na região Centro-Oeste e no Mato Grosso do Sul, passando de 0,89, 0,85 e 0,95 em 1996 para 1,10, 1,12 e 1,14, em 2003, 56 Rotação de pastagens – o animal pastoreia uma forrageira por um a três dias e conduzido a outra área de pastagens, de modo a deixar a forrageira a recuperar suas raízes em um período de 20 a 36 dias. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado deMato Grosso 220 respectivamente. Já, no Estado de Mato Grosso, em 2005, essa taxa de lotação encontrava-se em torno de 1,15, 1,30, 1,35 e 0,2, nas regiões Leste (Barra do Garças), Norte (Alta Floresta), Sudoeste (Pontes Lacerda) e Poconé (Pantanal), respectivamente (FNP, 2006). A morte súbita das pastagens é outro fenômeno que se apresenta como ponto crítico no processo produtivo, afetando a rentabilidade da produção. A causa ainda não está bem definida; entretanto, tem sido indicado que essa está associada a áreas de altas variações de umidade de solo. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em seu diagnóstico acerca da referida situação, encontram-se entre as causas desse problema que hoje afeta o Brasil Central Pecuário a seca prolongada, a baixa fertilidade do solo, a falta de um manejo de manutenção adequado e, possivelmente, o ataque de cigarrinhas das pastagens em algumas regiões. Em se tratando do Estado de Mato Grosso, esse fenômeno foi citado como ocorrente nas distintas regiões e apontado como crescente, sendo ressaltada a necessidade urgente de maior estudo sobre o problema. 8.2.2. Alimentos suplementares, semiconfinamento e confinamento Na atividade de gado de corte na fase de recria, durante o período de seca, uma das alternativas utilizadas para suplementar a alimentação animal, em razão da escassez de pastagens, é o uso de misturas minerais proteinadas com adição de uréia e de suplementos proteinados enriquecidos com fontes energéticas. Esses suplementos incorporados, utilizados em quantidades adequadas, minimizam ou corrigem a deficiência nutricional das pastagens, elevando o consumo e a digestibilidade, contribuindo para um ganho de peso moderado do animal ou diminuição da perda de peso e, por conseguinte, propiciando redução na idade de abate e do primeiro parto. Em se tratando do sistema de semiconfinamento, é dado aos animais, na fase de engorda, no período de seca, maiores quantidades de suplemento Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 221 protéico-energético, em torno de 1% do peso vivo do animal. Esses animais, que permanecem em pastos, auferem ganho diário de 0,7 a 1,0 kg, e tem ainda a possibilidade de serem abatidos precocemente na entressafra. Já no sistema de confinamento, os animais são engordados em área restrita e recebem suplementação de dietas balanceadas a base de alimentos volumosos e concentrados, permitindo a engorda e o abate precoce destes. Nesse sistema, é possível engordar grande número de animais em pequena área. Quanto ao sistema de cria, pode-se dizer que os animais não recebem suplementação, e quando acontece, é em pequeno número, via adição de sal proteinado. Na região do Pantanal mato-grossense, o que se verifica é a ocorrência de sistema de criação a pasto (nativo e plantado), em maior proporção a pastagem nativa, suplementado com sal mineral. Já nas regiões Oeste, Leste e Centro-Sul constata-se, além da presença dominante de criação a pasto (pastagem formada) suplementado com sal mineral ao longo do ano, a suplementação com sal proteinado em determinadas propriedades em período de seca. O padrão da terra bem como a disponibilidade da mesma são fatores decisórios quanto ao sistema de criação definido pelos produtores. 8.2.3. Controle sanitário A clínica curativa tem sido preferida à profilática na pecuária de corte, em razão do tamanho do rebanho e do tipo de manejo. A criação a pasto dificulta a observação individual do animal comparativamente ao que se observa na pecuária leiteira. A movimentação de animais entre regiões tem sido variável de forte peso na maior disseminação de doenças entre os animais, principalmente a virótica. Uma das maneiras de controlar essas doenças é mediante a vacinação, ou seja, pela prevenção. O pecuarista hoje é obrigado a vacinar o seu plantel contra febre aftosa, brucelose, raiva bovina e carbúnculo sintomático. As duas últimas, apesar de não terem obrigatoriedade em alguns estados, são indispensáveis para se produzir em determinadas regiões (AFONSO, 2007). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 222 Um bom controle sanitário tem sido um dos quesitos necessários à ampliação da competitividade da bovinocultura de corte, e esse, por sua vez, está associado a um calendário profilático. Na bovinocultura de corte, as doenças e vacinas mais comuns são a febre aftosa, brucelose, tuberculose, raiva bovina, clostridiose, botulismo, leptospirose, salmonelose, pasteurelose, IBR, BVD, PI3 e BRSV, e o combate a ectoparasitas e endoparasitas (AFONSO, 2007). O controle das doenças dos animais tem sido uma preocupação constante no Estado de Mato Grosso, e a febre aftosa é a que estimula maiores atenções, dado que a sua presença em um estado ou região prejudica as exportações de carne in natura e, por conseguinte, contribui para redução da entrada de divisas no país. A febre aftosa, ainda não erradicada em algumas regiões do Brasil, voltou a ser detectada em regiões consideradas livre da doença, e o Mato Grosso foi uma das exceções. Esse Estado possui sistema de vigilância sanitário eficiente, e o seu território é todo coberto pelo Programa de Erradicação da Febre Aftosa. Segundo Estermann (2000), a febre aftosa foi a doença que teve o maior peso como barreira sanitária, constituindo-se em obstáculo às exportações brasileiras. A cisticercose é, dentre as zoonoses, a mais freqüente em todas as regiões do Brasil, seguida pela raiva bovina, que é também uma outra doença que tem causado sérios problemas em várias regiões. A vacinação contra essa zoonose é obrigatória em locais onde são encontrados focos da doença, devendo ser aplicada a todos os animais do rebanho anualmente. O carbúnculo sintomático, doença septicêmica, tem apresentado grande incidência no rebanho bovino. Seu controle tem sido mediante a vacinação em todos os animais da propriedade com idade inferior a 18 meses. As doenças viróticas IBR (diarréia viral bovina) e BVD (rinotraqueite infecciosa bovina) também requerem controle, assim como a brucelose e outras doenças que afetam a reprodução. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 223 Quanto à sanidade do rebanho no Estado de Mato Grosso, segundo os agentes-chave entrevistados, não há maiores problemas com relação às doenças e epidemias. A brucelose, na região Norte/Nordeste, foi citada como doença de maior impacto econômico, apesar de essa não oferecer maiores preocupações, sendo a vacina contra ela aplicada em fêmeas, em uma única dose. Indicações foram dadas ainda sobre problemas com o carbúnculo, clostridium e raiva. Na região oeste, inferências foram feitas acerca da presença da mosca de chifre, berne e carrapato. Salientado ainda que é obrigatório vacinar as fêmeas de 2-4 meses contra brucelose, dada a exigência do GTA (Guia de Transporte Animal). Já no pantanal, a brucelose, a raiva e o carbúnculo foram os principais problemas sanitários apontados. Nas demais regiões, nenhum problema sanitário de maior importância foi ressaltado. 8.2.4. Práticas de castração Os animais jovens não castrados apresentam maior potencial de ganho de peso e melhor eficiência na utilização de alimentos quando comparados aos castrados. Oferecerem, também, carne de boa qualidade se alimentados com ração balanceada e abatidos em idade precoce. No Estado de Mato Grosso, os bovinos, em sua maioria, são castrados nas fases de cria e recria; no entanto, é crescente a oferta para abate de animais não castrados (inteiros). O produtor opta, nesse último caso, por maior potencial de ganho de peso do bovino, em detrimento de maior preço, que poderia receber ao vender o animalcastrado. Em geral, o que ele deixa de ganhar atinge até 10% do preço do boi inteiro. Muitos criadores, para se beneficiarem do ganho de peso com animais inteiros, têm castrado o rebanho 30 a 40 dias antes do abate, e essa prática só é possível em animais com idade de 30 meses. Naqueles mais erados, essa prática não é recomendada pelo fato de a carcaça apresentar aspectos mais escuros, caracterizando-os como tourunos. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 224 8.2.5. Manejo reprodutivo Melhoramento genético Maior rentabilidade em um sistema produtivo de bovino de corte pode ser alcançada por meio do melhoramento genético dos animais. Entretanto, qualquer estratégia de mudança deve ter em vista os objetivos a serem alcançados, ou seja, deve atender à demanda em específico. O melhoramento genético dos animais, com vistas a aumentar a freqüência de combinações gênicas favoráveis a um conjunto de características relacionadas a um dado sistema de produção, tem como conseqüência o aumento da eficiência econômica. A constituição genética de um rebanho pode ser alterada primeiramente via seleção de animais, ou seja, pela escolha dos que serão os pais da próxima geração e, depois, mediante a introdução de características genéticas de raças diferentes. Nos programas de cruzamento deve-se levar em conta também a seleção dos animais, principalmente quando são utilizados animais mestiços para a reprodução. A seleção, no referido processo, deve ser feita considerando-se o mérito genético do animal. Os touros são avaliados com base na diferença esperada na progênie (DEP), ou seja, é a diferença esperada na média do desempenho das progênies futuras de um touro em relação à média das diferenças futuras das progênies de todos os touros que participam da mesma avaliação, quando todos são acasalados com vacas que tenham o mesmo potencial genético. Touro com DEP mais elevado para a característica que se deseja seria então o escolhido (IEL/CNA/SEBRAE, 2000, p. 219). Segundo entrevistados, o melhoramento genético de bovinos de corte ocorre no Estado de Mato Grosso em proporção reduzida. É uma atividade comum em determinadas propriedades especializadas na venda de animais para reprodução. Percebe-se, portanto, a necessidade de inclusão de touros Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 225 melhorados no rebanho, com vistas a ampliar a eficência de produção do rebanho e, em conseqüência, a maior rentabilidade. Inseminação artificial A inseminação artificial é uma técnica usada com o objetivo de se conseguir a melhoria da base genética do rebanho mediante a utilização de sêmen de reprodutores com elevada capacidade reprodutiva e com habilidade de transmitir características econômicas desejáveis. Citam-se como outras vantagens de seu uso o controle de doenças da esfera reprodutiva, a introdução de raças européias e disponibilidade de registros reprodutivos, essenciais para análise do desempenho produtivo (VALLE et al., 1998). A prática da inseminação artificial (IA) tem sido muito pouco utilizada no país, e, em Mato Grosso, é adotada por um número reduzido de propriedades, em que apenas 2,5% do rebanho do estado são inseminados. A grande dificuldade verificada na implementação dessa prática está associada ao manejo reprodutivo, que se torna mais difícil em propriedades com grande rebanho. A não adoção dessa prática constitui-se, portanto, em um gargalo para o segmento de produção. Portanto, são necessárias medidas que ampliem tal utilização. Estação de monta A adoção de uma estação de monta natural é uma das alternativas para viabilizar o controle sobre a atividade reprodutiva do rebanho, influenciando no manejo dos animais e, por conseguinte, na taxa de natalidade. O estabelecimento de uma estação de monta contribui para a melhoria da fertilidade e da produtividade do rebanho. A estação de monta possibilita que o nascimento dos animais concentre em determinado período do ano, ou seja, no início do período das chuvas, o que coincide com maior disponibilidade de alimentos para o rebanho, propiciando vantagens tanto econômicas quanto do manejo do rebanho. Com a utilização de Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 226 estação de monta, os bezerros apresentarão idades mais uniformes, permitindo a criação de lotes mais homogêneos destinados à engorda e, ou, venda. Outros benefícios oriundos da adoção da estação de monta, além da elevação da taxa de natalidade, são: a possibilidade de oferecer maior assistência aos bezerros recém-nascidos, melhor controle sanitário e aplicação de vacinas nos momentos adequados, reduzindo assim a taxa de mortalidade. Quanto ao tempo de duração de uma estação de monta, o período estabelecido é que seja de 60 a 90 dias para vacas adultas, não devendo ultrapassar 45 dias para novilhas, com vistas a atender tanto a melhor condição fisiológica dos animais quanto produtiva das forrageiras tropicais. No Estado de Mato Grosso, o período observado é de 90 a 120 dias para vacas adultas e de 60 a 90 dias para novilhas. A estação de monta, no entanto, é uma pratica realizada por pequeno número de produtores mato-grossenses, segundo os entrevistados. Assim, urge a necessidade de ações esclarecedoras e incentivadoras dos benefícios dessa prática, para aumentar a eficiência reprodutiva do rebanho. Cruzamento industrial e manejo alimentar A nutrição é um dos fatores que mais influencia o desempenho reprodutivo do animal, principalmente na fase de cria. Os níveis de proteína, energia, minerais e vitaminas devem atender às exigências nutricionais em todas as fases reprodutivas. O monitoramento do estado nutricional do animal, prática que complementa a estação de monta, tem crescido no Brasil de modo similar àquele observado nos países detentores de pecuária avançada. No Estado de Mato Grosso, segundo informações obtidas com os agentes-chave do setor de produção, essa prática é adotada em número reduzido de propriedades. O monitoramento corporal é uma prática muito útil no manejo reprodutivo, pelo fato de ele refletir o nível nutricional do animal em determinado momento, devendo ser realizado em períodos distintos: no parto, no Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 227 início e fim da estação de monta e na fase de desmama do bezerro (VALLE et al., 1998). Além do nível nutricional deficiente, a constituição genética do rebanho de corte, no Brasil e no Estado de Mato Grosso, é outro fator que afeta o desempenho produtivo dos animais. O rebanho brasileiro é constituído, em grande parte, por zebuínos (85%) e, em Mato Grosso, apresenta percentual superior a 90%. No caso de baixo nível nutricional, a amamentação nos zebuínos apresenta efeito contrário ao reinício precoce da atividade pós-parto, contribuindo para alongar o período de anestro (IEL/CNA/SEBRAE, 2000). No Brasil tem sido realizado cruzamento de raças européias de corte com as zebuínas (principalmente Nelore), visando alcançar melhor desenvolvimento ponderal dos animais em fase de crescimento e melhor desempenho reprodutivo das fêmeas (FAVARET FILHO; PAULA, 1997). O cruzamento entre indivíduos de raças diferentes, em que o touro é de raça pura, é realizado com o intuito de se conseguir maior eficiência na produção de carne e reduzir a idade do primeiro parto. No cruzamento, procura-se combinar as qualidades desejáveis das raças parentais, com o propósito de se obter uma progênie superior. É usual combinar as características da adaptabilidade das vacas zebu e o ganho de peso, precocidade sexual e de acabamento das raças taurinas européias. No BrasilCentral, tem-se observado cruzamento de raças Red Angus, Aberdeen Angus, Limousin, Simental e Canchin, entre outras raças utilizadas. A expansão dos cruzamentos tem sido inibida pela dificuldade de implantação de programas eficientes de inseminação artificial, devido a uma gama de fatores, dentre os quais citam-se a mão-de-obra não especializada, falta de controle da atividade reprodutiva do rebanho e o caráter extensivo da exploração. No Estado de Mato Grosso, segundo os entrevistados, atualmente pouco tem sido feito em termos do cruzamento industrial. Porém, esse ocorre a uma proporção maior do que a transferência de embrião e a inseminação artificial. Num passado recente, existia no estado um programa de incentivo ao uso do cruzamento industrial, e o insucesso desse, segundo entrevistados, deveu-se a Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 228 um manejo alimentar e sanitário não adequado aos animais originários desse cruzamento. Assim, é premente que ações sejam implementadas para aumentar e fortalecer a produção de animais oriundos dessa técnica, visando à ampliação da competitividade da cadeia de bovino de corte de Mato Grosso. Portanto, o papel a ser desempenhado pelos frigoríficos é fundamental, à medida que os animais cruzados têm potencial para produzir melhores carcaças e, em conseqüência, receber preços diferenciados. 8.2.6. Índices de produtividade A produtividade da bovinocultura de corte está associada diretamente aos índices zootécnicos, que mensuram a produtividade de um rebanho ou conjuntos de rebanhos. De acordo com informações obtidas nas entrevistas realizadas com os agentes-chave do setor da pecuária, os índices de produtividade do rebanho bovino do Estado de Mato Grosso apresentaram mudanças significativas nos últimos anos, sinalizando melhorias no nível tecnológico no sistema de produção. Os índices médios de produtividade indicados pelos agentes-chave da cadeia produtiva de bovino de corte de Mato Grosso podem ser visualizados na Tabela 8.1. Em geral, constata-se, excetuando a região do pantanal, certa homogeneidade na idade média do primeiro parto, na idade média de abate e no peso médio ao nascer, entre as distintas regiões do Estado. A mudança na idade de abate pode ser devido ao melhoramento do manejo nutricional, das pastagens, sanitário e genético do rebanho. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 229 Tabela 8.1 – Índices médios de produtividade da bovinocultura de corte de Mato Grosso – 2007 Índices Pantanal Oeste Centro-sul Norte-nordeste Leste Idade do primeiro parto (meses) 40 30 a 36 36 30 a 36 30 a 36 Intervalo entre partos (meses) 15 10 a 12 16 12 a 15 16 Idade média de abate (meses) 48 a 50 30 a 42 30 a 42 30 a 42 30 a 42 Peso médio de abate (@) 16 (M) e 13 (F) 15 (M) e 10 a 12 (F) 16 a 18 17 a 18 17 a 18 Taxa de desfrute (%) 15 20 20 20 a 22 22 Idade de desmama (meses) 10 8 a 9 7 a 8 7 a 8 7 a 10 Peso ao nascer (kg) 25 a 30 30 a 35 30 a 35 30 a 35 30 a 35 Taxa de mortalidade (%) 10 3 3 7 a 10 1 Fonte: Dados de pesquisa. Quanto ao intervalo de parto, esse compreende o período de gestação seguinte (geralmente apresenta média de 290 dias para as raças zebuínas e 282 dias para as européias) e o período de serviço (que vai do parto ao início da nova gestação), período esse em torno de 350 dias na média, segundo recomendações técnicas, ou seja, por meio de manejo reprodutivo adequado. Nas diferentes regiões do Estado de Mato Grosso o intervalo entre partos é, em média, de 420 dias, ou seja, 14 meses. Segundo IEL, CNA e SEBRAE (2000), o nível nutricional é um fator que afeta mais fortemente o desempenho reprodutivo da bovinocultura de corte, mas outros fatores contribuem para aumentar o intervalo do parto, entre eles citam-se: constituição genética do rebanho; e ocorrência de doenças ligadas à reprodução, manejo não adequado do rebanho etc. Um dos principais índices usados para avaliar a produtividade do rebanho é a taxa de desfrute, que expressa a relação entre o número total de animal abatido e o número total de animal no rebanho no ano anterior. Nas diferentes regiões mato-grossenses, verificou-se que essa taxa se encontra em um nível abaixo daquele considerado ideal. No Brasil, a taxa de desfrute está em torno de 22%, bem aquém da de outros países produtores como Estados Unidos, União Européia, Austrália e China, cujas taxas são de 37%, 32%, 41% e 31%, Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 230 respectivamente. No entanto, vale ressaltar que este índice pode ser melhorado caso haja redução na idade de abate e na do primeiro parto, por meio da adoção de boas técnicas de manejo. 8.3. Insumos Em se tratando do direcionador insumos, que compreende os meios utilizados pelo homem para produzir determinado produto, no caso em análise a carne bovina, cuja quantidade, freqüência e rendimento variam de acordo com o sistema de produção e o nível de tecnologia adotado, este mostrou pequena diferenciação entre as regiões analisadas. Os insumos definidos como de ação direta englobam os concentrados (protéicos e energéticos) usados na ração e os medicamentos (vermífugos, antibióticos, vacinas e carrapaticidas) veterinários. Constituem-se em insumos indiretos as sementes, os fertilizantes, os herbicidas e os corretivos empregados na produção de pastagens. O direcionador insumos foi avaliado segundo os subfatores: disponibilidade, qualidade e preço. Foi consenso, em todas as regiões estudadas, que os insumos se encontram disponíveis, e que a facilidade de comunicação tem contribuído para que cheguem no tempo e no local desejado pelo pecuarista. Foi ressaltado, ainda, por alguns entrevistados que essa facilidade está associada à disponibilidade de recursos. E, segundo fala de alguns deles: “Quem tem dinheiro compra”. No tocante ao subfator qualidade, foi observada, nas distintas regiões, homogeneidade na percepção dos pecuaristas quanto à qualidade dos insumos, fato esse que pode contribuir para ampliar a competitividade desse segmento e repercutir nos demais elos da referida cadeia. Por último, aborda-se o subfator preço de insumos. Verificam-se diferenças na percepção dos pecuaristas nas cinco regiões em análise. Primeiramente, foi constatado que em alguns regiões do estado (Norte/Nordeste e Leste) os preços dos insumos foram considerados elevados, em virtude do custo Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 231 do frete e,ou, localização, ou seja, o denominado efeito localização. Nas demais regiões, o preço não foi apontado nem como favorável nem desfavorável na produção, ou seja, foi definido como neutro. Segundo depoimento de alguns pecuaristas da região Norte-Nordeste há insatisfação geral com relação ao preço dos insumos. Uma vez que esses se encontram em região não habilitada para exportação para a União Européia, eles recebem preços menores por seus animais – o que impacta fortemente a receita da propriedade e pagam um preço relativamente maior pelos insumos (por causa dos custos com frete). É imperativo que alternativas sejam avaliadas de modo a eliminar esse problema caracterizado pelo descontentamento dos produtores. 8.4. Relações de mercado O direcionador relações de mercado engloba todas as variáveis que, por suas características, permeiam mais de um elo da cadeia produtiva. Por conseguinte, sua avaliação depende não apenas da observação do segmento em análise (no caso dessa seção, a produção de bovinos para corte), mas também dos elos anteriores e subseqüentes. Os elementos (subfatores) considerados como relevantesna composição deste direcionador foram: relação entre pecuaristas e frigoríficos, evolução da cotação e formação de preços, rastreabilidade, relação com fornecedores e grau de inadimplência. É importante considerar que, à exceção da formação de preços e rastreabilidade, não foram percebidas diferenças significativas entre as regiões analisadas. Conforme comentado, é fundamental que nas análises sejam consideradas as possíveis distinções de origem nos problemas detectados, para que a ações propostas tenham possibilidades reais de implantação; todavia, no caso das relações de mercado, observou-se que a maior parte dos entraves possui motivação e origem comuns. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 232 8.4.1. Relação entre pecuaristas e frigoríficos Na análise desse subfator, procurou-se considerar os elementos capazes de alterar, de forma imparcial, a relação entre os dois elos da cadeia: pecuaristas e frigoríficos. Na pesquisa, ficou claro que os elementos mais relevantes, nesse quesito, são: a pesagem dos animais nos frigoríficos, o processo de toalete e a falta dos procedimentos de tipificação/classificação dos animais. Historicamente, a relação entre pecuaristas e frigoríficos é marcada por grande tensão. De um lado, os pecuaristas se queixam da falta de transparência nos processos de pesagem, toalete e formação de preços; de outro, os frigoríficos afirmam que a grande heterogeneidade dos animais retrai as possibilidades de ampliação de mercados e de melhor remuneração. Naturalmente, como em qualquer embate entre agentes de uma mesma cadeia produtiva, há falácias e verdades em ambas as percepções. Todavia, ao que se pôde perceber ao longo da realização deste diagnóstico existem, de fato, espaços importantes para a melhoria da transparência nos procedimentos de pesagem e abate dos animais e, simultaneamente, é clara a ausência de padronização dos animais. Em relação à perspectiva dos pecuaristas, uma das ações mais efetivas até agora implantadas foi o Projeto PESEBEM. Essa proposta, segundo informações da própria Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO), tem como objetivo principal a implantação de um sistema informatizado de pesagem frigorífica que interaja com o módulo digital da balança de tendal da empresa Toledo com a função de coletar os dados de pesagem das carcaças bovinas, e assim administrar e gerenciar esses dados gerando relatórios de controle por lote, contendo os pesos individualizados com o total do lote em kilogramo e em arroba, com a finalidade de aferir as pesagens dos frigoríficos (http://www.famato.org.br/pesebem). A adesão do frigorífico e dos pecuaristas é voluntária, e a proposta consiste em instalar em linha, ao lado da balança do frigorífico, uma balança aferida e avalizada pela FAMATO, em parceria com os sindicatos locais; permitindo a imediata conferência do peso da carcaça (ver esquema apresentado na Figura 8.1). De início, a proposta envolvia a cobrança de R$ 1,00 do Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 233 pecuarista; todavia, a título de estímulo e reforço de parceria, em Mato Grosso, esse valor será custeado integralmente pelo FABOV. Fonte: Projeto PESEBEM-PR (2007). Figura 8.1 – Apresentação esquemática do funcionamento da balança do projeto PESEBEM. Atualmente, vários estados já aderiram à idéia, a exemplo do Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul. Em Mato Grosso, nove unidades frigoríficas já acataram a proposta. São elas57: • Frigorífico Arantes – unidade Pontes e Lacerda. • Frigorífico Friboi – unidades Araputanga, Barra do Garças, Cáceres e Pedra Preta. • Frigorífico Marfrig – unidades Paranatiga e Tangará da Serra. • Frigorífico Sadia – unidade Várzea Grande. • Frigorífico Mataboi – unidade Rondonópolis. É importante considerar, entretanto, que apesar das vantagens de transparência na pesagem e de se tratar de programa de apoio à antiga demanda dos produtores, a adesão dos pecuaristas ainda é baixa, mesmo levando-se em conta a facilidade de adesão e o custeio pelo FABOV. Essa constatação, confirmada pelos levantamentos regulares realizados pela FAMATO, preocupa 57 A itemização dos frigoríficos considera as informações obtidas até a finalização deste diagnóstico. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 234 seus coordenadores e sinaliza para a necessidade de entendimento de que esse movimento representa um importante avanço nas relações com os frigoríficos. É óbvio que há produtores mais conscientes e mobilizados, mas que ainda não conseguem servir, apenas com o seu exemplo, de agentes multiplicadores. Na percepção dos pecuaristas entrevistados, a adesão ao programa sinaliza, ao produtor, que a unidade frigorífica atua com idoneidade e abre espaço ao aprimoramento nas relações entre as partes. Por outro lado, a não- adesão, considerando a ausência de custos para a indústria, seria um indicativo senão da intenção de prejuízo, pelo menos da relativa indiferença aos problemas decorrentes das relações precárias entre os dois agentes: pecuaristas e frigoríficos. Segundo os produtores, ainda que se aceite o discurso de que por se tratar de propriedade privada, a decisão de aderir ao programa não possa sofrer pressão, há intenção de mobilizar-se em prol da preferência pelos frigoríficos vinculados ao PESEBEM. Embora se deva buscar a imparcialidade, de fato esse é um projeto que, ao facilitar o envolvimento entre as partes, minimiza problemas de relacionamento conhecidos e complexos. Já no ano de 1998, estudo realizado pelo BNDES indicava que a competitividade da cadeia da carne bovina depende crucialmente do estabelecimento de uma nova forma de coordenação, em que as relações de mercado desenvolvidas em moldes tradicionais sejam substituídas ou complementadas por aquelas mais cooperativas. Também podem ser citados muitos outros documentos (teses, relatórios, papers etc.) sobre o tema. Como exemplo tem-se o trabalho de Vinhollis (1999), que analisou as possibilidades de construção de alianças mercadológicas para os agentes pertencentes à cadeia da bovinocultura de corte; o estudo de Silva e Vasquez-Ortiz (2004), que analisa as alianças mercadológicas, especificamente para a região do Pantanal; a pesquisa de Vieira et al. (2006), que trata do atual estágio de coordenação da pecuária de corte em comparação com a avicultura, e a proposta de Newmann e Barcellos (2006) sobre estratégias de coordenação para a bovinocultura de corte a partir de experiências de sucesso já consolidadas. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 235 Essas pesquisas, assim como várias outras, reforçam, individual e coletivamente, a necessidade de serem criadas novas formas de relacionamento entre os agentes, de modo a ampliar o leque de confiança entre as partes. Nesse sentido, também merecem destaque os problemas relacionados à toalete, à necessidade de criação de sistemas de tipificação e classificação das carcaças de bovinos, para que seja possível uma remuneração mais adequada. No que se refere à toalete, segundo Jacewicz (2006), essa é uma questão que gera grande controvérsia. Segundo o autor, o tema é polêmico porque, de um lado Os pecuaristas comentam que a indústria retira massas musculares, gordura e até ossos além dos limites estipulados pelas normas tecnológicas que regulam a obtenção da carcaça influindo no peso, o qual fornece a base de remuneração. e, de outro, a carcaça engloba a idéia do conjunto constituído de músculos, gordura e ossos o qual se traduz pela carne. Assim, após a maturação e a desossaobtemos os cortes de carne que poderão se apresentar com osso, sem osso, com gordura ou sem gordura. O dilema, portanto, consiste na identificação do não cumprimento das normas58 disponíveis e na criação de modelos que inibam esse tipo de ação. O problema é complexo: de acordo com o autor, na plataforma, são retiradas as partes afetadas pela sangria, as lesões provocadas pelas vacinas, abscessos, contusões, fraturas, enfim toda e qualquer alteração, seja fruto de manejo inadequado do pecuarista, seja devido a problemas de transporte. Como conseqüência, não apenas o exagero na toalete é questionado pelos produtores, mas também o fato de que não existe controle adequado sobre as perdas no transporte, sob a tutela do próprio frigorífico. Embora essa seja uma questão fundamental para o pecuarista, em virtude de envolver mais de um segmento será novamente abordada no tratamento, em razão de fatores logísticos e mesmo da análise do segmento de abate e processamento. 58 Portarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento regulam e determinam o que pode ser retirado do corpo do novilho para transformá-lo em carcaça. São elas, a de n.º 5, de 8 de novembro de 1988, que aprovou a Padronização dos Cortes de Carne Bovina e a de n.º 612, de 5 de outubro de 1989, que aprovou o Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças Bovinas. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 236 Quanto à tipificação e classificação de carcaças, permanecem as dificuldades de entendimento entre a indústria frigorífica e os pecuaristas. A indústria sente-se penalizada pela ausência de maiores esforços, por parte dos produtores, em padronização dos animais; os pecuaristas, sentindo-se desestimulados pela não diferenciação das remunerações – por ausência de critérios definidos – restringe esforços de melhoria dos padrões de uniformização dos animais. Assim, da mesma forma que os problemas envolvendo a pesagem e a toalete, as questões relativas à tipificação e classificação têm dois lados, com itens de veracidade e parcialidade. Em termos de definição, de acordo com Felicio (2007a), a proposta de tipificar as carcaças animais data do começo do século XX, e surgiram da necessidade de se criarem parâmetros de avaliação em apoio à comercialização. Segundo o autor, A tipificação é formada de duas partes, sendo a primeira de classificação dos lotes por sexo, pela maturidade e pela faixa de peso do gado, de modo que as carcaças serão agrupadas por categoria, como por exemplo: “macho castrado – jovem”, ou seja, novilho; e “fêmea - jovem”, isto é, novilha, ou ainda “fêmea – adulta”, portanto, vaca; nessa parte, embora de maneira nem sempre evidente, o peso certamente é um fator restritivo importante. A segunda parte é a tipificação propriamente dita, que consiste em alocar as carcaças das principais categorias, como novilho ou novilha, em “tipos” ordenados de melhor a pior, segundo outros indicadores tradicionalmente utilizados nos julgamentos de gado de corte em exposições, como a conformação e a quantidade de gordura (acabamento). Em tese as carcaças dos melhores tipos dariam carne de melhor qualidade, preferivelmente associada a maiores rendimentos de desossa. Já a “classificação de carcaças”, é uma idéia mais recente, que data do final da década de 1960. Trata-se de um esquema desenvolvido no Reino Unido e na França, que serviu de base para os sistemas em uso na União Européia e na Nova Zelândia. Também no Brasil um sistema de simples classificação chegou a ser aprovado e publicado pelo governo brasileiro em maio de 200459. 59 Segundo Felicio (2005), “o novo sistema, cuja IN – Instrução Normativa, de n,º 9, foi assinada pelo Ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura Pecuária e Abastecimento, no dia 4 de maio de 2004, deveria ter sido instituído em todo o território nacional logo após sua regulamentação que estava agendada para até o dia 31 de dezembro de 2004. A partir de 1.o de janeiro de 2005, sua aplicação passaria a ser obrigatória nos estabelecimentos de abate sob Inspeção Federal, sendo que a avaliação das carcaças teria que ser feita por profissionais habilitados, credenciados pelo Mapa e pagos pelo setor privado. No entanto, em novembro de 2004, em reunião de representantes do Fórum Nacional da Pecuária de Corte com o Diretor do DIPOA, ficou decidido que o Mapa deveria adiar a data de início da vigência, passando essa a vigorar apenas a partir de fins do ano de 2006. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 237 A proposta, no caso brasileiro, consiste na opção por um modelo de classificação simples ou “classificação pura e simples”. Na visão de especialistas, essa opção, distinta da de outros países, se adequa à grande heterogeneidade do rebanho brasileiro e mesmo do mercado consumidor nacional. Além disso, na visão de Felicio (2005a) “representa um avanço, também, por tornar obrigatória a classificação de uma mercadoria agropecuária, o que deve ser visto como um direito do produtor rural que passará a ser respeitado pelas indústrias”. De toda sorte, em todas as entrevistas realizadas foi possível perceber que essa é uma demanda importante e que, na visão dos pecuaristas, a adoção de sistemas transparentes de tipificação/classificação, minimizaria bastante os problemas de relacionamento entre as partes. Ademais, foi marcante a lembrança, por parte dos entrevistados, do Programa de Novilho Precoce no estado. De fato, Mato Grosso, já experimentou a vigência de propostas formais de classificação, a partir da Lei n.º 6.116, de 23 de novembro de 1992, que instituía o Programa de Apoio à Criação de Gado para o Abate Precoce – Novilho Precoce. O Programa, vinculado ao PROMMEPE (Programa Mato-grossense de Melhoramento da Pecuária) objetivava estimular os produtores pecuários de Mato Grosso à criação e desenvolvimento de animais que pudessem ser abatidos precocemente. Para tanto, foram criados um cadastro de adesão e um incentivo financeiro ao produtor pecuário por animal abatido, em decorrência do Programa, de até 5% (cinco por cento) do valor da operação que o destine ao abatedouro pago nas condições, limites e prazos fixados pelo Poder Executivo. Esta instrução foi revogada, posteriormente: instituiu-se o fator conformação e capa de gordura além da idade e peso ao programa, sendo a lei efetivamente revogada em dezembro de 2002. Sem pretender avaliar os critérios utilizados para a revogação da Lei, o fato é que houve unanimidade, entre os entrevistados, sobre a validade da idéia, e igual unanimidade quanto ao fato de que a gestão do processo foi o principal elemento que comprometeu o efetivo alcance dos resultados propostos. Assim, a experiência leva, na visão dos pecuaristas, à possibilidade de serem criadas novas propostas, mais amplas e transparentes, de forma que toda a Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 238 classe produtiva e industrial seja beneficiada pela adoção de critérios organizados e respeitados de pesagem, toalete, tipificação e classificação das carcaças dos animais. 8.4.2. Evolução da cotação da arroba e formação de preços Nessa subseção, consideraram-se diferentes aspectos: evolução dos preços, bases da sua formação, conhecimento dos procedimentos adotados para a definição das cotações, transparência do processo e poder de barganha. Em relação à evolução dos preços, entre os anos de 1994 e 2007, os dados mostram, apesar das grandes oscilações, tendência ascendente (Figura 8.2). A principal modificação nesse padrão ocorre entre 2004 e 2006. A compilação dos preços em séries históricas permite o cálculo da volatilidade, que é uma das maisimportantes ferramentas para quem atua no mercado, pois permite a observação da sua direção e velocidade. Assim, em certo sentido, a volatilidade é uma medida da velocidade do mercado, pois os que se movem lentamente são os de baixa volatilidade e os que se movem rapidamente são mercados de alta volatilidade. Teoricamente, o número “volatilidade” associado ao preço de uma mercadoria é a variação de preço referente a um desvio-padrão, expresso em porcentagem, ao fim de um período de tempo. 239 D iagnóstico da C adeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de C orte do Estado de M ato G rosso 0 10 20 30 40 50 60 70 7/ 6/ 19 94 7/ 12 /1 99 4 7/ 6/ 19 95 7/ 12 /1 99 5 7/ 6/ 19 96 7/ 12 /1 99 6 7/ 6/ 19 97 7/ 12 /1 99 7 7/ 6/ 19 98 7/ 12 /1 99 8 7/ 6/ 19 99 7/ 12 /1 99 9 7/ 6/ 20 00 7/ 12 /2 00 0 7/ 6/ 20 01 7/ 12 /2 00 1 7/ 6/ 20 02 7/ 12 /2 00 2 7/ 6/ 20 03 7/ 12 /2 00 3 7/ 6/ 20 04 7/ 12 /2 00 4 7/ 6/ 20 05 7/ 12 /2 00 5 7/ 6/ 20 06 7/ 12 /2 00 6 7/ 6/ 20 07 Data de referência R $ / @ Valor à Vista - Arroba Valor a Prazo - Arroba * Média dos preços até o mês de agosto. Fonte: CEPEA (2007). Figura 8.2 – Evolução dos preços da arroba de boi gordo, entre os anos de 1994 e 2007*. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 240 No caso do preço nacional médio da arroba do boi gordo, obteve-se, para o período compreendido entre janeiro de 1994 e agosto de 2007, uma volatilidade de 13,63. Naturalmente, esse valor altera-se, significativamente, de acordo com a série utilizada, do modo que, para melhor observação do comportamento dos preços, procedeu-se à seguinte periodização: 1. Entre janeiro de 1994 e dezembro de 1996, período em que vigorou a paridade Real-Dólar: volatilidade histórica de 2,64%. 2. Entre janeiro de 1997 e dezembro de 1998, período de gradual desacoplamento do câmbio até a desvalorização: volatilidade histórica de 1,37%. 3. Entre janeiro de 1999 e dezembro de 2003, período que engloba os efeitos da desvalorização, as sucessivas intervenções e, em termos do setor bovino, o Brasil se consagra como principal exportador: volatilidade histórica de 9,51%. 4. Entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, período de recuperação gradual da economia e identificação dos focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul: volatilidade histórica de 4,25%. 5. Entre janeiro de 2006 e agosto de 2007, período de recuperação mais recente: volatilidade histórica de 4,45%. Os dados apresentados mostram que o período de maior volatilidade coincide com a fase de expressivo ganho do Brasil no cenário internacional da carne bovina já que, desde início de 2000, os problemas climáticos da Austrália somados aos casos de BSE na Europa ampliaram a visibilidade brasileira no mercado externo. Além dessa segmentação, uma visão mais agrupada, em médias anuais, permite a observação mais clara do comportamento dos preços, em termos nacionais. Na Figura 8.3 é possível ver, claramente, a retração nos preços ocorrida em 2005 e 2006 (fruto da identificação de focos febre aftosa em Mato Grosso do Sul, com ampla repercussão sobre todo o País) e a recente recuperação dos preços em 2007. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 241 R$ 0,00 R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 30,00 R$ 40,00 R$ 50,00 R$ 60,00 R$ 70,00 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Pr eç o M éd io d a A rro ba (R $) Valor à Vista - Arroba (Média anual) Valor a Prazo - Arroba (Média anual) * Média dos preços até o mês de agosto. Fonte: CEPEA (2007). Figura 8.3 – Evolução dos preços médios da arroba de boi gordo, entre os anos de 1994 e 2007*. Em relação às diferenças entre os preços à vista e a prazo, este oscilou em torno de R$ 1,00/@ (a maior para os preços a prazo), entre os anos de 1994 e 2007: o menor valor observado ocorreu no ano de 1997, quando chegou a apenas R$ 0,64/@; o maior valor, por sua vez, deu-se em 2004, atingindo a R$ 2,24/@. Em termos de variação (preço do período em relação ao imediatamente anterior), houve grande oscilação, sendo possível, no entanto, perceber maior volatilidade até fins de 1996 e entre final de 2004 e início de 2006 (Figura 8.4). 242 D iagnóstico da C adeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de C orte do Estado de M ato G rosso 0,95 0,97 0,99 1,01 1,03 1,05 1,07 7/ 6/ 19 94 7/ 9/ 19 94 7/ 12 /1 99 4 7/ 3/ 19 95 7/ 6/ 19 95 7/ 9/ 19 95 7/ 12 /1 99 5 7/ 3/ 19 96 7/ 6/ 19 96 7/ 9/ 19 96 7/ 12 /1 99 6 7/ 3/ 19 97 7/ 6/ 19 97 7/ 9/ 19 97 7/ 12 /1 99 7 7/ 3/ 19 98 7/ 6/ 19 98 7/ 9/ 19 98 7/ 12 /1 99 8 7/ 3/ 19 99 7/ 6/ 19 99 7/ 9/ 19 99 7/ 12 /1 99 9 7/ 3/ 20 00 7/ 6/ 20 00 7/ 9/ 20 00 7/ 12 /2 00 0 7/ 3/ 20 01 7/ 6/ 20 01 7/ 9/ 20 01 7/ 12 /2 00 1 7/ 3/ 20 02 7/ 6/ 20 02 7/ 9/ 20 02 7/ 12 /2 00 2 7/ 3/ 20 03 7/ 6/ 20 03 7/ 9/ 20 03 7/ 12 /2 00 3 7/ 3/ 20 04 7/ 6/ 20 04 7/ 9/ 20 04 7/ 12 /2 00 4 7/ 3/ 20 05 7/ 6/ 20 05 7/ 9/ 20 05 7/ 12 /2 00 5 7/ 3/ 20 06 7/ 6/ 20 06 7/ 9/ 20 06 7/ 12 /2 00 6 7/ 3/ 20 07 7/ 6/ 20 07 Data de referência V ar ia çã o tn /t( n- 1) Variação (preço à vista) Variação (preço à prazo) Fonte: CEPEA (2007). Figura 8.4 – Variação dos preços da arroba de boi gordo, entre os anos de 1994 e 2007 (até o mês de agosto). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 243 Todavia, da mesma forma que para a análise dos valores absolutos, uma observação da variação das médias anuais favorece a visualização. Fica nítido, pela observação dos dados disponíveis na Figura 8.5, que as variações foram positivas em praticamente todo o período analisado, sendo destacadamente superiores nos anos de 1999 e 2003, tanto para o preço à vista quanto para o preço a prazo da arroba do boi gordo. -0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano V ar ia çã o em re la çã o à m éd ia d o an o an te rio Variação (Preço à vista) Variação (Preço à prazo) * Média dos preços até o mês de agosto. Fonte: CEPEA (2007). Figura 8.5 – Variação dos preços médios da arroba de boi gordo, entre os anos de 1994 e 2007*. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 244 Especificamente, em relação ao Estado de Mato Grosso, as informações disponíveis permitem entrever algumas importantes diferenças de padrão comportamental, além das naturais defasagens de preço, relacionadas aos deságios por frete. Destaque-se, em relação a este último item, que as bases de dados disponíveis mostram uma variação expressiva e mais que proporcional, chegando, em alguns casos, a cerca de R$ 5,00 de deságio na arroba do boi. Esse fato ganha maior vulto ao se comparar as variações do deságio em Mato Grosso com municípios de distância equivalente às praças paulistas, o que indica haver mais elementos em análise e consideração no mercado do que os fretes e associações. De fato, uma das questões que penaliza o pecuarista na hora da comercialização é a baixa freqüência no uso de instrumentos como a comercialização a futuro. De acordo com reportagem recente, para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO), Homero Pereira, de fato “a comercialização do boi no mercado futuro é um modelo muito novo”. Na entrevista, o Sr. Homero reconhece que mesmo Mato Grosso detendo o maior rebanho bovino do País [...] ainda está como os produtores de soja e algodão, extremamente eficientes da porteira para dentro e perdendo espaço no mercado daporteira para fora, por não saber vender a produção. De fato, no levantamento realizado a campo percebeu-se que os pecuaristas conhecem muito pouco sobre o processo de formação de preços da arroba do boi e creditam aos compradores (frigoríficos) a decisão pelo preço a ser pago. Essa discrepância de informações contribui para as já referidas dificuldades de relacionamento entre os pecuaristas e a indústria frigorífica e é uma dos pontos em que mais se demanda transparência. Como observado no caso das questões envolvendo os fatores de abate e processamento (pesagem, toalete, tipificação e classificação de carcaças), ambas as partes têm argumentação consistente, embora parcial. O frigorífico afirma, com razão, não ser capaz de decidir os preços pagos, na medida em que apenas pratica as cotações disponíveis e sobre elas incide os eventuais deságios relativos ao frete e aos problemas de qualidade dos animais. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 245 O pecuarista, por sua vez, também argumenta de forma coerente: embora a indústria frigorífica não defina os preços individualmente, como o levantamento dos indicadores mapeia as informações de padrão de preços junto a esses agentes, de forma indireta existe uma intervenção. De fato, o Indicador de Preço Disponível do Boi Gordo ESALQ/BM&F é um indicador diário dos preços do boi gordo no Estado de São Paulo, representando uma média ponderada dos mesmos nas principais regiões produtoras. O padrão do produto-objeto da pesquisa atende às especificações do Contrato Futuro de Boi Gordo negociado na BM&F. De acordo com as informações obtidas no CEPEA-Esalq/USP, os dados são levantados diariamente nas principais regiões relevantes para a formação de preços. Para tanto, o Estado de São Paulo foi subdividido em quatro grandes regiões: Presidente Prudente; Araçatuba; Bauru/Marília; São José do Rio Preto/Barretos. Em cada uma destas regiões do Estado de São Paulo, as informações são levantadas a partir de grande número de informantes, sobretudo frigoríficos, escritórios de compra e venda e grandes pecuaristas. As cotações em reais dos preços praticados por arroba de boi gordo correspondem a preço posto na fazenda, incluindo FUNRURAL, mas livre de ICMS. A partir dessa base de dados, disponibilizada nacionalmente, são realizados os ágios e deságios, de acordo com as particularidades do rebanho e da localização de cada praça de negociação, nos diferentes estados brasileiros. O que se percebe, portanto, é que a discussão mais organizada dos mecanismos de formação de preços (cotação da arroba) e mesmo a divulgação acompanhada dos instrumentos de comercialização disponíveis seria bastante benéfica às relações de mercado, no elo de produção primária. Ademais, nas entrevistas realizadas, ficou clara a preocupação dos pecuaristas com a ampliação da capacidade de abate dos frigoríficos. Na percepção dos entrevistados, o poder de barganha, que já é desbalanceado, tenderá a tornar-se ainda mais desequilibrado, uma vez que mesmo um grande produtor, com alta taxa de desfrute e bastante regularidade, encaminha, em um mês, o que uma unidade de abate é capaz de processar em um dia. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 246 Essa visualização, somada à desarticulação da cadeia, sobretudo do elo de produção, efetivamente sinaliza para uma ampliação da capacidade de pressão da indústria frigorífica – e de forma natural – uma vez que a estrutura de mercado tende à oligopolização, no segmento de abate e processamento, mantendo-se competitivo no segmento de produção. Em termos de evolução dos preços, em Mato Grosso, é interessante mencionar o esforço recente das instituições, com destaque para o IMEA, com o propósito de manter uma base de dados atualizada sobre o setor. Todavia, por se tratar de esforço ainda relativamente recente, as séries históricas encontram-se dispersas, o que impede uma análise mais precisa. Entretanto, para um período mais recente, há boa provisão de informações sobre preços, em termos de médias estaduais e de forma segmentada. Informações disponibilizadas pelo Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (IMEA), para os anos de 2005 e 2006 (cotações de boi gordo e vaca gorda), indicam que há bastante aderência no comportamento de ambas as cotações, sendo maiores os níveis de preço observados no ano de 2005 (Figuras 8.6 e 8.7). Esse padrão é aderente ao comportamento dos preços em nível nacional (Figura 8.8), sendo ainda reflexo dos problemas com a febre aftosa e com a descapitalização do produtor, que optou por encaminhar animais para abate como forma de manutenção da atividade (o que incluiu, inclusive, o abate de fêmeas). Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 247 Fonte: Dados básicos – IMEA (2007). Figura 8.6 – Evolução das cotações de Boi Gordo e Vaca Gorda para o ano de 2005, média do Estado de Mato Grosso, em R$/@. Fonte: Dados básicos – IMEA (2007). Figura 8.7 – Evolução das cotações de Boi Gordo e Vaca Gorda para o ano de 2006, média do Estado de Mato Grosso, em R$/@. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 248 Calculando-se as perdas nas cotações médias entre os anos de 2005 e 2006, para a arroba de boi gordo e vaca gorda, encontram-se retrações de -16% para o Boi Gordo e -17,5% para a Vaca Gorda (Figura 8.8). Para 2007, os dados indicam visível recuperação dos preços, para todas as praças disponibilizadas. Segundo os dados disponibilizados pelo IMEA, houve ganhos em relação aos dois últimos anos. Enquanto os preços médios do boi gordo não ultrapassaram os R$50,00/@ , em Mato Grosso, em 2006, os valores para 2007 indicam alta de quase R$10,00/@ para o mesmo período (Figura 8.8). Ainda em relação aos preços praticados no Mato Grosso, observou-se que as formas de pagamento variaram bastante, não havendo, por região de análise, segmentação ou predominância que pudesse ser julgada consistente. Todavia, foi importante a constatação de que, para o pecuarista, independentemente da região, a escolha do frigorífico envolve significativamente a confiança na sua capacidade de pagamento. Em relação aos ágios e deságios pela qualidade do animal, em média, foi declarada a preferência pelo animal castrado, com deságio médio de R$1,00/@ no caso de animais inteiros. Tal prática, segundo os entrevistados, só não é efetiva quando o frigorífico necessita, com urgência, de animais terminados para embarque imediato ou para cumprimento de contratos. Na composição do preço, também incide o fato de o animal ser ou não oriundo de área habilitada para exportação (para a União Européia). Em matéria divulgada em junho do corrente ano, era clara para representantes de várias instituições de apoio à pecuária de corte em Mato Grosso a preocupação com o tema. Segundo as referências destacadas, “mais de 50% de todo o rebanho bovino mato-grossense concentra-se hoje em áreas não habilitadas, com ênfase para as regiões norte/noroeste, Araguaia e Pantanal. Essas regiões – que concentram 54 municípios – respondem por mais de 13,5 milhões de cabeças de bovinos”. 249 D iagnóstico da C adeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de C orte do Estado de M ato G rosso R$ 0,00 R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 30,00 R$ 40,00 R$ 50,00 R$ 60,00 Boi Gordo Vaca Gorda Boi Gordo R$ 53,73 R$ 58,53 R$ 52,30 R$ 54,00 R$ 56,93 R$ 52,40 R$ 58,17 R$ 58,83 R$ 58,03 R$ 52,43 Vaca Gorda R$ 47,97 R$ 51,20 R$ 48,13 R$ 48,33 R$ 51,97 R$ 46,57 R$ 48,10 R$ 49,90 R$ 49,27 R$ 45,70 Alta Floresta Barra do Garças Cáceres Colíder Cuiabá Juína Paranatinga Pedra Preta Tangará da Serra Vila Rica Fonte: Dados básicos –IMEA (2007). Figura 8.8 – Evolução das cotações de Boi Gordo e Vaca Gorda, em R$/@, por praça de comercialização, Mato Grosso, média das cotações entre julho e agosto de 2007. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 250 Segundo estimativas do IMEA, apenas a região norte do estado possui um rebanho estimado em 11,34 milhões de bovinos, e os cálculos da instituição, quanto às perdas pela não habilitação da área, chegam a cifras próximas aos R$ 77 milhões. O cálculo foi realizado a partir da contabilização do déficit de R$ 1,98 por arroba, descontando-se o frete, que gira em torno de R$ 3,00 por arroba (considerando o deslocamento Sinop – Cuiabá). Levando-se em conta que na região não habilitada são “abatidas cerca de 1,95 milhões de cabeças, e que há um excedente de 315,92 mil de animais que saem para abate em outras regiões, o total do prejuízo para os pecuaristas é de R$ 76,84 milhões por ano”. Também se verificou deságio no pagamento do boi não rastreado. Na realidade, ao invés de observar-se um adicional consistente de preços para o boi rastreado, o que se percebe – na declaração enfática dos pecuaristas – é o deságio pelo não rastreamento, de modo que a diferença paga não chega a cobrir os gastos totais com o processo. Esse tema foi percebido como de grande importância e constituiu-se um dos subfatores mais relevantes na análise da cadeia da pecuária de corte em Mato Grosso. 8.4.3. Rastreabilidade De início, é preciso destacar que a rastreabilidade, enquanto tema de análise, não é uma questão pontual, específica de uma cadeia ou de um estado. Na realidade, trata-se de um novo padrão de exigências dos consumidores, com regras mais explícitas, cujo cerne reside na cobrança por acesso a informações de qualidade sobre o que se consome, sobretudo quando se trata de alimentos. Segundo os padrões internacionais (ISO 8402), rastreabilidade é definida como a “habilidade de descrever a história, aplicação, processos ou eventos e localização de um produto a determinada organização, por meios de registros e identificação”. No caso da bovinocultura de corte, em virtude das próprias especificidades dessa cadeia, em termos de amplitude e heterogeneidade, Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 251 naturalmente a proposição de regras coletivas é complexa. No Brasil, a pressão pela construção de um padrão de referência culminou na construção do Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV). Na prática, a maior pressão partiu da União Européia, principal cliente do país, que exige que a carne comprada seja rastreada desde o nascimento ao abate do animal. De acordo com Rocha (2007), “até junho (2007), o mercado europeu foi responsável por 33% das exportações de carne “in natura” brasileira, o equivalente a 191,7 mil toneladas”. Além disso, o autor ressalta que “os embarques brasileiros para os países da Europa de carne industrializada representou 45% do total das vendas do Brasil”. Na prática, em sua versão inicial, em vigor desde 2002, o SISBOV não conseguia atender a todos os requisitos europeus, principalmente em relação aos prazos. Rocha (2007) destaca que o antigo sistema rastreou 72,9 milhões de animais, mas com critérios mais flexíveis: “não havia prazo para comunicar a movimentação do gado e o monitoramento não era completo”. Como decorrência, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), visando estabelecer normas para a produção de carne bovina com garantia de origem e qualidade, publicou a Instrução Normativa n.° 17, em 14 de julho de 2006, com nova estrutura operacional para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV). As modificações foram amplas, embora alguns critérios tenham permanecido. O novo sistema, assim como a proposta anterior, é de adesão voluntária, permanecendo a obrigatoriedade de adesão para a comercialização para mercados que exijam a rastreabilidade, a exemplo do Europeu. Todavia, foram feitas adequações importantes, aqui descritas sumariamente, de forma transcrita e integral, de acordo com as referências disponíveis no Ministério da Agricultura60. Segundo as novas regras, todos os bovinos e bubalinos dos Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV serão, 60 Melhores informações podem ser obtidas junto ao MAPA que, em parceria com a CNA, elaborou um manual simplificado – Cartilha SISBOV – que instrui os agentes da cadeia produtiva da pecuária de corte sobre as regras fundamentais do novo sistema. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 252 obrigatoriamente, identificados individualmente, cadastrados na Base Nacional de Dados, com o registro de todos os insumos utilizados na propriedade durante o processo produtivo. Trata-se de um grande avanço, uma vez que, a partir de 2009, só será permitido o ingresso de bovinos e bubalinos nos Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV se oriundos de outros Estabelecimentos na mesma condição. As datas mais relevantes nesse processo são: • 12 de setembro de 2006: data em que entrou em vigor a Instrução Normativa n.o 17, de 13 de julho de 2006, que regulamenta o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV) ou NOVO SISBOV. • 30 de novembro de 2006: data-limite para que os produtores que já possuíam animais cadastrados no SISBOV cadastrem novos animais na Base Nacional de Dados pelas regras do SISBOV antigo. • 31 de dezembro de 2007: data-limite para que os produtores inscritos no antigo SISBOV abatam ou comercializem seus animais cadastrados na Base Nacional de Dados sob as regras antigas, sem perder a rastreabilidade desses animais. Data, a partir da qual, ficam revogadas as Instruções Normativas e Portarias que regulamentavam o antigo SISBOV. • 31 de dezembro de 2008: data-limite para que os Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV (ERAS) adquiram animais de estabelecimentos não aprovados; a partir de 1.º de janeiro de 2009, todos os animais que ingressarem no Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV devem ser originários de outro Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV. Após esta data, só serão ingressados animais não provenientes de ERAS se destinados exclusivamente à reprodução. Em relação aos prazos para o produtor rural, destaca-se que o prazo para inclusão na Base Nacional de Dados dos elementos de identificação adquiridos pelo produtor será de, no máximo, 24 meses a partir da data da nota fiscal de compra desses elementos. Além disso: Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso 253 • Animais nascidos no Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV devem ser identificados na desmama ou, no máximo, até os 10 meses de idade, sempre antes da primeira movimentação. • Quando adquiridos animais de estabelecimento não aprovado, o Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV deve identificá-los imediatamente ou até 31 de dezembro de 2008. • O Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV deve comunicar todas as movimentações de entrada de animais à certificadora e ao Órgão Executor da Sanidade Animal em, no máximo, 30 dias do vencimento da GTA (Guia de Trânsito Animal) correspondente. Utilizar o formulário de entrada. • Quando os animais forem transferidos para um estabelecimento não aprovado ou para abate em frigoríficos com inspeção estadual ou municipal, o Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV deve comunicar a movimentação de saída à certificadora e ao Órgão Executor da Sanidade Animal em no máximo 15 dias. Utilizar o formulário de saída. • O Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV deve comunicar