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Curso Pré-ENEM Linguagens Tema Representação cultural e artística Tópico de estudo A arte sob perspectiva histórica. Entendendo a competência Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de signifi cação e integrador da organiza- ção do mundo e da própria identidade. O ser humano cria as linguagens e, entre elas, as linguagens artísticas – pintura, escultura, dança, música, teatro, cine- ma etc. – para representar o mundo, para inventar outros, para dar signifi cado à existência. Mas o que defi ne algo como arte? É preciso entender que todo objeto artístico é uma expressão subjetiva de seu autor, que utiliza sua criatividade para manifestar ideias e emoções por meio das diferentes recursos (imagens, na pintura, na escultura e na arquitetura; sons e ritmos, na música; palavras, na literatura; movimentos, na dança e no teatro). Objetos artísticos distintos podem, inclusive, dialogar em torno de um mesmo tema, demonstrando diferentes percepções da realidade. Essa competência do Enem quer avaliar seu potencial de reconhecimento dessa forma linguística, que, por ser específi ca, possui um impacto muito grande no ser humano. Desvendando as habilidades Habilidade 13 – Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. Se você tivesse que apontar um exemplo de beleza, o que escolheria? O rosto de uma supermodelo, o pôr do sol num céu sem nuvens, o sorriso de uma criança? Na história da civilização ocidental, nem sempre utilizamos os mesmos critérios para defi nir algo como bonito ou feio. Isso ocorre porque nossa capacidade de identifi cação e nossa emoção dependem da forma como enxergamos o mundo, o que, por sua vez, depende do contexto cultural e social em que es- tamos inseridos. Por isso, nem sempre o que foi belo no passado continua sendo nos dias de hoje. Saber avaliar as pro- duções artísticas pode nos permitir entender, portanto, as diferentes culturas, padrões de beleza e de comportamento. Situações-problema e conceitos básicos Compare as imagens ao lado: © F ot o pu bl ic ad a em q ue st ão d o EN EM © M us eu d o Pr ad o A imagem da esquerda é uma tela intitulada “As três graças” (1693), de Peter Paul Rubens. A imagem da di- reita é da supermodelo internacional Gisele Bündchen. Para o homem europeu de outras épocas, a beleza femi- nina era associada às formas mais volumosas, símbolo de vitalidade. Será que essas mulheres representadas por Rubens seriam consideradas bonitas pela maioria das pessoas atual mente? Provavelmente, não. No mundo de hoje, a sociedade de consumo trouxe consigo um outro padrão de beleza, apontando para a magreza, algumas vezes até excessi- va. Os diferentes conceitos de beleza, portanto, variam de acordo com a época e dependem do contexto em que estão inseridos, sendo uma consequência direta de manifestações e realizações sociais e econômicas. Curso Pré-ENEM Linguagens O conceito de beleza Na Antiguidade Clássica, a cultura ocidental começou a defi nir seus primeiros conceitos de beleza. Para eles, a harmonia, o equilíbrio, a proporção, a simetria e a regularidade (dentre outras qualidades essenciais para que o homem se relacionasse de maneira positiva com o mundo) eram requisitos básicos para que algo fosse considerado belo. A linguagem artística, que busca sempre alcançar o prazer estético, privilegiou esses elementos durante mui- tos séculos, mas sempre respeitando as particularidades de cada sociedade. Observe as esculturas a seguir, por exemplo. Elas representam modelos de beleza, segundo as perspectivas de seus autores. Algumas diferenças são perceptíveis: os tipos físicos, as roupas, os adornos, os penteados. Cada cultura possui uma forma diferente de enxergar o mundo e isso, é claro, apresenta impacto direto no que passamos a considerar bonito ou feio. Leia a seguinte reportagem: “Nada pior do que pedir um creme autobronzeante para confundir uma vendedora de cosméticos de Pequim. Primeiro, porque a palavra não tem tradução em mandarim e precisa ser explicada pela destinação do produto, algo como “creme para deixar a pele temporariamente mais escura”. Segundo, porque para os padrões estéticos do país, beleza é monocromática: branca. O mais branca possível.” http://bit.ly/I8BbKe Essa percepção, certamente, é distinta da que vemos em regiões litorâneas do Brasil, cujas praias fi cam lotadas em fi ns de semana de sol, com pessoas querendo um tom mais bronzeado para suas peles. Com isso em vista, não é absurdo que pensemos no contexto social, político e econômico como fator importante para a defi nição do conceito de beleza de cada sociedade. Alguns artistas se preocuparam em retratar aquilo que eles entendiam como uma beleza tipicamente brasilei- ra. Segundo muitos deles, nosso país, com características tropicais que favorecem a sensualidade e com diversas infl uên cias rítmicas, encontra na beleza da mulata a sua síntese. Figura 1 Afrodite, deusa do amor (Arte Grega). Figura 2 Maitreya de pie, Nepal, cobre dourado e policromado, século IX-X – Museu Metropolitan, Nova York, EUA. © F ot os p ub lic ad as e m q ue st ão d o EN EM © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM Di Cavalcanti, Mulata com pássaro. Curso Pré-ENEM Linguagens Nem sempre a arte tem a preocupação em retratar o belo. Principalmente com o advento da modernidade ar- tística, os conceitos tradicionais que ligavam arte e beleza foram relativizados. Hoje, nem tudo que é considerado belo tem lugar garantido na obra de um artista, e nem todas as obras de um artista apresentarão necessariamente elementos belos. As transformações na arte Compare: A primeira tela é do alemão Caspar David Friedrich; a segunda é da brasileira Tarsila do Amaral. Ambas apre- sentam o mesmo tema básico: o pôr do sol. No entanto, na primeira tela vemos a aplicação de técnicas tradicionais da pintura, privilegiando a cópia de uma cena, de forma harmônica e equilibrada. O receptor, diante dessa obra, possui papel passivo: os elementos que compõem a cena estão em denotação. Na segunda tela, percebe-se que a intenção da artista não é copiar o real, mas representá-lo de forma simbólica, trabalhando cores, linhas e formas para criar uma sugestão de cena que seja também agradável esteticamente para o receptor. Como nada está em denotação, o receptor precisa assumir uma postura ativa diante da obra, para criar a coerência entre os elementos expostos simbolicamente. Trata-se de um exemplo de arte moderna. Alguns críticos associam essa mudança de comportamento do artista diante da realidade ao desenvolvimento tecnológico e à incorporação de novas técnicas. Se pensarmos bem, a invenção da máquina fotográfi ca, por exem- plo, teve grande impacto na pintura tradicional, fazendo com que houvesse uma profunda refl exão sobre o conceito de arte e sobre seu papel no mundo. Alguns artistas, principalmente na pintura e na escultura, passaram a utilizar a linguagem visual, sem se preocu- par em reproduzir formas encontradas na natureza ou presentes no cotidiano do homem, criando o que chamamos de arte abstrata. “Beatriz Milhazes é uma artista brasileira que trabalha com formas circulares que sugerem deslocamentos. Prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como pelí- culas, e, então, aplicadas na tela por decalque. Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão. A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestua- lidade seja quase anulada.” Enade (adaptado). © Alte N at io na lg al er ie © C ol eç ão p ar tic ul ar . P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM Beatriz Milhazes, 1960, Rio de janeiro, Brasil. Disponível em: <http:// artnew.org>. Acesso em: 2 out. 2011. Curso Pré-ENEM Linguagens A tecnologia e as recentes descobertas nos mais variados campos da ciência também apresentam impacto no campo das artes. A foto ao lado apresenta um Objeto Cinético, de Abraham Palatinik. “Em 1964, nascem os Objetos Cinéticos. O artista cria esculturas de arame, for- mas coloridas e fi os que se movem acionadas por motores e eletroímãs. As peças se assemelham aos móbiles do escultor norte-americano Alexander Calder. Ele é consagrado pioneiro, o primeiro que explorou as conquistas tecnológicas na criação de vanguarda brasileira. O que Mário Pedrosa descreve, em 1953, continua valendo para a carreira do artista-inventor, que segue sua trajetória “tornando as máquinas aptas a gerarem obras de arte”.” Enade (adaptado). Veja, agora, o poema transgênico Cypher, do artista brasileiro Eduardo Kac, que explora as relações entre arte, ciência e tecnologia. “Nessa obra, o artista apresenta um kit contendo um laboratório portátil no qual o usuário pode integrar DNA sintético em uma bactéria seguindo um protocolo incluído no kit. O DNA preparado por Kac contém uma sequência genética criada a partir de um poema escrito especifi camente para Cypher. Quando o usuário integra a sequência do poema genético, a bactéria, normalmente pálida, se torna vermelha e luminosa.” “As manifestações artísticas contemporâneas de caráter transdisciplinar favorecem a diversidade de visões na ob- servação de fenômenos e problemas porque abordam conceitos chaves que vão além do compartilhamento disciplinar.” Enade (adaptado). Um exemplo da arquitetura: IMODESTO “As colunas do Alvorada podiam ser mais fáceis de construir, sem aquelas curvas. Mas foram elas que o mundo inteiro copiou” Brasília 50 anos. Veja. No 2.138, nov. 2009. Utilizadas desde a Antiguidade, as colunas, elementos verticais de sustentação, foram sofrendo modifi cações e incorporando novos materiais com ampliação de possibilidades. Ainda que as clássicas colunas gregas sejam reto- madas, notáveis inovações são percebidas, por exemplo, nas obras de Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1907. © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM Curso Pré-ENEM Linguagens A arte moderna brasileira A infl uência das vanguardas europeias já se fazia verifi car aqui no Brasil desde o primeiro decênio do século. Ar- tistas brasileiros que haviam estado no Velho Continente, como Lasar Segall (russo naturalizado brasileiro) e Anita Malfatti, realizaram aqui algumas exposições que chamaram a crítica especializada à atenção e possibilitaram um amplo debate acerca dos princípios motivadores dessa nova forma de arte. A respeito de uma exposição realizada em por Anita em 1917, é famoso o violento artigo “Paranoia ou Mistifi cação”, publicado por Monteiro Lobato a 20 de dezembro no jornal O Estado de São Paulo: Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (…) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpre- tam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. Talvez por causa disso, alguns artistas inovadores, insatisfeitos com a rejeição ao seu trabalho, começaram a se reunir com o objetivo de trocar informações e pensar mecanismos de divulgação de suas convicções. A propósito dessa efervescência artística, surgiu a ideia de promover um festival para expor ao grande público as mais diversas formas de arte moderna e, a partir daí, tirar a discussão do plano teórico e introduzi-la na vivên- cia concreta. Com a aproximação do nosso centenário de Independência, a ocasião pareceu propícia para que se divulgassem também as ideias desses artistas acerca da necessidade de nossa atualização cultural. Encontrando o patrocínio da elite paulistana que, então, interessava-se pela ideia de divulgar a modernização do Brasil, realizou-se a Semana de Arte Moderna. A SAM representou uma tomada de posição coletiva contra o academicismo nas nossas artes. Integrando o Brasil à modernidade, os nossos artistas tinham agora a missão de tentar enquadrá-la na nossa realidade, para cons- truir uma forma de expressão autenticamente nacional. A primeira fase do Modernismo, a chamada fase heroica do movimento, terá suas características baseadas nesses princípios. Nas palavras de Mário de Andrade: Embora se integrassem nele fi guras e grupos preocupados de construir, o espírito modernista que avassalou o Brasil, que deu o sentido histórico da Inteligência nacional desse período, foi destruidor. Mas esta destruição, não ape- nas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver, a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional. Nada disso representa exatamente uma inovação e de tudo encontramos exemplos na história artística do país. A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico de cons- ciên cia coletiva. AMARAL, Tarsila do. Os anjos. 1924. Óleo sobre tela. © P ub lic ad a em q ue st ão d o EN EM