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Avaliação do paciente com dispneia aguda Este material mostra as definições, a revisão de mecanismos fisiopatológicos, dados epidemiológicos e diferentes etiologias de dispneia, com ênfase na abordagem clínica com exames complementares para obtenção de diagnóstico e guia terapêutico apropriado para o reconhecimento da paciente com dispneia aguda, avaliação e utilização racional e apropriada dos recursos hospitalares. 1 Índice Índice..................................................................................... 1 O que é dispneia ..................................................................... 2 Mecanismo fisiopatológico ....................................................... 2 O que é dispneia ................................................................... 2 Mecanismos que levam à dispneia............................................... 3 Classificação da dispneia............................................................ 4 Dispneia crônica ................................................................... 4 Dispneia aguda..................................................................... 6 Sinônimos descritores da dispneia .............................................. 6 Prevalência .......................................................................... 7 Dispneia aguda ....................................................................... 8 Causas da dispneia aguda ........................................................ 8 Diagnósticos diferenciais de dispneia aguda ................................... 8 Avaliação inicial ................................................................... 10 Anamnese.......................................................................... 11 Exame físico ....................................................................... 13 Classificação da dispneia após anamnese e exame físico ................... 17 Exames complementares ........................................................ 17 Referências bibliográficas ............................................................ 22 2 O que é dispneia Mecanismo fisiopatológico Para compreender o que é a dispneia, é importante saber que, de forma resumida, o objetivo do sistema respiratório é: 1. manter a homeostase, garantindo a troca gasosa – oxigenação adequada, avaliada pela concentração parcial de O 2 ; 2. manter o equilíbrio ácido-básico – ventilação adequada, avaliada pela concentração parcial de CO 2 . Qualquer alteração nesse processo pode implicar dispneia. O que é dispneia A dispneia é definida pela American Thoracic Society (com concordância de várias sociedades médicas do mundo) como uma experiência subjetiva do desconforto respiratório, composta de sensações distintas e de intensidade variável. Essa experiência decorre da interação entre múltiplos fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e ambientais e pode induzir respostas fisiológicas e comportamentais individualizadas. De acordo com sua identificação, poderá ser um sintoma ou um sinal. Sintoma: a manifestação é extremamente variável, sendo que uma mesma doença pode manifestar-se como dispneia com características diferentes, assim como pacientes com mesma manifestação de respiração desconfortável podem ter causas completamente distintas para esse sintoma. Sinal: pode ser percebida em avaliação clínica, tendo em vista a possibilidade de pacientes não se queixarem objetivamente de tal desconforto, mas que a avaliação à beira do leito evidencia função respiratória inadequada. 3 Mecanismos que levam à dispneia Os mecanismos que podem levar à dispneia são: aumento do estímulo ventilatório pelo centro regulador da respiração – estimulado pelas vias oriundas de quimiorreceptores periféricos (ambas carótidas e arco aórtico) que são sensíveis a variações de pO 2 , acidose e hipercapnia, e por quimiorreceptores centrais (na medula), que são sensíveis a variações de pH e pCO 2 . Em geral, a hipercapnia é um estímulo mais forte para dispneia do que a hipoxemia; estímulo de mecanorreceptores – situados na face, vias aéreas superiores, pulmões e caixa torácica; sobrecarga mecânica do sistema respiratório; dissociação neuromecânica; prejuízo na oferta ou na utilização de O 2 . 4 Classificação da dispneia A dispneia possui múltiplas causas que tornam a definição de classificação entre crônica e aguda imprecisa, entretanto, essa diferenciação é importante porque as causas em cada grupo são bastante distintas. Dispneia crônica É referida como instalada, habitualmente, há meses ou anos, geralmente avaliada de forma eletiva e, na maioria das vezes, consequente de uma (ou mais) das seguintes causas: Insuficiência Cardíaca (IC); asma; Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); doença pulmonar intersticial; obesidade/descondicionamento físico. Várias outras doenças podem manifestar-se com desconforto respiratório crônico, porém com prevalência baixa, como: neoplasias; doenças inflamatórias sistêmicas; anemias; anormalidades de caixa torácica; doenças neuromusculares; distúrbios psiquiátricos, entre outras. Estágios da dispneia crônica A dispneia crônica pode ser classificada em estágios, de acordo com o esforço necessário para desencadeá-la. Várias sociedades médicas propuseram “classes funcionais” para caracterizar melhor o grau de dispneia. O método mais utilizado e extrapolado para outras situações clínicas é o proposto pela New York Heart Association (NYHA), em 1994, para pacientes com IC. Lee Goldman publicou uma escala específica de atividades para mensurar de forma mais objetiva a dispneia. 5 Conheça a classificação da NYHT, por meio dos exemplos apresentados. I. Perfil: possui doença cardíaca, mas sem apresentar limitações durante a atividade física. O que faz: realiza atividade física habitual, não provoca fadiga indevida, palpitação, dispneia ou dor anginosa. O que pode fazer: realizar qualquer atividade que exija ≥ 7 equivalentes metabólicos. Exemplo: carregar cerca de 10 kg até oito passos, fazer trabalho ao ar livre, realizar atividades recreativas/esportivas. II. Perfil: possui doença cardíaca resultando em limitação leve da atividade física. O que faz: é confortável ao repouso, porém a atividade física habitual resulta em fadiga, palpitação, dispneia ou dor anginosa. O que pode fazer: realizar qualquer atividade que exija ≤ 5 equivalentes metabólicos, por exemplo, ter relações sexuais sem interrupção do ato, jardinagem, andar de patins/bicicleta, dançar levemente, andar lentamente. Não consegue executar até a conclusão atividades exigindo ≥ 7 equivalentes metabólicos. III. Perfil: possui doença cardíaca resultando em limitação acentuada da atividade física. O que faz: é confortável ao repouso, mas atividades físicas menores que as habituais provocam fadiga, palpitação, dispneia ou dor anginosa. O que pode fazer: realizar qualquer atividade que exija ≤ 2 equivalentes metabólicos, por exemplo, tomar banho sem interrupção, arrumar a cama, limpar janelas, andar cerca de 3 km/h, vestir-se sem interrupção, mas não consegue concluir quaisquer atividades requerendo > 5 equivalentes metabólicos. IV. Perfil: possui doença cardíaca resultando em incapacidade para realizar qualquer atividade física sem desconforto. O que faz: apresenta sintomas de insuficiência cardíaca ou de insuficiência coronariana que podem estar presente mesmo em repouso.Se alguma atividade física é realizada, o desconforto piora. O que pode fazer: não pode executar atividade que exija > 2 equivalentes metabólicos. Não pode realizar as atividades listadas da classe III. 6 Dispneia aguda É referida como instalada há minutos ou horas, frequentemente avaliada em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e pode ser manifestação de doença com ameaça à vida em curto prazo. Estágios da dispneia aguda Muitos pacientes com dispneia aguda apresentam exacerbação de doença crônica de base, sendo que a procura por emergência é por apresentarem-se em classe funcional NYHA III/IV. Dispneia como sintoma novo para o indivíduo pode ser classificada de 1 a 10, conforme apresentado. 1 → Discretamente perceptível. 3 → Leve. 5 → Moderada. 7 → Moderada/intensa. 9 → Muito intensa. 10 → Pânico/desconforto máximo. Sinônimos descritores da dispneia As sensações de dispneia são múltiplas, complexas e envolvem as vias aéreas altas (com mecanorreceptores), os pulmões, a caixa torácica (mecânica respiratória composta por osso, músculos e inervação local) e córtex cerebral. Apesar de os pacientes frequentemente utilizarem o termo “falta de ar” para se referirem à dispneia, vários outros descritores são mencionados, entre eles: aperto no peito; esforço para respiração; sufocação respiração pesada; dificuldade para o ar sair; ofegância; cansaço; respiração ineficaz/inadequada; fome de ar; incapacidade de respirar fundo. Há décadas, alguns questionários foram propostos e testados na tentativa de facilitar o diagnóstico da causa de dispneia. Entretanto, nenhum dos descritores citados apresenta alta sensibilidade e especificidade para determinada causa, não sendo possível confirmar ou excluir diagnóstico apenas com anamnese. 7 Mas alguns termos estão associados de forma mais significativa a algumas situações, como: IC → falta de ar, sufocação; descondicionamento/obesidade → respiração pesada; DPOC → respiração ineficaz/inadequada, esforço para respiração, incapacidade de respirar fundo; asma → aperto no peito, esforço para respiração, falta de ar; insuficiência coronariana → dor no peito. O sintoma “fraqueza” (incapacidade de sustentar certos esforços) está mais relacionado às doenças sistêmicas inflamatórias, neoplásicas, hematológicas, neurológicas e psiquiátricas do que com as causas habituais de dispneia. Frequentemente, os pacientes se referem ao “cansaço” como expressão para fraqueza, mas algumas situações, classicamente a IC com baixo débito, podem justificar cansaço e dispneia. Prevalência Não há dados precisos nacionais, nem internacionais, sobre a prevalência de dispneia na prática diária dos profissionais de saúde. No entanto, não há dúvidas de se tratar de um dos sintomas mais referidos e percebidos, principalmente em situações de emergência em pronto socorro. Isso ocorre porque IC, asma e DPOC são causas muito prevalentes de admissão hospitalar por exacerbação/manifestação grave e a dispneia é sintoma marcante nesses casos. Dados estatísticos relevantes sobre a prevalência da dispneia. Prevalência na população brasileira : 1% com IC; 5% com asma. Prevalência na população americana: 25 milhões de pessoas com DPOC; 3,5% de atendimentos em PA, com dispneia aguda; 7,6% associados a outros eventos (tosse, desconforto torácico). 8 Dispneia aguda Causas da dispneia aguda Existem dezenas de situações clínicas que podem ocasionar dispneia aguda. Do ponto de vista didático e para facilitar o diagnóstico à beira do leito, divide- se essas causas em grandes grupos, cada um com peculiaridades e subdivisões, mas com grandes características em comum, que irão direcionar a anamnese, o exame físico e os exames complementares. Diagnósticos diferenciais de dispneia aguda Cardíaca IC manifesta de início recente EAP SCA Crise hipertensiva Arritmia Valvopatia aguda SCA Miocardite Tamponamento cardíaco Alto débito IC crônica exacerbada Várias causas de exacerbação Pulmonar Exacerbação de doença de via aérea Asma DPOC Inflamação pulmonar Pneumonia SARA Pneumotórax TEP 9 Contusão pulmonar Hemorragia alveolar Síndrome torácica aguda em falciforme Derrame pleural Tumor de pulmão Prejuízo à função mecânica Ascite Processos abdominais Obesidade Obstrução de vias aéreas superiores Angioedema Língua Glote Infecção Faringe Profunda do pescoço Corpo estranho Trauma Neurológica AVC Doenças neuromusculares Tóxica Inalação de monóxido de carbono Intoxicação por salicilatos Intoxicação por organofosforados/anticolinesterásicos Intoxicação por drogas com ação no SNC Acidose Sepse Cetoacidose metabólica Psiquiátrica Hiperventilação Ansiedade AVC: Acidente Vascular Cerebral. DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. EAP: Edema Agudo dos Pulmões. IC: Insuficiência Cardíaca. SARA: Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto. SCA: Síndrome Coronariana Aguda. TEP: Tromboembolismo Pulmonar. 10 Avaliação inicial Condições de atendimento Tendo em vista a possibilidade de situação com ameaça à vida, todo paciente com dispneia aguda deve receber atendimento nas seguintes condições: Avaliação em sala de emergência : a avaliação deve ser realizada na sala de emergência, que deve estar equipada com todos os recursos que podem ser necessários, como: fonte de oxigênio, dispositivos de oferta de oxigênio (cateteres, máscaras, ventilação não invasiva, bolsa-válvula- máscara), material para via aérea avançada (intubação traqueal, dispositivos supraglóticos/via aérea difícil) e cricotiroidostomia, ventilador mecânico, instrumentos cirúrgicos, material para acesso venoso/intraósseo, múltiplas medicações, monitor de parâmetros vitais e desfibrilador. Exames complementares: deve-se dispor de exames complementares, como eletrocardiograma (ECG), radiografia de tórax, exames laboratoriais sanguíneos, Tomografia Computadorizada (TC) e Ecodopplercardiograma (ECO). Atendimento multiprofissional: o atendimento também dever ser multiprofissional, com médico(a), enfermeiro(a), técnico(a) de enfermagem e fisioterapeuta. Idealmente, outros profissionais devem ser alertados, pois frequentemente são acionados durante o cuidado desses pacientes: farmacêutico(a), biomédico(a), médicos(as) de métodos de imagem/diagnóstico e equipe de transporte. Posicionamento do paciente Inicialmente, a posição habitual de avaliação é com paciente deitado em maca com decúbito parcialmente elevado, cerca de 45º. Às vezes é necessário variações na inclinação, como, por exemplo, 90º no Edema Agudo de Pulmão (EAP) e em decúbito dorsal horizontal, 0º, para proceder à obtenção de via aérea avançada. 11 MOV O mnemônico MOV é um clássico a ser feito no atendimento inicial. M (Monitorização): monitoriza-se precocemente: ritmo cardíaco, Pressão Arterial (PA) e oximetria (SatO 2 ). O (Oxigênio): a administração precoce de oxigênio deve ser feita utilizando-se dispositivo que oferte a quantidade compatível com a necessidade do momento. Ajustes na oferta, fluxo e formas de administração de oxigênio são feitos recorrentemente. Em algumas situações, oxigênio em excesso pode ser deletério, no entanto, sempre deve ser ofertadoinicialmente até “entendimento do caso”, depois, em caso de não necessidade, deve ser retirado. V (Veia): punção de acesso venoso e coleta de exames laboratoriais. Idealmente, uma capnografia deve estar disponível, principalmente, para uso em caso de intubação orotraqueal. Preconiza-se também obtenção precoce de acesso venoso periférico, idealmente em região antecubital, seguido de coleta de tubos de sangue para enviar para análise. A depender da evolução clínica, um segundo acesso pode ser necessário. Anamnese É comum o paciente não ser o principal informante pela limitação imposta pelo desconforto respiratório. Dessa forma, é fundamental a presença de familiares, acompanhantes, socorristas, além de contato com médico assistente. É importante ressaltar que a anamnese e o exame físico devem ser simultâneos e realizados de forma objetiva, concomitantemente à obtenção de sinais vitais. Informações essenciais 1. Tempo de sintoma: classificar em dispneia aguda ou crônica. 2. Intensidade: crônica exacerbada: usar NYHA, preferencialmente; dispneia nova: pedir para classificar de 1 a 10. Dispneia intensa, em geral, está associada a causas com ameaça à vida a curto prazo e implica rápido tratamento, mas a ausência de dispneia com essa característica não afasta causas graves. 12 3. Desencadeantes possíveis: após engasgo: obstrução de vias aéreas; após alimentação/uso de medicações: anafilaxia; exposição ao frio e/ou alérgenos: crise asmática; após mobilidade reduzida (imobilização, viagem prolongada) ou cirurgia: tromboembolismo pulmonar; após abuso hidrossalino/uso de anti-inflamatórios/má adesão às medicações: IC exacerbada; após trauma: pneumotórax, contusão pulmonar. 4. Sintomas associados: dor torácica: SCA, TEP, asma; ortopneia, dispneia paroxística noturna: IC; chiado: asma, TEP; hemoptise: TEP, IC. Espuma rósea é um sintoma característico de EAP. secreção pulmonar, catarro amarelado/marrom/verde: infecção; febre: infecção/inflamação pulmonar. Eventualmente associada à TEP, SCA; palpitação: IC exacerbada por arritmia; tontura/síncope: possível IC com baixo débito, TEP, pneumotórax; edema periférico: IC; angioedema, urticária: anafilaxia. 5. Doenças de base/fatores de risco: causadoras de dispneia crônica, que podem exacerbar: IC, DPOC, asma, doença intersticial pulmonar, obesidade; predisponentes à doença cardiovascular: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tabagismo, dislipidemia, antecedentes familiares; predisponentes à DPOC: tabagismo; predisponentes a outras doenças pulmonares: exposições ambientais, doenças neurológicas/uso de drogas com risco de aspiração; predisponentes a TEP: neoplasia em atividade, DPOC, IC, doenças hematológicas, mobilidade reduzida; doenças psiquiátricas. 6. Medicação em uso: frequentemente indicam doença em tratamento não referida objetivamente. 7. Evolução temporal: a manutenção do padrão de dispneia e/ou a piora progressiva não são específicos para certas causas, mas esta última implica não retardar o início do tratamento. 13 8. Fatores de melhora : ao sentar: IC; ao deitar: marcador de insuficiência de Ventrículo Direito (VD) aguda: TEP, tamponamento, SCA (infarto de VD); outros dados são pouco específicos; Exame físico Quando a anamnese adequada não for possível, a realização de exame físico minucioso torna-se indispensável para o diagnóstico. Confirmação do grau de dispneia A confirmação do grau de dispneia é feita rapidamente por avaliação física. Como sinais de gravidade máximos, destacam-se: cianose central; fadiga respiratória, tanto bradipneia extrema quanto taquipneia extrema; rebaixamento no Nível de Consciência (NC). Esses achados, frequentemente, antecedem a Parada Cardiorrespiratória (PCR). Com raras exceções, esses sinais de gravidade implicam utilização de dispositivo bolsa-válvula-máscara e obtenção de via aérea avançada, idealmente intubação orotraqueal precoce e ventilação mecânica. 1. Outros dados sugerem dispneia intensa, que implica rápida conduta, como: 2. Incapacidade de falar, discurso intercortado. 3. Intensa piora ao deitar. 4. Uso da musculatura acessória (supraesternal, intercostal, subcostal), batimento de asas do nariz. 5. Sudorese intensa. 6. Agitação. Recomendações Não é recomendada a realização de exame físico geral e específico em paciente que não esteja em situação de emergência. A prioridade inicial é a realização dos seguintes procedimentos: verificar se há indícios de pré-PCR e de insuficiência respiratória grave; quantificar a Frequência Respiratória (FR) e monitorá-la continuamente; checar a oximetria de pulso recorrentemente e atentar para algumas situações que fazem com que ela não seja fidedigna, como: má perfusão periférica/choque/hipotermia, meta-hemoglobinemia e intoxicação por monóxido de carbono. 14 Veja alguns exemplos. 1. Portadores de cardiopatia congênita cianogênica podem ter saturação baixa e não necessariamente estarem com dispneia aguda. 2. Pacientes sem dispneia exibem saturação maior que 95% normalmente, sendo que se deve corrigir o valor para idosos, quando se tolera valores maiores que 93%. 3. Tabagistas crônicos com DPOC podem ter SatO 2 entre 92 e 95% e não estarem com dispneia no momento, assim como portadores de outras pneumopatias crônicas. Como regra geral, valoriza-se SatO 2 menor 95% como marcador de hipoxemia para pacientes admitidos na sala de urgência. Sinais de débito cardíaco Apesar de haver um raciocínio associativo entre dispneia e exame físico pulmonar, é crucial a avaliação precoce de sinais que possam sugerir baixo débito cardíaco, como, por exemplo: palidez cutânea; extremidades frias; cianose do leito ungueal; tempo de enchimento capilar elevado (maior que 3 segundos); pulsos com amplitude fina/ausência de pulso pedioso e tibial posterior; PA convergente – diminuição da pressão de pulso; hipotensão; presença de B3 – bulha protodiastólica, frequentemente representa disfunção sistólica com remodelamento. Quanto maior for o número desses achados, maior será a probabilidade de IC manifesta, também com baixo débito e causa cardíaca para os sintomas, além de marcador de gravidade. Outros achados sugerem IC congestiva, como: palidez cutânea/estase jugular (mais específico se for da jugular interna e quanto mais pronunciado/alto for o ingurgitamento venoso); hepatomegalia; esplenomegalia; ascite; edema periférico: sacral, escrotal, bilateral de membros inferiores (mais específico quanto mais proximal chegar o edema); estertores crepitantes bilaterais (quanto mais alto chegarem, mais específico é este achado); B3; B4 (bulha telediastólica, representa geralmente disfunção diastólica com remodelamento concêntrico e sobrecarga de pressão). 15 Outros achados Ressalta-se que a maioria dos pacientes com dispneia significativa cursa com taquicardia, habitualmente sinusal, como resposta proporcional à insuficiência respiratória. A presença de arritmia, principalmente levando à alta frequência cardíaca (maior que 120 bpm) e/ou ritmo irregular e/ou presença de QRS alargado, sugere mais fortemente causa cardíaca para dispneia. A PA também pode estar elevada multifatorialmente como resposta à dispneia, porém um valor muito elevado (maior que 180x100 mmHg) frequentemente está relacionado à etiologia da dispneia. O EAP hipertensivojá pode ser justificado com valores de pressão arterial sistólica a partir de 150 mmHg. 1. Presença de pulso paradoxal – tamponamento cardíaco. 2. Ictus cordis desviado e/ou com mais de 2 polpas. 3. Frêmitos torácicos. 4. Sopros cardíacos. Achados durante a ausculta pulmonar Tendo em vista a possibilidade de situação com ameaça à vida, todo paciente com dispneia aguda deve receber atendimento nas seguintes situações: 1. Presença de estridor e rouquidão: significa que estes são marcadores de obstrução das vias aéreas superiores. 2. Causa anafilática: a associação com angioedema e urticária favorece a causa anafilática. 3. Sibilos difusos: caracteristicamente, são marcadores de asma e DPOC, principalmente se associados à expiração prolongada e se forem inspiratórios ou expiratórios. 4. Congestão pulmonar: os achados de imagem, classicamente, também aparecem em congestão pulmonar – IC (“asma cardíaca”). O diagnóstico de asma/DPOC não pode vir só pela ausculta, mas com a somatória das informações citadas anteriormente. 5. Presença de sibilos: também implica avaliação minuciosa para possível causa cardíaca subjacente. Também aparecem sibilos em anafilaxia e são auscultados localizadamente em casos de TEP e tumor de pulmão. 16 6. Estertores crepitantes: são marcadores de líquido nos alvéolos. Conforme exposto, sendo bilaterais estão muito relacionados à congestão pulmonar por IC. Outras naturezas de líquido produzem estes estertores, como, por exemplo: SARA, pneumonia, TEP e contusão pulmonar. Por vezes, é difícil de diferenciar tais estertores de outros ruídos pulmonares, como subcreptantes, roncos, atritos pleurais, cavitações, entre outros. 7. Diminuição dos murmúrios vesiculares: estar associada a pneumotórax, derrame pleural, hemotórax, lobectomia, DPOC e asma grave. A percussão torácica e a avaliação da egofonia podem ajudar na diferenciação, sendo que, classicamente, o som timpânico e a diminuição da ausculta da voz acontecem no pneumotórax e o som submaciço e o aumento da propagação da voz ocorrem em situações de acúmulo de líquido pleural. 8. Presença de DPOC: alguns dados sugerem a presença de DPOC pelo exame físico: fenótipo com azul pletórico (blue bloater) ou tipo soprador rosado (pink puffer); hiperexpansão pulmonar, aumento do diâmetro anteroposterior e laterolateral do tórax; baqueteamento digital. Avaliação do abdome e membros inferiores Avaliação do abdome: sempre dever ser feita, sucintamente, procurando por sinais de abdome agudo e possíveis causas abdominais para dispneia, tais como: distensão abdominal, dor intensa, defesa, descompressão brusca positiva, visceromegalias, massas e ascite. Avaliação dos membros inferiores: pode evidenciar sinais compatíveis com trombose venosa profunda e manifestação de tromboembolismo venoso, com alta associação com TEP. 17 Classificação da dispneia após anamnese e exame físico Após os dados obtidos pela anamnese, exame físico e sinais vitais, tenta-se classificar as causas da dispneia do paciente em: causa cardíaca; causa pulmonar; obstrução das vias aéreas superiores; outras. A investigação complementar será solicitada de acordo com essas possibilidades, assim como a instalação do tratamento. Exames complementares Se por meio da anamnese e dos exames físicos não for possível o diagnóstico definitivo, a realização de exames complementares torna-se imprescindível. 1. Eletrocardiograma (ECG). 2. Radiografia de tórax. 3. Ecodopplercardiograma. 4. Ultrassom de tórax. 5. Biomarcadores. 6. Exames laboratoriais habituais. 7. Peak flow. 8. Tomografia computadorizada de tórax. 1. Eletrocardiograma (ECG) Deve sempre ser realizado, independentemente da causa presumida de dispneia, precocemente, em até 10 minutos da chegada do paciente. O objetivo fundamental é o diagnóstico de SCA, portanto, a meta inicial da interpretação é fazer uma busca ativa de supradesnivelamento do segmento ST ou bloqueio de ramo esquerdo (BRE) novo para diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM com supra ST). Na ausência de supradesnivelamento de ST, outros achados sugerem isquemia: infradesnivelamento de ST, inversão profunda T e alteração dinâmica de ST/T (alterações de SCA sem supra ST). O ECG também auxilia no diagnóstico de cardiopatia quando evidencia: sobrecargas de câmaras, BRE antigo e ondas Q patológicas. 18 É fundamental para o diagnóstico de arritmias e pode dar dicas de uma série de outras situações clínicas, entre elas: TEP. pericardite. DPOC. intoxicações medicamentosas (uso de digital, QT longo). distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalcemia, hipercalcemia, hipopotassemia, hiperpotassemia). hipotermia. 2. Radiografia de tórax Extremamente útil para diagnóstico de boa parte das causas de dispneia aguda. Em situações críticas, é realizada no leito, com a incidência anteroposterior, que implica atenção na interpretação de achados que podem ser consequentes à magnificação da imagem. A sensibilidade e a especificidade desse método aumentam quando há possibilidade de comparação com exames prévios. Pode revelar achados compatíveis com: Insuficiência Cardíaca (IC): cardiomegalia, cefalização da trama vascular, linhas B de Kerley (edema intersticial), aumento da perfusão no terço distal do tórax, aumento do diâmetro do mediastino médio (ingurgitamento de veia cava e artéria pulmonar), padrão alveolar, derrame pleural, líquido na cisura, entre outros. No entanto, ressalta-se que o índice cardiotorácico normal não afasta IC (cerca de 50% com fração de ejeção normal) e até 20% dos pacientes com IC não apresentam achados típicos radiográficos. Pneumotórax: presença de “linha” de pleura delimitando área vascularizada e área acometida sem vasos. Luxação das estruturas para lado contralateral. Idealmente, a radiografia deve ser feita em expiração máxima e com posição lordótica para aumentar a sensibilidade. Habitualmente, os pneumotórax sintomáticos são visíveis à radiografia comum. Destaca-se que situações de suspeita de pneumotórax hipertensivo devem ser tratadas imediatamente após a impressão clínica, não se devendo aguardar radiografia para confirmação, tendo em vista a urgência da situação. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): grandes volumes pulmonares, retificação diafragmática, represamento aéreo, alteração bilateral da trama vasobrônquica. Pneumonia: presença de padrão alveolar e, eventualmente, padrão intersticial localizado. 19 Corpo Estranho (CE): represamento aéreo localizado; eventual demonstração de objeto com atenuação não compatível com substâncias corpóreas. Derrame pleural: achado típico de apagamento de seio costofrênico e opacificação da base pulmonar. Atelectasia pulmonar: área opacificada, com desvio ipsilateral de estruturas adjacentes. 3. Ecodopplercardiograma Bastante dependente da experiência do operador, mas trabalhos evidenciam que pode ser um método não invasivo útil para a diferenciação de causas de dispneia. Pacientes com alta probabilidade de SCA, porém com diagnóstico duvidoso apenas para anamnese, exame físico e ECG, principalmente em portadores de marca-passo e BRE antigo – pode evidenciar hipocinesia/acinesias segmentares. EAP não hipertensivo, não associado à arritmia e SCA – pode sugerir miocardiopatias e avalia presença de valvopatias. No EAP hipertensivo, a ecocardiografia à beira do leito pode vir normal e isso pode não afastar apresença de disfunção diastólica. Suspeita de tamponamento cardíaco. IC suspeita, mas não passível de confirmação ou início de tratamento por outros métodos. 4. Ultrassom de tórax Bastante dependente da experiência do operador, mas trabalhos evidenciam que pode ser um método não invasivo útil para a diferenciação de causas de dispneia. Pode evidenciar pneumotórax, derrame pleural, consolidação e congestão pulmonar, esta última quando aparecem os artefatos chamados “comets”. O ideal da sua utilização é ser feito pelo próprio emergencista, experiente no método, com aparelho disponível em sala de emergência, para complementação após a impressão clínica e a eletrocardiográfica inicial. A ultrassonografia de urgência também pode ser útil por meio da avaliação do grau de congestão pelo diâmetro da veia cava inferior e por ecoscopia (similar ao “fast" feito em situações de trauma) que avalia a presença de derrame pericárdico e contração ventricular. 20 5. Biomarcadores Por existirem vários tipos de biomarcador, o exame deve ser realizado à beira do leito (Point Of Care Testing – POCT) com resultados obtidos em poucos minutos. BNP: não é útil para diagnóstico se utilizado indiscriminadamente, tendo em vista que pode estar elevado em causas outras além de IC, sendo fator de confusão. Na possibilidade de IC, deve ser dosado e, quando menor que 100 pg/mL, praticamente afasta o diagnóstico e, se maior que 500 pg/mL, há alta probabilidade de causa cardíaca para dispneia. Como falso negativo, deve-se lembrar de idosos e obesos. Valores na faixa intermediária (100-500 pg/mL) são encontrados em diversas situações: TEP, IRC, doenças sistêmicas avançadas, cor pulmonale, insuficiência hepática. Independentemente da causa para elevação do BNP, isso é um marcador de mau prognóstico. Troponina: troponina e outros marcadores de necrose miocárdica devem ser solicitados para diagnóstico de SCA. Apesar de colhidos para seguimento, não são necessários para o diagnóstico na vigência de supradesnivelamento de ST. São fundamentais para o diagnóstico de infarto sem supra ST. No entanto, podem estar elevados em outras situações: TEP, pericardite, miocardite, IC. Nesses casos, diferencia-se de SCA por não haver curva. Assim como o BNP, independentemente da causa de base, a elevação de troponina é um marcador de mau prognóstico. Dímero D: tem valor para exclusão diagnóstica quando vem negativo para paciente com baixa e moderada probabilidade pré-teste de TEP. Não deve ser usado como screening no paciente com alta probabilidade pré-teste de TEP. Ressalta-se que há frequente elevação desde exame em SCA, dissecção de aorta, pneumonia e pós-operatório. 6. Exames laboratoriais habituais Gasometria arterial: apesar de habitualmente solicitada, traz poucas informações para a tomada de conduta em situação de emergência. Confirma a hipoxemia, mas essa informação pode ser obtida pelo quadro clínico e oximetria. Alterações do distúrbio ácido-básico também podem ser avaliadas pela gasometria venosa, que pode ser colhida com o pacote de exames obtidos na avaliação inicial. Deve-se solicitar esse exame quando há suspeita de hipercapnia significativa e com a coleta de lactato em suspeita de sepse grave. Hemograma: deve ser colhido sempre. A presença de anemia implica investigação de doenças subjacentes e a hiperglobulina é dica para pneumopatia crônica. Leucocitose e leucopenia podem estar presentes em infecção pulmonar, mas também em SCA, TEP e outras causas de mobilização periférica dos leucócitos marginados em situações de estresse. 21 Eletrólitos e função renal: sempre necessários para a correta administração de medicações e eventual diagnóstico de alterações decorrentes de doenças de base. Proteína C reativa/VHS: exames inespecíficos, porém quando normais dizem muito contra a presença de infecção pulmonar. 7. Peak flow O Peak flow pode ser útil para a diferenciação de causa cardíaca pulmonar para dispneia, mas seu uso está mais consagrado para determinação da gravidade da broncoconstrição em crise de asma, situação em que pode ser realizado para auxiliar o tratamento. 8. Tomografia computadorizada de tórax É o exame “gold standart” não invasivo para diagnóstico de congestão pulmonar e condensação pulmonar, apresenta alta sensibilidade e especificidade para diagnóstico de TEP e traz múltiplas informações para todas as causas pulmonares de dispneia. Deve ser solicitada sempre, após estabilização do paciente, para diagnóstico de possíveis causas pulmonares de dispneia. 22 Referências bibliográficas 1. ASPERNHEIM, Mary Kaye. Farmacologia para enfermagem. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994. 2. BATES, Barbara. Propedêutica médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 3. CLAYTON, Bruce D. et al. Farmacologia na prática de enfermagem. 15. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2012. 4. VIANA, Dirce Laplaca. Boas práticas de enfermagem. São Caetano do Sul, SP: Yendis, 2011.