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FACULDADE MULTIVIX CARIACICA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL III 
CONTRATOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARIACICA 
2019 
 
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Slide 1 
Conceito de contratos: Negócio jurídico resultante de um acordo de vontades 
que produz efeitos obrigacionais. Este é o conceito da doutrina, até porque não é missão 
do legislador fazer definições. 
Aspectos principais deste conceito: 
Negócio jurídico: contrato é negócio jurídico, ou seja, é uma declaração de 
vontade para produzir efeito jurídico. O contrato é negócio, via de regra, informal, quer 
dizer, existe uma grande liberdade das pessoas na celebração dos contratos, tanto que a 
maioria dos contratos pode ser verbal até para facilitar a nossa vida e a circulação de 
bens (art. 107). 
Chama-se de autonomia privada este campo do Direito Civil justamente porque 
a liberdade das pessoas no contratar e no dispor de seus bens é grande. 
As partes podem até criar/inventar contratos, igualmente celebrá-los 
verbalmente, sem formalidades (art. 425). 
Recomenda-se celebrar por escrito contratos de alto valor, mas não por uma 
questão de validade e sim por uma questão de segurança, caso surja algum litígio 
judicial. 
Os contratos verbais são provados em Juízo mediante testemunhas, que são 
provas menos seguras do que os documentos. 
Exemplo de contrato solene/escrito é a compra e venda de imóvel (art. 108) e a 
doação (art. 541). 
São contratos informais/verbais a compra e venda de móveis, a locação e o 
empréstimo. 
Acordo de vontades: o contrato exige um consenso, um acordo de vontades. É 
 esse consenso que vai formar o contrato, principalmente se o contrato for verbal. O 
consenso é entre pelo menos duas partes. 
Por isso todo contrato é no mínimo bilateral quanto às partes, afinal ninguém 
pode ser credor e devedor de si mesmo (revisem confusão (art. 381 e seguintes), modo 
de extinção das obrigações visto em Civil 2). 
 
3 
O que se admite é o autocontrato, ou contrato consigo mesmo, quando uma 
única pessoa vai agir por duas partes (Ex: A vai viajar e precisa vender sua casa, 
então passa uma procuração a seu amigo B autorizando-o a vendê-la a quem se 
interessar, eis que o próprio B resolve comprar a casa, então B vai celebrar o 
contrato como vendedor, representando A, e como comprador, em seu próprio 
nome). São duas vontades jurídicas distintas, embora expressas por uma só pessoa. 
Efeitos obrigacionais: as obrigações têm efeitos estudados em Civil 2, e dois 
deles se aplicam diretamente aos contratos: 
1) a transitoriedade: os contratos, em geral, são transitórios/são efêmeros/têm 
vida curta (Ex: compra e venda de balcão); alguns contratos são duradouros (Ex: 
locação por doze meses), mas um contrato não deve ser permanente. Permanência é 
característica dos Direitos Reais. 
A propriedade sim dura anos, décadas, se transmite a nossos filhos, mas os 
contratos não. 
2) o valor econômico: todo contrato, como toda obrigação, precisa ter um valor 
econômico para viabilizar a responsabilidade patrimonial do inadimplente se o contrato 
não for cumprido. 
Em outras palavras, se uma dívida não for paga no vencimento ou se um 
contrato não for cumprido, o credor mune-se de uma pretensão e a dívida se transforma 
em responsabilidade patrimonial. 
Que pretensão é esta de que se arma/de que se mune o credor? É a pretensão 
a executar o devedor para atacar/tomar seus bens através do Juiz. 
E se o devedor/inadimplente não tiver bens? Então não há nada a fazer pois, 
como dito, a responsabilidade é patrimonial e não pessoal. Ao credor só resta espernear, 
é o chamado na brincadeira “jus sperniandi”. 
Realmente já se foi o tempo em que o devedor poderia ser preso, escravizado ou 
morto por dívidas. 
O único caso atual de prisão por dívida é na pensão alimentícia, assunto de 
Direito de Família. 
 
 
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Slide 2 
Elementos, requisitos e pressupostos contratuais 
1 – capacidade das partes: este é o primeiro elemento (art. 104, I), pois o 
contrato celebrado pelo incapaz é nulo (art. 166, I) e pelo relativamente incapaz é 
anulável (art. 171, I). A nulidade é assim mais grave do que a anulabilidade. 
Imaginem uma doença: a nulidade é uma doença fatal, já a anulabilidade é 
curável. Depois revisem este assunto de Civil I. 
Mas o menor e o louco, embora incapazes, podem adquirir direitos e celebrar 
contratos, desde que devidamente representados. Então os pais representam os filhos, os 
tutores representam os órfãos e os curadores representam os loucos. (Assunto de Direito 
de Família, Civil VI). 
Desta forma, a capacidade de direito é inerente a todo ser humano (art. 1º), 
a capacidade de fato é que falta a algumas pessoas (ex: menores, loucos) e que por isso 
precisam ser representadas para celebrar contratos (art. 116). 
2 – objeto do contrato: é a operação, é a manobra que as partes visam realizar. 
O objeto corresponde a uma prestação lícita, possível, determinada e de valoração 
econômica. 
Então A não pode contratar B para matar C, nem A pode contratar B para 
comprar contrabando ou drogas, pois o objeto seria ilícito. Igualmente o filho não pode 
comprar um carro com o dinheiro que vai herdar quando o pai morrer, pois a lei proíbe 
no art. 426 (chama-se de pacta corvina, ou pacto de corvo este dispositivo já que é 
muito mórbido desejar a morte do pai, e ninguém garante que o filho é que vai morrer 
depois). 
 Quanto à possibilidade do objeto, seria impossível contratar um mudo para 
cantar, ou vender passagens aéreas para o sol. 
 O objeto também precisa ser determinado ou determinável, conforme visto no 
semestre passado quanto às obrigações de dar coisa certa ou incerta (art. 243). 
Finalmente, o contrato precisa ter valor econômico para se resolver em perdas e 
danos se não for cumprido por ambas as partes. 
 
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O valor econômico do contrato viabiliza a responsabilidade patrimonial do 
inadimplente, já que não se vai prender um artista que se recusa a fazer um show. O 
artista será sim executado patrimonialmente para cobrir os prejuízos, tomando o Juiz 
seus bens para satisfazer a parte inocente. Vide art 104, II do CC. 
3 – forma: a forma do contrato é livre, esta é a regra, lembrem-se sempre disso. 
Existem exceções, mas esta é a regra geral: os contratos podem ser celebrados por 
qualquer forma, inclusive verbalmente face à autonomia da vontade que prevalece no 
Direito Civil (art. 107). 
O formalismo está em desuso nos países modernos para estimular as transações 
civis e comerciais, trazendo crescimento econômico com a circulação de bens e de 
riqueza. 
A vontade inclusive prevalece sobre a forma, nos termos do artigo 112. 
Quando vocês forem redigir um contrato não há formalidades a obedecer, basta 
colocar no papel aquilo que seja imprescindível ao acordo entre as partes, até porque, os 
contratos podem ser verbais, como na compra e venda, locação e empréstimo. 
Vide art 104, III: assim salvo expressa previsão em lei, a forma do contrato é 
livre. 
Que contratos têm forma especial e precisam ser escritos? 
Vamos começar com dois: a doação de coisas valiosas (art. 541 e parágrafo 
único) e a compra e venda de imóvel (art. 108). 
Percebam que os contratos escritos se dividem em “instrumento 
particular” (feito por qualquer pessoa, qualquer advogado) e “escritura pública” (feita 
por tabelião de Cartório de Notas, com as solenidades do art. 215). 
4 – legitimidade: está próxima da capacidade. São irmãs, mas não se 
confundem. 
A legitimidade é um limitador da capacidade em certos negócios jurídicos. A 
legitimidade é o interesseou autorização para agir em certos contratos previstos em lei. 
 
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A pessoa pode ser capaz, mas pode não ter legitimidade para agir naquele 
caso específico. 
Exemplos: o tutor não pode comprar bens do órfão (art. 497, I), o cônjuge não 
pode vender uma casa sem autorização do outro (art. 1647, I), a amante do testador 
casado não pode ser sua herdeira (art. 1801, III), o pai não pode vender um terreno a um 
filho sem a autorização dos outros filhos (art. 496). 
Em todos estes exemplos falta legitimidade e não capacidade às partes. 
Realmente, o marido não pode vender um imóvel sem a outorga uxória não 
porque o marido seja incapaz (louco ou menor), mas porque lhe falta autorização para 
agir, prevista em lei, para proteger a família (= legitimidade). 
Igualmente o juiz não pode comprar o bem que ele penhorou do devedor no 
processo de execução não porque o magistrado seja incapaz, mas porque lhe falta 
legitimidade. 
Ora, com tanta coisa no comércio para ser adquirida, não é razoável o juiz 
comprar para si um bem que ele mandou tomar, afinal não basta ser honesto, é preciso 
parecer honesto. 
5 – causa: Qual o motivo do contrato? Qual a finalidade do contrato? Por que 
João quer comprar? Por que Maria quer alugar? 
Isto não interessa, não há relevância jurídica para a causa/motivo do 
contrato no direito brasileiro. 
O art. 166, III usa a expressão “motivo”, todavia se refere ao objeto do contrato 
(art. 104, II, ex: alugar uma casa para prostituição infantil). Quando você vai comprar 
um carro, é juridicamente irrelevante se o carro é para você passear, trabalhar, ou se 
você vai dar a seu filho, etc. 
Esse motivo é só do comprador, e o vendedor em geral nem sabe quais os 
motivos da outra parte. 
Outro exemplo, você compra anel de noivado, depois acaba o namoro, pode 
devolver o anel na loja e pedir o dinheiro de volta? 
Resposta: Não, justamente porque o motivo da compra não é relevante. 
 
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Mas e se você é salvo de um afogamento pelo bombeiro José, e como 
retribuição doa um carro ao bombeiro João, José pode pedir a anulação do 
contrato? 
Resposta: Sim, pois houve erro como defeito do negócio jurídico, e o motivo da 
doação foi o salvamento, senão você jamais daria um carro nem a José nem a João (art. 
140, art. 171, II). 
Bom, em termos econômicos, as pessoas contratam para ganhar dinheiro, para 
ter conforto, para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido o art. 421. 
E quando o contrato cumpre sua “função social”? Quando viabiliza trocas 
úteis e justas, afinal ninguém contrata para ter prejuízo. 
6 – prestação: é uma conduta humana, é um ato ou omissão das partes, é um 
dar, é um fazer ou é um não-fazer. 
O contrato é uma fonte de obrigação, e toda obrigação tem por objeto uma 
prestação que corresponde a um dar, fazer ou não-fazer. 
Então se eu contrato um advogado para me defender, o objeto deste contrato será 
o serviço jurídico que será feito pelo bacharel (obrigação de fazer). 
Outro exemplo: vejam o conceito legal de compra e venda no art. 481. 
Observem a expressão “se obriga”. 
Então o objeto da compra e venda não é a coisa em si, mas a prestação de dar o 
dinheiro pelo comprador e de dar a coisa pelo vendedor. 
O vendedor se obriga a dar a coisa, e se ele não der, o comprador não pode 
tomar a coisa, mas sim exigir o dinheiro de volta mais eventuais perdas e danos (art. 
389). 
O art 475 é uma exceção a este art. 389, veremos em breve quando formos tratar 
dos efeitos dos contratos. 
Assim, admite-se excepcionalmente que, ao invés de apenas resolver a obrigação 
em perdas e danos (art 947), o credor possa exigir a prestação “in natura”, ou seja, a 
coisa devida em si. 
 
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Voltando a falar de prestação, o objeto do contrato é uma prestação, essa 
prestação pode ser de dar, fazer ou não-fazer. 
O objeto da prestação de dar será uma coisa, o objeto da prestação de fazer será 
um serviço e o objeto da prestação de não-fazer será uma omissão, conforme visto em 
Civil II. 
7 – elementos acidentais: estes não são obrigatórios, mas facultativos, ou seja 
as partes inserem se quiserem (ex: cláusula penal, art. 408; encargo na doação, art. 562, 
etc). 
 
 
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Slide 3 
Formação do contrato 
Os contratos se formam pelo consenso, pelo acordo de vontades entre pelo 
menos duas pessoas, sem maiores solenidades (art. 107). 
A vontade é fundamental nos contratos, por isso todo contrato é consensual. 
Para as pessoas se relacionarem é preciso que elas se comuniquem. A 
comunicação da vontade pode ser expressa e pode ser tácita. 
A comunicação expressa é a mais comum e mais clara, se fazendo de forma 
escrita ou verbal. 
Já a comunicação tácita é aquela presumida por certas circunstâncias, como o 
silêncio da outra parte (art. 111, ex: em geral as pessoas gostam de receber presentes, 
mas ninguém está obrigado a aceitá-los, porém o silêncio do donatário é tido como 
aceitação, art. 539; outro ex: art. 659). 
Mas em Direito nem sempre quem cala consente, como na assunção de dívida, 
onde o silêncio do credor importa em recusa da troca do devedor (parágrafo único do 
art. 299). As vontades que formam o contrato se chamam de oferta (ou proposta) de um 
lado, e aceitação do outro lado. 
Quem emite a oferta é o proponente (ou policitante). Quem emite a aceitação é o 
aceitante (ou oblato). 
Nos contratos complexos e de alto valor existem os debates preliminares, 
avançando as negociações até a maturidade e o fechamento do contrato com o acordo de 
vontades. 
Na fase preliminar pode se escrever uma minuta ou rascunho do contrato. 
Mas para comprar chiclete na barraca ninguém faz isso: as vontades se 
comunicam, o contrato se forma, nasce e se extingue em segundos. Exemplificando, no 
contrato de compra e venda quem emite a proposta é o vendedor ao efetuar oferta a 
pessoa indeterminada (= oferta ao público; ex: sapatos expostos numa sapataria). Esta 
oferta ao público tem caráter obrigatório pela seriedade e segurança das relações 
jurídicas (art. 427). 
 
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Além de obrigatória, a proposta deve ser completa a fim de facilitar a aceitação e 
o surgimento do contrato, nos termos do art. 31 do Código do Consumidor: "a oferta e 
apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, 
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, 
qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, 
entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança 
dos consumidores." 
Quanto mais completa for a oferta, facilita seu "casamento" com a aceitação. Se 
a aceitação não se integrar com a oferta, teremos uma contraproposta do art. 431. 
Por outro lado, admite-se na compra e venda que o comprador faça a proposta, 
por exemplo, se uma pessoa vê o relógio do colega e pergunta se quer vendê-lo? 
Neste caso, o comprador estará estimulando o proprietário a colocar a coisa em leilão. 
Para nosso Código, presentes são as pessoas que contratam diretamente entre si, 
mesmo em cidades diferentes usando telefone ou internet (parte final do inc. I do art. 
428). 
Já ausentes são aqueles que usam um intermediário ou mensageiro, mesmo que 
estejam os contratantes na mesma cidade. 
O contrato, uma vez concluído, faz lei entre as partes, e se uma delas 
posteriormente desistir terá que indenizar a outra pelas perdas e danos causados (art. 
430, art. 389). As referidas minutas não são contratos ainda, então pode se desistir sem 
problemas. 
Mas para justificar uma indenização tem que ter havido dano concreto, material 
ou moral, afinal já foi estudado em Civil 2 que não existe dano hipotético oueventual 
(art. 403). 
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
É importante conhecer esta classificação para fins de interpretação e aplicação 
dos contratos. 
a) UNILATERAL e BILATERAL: todo contrato é sempre bilateral quanto às 
partes (no mínimo duas partes), mas quanto aos efeitos pode ser unilateral ou bilateral. 
 
11 
O contrato bilateral quanto aos efeitos é também conhecido como 
sinalagmático pois cria direitos e deveres equivalentes para ambas as partes. 
Ex: compra e venda, pois o comprador tem o dever de dar o dinheiro e o direito 
de exigir a coisa, enquanto o vendedor tem a obrigação de dar a coisa e o direito de 
exigir o dinheiro; locação, pois o locador tem a obrigação de transferir a posse do 
imóvel e o inquilino tem a obrigação de pagar o aluguel. 
Já o contrato de efeito unilateral só cria direito para uma das partes e apenas 
obrigação para a outra, uma das partes será só credora e a outra só devedora, ex: 
doação, pois só o doador tem a obrigação de dar e o donatário apenas o direito de exigir 
a coisa, sem nenhuma prestação em troca. Empréstimo e fiança também são exemplos 
de contratos unilaterais. 
b) ONEROSOS e GRATUITOS: nos contratos onerosos ambas as partes têm 
vantagem e proveito econômico, ex: os contratos bilaterais, onde ambas as partes 
ganham e perdem. 
Já os contratos gratuitos só beneficiam uma das partes, então geralmente todo 
contrato unilateral é gratuito, como na doação e no empréstimo. 
Porém pode haver contratos unilaterais e onerosos quando existe uma pequena 
contraprestação da outra parte, como na doação modal, aquela onde há um encargo por 
parte do donatário, ou seja, o doador exige um pequeno serviço do donatário em troca 
da coisa. 
Ex: A doa uma fazenda a B com o ônus de construir uma escola para as crianças 
carentes da região; A dá um carro a seu filho com o ônus de levar a mãe para passear 
todo sábado, art. 553). 
O encargo tem que ser pequeno, senão descaracteriza a doação. 
Se o encargo for grande o contrato não será nulo, apenas não será doação, mas 
outro contrato qualquer. 
Ex: empresto um apartamento a João sob pagamento mensal de mil reais, ora 
isto não é empréstimo, mas locação. 
Outro exemplo de contrato unilateral e oneroso é o mútuo feneratício (= 
empréstimo de dinheiro a juros, art. 591). 
 
12 
Empréstimo entre amigos em geral não tem juros (= mútuo simples), sendo 
unilateral e gratuito, mas no empréstimo econômico os juros são naturalmente devidos, 
tratando-se de contrato unilateral e oneroso. 
c) COMUTATIVOS e ALEATÓRIOS: esta classificação só interessa aos 
contratos onerosos. Só os contratos onerosos se dividem em comutativos e aleatórios. 
São comutativos quando existe uma equivalência entre a prestação (vantagem) e 
a contraprestação (sacrifício), ex: compra e venda, troca, locação, etc. 
Diz-se inclusive que a compra e venda é a troca de coisa por dinheiro. 
Já nos contratos aleatórios uma das partes vai ter mais vantagem do que a outra, 
a depender de um fato futuro e imprevisível chamado "alea" = sorte, destino. 
Ex: contrato de seguro onde eu pago mil reais para proteger meu carro que vale 
vinte mil; se o carro for roubado eu receberei uma indenização muito superior ao 
desembolso efetuado, mas se durante o prazo do contrato não houver sinistro, a 
vantagem será toda da seguradora. 
Jogo, aposta, compra e venda de coisa futura, são outros exemplos de contratos 
aleatórios. 
d) PRINCIPAIS e ACESSÓRIOS: contrato principal é aquele que tem vida 
própria e existe por si só. 
A grande maioria dos contratos é principal, independente e autônoma. 
Porém há contratos acessórios cuja existência depende de outro contrato, como 
os contratos de garantia. 
Ex: a fiança é um contrato acessório que geralmente garante uma locação 
principal; a hipoteca é outro contrato acessório que geralmente garante um empréstimo 
principal. 
A fiança e a hipoteca vão servir assim para satisfazer o credor caso haja 
inadimplemento dos contratos principais, trazendo mais segurança ao credor. 
Tais contratos acessórios seguem os principais (art 184). 
e) INSTANTÂNEOS e de DURAÇÃO: a regra é o contrato ser instantâneo, ter 
vida curta/efêmera (ex: compra e venda, troca, doação, que duram segundos ou 
 
13 
minutos; mesmo uma compra e venda a prazo é instantânea, sua execução é que é 
diferida no tempo). 
Já outros contratos são duradouros e se prolongam por dias, semanas e meses 
(ex: empréstimo, locação, seguro). Não é da essência dos contratos durarem anos e 
décadas. 
Os direitos reais é que são permanentes, como a propriedade, a superfície e o 
usufruto, valendo por toda uma vida. 
Se você deseja alugar um imóvel por muitos anos, é mais seguro instituir uma 
superfície. 
O direito de superfície é o direito real de plantar, realizar semeaduras ou 
edificar em terreno de propriedade alheia. Esta modalidade de direito real é regulada 
pela Lei 10257/2001 (Estatuto da cidade) e pelo Código Civil. O direito de superfície se 
constitui por contrato entre as partes. Este deve ser realizado na forma escrita, exigindo 
sempre escritura pública. O contrato deve obrigatoriamente ser registrado no Cartório de 
Registro de Imóveis. 
E se a superfície é melhor do que locação, por que a sociedade usa mais a 
locação? 
Resposta: Porque os contratos são mais simples, podem até ser verbais, 
enquanto os direitos reais exigem solenidades e formalidades. 
Em suma: os contratos devem ser no máximo duradouros e não 
permanentes. 
f) PESSOAIS e IMPESSOAIS: o contrato pessoal é celebrado com 
determinada pessoa em virtude de suas qualidades pessoais, é chamado assim “intuitu 
personae” (em razão da pessoa). Ex: contrato um ator famoso para gravar um filme, 
caso ele desista, não aceitarei o filho no lugar dele. 
Quando a obrigação é de fazer um serviço, em geral o contrato é personalíssimo. 
Já nas obrigações de dar uma coisa, o contrato é impessoal, então se A me deve R$ 
100,00 (cem reais), não tem problema que B ou C me paguem tais R$ 100,00 (cem 
reais). 
 
14 
Nos contratos impessoais, se admite a execução forçada do contrato, prevista no 
art. 475 do CC (sublinhem “exigir-lhe o cumprimento”). 
Já nos contratos personalíssimos, se o devedor não quiser cumprir sua 
obrigação, a única saída são as perdas e danos do art. 389, afinal não se pode 
constranger uma pessoa a trabalhar sob vara. 
g) TÍPICOS e ATÍPICOS: os contratos típicos têm previsão no tipo/na lei, e 
foram disciplinados pelo legislador, pois são os contratos mais comuns e importantes 
com “nomem juris” (nome na lei). 
Ex: os cerca de vinte contratos previstos no CC, no Título VI do Livro I, do art. 
481 ao art. 853. 
Mas estes não são os únicos contratos permitidos, são apenas os mais 
importantes. Sim, já que a criatividade e necessidade dos homens em se relacionar e 
fazer negócios pode criar novos contratos não previstos em lei dentro da autonomia 
privada. 
Um exemplo de contrato atípico é o leasing, não previsto em lei, mas muito 
importante na aquisição de bens duráveis, que será visto no próximo semestre (art 425, 
Obs: a lei nº 11.649/2008, dispõe sobre procedimento no leasing, não sobre o contrato 
em si). 
Quando o contrato é típico, a lei serve para completar a vontade das partes, o que 
chamamos de norma supletiva (ex: art. 490, este artigo não é imperativo/obrigatório, é 
apenas supletivo, já que as partes podem violá-lo em contrato). 
Os contratos típicos podem ser verbais, pois existe a lei para suprir suas 
lacunas. 
Já os contratos atípicos, como o leasing, devem ser escritos e minuciosos já que 
não há lei para regulamentá-los. 
Falando de tipicidade, os DireitosReais são típicos, não podem ser criados 
pelas partes (art. 1225). 
Falando de normas imperativas, no Direito Público a maioria das normas é 
imperativa, enquanto aqui na autonomia privada encontramos muitas normas supletivas. 
 
 
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Assim, no Direito Civil, se faz tudo que a lei não proíbe, a liberdade é 
grande, enquanto no Direito Público (Trabalhista, Administrativo) só se faz o que 
a lei permite. 
h) SOLENES e INFORMAIS: como na autonomia privada a liberdade é 
grande, a maioria dos contratos são informais e consensuais, bastando o acordo de 
vontades para sua formação (art. 107, art. 104, inciso III). 
Já em alguns contratos, pelas suas características, a lei exige solenidades para 
sua conclusão, como no caso da doação e fiança que devem ser por escrito (art. 541 e 
art. 819). 
Já na compra e venda de imóvel, pelo valor e importância dos imóveis, o 
contrato além de escrito deve ser feito por tabelião, pelo que para adquirir uma casa só o 
acordo de vontades não basta, é necessário também celebrar uma escritura pública (arts. 
108 e art. 215). 
Então os contratos informais podem ser verbais, enquanto os 
contratos solenes devem ser por escrito, seja particular (feito por qualquer 
pessoa/advogado, como na fiança e doação) ou público (feito apenas em Cartório 
de Notas, qualquer deles). 
i) REAIS e CONSENSUAIS: já dissemos que todo contrato é consensual, quer 
dizer, exige acordo de vontades. 
Mas em alguns contratos, só o consenso é insuficiente, então além do acordo de 
vontades, a lei vai exigir a entrega da coisa ( = tradição), por isso se dizem contratos 
reais. 
Podem até ser verbais/informais, mas não nascem antes da entrega da coisa. Ex: 
doação de bens móveis (parágrafo único do art. 541), comodato (art. 579), mútuo, 
depósito (art. 627). 
Porém na compra e venda, troca, locação, etc., já vai existir contrato após o 
acordo de vontades e mesmo antes da entrega da coisa, de modo que uma eventual 
desistência pode ensejar perdas e danos ou até a execução compulsória do art. 475. 
Então se A promete emprestar sua casa de praia para B passar o verão (= 
comodato), só haverá contrato após a ocupação efetiva da casa por B. 
 
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Já se A se obriga a alugar sua casa de praia a B durante o verão (= locação), o 
contrato surgirá do acordo de vontades, e eventual desistência de A, mesmo antes da 
entrega das chaves, ensejará indenização por perdas e danos (art. 389). A tradição não é 
requisito de validade, mas de existência dos contratos reais. 
j) CIVIS e MERCANTIS: os contratos civis visam satisfazer uma necessidade 
particular, sem visar diretamente ao lucro (art. 53); já os contratos mercantis serão 
estudados em Direito Empresarial e têm fins econômicos (art. 981). 
É fundamental preservar a informalidade dos contratos mercantis para estimular 
sempre o comércio entre as empresas, com a geração de emprego e renda. 
Afinal quem produz riqueza é o particular, e não o Estado. 
 
 
 
17 
Slide 4 
CONTRATO DE ADESÃO 
Importante e moderno mecanismo negocial chamado contrato de adesão. Com o 
desenvolvimento da sociedade e a oferta de serviços ao grande público, se fez 
necessário criar um contrato previamente pronto por uma das partes, cabendo à outra 
parte aceitar/aderir ou não. 
Exemplos: contrato de transporte, luz, telefone, seguro, espetáculo público, 
contrato bancário, etc. 
Nestes casos, a parte que adere é o consumidor que não pode discutir as 
cláusulas, pode apenas aceitá-las integralmente ou não. 
Exemplo 1: Imagine que Mariana deseja viajar de Vitória para Brasília em voo 
direto, mas só existem voos com escalas e conexões. 
É evidente que Mariana não poderá exigir que o avião parta direto, terá o 
consumidor que se sujeitar ao itinerário ou então trocar de companhia ou ainda 
fretar um avião só para si. 
Exemplo 2: O jogo de futebol está marcado para às 16 h, mas Mariana quer que 
o jogo comece às 21 h, é evidente que o jogo é para o público em geral, e não apenas 
para Mariana. 
Os contratos de adesão são assim contratos numerosos para negociação em 
massa nas relações de consumo, tornando-se mais rápidos e baratos. 
É contrato muito popular e a parte deve ler com cuidado o que está 
assinando para depois não se arrepender, embora o Código do Consumidor proíba 
cláusulas abusivas nos contratos de adesão, justamente porque não foi objeto de 
discussão (art. 51 da lei 8.078/90). 
O consentimento neste contrato surge com a adesão. Para alguns doutrinadores o 
contrato de adesão não seria contrato porque as cláusulas são predispostas e faltaria o 
consenso. 
 
18 
Assim sendo, o contrato de adesão é importante na vida moderna e o consenso 
surge com a adesão, existindo o Código do Consumidor justamente para coibir abusos e 
monopólios. 
Em suma, o contrato de adesão não é nulo, ao contrário, é válido e importante. 
 
 
 
19 
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL 
O direito contratual rege-se por diversos princípios, alguns tradicionais e outros 
modernos. Os mais importantes são os: da autonomia da vontade, da supremacia da 
ordem pública, do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigatoriedade, 
da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé. 
1 – AUTONOMIA DA VONTADE 
No direito contratual as partes têm liberdade para contratar ou não, adquirindo 
direitos e contraindo obrigações, relacionando-se com quem quiser, dispondo de seus 
bens como entender e até inventando contratos (art. 425). 
Ao contrário do Direito Administrativo, onde existe muito limite na atuação do 
gestor. Então se qualquer um de nós ou um empresário pode contratar como quiser, o 
Prefeito/Governador/Presidente fica sujeito às diretrizes e orçamentos previstos na 
Constituição e aprovados pelo Poder Legislativo. E deve ser assim, afinal o governante 
lida com a coisa pública e não com a coisa própria. 
Este princípio contratual da autonomia da vontade é um poder criador, sendo 
amplo mas não absoluto, encontrando limites na ordem pública e nos bons costumes: 
- ordem pública: são as leis imperativas/obrigatórias presentes no direito 
privado e que interessam à sociedade e ao Estado. Ex: art. 426 (pacta corvina), art. 421, 
parágrafo único do art. 2.035). Em que consiste esta função social do contrato? 
Em trocas úteis e justas, afinal ninguém contrata para ter prejuízo. A propriedade, outro 
pilar do Direito Civil, também deve ser exercida respeitando sua função social (§ 1º do 
art. 1228). 
- bons costumes: são as maneiras de ser e de agir, correspondendo à influência 
da moral no Direito. A moral varia de acordo com o tempo e o lugar, de modo que um 
desfile de moda-praia num shopping center é permitido, mas não na frente do Palácio do 
Bispo, por violar a moral da maioria da sociedade. Igualmente nossa moral não aceita o 
nudismo, todos nós usamos roupas, mas em algumas praias o nudismo já é permitido. 
A exigência de que tanto o contrato, como a propriedade, cumpram uma função 
social, é novidade do Código de 2002 por consequência da publicização do Direito. 
 
20 
O que é isto? 
É a intervenção, cada vez maior, do Estado na atividade particular das pessoas e 
na autonomia privada. Chama-se de dirigismo contratual esta iniciativa do Estado de 
elaborar leis para dar superioridade jurídica a certas categorias economicamente mais 
fracas, como os trabalhadores, os inquilinos, os consumidores e os devedores. 
2 – PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA 
A liberdade contratual encontrou sempre limitação na ideia de ordem pública, 
entendendo-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o 
interesse individual. 
O princípioda autonomia da vontade, como vimos, não é absoluto. É limitado 
pelo princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no 
início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla 
liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais 
fraco. Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não 
estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a 
intervenção do Estado, para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes. 
A doutrina considera de ordem pública, dentre outras, as normas que instituem a 
organização da família (casamento, filiação, adoção, alimentos); as que estabelecem a 
ordem de vocação hereditária e a sucessão testamentária; as que pautam a organização 
política e administrativa do Estado, bem como as bases mínimas da organização 
econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho. 
Os direitos também devem ser exercidos no limite ordenado pelos bons 
costumes, conceito que decorre da observância das normas de convivência, segundo um 
padrão de conduta social estabelecido 
pelos sentimentos morais da época. Serve para definir o comportamento das 
pessoas. Pode-se dizer que bons costumes são aqueles que se cultivam como condições 
de moralidade social, matéria sujeita a variações de época a época, de país a país, e até 
dentro de um mesmo país e mesma época. 
Em suma, a noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem 
freios e limites à liberdade contratual. No campo intervencionista, destinado a coibir 
abusos advindos da desigualdade econômica mediante a defesa da parte 
 
21 
economicamente mais fraca, situa-se ainda o princípio da revisão dos contratos ou da 
onerosidade excessiva, baseado na teoria da imprevisão. 
3 – PRINCÍPIO DO CONSENTIMENTO OU CONSENSUALISMO 
Todo contrato exige acordo de vontades. No contrato de adesão o consentimento 
surge com o aceite do consumidor. Nos contratos solenes e reais, o acordo de vontades 
antecede a assinatura da escritura ou a entrega da coisa. 
A vontade é tão importante que ela pode predominar sobre a palavra escrita (art. 
112, sublinhem intenção, que é a vontade real, e sentido literal, que é a vontade 
declarada). 
Assim, aquilo que as partes queriam dizer é mais importante do que aquilo que 
as partes disseram, escreveram e assinaram. Não se trata aqui de rasgar o “preto no 
branco” mas sim de respeitar a vontade das partes. 
Exemplos: 
a) art. 1899, embora testamento não seja contrato, mas este artigo revela a 
importância da vontade nos negócios jurídicos. 
b) Exemplo contratual: Vitor aluga a Mariana por R$ 150,00 um quartinho nos 
fundos de sua casa, mas no contrato, ao invés de escrever “aluga-se um quarto”, se 
escreveu “aluga-se uma casa”, vai prevalecer a intenção que era de alugar o quarto, 
João não vai poder exigir a casa pois sabia que, por aquele preço e naquelas 
circunstâncias, a locação era só de um aposento. 
c) Exemplo contratual: Lucas morreu e deixou uma casa para seu filho Pedro, 
só que Pedro precisa viajar e não pode esperar a conclusão do inventário, então Pedro 
vende a Mariana os seus direitos hereditários por cem mil reais (ressalto que não se trata 
aqui do pacta corvina do art. 426, e sim da cessão do art. 1793 pois Lucas já morreu); 
eis que depois se descobre que Lucas era muito rico e, além da casa, tinha ações, outros 
imóveis, carros, joias, aplicações financeiras, etc..., neste caso Mariana não será dona de 
tudo pois só o que ela adquiriu, naquelas circunstâncias, foi uma casa, e não tantos bens, 
embora no contrato constasse que João lhe cedia todos os seus direitos hereditários. 
 
 
 
22 
4 - PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA 
Contrato faz lei entre as partes, deve ser cumprido por uma questão de segurança 
jurídica e paz social. País nenhum se desenvolveu sem respeitar a propriedade privada e 
os contratos. 
Diziam os romanos pacta sunt servanda (= contrato deve ser cumprido), 
princípio que prevalece até hoje. Celebrado o contrato, ele se torna intangível, não 
podendo ser modificado unilateralmente, por apenas uma das partes. 
Se uma das partes não cumprir o contrato, a parte prejudicada exigirá o 
cumprimento forçado, através do Juiz, ou uma indenização por perdas e danos (art. 
475). 
Todavia, face ao dirigismo contratual, a lei permite, excepcionalmente, que o 
Juiz, nos contratos comutativos de longa execução, diante de um fato novo, modifique 
o contrato para manter a igualdade entre as prestações, afinal ninguém contrata para ter 
prejuízo (art. 478). 
Neste artigo encontramos a chamada Teoria da Imprevisão (ou cláusula rebus 
sic stantibus = revogável se insustentável), mas repito, a intervenção do Estado-Juiz nos 
contratos deve ser a exceção, por uma questão de segurança jurídica. 
Além disso, só se admite a Teoria da Imprevisão em contratos longos e 
diante de um fato novo. 
Exemplo 1: Compro um carro para pagar em três anos com prestações atreladas 
ao dólar, eis que por causa de uma guerra no Oriente Médio, o dólar triplica de preço e 
as prestações se tornam muito vantajosas para o vendedor, devendo então o Juiz 
modificar o contrato para restaurar o equilíbrio entre as partes. 
Exemplo 2: Art. 620 do CC. 
Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-de-obra 
superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a pedido 
do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada. 
Exemplo 3: Alugo um apartamento a beira mar, eis que o mar começa a 
avançar, fico sem praia, desvalorizando o imóvel, justificando uma redução do aluguel. 
 
23 
Exemplo 4: No Direito de Família, fora da autonomia privada, temos outro 
exemplo da Teoria da Imprevisão no art. 1699: então se o pai presta alimentos ao filho, 
e depois o pai perde o emprego ou o filho se torna um craque do futebol, a pensão será 
certamente reduzida ou extinta. 
Em suma, a Teoria da Imprevisão permite ao Juiz modificar o contrato a fim de 
restabelecer o equilíbrio entre as partes em face de um caso fortuito que tornou a 
prestação excessivamente onerosa para uma das partes. 
Caso fortuito é aquele do parágrafo único do art. 393. 
A Teoria da Imprevisão é assim consequência da função social do contrato, 
que exige trocas úteis e justas, conforme art. 421 e parágrafo único do art. 2035 do CC. 
Em suma a Teoria da Imprevisão, deve ser aplicada com cautela por uma 
questão de segurança jurídica e para não proteger o mau pagador. 
Não é bom para a atividade econômica e para a geração de empregos um Estado 
interferindo nos contratos. 
5 - PRINCÍPIO DA BOA-FÉ 
Este princípio obriga as partes a agirem num clima de honestidade e de 
colaboração recíproca para que ambas alcancem o objetivo daquele contrato. 
A boa fé deve estar na mente de todo contratante. 
Tal princípio é naturalmente seguido pela população, tanto que a imensa maioria 
dos contratos nasce, produz seus efeitos e se extingue sem problemas. E em casos de 
controvérsias – Poder Judiciário (artigos 113 e 422). 
Todo contrato exige boa-fé, mas em um contrato a boa-fé é exigida com mais 
rigor: o contrato de seguro (art. 765 – estrita boa-fé e veracidade), então não minta e 
nem omita circunstâncias importantes sobre o objeto segurado ou sobre sua saúde, para 
não perder a indenização caso ocorra um acidente ou uma doença. 
6– PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DOS CONTRATOS 
Funda-se tal princípio na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em 
relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu 
conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio.24 
O Código Civil de 2002, não concebe mais o contrato apenas como instrumento 
de satisfação de interesses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma função 
social. Tal fato tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não 
são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou 
indiretamente por ele atingidos. 
Não resta dúvida de que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato, 
embora ainda subsista, foi bastante atenuado pelo reconhecimento de que as cláusulas 
gerais, por conterem normas de ordem pública, não se destinam a proteger unicamente 
os direitos individuais das partes, mas tutelar o interesse da coletividade, que deve 
prevalecer quando em conflito com aqueles. 
Em suma por este princípio, o contrato é relativo às partes celebrantes, ou seja, 
não interessa a terceiros/não é absoluto/não é erga omnes (= contra todos). Diziam os 
romanos: res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest (a coisa contratada entre 
uns, nem prejudica e nem beneficia terceiros). 
Este princípio tem exceções, de modo que terceiros não celebrantes podem 
participar dos contratos, vejamos: 
Os herdeiros: nas obrigações de fazer personalíssimas o contrato não se 
transfere aos herdeiros, mas nas obrigações de dar sim. Então se A toma cem reais 
emprestado com B e vem a falecer, os herdeiros de A terão que pagar a dívida a B, 
dentro dos limites da herança recebida de A. Se A não deixar herança, os filhos não 
terão obrigação de pagar a dívida (arts. 1792 e 1997). 
Na estipulação em favor de terceiro, quando se pode beneficiar um terceiro 
com um contrato (ex: alugo minha casa e determino que o aluguel seja pago a meu 
irmão desempregado; outro ex: faço um seguro de vida para beneficiar meu filho). 
Tanto o contratante como o beneficiário poderão exigir a prestação se a outra parte 
atrasar (art.436). Na estipulação, a qualquer momento o beneficiário pode ser 
substituído, bastando comunicar ao outro contratante (art.438). 
Nas Convenções Coletivas: no Direito do Trabalho e no Direito do Consumidor 
se permitem que Sindicatos e Associações negociem relações de trabalho e de consumo 
com os patrões e os fornecedores. Tais Convenções irão obrigar todos os trabalhadores 
 
25 
filiados àquele Sindicato e todos os consumidores filiados àquelas entidades, e não 
apenas os dirigentes signatários da Convenção. 
No contrato com pessoa a declarar: neste o contrato se forma e fica acertado 
que um dos contratantes irá futuramente indicar a pessoa que adquirirá os direitos, 
vindo a ocupar o lugar de sujeito da relação jurídica, art. 467 (ex: compro um 
apartamento para pagar em quinze anos e celebro um contrato preliminar com a 
construtora – art. 462, pois o contrato definitivo só virá ao término do pagamento 
integral; então, após os quinze anos, posso pedir à construtora-vendedora que coloque o 
imóvel logo no nome dos meus filhos). Se essa pessoa futura não aceitar o contrato, 
continuará válido entre os contratantes originários (art. 470, I). 
Na promessa de fato de terceiro: é a possibilidade de um contratante obrigar-
se perante outro a obter de terceiro determinada obrigação, sob pena de responder por 
perdas e danos. Ex: um promotor de eventos promete ao dono de uma casa de shows 
trazer um artista para cantar na cidade. Se o artista não vier, o promotor será 
responsabilizado (art. 439). Diferente da estipulação em favor de terceiro, o promotor 
não vai beneficiar o artista, vai sim se responsabilizar pela sua apresentação. O artista 
não integra o contrato inicial entre o promotor e o dono da casa de shows, mas sim 
participará de um segundo contrato com o promotor do evento. 
7 – PRINCÍPIO DA REVISÃO DOS CONTRATOS OU DA 
ONEROSIDADE EXCESSIVA 
Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes 
recorrerem ao Judiciário, para obterem alteração da Convenção e condições mais 
humanas, em determinadas situações. 
A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em 
presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a 
existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu 
cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. 
Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos extraordinários 
(uma guerra, por exemplo), que tornem excessivamente oneroso para o devedor o seu 
adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação, parcial ou 
totalmente. 
 
26 
A Teoria da Imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento 
ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e 
extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa 
— o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus. 
O Código de 2002 dedicou uma seção, composta de três artigos, à resolução dos 
contratos por onerosidade excessiva. Dispõe, com efeito, o artigo 478 do referido 
diploma: 
Art. 478 - Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de 
uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, 
em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a 
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da 
citação. 
Prescreve, por sua vez, o art. 479 do Código Civil: 
“A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar 
equitativamente as condições do contrato”. 
Estatui, ainda, o art. 480 do mesmo diploma: 
“Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela 
pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de 
evitar a onerosidade excessiva”. 
Em realidade, com base nas cláusulas gerais sempre se poderá encontrar 
fundamento para a revisão ou a extinção do contrato em razão de fato superveniente que 
desvirtue sua finalidade social, agrida as exigências da boa-fé e signifique o 
enriquecimento indevido para uma das partes, em detrimento da outra. 
 
 
 
27 
Slide 6 
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
O intérprete particular é o árbitro e o público é o Juiz. 
O hermeneuta, na interpretação, deve seguir a lei, a jurisprudência e sua 
consciência. 
REGRAS QUE PODEM AJUDAR O TRABALHO DO HERMENEUTA 
a) busca da vontade real: qual o espírito, qual a alma, qual a vontade desejada 
pelo contrato? Esta primeira regra é a mais importante, pois na alma do contrato está o 
consensualismo. A vontade real é a desejada pelas partes, que pode ser diferente da 
manifestada (= vontade declarada). Deve o Juiz tentar reconstruir o ato de vontade em 
que se exteriorizou o contrato para buscar a vontade real. Nos contratos deve-se ater 
mais à vontade dos contraentes do que às palavras. 
b) senso médio: o intérprete deve se colocar no lugar das partes e raciocinar 
como faria o homem médio, ou seja, a generalidade da população, sem extremos, sem 
radicalismos, de acordo com os costumes. Uma cláusula ambígua interpreta-se 
conforme o costume do lugar. O senso médio é a sensatez, equilíbrio, razoabilidade, que 
só vem com estudo e com o tempo. A boa-fé significa que uma das partes se entrega à 
conduta leal da outra, confiando que não será enganada (ex: comprar carro usado). 
c) fim econômico: todo contrato tem um objetivo econômico, pois ninguém 
contrata para ter prejuízo e sim para satisfazer sua necessidade e ter um ganho 
patrimonial. Assim, nos contratos comutativos e onerosos deve-se buscar 
a equivalência entre as prestações. É a chamada função social do contrato que prevê 
trocas úteis e justas. 
d) uma cláusula em destaqueprevalece sobre as outras: num contrato uma 
cláusula em negrito, com destaque, prevalece sobre as outras, justamente porque se 
presume que aquela cláusula chamou mais a atenção das partes. 
e) dirigismo contratual: é uma política do Estado para dar superioridade 
jurídica a classes economicamente fracas como o consumidor, o devedor, o trabalhador 
e o inquilino (art. 423 do CC; art. 47 da lei 8.078/90). 
 
28 
f) contratos benéficos: são aqueles unilaterais e gratuitos (ex: doação, 
empréstimo, fiança). Na sua interpretação deve-se proteger a parte que fez o benefício, 
que fez a liberalidade (ex: doador, comodante, mutuante e fiador). 
Ex: Se A empresta dinheiro a B, deve-se interpretar em favor do 
devedor/mutuário, conforme o dirigismo contratual, ou do mutuante/credor. 
EFEITOS DOS CONTRATOS 
1 – obrigatoriedade: o contrato cria um vínculo jurídico entre as partes dotado 
de obrigatoriedade. Diz-se que o contrato faz lei entre as partes. Os celebrantes devem 
honrar a palavra empenhada e cumprir o contrato sob pena de responsabilidade 
patrimonial, ou de, excepcionalmente, cumprimento forçado do contrato, através do 
Juiz. 
2 – irretratabilidade: uma vez perfeito e acabado, o pacto só pode ser desfeito 
por outro contrato chamado distrato, e não por imposição de uma das partes. Na 
autonomia privada, tudo, ou quase tudo, pode ser combinado e desfeito, mas sempre por 
consenso. 
3 – intangibilidade: além de não poder ser desfeito, o contrato não pode ser 
alterado por apenas um dos celebrantes, sempre vai exigir novo acordo. De regra o 
contrato é assim irrevogável (= irretratável) e intangível (= inalterável). 
4 – efeito pessoal: em relação ao objeto, o contrato cria obrigações de natureza 
pessoal. O credor exige do devedor o cumprimento da prestação sob pena de perdas e 
danos. Esta é a regra: descumprido o contrato, resolve-se em perdas e danos. 
O Código Civil de 2002 admite expressamente que, em alguns caos, a parte 
inocente exija o cumprimento forçado do contrato, ao invés da simples perdas e danos 
contra o inadimplente. 
Ex. Se Mariana vende um carro a Vitor, recebe o preço, mas depois se arrepende 
e se recusa a entregar o veículo, a regra geral é Vitor pedir uma indenização por perdas 
e danos. Admite-se também a lei a execução in natura do contrato, de modo que o 
comprador, através do Juiz, pode tomar o carro de Mariana. Esta possibilidade 
corresponde a um efeito real nos contratos, que geralmente só tem efeitos pessoais. 
 
29 
Tradicionalmente deve-se partir para as perdas e danos quando a execução 
forçada for inviável ou causar constrangimento físico ao devedor. 
INSTITUTOS QUE SOMENTE SE APLICAM AOS CONTRATOS 
BILATERAIS, OU SEJA, ÀQUELES ONDE AMBAS AS PARTES TÊM 
DEVERES E DIREITOS RECÍPROCOS 
1 – exceção do contrato não cumprido ou exceptio non adimpleti contractus: 
a palavra exceção aqui tem significado de defesa, então este instituto é uma manobra 
defensiva usada por uma das partes para fazer a outra cumprir com sua obrigação. 
Ex: A e B celebram um contrato e A exige que B cumpra sua obrigação; B então 
se defende com base no art. 476: se A quer que B cumpra sua obrigação, A deve 
primeiro cumprir a dele. 
Ex: Na compra e venda, só posso exigir a coisa depois de pagar o preço. 
Ex: Na prestação de serviço, só posso exigir o diagnóstico do médico depois de 
pagar a consulta. 
Ex: No seguro, só posso exigir a indenização depois de ter pago o prêmio. 
A essência dos contratos bilaterais é o sinalagma e a dependência recíproca 
das obrigações. 
Importante salientar que quando as prestações são simultâneas não há 
problemas (Ex: compra e venda de balcão). Ressalto que o mau cumprimento 
corresponde ao não-cumprimento, assim para exigir a coisa na compra e venda, é 
preciso pagar o preço total e não apenas parcial. 
2 – arras: esta palavra deriva do latim arrha e significa garantia. As arras são 
um sinal de pagamento para a firmeza do contrato, inibindo o arrependimento das 
partes. Corresponde a uma quantia dada por um dos contratantes ao outro como 
sinal/garantia da confirmação de um contrato bilateral. 
As arras em geral são em dinheiro, mas podem ser em coisas. 
Ex: um carro como sinal na compra de um apartamento. Quanto o contrato é 
fechado, as arras são devolvidas ou abatidas do preço. Se o contrato não for concluído 
 
30 
por culpa/desistência da parte que deu as arras, elas serão perdidas em favor da parte 
inocente. 
Se quem desistir for a parte que recebeu as arras, terá que devolvê-las em dobro, 
devidamente corrigida, artigo 418. 
As arras se assemelham à cláusula penal. Só que as arras são logo entregues, 
enquanto a cláusula penal só terá aplicação se o contrato for futuramente desfeito. 
3 – vícios redibitórios: são os defeitos contemporâneos ocultos e graves que 
desvalorizam ou tornam imprestável a coisa objeto de contrato bilateral e oneroso, 
conforme artigo 441. 
Tais defeitos vão redibir o contrato, tornando-o sem efeito. Aplica-se aos 
contratos de compra e venda, troca, locação, doação onerosa (parágrafo único do art. 
441) e na dação em pagamento. 
Exemplos: comprar um cavalo manco ou estéril; alugar uma casa que tem 
muitas goteiras; receber em pagamento um carro que aquece o motor nas subidas, etc. 
Em todos esses exemplos poderemos aplicar a teoria dos vícios redibitórios para 
duas consequências, a critério do adquirente: 
a) desfazer o negócio, rejeitar a coisa e receber o dinheiro de volta; 
b) ficar com a coisa defeituosa e pedir um abatimento no preço, artigo 442. 
Para caracterizar um vício redibitório o defeito precisa ser contemporâneo, ou 
seja, existir na época da aquisição, artigo 444, pois se o defeito surge depois o ônus será 
do atual proprietário, afinal res perit domino (= a coisa perece para o dono, ou o 
prejuízo pela perda espontânea da coisa deve ser suportado pelo dono). 
Além de contemporâneo o defeito deve ser oculto, ou seja, não estar visível, 
pois se estiver nítido e mesmo assim o adquirente aceitar, é porque conhecia as 
condições da coisa. 
Ex: carro arranhado, cavalo com uma perna menor do que a outra, casa com as 
telhas quebradas, etc). 
Se o vício é oculto, porém do conhecimento do alienante que agiu de má-fé, este 
responderá também por perdas e danos, artigos 422 e 443. 
 
31 
Além de contemporâneo e oculto, o defeito precisa ser grave, e só a riqueza do 
caso concreto e a razoabilidade do Juiz é que saberão definir o que é grave ou não. 
Existe um prazo decadencial na lei para o adquirente reclamar o vício, prazo que 
se inicia com o surgimento do defeito. 
Ex: o adquirente só vai saber se uma casa tem goteira quando chover, artigo 445 
e §§ 1º e 2º ). 
4 – evicção: a evicção garante o comprador contra os defeitos jurídicos da coisa, 
enquanto os vícios redibitórios garantem o adquirente contra os defeitos materiais. 
Evicção vem do verbo evincere, que significa “ser vencido”. 
Aplica-se à compra e venda e troca (bilateral), mas nas doações não (unilaterais). 
Conceito de Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença que reconhece a 
outrem direito anterior sobre ela. 
Ex: A é filho único e com a morte de seu pai herda todos os bens, inclusive uma 
casa na praia; A então vende esta casa a B, eis que aparece um testamento do falecido 
pai determinando que aquela casa pertenceria a C; verificada pelo Juiz a veracidade do 
testamento, desfaz-se então a venda, entrega-se a casa a C e A devolve o dinheiro a B. 
Chamamos de evicto o adquirente, no exemplo é B, é a pessoa que comprou a 
casa e que vai perdê-la, recebendo porém o dinheiro de volta e os direitos decorrentes da 
evicção previstos no art. 450. 
Evictaé a coisa, é a casa da praia. 
Evictor é o terceiro reivindicante, é C, que vence. Alienante é A, é aquele que 
vendeu a coisa que não era sua, e mesmo sem saber disso, mesmo de boa-fé, assume os 
riscos da evicção, artigo 447. 
O contrato pode excluir a cláusula da evicção, ou até reforçá-la. 
Ex: se ocorrer a evicção, o alienante se compromete a devolver ao evicto o 
dobro do preço pago, artigo 448. 
Se a evicção ocorrer numa doação, o evicto não perde nada, pois não pagou pela 
coisa, apenas vai deixar de ganhar. 
 
32 
Fundamento da evicção: justifica-se na obrigação do alienante de garantir ao 
comprador a propriedade da coisa transmitida, e que ninguém vai interferir no uso dessa 
coisa. 
 
 
 
33 
Slide 7 
EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
Se o contrato nasce do acordo de vontades, ele geralmente cessa com o 
cumprimento da prestação, sendo executado pelas partes, até que os resultados finais 
previstos sejam alcançados, liberando o devedor e satisfazendo o credor. 
De regra o contrato nasce para cumprir sua função social e ser extinto pelo 
adimplemento da obrigação. 
Todavia encontramos na vida prática a extinção do contrato antes do seu fim 
natural que é a prestação e o pagamento. 
CLASSIFICAÇÃO 
1 - Resilição bilateral ou distrato: é o contrato feito para extinguir outro 
contrato (artigo 472), quando as partes acordam em extinguir o contrato pela mesma 
forma exigida para celebrá-lo. 
Ex: inquilino que combina com o locador desocupar o imóvel antes do prazo: 
locação escrita e distrato verbal. 
O distrato é um acordo liberatório, desatando o laço que prendia as partes 
pela vontade comum delas. 
2 – Resilição unilateral: se o contrato e o distrato nascem do acordo, a resilição 
unilateral tem caráter de exceção, pois rompe o vínculo sem a anuência do outro 
contratante, artigo 473. 
Empréstimo, mandato e depósito são contratos que, pela sua natureza de 
exigirem confiança, admitem resilição unilateral. 
Ex: empresto minha casa de campo para meu irmão desempregado morar, posso 
pedir de volta a qualquer momento, artigo 582. 
Ex: contrato de trabalho, pois o patrão pode demitir o empregado mesmo contra 
a vontade dele. 
3 – Resolução: enquanto na resilição o contrato é extinto pela vontade das 
partes, na resolução o contrato se extingue pelo inadimplemento. 
 
34 
Na resolução cessa o contrato por ter o devedor faltado ao cumprimento de 
sua obrigação, cabendo ao prejudicado exigir perdas e danos ou a execução 
forçada. 
Tacitamente todo contrato sinalagmático tem essa cláusula resolutiva de exigir 
perdas e danos em caso de inadimplemento, mas se a parte preferir pode inseri-la 
expressamente, artigo 474. 
Dá-se também a resolução por onerosidade excessiva. 
Todavia se o inadimplemento decorre de caso fortuito, ou seja, se a inexecução 
for involuntária, o devedor não pode ser responsabilizado, artigo 393. 
Ex: cantor fica gripado e não pode fazer o show contratado. 
4 – Arrependimento: não é comum na lei, então as partes devem prever no 
contrato o exercício do direito de arrependimento para desfazer o contrato, artigo 420. 
O Código do Consumidor admite o arrependimento no artigo 49 quando a 
compra é feita por telefone.

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