Qual a natureza e os requisitos do contrato individual de trabalho?

Prévia do material em texto

Direito trabalhista (pós-reforma) 
 
 
 
QUAL A NATUREZA E OS REQUISITOS DO 
CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
 
Sumário 
 
Introdução ............................................................................................................................. 2 
 
Objetivos ............................................................................................................................... 2 
 
1. Natureza Jurídica .......................................................................................................... 2 
1.1.Anticontratualistas ..................................................................................................... 3 
1.2. Ecléticos ...................................................................................................................... 3 
 
2. Requisitos do contrato ............................................................................................. 4 
 
Exercícios ............................................................................................................................... 6 
 
Gabarito ................................................................................................................................. 7 
 
Resumo .................................................................................................................................. 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Introdução 
Na apostila “O que é contrato individual de trabalho”, conceituamos de forma 
geral e vimos o que são e como podem ser os diversos tipos de contrato individual 
de trabalho. Mas, qual a natureza jurídica do contrato individual de trabalho? Bom, 
quando o assunto é natureza jurídica, a gente já sabe que teremos correntes de 
pensamentos, assim funciona o direito o tempo todo. 
Neste momento abordaremos as principais correntes de pensamento sobre a 
natureza jurídica do contrato de trabalho, importante que você conheça as demais, 
seja por curiosidade, seja por termos o risco de uma ou outra voltar a ter mais 
impacto, ser mais importante em nosso ordenamento jurídico do que são neste 
momento imediato de pós reforma trabalhista. Para tal, sugiro, de antemão, a leitura 
do livro de um dos melhores autores do tema (em minha opinião, fique à vontade 
para discordar e escolher outra fonte doutrinária), retomando, sugiro a leitura de 
“Curso de direito do Trabalho”, do autor Maurício Godinho Delgado, edição de 2019. 
Fundamentalmente por estar atualizada e bem atualizada, além de trazer uma visão 
mais pareada entre os atores do assunto. 
Além da natureza jurídica, precisamos saber o que é fundamental no contrato 
de trabalho. Por assim dizer, elementos essenciais que caracterizam e são, por 
consequência, indispensáveis, para que tenhamos um contrato individual de 
trabalho, ainda que não escrito. 
 Agora vamos entender qual a natureza do contrato individual de trabalho e 
seus requisitos de validade. 
Objetivos 
• Entender a natureza do contrato de trabalho. 
• Reconhecer de forma clara os requisitos de um contrato individual de 
trabalho. 
 
1. Natureza Jurídica 
Então vamos às principais correntes que versam sobre o contrato individual 
de trabalho e sua natureza jurídica: 
Os contratualistas do civilismo clássico transitam em várias definições, não 
havendo entre eles próprios, uma definição exata para a natureza jurídica. A cada 
momento entendem de uma forma. As principais formas de entender o contrato de 
 
3 
 
trabalho, por parte dessa corrente, são as que seguem na tabela abaixo. Logo à 
direita, na última coluna, encontra-se a base da crítica ao pensamento. 
 
CONTRATUALISTAS DO CIVILISMO CLÁSSICO 
DEFINIÇÃO Contrato de trabalho é contrato do Direito Civil 
CARACTERÍSTICAS JUSTIFICATIVA CRÍTICA 
De compra e venda Empregado vende a mão de 
obra ao empregador 
Salário não é preço, pela razão 
de força de trabalho não ser 
mercadoria 
De locação O empregado aluga sua mão 
de obra ao 
locador/empregador 
Traz retrocesso não percebendo 
que a força de trabalho do 
indivíduo não pode ser afastada 
do ser em si 
De sociedade Empregado e empregador 
colocam em comum aquilo 
que podem na relação, 
buscando os benefícios que 
dali se originam 
A relação de trabalho não traz 
consigo a essência da relação 
societária (affectio scietatis), ou 
seja, compartilhamento 
proporcional dos interesses 
existentes 
De mandato Afirma que o empregador é o 
mandante e o empregado é o 
mandatário 
Em regra, o mandato é gratuito, 
enquanto o contrato de trabalho 
é oneroso, sendo assim, não 
podem estar na mesma 
definição 
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019 
 
1.1. Anticontratualistas 
Em contrapartida aos contratualistas, temos o anticontratualistas. Estes 
entendem que não há liberdade na hora de se firmar um contrato de trabalho, 
principalmente em razão de não haver discussão sobre cláusulas contratuais. Dessa 
forma, a vontade, a livre vontade do indivíduo é desprezada na assunção dos 
ditames do contrato. 
 
1.2. Ecléticos 
Na contramão de ambas as anteriores, os ecléticos, que ganharam força com 
a reforma da CLT, não determina que a natureza jurídica seja A ou B, mas sim uma 
composição heterogênea, moldada à realidade nacional, onde se lançam 
 
4 
 
características de várias “naturezas jurídicas”, para explicar o fenômeno contrato de 
trabalho. E que este é sim um contrato. 
Desta forma, pode-se então definir o contrato de trabalho como de natureza 
contratualista, mas não sob amparo do civilismo clássico, mas sim de um civilismo 
eclético. 
Para se aprofundar mais no assunto, recomendo a leitura do artigo publicado 
por Lígia Verônica, no conceituado site JusBrasil, intitulado: “Teorias Acerca da 
Natureza Jurídica do Contrato de Emprego”, disponível em www.jusbrasil.com.br. 
 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
 
2. Requisitos do contrato 
Por meio do conceito visto na apostila “O que é contrato individual de 
trabalho”, conseguimos perceber que são requisitos para a elaboração de um 
contrato de trabalho: 
• a pessoalidade, vez que o empregado, e só ele, deve executar as tarefas 
determinadas; 
• a subordinação, considerando que o empregador está hierarquicamente 
acima do empregado nessa relação; 
• a continuidade ou não eventualidade, que se traduz no fato de a 
prestação do serviço ser contínua até que alcance um termo 
final/execução de serviço específico/fato futuro previsível (prazo 
determinado) ou que uma das partes decida encerrá-lo (prazo 
indeterminado), 
• a onerosidade, que está ligada ao fato de que o empregado perceberá um 
salário em detrimento da sua prestação de serviço, e, por fim; 
• a alteridade, que trata dos riscos da atividade desenvolvida pelo 
empregador e do contrato de trabalho serem de sua total 
Existe uma infinidade de correntes sobre o tema. Para 
complementar o conteúdo, é interessante que você leia 
mais sobre. Não vamos limitar os autores a serem lidos, 
mas existem algumas referências, como Godinho, 
Pedro Lenza – este último mais voltado para concursos. 
 
5 
 
responsabilidade, ou seja, só e somente só, sobre ele (empregador) 
recaem os ônus e riscos inerentes. 
Os artigos 2º e 3º da CLT, ao definirem empregador e empregado 
respectivamente, e o artigo 4º do mesmo diploma legal, trabalham junto às 
definições acima para determinar os requisitos do contrato de trabalho. 
Mas e as cláusulas? Existe alguma restrição? Na verdade, as cláusulas do 
contrato de trabalho,em regra, são livres para serem acordadas entre as partes, ou 
seja, empregado e empregador tem total autonomia para definir carga horária, 
remuneração, bônus, folga, horas extras pagas ou em banco de horas, etc. 
Porém, há apenas uma restrição nessa liberdade toda: nenhuma cláusula 
poderá estar indo de encontro a qualquer lei ou instrumento normativo. Dessa 
forma, a liberdade para firmar-se o contrato é limitada, restringindo-se ao que o 
ordenamento jurídico permite ou não proíbe. O artigo 444 da CLT define com clareza 
esse assunto: As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre 
estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições 
de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às 
decisões das autoridades competentes. 
Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo 
aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a mesma 
eficácia legal e preponderância sobre os instrumentos coletivos, no caso de 
empregado portador de diploma de nível superior e que perceba salário mensal 
igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de 
Previdência Social. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 13.7.2017). 
 
FIQUE ATENTO! 
 
 
 
A forma escrita não é requisito indispensável para o contrato de trabalho, 
salvo se estivermos falando de contratos por tempo determinado. Embora você 
também já tenha visto isso na apostila “O que é contrato individual de trabalho”, é 
importantíssimo ressaltar essa peculiaridade. 
Não fique na dúvida! Os requisitos do contrato 
individual de trabalho são cumulativos, ou seja, devem 
estar presentes simultaneamente. 
 
6 
 
Exercícios 
1. (CESPE, 2008) Quanto à legislação trabalhista, julgue o item a seguir 
de acordo com a CLT. 
As cláusulas contratuais podem ser de livre estipulação entre as partes, 
desde que não esteja em desacordo com as leis e instrumentos 
normativos. 
 ( ) Certo 
 ( ) Errado 
1. (Autor, 2019) Com relação às correntes de pensamento que definem a 
natureza jurídica do contrato individual de trabalho, podemos afirmar 
que a corrente eclética é a mais aceita como adota em nosso 
ordenamento e que esta contradiz todas as outras correntes existentes. 
 ( ) Certo 
 ( ) Errado 
 
2. (Adaptado de GranConcursoOnline, 2019) Helena, profissional de 
secretariado executivo, em razão da amizade de infância que mantinha 
com Laura, filha do dono de uma pequena empresa de engenharia, 
passou a auxiliar a amiga na organização de documentos do 
estabelecimento comercial sem a formalização de um acordo 
trabalhista escrito. Com o tempo, foi assumindo informalmente as 
funções próprias de uma secretária e passou a ser remunerada pelo seu 
trabalho, embora com valor abaixo do mercado. Por diversas vezes, em 
períodos de grande volume de tarefas a executar, Helena, que 
coordenava as tarefas de dois técnicos de secretariado, teve de 
estender sua jornada de trabalho até às 23 horas, retornando no dia 
seguinte ao trabalho às 8 horas da manhã. Entre as várias atribuições de 
Helena encontravam-se a orientação e avaliação da correspondência 
para fins de encaminhamento à chefia, além da classificação, do 
registro e da distribuição de correspondências. 
Considerando essa situação hipotética e as disposições contidas na 
legislação pertinente acerca de contrato de trabalho, julgue o seguinte 
item. 
Ainda que não tenha existido um acordo trabalhista escrito, o simples 
fato de o responsável pela referida empresa ter aceitado o trabalho a 
ser realizado por Helena, uma secretária executiva, criou, desde o início 
 
7 
 
das atividades secretariais, um vínculo que obriga o contratante ao 
pagamento de salário pelo serviço prestado à empresa. 
 ( ) Certo 
 ( ) Errado 
Gabarito 
1. CERTO. O art.444 define que a possibilidade aventada pela questão é 
possível. Lembrando-se sempre, nada que contradiga outra lei ou 
instrumento normativo, será válido. 
2. ERRADO. A teoria eclética é sim a mais aceita em nosso ordenamento. 
Porém, ela não refuta de forma absoluta as outras, na realidade ela diz 
que as relações jurídicas são muito específicas, então, dependendo do 
caso, deverá se aplicar mais uma ou outra corrente. 
3. CERTO. Estando presentes os requisitos do contrato de trabalho, 
teremos uma relação trabalhista, ainda que não haja documento físico 
comprobatório, isto é, presentes os requisitos, ainda que nada haja 
assinado, o empregado é empregado e faz jus ao recebimento de 
salário. 
Resumo 
Nesta apostila vimos rapidamente quais as principais correntes de 
pensamento quanto à natureza do contrato de trabalho (contratualistas, 
anticontratualistas e eclética). Percebemos ainda que a teoria eclética, além de ser a 
mais abrangente, é a que é mais aceita no nosso ordenamento, sob a justificativa de 
que nossas relações de trabalho são muito variadas e variáveis, sendo assim, não se 
pode delimitar de forma rígida esse assunto. 
Apesar da teoria eclética ser a mais aceita atualmente, não esqueça das 
características que identificam o pensamento contratualista e anticontratualista. 
Enquanto os contratualistas, apesar de discutirem muito o assunto e não 
terem sequer, consenso entre si, o liame do pensamento de todos eles são o fato de 
considerarem o contrato de trabalho um contrato civil de obrigações. Enquanto, por 
sua vez, os anticontratualistas discordam fundamentalmente desse tipo de visão, 
entendendo, portanto, que o contrato de trabalho é uma relação desigual, com 
vontade viciada por parte do emprega, pelo simples fato deste não ter como discutir 
pontos do contrato de trabalho. 
 
8 
 
Por fim, temos a pessoalidade, subordinação, não eventualidade, alteridade e 
onerosidade como pressupostos fundamentais para caracterizar um contrato de 
trabalho, lembrando que, ainda que não haja documento físico assinado, presentes 
tais pressupostos, teremos uma relação jurídica de Direito do Trabalho. 
Por se tratarem de pressupostos fundamentais, estes não podem ser 
afastados do contrato de trabalho. Dessa forma, não haverá contrato de trabalho 
caso um ou mais desses itens estejam ausentes na contratação do empregado. 
 
 
 
 
9 
 
Referências bibliográficas 
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 20 mar. 2019. 
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016. 
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10ª ed. São Paulo: LTr, 2016.