Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LIBERAÇÃO MIOFASCIAL LIBERAÇÃO MIOFASCIAL FÁSCIA MUSCULAR Schleip et al. (2012) descreveram fáscias como “O componente de tecido mole do sistema de tecido conectivo que permeia o corpo humano. Pode-se também descrevê-las como tecidos colagenosos fibrosos que fazem parte de um sistema de transmissão de força tensional amplo do corpo.” A fáscia é caracterizada como uma rede tensional de tecido conjuntivo, em sua maior parte por matriz extracelular, e envolve grande parte das estruturas do corpo humano, como os músculos, vísceras e endotélio, interligando todos os tecidos do corpo. Suas capacidades incluem a alta absorção de líquido e a ligação a proteínas superficiais das células. Ela faz parte de todos os tecidos moles do corpo: une, comprime, protege, envolve e separa os tecidos. Reveste e conecta estruturas, fornecendo o sistema de andaimes que permite e aumenta a transmissão de forças, além de ter funções sensoriais. Foi a fáscia que nos trouxe a noção de globalidade, sobre a qual se apoiam todas as técnicas modernas de terapia manual. Um dado importante é que a fáscia também oferece um meio de armazenamento de energia, agindo como uma espiral via estruturas fasciais pré-estressadas, tais como os grandes tendões e as aponeuroses da perna, durante o ciclo da marcha, por exemplo. As múltiplas funções da matriz de tecido conectivo, com suas qualidades combinadas de força e elasticidade (biotensegridade) são definidas como a capacidade de se adaptar às forças distorcidas e, onde apropriado, a capacidade de retornar à forma e posição originais, que é a qualidade da rede fascial. Camadas da Fáscia • Superficial: encontra-se ligada à subsuperfície da pele e é um tecido de trama frouxo, fibroelástico e areolar. Dentro da fáscia subsuperficial há gordura, estruturas vasculares (inclusive redes capilares e canais linfáticos) e tecidos nervosos, conhecidos como receptores da pele. A pele pode ser movimentada em muitas direções sobre as estruturas mais profundas, devido à natureza de trama frouxa da fáscia superficial. Dentro da fáscia superficial há espaço em potencial para o acúmulo de fluido e metabólitos. Muitas das alterações palpatórias, das anormalidades da textura do tecido, decorrem de alterações dentro da fáscia superficial; • Profunda: é firme, retesada e compacta. Ela compartimentaliza o corpo, envolve e separa os músculos, circunda e separa órgãos viscerais internos e contribui intensamente para o contorno e função do corpo. O peritônio, o pericárdio e a pleura são elementos especializados da fáscia profunda. As características de firmeza, resistência e confinamento da fáscia profunda podem criar problemas, como as síndromes de compartimento, por exemplo. A fáscia profunda é essencialmente formada por colágeno tipo I e III, organizado em inúmeros feixes fibrosos que são executados em diferentes direções. Estudos recentes demonstram que fáscia profunda consiste em 2-3 camadas de feixes de fibras colágenas paralelas, com cada camada tendo em média espessuras de 277 mm. Estas camadas são constituídas por feixes de fibras de colágeno paralelas que ocorrem num tipo ondulado; • Subserosa ou visceral: tecido areolar frouxo que reveste os órgãos viscerais internos. Por meio de pequenos e numerosos canais circulatórios, o fluido (substância fundamental) encontrado dentro dessa fáscia lubrifica as superfícies das vísceras internas. Funções da Fáscia Apesar de o número de estudos científicos relacionados à histologia estarem aumentando nos últimos anos, ainda há dificuldades para obtermos uma conclusão específica, pois ela é, ao mesmo tempo, rígida e flexível. Sua rigidez serve para a sustentação dos músculos, órgãos e tendões que circunda, e a flexibilidade é para que consiga preencher os espaços entre órgãos, músculos e tecidos e ainda permitir a sua livre movimentação. A fáscia se inter-relaciona com o sistema musculoesquelético. É uma rede única, ininterrupta, com um papel fundamental de intercomunicar no processo de transmissão de forças. A unidade musculofascial é formada por tecido conjuntivo extracelular, (miofáscias) que tem como função o movimento. Essas transmitem forças de tração. A fáscia fornece suporte para vasos e nervos do corpo todo. Ela permite que tecidos adjacentes se movimentem uns sobre os outros, proporcionando, ao mesmo tempo, estabilidade e contorno. Ela é responsável pelo fluxo do fluido lubrificante existente entre as estruturas, cuja função é facilitar o movimento e nutrir. Dentro desses elementos especializados, são encontrados mecanorreceptores e proprioceptores que transmitem à medula e ao cérebro informações sobre a posição e movimento do corpo. Outro item pelo qual não sabíamos é que dentro da fáscia encontram-se algumas substâncias que contribuem para os mecanismos imunológicos existentes no corpo. Lesões da Fáscia A fáscia responde tanto a lesões agudas quanto crônicas. • Lesões agudas: geralmente são de cunho mais simples e encontradas nos pacientes do dia a dia. Quando ocorrem treinos mais intensos ou mesmo com pouco descanso, o tecido frouxo dentro da fáscia profunda é sobrecarregado de tal maneira que sofre algumas alterações, como por exemplo, restrições musculares. Essas restrições causam tensões nas bandas musculares e nódulos dolorosos, esses itens podem passar a causar desequilíbrio postural por encurtamento anatômico. Porém, essas alterações são facilmente reversíveis através da técnica de liberação miofascial; • Lesões crônicas: são decorrentes de traumas, cirurgias e diabetes, que podem alterar as camadas fibrosas da fáscia profunda, causando uma fibrose tecidual. Estas alterações são mais difíceis de modificar, porque só um novo processo inflamatório local pode destruir as fibras de colágeno patológico e permitir a deposição de novas fibras de colágeno. Tal baseia-se na deposição conformação estrutural otimizado no que diz respeito ao estado mecânico local. Atualmente alguns procedimentos da área de dermatofuncional atuam em lesões crônicas. LIBERAÇÃO MIOFASCIAL A liberação miofascial pode ser realizada por movimentos específicos alongando a musculatura, liberação manual com ou sem auxílio de instrumentos específicos e, também, a associação de movimento e liberação manual. O principal objetivo é recuperar a simetria da forma e da função muscular, diminuindo as restrições, melhorando assim a amplitude de movimento e relaxando a musculatura. Primeiro realiza-se a palpação, na qual o objetivo é diagnosticar os locais de restrição, aderências e dor e, depois, a aplicação de força manual no sistema musculoesquelético. A aplicação prática de força sobre o sistema musculoesquelético resulta em estimulação aferente, por intermédio de mecanorreceptores, que requerem processamento central na medula espinhal, tronco cerebral e níveis corticais. A liberação deve ocorrer acompanhando a linha das fibras musculares, com movimentos fluidos e fortes, porém os movimentos não devem ultrapassar os limites de dor dos pacientes, pois caso isso aconteça, a liberação se torna ineficaz, causando contração exagerada (efeito contrário). Instrumentos de Apoio Alguns acessórios podem auxiliar a técnica, alguns deles são: • Bolinha de tênis ou de borracha; • Rolo; • Kits anatômicos em aço inox (geralmente utilizados em liberação passiva). EXERCÍCIOS PARA LIBERAÇÃO MIOFASCIAL Como estamos falando em treinamento funcional, separamos aqui alguns exercícios ativos ou ativoassistidos, ou seja, que podem ser realizados apenas com comando verbal, em que o paciente realiza sozinho e/ou com auxílio do terapeuta. • Trapézio: com uma bolinha de tênis, paciente deve deitar- se em uma quina de parede, o ombro deve ficar encaixado na parede e a cabeça parafora. A bolinha deve ficar no ponto tensionado do ombro. Enquanto o paciente mantém a bolinha pressionada sob o ombro, deve realizar uma inclinação contrária, a fim de alongar e liberar a musculatura da região do trapézio; • Isquiotibial: paciente sentado em um local em que as pernas fiquem suspensas, deve colocar uma bolinha de tênis embaixo da coxa, a fim de liberar o ponto de tensão em isquiotibial; • Peitoral: paciente em pé, de frente para uma quina de parede, colocar uma bolinha no local a liberar. O braço deve ficar para fora da parede e o paciente deve realizar uma flexão de ombro de 90 graus com uma abdução horizontal, pressionando a bolinha; • Peitoral: paciente em pé, de frente para uma quina de parede, colocar uma bolinha no local a liberar. O braço deve ficar para fora da parede e o paciente deve realizar uma remada, pressionando a bolinha; • Quadrado lombar: bolinha na região do músculo, paciente em decúbito lateral, vira para pegar um ângulo de 45 graus, flexiona o quadril e o joelho que estão encostados no solo e segura o joelho com a mão oposta ao lado flexionado. Em seguida, inclina o tronco como se fosse levantar e retorna à posição inicial; • Fáscia plantar: paciente em pé, coloca a bolinha na planta do pé, primeiro realiza uma flexão plantar contraindo os dedos, depois, extensão plantar; • Deltoide fibra média: paciente deitado em uma quina de parede, colocar a bolinha no músculo a ser liberado. Cabeça fica para fora da parede, ombro deve estar em abdução. Pressionar a bolinha na região do ombro e realizar uma adução; • Trapézio: paciente em pé encostado na parede, colocar a bolinha na região a ser liberada, realizar uma rotação externa de ombros, pressionando a bolinha, ou fazendo pequenos agachamentos, a fim de liberar um ponto maior; • Banda iliotibial: paciente deve ficar em decúbito lateral, com flexão de quadril e joelho no membro apoiado no solo, colocar a bolinha no ponto a ser liberado, realizar uma extensão de quadril e joelho com adução, pressionando a bolinha; • Gastrocnêmio e sóleo: paciente em decúbito dorsal, apoia uma das pernas em uma cadeira (quadril e joelho em 90 graus), deixa a bolinha embaixo da perna, a outra perna cruza por cima para fazer pressão. Realizar planti e dorsiflexão no tornozelo da perna apoiada na bolinha; • Glúteo médio: paciente em decúbito lateral, coloca a bolinha no músculo a ser mobilizado, realizar flexão de quadril e joelho e, com a mão oposta, puxar a perna para rotação interna com adução; • Base sacral: paciente em decúbito dorsal com joelhos estendidos, colocar a bolinha no local desejado e realizar flexão de quadril e joelhos; • Romboide: paciente em decúbito dorsal, colocar a bolinha sob o músculo a ser trabalhado, inclinar o tronco sobre a bolinha, realizar uma abdução horizontal no lado trabalhado e, com a outra mão, segurar o braço; • Panturrilha: paciente sentado, colocar o rolo embaixo da panturrilha, cruzar a outra perna por cima e realizar movimentos de rolamento para cima e para baixo; • Piriforme: sentar sob o rolo, cruzar a perna, manter as mãos apoiadas no solo e realizar movimentos curtos de vai e vem em cima do rolo; • Isquiotibial: paciente sentado, colocar o rolo embaixo da coxa a ser trabalhada, a outra perna fica apoiada no solo. Deslocar o rolo para cima e para baixo; • Quadríceps: paciente em decúbito ventral, rolo embaixo da coxa, a perna de repouso fica em flexão e rotação externa de quadril. Realizar movimentos de rolamento para cima e para baixo; • Grande dorsal: paciente em decúbito lateral, rolo embaixo do músculo a ser trabalhado, paciente deve realizar movimentos de rolamento para cima e para baixo; • Coluna torácica: paciente deitado, colocar o rolo em região de coluna torácica e realizar movimentos de rolamento para cima e para baixo; • Pompage de Tronco: Sentado com as pernas cruzadas, colocar uma das mãos na região da nuca, deixando o cotovelo alto (rotação externa de ombro), e inclinar o tronco para lateral. Terapeuta realiza uma pompage na lateral do tronco; • Pompage Lombar: paciente ajoelhado, mãos apoiadas na bola suíça, deve realizar uma flexão de tronco, mobilizando a coluna. Terapeuta realiza pompage lombar; • Pompage de Peitoral: paciente em decúbito lateral, coloca as mãos atrás da cabeça, perna de baixo estendida, perna de cima com joelho flexionado, realiza uma rotação de tronco. Terapeuta faz uma pompage de peitoral. REFERÊNCIAS Adstrum S, Hedley G, Schleip R, Stecco C, Yucesoy CA. Defining the fascial system. J Bodyw Mov Ther 2017;21:173- 7. Beardsley C, Škarabot J. Effects of self-myofascial release: a systematic review. J Bodyw Mov Ther 2015;19:747-758. 10.1016/j.jbmt.2015 M.S. Ajimsha, Noora R. Al-Mudahka, J.A. Al-Madzhar. Effectiveness of myofascial release: Systematic review of randomized controlled trials. Department of Physiotherapy, Hamad Medical Corporation, Doha, Qatar; 2015. Schleip R, Jäger H, Klingler W 2012a What is ‘fascia’? A review of different nomenclatures. J Bodyw Mov Ther 16 (4): 496–502 Stecco C, Macchi V, Porzionato A, Duparc F, De Caro R. The fascia: the forgotten structure. Ital J Anat Embryol 2011;116:127-138.
Compartilhar