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21 Doenças Microbianas da Pele e dos Olhos A pele, que cobre e protege o corpo, é a primeira linha de defesa do organismo contra os pató- genos. Como uma barreira física, é quase impossível para os patógenos penetrá-la. Entretanto, os micróbios podem entrar através de pequenas aberturas, que não são imediatamente perceptíveis. Além disso, formas larvais de alguns parasitas podem penetrar a pele intacta. A pele é um lugar inóspito para a maioria dos micro-organismos, pois as secreções são ácidas e a maior parte dela contém pouca umidade. Algumas partes do corpo, como as axilas e as áreas entre as pernas, possuem umidade suficiente para abrigar populações bacterianas relativamente grandes. Regiões mais secas, como o couro cabeludo, abrigam apenas um pequeno número de micro-organismos. Além desses fatores ecológicos, a pele contém antibióticos peptídicos denominados defensinas, que possuem amplo espectro de atividade (veja a página 470). Elas são também encontradas em mem- branas mucosas, especialmente naquelas que revestem o trato gastrintestinal. SOB O MICROSCÓPIO Candida albicans, um fungo leveduriforme. Como a morfologia da Candida albicans contribui para sua patogenicidade? Procure pela resposta neste capítulo. P&R Tortora_21.indd 584 27/06/11 14:46 Microbiologia 585 Estrutura e função da pele OBJETIVO DO APRENDIZADO 21-1 Descrever as estruturas da pele e das membranas mucosas e as estratégias que os patógenos utilizam para invadir a pele. A pele de um adulto médio ocupa uma área de cerca de 1,9 m2 e varia em espessura de 0,05 a 3,0 mm. Como mencionamos no Ca- pítulo 16, a pele é composta de duas partes principais, a epiderme e a derme (Figura 21.1). A epiderme é a parte mais fina e externa, composta de diversas camadas de células epiteliais. A camada mais externa da epiderme, o stratum corneum, consiste em várias fileiras de células mortas que contêm uma proteína à prova d’água, deno- minada queratina. A epiderme, quando intacta, é uma barreira fí- sica efetiva contra os micro-organismos. A derme, a porção mais interna e relativamente espessa da pele, é composta principalmente de tecido conectivo. Os folículos pilosos e os ductos das glândulas sudoríparas e de óleo presentes na derme proporcionam uma via de passagem por onde os micro- -organismos podem entrar nos tecidos mais profundos. A transpiração fornece umidade e alguns nutrientes para o crescimento microbiano. Entretanto, ela também contém sal, capaz de inibir muitos micro-organismos, lisozima, uma enzima capaz de quebrar a parede celular de determinados micro-organismos, e peptídeos antimicrobianos. O sêbo, secretado pelas glândulas sebáceas, é uma mistura de li- pídeos (ácidos graxos insaturados), proteínas e sais que impede que a pele e os pelos ressequem. Embora os ácidos graxos possam inibir o crescimento de certos patógenos, o sêbo, assim como a transpira- ção, também é nutritivo para muitos micro-organismos. Membranas mucosas Nos revestimentos das cavidades do corpo, como nos tratos gas- trintestinal, respiratório, urinário e genital, a barreira protetora mais externa difere da pele. Ela consiste em camadas de células epiteliais fortemente unidas. Essas células estão conectadas, em suas bases, a uma camada de material extracelular chamada de membrana basal. Muitas dessas células secretam muco – daí o nome membrana mucosa, ou simplesmente mucosa. Outras células mucosas possuem cílios e, no sistema respiratório, as ca- madas de muco prendem partículas, inclusive micro-organismos, que são transportadas pelos cílios e expelidas do corpo (veja a Fi- gura 16.4, página 452). As membranas mucosas com frequência são ácidas, o que tende a limitar sua população microbiana. Além disso, as membranas dos olhos são mecanicamente lavadas pelas lágrimas, e a lisozima presente nesse fluido destrói as paredes ce- lulares de certas bactérias. As membranas mucosas frequentemen- te são dobradas para maximizar a superfície. A área de mucosa total em um ser humano médio é de cerca de 400 m2, muito maior que a superfície da pele. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 A umidade fornecida pela transpiração estimula o crescimento mi- crobiano na pele. Que fatores na transpiração inibem o crescimento microbiano? 21-1 Microbiota normal da pele OBJETIVO DO APRENDIZADO 21-2 Fornecer exemplos da microbiota normal da pele e indicar as localizações gerais e os papéis ecológicos de seus membros. Embora a pele normalmente seja inóspita para a maioria dos mi- cro-organismos, ela dá suporte ao crescimento de certos micróbios que se estabeleceram como parte da microbiota normal. Na super- fície da pele, algumas bactérias aeróbicas produzem ácidos graxos a partir do sebo. Estes ácidos inibem o crescimento de muitos outros micro-organismos e permitem que as bactérias melhor adaptadas floresçam. Vasos sanguíneos Glândula sebácea (produz o sebo) Ducto da glândula sudorípara Glândula sudorípara (produz a transpiração) Folículo piloso Nervo Poro sudoríparo Haste do peloMúsculo eretor do pelo Epiderme Derme Camada subcutânea Tecido adiposo (gordura) Stratum corneum Figura 21.1 A estrutura da pele humana. Observe as aberturas entre o folículo piloso e a haste do pelo, através das quais micróbios podem penetrar até os tecidos mais profundos. Eles também podem entrar na pele através dos poros sudoríparos. P Ao observar a figura, quais seriam os pontos fracos através dos quais os micróbios podem penetrar na pele intacta e alcançar os tecidos mais profundos? Tortora_21.indd 585 27/06/11 14:46 PF Realce 586 Tortora, Funke & Case Os micro-organismos que têm a pele como um ambiente sa- tisfatório são resistentes ao ressecamento e a concentrações de sal relativamente altas. A microbiota normal da pele contém números relativamente altos de bactérias gram-positivas, como os estafilo- cocos e os micrococos. Algumas dessas bactérias são capazes de crescer em concentrações de cloreto de sódio (sal de cozinha) de 7,5% ou mais. Micrografias eletrônicas de varredura mostram que as bactérias da pele tendem a crescer em pequenos agrupamentos. A lavagem vigorosa pode diminuir seu número sem, no entanto, eliminá-las. Os micro-organismos que restarem nos folículos pilo- sos e nas glândulas sudoríparas rapidamente restabelecem a popu- lação normal. As áreas do corpo que apresentam maior umidade, como as axilas e a região entre as pernas, têm populações maiores de micróbios, os quais metabolizam as secreções provenientes das glândulas sudoríparas e são os principais responsáveis pelo odor corporal. Também fazem parte da microbiota normal da pele bacilos gram-positivos pleomórficos chamados de difteroides. Alguns dif- teroides, como o Propionibacterium acnes, são tipicamente anae- róbicos e habitam os folículos pilosos. Seu crescimento é mantido pelas secreções das glândulas sebáceas (sebo), que, como veremos, é um fator para o desenvolvimento da acne. Essas bactérias produ- zem ácido propiônico, o que ajuda a manter o pH baixo da pele, geralmente entre 3 e 5. Outros difteroides, como Corynebacterium xerosis, são aeróbicos e ocupam a superfície da pele. Uma levedura, a Malassezia furfur, capaz de crescer em secreções oleosas da pele, é considerada responsável pela condição descamativa da pele conhe- cida como caspa. Os xampus para o tratamento da caspa contêm o antibiótico cetoconazol, piritionato de zinco ou sulfeto de selênio. Todos são ativos contra a levedura. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 As bactérias da pele têm maior probabilidade de ser gram-positivas ou gram-negativas? 21-2 Doenças microbianas da pele OBJETIVOS DO APRENDIZADO 21-3 Diferenciar estafilococos e estreptococos e nomear diversas infecções de pele causadas por cada um deles. 21-4 Listar o agentecausal, o modo de transmissão e os sintomas clínicos da dermatite por Pseudomonas, das otites externas, da acne e da úlcera de Buruli. 21-5 Listar o agente causal, o modo de transmissão e os sintomas clínicos das seguintes infecções de pele: verrugas, varíola, varíola símia (monkeypox), varicela, herpes zoster, herpes labial, sarampo, rubéola, eritema infeccioso (quinta doença) e roséola infantil. 21-6 Diferenciar micoses cutâneas e subcutâneas e dar um exemplo de cada uma. 21-7 Listar o agente causal e os fatores predisponentes da candidíase. 21-8 Listar os agentes causais, o modo de transmissão, os sintomas clínicos e o tratamento para a sarna e a pediculose. Erupções e lesões na pele não indicam necessariamente uma in- fecção; muitas doenças que se manifestam como lesões na pele são, na verdade, doenças sistêmicas que afetam órgãos internos. As variações dessas lesões geralmente são úteis para descrever os sintomas da doença. Por exemplo, lesões pequenas e cheias de fluido são chamadas de vesículas (Figura 21.2a). Vesículas com diâmetro maior que cerca de 1 cm são denominadas bolhas (Fi- gura 21.2b). Lesões planas e avermelhadas são conhecidas como máculas (Figura 21.2c). Lesões elevadas são chamadas de pápu- las ou, quando contêm pus, pústulas (Figura 21.2d). Embora o foco de infecção esteja com frequência em outra região do corpo, é conveniente classificar essas doenças pelo órgão mais obvia- mente afetado: a pele. Uma erupção de pele que surge de uma condição de doença é chamada de exantema; nas membranas mucosas, como o interior da boca, essas erupções são chamadas de enantemas. Diagnósticos preliminares de doenças associadas à pele muitas vezes têm como base o surgimento de erupções; essas doenças estão resumidas em Doenças em Foco 21.1, 21.2 e 21.3. Doenças bacterianas da pele Dois gêneros de bactérias, Staphylococcus e Streptococcus, são cau- sas frequentes de doenças associadas à pele, merecendo discussão especial. Também discutiremos essas bactérias em capítulos subse- quentes, em relação a outros órgãos e condições. Infecções superfi- ciais da pele, causadas por estafilococos e estreptococos, são muito comuns. Essas bactérias com frequência entram em contato com a pele e se adaptam relativamente bem às condições encontradas no local. Ambos os gêneros possuem enzimas invasivas e são capazes de produzir toxinas. Infecções de pele por estafilococos Os estafilococos são bactérias gram-positivas esféricas que formam agrupamentos irregulares como cachos de uva (veja a Figura 4.1d, página 78, e a Figura 11.18, página 318). Para quase todos os pro- pósitos clínicos, essas bactérias podem ser divididas naquelas que produzem coagulase, uma enzima que coagula a fibrina no sangue, e naquelas que não o fazem. Cepas coagulase-negativas, como o Staphylococcus epidermi- dis, são muito comuns na pele, onde representam cerca de 90% da microbiota normal. Elas geralmente são patogênicas apenas quando a barreira da pele é rompida ou invadida por procedi- mentos médicos, como a inserção e a remoção de cateteres ve- nosos. Na superfície do cateter (Figura 21.3), as bactérias são cir- cundadas por uma camada viscosa de material capsular (veja a discussão sobre biofilmes nas páginas 18 e 162). Esse é um fator essencial na sua importância como patógeno nosocomial, pois as bactérias ficam protegidas da ação de desinfetantes e do res- secamento. O S. aureus é o mais patogênico dos estafilococos (veja tam- bém a discussão sobre MRSA no Capítulo 20). Essa bactéria é um residente permanente das passagens nasais de 20% da população, e cerca de 60% a carreiam ocasionalmente. Exposta em superfí- cies, ela pode sobreviver por meses. Tipicamente, forma colônias amarelo-douradas, e essa pigmentação é um fator protetor contra os efeitos antimicrobianos da luz solar. Mutantes que não apresen- tam a pigmentação também são mais suscetíveis à eliminação por neutrófilos. Tortora_21.indd 586 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce Microbiologia 587 Comparado ao seu parente mais inócuo, o S. epidermidis, o S. aureus apresenta cerca de 300.000 pares de base a mais em seu ge- noma – sendo que grande parte desse material genético adicional é responsável por uma gama impressionante de fatores de virulência e meios de evadir as defesas do hospedeiro. Quase todas as amos- tras patogênicas do S. aureus são coagulase-positivas. Existe alta correlação entre a habilidade da bactéria de produzir coagulase e a produção de toxinas danosas, várias das quais facilitam a disse- minação do micro-organismo pelos tecidos, causam dano tecidual ou são letais para as defesas do hospedeiro. Além disso, algumas cepas podem causar sepse, gerando risco à vida (veja o Capítulo 23, página 639), e outras produzem enterotoxinas que afetam o trato gastrintestinal (veja o Capítulo 25, páginas 711 e 712). Uma vez que o S. aureus infecta a pele, ele estimula uma res- posta inflamatória vigorosa, e macrófagos e neutrófilos são atraí- dos para o sítio de infecção. Entretanto, a bactéria frequentemente consegue escapar dessas defesas normais do hospedeiro. A maioria das cepas do patógeno secreta uma proteína que bloqueia a qui- miotaxia dos neutrófilos até o sítio de infecção, e, se a bactéria en- contrar uma célula fagocítica, ela pode produzir toxinas capazes de matar essa célula. A bactéria é resistente à opsonização (veja a página 459), mas, se isso falhar, ela pode sobreviver bem dentro do fagossomo. Outras proteínas que ela secreta são capazes de neu- tralizar a ação das defensinas, peptídeos antimicrobianos da pele, e sua parede celular é resistente à lisozima (veja a página 88). A bactéria eventualmente se apresenta ao sistema imune como um (a) Vesículas (b) Bolha (c) Mácula (d) Pústula (pápula) Fluido Pus 1 cm 1 cm 1 cm 1 cm Fluido Epiderme Derme Figura 21.2 Lesões de pele. (a) Vesículas são lesões pequenas e cheias de fluidos. (b) Bolhas são lesões maiores e cheias de fluido. (c) Máculas são lesões planas e frequen- temente avermelhadas. (d) Pápulas são lesões elevadas; quando contêm pus, como mostrado, são chamadas de pústulas. P Estas lesões de pele são exantemas ou enantemas? (a) Superfície do cateter com bactérias aderidas. O biofilme, em verde-claro, começa a surgir. (b) A maioria das bactérias produtoras de limo não é visível sob o biofilme. Superfície do cateter BiofilmeBiofilme µ1 m µ1 mMEV MEV Figura 21.3 Estafilococos coagulase-negativos. Estas bactérias produtoras de limo se aderem a superfícies como os cateteres plásticos da foto. Uma vez aderidas à superfície, (a) elas começam a se dividir. Eventualmente, (b) toda a superfície é coberta com um biofilme contendo os micro-organis- mos. P Qual a fonte mais provável da bactéria que cresceu no cateter? Tortora_21.indd 587 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce 588 Tortora, Funke & Case superantígeno (veja a página 436), mas com frequência é capaz de evadir inteiramente o sistema imune adaptativo. Todos os seres hu- manos possuem anticorpos contra o S. aureus, mas não são capazes de prevenir efetivamente infecções reincidentes. Cepas resistentes a antibióticos surgiram e são muito difíceis de tratar (veja as páginas 563 e 574). Essas cepas causam, atualmente, infecções em hospitais e nas comunidades (veja o quadro na página 593). Por estar tão comumente associado às passagens nasais, esse micro-organismo com frequência é transportado de lá para a pele. Uma vez na pele, ele pode entrar no corpo através das aberturas na- turais da barreira cutânea, como os folículos pilosos – veja a Figura 21.1. Essasinfecções, ou foliculites, ocorrem normalmente como espinhas ou pelos encravados. Um folículo infectado nos cílios é chamado de hordéolo.* Uma infecção mais séria dos folículos pi- losos é o furúnculo, que é um tipo de abscesso, uma região locali- zada de pus circundado por tecido inflamado. Os antibióticos não penetram bem nos abscessos, fazendo com que a infecção seja de difícil tratamento. A drenagem de pus desses abscessos com fre- quência é um passo preliminar para um tratamento de sucesso. Quando o organismo não consegue isolar o furúnculo, tecidos vizinhos podem ser progressivamente invadidos. O dano extensi- vo resultante é chamado de carbúnculo, uma massa endurecida e profundamente inflamada de tecido sob a pele. Nesse estágio, o paciente normalmente apresenta sintomas de doença generalizada, como febre. Os estafilococos são os mais importantes agentes causadores do impetigo. Essa é uma infecção de pele altamente infecciosa que afeta principalmente crianças de 2 a 5 anos, entre as quais se dissemina por contato direto. O Streptococcus pyogenes, patógeno que discu- tiremos em breve, também pode causar o impetigo, embora com menos frequência. Às vezes, tanto S. aureus como S. pyogenes estão envolvidos. A doença pode se apresentar de duas formas, sendo o impetigo não bolhoso (veja a bolha na Figura 21.2b) a mais comum. O patógeno normalmente entra na pele através de pequenas rupturas ou ferimentos. A infecção também pode se espalhar para áreas adja- * N. de T. O hordéolo é popularmente conhecido como terçol. centes – processo denominado autoinoculação. Os sintomas resul- tam da resposta do hospedeiro à infecção. As lesões eventualmente se rompem e formam crostas de coloração clara, como mostrado na Figura 21.4. Antibióticos tópicos são aplicados às vezes, mas as lesões tendem a curar sem tratamento e sem deixar cicatrizes. O outro tipo de impetigo, o impetigo bolhoso, é causado por uma toxina estafilocócica. Ele representa uma forma localizada da síndrome da pele escaldada estafilocócica. Na verdade, existem dois sorotipos da toxina: a toxina A, que permanece localizada e causa o impetigo bolhoso, e a toxina B, que circula para sítios distantes e causa a síndrome da pele escaldada. Ambas as toxinas causam a separação das camadas da pele, ou esfoliação (veja a Fi- gura 21.5). Surtos de impetigo bolhoso representam um problema frequente em berçários de hospitais, onde a condição é conhecida como pemphigus neonatorum, ou impetigo do neonato (veja a discussão sobre hexaclorofeno no Capítulo 7, página 196). A síndrome da pele escaldada também é característica dos es- tágios mais tardios da síndrome do choque tóxico (SCT). Nessa condição potencialmente fatal, febre, vômitos e erupções seme- lhantes a queimaduras solares são seguidos de choque e, eventual- mente, falência de órgãos, em especial os rins. A SCT se tornou conhecida como resultado da associação entre o crescimento es- tafilocócico e o uso de um novo tipo de tampão vaginal altamen- te absorvente. Essa correlação é especialmente alta se o tampão permanece no lugar por um tempo muito longo. Um nova toxina estafilocócica chamada de toxina da síndrome do choque tóxico 1 (TSCT-1) é produzida no local do crescimento bacteriano e se es- palha pela corrente sanguínea. Figura 21.4 Lesões causadas pelo impetigo. Essa doença é caracte- rizada por pústulas isoladas que se tornam crostas. P Que outras bactérias também causam o impetigo? Figura 21.5 Lesões da síndrome da pele escaldada. Alguns estafi- lococos produzem toxinas que fazem com que a pele se descame em camadas, como nas mãos de um recém-nascido. A doença é especialmente prevalente em crianças com menos de dois anos. P Qual o nome da toxina que produz esta síndrome? Tortora_21.indd 588 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce Microbiologia 589 Acredita-se que os sintomas sejam o resultado das proprieda- des superantigênicas da toxina (veja a discussão sobre superantíge- nos na página 436). Hoje, apenas uma minoria dos casos de SCT está associada à menstruação. A SCT não menstrual ocorre por infecções esta- filocócicas que se seguem a cirurgias nasais, nas quais bandagens absorventes são utilizadas, depois das incisões cirúrgicas, e em mu- lheres que acabaram de dar à luz. Infecções de pele por estreptococos Os estreptococos são bactérias gram-positivas e esféricas. Dife- rentemente dos estafilococos, as células estreptocócicas normal- mente crescem em cadeias (veja a Figura 11.19, página 318). An- tes da divisão, um coco individual se alonga no eixo da cadeia, e então se divide (veja a Figura 4.1a, página 78). Os estreptococos causam um amplo espectro de condições clínicas, além daquelas abordadas neste capítulo, incluindo meningite, pneumonia, dor de garganta, otite média, endocardite, febre puerperal e mesmo cáries dentárias. À medida que os estreptococos crescem, eles secretam toxinas e enzimas, fatores de virulência que variam de acordo com cada es- pécie de estreptococos. Entre essas toxinas destaca-se a hemolisina, que é capaz de lisar eritrócitos. Dependendo do tipo de hemolisina que produzem, os estreptococos podem ser categorizados como al- fa-hemolíticos, beta-hemolíticos ou gama-hemolíticos (atualmente chamados de não hemolíticos) (veja a Figura 6.9, página 168). As hemolisinas podem lisar não somente os eritrócitos, mas quase to- dos os tipos de célula. Não se sabe, no entanto, que papel elas te- riam na patogenicidade estreptocócica. Os estreptococos beta-hemolíticos frequentemente são asso- ciados a doenças humanas. Esse grupo pode ser subdividido em grupos sorológicos, designados de A a T, de acordo com os car- boidratos antigênicos de suas paredes celulares. Os estreptococos do grupo A (GAS, de Group A Streptococci), que são sinônimos da Erupções maculares Diagnóstico diferencial é o processo de identificação de uma doença a partir de uma lista de possíveis doenças que se encaixam no painel de informações derivado do exame do paciente. Um diagnóstico diferencial é importante para que se inicie o tratamento e para os estudos laborato- riais. Por exemplo, um menino de quatro anos apresentando histórico de tosse, conjuntivite e febre (38,3oC) agora apresenta uma erupção macular que iniciou na face e no pescoço e em seguida se espalhou para o resto do corpo. Use a tabela para identificar as infecções que poderiam causar esses sintomas. Doença Patógeno Porta de entrada Sintomas Método de transmissão Tratamento DOENÇAS VIRAIS. Normalmente diagnosticadas por sinais e sintomas clínicos, podendo ser confirmadas por sorologia ou PCR. Sarampo Vírus do sarampo Trato respiratório Erupção na pele, formada por máculas que pri- meiramente aparecem na face, se espalhando, em seguida, para o tronco e as extremidades. Aerossol Sem tratamento; prote- ção via pré-exposição ou vacinação. Rubéola Vírus da rubéola Trato respiratório Doença macular leve que se apresenta como uma erupção semelhante ao sarampo, porém menos ex- tensa, e desaparece em três dias ou menos. Aerossol Sem tratamento; prote- ção via pré-exposição ou vacinação. Eritema in- feccioso Parvovírus humano B19 Trato respiratório Doença leve que se apresenta como uma erupção macular facial. Aerossol Nenhum Roséola in- fantil Herpesvírus humano 6 Herpesvírus humano 7 Trato respiratório Febre alta seguida de erupção macular no corpo. Aerossol Nenhum DOENÇAS FÚNGICAS. Confirmadas por coloração de Gram ou raspados de pele. Candidíase Candida albicans Pele e membranas mucosas Erupção macular Contato direto; in- fecção endógena Miconazol, clotrimozol (topicamente) DOENÇAS EM FOCO 21.1 Tortora_21.indd 589 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF RealcePF Realce PF Realce PF Realce 590 Tortora, Funke & Case espécie Streptococcus pyogenes, são os estreptococos beta-hemolíti- cos mais importantes. Eles estão entre os patógenos humanos mais comuns e são responsáveis por uma variedade de doenças huma- nas – algumas fatais. Esse grupo de patógenos é dividido em mais de 80 tipos imunológicos, de acordo com as propriedades antigê- nicas da proteína M encontrada em algumas cepas (Figura 21.6). Essa proteína está localizada na parte externa da parede celular, em uma camada repleta de fibrilas. A proteína M evita a ativação do complemento e permite ao micróbio evitar a fagocitose e a morte por ação dos neutrófilos (veja a página 454). Ela também parece auxiliar a bactéria a se aderir e colonizar as membranas mucosas. Outro fator de virulência dos GAS é sua cápsula de ácido hialurô- nico. Amostras muito virulentas apresentam uma aparência mucoi- de em placas de ágar-sangue devido à sua pesada encapsulação e à presença da proteína M. O ácido hialurônico é pouco imunogênico (se assemelha aos tecidos conectivos humanos) e somente alguns anticorpos contra a cápsula são produzidos. As bactérias do GAS produzem substâncias que promovem a rápida dispersão da infecção através dos tecidos e pelo pus lique- feito. Entre elas estão as estreptocinases (enzimas que dissolvem coágulos sanguíneos), a hialuronidase (enzima que degrada o ácido hialurônico dos tecidos conectivos, dissolvendo-o uma vez que ser- ve para manter as células unidas) e as deoxirribonucleases (enzimas que degradam o DNA). Esses estreptococos também produzem certas enzimas, denominadas estreptolisinas, que lisam eritrócitos e são tóxicas para neutrófilos. Erupções vesiculares e pustulares Diagnóstico diferencial é o processo de identificação de uma doença a partir de uma lista de possíveis doenças que se encaixam no painel de informações derivado do exame do paciente. Um diagnóstico diferencial é importante para que se inicie o tratamento e para os estudos laborato- riais. Por exemplo, um menino de 8 anos apresenta uma erupção que consiste em lesões vesicu- lares no pescoço e na região do estômago, com duração de cinco dias. Dentro de cinco dias, 73 estudantes em sua escola de ensino fundamental tiveram doenças que se assemelham à definição de caso dessa doença. Use a tabela para identificar as infecções que poderiam causar esses sin- tomas. Doença Patógeno Porta de entrada Sintomas Métodos de transmissão Tratamento DOENÇAS BACTERIANAS. Normalmente diagnosticadas por cultivo da bactéria. Impetigo Staphylococcus aureus Pele Vesículas na pele Contato direto; fômites Antibióticos tópicos DOENÇAS VIRAIS. Normalmente diagnosticadas por sinais e sintomas clínicos, podendo ser confirmadas por sorologia ou PCR. Varíola Variola virus Trato respiratório Pústulas na pele que podem ser quase confluentes. Aerossol Nenhum Varíola símia (Monkeypox) Monkeypox virus Trato respiratório Pústulas, similar à varíola. Contato direto com pequenos mamíferos infectados ou aerossol produzido por eles. Nenhum Varicela Varicella-zoster virus Trato respiratório Vesículas, na maioria dos casos confinadas a face, pescoço, garganta e costas. Aerossol Aciclovir para pacientes imunodeprimidos; pro- teção via pré-exposição ou vacinação. Herpes zoster Varicella-zoster virus Infecção endógena dos nervos periféricos* Vesículas tipicamente distribuídas em ape- nas um lado da cintura, face, escalpo ou peito. Recorrência de in- fecção por varicela latente. Aciclovir; vacinação preventiva. Herpes simples Herpes-vírus hu- mano tipo 1 Pele e membranas mucosas Vesículas ao redor da boca; pode também afetar outras áreas da pele e membranas mucosas. Infecção primária por contato direto; recor- rência da infecção latente. Aciclovir * Infecções endógenas são aquelas causadas por micro-organismos que fazem parte da microbiota do hospedeiro. DOENÇAS EM FOCO 21.2 Tortora_21.indd 590 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce Microbiologia 591 Infecções de pele causadas por estreptococos geralmente são localizadas, mas, se as bactérias atingirem tecidos mais profundos, elas podem ser altamente destrutivas. Quando o S. pyogenes infecta as camadas da derme, ele pode causar uma doença séria, denominada erisipela. Nessa doença, a pele apresenta erupções formadas por placas avermelhadas e de bordas elevadas (Figura 21.7). A doença pode progredir e causar a destruição de tecidos locais ou mesmo atingir a corren- te sanguínea, causando sepse (página 639). A infecção em geral inicia na face e frequentemente é precedida por dor de garganta estreptocócica. Febre alta é comum. Felizmente, S. pyogenes tem permanecido sensível a antibióticos β-lactâmicos, em especial a cefalosporina. Cerca de 15.000 casos de infecções invasivas causadas por es- treptococos do grupo A, a “bactéria comedora de carne”, acontecem todos os anos nos Estados Unidos. A infecção pode iniciar por pe- quenas rupturas na pele, e os sintomas precoces com frequência são ignorados, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento, gerando sérias consequências. Uma vez estabelecida a infecção, episódios de fascii- te necrosante (Figura 21.8) podem destruir tecidos tão rapidamen- te quanto um cirurgião pode removê-los, e a taxa de mortalidade por choques sistêmicos pode ser maior que 40%. Os estreptococos são considerados os mais comuns agentes causadores de doenças, embora outras bactérias possam causar condições semelhantes. Um fator importante é a produção de uma toxina, a exotoxina A, por determinadas cepas de estreptococos que possuem a proteína M. Essa exotoxina age como um superantígeno, estimulando o sistema imune a contribuir para a extensão do dano. Antibióticos de amplo espectro costumam ser prescritos pela possibilidade de múltiplos patógenos bacterianos estarem presentes. A fasciite necrosante frequentemente é associada à síndrome do choque tóxico estreptocócica (SCT estreptocócica), que é muito semelhante à SCT estafilocócica, descrita na página 588. Nos casos de SCT estreptocócica, uma erupção tem menor probabilida- de de estar presente, mas a bacteremia é mais provável de ocorrer. Proteínas M liberadas das superfícies desses estreptococos formam complexos com o fibrinogênio que se liga aos neutrófilos. Isso cau- sa a ativação dos neutrófilos e precipita a liberação de enzimas da- nosas, com consequente choque e dano a órgãos. Infecções por Pseudomonas As pseudomonas são bacilos bacterianos gram-positivas, aeróbi- cos, amplamente distribuídos no solo e em fontes de água. Ca- pazes de crescer em qualquer ambiente úmido, essas bactérias podem crescer em traços de matérias orgânicas pouco comuns, como filmes de sabão ou adesivos selantes, e são resistentes a mui- tos antibióticos e desinfetantes. A espécie mais proeminente do grupo é a Pseudomonas aeruginosa, considerada um modelo de patógeno oportunista. Proteína M em fibrilas (a) µ0,1 m Fibrilas sem a proteína M (b) µ0,1 mMET MET Figura 21.6 Proteína M de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A. (a) Parte de uma célula que possui a proteína M em uma camada repleta de fibrilas. (b) Parte de uma célula que não possui a proteína M. P A proteína M apresenta maior probabilidade de ser imunogênica do que polissacarídeos capsulares? Figura 21.7 Lesões de erisipela, causada por toxinas produzidas por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A. P Qual o nome da toxina que produz a vermelhidão na pele? Figura 21.8 Fasciite necrosante devido à infecção por estrepto- cocos do grupo A. Danos extensivos podem requerer cirurgias reconstruti- vas ou até mesmo a amputação de membros. P Qual o nome da toxina primária que leva à invasão de tecidos pelo pató- geno?Tortora_21.indd 591 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce 592 Tortora, Funke & Case Vermelhidão em placas e condições semelhantes a espinhas Diagnóstico diferencial é o processo de identificação de uma doença a partir de uma lista de possíveis doenças que se encaixam no painel de informações derivado do exame do paciente. Um diagnóstico diferencial é importante para que se inicie o tratamento e para os estudos labo- ratoriais. Por exemplo, um menino de 11 meses apresentou um histórico de erupção vermelha e pruriginosa sob os braços que já durava uma semana. Ele parecia mais incomodado à noite e não apresentava febre. Use a tabela para identificar as infecções que poderiam causar esses sintomas. Doença Patógeno Porta de entrada Sintomas Método de transmissão Tratamento DOENÇAS BACTERIANAS. Normalmente diagnosticadas por cultivo da bactéria. Foliculite Staphylococcus aureus Folículo piloso Infecção do folículo piloso Contato direto; fômites; infecção endógena* Drenagem de pus; antibióti- cos tópicos Síndrome do choque tóxico Staphylococcus aureus Incisões cirúr- gicas Febre, erupção e choque Infecção endógena* Antibióticos, dependendo do perfil de sensibilidade Fasciite necro- sante Streptococcus pyogenes Abrasões na pele Destruição extensa de tecidos moles Contato direto Remoção cirúrgica de tecido; antibióticos de amplo espectro Erisipela Streptococcus pyogenes Pele; membra- nas mucosas Placas avermelhadas na pele; febre alta frequente Infecção endógena* Cefalosporina Dermatite por Pseudomonas Pseudomonas aeruginosa Abrasões na pele Erupção superficial Água de piscinas e simila- res; banheiras Infecção normalmente au- tolimitada Otite externa Pseudomonas aeruginosa Ouvido Infecção superficial do canal auditivo externo Água de piscinas e simi- lares Fluoroquinolonas Acne Propionibacterium acnes Ductos sebá- ceos Lesões inflamatórias originadas do acú- mulo de sebo e que rompem um folículo piloso Contato direto Peróxido de benzoíla, isotre- tinoína, ácido azeláico Úlcera de Bu- ruli Mycobacterium ulcerans Pele Inchaço ou endurecimento localizado do tecido que progride para uma úlcera profunda Água contaminada Drogas antimicobacterianas DOENÇAS VIRAIS. Normalmente diagnosticadas por sinais e sintomas. Verrugas Papilomavirus Pele Projeção córnea da pele formada pela proliferação de células Contato direto Podem ser removidas por crioterapia com nitrogênio líquido, eletrodessecação, ácidos, laser DOENÇAS FÚNGICAS. Diagnóstico confirmado por exame microscópico. Tíneas Microsporum, Trichophyton, Epi- dermophyton spp. Pele Lesões de pele de aparência variada; no escalpo, pode causar perda local de pelos Contato direto; fômites Griseofulvina (oralmente); miconazol e clotrimazol (to- picamente) Esporotricose Sporothrix schenkii Abrasões na pele Úlceras no local da infecção que se es- palham pelos vasos linfáticos próximos Solo Solução de iodeto de potás- sio (oralmente) INFESTAÇÕES PARASITÁRIAS. O diagnóstico é confirmado por exame microscópico do parasita. Sarna Sarcoptes scabiei (ácaro) Pele Pápulas e prurido Contato direto Hexacloreto de gama benze- no, permetrin (topicamente) Pediculose (piolhos) Pediculus humanus capitis Pele Prurido Principalmente por contato direto; possíveis fômites como roupas de cama e pentes Preparações inseticidas tópicas * Infecções endógenas são aquelas causadas por micro-organismos que fazem parte da microbiota do hospedeiro. DOENÇAS EM FOCO 21.3 Tortora_21.indd 592 27/06/11 14:46 Microbiologia 593 As pseudomonas causam frequentes surtos de dermatite (der- matite por Pseudomonas). Trata-se de uma erupção autolimitada com duração de cerca de duas semanas, em geral associada ao uso de piscinas, saunas e banheiras. Quando muitas pessoas utilizam esses locais, a alcalinidade do meio aumenta e o cloro fica menos efetivo; ao mesmo tempo, a concentração de nutrientes dissolvidos aumenta, o que dá suporte ao crescimento de Pseudomonas. A água quente faz com que os folículos pilosos se abram ainda mais, facilitando a entrada dessas bactérias. Nadadores com frequência são incomodados por otites externas, ou “ouvido de nadador”, uma infecção dolorosa da parte externa do canal auditivo e que muitas vezes é causada pelas Pseu- domonas. A P. aeruginosa produz diversas exotoxinas, que são responsá- veis pela maior parte de sua patogenicidade, e uma endotoxina. A P. aeruginosa frequentemente cresce em densos biofilmes (veja a Fi- gura B, página 57) que contribuem para sua identificação recorren- te como causa de infecções nosocomiais de cateteres ou aparelhos médicos. Essa bactéria também é um sério patógeno oportunista para pacientes com fibrose cística pulmonar de origem genética, e a formação de biofilmes é determinante nessa condição. A P. aeruginosa também é um patógeno oportunista impor- tante para pacientes queimados, particularmente para aqueles com queimaduras de segundo e terceiro graus. As infecções podem ge- rar pus de coloração azul-esverdeada. Essa coloração é o resultado da produção do pigmento piocianina. Também gera preocupação Neste quadro você encontrará uma série de questões que os epidemiologistas se perguntam quando tentam descobrir a fonte de um surto. Tente responder cada questão antes de passar à próxima. 1. Um jogador de futebol americano colegial de 21 anos visitou o centro médico de seu colégio. Ele apresentava uma área de vermelhidão de 11 × 5 cm na coxa direita. O local estava inchado, quente e sensível ao toque. A temperatura corporal estava normal. Ele foi medicado com trimetoprim- -sulfametoxazol. Qual seria seu diagnóstico? 2. Depois de dois dias, ele retornou dizendo que a região afetada havia piorado. O exa- me revelou uma área ainda maior de ver- melhidão. Ele foi diagnosticado como tendo celulite. A pústula foi aberta e drenada. O que você precisaria saber agora? 3. O resultado da coloração pelo método de Gram do pus coletado está mostrado na Figura A. Um teste de coagulase também foi realizado em cultura (Figura B). Qual a causa da infecção? 4. A presença de cocos gram-positivos e coagulase-positivos sugere que o micro- -organismo é o Staphylococcus aureus. Qual o tratamento recomendado? 5. Os resultados do teste de sensibilidade são mostrados na Figura C (P = penicilina, M = meticilina, E = eritromicina, V = vancomici- na, X = trimetoprim-sulfametoxazol). Qual tratamento é o mais apropriado? 6. Em um período de três meses, 10 membros do time de futebol americano do colégio e também da equipe de esgrima visitaram o centro médico apresentando celulite. Sete deles foram hospitalizados e um teve que receber debridamento da lesão e enxertos de pele. Qual a fonte mais provável dos Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSAs)? Embora a investigação relatada neste artigo não tenha determinado de forma definitiva as raízes da transmissão de MRSA, três fatores podem ter contribuído para a transmissão nesse surto. Primeiro, a ocorrência de abrasões e ou- tros traumas da pele, que facilitam a entrada de patógenos, é comum em alguns esportes. Em segundo lugar, alguns esportes apresentam con- tato físico frequente entre os atletas. O S. aureus e outros membros da microbiota da pele podem ser facilmente transmitidos de pessoa-a-pessoa por contato direto. Em terceiro lugar, a utilização conjunta de equipamentos ou outros itens pes- soais que não são lavados entre cada utilização poderia ser um veículo para a transmissão de S. aureus. Investigações sobre surtos de MRSA entrejogadores profissionais de futebol americano (2004) e basebol (2005) mostraram que todas as infecções ocorriam em locais de abrasões na pele e rapidamente progrediam para grandes abscessos, os quais eram drenados cirurgica- mente. Os MRSAs foram isolados de banheiras de hidromassagem, géis diversos e swab nasal de 35 dos 84 jogadores e membros de comissão testados. A recorrência das infecções poderia ser evitada se os médicos fizessem culturas micro- bianas de rotina quando os atletas apresentam ferimentos infectados. Fontes: Adaptado de MMWR 52(33):793-795, 22 de agosto, 2003; MMWR 55(24):677-679, 23 de junho, 2006. FOCO CLÍNICO Do Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade (Morbidity and Mortality Weekly Report) Infecções nos ginásios µ5 mMO Figura A Controle negativo Isolado do paciente Figura B X E P M V Figura C Tortora_21.indd 593 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce 594 Tortora, Funke & Case para os profissionais que trabalham em hospitais a facilidade com que P. aeruginosa se multiplica em vasos de flores, água de lavagem dos pisos e mesmo em desinfetantes diluídos. A resistência relativa aos antibióticos que caracteriza as pseudo- monas ainda representa um problema. Entretanto, recentemente vá- rios antibióticos têm sido desenvolvidos, e a quimioterapia para tratar essas infecções já não é tão restrita como antigamente. As quinolonas e novos antibióticos β-lactâmicos específicos para Pseudomonas cos- tumam ser as drogas de escolha. A sulfadiazina de prata é bastante útil no tratamento de queimaduras infectadas por P. aeruginosa. Úlcera de Buruli A úlcera de Buruli, cujo nome deriva de uma região da Uganda re- centemente renomeada, é uma doença encontrada principalmente na África Central e do Oeste. Também é encontrada em áreas tem- peradas e tropicais pontuais por todo o mundo – incluindo México, Austrália e algumas regiões da América do Sul. A doença é causada pelo Mycobacterium ulcerans, um micro-organismo muito similar às micobactérias que causam a tuberculose e a lepra. Quando o pa- tógeno entra na pele, ele causa uma doença de progresso lento e que apresenta poucos sinais e sintomas precoces graves. Eventualmente, no entanto, o resultado é a formação de uma úlcera profunda que com frequência se torna massiva e seriamente danosa. Quando não tratada, a infecção pode se tornar extensa, a ponto de requerer ci- rurgia plástica ou amputação do membro. O dano tecidual é atri- buído à produção de uma toxina, a micolactona. Epidemiologica- mente, a infecção está associada ao contato com águas paradas ou provenientes de pântanos. A incidência da doença tem crescido e atualmente excede a da lepra e, em algumas áreas, até mesma da tuberculose. A Organiza- ção Mundial da Saúde recentemente classificou a doença como um risco global à saúde pública. A úlcera de Buruli é diagnosticada principalmente pelo apare- cimento da úlcera, embora a vigilância seja maior em áreas endê- micas, sendo tratada por drogas antimicobacterianas como combi- nações de estreptomicina e rifampicina. Acne A acne provavelmente é a doença de pele mais comum em seres hu- manos, afetando cerca de 17 milhões de pessoas apenas nos Estados Unidos. Mais de 85% dos adolescentes apresentam esse problema em algum grau. A acne pode ser classificada pelo tipo de lesão em três categorias: acne comedonal, acne inflamatória e acne cística nodular, as quais requerem diferentes tratamentos. Normalmente, células da pele que descamam dentro de um fo- lículo piloso podem ser eliminadas do corpo. Entretanto, a acne se desenvolve quando um número de células maior do que o normal descama e se combina com o sebo, gerando uma mistura que ento- pe o folículo. À medida que o sebo se acumula, pontos brancos (co- medos) são formados; se o bloqueio se projeta através da pele, uma massa de ponta escura (comedone ou comedo aberto) se forma. A coloração escura da extremidade do comedone não é causada por sujeira, mas pela oxidação de lipídeos, entre outras causas. Agen- tes tópicos não afetam a formação do sebo, que é a causa primária da acne e depende da presença de hormônios como estrogênios e androgênios. A dieta não apresenta nenhum efeito conhecido na produção de sebo, mas gravidez, alguns contraceptivos hormonais e mudanças hormonais decorrentes da idade podem reduzir a for- mação do sebo. A acne comedonal (leve) em geral é tratada com agentes tópi- cos como ácido azeláico (Azelex), preparações de ácido salicílico ou retinoides (que são derivados da vitamina A, como a tretinoína, o tazaroteno [Tazorac] ou o adapaleno [Differin]). Esses agentes tó- picos não afetam a produção de sebo. A acne inflamatória (moderada) é originada da ação bacte- riana, em especial do Propionibacterium acnes, um difteroide anae- róbico comumente encontrado na pele. O P. acnes tem uma neces- sidade nutricional pelo glicerol presente no sebo; ao metabolizar o sebo, os ácidos graxos livres gerados causam uma resposta inflama- tória. Neutrófilos secretores de enzimas que danificam a parede dos folículos pilosos são atraídos para o local. A inflamação resultante leva ao surgimento de pústulas e pápulas. Nesse estágio, a terapia é focada na prevenção da produção de sebo (agentes tópicos não são eficientes nesse caso). Uma droga que reduz a formação de sebo é a isotretinoína (Accutane). Infelizmente, essa droga é teratogênica, o que significa que causa danos graves ao feto em desenvolvimento em uma mulher grávida. Cerca de um terço dos bebês que nascem após exposição à droga apresentará níveis trágicos de danos. Devi- do a esses efeitos colaterais importantes, a isotretinoína em geral é reservada para os casos de acne mais severos. A acne inflamatória também pode ser tratada com antibióti- cos que afetam o P. acnes. Os tratamentos não prescritos para acne, de uso familiar, com base no peróxido de benzoíla, normalmente são efetivos contra algumas bactérias, em especial o P. acnes. Além disso, a droga causa o ressecamento da pele, o que auxilia na libe- ração dos folículos entupidos. O peróxido de benzoíla também está disponível na forma de géis e em produtos combinados com anti- bióticos como a clindamicina (BenzaClin) e a eritromicina (Benza- mycin). Alternativas aos tratamentos químicos têm sido aprovadas pelos órgãos reguladores norte-americanos para o tratamento de casos de acne leve a moderada. O sistema Clear Light, que se baseia na exposição da pele à luz azul de alta intensidade (405 a 420 μm), e o tratamento Smoothbeam, que utiliza raios laser, penetram na superfície da pele para acelerar a cicatrização e prevenir a forma- ção de espinhas. Também foi aprovado recentemente um aparelho portátil, denominado ThermoClear, que libera um pequeno pulso de calor nas lesões. Alguns pacientes com acne podem progredir para a forma de- nominada acne cística nodular (severa). Essa forma da doença é caracterizada pela presença de nódulos ou cistos, que são lesões profundas, inflamadas e cheias de pus na pele (Figura 21.9). Essas lesões deixam cicatrizes proeminentes na face e no tronco, o que com frequência também deixa cicatrizes psicológicas. O mais im- portante no tratamento da acne cística é a droga isotretinoína, que normalmente resulta em melhorias significativas – mas que, como mencionado anteriormente, deve ser usada com extremo cuidado, para evitar a administração em mulheres grávidas, mesmo que por apenas alguns dias. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Qual espécie bacteriana apresenta, como fator de virulência, a proteína M? 21-3 3 Qual o nome comum da otite externa? 21-4 Tortora_21.indd 594 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF RealcePF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce Microbiologia 595 Doenças virais da pele Muitas doenças virais, embora sistêmicas e transmitidas por via respiratória ou outras vias, têm seus efeitos mais aparentes na pele. Verrugas As verrugas, ou papilomas, geralmente são, crescimentos cutâneos benignos causados por vírus. Há muito tempo se sabe que as verru- gas podem ser transmitidas de uma pessoa para outra por contato, até mesmo sexual. No entanto, somente em 1949 os vírus foram identificados nos tecidos de verrugas. Atualmente, mais de 50 tipos de papilomavírus são conhecidos, causando diferentes tipos de ver- rugas, com grande variação de aparência. Após a infecção, há um período de incubação de várias sema- nas antes que as verrugas apareçam. Os métodos de tratamento médico mais comuns para as verrugas incluem a aplicação de ni- trogênio líquido extremamente frio (crioterapia), sua dessecação com corrente elétrica (eletrodessecação) ou a utilização de ácidos para queimá-las. Existem evidências de que compostos contendo ácido salicílico são especialmente efetivos. Aplicações tópicas de drogas prescritas, como podofilox ou imiquimod (Aldara), com frequência são eficientes, sendo que o último estimula a produção de interferons de efeito antiviral. As verrugas que não respondem a nenhum outro tratamento podem ser tratadas com laser ou inje- ções de bleomicina, uma droga antitumoral. Embora as verrugas não sejam uma forma de câncer, alguns cânceres de pele e cervicais estão associados à infecção por papilo- mavírus. A incidência de verrugas genitais (veja o Capítulo 26) já atingiu proporções epidêmicas. Varíola (Smallpox*) Na Idade Média, estima-se que 80% da população na Europa con- traíram varíola em algum momento de suas vidas. Aqueles que so- breviviam à infecção adquiriam cicatrizes desfigurantes. A doença, introduzida pelos colonizadores da América, foi ainda mais devas- tadora para os índios norte-americanos, que nunca haviam entrado em contato com a doença e assim apresentavam pouca resistência. A varíola é causada por um vírus do gênero Orthopoxvirus de- nominado Variola virus. Existem duas formas básicas da doença: a varíola maior, com taxa de mortalidade de 20% ou mais, e a va- ríola menor, com uma taxa de mortalidade de menos de 1% (a va- ríola menor surgiu por volta de 1900). Transmitidos pela via respiratória, os vírus infectam muitos ór- gãos internos antes que eventualmente alcancem a corrente sanguí- nea, infectando então a pele e causando sintomas mais reconhecíveis. O crescimento do vírus nas camadas da epiderme causa lesões que se tornam pustulares por volta do décimo dia de infecção (Figura 21.10). A varíola foi a primeira doença contra a qual a imunidade foi artificialmente induzida (veja as páginas 11 e 501) e a primeira a ser erradicada da população humana. Acredita-se que a última vítima de um caso natural de varíola tenha sido um indivíduo que se recuperou da varíola menor na Somália em 1977. (No entanto, dez meses depois desse caso, houve uma fatalidade causada pela varíola na Inglaterra, a partir de vírus que escaparam de um laboratório de pesquisa em um hospital.) A erradicação da varíola foi possível porque não existem reservatórios animais para a infecção. Uma campanha de vacinação mundial foi coordenada pela Organização Mundial da Saúde. Hoje, apenas dois locais mantêm o vírus da varíola em suas instalações, um nos Estados Unidos e outro na Rússia. Datas para a destruição desses estoques foram estabelecidas e depois adiadas. A varíola seria especialmente perigosa se usada como agente de bioterrorismo. A vacinação nos Estados Unidos** terminou na década de 1970. As pessoas que foram vacinadas antes do térmi- no da campanha de vacinação possuem uma imunidade que está perdendo sua força, embora provavelmente ainda possuam algum tipo de proteção que seria suficiente para, pelo menos, moderar o impacto da doença. * A origem do nome em inglês da varíola, smallpox, surgiu no século XV na França, onde a sífilis tinha acabado de ser introduzida. Os pacientes com sífilis apresen- tavam erupções severas na pele chamadas de la grosse verole, ou “grande cicatriz”. As erupções eram comparadas a uma doença endêmica da época, que fora, então, denominada la petite verole, ou “pequena cicatriz” (smallpox). Dessa forma, a doença ficou conhecida como smallpox. ** N. de T. Assim como no Brasil. Figura 21.9 Acne severa. P A isotretinoína com frequência leva a uma melhoria significativa nos ca- sos de acne severa, porém que precauções devem ser tomadas? Figura 21.10 Lesões de varíola. Em alguns casos graves, as lesões pra- ticamente se unem (se tornam confluentes). P Como essas lesões diferem daquelas causadas pela varicela? Tortora_21.indd 595 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce 596 Tortora, Funke & Case Estoques da vacina contra a varíola estão atualmente sendo acumulados por precaução. Nenhum programa geral de vacinação da população está sendo considerado. Entretanto, alguns grupos populacionais específicos, entre eles os militares e os profissionais da saúde, são vacinados em alguns países. Se administrada à popu- lação em geral, a vacina poderia causar um número significativo de mortes, especialmente entre indivíduos imunocomprometidos. Pesquisas por drogas antivirais que seriam efetivas estão em andamento. Uma droga endovenosa, o cidofovir, é um dos candida- tos sendo investigado. A falta de pacientes sintomáticos de varíola impede que testes significativos sejam realizados; ensaios laborato- riais eficazes não indicam, necessariamente, que os efeitos em seres humanos seriam os mesmos. Com o desaparecimento da varíola tem existido certa preocu- pação com uma doença semelhante, a varíola símia (monkeypox). Essa doença surgiu primeiramente em zoológicos, entre macacos oriundos da África e do leste da Ásia. Nesses locais, o vírus é endê- mico e circula em pequenos animais. Surtos ocasionais ocorrem em seres humanos vivendo nessas áreas, e um surto envolvendo mais de 50 casos nos Estados Unidos, em 2003, foi atribuído ao contato com cães-da-pradaria adquiridos como animais de estimação. Eles aparentemente foram infectados ao serem mantidos em uma loja de animais onde também havia ratos gigantes de Gâmbia, importa- dos da África ocidental. Os sintomas da varíola símia são muito se- melhantes aos da varíola humana e, quando a varíola humana ainda era endêmica, muitos casos foram provavelmente confundidos. A taxa de mortalidade da varíola símia em seres humanos tipica- mente é de 1 a 10% em adultos africanos, sendo maior ainda entre crianças. No surto acontecido nos Estados Unidos não houve mor- tes. O Monkeypox virus, como o Variola virus, é um Orthopoxvirus, e a vacinação contra a varíola apresenta um efeito protetor contra o primeiro. O vírus da varíola símia é conhecido por ser transmitido de animais para seres humanos, mas felizmente sua transmissão en- tre os seres humanos é bastante limitada. A Organização Mundial da Saúde monitora surtos recentes da doença, em especial para ava- liar se a transmissão entre as pessoas está aumentando. Varicela (catapora) e herpes zoster A varicela é uma doença infantil relativamente branda. A taxa de mortalidade é muito baixa e normalmente está associada a com- plicações como encefalites (infecção do cérebro) ou pneumonias. Quase metade das mortes acontecem entre adultos. A varicela (Figura 21.11a) resulta da infecção inicial pelo her- pesvírus varicela zoster (o nome oficial, porém pouco usado, é hu- man herpesvirus 3 – ou herpesvírus humano tipo 3; veja o Capítulo 13. Encontraremos outros herpesvírus para os quais tanto o nome oficial quantoo nome vernacular serão indicados). A doença é ad- quirida quando o vírus entra no trato respiratório, e a infecção se localiza nas células da pele dentro de cerca de duas semanas. A pele infectada apresenta lesões vesiculares com duração de 3 a 4 dias. Durante esse período, as lesões se enchem de pus, se rompem e formam crostas antes de cicatrizarem. Elas são concentradas prin- cipalmente na face, na garganta e nas costas, mas também podem ocorrer no peito e nos ombros. Se a infecção pelo vírus que causa a varicela acontece durante o início da gravidez, podem ocorrer da- nos graves ao feto em cerca de 2% dos casos. A síndrome de Reye é uma complicação severa ocasional de catapora, gripe ou outras doenças virais. Alguns dias depois que a infecção inicial tiver cedido, o paciente passa a apresentar vômito persistente e exibe sinais de disfunção cerebral, extrema sonolên- cia e comportamento agressivo, seguidos eventualmente de coma e morte. Em um determinado período, a taxa de mortalidade dos casos relatados se aproximou de 90%, mas essa taxa tem diminuído pela melhoria dos tratamentos, atingindo atualmente cerca de 30% ou menos, principalmente quando a doença é reconhecida e tratada a tempo. Os sobreviventes podem apresentar dano neurológico, em especial se forem muito jovens. A síndrome de Reye afeta quase ex- clusivamente crianças e adolescentes. O uso de aspirina para baixar a febre em casos de varicela ou gripe aumenta as chances de desen- volvimento da síndrome de Reye. Como todos os herpesvírus, uma das características do vírus vari- cela zoster é sua habilidade de permanecer latente dentro do organis- mo. Após uma infecção primária, o vírus penetra os nervos periféricos e se move para um gânglio nervoso central (grupo de células nervosas localizadas fora do sistema nervoso central), onde persiste na forma de DNA viral. Os anticorpos humorais não entram nas células nervo- sas e, como os antígenos virais não são expressos na superfície da célu- la nervosa, as células T citotóxicas não são ativadas. Portanto, nenhum dos braços do sistema imune perturba o vírus latente. Os vírus varicela zoster latentes se localizam nos gânglios da raiz dorsal, próximos à espinha. Mais tarde, possivelmente décadas depois de entrar em latência, o vírus pode ser reativado (Figura 21.11b). O catalisador da reativação pode ser o estresse ou simplesmente a di- minuição da competência imune relacionada ao envelhecimento. Os vírions produzidos a partir do DNA reativado se movem ao longo dos nervos periféricos até os nervos sensoriais cutâneos, onde causam um novo episódio de infecção viral na forma de herpes zoster. No herpes zoster, vesículas similares àquelas produzidas duran- te a varicela ocorrem, porém localizadas em áreas distintas. Essas lesões tipicamente são distribuídas ao redor da cintura (o nome da doença em inglês, shingles, é derivado da palavra latina cingulum, que significa cinto), embora lesões faciais e na parte superior do peito e das costas também possam ocorrer (veja a Figura 21.11b). A infecção segue a distribuição do nervo sensorial cutâneo afeta- do, normalmente estando limitada a apenas um lado do corpo, uma vez que esses nervos são unilaterais. Ocasionalmente essas infecções nos nervos podem resultar em dano nervoso, afetando a visão, por exemplo, ou mesmo causando paralisia. Sensação de queimação e dores severas são sintomas frequentes, podendo persistir por meses ou anos, uma condição denominada neuralgia pós-herpética. O herpes zoster é simplesmente uma forma clínica diferente do vírus que causa a varicela – diferente porque o paciente, já tendo tido catapora, apresenta imunidade parcial ao vírus. A exposição de crian- ças a lesões de herpes zoster faz com que contraiam varicela. O herpes zoster raramente ocorre em pessoas com menos de 20 anos, e a maior incidência ocorre entre adultos mais velhos. É pouco comum que um paciente apresente herpes zoster mais de uma vez. As drogas antivirais aciclovir, valaciclovir e fanciclovir são aprovadas para o tratamento do herpes zoster. No caso de pacien- tes imunossuprimidos, entre os quais a taxa de mortalidade alcança 17%, e naqueles em que há acometimento visual, o tratamento com antivirais é mandatório. Uma vacina composta por vírus vivos e atenuados foi licen- ciada em 1995. Desde então, os casos da doença têm diminuído sistematicamente. No entanto, existem evidências de que a efeti- vidade da vacina, que é de cerca de 97%, diminui com o tempo. Tortora_21.indd 596 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce Microbiologia 597 A falta de um efeito de reforço resultante da exposição a novos casos de varicela é um fator preponderante para isso. Portanto, a varicela em pessoas previamente vacinadas, chamada de varicela em vacinados, está se tornando relativamente comum. Devido ao fato de a vacina ser pelo menos parcialmente eficaz, esses são ca- sos brandos, com o surgimento de erupções que não se parecem muito com a varicela típica. Uma dose de reforço da vacina pode eventualmente ser necessária para se alcançar o controle completo da doença. Outra preocupação existente é se o enfraquecimento gradual da imunidade conferida pela vacinação na infância irá gerar uma população de adultos suscetíveis, nos quais a doença tende a ser mais grave. Portanto, a recomendação atual é que adultos com mais de 60 anos recebam uma nova dose da vacina recentemente apro- vada, a vacina zoster, mesmo que já tenham tido varicela ou herpes zoster. Herpes simples Os vírus do herpes simples (HSV, de Herpes Simplex Virus) podem ser divididos em dois grupos identificáveis, HSV-1 e HSV-2. O nome vírus do herpes simples, usado aqui, é o nome comum ou ver- nacular. Os nomes oficiais são herpesvírus 1 e 2. O HSV-1 é trans- mitido principalmente pelas vias orais ou respiratórias, e a infecção normalmente acontece na infância. Estudos sorológicos mostram que 90% da população dos Estados Unidos já foram infectados. A infecção com frequência é subclínica, mas muitos casos levam ao desenvolvimento de lesões conhecidas como herpes labial. Essas lesões são dolorosas, formadas por vesículas de curta duração que ocorrem próximas à margem vermelha dos lábios (Figura 21.12). O herpes labial, causado por infecções herpéticas, frequen- temente é confundido com as úlceras bucais, ou aftas, cuja etio- logia ainda é desconhecida, embora sua ocorrência muitas vezes esteja associada a fatores como o estresse e a menstruação. Embora as lesões da afta sejam semelhantes às do herpes labial, as primei- ras normalmente surgem em regiões diferentes. As aftas ocorrem como lesões dolorosas em membranas mucosas móveis, como na língua, nas bochechas e na parte interna dos lábios. Elas normal- mente curam em alguns dias, mas com frequência são recorrentes. O HSV-1 normalmente permanece latente no gânglio do nervo trigêmeo, que faz a comunicação entre a face e o sistema nervoso central (Figura 21.13). A recorrência pode ser ativada por eventos como exposição excessiva à radiação ultravioleta do (a) Infecção inicial: varicela (catapora). Medula espinal O vírus “sobe” pelo nervo periférico DNA viral latente Célula nervosa no gânglio da raiz dorsal (b) Infecção recorrente: herpes zoster. Medula espinal O vírus “desce” pelo nervo periférico Ativação do DNA viral nas células nervosas Vírus Figura 21.11 Varicela (catapora) e herpes zoster. (a) A infecção inicial pelo vírus, nor- malmente na infância, causa a varicela. As lesões são vesiculares, transformando-se eventualmente em pústulas, que se rompem e formam crostas. O vírus então se move para um gânglio da raiz dorsal, próximo à espinha, onde permanece latente indefinidamente. (b) Mais tarde, normalmente na idade adulta mais tardia, os víruslatentes são reativados, causando o herpes zoster. A reativação pode ser causada por estresse ou enfraquecimento do sistema imune. As lesões de pele são vesiculares. P A foto mostrada em (a) ilustra um estágio precoce ou tardio da varicela? Tortora_21.indd 597 27/06/11 14:46 598 Tortora, Funke & Case sol, problemas emocionais e mudanças hormonais associadas à menstruação. As infecções pelo HSV-1 podem ser transmitidas pelo contato de pele entre lutadores, o que justifica o termo herpes gladiatorum. De fato, uma incidência de até 3% tem sido relatada entre pratican- tes de lutas olímpicas nas escolas norte-americanas. Enfermeiros, médicos e dentistas são suscetíveis à infecção ocupacional pelo HSV-1 pelo contato com lesões herpéticas. Crianças com úlceras herpéticas orais também são mais suscetíveis. Um vírus bastante similar, o HSV-2, é transmitido principal- mente por contato sexual. Ele é o agente causador usual do herpes genital (veja o Capítulo 26). O HSV-2 se diferencia do HSV-1 por sua constituição antigênica e por seus efeitos em células cultiva- das. O vírus fica latente no gânglio do nervo sacral, localizado próximo à medula espinal, uma localização diferente do HSV-1. Muito raramente, qualquer um dos dois tipos de vírus herpes simples pode se alastrar para o cérebro, causando a encefalite her- pética. Nesses casos, as infecções pelo HSV-2 são mais graves, com uma taxa de mortalidade de até 70% quando não tratadas. Somente 10% dos sobreviventes se recuperam totalmente. Quando admi- nistrado imediatamente, o aciclovir com frequência leva à cura da encefalite. Ainda assim, a taxa de mortalidade em um determinado surto se manteve em 28%, e somente 38% dos sobreviventes não apresentaram danos neurológicos sérios. Sarampo O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que se disse- mina por via respiratória. Devido ao fato de que uma pessoa com sarampo é infecciosa mesmo antes que os sintomas surjam, a qua- rentena não é uma medida eficaz para se prevenir um surto. A vacina contra o sarampo, administrada como parte da va- cina tríplice viral (MMR – de measles, mumps e rubella, saram- po, caxumba e rubéola), praticamente eliminou o sarampo dos Estados Unidos. Os casos da doença diminuíram de estimados 5 milhões anuais (400.000 foram relatados, na verdade) para quase nenhum.* Assim como no caso da varíola, não existe reservatório animal para o sarampo, mas, como o vírus é muito mais infeccioso que a varíola, a imunidade grupal tem se mostrado difícil de ob- ter. Desse modo, o objetivo mundial atual é o controle do sarampo pela vacinação, em vez da erradicação. Essa abordagem tem ge- rado algum sucesso; em comparação aos 873.000 óbitos relatados mundialmente em 1999, ocorreram 345.000 em 2005. A meta é uma redução de 90% na mortalidade até 2010 (veja o quadro no Capítulo 18, página 505). Embora a vacina tenha uma taxa de efetividade de cerca de 95%, casos de infecção continuam a ocorrer em pessoas que não obtêm ou retêm boa imunidade. Algumas dessas infecções são cau- sadas pelo contato com pessoas provenientes de fora dos Estados Unidos.** Um resultado inesperado da vacina contra o sarampo é o nú- mero de casos que ocorrem hoje em crianças com menos de um ano. O sarampo é especialmente perigoso para essas crianças, que são mais propensas a apresentarem complicações. Nos dias ante- riores ao uso da vacina, o sarampo era muito raro nessa idade, pois as crianças eram protegidas por anticorpos maternos gerados pelo contato prévio da mãe com a doença. Infelizmente, os anticorpos maternos produzidos em resposta à vacinação não são tão eficien- tes em prover proteção como aqueles desenvolvidos em resposta à doença. Uma vez que a vacina não é eficiente quando administrada em bebês, a vacinação não é feita antes dos 12 meses de idade, o que deixa as crianças vulneráveis por um período significativo. * N. de T. No Brasil, o sarampo está praticamente controlado em razão da campa- nha de intensificação da vacinação, efetiva desde a década de 1990. O último surto no país, com 15 casos, aconteceu em 2000, e o último caso endógeno (adquirido dentro do país) registrado também ocorreu no ano de 2000. ** N. de T. De áreas onde o sarampo ainda é endêmico, como a África oriental e a Ásia setentrional. Figura 21.12 Herpes labial, causado pelo Vírus herpes sim- ples. As lesões se localizam principalmente nas margens da região vermelha dos lábios. P Por que o herpes labial pode reaparecer? Por que ele recorre no mesmo local? Sítio de latência viral Nervo trigêmeo Gânglio Sítio da lesão ativa Figura 21.13 Sítio de latência do herpesvírus humano tipo 1 nos gânglios do nervo trigêmeo. P Por que esse sistema nervoso se chama trigêmeo? Tortora_21.indd 598 27/06/11 14:46 Microbiologia 599 O desenvolvimento do sarampo é similar ao da varíola e da va- ricela. A infecção inicia no trato respiratório superior. Depois de um período de incubação de 10 a 12 dias, sintomas semelhantes a um resfriado se desenvolvem. Em seguida, a erupção macular apa- rece, iniciando na face e se espalhando para o troco e as extremi- dades (Figura 21.14). Lesões na cavidade oral incluem as manchas de Koplik, pequenas manchas vermelhas com pontos centrais azul- -esbranquiçados. Essas manchas surgem na região mucosa próxima aos molares, e sua presença é um indicador diagnóstico da doença (veja Doenças em Foco 21.1). O sarampo é uma doença muito perigosa, especialmente em crianças e pessoas idosas. Ela com frequência é complicada por infecções do ouvido médio ou pneumonias causadas pelo próprio vírus ou por infecções bacterianas secundárias. Casos de encefalite acometem cerca de 1 em 1.000 vítimas do sarampo, e os sobrevi- ventes costumam apresentar danos cerebrais permanentes. Aproxi- madamente 1 em 3.000 casos é fatal, a maioria sendo crianças. Uma complicação rara do sarampo (cerca de 1 em 1.000.000 de casos) é a panencefalite esclerosante subaguda, que acomete principalmen- te os homens. A doença surge de 1 a 10 anos após a recuperação do sarampo. O desenvolvimento de sintomas neurológicos severos e morte ocorrem dentro de poucos anos. Rubéola A rubéola, também chamada de sarampo alemão (em virtude de ter sido inicialmente descrita por médicos alemães no século XVIII), é uma doença viral muito mais branda que o sarampo, e frequente- mente pode ocorrer de forma subclínica. Os sintomas comuns in- cluem uma erupção macular constituída de pequenas manchas ver- melhas e febre baixa (Figura 21.15). As complicações são raras, mas encefalites podem ocorrer em cerca de 1 em 6.000 casos, a maioria sendo adultos. O vírus é transmitido por via respiratória, e um pe- ríodo de incubação de 2 a 3 semanas é o padrão. A recuperação de casos clínicos ou subclínicos parece gerar uma imunidade firme. A seriedade da rubéola não foi considerada até 1941, quando alguns defeitos de nascimento graves foram associados à infecção da mãe no primeiro trimestre da gravidez, uma condição denomi- nada síndrome da rubéola congênita. Se uma mulher grávida con- trai a doença durante esse período, existe cerca de 35% de chance de que ocorram sérios danos ao feto, incluindo surdez, catarata, de- feitos cardíacos, retardo mental e morte. Por volta de 15% dos bebês nascidos com a síndrome da rubéola congêntita morrem durante o primeiro ano. As duas últimas epidemias de rubéola nos Estados Unidos aconteceram nos anos de 1964 e 1965. Pelo menos 20.000 crianças com deficiências graves nasceram durante essa epidemia. É importante, portanto, que mulheres não imunizadas contra rubéola e em período fértil sejam identificadas. Em alguns estados norte-americanos, um teste sorológico para a detecção de imuni- dade contra a rubéola faz parte dos documentos necessários para a obtenção de uma licença de casamento. Anticorposséricos podem ser detectados por vários métodos laboratoriais comercialmente disponíveis. O diagnóstico acurado do estado imunológico sempre requer esse tipo de teste, uma vez que somente o histórico com fre- quência não é confiável. Além desse monitoramento, uma vacina contra a rubéola foi introduzida em 1969. Estudos de acompanhamento indicam que mais de 90% das pessoas vacinadas ficam protegidas por pelo me- Figura 21.14 Erupção de pequenas manchas vermelhas típicas do sarampo. A erupção normalmente inicia na face e se dissemina para o tronco e as extremidades. P Por que a erradicação do sarampo é potencialmente possível? Figura 21.15 O exantema de manchas vermelhas característico da rubéola. As manchas não são elevadas em relação à pele cir- cundante. P O que é síndrome da rubéola congênita? Tortora_21.indd 599 27/06/11 14:46 600 Tortora, Funke & Case nos 15 anos. Em razão dessas medidas preventivas, menos de 10 casos anuais de síndrome da rubéola congênita são relatados. A vacina não é recomendada para mulheres grávidas. Entre- tanto, em centenas de casos em que mulheres foram vacinadas três meses antes ou três meses depois da data prevista para a concepção, nenhum caso de síndrome da rubéola congênita ocorreu. Pessoas que apresentam defeitos imunológicos não devem receber vacinas vivas contra qualquer doença. Outras erupções virais Eritema infeccioso (quinta doença). Os pais de crianças peque- nas com frequência são confundidos por um diagnóstico de “quinta doença”, sobre a qual a maioria jamais ouviu falar. O nome deriva de uma lista de doenças que envolvem erupções na pele, datada de 1905, e que incluía sarampo, febre escarlate, rubéola, doença de Fi- latov Duke (uma forma branda de febre escarlate) e a quinta doença da lista. A quinta doença, ou eritema infeccioso, não gera nenhum sintoma em cerca de 20% das pessoas infectadas pelo vírus (par- vovírus humano B19, identificado pela primeira vez em 1989). Os sintomas são similares a um caso leve de gripe, mas com a ocorrên- cia distinta de uma erupção facial semelhante à marca deixada por um tapa no rosto, a qual desaparece lentamente. Em adultos não imunizados naturalmente durante a infância, a doença pode causar anemia, artrites ou, mais raramente, abortos. Roséola infantil. A roséola é uma doença branda e muito comum que ocorre na infância. A criança doente apresenta febre alta por al- guns dias, seguida do surgimento de uma erupção que cobre a maior parte do corpo e com duração de um ou dois dias. A recuperação leva à imunidade definitiva. Os patógenos causadores são os vírus Herpesvírus humano 6 e 7 (HHV-6 e HHV-7, de human herpesvi- rus), sendo que o HHV-7 é responsável por 5 a 10% dos casos. Am- bos os vírus podem estar presentes na saliva da maioria dos adultos. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Como a estranha definição “quinta doença” surgiu? 21-5 Doenças fúngicas da pele e das unhas A pele é muito suscetível a micro-organismos que podem resistir a altas pressões osmóticas e baixa umidade. Assim, não surpreende que os fungos causem várias doenças cutâneas. Qualquer infecção fúngica no corpo é chamada de micose. Micoses cutâneas Os fungos que colonizam os pelos, as unhas e a camada mais ex- terna (estrato córneo) da epiderme (veja a Figura 21.1) são cha- mados de dermatófitos; eles crescem a partir da queratina pre- sente nesses locais. Tecnicamente denominadas dermatomicoses, essas infecções fúngicas são mais comumente chamadas de tíneas. A tínea da cabeça, que atinge o couro cabeludo, é bastante co- mum entre crianças do ensino fundamental, e a infecção pode re- sultar em placas sem cabelo. Essa característica levou os romanos a adotarem o nome tinea, que em latim significa traça de roupa, pois a infecção se assemelha aos buracos deixados pelas larvas da traça em roupas de lã. A infecção tende a se expandir em círculos (Figura 21.16a), por isso o termo ringworm, que significa “verme circular”. A infecção normalmente é transmitida por contato com fômites. Gatos e cães também são frequentemente infectados pe- los fungos que causam as tíneas em crianças. A tínea da virilha é conhecida como tínea crural, e a doença nos pés é chamada de tínea do pé (Figura 21.6b). A umidade dessas áreas favorece as infecções fúngicas. Três gêneros de fungos estão envolvidos nas micoses cutâ- neas. Trichophyton pode infectar pelos, pele ou unhas; Microspo- rum normalmente infecta apenas pelos ou pele; Epidermophyton afeta apenas a pele e as unhas. As drogas tópicas disponíveis para o tratamento das tíneas, sem a necessidade de prescrição médica, incluem o miconazol e o clotrimazol. O pé-de-atleta normalmente é difícil de curar. Preparações tópicas a partir de alilamina, contendo terbinafina ou naftifina, assim como outra alilamina, a butenavina, são recomendadas e estão disponíveis sem a necessidade de prescrição. Normalmente a aplicação por períodos prolongados é necessária. Quando o cabelo está envol- (a) Tínea. (b) Pé-de-atleta. Figura 21.16 Dermatomicoses. P As tíneas são causadas por um helminto? Tortora_21.indd 600 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce Microbiologia 601 vido na infecção, o tratamento tópico não é muito eficiente. Um antibiótico oral, a griseofulvina, frequentemente é útil no tra- tamento dessas infecções, pois ele pode se localizar em tecido queratinizado, como descrito na página 569. Quando as unhas são infectadas, o que é chamado de tínea ungueal ou onicomi- cose, as drogas orais itraconazol e terbinafina normalmente são escolhidas para o tratamento, que pode durar semanas, e ambas as drogas precisam ser utilizadas com cuidado devido aos efeitos colaterais graves. As micoses cutâneas normalmente são diagnosticadas pelo exame direto de raspados da área afetada, tratados com hidróxido de potássio (KOH) e analisados sob microscopia óptica. O pó de KOH dissolve os tecidos epiteliais, permitindo uma visão mais clara das hifas dos fungos. Micoses subcutâneas As micoses subcutâneas são mais sérias que as micoses cutâneas. Mesmo quando a pele é rompida, os fungos cutâneos não parecem ser capazes de penetrar através do estrato córneo, talvez porque não consigam obter quantidades suficientes de ferro para o crescimento na epiderme ou na derme. Micoses subcutâneas normalmente são causadas por fungos que habitam o solo, em especial quando rico em vegetação em decomposição, e podem penetrar a pele por pe- quenas aberturas, como ferimentos, que permitem sua entrada no tecido subcutâneo. Nos Estados Unidos, a doença mais comum desse tipo é a es- porotricose, causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii. A maioria dos casos ocorre entre jardineiros ou outras pessoas que tra- balham com terra.* O fungo frequentemente invade o sistema linfá- tico na área da infecção e ali forma lesões similares. A condição pode ser fatal e é tratada pela ingestão de uma solução diluída de iodeto de potássio, embora o micro-organismo não seja afetado in vitro mes- mo por soluções de iodeto de potássio na concentração de 10%. Candidíase A microbiota bacteriana das membranas mucosas no trato geniturinário e na boca geralmente ajuda a supri- mir o crescimento de fungos como a Candida albicans. Várias outras espécies de cândida, como a C. tropicalis e a C. krusei, também po- dem estar envolvidas. A morfologia desses micro-organismos não é sempre leveduriforme, podendo apresentar formações de pseudo- -hifas, que são células alongadas semelhantes a hifas. Nessa forma, a Candida é resistente à fagocitose, o que pode ser um fator importan- te na sua patogenicidade (Figura 21.17a). Devido ao fato de que o fungo não é afetado por drogas antibacterianas, algumas vezes ele é capaz de crescer sobre o tecido mucoso quando os antibióticos supri- mem a microbiota bacteriana normal. Mudanças nopH normal das mucosas também podem gerar um efeito similar. Quando ocorre o crescimento exagerado da C. albicans, a infecção é chamada de can- didíase. Recém-nascidos, cuja microbiota normal ainda não se esta- beleceu, frequentemente apresentam uma camada esbranquiçada na * N. de T. No Brasil, a esporotricose também ocorre e está relacionada a pessoas que lidam com o solo. No entanto, um número epidemiologicamente importante de casos no país tem sido atribuído a arranhaduras de gatos contendo esporos do fungo nas garras. A doença é, portanto, considerada por alguns como uma zoonose. P&R Pseudo-hifas Blastoconídios (a) Candida albicans. (b) Candidíase oral, ou thrush. Clamidoconídios µ10 m MEV Figura 21.17 Candidíase. (a) Candida albicans. Note os clamidoconídios esféricos (corpos de resistência formados a partir de hifas vegetativas) e os blastoconídios menores (esporos assexuados produzidos por brotamento) (veja o Capítulo 12). (b) Este caso de candidíase, ou thrush, produz uma camada grossa e cremosa sobre a língua. P Como as drogas antibacterianas podem levar à candidíase? Tortora_21.indd 601 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce 602 Tortora, Funke & Case cavidade oral, denominada candidíase oral (Figura 21.17b) ou thrush.* A C. albicans é uma causa muito comum de vaginites (veja o Capítulo 26). Pessoas imunossuprimidas, incluindo pacientes com Aids, são propensas às infecções por Candida na pele e nas membranas mu- cosas. Em pessoas obesas ou com diabetes, as áreas da pele natural- mente mais úmidas tendem a se tornar infectadas por esse fungo. As áreas infectadas se tornam de cor vermelho vivo, com lesões nas bordas. As infecções de pele e membranas mucosas causadas pela C. albicans normalmente são tratadas com aplicações tópicas de miconazol, clotrimazol ou nistatina. Se a candidíase se tornar sistêmica, o que pode acontecer no caso de pacientes imunossuprimidos, uma doença fulminante (que surge súbita e intensamente) e morte podem resultar. A droga de escolha para o tratamento de candidíase sistêmica é o fluconazol. Diversos novos tratamentos estão disponíveis atualmente; por exemplo, algu- mas drogas antifúngicas da nova classe das equinocandinas, como a micafungina e a anidulafungina, já estão aprovadas para uso. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Em que a esporotricose e o pé-de-atleta diferem? De que forma são similares? 21-6 3 Como o uso da penicilina pode resultar em um caso de candidíase? 21-7 Infestações parasitárias da pele Organismos parasitários como alguns protozoários, helmintos e artrópodes microscópicos podem infestar a pele e causar doenças. Descreveremos dois exemplos de infestações comuns na pele: a sar- na e o piolho. * N. de T. A palavra em inglês thrush frequentemente é usada sem tradução pela literatura médico-científica no Brasil. Sarna Provavelmente a primeira conexão documentada entre um organis- mo microscópico (330-450 μm) e uma doença humana tenha sido a sarna, descrita por um médico italiano em 1687. A doença envolve uma intensa coceira local e é causada pelo minúsculo ácaro Sarcop- tes scabiei, que escava túneis sob a pele e deposita seus ovos (Figura 21.18). Esses túneis feitos pelo parasita na pele frequentemente são visíveis como linhas tortuosas e ligeiramente elevadas de cerca de 1 mm de largura. Entretanto, a sarna pode surgir na forma de várias lesões inflamatórias na pele, muitas delas causadas por infecções secundárias, originadas do ato de se coçar. A sarna é transmitida por contato íntimo, inclusive sexual, sendo encontrada com mais frequências em membros de uma mesma família, residentes de ca- sas de repouso e adolescentes que trabalham como babás, infecta- dos pelas crianças das quais tomam conta. Cerca de 500.000 pessoas com sarna procuram tratamento cada ano nos Estados Unidos. Em países em desenvolvimento, a infestação é ainda mais prevalente. O ácaro vive por cerca de 25 dias, mas durante esse período, os ovos depositados eclodem e ge- ram uma dúzia ou mais de novos ácaros. A sarna normalmente é diagnosticada pela análise microscópica de raspados de pele, sendo então tratada pela aplicação tópica de permetrina. Casos difíceis às vezes são tratados com ivermectina oral. Pediculose (piolho) Infestações por piolhos, chamadas de pediculose, têm afligido os seres humanos por milhares de anos. Embora popularmente asso- ciados a inadequadas condições sanitárias, os surtos de piolhos en- tre crianças em idade escolar pertencentes às classes média e rica são comuns nos Estados Unidos. Os pais normalmente ficam arrasados, no entanto o piolho é facilmente transferido de cabeça para cabeça, como ocorre no contato de crianças que se conhecem bem. O piolho da cabeça, Pediculus humanus capitis, não é o mesmo que o piolho do corpo, Pediculus humanus corporis. Ambos são subespécies de Pediculus humanus que se adaptaram a diferentes áreas do corpo. Apenas o piolho do corpo dissemina doenças, como a febre tifoide. Os piolhos (veja a Figura 12.32a, página 363) precisam se alimentar do sangue de seu hospedeiro, e o fazem diversas vezes durante o dia. A vítima normalmente não sabe da presença desse passageiro indesejável até que ocorre a coceira, resultado da sen- sibilização à saliva do piolho e que se desenvolve várias semanas depois da infestação inicial. O ato de se coçar pode resultar em in- fecções bacterianas secundárias. O piolho da cabeça possui pernas especialmente adaptadas para se agarrar aos cabelos no couro cabe- ludo (Figura 21.19a). Durante seu período de vida, que pode durar até um pouco mais de um mês, a fêmea do piolho deposita muitos ovos (lêndeas) por dia. Os ovos ficam anexados à haste dos fios de cabelo, próximo ao couro cabeludo (Figura 21.19b), para que possam usufruir de uma temperatura de incubação mais quente, eclodindo dentro de uma semana. Nos estágios iniciais do desen- volvimento dos piolhos, eles também são chamados de lêndeas. As cascas vazias dos ovos são brancas e mais visíveis. Elas não indicam necessariamente a presença de piolhos vivos. À medida que o ca- belo cresce (a uma taxa de 1 cm por mês), as lêndeas anexadas se movem para longe do couro cabeludo. Um ponto interessante é o fato de que a incidência de piolhos entre pessoas da raça negra nos Estados Unidos é baixa. Isso acon- 0,2 mm ácaros MEV Figura 21.18 Ácaros da sarna na pele. P Seria realmente necessário um microscópio para identificar este pató- geno? Tortora_21.indd 602 27/06/11 14:46 Microbiologia 603 tece porque nesse país os piolhos se adaptaram às hastes cilíndricas do cabelo de pessoas brancas. Na África, os piolhos se adaptaram às hastes não cilíndricas do cabelo de pessoas negras. Os tratamentos para o piolho da cabeça são muitos, mas existe um ditado na área médica que diz que, quando existem muitos tra- tamentos para uma determinada condição, é provável que nenhum seja realmente bom. Medicamentos sem prescrição médica como o Nix (inseticida baseado em permetrina) e o Rid (inseticida baseado em piretrina) em geral são a primeira escolha, mas a resistência tem se tornado comum. Outras preparações contendo o inseticida malation (Ovide) ou o lindane, este último mais tóxico, também estão disponíveis (o uso do lindane foi proibido no estado norte- -americano da Califórnia). Um tratamento de dose única, consistindo na administração oral de ivermectina, algumas vezes é utilizado. Um novo produ- to baseado em silicone, denominado LiceMD, é efetivo e atóxico. O seu princípio ativo, dimeticona, bloqueia os tubos de respiração do piolho. A remoção física das lêndeas pelo uso de pentes finos é outra opção de tratamento. Esse é um procedimento difícil e demo- rado, que acabou porresultar no aparecimento de serviços profis- sionais para remoção de piolhos em algumas cidades. Os serviços são caros, mas considerados válidos pelas mães ocupadas. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Que doenças, caso existam, podem ser disseminadas pelo piolho da cabeça? 21-8 Doenças microbianas dos olhos OBJETIVOS DO APRENDIZADO 21-9 Definir conjuntivite. 21-10 Listar os agentes causadores, o modo de transmissão e os sintomas clínicos das seguintes infecções oculares: oftalmia neonatal, conjuntivite de inclusão, tracoma. 21-11 Listar os agentes causadores, o modo de transmissão e os sintomas clínicos das seguintes infecções oculares: ceratite herpética e ceratite por Acanthamoeba. As células epiteliais que cobrem os olhos podem ser consideradas como uma continuação da mucosa ou da pele. Muitos micróbios podem infectar os olhos, principalmente através da conjuntiva, a membrana mucosa que recobre a parte interna das pálpebras e a região branca dos globos oculares. Ela é uma camada transparente de células vivas que substituem a pele. As doenças oculares estão resumidas em Doenças em Foco 21.4. Inflamação das membranas dos olhos: conjuntivite A conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva, frequentemente chamada por seu nome comum, olhos vermelhos. O Haemophilus influenzae é o agente bacteriano mais comum, enquanto infecções virais normalmente são causadas por adenovírus. No entanto, um amplo grupo de agentes bacterianos e virais, e também alergias, pode causar essa condição. A popularidade das lentes de contato tem sido acompanhada pelo aumento da incidência de infecções oculares. Isso é especial- mente verdadeiro no caso das lentes flexíveis, que com frequência são usadas por longos períodos. Entre os patógenos bacterianos que causam conjuntivites estão as Pseudomonas, que podem dani- ficar seriamente os olhos. Para prevenir infecções, os usuários de lentes de contato não devem utilizar soluções salinas feitas em casa, uma fonte frequente de infecção, e devem seguir meticulosamente as recomendações do fabricante para a limpeza e a desinfecção das lentes. Os métodos mais eficientes para a desinfecção de lentes de contato envolvem a aplicação de calor. No caso de lentes que não podem ser aquecidas, elas podem ser desinfetadas com o uso de peróxido de hidrogênio, que é em seguida neutralizado. Doenças bacterianas dos olhos Os micro-organismos bacterianos mais comumente associados aos olhos são aqueles da pele e do trato respiratório superior. Oftalmia neonatal A oftalmia neonatal é uma forma séria de conjuntivite causada por Neisseria gonorrhoeae (agente causador da gonorreia). Gran- des quantidades de pus são formadas; se o tratamento não for iniciado a tempo, pode ocorrer a ulceração da córnea. A doença é adquirida quando o feto passa pelo canal do parto, e a infecção apresenta um risco elevado de produzir cegueira. No início do sé- (a) (b) 0,2 mm 1 mmMEV MEV Figura 21.19 Piolho e ovos de piolho (lêndeas). (a) Piolho adulto se agarrando a um fio de cabelo. (b) Este ovo (lêndea) contém o estágio de ninfa do piolho, a qual está em processo de sair do ovo através da tampa (opérculo). Ela consegue sair engolindo ar e forçando sua saída através do ânus, fazendo com que o opérculo abra de forma semelhante a uma rolha de champanhe. P Como a pediculose é transmitida? Tortora_21.indd 603 27/06/11 14:46 PF Realce PF Realce PF Realce PF Realce 604 Tortora, Funke & Case culo XX, a legislação exigia que os olhos dos recém-nascidos fos- sem tratados com uma solução de nitrato de prata a 1%, o que se mostrou muito efetivo na prevenção e no tratamento desse tipo de infecção. Entre 1906 e 1959, o percentual de pessoas admitidas em escolas para cegos, e que podiam ter sua condição atribuída à oftalmia neonatal, diminuiu de 24% para 0,3%. O nitrato de prata foi quase completamente substituído por antibióticos devido às co-infecções frequentes por gonococos e clamídias sexualmente transmissíveis, agentes contra os quais o nitrato de prata não é efetivo. Em regiões do mundo onde o custo dos antibióticos é proibitivo, o uso de soluções diluídas de iodo-povidona tem se mostrado eficiente. Conjuntivite de inclusão A conjuntivite clamidial, ou conjuntivite de inclusão, é bastante comum nos dias de hoje. Ela é causada pela Chlamydia trachoma- tis, uma bactéria que cresce somente como um parasita intracelular obrigatório. Em bebês, que adquirem a infecção no canal do parto durante o nascimento, a condição tende a se resolver espontanea- mente em algumas semanas ou meses, mas em casos raros pode ocorrer lesão da córnea. A conjuntivite clamidial também parece se disseminar através da água de piscinas não tratada com cloro; nesse contexto, ela é chamada de conjuntivite da piscina. A tetraci- clina aplicada como pomada oftálmica é um tratamento bastante eficiente. Tracoma O tracoma é uma infecção ocular grave e, provavelmente, a maior causa isolada de cegueira por uma doença infecciosa. O nome deri- va de uma palavra grega antiga que significa “enrugado”. A doença é causada por certos sorotipos de Chlamydia trachomatis, mas não os mesmos que causam infecções genitais (veja as páginas 750, 752 e 755). Nas regiões áridas da África e da Ásia, quase todas as crianças são infectadas cedo em suas vidas. Em todo o mundo, estima-se Doenças microbianas dos olhos Diagnóstico diferencial é o processo de identificação de uma doença a partir de uma lista de possíveis doenças que se encaixam no painel de informações derivado do exame do paciente. Um diagnóstico diferencial é importante para que se inicie o tratamento e para os estudos laborato- riais. Por exemplo, um homem de 20 anos apresentava vermelhidão ocular com a formação de crostas de muco seco pelas manhãs. A condição foi resolvida com o uso de antibióticos tópicos. Use a tabela para identificar as infecções que poderiam causar esses sintomas. Doença Patógeno Porta de entrada Sintomas Método de transmissão Tratamento DOENÇAS BACTERIANAS Conjuntivite Haemophilus influenzae Conjuntiva Vermelhidão Contato direto; fômites Nenhum Oftalmia neonatal Neisseria gonorrhoeae Conjuntiva Infecção aguda com muita for- mação de pus. Através do canal do parto Prevenção: tetraciclina, eri- tromicina ou iodo-povidona Conjuntivite de inclusão Chlamydia trachomatis Conjuntiva Inchaço das pálpebras; forma- ção de muco e pus. Através do canal do parto; em piscinas Tetraciclina Tracoma Chlamydia trachomatis Conjuntiva Conjuntivite Contato direto; fômites; moscas Nenhum DOENÇAS VIRAIS Conjuntivite Adenovírus Conjuntiva Vermelhidão Contato direto Ceratite herpética Vírus do herpes simples tipo 1 Conjuntiva; córnea Ceratite Contato direto; infecção latente recorrente Trifluridina pode ser efetiva DOENÇAS PROTOZOÓTICAS Ceratite por Acanthamoeba Acanthamoeba spp. Abrasão córnea; len- tes de contato flexíveis podem impedir a re- moção da ameba pelo ato de piscar. Ceratite Contato com água de rios e lagos (água doce) Uso tópico de isotionato de propamidina ou miconazol; transplante de córnea ou remoção cirúrgica do olho afetado pode ser necessário. DOENÇAS EM FOCO 21.4 Tortora_21.indd 604 27/06/11 14:46 PF Realce Microbiologia 605 que existam 500 milhões de casos ativos e 7 milhões de vítimas de cegueira decorrente da doença. O tracoma também ocorre ocasio- nalmente no sudoeste dos Estados Unidos, em especial entre índios norte-americanos. A doença é uma conjuntivite transmitida principalmente por contato manual ou compartilhamento de objetos de uso pessoal, como toalhas. Moscas também podem carrear a bactéria. Infec- ções repetidas causam inflamação (Figura 21.20a), o que, por sua vez, leva à triquíase, condiçãoem que os cílios se curvam para baixo e para dentro dos olhos (Figura 21.20b). A abrasão da cór- nea, especialmente causada pelos cílios, pode então causar lesão da córnea e cegueira. A triquíase pode ser corrigida cirurgica- mente, um procedimento mostrado em antigos papiros egípcios. Infecções secundárias por outras bactérias patogênicas também são consideradas um fator importante nessa doença. Antibióticos para eliminar as clamídias, em especial a azitromicina, são trata- mentos úteis. A doença pode ser controlada por práticas de higie- ne e educação em saúde. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Qual é o nome comum da conjuntivite de inclusão? 21-9 3 Por que o uso de antibióticos substituiu quase totalmente o uso do ni- trato de prata, mais barato, na prevenção da oftalmia neonatal? 21-10 Outras doenças infecciosas dos olhos Micro-organismos como os vírus e os protozoários também podem causar doenças oculares. As doenças discutidas aqui são caracte- rizadas pela inflamação da córnea, uma condição chamada de ce- ratite. Nos Estados Unidos, a maior parte das ceratites tem origem bacteriana; na África e na Ásia, a maioria das infecções oculares é causada por fungos, como Fusarium e Aspergillus. Ceratite herpética A ceratite herpética é causada pelo mesmo vírus herpes simples do tipo 1 que causa o herpes labial, e se torna latente nos nervos do gânglio trigêmeo (veja a Figura 21.13). A doença é uma infec- ção da córnea, com frequência resultando na formação de úlceras profundas, o que pode ser a causa mais comum de cegueira nos Estados Unidos. A droga trifluridina é um tratamento eficaz em muitos casos. Ceratite por Acanthamoeba O primeiro caso de ceratite por Acanthamoeba foi documentado em 1973, em um fazendeiro texano. Desde então, mais de 4.000 ca- sos da doença foram diagnosticados nos Estados Unidos. A ameba tem sido encontrada na água doce de rios e lagos, em água de tor- neira, em banheiras e também no solo. A maioria dos casos recen- tes foi associada ao uso de lentes de contato, embora qualquer dano da córnea por trauma ou infecções possa tornar o paciente susce- tível à doença. Os fatores que contribuem para a infecção incluem o uso de procedimentos de desinfecção inadequados (uma vez que apenas o calor pode matar, com certeza, os cistos da ameba), o uso de soluções salinas feitas em casa e o uso de lentes de contato du- rante o sono ou a prática de natação. Em seu estágio inicial, a infecção consiste apenas de uma in- flamação leve, porém os estágios posteriores frequentemente são acompanhados de dor intensa. Se iniciado precocemente, o trata- mento com colírios contendo isotianato de propamidina e o uso de neomicina tópica têm se mostrado eficientes. O dano muitas vezes é tão grave que pode requerer o transplante de córnea ou mesmo a remoção cirúrgica do olho afetado. O diagnóstico é confirmado pela presença de trofozoítos e cistos em raspados corados da cór- nea. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Das duas infecções, a ceratite herpética e a ceratite por Acanthamoeba, qual delas é mais provável de ser causada por um organismo que se reproduz ativamente em soluções salinas para limpeza de lentes de contato? 21-11 (a) Inflamação crônica da pálpebra. (b) Triquíase, cílios voltados para dentro dos olhos causando abrasão da córnea. Figura 21.20 Tracoma. (a) Infecções repetidas por Chlamydia tracho- mastis causam inflamações crônicas. A pálpebra foi retraída para mostrar os nódulos inflamatórios que entram em contato com a córnea. (b) Em estágios tardios do tracoma, os cílios se voltam para dentro dos olhos (triquíase), como mostrado aqui, o que causa mais abrasão da córnea. P Como o tracoma é transmitido? Tortora_21.indd 605 27/06/11 14:46 PF Realce 606 Tortora, Funke & Case Introdução (p. 584) 1. A pele é uma barreira física contra os micro-organismos. 2. As áreas úmidas da pele (como as axilas) suportam o crescimento de populações bacterianas maiores que as áreas secas (como o couro ca- beludo). 3. A pele humana produz antibióticos chamados de defensinas. Estrutura e função da pele (p. 585) 1. A porção externa da pele (epiderme) contém queratina, uma cobertu- ra à prova d’água. 2. A porção interna da pele, a derme, contém folículos pilosos, ductos sudoríparos e glândulas sebáceas que fornecem portas de entrada para os micro-organismos. 3. O sebo e a transpiração são secreções da pele que podem inibir o cres- cimento de micro-organismos. 4. O sebo e a transpiração fornecem nutrientes para alguns micro-orga- nismos. 5. As cavidades corporais são revestidas por células epiteliais. Quando essas células secretam muco, constituem as membranas mucosas. Microbiota normal da pele (p. 585, 586) 1. Os micro-organismos que vivem na pele são resistentes ao resseca- mento e a altas concentrações de sal. 2. Cocos gram-positivos predominam na pele. 3. A microbiota normal da pele não pode ser removida pela lavagem. 4. Membros do gênero Propionibacterium metabolizam o óleo das glân- dulas sebáceas e colonizam os folículos pilosos. 5. A levedura Malassezia furfur cresce nas secreções de óleo e pode ser a causa da caspa. Doenças microbianas da pele (p. 586-603) 1. Vesículas são pequenas lesões cheias de líquido; bolhas são vesículas maiores que 1 cm; máculas são lesões planas e avermelhadas; pápulas são lesões elevadas; pústulas são lesões elevadas que contêm pus. Doenças bacterianas da pele (p. 586-594) Infecções de pele por estafilococos (p. 586-589) 2. Estafilococos são bactérias gram-positivas que frequentemente cres- cem em agrupamentos. 3. A maior parte da microbiota da pele é composta por Staphylococcus epidermidis coagulase-negati- vos. 4. Quase todas as cepas patogênicas de S. aureus produzem coagulase. 5. S. aureus patogênicos podem produzir enteroto- xinas, leucocidinas e toxina esfoliativa. 6. Infecções localizadas (como espinhas e carbúnculos) resultam da en- trada do S. aureus em aberturas na pele. 7. O impetigo é uma infecção superficial da pele altamente contagiosa causada pelo S. aureus. 8. A toxemia ocorre quando toxinas entram na corrente sanguínea; as toxemias estafilocócicas incluem a síndrome da pele escaldada e a sín- drome do choque tóxico. Infecções de pele por estreptococos (p. 589-591) 9. Os estreptococos são cocos gram-positivos que frequentemente cres- cem em cadeias. 10. Os estreptococos são classificados de acordo com suas enzimas hemo- líticas e antígenos da parede celular. 11. Os estreptococos beta-hemolíticos do grupo A (incluindo o Strepto- coccus pyogenes) são os patógenos mais importantes para os seres hu- manos. 12. Os estreptococos beta-hemolíticos do grupo A produzem vários fato- res de virulência: proteína M, toxina eritrogênica, deoxirribonuclea- ses, estreptocinases e hialuronidase. 13. A erisipela é causada pelo S. pyogenes. 14. Os estreptococos beta-hemolíticos do grupo A invasivos causam des- truição rápida e severa de tecidos. Infecções por Pseudomonas (p. 591-594) 15. As pseudomonas são bacilos gram-negativos. Elas são micro-organis- mos aeróbicos encontrados principalmente no solo e a água, sendo resistentes a muitos desinfetantes e antibióticos. 16. Pseudomonas aeruginosa produz uma endotoxina e várias exotoxinas. 17. Doenças causadas por P. aeruginosa incluem otites externas, infecções respiratórias, infecções de queimaduras e dermatites. 18. As infecções apresentam um pus azul-esverdeado característico, cau- sado pelo pigmento piocianina. 19. As quinolonas são úteis no tratamento de infecções por P. aeruginosa. Úlcera de Buruli (p. 594) 20. O Mycobacterium ulcerans causa ulcerações profundas nos tecidos. Acne (p. 594) 21. O Propionibacterium acnes pode metabolizar o sebo preso nos folícu- los pilosos. 22. Os produtos finais do metabolismo(ácidos graxos) causam a acne in- flamatória. 23. A tretinoína, o peróxido de benzoíla, a eritromicina e a terapia lumi- nosa são usados no tratamento da acne. Doenças virais da pele (p. 595-600) Verrugas (p. 595) 24. Os papilomavírus fazem com que as células epiteliais proliferem e pro- duzam um crescimento benigno denominado verruga ou papiloma. 25. As verrugas são disseminadas por contato direto. 26. As verrugas podem regredir espontaneamente ou ser removidas quí- mica ou fisicamente. Varíola (Smallpox) (p. 595, 596) 27. O vírus da varíola causa dois tipos de infecções cutâneas: varíola maior e a varíola menor. 28. A varíola é transmitida por via respiratória, e o vírus é transportado para a pele através da corrente sanguínea. 29. Os únicos hospedeiros da varíola são os seres humanos. 30. A varíola foi erradicada por um esforço de vacinação coordenado pela Organização Mundial da Saúde. RESUMO PARA ESTUDO Tortora_21.indd 606 27/06/11 14:46 Microbiologia 607 Varicela (catapora) e herpes zoster (p. 596, 597) 31. O vírus varicela zoster é transmitido por via respiratória e se localiza na células da pele, causando uma erupção vesicular. 32. Complicações da varicela incluem encefalites e síndrome de Reye. 33. Depois do episódio de catapora, o vírus pode permanecer latente nas células nervosas e subsequentemente se reativar, causando o herpes zoster. 34. O herpes zoster é caracterizado por uma erupção vesicular ao longo de nervos sensoriais cutâneos. 35. A infecção pode ser tratada com aciclovir. Uma vacina composta por vírus atenuados está disponível. Herpes simples (p. 597, 598) 36. Infecções pelo vírus do herpes simples em células mucosas podem re- sultar em herpes labial e, eventualmente, encefalites. 37. O vírus permanece latente nas células nervosas, e o herpes labial pode se tornar recorrente quando o vírus é ativado. 38. O HSV-1 é transmitido principalmente por via oral e respiratória. 39. A encefalite herpética ocorre quando o herpesvírus infecta o cérebro. 40. O aciclovir tem se mostrado eficiente no tratamento da encefalite her- pética. Sarampo (p. 598, 599) 41. O sarampo, causado pelo Measles virus, é transmitido por via respira- tória. 42. A vacinação promove imunidade de longa duração contra o sarampo. 43. Depois que o vírus é incubado nas células do trato respiratório supe- rior, lesões maculares surgem na pele e manchas de Koplik surgem na mucosa oral. 44. Complicações do sarampo incluem infecções do ouvido médio, pneu- monias, encefalites e infecções bacterianas secundárias. Rubéola (p. 599, 600) 45. O vírus da rubéola é transmitido por via respiratória. 46. Uma pessoa infectada pode apresentar uma erupção vermelha e febre leve ou permanecer assintomática. 47. A síndrome da rubéola congênita pode afetar o feto quando a mulher contrai a doença durante o primeiro trimestre de gravidez. 48. Danos decorrentes da síndrome da rubéola congênita incluem nasci- mento de natimortos, surdez, cataratas, defeitos cardíacos e retardo mental. 49. A vacinação com vírus vivos e atenuados promove imunidade de du- ração indefinida. Outras erupções virais (p. 600) 50. O parvovírus humano B19 causa o eritema infeccioso, ou quinta doença, e o HHV-6 causa a roséola infantil. Doenças fúngicas da pele e das unhas (p. 600-602) Micoses cutâneas (p. 600, 601) 51. Os fungos que colonizam a camada mais externa da epiderme causam as dermatomicoses. 52. Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton causam dermatomico- ses denominadas tíneas. 53. Esses fungos crescem em epidermes que contêm queratina, como pe- los, pele e unhas. 54. As tíneas e o pé-de-atleta normalmente são tratados com antifúngicos tópicos. 55. O diagnóstico é baseado no exame microscópico de raspados de pele ou culturas fúngicas. Micoses subcutâneas (p. 601) 56. A esporotricose resulta da infecção por um fungo do solo que penetra na pele através de um ferimento. 57. O fungo cresce e produz nódulos subcutâneos ao longo dos vasos lin- fáticos. Candidíase (p. 601, 602) 58. A Candida albicans causa infecções das membra- nas mucosas e é uma causa comum de candidía- ses orais e vaginites. 59. A C. albicans é um patógeno oportunista que pode proliferar quando a microbiota bacteriana é suprimida. 60. Drogas antifúngicas tópicas podem ser usadas para o tratamento das candidíases. Infestações parasitárias da pele (p. 602, 603) 61. A sarna é causada por um ácaro que escava túneis e deposita ovos na pele. 62. A pediculose é uma infestação por Pediculus humanus. Doenças microbianas dos olhos (p. 603-605) 1. A membrana mucosa que reveste as pálpebras e a parte branca do glo- bo ocular é chamada de conjuntiva. Inflamação das membranas dos olhos: conjuntivite (p. 603) 2. A conjuntivite pode ser causada por diversas bactérias e pode ser transmitida por lentes de contato impropriamente desinfetadas. Doenças bacterianas dos olhos (p. 603-605) 3. A microbiota bacteriana do olho normalmente se origina da pele e do trato respiratório superior. 4. A oftalmia neonatal é causada pela transmissão de Neisseria gonorrhoeae de uma mãe infectada para o recém-nascido durante sua passagem pelo canal do parto. 5. Todos os recém-nascidos são tratados com antibióticos para prevenir infecções por Chlamydia e Neisseria. 6. A conjuntivite de inclusão é uma infecção da conjuntiva causada por Chlamydia trachomatis. Ela é transmitida aos recém-nascidos duran- te o parto, estando presente também em piscinas não tratadas com cloro. 7. No tracoma, causado por C. trachomatis, tecidos cicatrizantes se for- mam na córnea. 8. O tracoma é transmitido por mãos, fômites e talvez moscas. Outras doenças infecciosas dos olhos (p. 605) 9. Os fungos Fusarium e Aspergillus podem infectar os olhos. 10. As ceratites herpéticas causam úlceras na córnea. A infecção é causada pelo HSV-1, que invade o sistema nervoso central e pode se tornar recorrente. 11. O protozoário Acanthamoeba, transmitido através da água, pode cau- sar uma forma série de ceratite. Tortora_21.indd 607 27/06/11 14:46 608 Tortora, Funke & Case As respostas para as questões de revisão e múltipla escolha podem ser encon- tradas na seção Respostas deste livro. Revisão 1. Discuta os modos comuns de entrada das bactérias na pele. Compare as infecções cutâneas bacterianas com aquelas causadas por fungos e vírus em relação ao modo de entrada. 2. Que bactérias são identificadas pelo teste positivo da coagulase? Que bactérias são caracterizadas como β-hemolíticas do grupo A? 3. DESENHE Na figura abaixo, indique os sítios das seguintes infecções: impetigo, foliculite, acne, verrugas, herpes zoster, esporotricose e pe- diculose. 4. Complete a tabela epidemiológica abaixo: Doenças Agente etiológico Sintomas clínicos Modo de transmissão Acne Espinhas Verrugas Varicela Herpes labial Sarampo Rubéola 5. Por que alguns estados norte-americanos requerem um teste sorológi- co de rubéola para mulheres antes de liberar a licença de casamento? 6. Identifique as doenças com base nos sintomas no quadro abaixo? Sintomas Doença Manchas de Koplik Erupção macular Erupção vesicular Erupção formada por pequenas manchas Lesões recorrentes na mucosa oral Úlcera córnea e inchaço dos linfonodos 7. Que complicações podem ocorrer em uma infecção por HSV-1? 8. O que faz parte da vacina tríplice viral (MMR)? 9. Um paciente apresenta lesões inflamatórias na pele que coçam inten- samente. O exame microscópico de raspados da pele revelou a pre- sença de um artrópode de oito patas. Qual é seu diagnóstico? Como a doença é tratada? O que você concluiria se encontrasse um artrópode de seis patas? Múltipla escolhaUtilize as informações a seguir para responder as questões 1 e 2. Uma menina de seis anos foi levada ao médico para avaliar a presença de um nódulo de crescimento lento na região da nuca. O nódulo era uma lesão descamativa elevada de 4 cm de diâmetro. Uma cultura fúngica do material da lesão foi positiva para um fungo com numerosos conídios. 1. A doença da menina era: a. Rubéola. b. Candidíase. c. Dermatomicose. d. Herpes labial. e. Nenhuma das alternativas. 2. Além do couro cabeludo, essa doença também pode ocorrer em todas as regiões, exceto: a. Nos pés. b. Nas unhas. c. Na virilha. d. No tecido subcutâneo. e. Nenhuma das alternativas. Utilize as informações a seguir para responder as questões 3 e 4. Um garoto de 12 anos apresentou febre, erupções, dores de cabeça, dor de garganta e tosse. Ele também apresentou uma erupção macular no tronco, na face e nos braços. Uma cultura de material da garganta foi negativa para Strepto- coccus pyogenes. 3. O menino provavelmente teve: a. Dor de garganta estreptocócica. b. Sarampo. c. Rubéola. d. Varíola. e. Nenhuma das alternativas. 4. Todas as alternativas a seguir são complicações dessa doença, exceto: a. Infecções do ouvido médio. b. Pneumonia. c. Defeitos de nascença. d. Encefalite. e. Nenhuma das alternativas. 5. Uma paciente apresenta conjuntivite. Se você isolou Pseudomonas da maquiagem da paciente, pode concluir todas as alternativas a seguir, exceto: a. A maquiagem era a fonte de infecção. b. Pseudomonas está causando a infecção. c. Pseudomonas cresceu na maquiagem. d. A maquiagem foi contaminada pelo fabricante. e. Nenhuma das alternativas. 6. Você examinou microscopicamente raspados oculares de um caso de ceratite por Acanthamoeba. O que você espera encontrar? a. Nada. b. Vírus. c. Cocos gram-positivos. d. Células eucarióticas. e. Cocos gram-negativos. QUESTÕES PARA ESTUDO Tortora_21.indd 608 04/07/11 16:27 Microbiologia 609 Utilize as alternativas a seguir para responder as questões 7 a 9. a. Pseudomonas. b. S. aureus. c. Sarna. d. Sporothrix. e. Vírus. 7. Nada pode ser observado ao exame microscópico de raspados das erupções do paciente. 8. O exame microscópico das úlceras do paciente mostra células ovoides. 9. O exame microscópico de raspados das erupções do paciente revela bacilos gram-negativos. 10. Em qual das opções a seguir o par está incorreto? a. Maior causa de cegueiras – Chlamydia. b. Varicela – herpes zoster. c. HSV-1 – encefalite. d. Ulcera de Buruli – ácido estomacal. e. Nenhuma das alternativas. Pensamento crítico 1. Um teste laboratorial usado para determinar a identidade do Staphylo- coccus aureus é o crescimento em ágar hipertônico manitol. O meio contém 7,5% de cloreto de sódio (NaCl). Por que esse meio é conside- rado seletivo para o S. aureus? 2. É necessário tratar um paciente com verrugas? Explique brevemente. 3. Análises de nove casos de conjuntivite forneceram os dados da tabela abaixo. Como essas infecções foram transmitidas? Como poderiam ser evitadas? No Etiologia Isolado de cosméticos para os olhos ou lentes de contato 5 S. epidermidis + 1 Acanthamoeba + 1 Candida + 1 P. aeruginosa + 1 S. aureus + 4. Que fatores possibilitaram a erradicação da varíola? Que outras doen- ças apresentam esses critérios? Aplicações clínicas 1. Um paciente hospitalizado e que se recuperava de uma cirurgia desen- volveu uma infecção com pus azul-esverdeado e um odor semelhante a uvas. Qual é a etiologia provável? Como o paciente pode ter adquiri- do a doença? 2. Uma menina diabética de 12 anos e que faz uso contínuo de uma in- fusão subcutânea de insulina para controlar o diabetes desenvolveu febre (39,4°C), pressão arterial baixa, dor abdominal e eritrodermia. Ela foi orientada a mudar o local de inserção da agulha, limpo com uma solução de iodo, a cada três dias. Entretanto, ela não mudava o local da injeção antes de 10 dias. Culturas do sangue foram negativas, e os abscessos nos locais de inserção não foram cultivados. Qual é a causa provável de seus sintomas? 3. Um adolescente com gripe confirmada foi hospitalizado ao apresentar estresse respiratório. Ele apresentou febre, erupção cutânea e pressão arterial baixa. S. aureus foi isolado de suas secreções respiratórias. Dis- cuta a relação entre os sintomas e o agente etiológico. Tortora_21.indd 609 27/06/11 14:46