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TCC Versão Final

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TRIBUNAL DO JÚRI: UMA ANÁLISE SOBRE A INFLUÊNCIA DA MÍDIA E A (IM)PARCIALIDADE DAS DECISÕES DO CONSELHO DE SENTENÇA� 
JURY COURT: AN ANALYSIS OF THE INFLUENCE OF THE MEDIA AND THE (IM)PARCIALITY OF THE DECISIONS OF THE COUNCIL OF SITUATION
Catiane da Silva Silveira�
Mário Luís Lírio Cipriani�
RESUMO
O presente trabalho retratou a grande influência que a mídia exerce sobre os jurados em decisões do Tribunal do Júri, abordando o conflito de principiológico que esse tema envolve, bem como questões éticas e sociais referentes a estas consequências. Pelo método de abordagem dedutivo, o presente artigo baseou-se em uma premissa geral de conceituação do tema Tribunal do Júri, apresentando os princípios que lhe conferem a sua importância para a sociedade, até adentrar nas questões éticas e sociais envolvendo as condenações motivadas pela mídia. Nesse sentido, o presente estudo abordou a indignação social causada pela constante divulgação de determinados crimes, e a condenações antecipadas dos acusados, sem que haja o devido respaldo nas provas produzidas nos autos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, retratando alguns dos casos mais notórios em que isso ocorreu. Além disso, como método de procedimento foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, pela qual foi destacado o entendimento de autores clássicos e contemporâneos a respeito do tema para responder a problemática inicial. Como resultado do estudo, foi constatada, principalmente, o quão necessária é a regulamentação da cobertura midiática em cima desses casos, tendo em vista os demais princípios constitucionais envolvidos. O tema desenvolvido insere-se na área de concentração “Cidadania, Políticas Públicas e Diálogo entre Culturas Jurídicas” da FADISMA e a linha de pesquisa Controle Social, Segurança cidadã e Justiça Criminal.
Palavras-chave: Tribunal do Júri. Mídia. Influência
ABSTRACT
The present work portrayed the great influence that the media exerts on the jurors of decisions of the Court of the Jury, addressing the principle of law that is the evolutionary theme, as well as the ethical and social questions about the consequences. By a deductible approach method, this article is based on a general concept premise of the Jury Court theme, presenting the principles that give it its importance for society, to enter ethical and social issues such as media-motivated convictions . Thirdly, the first to address social indignation through the dissemination of crimes and the early convictions of the accused, without due importance in the evidence produced in the proceedings under the adversary and ample defense, depicting some of the most notorious cases in that this occurred. In addition, as the research method was used as a bibliographical research, which was highlighted for the understanding of a classical and contemporary problem to respond to an initial problem. As a result of the study, it was verified, mainly, how soon the media coverage is needed on top of cases, considering the other constitutional components involved. The theme was developed in the area of ​​concentration "Citizenship, Public Policies and Dialogue between the Legal Cultures" of FADISMA and the line of research Control of Social Security, Citizenship Security and Justice.
Keywords: Jury court. Media. Influence
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por intuito apresentar a influência da mídia nas decisões do conselho de sentença do Tribunal do Júri. A escolha do tema se deu em razão da sua relevância e complexidade para os estudos sociais na esfera penal, considerando os princípios constitucionais envolvidos. Será analisando no presente estudo o conflito entre as garantias fundamentais previstas na Lei Maior, visto que de um lado há o importantíssimo princípio da presunção da inocência, princípio do contraditório e ampla defesa, direito à liberdade, direito à imagem e a um julgamento imparcial e, do outro, o não menos importante direito à liberdade de imprensa.
Quando se refere ao Tribunal do Júri e a cobertura midiática dos diversos casos de crimes dolosos contra a vida, é claramente perceptível que a constante cobertura e divulgação dos crimes dolosos contra a vida pela mídia pode gerar diversas compreensões inadequadas e erradas sobre o cenário do crime, ensejando com tal situação, uma condenação antecipada do réu, sem que haja a devida observância dos autos processuais, assim lhe ferindo o direito ao contraditório e a ampla defesa. 
Os estudos acerca da influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri configuram um tema cuja discussão é bastante necessária para a sociedade na atualidade, visto que envolve a liberdade e dignidade de um ser humano, em casos onde a pessoa possa vir a apresentar a sua defesa perante o Tribunal e este possa decidir, de maneira justa, com o respaldo técnico, decidir a condenação ou absolvição do réu, conforme os preceitos constitucionais e garantias inerentes ao Estado Democrático de Direito. Além disso, é uma notável temática para o direito em geral, visto que se trata de um embate entre princípios da Constituição Federal e, também, é um tema que deve ser tratado e discutido no âmbito jurídico.
Tendo em vista que o direito está em progressiva evolução, sempre buscando a sua reformulação e adequação na mesma medida das demandas e imprescindibilidades sociais, esse tema é de importantíssimo valor. Nas últimas décadas, com a constante evolução da tecnologia e dos meios de comunicação, abre-se a discussão para que a concretização dos direitos humanos ocorra na mesma medida. Considerando o grande aumento da facilidade ao acesso às informações, é essencial que se deva discutir a respeito do prejulgamento e condenação antecipada dos réus, em prol da audiência e lucro dos programas jornalísticos.
Também, considerando que, nos últimos anos, a sociedade se encontra com os ânimos aflorados por questões políticas e sociais, é expressivo que sempre haja o debate acerca da preservação das garantias individuais. Por questões éticas, é substancial a busca da preservação do julgamento justo, do mesmo modo como é essencial a preservação do direito à liberdade de imprensa, sendo que ambos são princípios basilares, norteadores do Estado Democrático de Direito. 
A grande dimensão do tema, e que é considerado o cerne do presente estudo, é no sentido de que ao transmitir às notícias para a população, muitas vezes a mídia pode sensibilizar a população que, com seu senso comum, já clama pela condenação do acusado, mesmo que isto lhe custe à dignidade e lhe atinja o direito de ter um julgamento justo. 
Dessa forma, essa possível influência social afeta o cotidiano forense, sendo, portanto, necessário analisar se as decisões judiciais estariam sendo influenciadas pelos posicionamentos expostos na mídia, especificamente no Tribunal do Júri, pois este é formado por um conselho de sentença que não possui conhecimento técnico na área jurídica.
Dessarte, o objetivo da pesquisa é analisar e verificar de uma forma aprofundada, por meio de pesquisa bibliográfica, se as decisões tomadas pelo conselho de sentença do Tribunal do Júri têm por muitas vezes influência da mídia. O tópico se enquadra na Área de Concentração “Cidadania, Políticas Públicas e Diálogo entre Culturas Jurídicas” da FADISMA e a linha de pesquisa Controle Social, Segurança cidadã e Justiça Criminal.
O presente estudo será desenvolvido como um artigo, ou seja, um trabalho apresentado de forma concisa e prática, resultado de uma pesquisa independente, no qual serão abordados os princípios e garantias fundamentais, bem como o que diz a Constituição Federal de 1988 e o Código Penal vigente. Desse modo, o artigo será desenvolvido através de uma estrutura lógica, partindo do tema “Tribunal do Júri” e terá como delimitação do tema “Análise sobre a influência da mídia nas decisões do conselho de sentença no Tribunal do Júri”. 
Para elaboração do artigo, será utilizado como método de abordagem o método dedutivo, pois será construídoa partir de um raciocínio inicial geral acerca do Tribunal do Júri e seus princípios e, posteriormente, direcionando-se para uma abordagem mais específica, a qual englobará uma pesquisa específica acerca da influência da mídia junto aos veredictos das votações pelo conselho de sentença no Tribunal do Júri, contando também com a contribuição de doutrinas, teorias, leis, jurisprudências e, ainda, com a pesquisa bibliográfica para responder ao objetivo geral. 
Já no que se refere ao método de procedimento, verificou-se que a melhor forma de desenvolvê-lo é a técnica de pesquisa bibliográfica, ou seja, contribuições científicas já existentes, com o objetivo de enriquecer a proposta. Evidencia-se também, que a proposta do presente artigo não haverá de esgotar a discussão sobre a influência da mídia, mas sim, ao contrário disso, busca contribuir com o debate técnico referente à temática. 
Por fim, o presente trabalho possui como objetivo geral de que forma os meios de comunicação remetem nos julgamentos pelo conselho de sentença do Tribunal do Júri. Quanto aos objetivos específicos, o artigo buscará discutir os princípios constitucionais que compõe o Tribunal do Júri analisando-os, bem como apresentar casos específicos, exemplificando as questões envolvidas no tema. 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil passou, aos poucos, a consolidar os seus novos ideais democráticos, originando assim, uma nova época trazida pela chamada “Constituição Cidadã”. Com essa nova fase, além dos novos princípios da república, também foram restabelecidos os princípios elementares, sendo estes a plenitude de defesa, sigilo das votações, soberania dos veredictos e a competência exclusiva para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Para Guilherme de Souza Nucci (2011, p.41), o termo “princípio” deve ser entendido, de acordo com as suas palavras como sendo “um momento em que algo tem origem; é a causa primária ou elemento predominante na constituição de um todo orgânico”. À vista disso, segundo esse autor, entende-se o conceito trazido pelo autor como sendo os princípios os elementos norteadores de todo o sistema legislativo infraconstitucional.
No que se refere ao instituto do Tribunal do Júri no Brasil, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 traz em seu rol de direitos e garantias fundamentais, o artigo 5°, inciso XXXIII, os seguintes princípios: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida. 
Ao considerar estes princípios como fundamentais ao Tribunal do Juri, faz-se necessário realizar uma breve análise detalhada de cada princípio.
Princípio da Plenitude de defesa
O Princípio da Ampla Defesa, em se tratando do Tribunal do Júri, é representado como o princípio da Plenitude de Defesa. Respectivamente, o primeiro princípio se refere a uma garantia do réu de um modo geral, já o segundo, se trata de um elemento intrínseco da sistemática do Tribunal do Júri. Portanto, a palavra “princípio”, de acordo com a ótica de Guilherme Nucci (2011, p. 25), deve ser entendida “como um monumento em que algo tem origem; é a causa primária ou o elemento predominante na constituição de um todo orgânico”. Pode-se entender que este princípio é o elemento norteador de todo o sistema legislativo infraconstitucional.
O referido princípio compõe a Carta Magna de 1988, trazendo consigo, como observado no artigo 5°, incisos LIV e LV, as garantias de que o indivíduo tenha uma defesa técnica, relacionada aos aspectos jurídicos do caso concreto, bem como amplitude de argumentos necessários para que a defesa seja feita em sua integralidade e, consequentemente, seja de fato plena. Conforme destacado:
LIV -  ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
LV -  aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. ( Brasil,1988)
Nota-se, portanto, que a Constituição Federal garante ao réu submetido ao julgamento do Júri esta plenitude de defesa - e não exclusivamente a ampla defesa - adotadas aos acusados em geral. Alguns autores a emolduram no princípio maior da ampla defesa, enquanto outros amparam maior amplitude dessa fórmula constitucional. Segundo Mongenout (2008), a garantia de uma defesa completa seria, nessa linha de raciocínio, mais compreensiva do que a garantia de uma defesa ampla. Abrangeria, entre outras, a probabilidade de o acusado participar da escolha dos jurados que farão parte do Conselho de sentença, bem como a própria necessidade de os juízes populares pertencerem ás diversas classes sociais. 	
A plenitude de defesa, em vista disso, busca garantir ao réu todo e qualquer tipo de defesa e recursos disponíveis em lei, de forma em que sua liberdade jamais seja restrita de quaisquer formas, ao contrário disto, pode todo o julgamento ser anulado. Portanto, de acordo com este princípio, o acusado poderá contar também com o uso de argumentos não jurídicos, persuasivos, que levantem questões morais, religiosas e culturais, ou seja, diferentemente da ampla defesa. 
Nessa perspectiva, é o julgado do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
 
A Constituição da República assegura a todos os acusados a ampla defesa e os recursos a ela inerentes e, no caso do júri, vai além, assegurando a plenitude da defesa: art. 5º, XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa. (...). Primeiramente, é de extrema importância, nesta questão, estabelecermos a diferença entre plenitude de defesa e ampla defesa, ambas previstas constitucionalmente, pois, apesar de parecer mera repetição ou reforço hermenêutico por parte do constituinte, estes termos não são sinônimos (...). Fica clara a intenção do constituinte ao conceder ao réu, no júri, além da ampla defesa outorgada a todo e qualquer réu, em qualquer processo, cível, administrativo ou criminal, a plenitude de defesa, privilegiando-o em relação à acusação, pois ele é a parte mais fraca da relação. (AP 1.0155.03.004411-1,3.ª Câm. Crim., j. 02.05.2006, v. u., rel. Jane Silva).
A ampla defesa, como princípio constitucional, não pode ser empregada pela parte de maneira meramente formal; há de ser materialmente combinada e apresentada. O julgado em explanação demonstra a invalidade das alegações finais “sem qualquer cunho defensivo”, embora ofertada pela Defensoria Pública. A nulidade do processo criminal é o único caminho a trilhar (NUCCI, 2018, p. 114).
Consequentemente, o Juiz poderá manifestar-se caso venha a perceber que o defensor do acusado não está fazendo uma defesa apta e poderá desfazer o Conselho de sentença, declarando o réu indefeso, partindo do argumento trazido pelo o art. 497 do Código de Processo Penal.
Dentro desta ótica, é importante destacar o princípio da presunção da inocência, que está intrinsecamente relacionado ao julgamento legítimo e a plenitude de defesa, pois assegura ao réu o direito de ser considerado inocente até que o processo se acabe, ou seja, que ocorra o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
Sigilo das votações 
O Sigilo das votações é outro princípio constitucional que rege o Tribunal do Júri, sendo que tem como finalidade impedir que a publicidade traga prejuízos a isenção e a independência dos jurados no momento da votação.
O artigo 485, caput, do Código de Processo Penal, ipsis litteris determina que, após a leitura e explicação dos quesitos em plenário, não havendo dúvidas a esclarecer, “o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça, dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação”. Tal dispositivo alega ainda, em seu § 1°, que na falta de sala especial, o juiz presidentedeterminará que o público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput desse artigo.
Com exceção à regra da publicidade previstas nos artigos 5°, LX e no 93, IX da Constituição Federal, o princípio do sigilo traz a existência da sala secreta para votação. Justificando-se desta maneira, no fato do próprio texto constitucional limitar a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou interesse social ou público assim exigirem.
O veredicto dos jurados resulta das respostas dadas aos quesitos formulados pelo juiz presidente. A votação realiza-se em sala especial, denominada sala secreta, consoante o artigo 481, parágrafo único, CF/88, recebendo cada jurado pequenas cédulas feitas de papel opaco, contendo umas a palavra “sim” e outras a palavra “não”, a fim de, secretamente, serem recolhidos os votos, na forma do artigo 485, CF/88. Durante a resposta dos quesitos, um oficial de justiça deve recolher as cédulas com os votos dos jurados e outro, as cédulas não utilizadas, mediante o emprego de urna ou outro receptáculo que assegure o sigilo da votação, de acordo com o artigo 486, CF/88). (MONGENOUT, 2008). 
Compreende-se pela importância de o corpo de jurados serem afastados da plateia, da imprensa, e demais pessoas que estejam assistindo o Júri, resguardando à isenção do ato da votação.
A soberania dos veredictos 
A soberania dos veredictos importa na manutenção da decisão dos jurados acerca dos elementos que integram o crime (materialidade, autoria, majorantes etc.), que, em princípio, não poderá ser substituída em grau de recurso. Não impede, porém, que o tribunal, julgando a decisão manifestadamente contrária a prova dos autos, determine que o réu seja submetido a novo júri. Tampouco obsta a possibilidade de revisão criminal e a substituição do julgamento proferido por outro, por meio de protesto por novo júri (MONGENOUT, 2008).
A importância das decisões no Júri traz esse princípio, impedindo que essas decisões sejam modificadas por um Tribunal Superior. Essa soberania é imprescindível à própria existência do Conselho de Sentença, já que os jurados não estão adstritos ao direito, mas sim a uma análise racional dos fatos e das provas apresentadas, as quais orientarão sua convicção no momento do voto.
O doutrinador Hérmínio Alberto Porto (1933, p.46) traz um conceito, no qual é possível compreender melhor sobre a conceituação da soberania dos veredictos. Segundo ele, esta pode ser entendida como:
impossibilidade de os juízes togados se substituírem aos jurados na decisão da causa, e por isso, o Código de Processo Penal, regulando a apelação formulada em oposição à decisão dos jurados manisfestadamente contrária a prova dos autos ( letra d, inciso III, do artigo 593), estabelece que o Tribunal ad quem, dando provimento, sujeitará o réu a novo julgamento ( § 3°, do artigo 593).
Porém, existem aqueles que não possuem esse entendimento e desrespeitam a supremacia da vontade da sociedade no contexto jurídico. Guilherme de Souza Nucci (2011, p.38), nesse sentido, pronuncia-se: 
Muitos tribunais togados não se têm vergado, facilmente, à decisão tomada pelos Conselhos de Sentença. Alguns magistrados procuram aplicar a jurisprudência da Corte onde exercem suas funções, olvidando que os jurados são leigos e não conhecem – nem devem, nem precisam – conhecer a jurisprudência em Tribunal algum.
Resulta que esse tipo de comportamento, quebraria o sentido da participação popular no Tribunal do Júri. Não haveria mais sentido ter a participação da sociedade, decidindo pela condenação ou absolvição do acusado, sendo na revisão criminal ou na análise do recurso de apelação, os juízes togados transformarem esse posicionamento.
A respeito da natureza democrática do tribunal popular, Rangel comenta que:
Nesse sentido, não há dúvida do caráter democrático da instituição do Tribunal do Júri, que nasce, exatamente, das decisões emanadas do povo, retirando, das mãos dos magistrados comprometidos com o déspota, o poder de decisão. Fato que, posteriormente, com a formação do tribunal popular, no Brasil, feita por pessoas que gozassem de conceito público por serem inteligentes, íntegras e de bons costumes (cf. art. 27 do Código de Processo Criminal do Império - Lei de 29/11/1832), faz estabelecer um preconceito social e, embora disfarçada, uma luta entre classes. (RANGEL, 2015, p. 604)
 
A soberania dos veredictos, como princípio constitucional regente do Tribunal do Júri, não constitui a impossibilidade de recurso contra decisão pronunciada pelo Tribunal Popular. Para aferir harmonia entre os princípios da soberania dos veredictos e do duplo grau de jurisdição, admite-se o recurso contra a decisão do júri, mas, se dado provimento ao apelo, determina-se o novo julgamento pelo Tribunal Popular outra vez. O fato é que o tribunal togado não pode substituir-se à decisão dos jurados; pode determinar novo julgamento. Respeita-se, dessa forma, a soberania dos veredictos e também o duplo grau de jurisdição. (NUCCI, 2018, p. 115)
Apesar da soberania dos veredictos concretizar o caráter democrático do Tribunal do Júri, é importante para a reflexão sobre o presente estudo como um todo, demonstrar que não se trata de uma instituição infalível. Nessa continuidade, Pacelli argumenta que, ainda que acredite e defenda a instituição do Tribunal do Júri, é importante observar os muitos casos de julgamentos injustos, conforme as palavras do autor: 
Costuma-se se dizer que o Tribunal do Júri seria uma das mais democráticas instituições do Poder Judiciário, sobretudo pelo fato de submeter o homem ao julgamento de seus pares e não ao da Justiça Togada. [...] Mas não se pode perder de vista que nem sempre a democracia esteve e estará a serviço do bem comum, ao menos quando aferida simplesmente pelo critério da maioria. [...] E o Tribunal do Júri, no que tem, então, de democrático, tem também, ou melhor, pode ter também, de arbitrário (PACELLI, 2014, p. 719).
Dentro do mesmo raciocínio da falibilidade do voto popular, no que se refere ao caráter democrático da soberania dos vereditos conferida aos jurados, ao mesmo tempo que reflete os anseios sociais sobre o crime, pode se tornar uma forma de ir de encontro ao devido processo legal, uma vez que se permite aos jurados julgar casos de forma completamente antagônica às provas produzida nos autos.
O renomado jurista Aury Lopes Junior (2016, p. 861) tece uma crítica a respeito do assunto:
Os jurados podem então decidir completamente fora da prova dos autos sem que nada possa ser feito. Possuem o poder de tomar o quadrado, redondo, com plena tolerância dos Tribunais e do senso comum teórico, que se limitam a argumentar, fragilmente, com a tal “supremacia do júri”, como se essa fosse uma “verdade absoluta”, inquestionável e insuperável.
O autor critica também que não haja a necessidade de que os jurados fundamentem o seu voto. De acordo com suas palavras:
A situação é ainda mais grave se considerarmos que a liberdade de convencimento (imotivado) e tão ampla que permite o julgamento a partir de elementos que não estão no processo. A “intima convicção”, despida de qualquer fundamentação, permite a imensa monstruosidade jurídica de ser julgado a partir de qualquer elemento. Isso significa um retrocesso ao Direito Penal do autor, ao julgamento pela “cara”, cor, opção sexual, religião, posição socioeconômica, aparência física, postura do réu durante o julgamento ou mesmo antes do julgamento, enfim, é imensurável o campo sobre o qual pode recair o juízo de (des) valor que o jurado faz em relação ao réu. (LOPES JUNIOR, 2016, p. 860)
Diante destes casos em que ocorre o julgamento totalmente contrário às provas produzidas nos autos do processo, estas dotadas de legitimidade e produzidas sob o crivo do contraditório e ampla defesa, o julgamento está sujeito a anulação, caso em que deverá a parte insatisfeita apresentar Recurso de Apelação, objetivando com isso a realização de um novo júri popular.Competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida
Assegura o art. 5.º, XXXVIII, alínea d, a competência do júri para o julgamento dos delitos dolosos contra a vida. É fato que algumas posições existem amparando ser essa competência fixa, não podendo ser expandida, embora não haja nenhuma razão provável para tal interpretação. Note-se que o texto constitucional menciona ser assegurada a competência para os delitos dolosos contra a vida e não somente para eles (NUCCI, 2018, p. 960).
O dispositivo trata a competência mínima do Júri, não podendo a legislação infraconstitucional extrair do tribunal popular a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Nada evita, contudo, que o legislador ordinário abra essa competência, incluindo outras figuras criminais. Não se trata de competência exclusiva, competindo ao Tribunal do Júri julgar outros crimes, desde que haja conexão ou continência com algum crime doloso contra a vida (MONGENOUT, 2008).
De acordo com o Código Penal, os crimes dolosos contra a vida sujeitos ao julgamento pelo Tribunal do Júri são: o homicídio doloso, simples, privilegiado ou qualificado; o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio; infanticídio e o aborto, em todas as suas modalidades. A competência do Júri abrange tanto os delitos tentados quanto os consumados.
O alvo do constituinte foi bastante claro, visto que, sem a definição da competência mínima e deixando-se à lei ordinária a tarefa de estabelecê-la, seria bem possível que a instituição, na prática, desaparecesse do Brasil. Foi o que houve em outros países ao não tomar cuidado de fixar, na Constituição, a competência do Tribunal Popular (CF. Portugal, art. 210.º, e Espanha, art. 125).
É importantíssimo refletir, também, acerca do alcance e amplitude da expressão “crimes dolosos contra a vida”. Outrora, muito foi debatido a respeito do alcance da competência do Tribunal do Júri, debate pelo qual se vislumbrava a inclusão de todos os crimes que envolvessem a vida humana na competência do Tribunal do Júri, como, por exemplo, o crime de latrocínio. 
Neste crime, há o roubo (doloso) seguido de morte (que pode igualmente ser fruto do dolo). Diante das circunstancias, tal entendimento não vingou, pois, o conceito adotado pelo texto constitucional foi técnico, isto é, são os crimes previstos no Capítulo I (Crimes contra a vida), do Título I (Dos crimes contra a pessoa), da Parte Especial do Código Penal (NUCCI, 2018, p.960).
A Súmula 603 do Supremo Tribunal Federal diz que “a competência para o processo e julgamento do latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri”. Considerando a Súmula proferida pela Suprema Corte brasileira, o crime de latrocínio não pode ser incluso nas competências do Tribunal do Júri, pois se trata, na verdade, de um crime contra o patrimônio e não de crime contra a vida, conforme o critério técnico de que este crime se encontra no rol de crimes contra o patrimônio e não contra a vida. Ainda, atualmente, estão explícitos na Constituição Federal de 1988 no capítulo relativo aos crimes dolosos contra a vida.
.A MÍDIA E O PROCESSO PENAL: A INFLUÊNCIA NAS DECISÕES DO CONSELHO DE SENTENÇA 
A mídia, ao noticiar os fatos que ocorrem na sociedade, de forma notória busca instiga a curiosidade da população. Essas notícias, por sua vez, são uma grande fonte de audiência para os programas jornalísticos e, por consequência, fontes de lucro. Nesse seguimento, a cobertura dos canais de comunicação se torna ainda mais notória quando as notícias se referem aos crimes dolosos contra a vida, tanto para o processo penal como um todo, mas principalmente para o Tribunal do Júri, visto que essas notícias instigam ainda mais a curiosidade e audiência dos telespectadores. 
Ao focar em notícias sobre esses crimes, os jornais possivelmente acabam construindo um senso comum de revolta e indignação na população, que clama por justiça. O pensamento crítico, por muitas vezes é formado com base nos programas, e destarte, o bom senso é deixado de lado em face da brutalidade de tais crimes. Ao focar cada vez mais nos crimes que ocorreram, a sociedade, previamente já faz o seu julgamento, fazendo germinar um possível clamor popular pela condenação do réu antes mesmo do julgamento ter ocorrido.
Em consequência do desenfreado número de notícias trazidas pelos meios de comunicação, emerge o questionamento sobre até que ponto a mídia pode influenciar na íntima convicção de cada jurado que, como pessoa leiga, não se manteria imparcial para desempenhar com plenitude o papel social que, com confiança, lhe foi conferido pelo Estado para julgar seu semelhante. 
Por isso, essa instigação da mídia na sede de justiça da população pode ocasionar o julgamento antecipado dos acusados, surge a problemática da não observação dos diversos princípios constitucionais, o que é o cerne do presente estudo. 
No decorrer do presente capítulo, será discorrido também acerca do embate principiológico presente nesta problemática, tais como o correto andamento do processo penal e a presunção da inocência, o direito a proteção a intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas e o direito à liberdade de imprensa, ambos previstos no art. 5° da CF/88.
Ainda, serão demonstrados alguns casos concretos, nos quais o seu julgamento pode ter ocorrido, de fato, sob forte influência midiática e clamor popular local e acompanhamento nacional. 
 A função social da Informação no Brasil: A liberdade de imprensa e a publicidade responsável 
O papel da mídia na sociedade brasileira é de grande importância para a coletividade. É fundamental ressaltar o quanto a Liberdade de Imprensa caracteriza e é inerente ao Estado Democrático de Direito. Porém, este papel deve ser sempre desempenhado em prol da sociedade, evitando comprometer os direitos individuais de um ser humano, conforme os preceitos constitucionais. 
A respeito da importância conferida pela Constituição à Liberdade de Imprensa, Rui Barbosa (2004. p. 32/35), excelentemente afirmou que:
A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça. (...) Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de idéias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.
	O direito à liberdade de imprensa, representa um dos pilares do Estado Democrático de Direito, inserido no rol dos direitos e garantias fundamentais do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, está intrinsecamente ligado ao direito à informação, se traduz no “direito de informar e de ser informado” (LENZA, 2006, p. 540).
Desse modo, notório é o papel deste princípio quando bem desempenhado pelos meios de comunicação. A imprensa, através de sua liberdade garantida, poderá levar a informação ao alcance de todos, evitando, assim, os diversos tipos de arbitrariedades e até mesmo crimes, sempre em prol do bem-estar social. 
	 Como muito bem discorre Miranda (apud COSTA, 2008, p. 04):
a verdadeira missão da imprensa, mais do que a de informar e de divulgar fatos, é a de difundir conhecimentos, disseminar a cultura, iluminar as consciências, canalizar as aspirações e os anseios populares, enfim, orientar a opinião pública no sentido do bem e da verdade.
Tendo em vista a necessidade social da Liberdade de Imprensa, José Afonso da Silva (2001, p. 245) reflete que por ser exatamente na liberdade de informação jornalística que se encontra e se concretiza o direito coletivo à informação, a liberdade de informar necessita contar com um regime específico dado pela ordem jurídica, a fim de lhe garantir a atuação e também lhe coibir os abusos. 
Os referidosabusos, encontram-se no sentido da violação dos direitos de outrem. Um bom exemplo, é conforme a reflexão de Aline Martins Rospa (2011), onde, segundo ela, quando se refere à Liberdade de imprensa confrontando o direito à imagem e o direito à privacidade, igualmente como os demais princípios que compõe o sistema dos direitos fundamentais, nenhum destes possuem caráter absoluto. Reflete a autora que, ao contrário disso, os princípios constitucionais encontram seus limites nos demais direitos fundamentais, ensejando, deste jeito, uma colisão de princípios. 
Da mesma forma ocorre quando a Liberdade de Imprensa atinge um indivíduo suspeito de ter cometido um crime doloso contra a vida, quando o julgamento desta pessoa não será técnico, mas sim social. Muitas vezes, afeta o ser humano ao ponto de induzir uma sociedade local contra ele, ferindo-lhe o direito à intimidade, privacidade e a sua imagem, bem como condenando-o a um julgamento antecipado pelo senso comum. 
Dentro desta ótica, Rover reflete sobre a presunção da inocência ficar comprometida pela Liberdade de Imprensa:
Os encarregados da aplicação da lei são responsáveis pela busca dos fatos, ao passo que o judiciário é o responsável pela apuração da verdade. O direito a julgamento justo [consiste] na determinação de qualquer acusação criminal contra si, ou de seus direitos e obrigações em um processo legal; todas as pessoas terão direitos a um julgamento justo e público por um tribunal competente, independente, imparcial e estabelecido por lei (ROVER, 1995.).
Quanto ao direito à Liberdade de Expressão envolvida, a sociedade informacional possui liberdade de expor os fatos para a coletividade, sendo que, nesse sentido, José Afonso da Silva preceitua:
(...) a liberdade de informação compreende a procura, o acesso, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada qual pelos abusos que cometer. (SILVA, 2009, p. 246).
É notável que a mídia, tem a salutar função de ajudar na construção de uma sociedade mais democrática. Por isso, tem o direito e o dever de apresentar as informações para o público e os fatos que estão ocorrendo, no entanto, ao fazê-lo deve sempre atentar nos limites da individualidade do ser humano, da forma na qual isso ocorra apenas quando as informações prestadas possuírem extremo interesse público. 
A justificativa mais comum acerca da divulgação das imagens dos suspeitos, seria o interesse público no sentido de que a omissão das imagens ou dos nomes dos suspeitos poderia deixar a sociedade sem meios de defesa por não poder identificar o criminoso. Isto posto, a violação à intimidade e à privacidade seria justificada sob este argumento de interesse público. Ocorre que, caso o nome dos suspeitos fossem omitidos, o dano à sociedade não ocorreria de modo efetivo e, em contrapartida, o dano ao indivíduo exposto, em ra​zão da violação sem razão, restaria evidente em qualquer dituação, ou seja, ainda que venha a ser considerado inocente ao final, somente a exposição já causaria danos imensuráveis e de naturezas diversas ao cidadão. (LEITÃO, 2006)
Entende-se então que, ao cobrir e disponibilizar informações através dos seus meios para a sociedade, a mídia necessita sempre modelar-se nos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade ao expor uma situação. Dessa forma, não ocorreria quaisquer abusos de direito quanto ao indivíduo e, concomitante a isso não seria anulado o Direito à Liberdade de Imprensa. Quando estes direitos são violados, a mídia terá por dever indenizar a pessoa. Conforme a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Paraná: 
A liberdade de imprensa assegura o direito de informar, de narrar os fatos, mas não justifica a inveracidade ou a sua distorção a ponto de deixá-los mais chamativos e atraentes aos olhos da sociedade. Não se pode olvidar que a imprensa é formadora de opiniões, devendo assim, informar a população com responsabilidade e respeito à verdade e aos preceitos constitucionais de inviolabilidade da honra e imagem das pessoas. (REsp 719592 / AL - Ministro Jorge Scartezzini - T4 - Quarta Turma - Julgado em 12/12/2005); (TJ-PR - AC: 3479183 PR 0347918-3, Relator: Macedo Pacheco, Data de Julgamento: 23/08/2007, 8ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 7460).
Tendo em vista todo o poder que a mídia detém, muito há que se questionar a respeito de sua publicidade. É importante destacar que, diante desses direitos e de toda a eficácia e acessibilidade que a mídia e os meios de comunicação representam na sociedade, esta acabou tornando-se um dos maiores veículos para o exercício dos atos do poder judiciário, o que, de fato, possibilita ao cidadão um exercício democrático de informação.
Porém, é importante destacar que o exercício da publicidade responsável deve ser sempre prezado nos meios de comunicação, sempre observando a ética e a forma mais adequada de se transmitir uma notícia, para que, logo, os diversos tipos de abuso de direito não sejam concretizados.
2.2 A influência da mídia no Tribunal do Júri: A (im)parcialidade das decisões do Conselho de Sentença
Atualmente, a sociedade brasileira vem enfrentando muitos problemas diante de sua situação política e social. Com os ânimos da população bastante aflorados, sempre buscando por justiça, a mídia passou demonstrar especial atenção aos casos que provocam sede de justiça nos telespectadores. Estes casos demonstram constantemente a corrupção e os diversos tipos de crimes que são oriundos de problemas sociais, ou seja, muitas vezes a criminalidade se torna foco de inúmeras notícias.
A influência da mídia no processo penal como um todo, é uma questão preocupante para a sociedade, porém, preocupa ainda mais quando os fatos expostos se referem às cenas dos crimes dolosos contra a vida. Por isso, no que se refere aos crimes de competência do Tribunal do Júri, diante dessa possível cobertura midiática excessiva e sensacionalista vem se tornando, cada vez mais um problema social contemporâneo. 
É notório o fato de que os programas buscam a audiência da sociedade para obter lucro, porém, quando se trata de notícias envolvendo a criminalidade, muitos programas televisivos e empresas de comunicação transformam a notícia em mercadoria, de fato, banalizando a função social da informação, transformando-a em um produto a ser vendido para a obtenção de audiência.
Na realidade, o que ocorre é que a mídia, possui conhecimento acerca do forte encanto e atração que as notícias violentas causam no público e, por isso explora tanto o assunto. Consoante a ideia de Barbosa e Kahn (2001), isso vem ocorrendo, porque a abordagem dos crimes possui muita variedade e disponibilidade, ou seja, devido ao fato de que estes acontecimentos são muito rotineiros diante da realidade do Brasil, o jornalista possui uma grande fonte de possibilidades de diferentes abordagens e conteúdo para selecionar e, então ser-lhe mais rentável. 
O autor discorre também que o grande interesse do público por essa realidade, é que o delito representa um dos maiores problemas sociais e, por tal motivo, o interesse se dá no sentido de preocupação da maioria das pessoas. Por fim, o autor explica que os crimes de assassinato oferecem à mídia conteúdos de histórias de drama, violência, ação, ou seja, um elevado potencial noticioso e ficcional. (BARBOSA E KAHN , 2001)
Acontece que, os informes apresentados pela mídia, nem sempre representam a realidade fática ou, frequentemente, apresentam a situação muito descontextualizada. A apresentação superficial das notícias, dotadas de sensacionalismo, sempre buscando um culpado, instiga raiva nos telespectadores e, além disso, produz nos mesmos os raciocínios já projetados, isto é, ideias padronizadas. Dessa forma, a mídia acaba impossibilitando a construção do pensamento crítico na população e a construção de uma opinião adequada à realidade dos fatos. 
O sensacionalismo está ligado ao exagero, à intensificação, valorização da emoção;à exploração do extraordinário, à valorização de conteúdos descontextualizados; à troca do essencial pelo supérfluo ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma (AMA​RAL, 2006, p. 21).
Nesta senda, segundo Pastana (2003), a abordagem sensacionalista conferida às noticiais criminais, além de não representarem a correta realidade dos fatos, ainda estimulam a curiosidade, a intole​rância e, por fim, o próprio medo no ser humano (PASTANA, 2003).
Desse medo causado no público, surge a ideia de que a segurança só será concretizada com a devida punição, condenação e, até mesmo, a destruição dos supostos criminosos. Na mesma lógica se dá o entendimento de Gomes (2009) que discorre que diante destes crimes apresentados pela mídia, a sociedade apenas se tranquilizaria se houvesse a uma aniquilação dos delinquentes, portanto, exigindo diversas e precisas reformas legislativas, ou seja, mais leis, mais prisões, mais castigos (GOMES, 2009).
Padilha Neto (2006), critica a forma como a mídia apresenta esses crimes diante da sociedade, afirmando categoricamente que a mídia, por muitas vezes, ultrapassa os limites de sua atividade informativa, criticando a função do jornalista e, inclusive, afirmando que esta acaba por usurpar, por via extraoficial, o papel de autoridades estatais. Segundo o autor: 
o jornalista, transcendendo o seu mister, traveste-se de delegado, promotor e juiz, tudo ao mesmo tempo, apura, acusa e condena a pessoa objeto de sua investigação, em um trabalho que ele chama de jornalismo investigativo, mas que não passa de tribunal de exceção.
Também, de acordo com a autora Juliana Livtin (2007) ao noticiar os fatos sociais, a imprensa teria, por dever, preservar cuidadosamente os bens jurídicos que de alguma forma pudessem vir a ser afrontados com a divulgação de uma notícia criminal, tais como os princípios constitucionais da presunção de ino​cência, a intimidade, o devido processo legal e a plenitude de defesa (LIVTIN, 2007).
Devido ao fato de que sistematicamente a sociedade pode ser convencida pelo que lhe está sendo constantemente transmitido, forma sua opinião contrária aos acusados, já os considerando culpados antes do julgamento, clamando por justiça. 
No que se refere ao julgamento pelo Tribunal do Júri, os jurados que compõe o Conselho de Sentença, por sua vez, são leigos e também fazem parte da sociedade e, por isso, são igualmente influenciáveis pela mídia. Diante disso, imperiosa se faz a análise a respeito de sua isenção na hora do julgamento. 
Marcos Luiz Alves de Mello (2017), muito bem reflete sobre a impregnação do ódio no ser humano causado pela mídia, de forma que possa vir a corrompê-lo diante do julgamento:
O ponto é que, quando então, é conferido ao cidadão o “poder” de julgar seu semelhante por um suposto crime contra a vida cometido, todo o ódio, desejo de revanche e as sensações transmitidas diariamente na mídia vêm à tona, e a atuação de muitos promotores de justiça que apelam para despertar essas emoções nos julgadores durante as sessões do júri são como lenha na fogueira que influenciam e instigam os cidadãos na busca por uma sentença condenatória, por vezes mesmo contrariando as provas dos autos.
É devido a essa possível fácil manipulação que, atualmente, o Tribunal do Júri tem se tornado objeto central de uma das maiores contendas do sistema jurídico brasileiro. Na mesma reflexão, Mello (2017) ainda afirma acerca do julgamento dos jurados feitos sob forte emoção e dotados de interferência da mídia:
 
Excluem-se direitos e garantias, que são substituídos por um desejo de pena perpétua e morte aos que são apontados como criminosos. Nessa sociedade não existe presunção de inocência, já que para grande parte destes, isso é um “besteirol” propagado por “esse povo dos direitos humanos”. Nessa sociedade, policiais são exaltados como heróis e justiceiros das revistas em quadrinhos.
2.3 Casos concretos com grande repercussão no Tribunal do Júri 
Diante de toda a problemática apresentada no referido estudo, é imperativo que se faça a demonstração de alguns casos concretos, exemplificando as questões levantadas sobre o excesso de cobertura midiática de crimes dolosos contra a vida, bem como sobre a possível influência deste excesso no julgamento popular. A seguir, será discorrido no presente capítulo acerca dos notórios casos do menino Bernardo Boldrini (2013), da menina Isabela Nardoni (2008), o caso de Eliza Samúdio e do Goleiro Bruno (2010) e, por fim, o caso de Trisha Meili, que ocorreu nos anos 80, nos Estados Unidos, a fim de demonstrar um evidente caso de injustiça fomentado pela mídia.
Primeiramente, a respeito do notório caso do menino Bernardo Boldrini, que recentemente comoveu toda a sociedade local, bem como causou uma comoção em âmbito nacional, se trata de um homicídio qualificado contra uma criança de apenas 11 anos de idade, na época do fato. O menino foi morto devido a supordosagem do potente sedativo de uso restrito Midazolan, ou seja, com o emprego de veneno e, posteriormente, jogaram soda cáustica em seu corpo a fim de ocultar o cadáver e, então, foi enterrado em uma cova na cidade vizinha. 
A princípio, supostos autores do crime, seriam o pai do menino, Leandro Boldrini, que alega inocência - sua madrasta Graciele Ugulini, que posteriormente confessou a autoria do crime - amiga de sua madrasta Edelvânia Wirganovicz, que também confessou o crime e seu irmão Evandro Wirganovicz, que alega inocência.
Os acusados foram presos e submetidos ao julgamento popular no dia 15 de março de 2019, ocasião em que todos foram considerados culpados e condenados, porém a aplicabilidade da pena a Evandro Wirganivicz já havia prescrevido, considerando o tempo em que o réu já se encontrava preso. 
Devido ao crime ter sido cometido contra uma criança que passava por diversos problemas familiares e sofrimentos de cunho psicológico, houve uma grande comoção social e por consequência, grande repercussão midiática, e cada vez mais exposição tanto do menino, como dos acusados. Porém, algumas informações chegavam ao público sem ter qualquer embasamento jurídico, sempre fomentando o sensacionalismo dos fatos, sem que houvesse a confirmação. 
Na época, houve inclusive acusações de um deputado contra o Juiz que manteve a guarda de Bernardo com seu pai, mesmo após o menino ter ido pedir ajuda à justiça. Este fato, chamou atenção e foi alvo de manifestação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que afirmou que o parlamentar vinha estabelecendo juízos de valor precipitadamente e que, por conseguinte, não seria aceita a sua conduta de ingerência de um Poder de Estado sobre o outro. O Tribunal de Justiça emitiu uma nota de esclarecimento no dia 08/05/2014:
O Tribunal de Justiça vem a público contestar veementemente a atitude do Ouvidor-Geral da Assembleia Legislativa, que vem estabelecendo juízos de valor precipitados com base em denúncias anônimas e comentários postados em redes sociais, que atingem a conduta profissional do Juiz Fernando Vieira dos Santos, da Comarca de Três Passos.
Não existe qualquer tipo de oposição à realização de denúncias. Aliás, é dever de todo agente público, em especial quem detém cargo político, levar a conhecimento da autoridade competente eventual notícia de supostas irregularidades. Mas não de forma sensacionalista, tampouco emitindo juízos censórios definitivos, capazes apenas de inibir a regular atividade da investigação séria e eficiente de parte de quem possui competência constitucional para agir.
Os supostos fatos foram levados ao conhecimento da Corregedoria-Geral da Justiça, que irá apurá-los por ser o órgão disciplinar do Poder Judiciário.”
O Tribunal de Justiça reitera não aceitar, em hipótese alguma, a ingerência de um Poder de Estado sobre o outro, à exceção das hipóteses previstas em lei, o que nem de longe ocorre no chamado Caso Bernardo.
Desembargador Túlio Martins, Presidente do Conselho de Comunicação Social.
	 Conforme Alexandre Haubrich (2014), acerca do casoBernardo:
Nos jornais e sites brasileiros ligados aos conglomerados de comunicação, a cobertura tem sido, em muitos momentos, irresponsável e antiética. Não se trata de ignorar os indícios que levaram a polícia à prisão preventiva do pai de Bernardo, da madrasta deste e de uma amiga do casal. Trata-se, sim, de pensar uma forma de se fazer jornalismo que não esteja atrelada ao sensacionalismo ou à venda de informação como mercadoria e que seja construída fundamentalmente com o cérebro, e não com o fígado.
O autor afirma também o que chama de “jornalismo declaratório” e os seus vícios, sendo que estes aparecem com clareza no caso Bernardo. De acordo com a ideia do autor, isso significa que grande parte da imprensa abandonou a investigação e a noção do jornalismo, ignorando coisas fundamentais como organização e filtragem de informações para, simplesmente, fazerem publicações sensacionalistas, de fontes oficiais e que apresentam caráter de verdades absolutas. Segundo o autor, muitas vezes as manchetes sobre o caso apresentavam afirmações contundentes, mas com informações de fontes questionáveis, como exemplifica: “Madrasta e amiga mataram menino Bernardo, diz delegada”. Daí advém a crítica do autor à imprensa que toma a declaração da fonte como informação, sendo que ela não passa daquilo, de uma declaração. (HAUBRICH, 2014)
Sobre o caso Bernardo, ainda quando estava na época das investigações, foi criada no ano de 2014 a Lei 13.010/2014, denominada “Lei Menino Bernardo”. A referida Lei permite, em linhas gerais, que os filhos sejam educados pelos pais, sem uso de qualquer meio de violência física. Lei esta que surge mediante tamanha repercussão do caso, contando com a opinião pública de celebridades do meio artístico, como por exemplo, a apresentadora Xuxa Meneghel, que acompanhou a votação da referida lei no Congresso Nacional.
Outro grande exemplo da grande interferência e indução midiática foi o caso da menina Isabella Nardoni. Em 29 de março do ano de 2008, a menina Isabella, que tinha apenas 5 anos de idade teve sua vida ceifada ao cair do sexto andar do prédio em que seu pai Alexandre Nardoni residia com a madrasta Anna Carolina Jatobá. 
Assim que o crime tomou proporção, logo o pai e a madrasta da menina foram acusados de ter jogado a criança pela janela com a intenção de matá-la. Após as primeiras investigações, a mídia já amplamente divulgou que Isabella teria sido agredida dentro do automóvel da família e, depois, dentro do apartamento estrangulada por sua madrasta. O pai, ao se deparar com a situação e pensando que a filha estivesse morta, teria cortado a rede de proteção e jogado a menina pela janela, sendo que ambos teriam combinado a versão de que o crime foi cometido por uma terceira pessoa, sempre negando as acusações. 
Os réus foram julgados pelo Tribunal do Júri e condenados. Paulo Freitas, acredita que este tenha sido um dos casos que mais repercutiu na mídia e na história da Justiça Penal brasileira. Segundo o autor, devido a tamanha exposição e a cobertura dos órgãos de comunicação e, considerando também que nenhum dos acusados jamais confessou a autoria do crime, sobrou muito espaço para a atuação midiática, pela qual foi exercido o papel de um órgão de investigação paralela, visto que o caso possuía muitas lacunas. (FREITAS, 2018, p. 230)
Este caso, se tratava de uma história que envolvia um grande mistério e assassinato a sangue frio de uma criança inocente, logo, despertava a curiosidade da população, tornando-se uma grande fonte de audiência para os veículos da mídia, que se aproveitando ainda mais da situação, não deixavam de ser sensacionalistas. 
Segundo Paulo Freitas (2018, p. 230) sobre o caso Isabella Nardoni:
Foram dezenas de reportagens veiculadas pelos mais distintos programas e redes de televisão; milhares de manchetes e chamadas em jornais impressos e edições virtuais; inúmeras matérias de capa das principais revistas semanais. Aqui, igualmente, a mídia se apressou em investigar, acusar e julgar moralmente os suspeitos de causar a morte da criança Isabella Nardoni. Mesmo quando ainda incipientes as investigações ou ainda durante o desenrolar da primeira instrução processual, os órgãos de comunicação de massa já davam como certa a ocorrência de um crime de homicídio doloso. Mesmo diante de fortes indícios que tudo poderia não ter passado de um acidente ou de um crime menos grave, os acusados suportaram um verdadeiro linchamento público, tiveram suas vidas e a de seus familiares desnudadas, devassadas e se tornaram, da noite para o dia, pessoas odiadas pela população de um país inteiro que se mobilizou para exigir, em praça pública e por meio das mais diversas redes sociais virtuais, as suas condenações às reprimendas mais graves possíveis. 
Outro caso de repercussão nacional envolvendo a mídia, ocorreu no ano de 2010, foi o caso do desaparecimento de Eliza Samúdio, publicamente conhecida por manter um relacionamento amoroso com Bruno Fernandes, goleiro titular do Flamengo. Por mais que Eliza nunca tenha sido encontrada, publicamente foi constada a sua morte, tendo ela sido vitimada por um atroz crime de homicídio. 
À época, as principais suspeitas do crime recaíram sobre o goleiro Bruno, que alegava inocência, porém acabou sendo preso. Posteriormente, Bruno acabou sendo julgado e condenado pelo Tribunal do Júri, juntamente com vários outros partícipes do crime. 
A mídia, aproveitando-se do fato de Bruno ser uma pessoa conhecida nacionalmente, cobriu cada detalhe da instrução criminal, até a data do julgamento. Amplamente divulgou o fato de que no ano anterior à morte de Eliza, a mesma teria procurado Bruno, comunicando-lhe que estava grávida, e ele teria tentado lhe forçar a tomar remédios abortivos. 
Foi demonstrado também, de maneira sensacionalista, o depoimento de um dos supostos envolvidos, que na época era apenas um adolescente, que afirmava que Eliza teria sido assassinada a mando de Bruno. 
Paulo Freitas (2018, p. 231) disserta acerca da problemática envolvendo a divulgação do depoimento do adolescente sobre Bruno, pois, ainda que ele tenha mudado a versão do depoimento, a sociedade já era conhecedora de seu teor:
O adolescente, no entanto, não compareceu ao tribunal do júri para prestar depoimento perante o conselho de jurados e, quando ouvido pelo Poder Judiciário, retratou-se publicamente de suas declarações anteriores para inocentar Bruno com quem mantinha laços de parentesco e de proximidade.
Também, acerca da temerosa influência da mídia neste caso, Paulo Freitas (2018, p. 231) muito bem pondera:
Apesar de se tratar de um caso criminal sui generis, um típico caso de homicídio sem cadáver, em que a ausência do corpo da vítima não só acarreta sérias dúvidas sobre a morte em si como, outrossim, acerca do modus operandi do crime, que em se tratando de homicídio, tem influência direta na pena, a mídia de um modo geral logo no início das investigações, deu como “certa” a morte da vítima, apontando logo de cara Bruno Fernandes como principal mentor intelectual crime, como cuidou de apresentar detalhes de como os fatos teriam ocorrido e qual o destino dado ao corpo da vítima. Nenhum único vestígio do corpo foi localizado até o momento. Bruno Fernandes foi condenado a 22 anos e 3 meses de reclusão. 
Por fim, o caso de Trisha Meili, que ocorreu em meados dos anos 80, nos Estados Unidos, que atualmente baseou a série “Olhos que condenam”, produzida pela Netflix, lançada no ano de 2019, diferentemente dos casos anteriores, se trata do caso onde pessoas inocentes foram condenadas devido a influência midiática local. A verdadeira história que a série retrata, de acordo com Anderson Narciso (2019) do site Mix de Séries, os cinco adolescentes Antron McCray, Kevin Richardson, Raymond Santana, Yousef Salaam e Korey Wise foram presos após um crime bárbaro, mesmo sem ter nenhuma prova que os ligasse ao fato. (NARCISO, 2019)
Na noite de 19 de Abril de 1989, os adolescentes estavam no Central Park, juntamente com dezenas de outrosjovens, ameaçando ciclistas. Ao mesmo tempo, a jovem Trisha Meili, foi vítima de um brutal ataque, foi agredida, estuprada e depois largada em uma poça de sangue. Ao acordar de um período de coma, a jovem não recordava sobre a noite do crime, fato este que dificultou a identificação do suspeito. (NARCISO, 2019)
Os jovens foram ligados ao crime pelo fato de estarem no mesmo local, na mesma noite. A história do jovem Korey Wise chamou atenção pela forma como o jovem foi envolvido pelas autoridades, quando apenas foi acompanhar o seu amigo Yousef Salaam e acabou sendo interrogado por mais de duas horas seguidas, sem qualquer acompanhamento de seus pais e, assim, o adolescente acabou ficando entre os cinco suspeitos do crime. Korey, com apenas 16 anos, cumpriu a sentença mais longa entre os meninos, ficando preso por mais de 13 anos e sendo o único deles a ser enviado diretamente à prisão de adultos. Dessa forma, a série retrata toda a coação mental e física que Korey sofreu ao longo dos anos. (NARCISO, 2019)
Posteriormente, o verdadeiro culpado pelo crime apareceu, confessando a sua autoria. Após amostras de DNA, somente no ano de 2002 os jovens foram libertados e inocentados. (NARCISO, 2019)
Sobre a tentativa de manter a população a favor da condenação dos jovens, por ser um caso notório na cidade e no país, Felipe Blanco Cruz (2019), para o site UOL, discorre que após as acusações, a vida dos cinco jovens e de suas famílias foram devastadoramente mudadas pelas circunstâncias e ataques populares. De acordo com o autor, quem mais atacou publicamente os garotos foi o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump chegou a publicar, no ano de 1989, um anúncio de página inteira no jornal "The New York Times", de forma sensacionalista e pedindo a volta da pena de morte no estado para punir os garotos. (CRUZ, 2019)
Diante das conjunturas apresentadas e as notáveis reportagens que coberturas em geral que a mídia realizava em cima dos cenários dos crimes, é possível perceber a especulação vergonhosa e indução da opinião pública pelos meios de comunicação, em prol do sustento dos programas sensacionalistas. Além disso, ao analisar brevemente os tantos outros crimes dolosos contra a vida que também foram explorados e tiveram o seu cenário fático repercutido nacionalmente por ter o potencial necessário para promover a curiosidade da população, como por exemplo o caso de Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos, Eloá Pimentel e Lindemberg Farias, Daniella Perez e Guilherme de Pádua, entre tantos outros, fica nítida a atenção especial conferida aos crimes dolosos contra a vida, o que, de fato, influencia a opinião pública e, temerosamente, o julgamento dos crimes. 
CONCLUSÃO
O presente estudo apresentou a influência da mídia no processo penal, bem como nas decisões do conselho de sentença do Tribunal do Júri. Foram analisados os princípios constitucionais e as garantias fundamentais previstas na Lei Maior, tais como o princípio da presunção da inocência do devido processo legal, bem como o direito à imagem e a intimidade em conflito com o não menos importante direito à liberdade de imprensa.
Foi verificado que, apesar de nenhum direito fundamental ser considerado de cunho absoluto e, também nenhum ser mais importante que o outro, ainda assim se pode entender que o limite de um direito se dá quando se invade a esfera do outro. Á vista disso, ao exercer a cobertura dos diversos casos de crimes dolosos contra a vida, a imprensa deve fazê-lo a fim de transmitir a informação aos telespectadores, e jamais com o objetivo de formar opinião. 
Quando ocorre a constante cobertura e divulgação dos crimes dolosos contra a vida pela mídia, a Liberdade de Imprensa invade os demais direitos estudados, pois instiga na população as mais diversas compreensões equivocadas sobre os cenários dos crimes, condenando antecipadamente os réus, de modo que, nem se posteriormente sobrevier uma prova de sua inocência, este teria os danos que lhe foram causados reparados.
Portanto, os espetáculos midiáticos fornecidos pelos programas de televisão ferem os Direitos Fundamentais inerentes à pessoa humana e assegurados a todos os brasileiros, e estão em total desacordo com os princípios Carta Magna e do Direito Processual Penal.
Quando estão envolvidas a liberdade e dignidade de um ser humano, deve lhe ser assegurada a total plenitude de defesa, para que possa apresentar a sua defesa perante o Tribunal, e este possa decidir, de maneira justa, com o respaldo técnico das provas dos autos, sobre da condenação ou absolvição da pessoa, baseando-se em todos os preceitos e valores constitucionais e garantias inerentes ao Estado Democrático de Direito. 
Não pode ser admitido que, implicitamente programas sensacionalistas ainda persistam em promover o prejulgamento e condenação antecipada dos réus, em prol da audiência e lucro dos programas jornalísticos. É importante destacar que na sociedade brasileira atual, que se encontra em expressiva discordância política e social, estes programas usurpem-se de sua função de informar e embarace a concretização dos direitos humanos, dificultando cada vez mais o debate acerca da preservação das garantias individuais. 
Foi possível perceber ao longo do presente estudo que se trata de uma questão ética por parte da imprensa sempre buscar a preservação do indivíduo, não permitindo, por conseguinte, que o seu direito à liberdade de imprensa, adentre no direito de outrem, visto que ambos são princípios basilares da sociedade, norteadores do Estado Democrático de Direito. 
Também, o presente trabalho buscou posicionar-se contrário às diversas violações de direitos individuais exercidas pela mídia, no sentido da seriedade que os meios de comunicação deveriam representar para a sociedade. Defendeu-se nessa pesquisa a necessidade de que o julgamento pelo conselho de sentença seja imparcial e adstrito aos fatos apresentados em audiência, de modo que não ceda espaço para os julgamentos midiáticos, os quais, na maioria das vezes são destituídos de qualquer valoração constitucional.
A partir desta pesquisa, portanto, foram analisados casos notórios de crimes dolosos contra a vida, nos quais fica claramente perceptível que passaram por grande repercussão e apelo midiático, assim, sensibilizando e atingindo o senso comum da população e, consequentemente, clamor social por justiça. 
Ao considerar que no Tribunal do Júri o julgamento é realizado justamente por jurados que representam a sociedade, temeroso é o papel social que a mídia vem exercendo perante os casos de maior notoriedade, tanto para o Estado Democrático de Direito quanto para a sociedade como um todo, tendo em vista a influência e mobilização social exercida nos exemplos trazidos. A influência da mídia nas decisões do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, portanto, se trata de um grande desfavor para a sociedade brasileira. 
Diante disso, se faz cada vez mais necessária a regulamentação da mídia no Brasil, tanto para garantir o seu correto funcionamento e sua preservação, quanto para garantir os demais direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988 para o cidadão brasileiro. 
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� Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Direito.
� Academica do 10º Semestre do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA; e-mail: catianesil@msn.com.
� Orientador Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria; Mestre Especialista em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra (UC) Portugal; Advogado criminalista; E-mail: � HYPERLINK "mailto:cipriani.adv@uol.com.br" �cipriani.adv@uol.com.br� .

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