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Lei Maria da Penha e Feminicídio: Um Mal que Precisa Ser Enfrentado

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JuliE ane da silva morilo
Universidade Paulista
LEI maria da penha e FEMINICÍDIO
O MAL QUE NEM TODO MUNDO QUER VER
UNIP/sp
2019�
JULIE ANE DA SILVA MORILO
Universidade Paulista
 
lei maria da penha e FEMINICÍDIO
O MAL QUE NEM TODO MUNDO QUER VER
UNIP/sp
2019
JULIE ANE DA SILVA MORILO
Universidade Paulista
 
lei maria da penha e FEMINICÍDIO
O MAL QUE NEM TODO MUNDO QUER VER
Aprovado em: ___/___/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Professora Doutora Cibele Mara Dugaich
_______________________________________
Professor Examinador
Universidade Paulista - UNIP
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois sem ele eu não chegaria até aqui, sem a força que ele me proporciona todos os dias eu não teria condições de concluir este curso. Agradeço também à minha mãe, Vânia, que sempre acreditou em meu potencial, me deu forças, me apoiou quando mais precisei e que sempre foi minha maior fonte de inspiração. Sou grata também ao meu pai 	Donizeti, por não me deixar desistir e por acreditar, apoiar e financiar o meu sonho. Ao meu namorado Richard, que todos os dias me apoia e acredita que eu posso sempre dar o meu melhor em tudo que eu faço Agradeço a todos os professores que me deram aula durante todo o curso de Direito, cada um de vocês contribuíram para que eu me torne uma excelente profissional e siga sempre dando o meu melhor em tudo que me propuser a fazer.
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“A violência é o último recurso do incompetente.”
- Isaac Asimov
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 – Gráfico demonstrando o aumento de casos de feminicídio do ano de 2018 para 2019 30
2 – Gráfico demonstrando as taxas de feminicídio no Brasil a cada 100.00 mulheres 32
 
3 - Imagem Ilustrativa de Ângela Diniz 33
4 - Imagem Ilustrativa de Isabela Miranda Lopes 34
5 - Imagem Ilustrativa de Tatiane Spitzner 34
6 - Imagem Ilustrativa de Aida Curi 35�
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
I – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 														 11
1.1 – Tipos de Violência Doméstica 13
1.1.1 - Violência doméstica emocional 14
1.1.2 - Violência doméstica social 14 
1.1.3 - Violência doméstica física 15
1.1.4 - Violência doméstica sexual 15 
1.1.5 - Violência doméstica financeira 16 
1.1.6 - Perseguição	 16
1.2 - Marcos Considerados Importantes para o Movimento Contra a Violência Doméstica 16
II – LEI MARIA DA PENHA	 20 
2.1 – Medidas Protetivas da Lei Maria da Penha 22
2.2 – Aplicação da Lei Maria da Penha para Transexuais 25
2.3 - Instituto Maria da Penha 27
III – FEMINICÍDIO 28
3.1 – Transfeminicídio 30
3.2 – Dados Estatísticos de Feminicídio no Brasil 31
3.3 – Casos de maiores repercussões 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 
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RESUMO
O presente trabalho tem como principal objetivo apresentar as discussões referentes à introdução da qualificadora do feminicídio no ordenamento jurídico brasileiro, realizando uma análise acerca do poder punitivo do Estado frente à repressão contra a violência de gênero. Antes mesmo de a Lei 13.104/2015 entrar em vigor em nosso País, a Lei do Feminicídio, o assunto já era uma questão regulamentada em alguns países da América Latina. O feminicídio, não só no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo, é a forma mais aguda violência contra a mulher, crime este que é cometido exatamente por sua condição de ser mulher, mas, nem todo crime de assassinato de uma mulher se enquadrará como sendo um crime de feminicídio e, para que assim sejam enquadrados, precisarão estar presentes a violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher. A Lei do Feminicídio veio como uma complementação à Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em 2006 e, surgiu como um amparo às mulheres que sofriam violência doméstica, mas que não previa uma qualificação para os casos de homicídio. Atualmente, o Brasil entra em 5º (quinto) lugar com mais casos de mortes de mulheres no mundo, porque mesmo com as Leis do Feminicídio e Maria da Penha, a violência contra a mulher vem crescendo cada vez mais, cada vez mais há notícias de que mulheres foram encontradas mortas, foram jogadas de seus apartamentos, foram jogadas em qualquer lugar, é preocupante o caminho que as coisas estão tomando. A inovação legislativa, muito embora represente um avanço na luta pela proteção da mulher, foi objeto de muitas críticas por parte de doutrinadores e operadores do direito. Por essa razão, buscou-se apresentar a nova qualificadora e refletir sobre a eficácia da criminalização do feminicídio como medida de combate à violência de gênero contra a mulher.
Palavras chave: Direito Penal; Feminicídio; violência; mulher; Lei Maria da Penha.
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ABSTRACT
The main purpose of this paper is to present the discussions regarding the introduction of the qualifier of feminicide in the Brazilian legal system, analyzing the punitive power of the State against repression against gender violence. Even before Law 13.104 / 2015 came into force in our country, the Law of the Feminicide, the issue was already a regulated issue in some Latin American countries. Feminicide, not only in Brazil but anywhere in the world, is the most acute form of violence against women, a crime that is committed pre-cisely because of her condition of being a woman, but not every crime of murder of a woman will fit as being a crime of feminicide and, in order to be so framed, domestic and family violence must be present, contempt or discrimination to the condition of being a woman. The Law of Feminicide came as a complement to the Maria da Penha Act, which came into force in 2006 and came as an aid to women who suffered domesticviolence, but did not provide for a qualification for homicide cases. Currently, Brazil comes in 5th (fifth) place with more cases of deaths of women in the world, because even with the Laws of the Feminicide and Maria da Penha, violence against women is growing more and more, there is more and more news of that women have been found dead, have been thrown out of their apartments, been thrown anywhere, is worried the way things are taking. Legislative innovation, while representing a breakthrough in the struggle for the protection of women, has been the subject of much criticism by lawyers and legal practitioners. For this reason, the aim was to present the new qualifier and reflect on the effectiveness of the criminalization of feminicide as a measure to combat gender-based violence against women. 
Keywords: Criminal Law; Feminicide; violence; woman; Maria da penha Law.
Introdução
Desde os tempos mais antigos, a estrutura pela qual a sociedade se organiza estabeleceu uma hierarquia entre homens e mulheres, encaixando a mulher como um papel social de inferioridade em relação ao homem. No intuito de garantir um controle sobre os corpos e as vidas das mulheres e, assegurando que se mantenham na posição de ser superior, que desde sempre lhes foi designada, o modelo androcêntrico¹ de organização social recorre de forma contínua ao uso da violência de diversas formas. 
Desde sempre as mulheres sofrerem muitos preconceitos, e esse número vem aumentando por segundo. Essas agressões ocorrem em diferentes âmbitos: no trabalho, no casamento, na participação social e, acontecem em todas as idades, classes sociais, etnias, religiões e opções sexuais.
Este trabalho tem como principal objetivo demonstrar o que é a violência doméstica, o que as mulheres muitas vezes passam e ninguém sabe.
No primeiro capítulo, será explicado de forma mais detalhada o que é a violência doméstica, de quais formas ela pode se manifestar, quais são os principais prejuízos para as pessoas que sofrem.
No segundo capítulo será contada a história de Maria da Penha, a mulher que ficou conhecida pela história triste que vive com seu marido, o histórico de agressões, as tentativas de assassinato, as sequelas que ela carrega até hoje. Falaremos também sobre a lei que recebeu o seu nome como uma gratificação por toda omissão do estado perante tudo o que lhe aconteceu, sobre as medidas protetivas que advém dela e, também, sobre o instituto criado por Maria da Penha para ajudar todas as pessoas que precisassem de ajuda.	
O trabalho será finalizado falando em seu terceiro capítulo sobre o crime de feminicídio, sobre o que ele representa na sociedade e na vida das mulheres que lidam diariamente com o medo de serem vítimas deste crime bárbaro, para quem a lei poderá ser aplicada, em quais circunstâncias. 
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1 – A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A Violência doméstica é definida como um padrão de comportamento que envolve violência ou outro tipo de abuso por parte de uma pessoa contra outra num contexto doméstico, como no caso de um casamento ou união de fato, ou contra crianças ou idosos. Quando é cometida por um cônjuge ou parceiro numa relação íntima contra o outro cônjuge ou parceiro denomina-se violência conjugal, podendo ocorrer tanto entre relações heterossexuais como homossexuais, ou ainda entre antigos parceiros ou cônjuges.
O relatório mundial de saúde define violência como sendo:
Uso intencional da força física ou do poder ou ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.
	Uma das imagens mais associadas à violência doméstica e familiar é a de um homem contra a mulher, normalmente namorado, marido ou ex, que agride sua parceira, motivado por um sentimento de posse sobre a vida e as escolhas daquela mulher. 
	A violência doméstica é caracterizada por ser um abuso físico, psicológico, sexual e até patrimonial, com o objetivo de manter poder ou controle sobre a outra pessoa com quem convive. O abuso pode acontecer por meio de ações ou até de omissões e, na maioria dos casos, as vítimas são as mulheres. 
	A palavra violência em si, é apenas um gênero que engloba vários tipos de ações e omissões, que podem ofender a integridade do próximo e um dos principais gatilhos é o ciúme, o sentimento de posse que o agressor tem sobre a vítima. 
	O ciúme excessivo é como um alerta para que se tenha cuidado com a pessoa com quem se convive, em muitos casos, antes de partirem para agressão física, a violência doméstica aparece como forma de controle excessivo, imposição de limites sem necessidade, 
	A violência doméstica começa quando o agente, o agressor, acredita que sua atitude é aceitável perante a sociedade, que ele agirá e sua conduta não acarretará nenhuma consequência, ele age dessa forma por acreditar que a outra pessoa, na maioria das vezes a namorada, noiva, esposa e até filha, é sua propriedade, assim, entende que tem o direito de fazer o que bem quiser como ofender verbalmente, agredir e, como acontece em muitos casos, assassinar.
	De acordo com uma entrevista concedida pela Delegada titular especializada em crimes contra a mulher (Andréa Nascimento, fonte: acrítica.com): 
O autor da violência doméstica sempre demonstra alguns sinais desde o início do relacionamento. Mas a mulher acaba interpretando como excesso de amor, de ciúmes e não de abuso. A partir do momento em que ele quer controlar a vida, o celular, as redes sociais, quer segregá-la até do convívio familiar, controlar a roupa, é preciso ficar atenta”, afirma Andréa Nascimento, delegada titular da Especializada em Crimes contra a Mulher do bairro Cidade de Deus, zona norte de Manaus (2018).
	Todos os tipos que se enquadram como violência doméstica são repudiáveis, mas os casos mais sensíveis que acabam comovendo muito mais as pessoas quando se é descoberto, são os casos de violência doméstica infantil, porque as crianças são mais vulneráveis e não têm os mesmos meios de defesa de um adulto, até mesmo quando a violência doméstica não é dirigida diretamente à criança, mas esta ação pode causar-lhe traumas psicológicos irreversíveis.
	Em média, a Polícia recebe, por dia, duas mil queixas de violência doméstica, entre elas uma porcentagem mínima é de violências que foram cometidas contra homens. Em sua maioria esmagadora, a violência é contra a mulher. 
	Em 2015, o governo brasileiro realizou um estudo que mostrou que a cada sete minutos uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil e que, mais de 70% da população feminina brasileira pode vir a sofrer algum tipo de violência ao longo de sua vida. 
Nesta mesma pesquisa, 1 a cada 4 mulheres relata já ter sofrido algum tipo de violência psicológica ou física. 
Muito embora o problema com a violência doméstica tenha sido reconhecida pelo governo brasileiro na década de 1940 como algo que precisava de atenção, só começaram a surgir meios para isso a partir de 1985, quando houve a criação da primeira unidade da Delegacia da Mulher no estado de São Paulo e, posteriormente. em 07/08/2006, houve a publicação da Lei Federal n.º 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha.	
O Artigo 5º da referida lei conceitua a violência doméstica:
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;  
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;  
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convividocom a ofendida, independentemente de coabitação.  
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 
	É vital que a vítima que sofre algum tipo de violência física procure por ajuda para sair desse relacionamento abusivo. O silêncio, neste caso, pode conduzir à morte.
1.1 – Tipos de Violência Doméstica
	Qualquer ação ou omissão que seja considerada de natureza criminal, ocorrendo entre pessoas que residam no mesmo espaço doméstico ou não, se tratando de ex-cônjuges, ex-companheiros, ex-namorados, progenitor de descendente comum, ascendente ou descendente, que envolta sentimentos físicos, sexuais, psicológicos e econômicos, são englobados em violência doméstica, conforme previsão do artigo 7º da lei 11.340/2006:
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 
Em um resultado divulgado na internet, no ano de 2014, foram realizadas ao todo 52.957 (cinquenta e duas mil, novecentos e cinquenta e sete) denúncias de mulheres que sofriam algum tipo de violência doméstica. Deste total, 51.68% foram denúncias de violência física, ao todo 27.369 (vinte e sete mil, trezentos e sessenta e nove), 31,81% foram denúncias de violência psicológica, ao todo 16.846 (dezesseis mil, oitocentos e quarenta e seis), 9,68% foram denúncias de violência moral, perfazendo um total de 5.126 (cinco mil, cento e vinte e seis, 1,94% denúncias de violência patrimonial, um total de 1.028 denúncias, 2,86% de violência sexual, totalizando 1.517 denúncias e, 1,76% foram denúncias de cárcere privado, totalizando 931 denúncias (Fonte: blog mulheres socialistas, 2015).
1.1.1 - Violência doméstica emocional
	A violência doméstica emocional é caracterizada por haver um desequilíbrio de poder, que é percebido quando uma das pessoas do relacionamento, tanto o homem quanto a mulher, tentam exercer, ou em alguns casos já exerce, um alto controle sobre o psicológico do seu companheiro, é uma forma de fazer o outro se sentir inferior, omisso, dependente ou culpado. Esse tipo de violência não costuma não deixar marcas tão visíveis e, por este motivo, muitas pessoas não percebem que vivem em um relacionamento onde há uma violência, onde há um controle maior de uma só parte. 
	As pessoas que sofrem este tipo de abuso acabam esquecendo-se da própria vida e abandonam suas próprias vontades, passando assim a viver em função de satisfazer o outro e assim, se tornando uma pessoa submissa e, assim, passam a acreditar que a culpa por tudo que está acontecendo é sua e, na imagem que foi criada a seu respeito pelo seu parceiro, o que gera uma rotina de justificativas advindas da impossibilidade de enxergar com clareza as atitudes do agressor, assim, a vítima acaba anulando a sua própria vida e trabalhando intensamente para manter o outro feliz e realizado.
	Há várias situações que vão das mais sutis às explícitas, que consistem em o sujeito criar situações em que agrada e presenteia a mulher, com a intenção de fazê-la ver o quão "especial" ele é e a sorte que você tem de tê-lo em sua vida, mas sempre na intenção de manipula-la e não de realmente fazê-la feliz, até decidir coisas importantes na vida do casal, como viagens e aquisição de bens, sem consultá-la e ignorando suas vontades. 
	De acordo com o relatado por uma Psicóloga (Heloisa Schauff), em uma entrevista:
Outros exemplos são controlar e auditar todas as finanças e exigir que ela preste contas do que vai gastar ou do que gastou, chamá-la por nomes depreciativos, fazer comentários humilhantes na frente dos filhos, diminuir suas realizações e responsabilizá-la pelos problemas. A culpa, não importa de que, é sempre dela (2019). 
	O agressor tenta de toda forma minimizar os argumentos do outro, desqualificando suas prioridades e qualidade e, enaltecendo apenas os seus desejos, fazendo com quem pareçam ser mais importantes do que qualquer outra coisa e assim, o outro passa a ser sempre o responsável e culpado por todas as situações negativas ou frustrantes de suas vidas.
	
1.1.2 - Violência doméstica social
A violência doméstica social é qualquer comportamento que parte do agressor para tentar controlar a vida social de seu companheiro, tentando assim impedir que este visite seus familiares, seus amigos, controlar seu contato cortando os telefonemas ou controlando as chamadas e, até trancando o outro em casa para que não possa sair sozinho. Está é uma forma que impeça o outro de ser independente, de tomar suas próprias decisões.
1.1.3 - Violência doméstica física
São inúmeras as formas que a violência física pode tomar, podendo ser socos, chutes, tapas, cortes, queimaduras e até mutilações. Assim como há táticas para causar sofrimento ao outro, sendo por imobilização e asfixia ou até arremesso de objetos pesados, acabando por causar ferimentos profundos na vítima, que na maioria das vezes não tem culpa do que está acontecendo, mas que no fim acaba por ser sentir culpada pela pressão e controle que o outro tem sobre sua mente.
1.1.4 - Violência doméstica sexual
A violência doméstica sexual é caracterizada por qualquer comportamento em que o companheiro obrigue o outro, forçosamente, a protagonizar atos sexuais sem vontade, pressionando ou forçando o companheiro para ter relações sexuais quando este não quer; pressionar, forçar ou tentar que o companheiro mantenha relações sexuais sem proteções necessárias, manter relações com o companheiro quando este está dormindo ou até sob efeito de bebidas e até forçar o outro a ter relações com outras pessoas.
Muitas pessoas ainda acham estranho aplicar o termo estupro para duas pessoas que mantenham relações frequentemente, mas existe, quando uma das partes não quer e a outra força para que o ato aconteça, esta atitude é denominada de Estupro Marital. 
Neste sentido, necessário se faz mencionar o entendimento do ilustre ROBERTO DELMANTO (2000, p. 413):
(…) por sua vez, entende que embora a relação sexual voluntária seja lícita ao cônjuge, o constrangimento ilegal empregado para realizar a conjunção carnal à força não constitui exercício regular de direito, mas, sim, abuso de poder, por tanto a lei penal não autoriza o uso de violência física ou coação nas relações sexuais entre os cônjuges.
	E complementa JULIO FABBRINI MIRABETE: (2001, p. 1245-1246):
(…) embora a relação carnal voluntária seja lícita ao cônjuge, é ilícita e criminosaa coação para a prática do ato por ser incompatível com a dignidade da mulher e a respeitabilidade do lar. A evolução dos costumes, que determinou a igualdade de direitos entre o homem e a mulher, justifica essa posição. Como remédio ao cônjuge rejeitado injustificadamente caberá apenas a separação judicial.
A conclusão que se obtém disso é que, não é porque há o casamento, que uma das partes pode agir como dono do corpo da outra e abusar quando bem entender, sem o consentimento.
1.1.5 - Violência doméstica financeira
A violência doméstica financeira ocorre quando o agressor tenta controlar os gastos de outra pessoa, mesmo quando os gastos realizados não tenham sido com o seu dinheiro, fazendo com que a vítima lhe informe sobre tudo o que está sendo feito com o seu dinheiro para que ele possa exercer o máximo de controle possível,  como controlar o salário do outro, recusar dar dinheiro ao outro, em alguns casos a vítima é forçada a justificar qualquer gasto que é feito e, em casos em que a vítima é totalmente ou parcialmente dependente, há ameaças de retirar o apoio financeiro como uma forma de controle.
Entre os anos de 2012 e 2016 foi realizado um levantamento feito pelo Núcleo de Violência Doméstica da Promotoria de Justiça de Taboão da Serra , do qual restou constatado que praticamente 30% das mulheres que sofriam violência doméstica e optavam por não denunciar seus parceiros, estavam em situação de risco por dependerem economicamente dos companheiros, sem perspectivas e oportunidades de trabalho, pois na maioria dos casos o companheiro as privavam de trabalhar fora, tampouco de resgate da autoestima e coragem para saírem de uma vida marcada pela violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
1.1.6 - Perseguição
A perseguição também é vista como violência doméstica, pois em casos em que o agressor não tem confiança na parceira, ou parceiro, ele começa a prossegui-la pelos lugares, segue até o trabalho, escola, faculdade, vigia a residência, tenta controlar constantemente os movimentos do outro como, aonde vai, com quem vai, os horários, assim, invadindo totalmente o espaço da outra pessoa.
- Marcos Considerados Importantes para o Movimento Contra a Violência Doméstica
1970: A partir da segunda metade da década de 70, as mulheres, decidiram não aceitar mais a ideia de que “em briga de marido e mulher não se deve mete a colher”. Com o slogan “Quem ama não mata” foram às ruas e protestaram contra a absolvição, pela Justiça, de homens que assassinavam suas esposas e ex-esposas em nome da “legítima defesa da honra”. A época marcou o começo das passeatas de protesto contra a complacência e a impunidade dos agressores; a inclusão de estudos sobre o tema nas universidades; e a reivindicação por leis e serviços específicos.
1980: Houve a criação do “SOS Mulher” para atendimento às vítimas de violência. O serviço, idealizado e mantido pelas organizações de mulheres, este projeto começou nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
1983: Houve a criação dos primeiros Conselhos Estaduais e Municipais de Direitos da Mulher, que são espaços no Poder Executivo, onde organizações de mulheres participam para elaborar, deliberar e fiscalizar a implementação de políticas públicas para mulheres.
1984: Houve a assinatura, pelo Brasil, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1979. A Convenção é o primeiro instrumento internacional de direitos humanos voltados especialmente para a proteção das mulheres. Tem por objetivo promover a igualdade entre os gêneros e a não discriminação das mulheres. O artigo 1º considera discriminação contra a mulher “toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo”.
1985: Houve a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e das delegacias especializadas no atendimento às vítimas de violência, importantes políticas públicas de sensibilização e combate à violência contra as mulheres.
1992: A Câmara dos Deputados constitui uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com incentivo e apoio do CNDM e dos movimentos de mulheres, para investigar a violência contra a mulher. O relatório final classifica a situação como grave, incluindo proposta de Projeto de Lei no sentido de conter o avanço deste tipo de violência.
1994: Assinatura pelo Brasil da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), que foi ratificada no ano de 1995, que define a violência contra a mulher como “qualquer ação ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”. Além disso, estabelece que os países devam promover políticas públicas de prevenção, punição e erradicação dessa forma de violência.
1995: O Brasil assina a Declaração e a Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing. Com relação à violência doméstica, a Plataforma prevê, além das medidas punitivas ao agressor, ações voltadas para prevenção e assistência social, psicológica e jurídica à vítima e a sua família. Prevê, também, ações que possibilitem a reabilitação dos agressores.
2002: Criação da Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher (SEDIM) transformada, em 2003, em Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). Esta é mais uma instância governamental, junto com o CNDM, para a promoção de programas de erradicação da violência contra as mulheres. 
Lançamento da Plataforma Política Feminista. Este documento, escrito com a colaboração de mais de cinco mil ativistas do movimento de mulheres em 26 Conferências Estaduais, foi aprovado em junho de 2002, na Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras, em Brasília. A Plataforma contém análise e desafios para a sociedade, o Estado e outros movimentos, além do próprio movimento feminista.
Formação de um consórcio de entidades feministas (CFEMEA, ADVOCACY, AGENDE, CEPIA, CLADEM e THEMIS) e juristas para estudar e elaborar uma minuta de Projeto de Lei integral, estabelecendo prevenção, punição e erradicação da violência doméstica e familiar contra as mulheres. Além de criar diretrizes para a política nacional para o enfrentamento da violência doméstica e familiar, este Projeto deveria prever novos procedimentos policiais e processuais e a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
2003: O Estado brasileiro apresenta o seu primeiro Relatório ao Comitê CEDAW, referente ao período de 1985-2002. Após análise, o Comitê recomendou a adoção, sem demora, de uma lei integral de combate à violência doméstica contra as mulheres.
2004: Em 25 de novembro, por ocasião do Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o Executivo encaminha o Projeto de Lei ao Congresso Nacional, que recebe, na Câmara dos Deputados, o número PL 4.559/2004.
2006: Os fóruns de mulheres de todo Brasil, seguindo iniciativa do estado de Pernambuco, realizam, em março, as Vigílias pelo Fim da Violência contra as Mulheres, para denunciar a violência e os homicídios de mulheres e pedir a aprovação do PL 4.559/2004. 
O Projeto é aprovado no Plenário da Câmara e vai para o Senado, onde recebe o número PLC 37/2006. É discutido e aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), tendo como relatora a senadora Lúcia Vânia. Em seguida é encaminhado para o Plenário do Senado, onde também é aprovado, seguindo então para sanção presidencial. 
Em todas as instâncias, o projeto foi aprovado por unanimidade e sua tramitação no Congresso Nacional durou 20 meses. No dia 7 de agosto, em cerimônia no Paláciodo Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina a Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, que entrou em vigor no dia 22 de setembro. Com isso, escreveu um novo capítulo na luta pelo fim da violência contra as mulheres.
II – LEI MARIA DA PENHA – número 11.340/2006
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
A Lei número 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada em 07 de agosto de 2006, pelo Presidente à época Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de punir de uma forma mais rigorosa os agressores contra a mulher no âmbito doméstico e familiar.
A Lei recebeu este nome como uma homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que foi agredida por seu marido, Marco Antonio Heredia Viveiros, durante anos, o qual, no ano de 1983, tentou assassina-la por duas vezes. 
A primeira tentativa de homicídio ocorreu na noite de 29 de maio de 1983, Maria da Penha tinha apenas 38 anos, então, seu marido Marco Antonio deu-lhe um tiro nas costas enquanto dormia e, como resultado do tiro, Maria da Penha ficou paraplégica devido a lesões irreversíveis na terceira e quarta vértebras torácicas.
Maria da Penha relata em seu livro Sobrevivi... Posso contar (2010, p. 39):
Acordei de repente com um forte estampido dentro do quarto. Abri os olhos. Não vi ninguém. Tentei mexer-me, mas não consegui. Imediatamente, fechei os olhos e um só pensamento me ocorreu: “Meu Deus, o Marco me matou com um tiro”. Um gosto estranho de metal se fez sentir, forte, na minha boca, enquanto um borbulhamento nas minhas costas me deixou ainda mais assustada. Isso me fez permanecer com os olhos fechados, fingindo-me de morta, porque temia que Marco desse um segundo tiro.
Marco Antonio negou a policia que havia atirado em sua esposa, alegando que houve um assalto na residência, mas a história foi desmentida pela Pericia realizada posteriormente.
Quatro meses depois, quando Maria da Penha retornou para sua casa do hospital, após realizar duas cirurgias por consequências do tiro e, ele a manteve em cárcere privado, e tentou eletrocuta-la durante o banho, em uma tentativa de assassina-la.
Ao ser encorajada e decidir que deveria denunciar seu marido, Maria da Penha sofreu com a Justiça Brasileira, que não acreditava em sua história. 
As investigações sobre o caso começaram ainda em junho de 1983, mesmo ano em que ocorreram as tentativas, mas a denuncia ao Ministério Público só foi apresentada em setembro de 1984, um ano e três meses mais tarde e, somente no ano de 1991 é que houve o julgamento em primeira instância do caso, quando Marco Antonio foi condenado a 15 anos de prisão, mas, devido aos Recursos interpostos por seus advogados, no ano de 1996 houve a redução para 10 anos e 6 meses de prisão, decisão esta que também foi objeto de recurso.
Diante de toda morosidade do judiciário com seu caso, Maria da Penha tentou de todas as formas com que seu agressor pagasse pelo que havia lhe causado. 
Foi quando com a ajuda de ONG’s que visavam a proteção à mulher, Maria da Penha denunciou o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos e, mesmo com a denuncia realizada, onde contava uma grave violação dos direitos humanos e deveres de proteção, documentos estes assinados pelo Estado, o Brasil manteve-se inerte e não se manifestou em nenhum momento no processo. 	 
Somente no ano de 2001 é que o Estado Brasileiro foi responsabilizado por sua negligência e omissão em relação à violência doméstica praticada contra as mulheres.
As ações cometidas por Marco Antonio foram consideradas, pela primeira vez na história, pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Unidos como crime de violência doméstica.
Após seríssimas recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, verificou-se que era necessário tratar o caso de Maria da Penha como uma violência contra a mulher em razão do seu gênero, pelo fato de ser mulher reforça não só o padrão recorrente desse tipo de violência, mas também acentua a impunidade dos agressores. 
O projeto de lei nº 4.559/2004 foi votado e obteve aprovação por unanimidade tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal e, assim, em 07 de agosto de 2006 houve a sanção da lei 11.340/2006, que foi batizada de Maria da Penha pelo Governo Federal como reconhecimento de sua luta contra as violações dos direitos humanos das mulheres.
A referida lei fez com que o crime de violência doméstica deixasse de ser tratado como um crime de menor potencial ofensivo e acabou com as penas que eram cumpridas com o pagamento de multas e cestas básicas. 	
Em seu artigo 5º caput, a lei elenca cinco tipos de violência doméstica: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral e, com uma recente alteração no artigo 10-A, no ano de 2017, passou a ser direito da mulher que esteja em situação de violência doméstica e familiar, que o atendimento policial e pericial, sejam realizados preferencialmente por servidores do sexo feminino, se forem da vontade da vítima. Vejamos:
Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores – preferencialmente do sexo feminino – previamente capacitados. 
Quando uma mulher, vítima de agressão, resolve denunciar o seu parceiro por violência doméstica, depois de realizada a denúncia, o magistrado responsável pelo caso tem de tomar providências em até 48 horas, podendo, dependendo do caso, ser concedida uma medida protetiva de urgência, mesmo que não tenha sido realizada uma audiência prévia e, em caso de descumprimento da medida por parte do agressor, o mesmo poderá ter sua prisão preventiva decretada.
Em uma entrevista concedida, Maria da Penha foi questionada sobre o porquê ainda era tão difícil falar sobre a violência contra a mulher no Brasil e, assim, expôs sua opinião:
Eu acredito que é porque é um assunto que nunca foi debatido da forma como está sendo atualmente, né? Antes da lei, as feministas, as pessoas mais intelectualizadas e ligadas aos movimentos sociais falavam sobre isso de forma isolada. Mas, com a lei, eu acredito que essa conscientização aumentou. E aumentou o interesse das mulheres em saber como sair dessa situação. A principal finalidade da lei não é de punir os homens, como muitos dizem. É de punir o homem agressor. Além proteger a mulher da violência doméstica, e avisá-la de que ela tem direitos (2016, fonte: Blog Patricia Galvão).
	E continuou:
É muito importante o atendimento ao agressor. Muitos repetem a educação que tiveram e, por isso, se tornam agressores. No momento em que esse homem é preso, ele não se acha responsável pelo crime, porque foi educado para tratar as mulheres daquela forma. Precisa haver essa desconstrução. O Instituto Maria da Penha luta para que, além das políticas públicas ligadas à lei, haja uma conscientização e a desconstrução da cultura machista que tanto maltrata as mulheres (2016, fonte: Blog Patricia Galvão)..
		
2.1 – Medidas Protetivas da Lei Maria da Penha 
As medidas protetivas de urgência da Lei Maria da Penha é um dos mecanismos criados para prevenir a violência doméstica e familiar, assegurando que todas as mulheres que dela precisem, gozem dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e tenham oportunidades e facilidades para viver sem violência, com a preservação de sua saúde físicae mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Diante de qualquer das ações previstas no artigo 5º da lei, que configure violência doméstica, as medidas protetivas podem ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e da manifestação do Ministério Público, devendo ser o Ministério Público prontamente comunicado.
Dada sua aplicação em situações de urgência, as medidas protetivas devem ter caráter autônomo, não precisando que seja instaurado inquérito ou processo penal, já que a rapidez na sua expedição é essencial para sua efetividade e segurança da vítima. Portanto, o juiz avalia a situação sem precisar ouvir antes a outra parte, ou seja, de forma liminar. Somente após serem concedidas as medidas protetivas é que o agressor é comunicado, passando a estar obrigado desde sua intimação.
Existem dois tipos de medidas previstas para aplicação. Um tipo é aplicado diretamente à mulher e aos seus filhos, com a intenção de protegê-los, estando expressas nos artigos 23 e 24 da Lei 11.340/2006. Vejamos os artigos:
“Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
II - Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - Determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. ”
	Foram criadas também, medidas protetivas para serem aplicadas diretamente ao agressor, de forma também urgente, visando uma forma de proteção da vítima e de seus filhos. A medida protetiva aplicada ao agressor tem previsão expressa no artigo 22 da lei e se divide em cinco tipos:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Antigo Código de Processo Civil).
As medidas protetivas podem ser cumuladas, dependendo de cada caso. 
Para que a vítima de agressão tenha o suporte de uma pedida protetiva, ou de mais de uma, se for o caso, ela deverá proceder com a denúncia de seu agressor perante a delegacia, de preferência a delegacia da mulher, especializada para este tipo de crime. 
Após o registro do boletim de ocorrência relatando as acusações sofridas e requerendo a concessão de medida protetiva, o pedido deverá ser remetido ao juízo competente pelo Delegado responsável, devendo o pedido ser apreciado pelo magistrado em até 48 horas, ou, em casos que forem considerados de maior urgência, os pedidos podem ser direcionados diretamente ao juiz, por petição, o qual deverá ser apreciado também no prazo de 48 horas. 
Os agentes de segurança pública e a justiça têm o dever de requerer a solicitação das medidas ao sistema de justiça perante a solicitação da vítima, vez que ainda existem muitos casos em que o profissional que atende a vítima considera que a mesma "está exagerando" m seu depoimento e não reconhece a gravidade da violência doméstica e familiar e, são estes casos, que muitas vezes acabam entrando para o índice de Feminicídio.
Como a própria Maria da Penha já expôs sua opinião em uma entrevista em que à questionaram se ainda havia muita resistência quanto a quem aplica e para quem é aplicada a lei:
Sim. Tanto que os agressores continuam agredindo, né? Um exemplo: você veja que, todo policial, ao ser chamado para acudir uma mulher vítima de violência ele é orientado e treinado para prender o agressor em flagrante. Mas o que acontece? Muitos policiais deixam de prender e aconselham o casal. Isso não é correto. Eles não têm que perguntar nada. Eles têm que prender o agressor em flagrante. E quando isso não acontece, as mulheres perdem confiança no poder público. Porque a lei diz uma coisa, mas o Estado não cumpre o que é determinado (2016, Fonte: Blog Patricia Galvão).
Um dos motivos pelos quais muitas mulheres ainda permanecem inertes diante das agressões do seu parceiro é porque muitas ainda se sentem desamparadas, mesmo com a aplicação da lei, muitas mulheres ao procurarem ajuda são desencorajadas pelos próprios oficias da lei, muitas vezes ouvindo que são as culpadas por tal agressão ter acontecido.
A atitude dos gestores que têm autonomia para aplicação da Lei é importante para que haja a garantia de que a Lei será realmente aplicada e, de forma justa às todas aquelas que dela precisarem. No momento em que há um compromisso com a causa por parte do Poder Público, há um compromisso para acabar de vez com a violência doméstica.
2.2 – Aplicação da Lei Maria da Penha para Transexuais
Após dez anos de sua vigência, a Lei Maria da Penha número 11.340/06, sofreu alteração contemplando a orientação sexual da vítima. 
Já existem decisões, jurisprudências de tribunais de Justiça que passaram a aplicar a legislação também para mulheres transexuais. A lei ressalta que “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservarsua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. ”
	O Superior Tribunal de Justiça já estabeleceu que, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade as proteções da Lei Maria da Penha poderão ser aplicadas a quem exerce o papel social de mulher, seja biológica, transgênero, transexual ou até homem homossexual. 
Restou pacificado também, que a lei poderá ser aplicada em caso em que o sujeito ativo da violência doméstica contra elas seja também do sexo feminino. 
O primeiro caso a ser aceito pela Defensoria Pública, foi uma medida protetiva para proteger uma mulher transgênero de sua mãe, que não aceitava sua escolha.
A mulher havia assumido para sua família em janeiro de 2016 que era transgênero e, a partir de então, passou a sofrer grandes rejeições de sua mãe, que acreditava que a escolha da filha não passa de uma doença mental adquirida pelo convívio com amigos, os quais considerava “más influências”. Devido às ideias de sua mãe, a mulher transgênero mudou-se para Minas Gerais com sua companheira, que também é transgênero.
Após certo tempo, a mãe, mostrando-se arrependida por suas atitudes, buscou a reconciliação. A filha acreditou na mudança e voltou a morar perto dela. No entanto, a mãe retomou a intolerância em relação à sua orientação sexual interná-la em clínica psiquiátrica, contra a sua vontade. Assim, certo dia, enfermeiros arrastaram-na, à força, para ambulância que a levaria ao estabelecimento. 
Durante a internação, a mulher foi submetida à pseudotratamento e teve seu cabelo raspado. Para evitar que causassem mais sofrimentos à jovem, a Defensoria Pública pediu à Justiça que estabelecesse medidas cabíveis para protegê-la de sua mãe.
Ao julgar o caso, o juiz da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Gonçalo, André Luiz Nicolitt, apontou que a internação e o corte de cabelo forçados violaram a dignidade humana da mulher transgênero e, ainda ressaltou:
Convicções contrárias à orientação e identidade sexuais da pessoa não merecem acolhida nos dias de hoje, devendo o Poder Judiciário repelir violação ao arcabouço de direitos fundamentais da pessoa humana, em obediência ao princípio da inafastabilidade da jurisdição (2017, Fonte: Conjur).
(...)
O gênero é um conceito sociológico independente do sexo. Logo, se a filha se veste como mulher, se identifica socialmente como mulher, ingere medicamentos hormonais femininos, ou seja, se vê e se compreende como mulher, não possuindo terceira pessoa autoridade para designá-la de outra forma (2017, Fonte: Conjur).
Desta forma, o juiz aceitou parcialmente o pedido realizado pela Defensoria Pública e ordenou que a mãe não chegasse a menos de 500 metros da filha e, que não entrasse em contato com ela por nenhum meio de comunicação. Além disso, determinou a busca e apreensão dos objetos pessoais da mulher transgênero que ainda estavam na casa de sua mãe.
Há um Projeto de Lei em trâmite perante a Câmara dos Deputados que visa a ampliação da proteção para pessoas transexuais e transgênero, promovendo a alteração do parágrafo único, do artigo 5º da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, passando a vigorar, se for aprovada, com a seguinte redação: “Art. 5º [...] Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual e se aplicam às pessoas transexuais e transgêneros que se identifiquem como mulheres. ” E, do artigo 2º para que passe a vigorar com a seguinte redação: “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”
2.3 - Instituto Maria da Penha
O Instituto Maria da Penha foi fundado no ano de 2008 e tem sede em Fortaleza/CE.
Houve a criação do Instituto para que outras mulheres espalhadas pelo país pudessem ter um auxilio que nem sempre encontram dentro de suas casas. Muitas vezes é necessário mais do que vontade de denunciar um parceiro, é necessária coragem, para denunciar e seguir em frente livre das agressões sofridas.
Ainda existem muitas mulheres que sofrem todos os tipos de agressões de seu companheiro e não têm coragem de denunciar, muitas vezes por medo de algo acontecer a si ou aos seus filhos, medo de ficar desamparada por depender financeiramente de seus companheiros e, em muitos casos, até por sofrerem ameaças constantes dos mesmos.
O Instituto não possui fins lucrativos e, tem como uma de suas funções um mapeamento de violência doméstica, para que possam ter um controle de quais lugares ainda acontecem muitos casos de violência, comparações com os outros anos para ter um controle se os casos estão crescendo ou diminuindo.
O Instituto aceita doações de todos os lugares do país para continuar ajudando aquelas que precisarem e também aceitam voluntários, para continuarem com a luta contra a violência doméstica.
	
III – Feminicídio 
Descrição de Feminicídio de acordo com o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher:
O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante (2013, CPMI-VCM).
O crime de Feminicídio, desde 2015 quando houve a sua promulgação, é considerado um homicídio doloso qualificado que, com a sua criação, houve a inclusão do rol de crimes hediondos e, que recebe este nome por ser praticado contra a mulher, justamente por sua condição de sexo feminino, ou seja, desprezando, e desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as mulheres tivessem menos direitos do que os homens. O crime se enquadra no rol de crimes hediondos no ordenamento jurídico Brasileiro.
O feminicídio se configura quando é comprovada que a causa do assassinato, decorreu exclusivamente pelas questões de gênero, significando que a mulher foi morta simplesmente por ser mulher.
De acordo com o livro Diretrizes Nacionais Feminicídio – Investigar Processar e julgar (2016, p. 19):
“Femicídio” ou “feminicídio” são expressões utilizadas para denominar as mortes violentas de mulheres em razão de gênero, ou seja, que tenham sido motivadas por sua “condição” de mulher. O conceito de “femicídio” foi utilizado pela primeira vez na década de 1970, mas foi nos anos 2000 que seu emprego se disseminou no continente latino-americano em consequência das mortes de mulheres ocorridas no México, país em que o conceito ganhou nova formulação e novas características com a designação de “feminicídio”.
	 Os casos em que infelizmente acabam com o assassinato da mulher, normalmente começam em casais onde o companheiro tem a intenção de sempre estar no controle da vida da mulher, que ter sempre o controle sobre todas as escolhas tomadas por ela, desde o que fazer até o que vestir ou com quem andar, costumam agredir sua companheira, de uma ou de diversas formas e, como em muitos casos, a mulher não tem coragem de denunciar o parceiro, assim, se mantém em um relacionamento abusivo, que a cada dia que passa as condições só tendem a piorar. 
Foi em atendimento a um requerimento da Convenção Interamericana, que em 2015 foi criada a qualificadora do feminicídio, com promulgação da Lei número 13.104/2015, que incluiu o inciso VI, ao parágrafo 2º do artigo 121 do Código Penal:
“Art. 121. Matar alguém:
Homicídio qualificado
§ 2°Se o homicídio é cometido:
VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminine”
Atualmente o feminicídio pode ser caracterizado de três formas: 
Feminicídio íntimo: O feminicídio íntimo é considerado quando há uma relação de afeto, intimidade e até de parentesco entre a vítima e o seu agressor/assassino. É a forma se feminicídio mais frequente e que vem crescendo cada vez mais. 
É assustadora a quantidade de casos de feminicídio que não noticiados pelos telejornais semanalmente. 
Em uma pesquisa realizada pelo G1, os casos de feminicídio registrados no primeiro semestre de 2019, somente no estado de São Paulo, aumentaram em 44% em relação ao mesmo período no ano de 2018, nesses seis meses, foram constatados 82 casos de feminicídio e, 60 destes casos ocorreram dentro da própria casa da vítima. É assustadora a forma como os números em relação ao feminicídio só crescem conforme passam os anos. Quanto mais o assunto está em alta, mais homicídios acontecem.
Feminicídio não íntimo: O feminicídio não íntimo é caracterizado nos casos cometidos por homens que não possuía nenhuma relação com sua vítima, nem íntima, familiar ou de convivência, mas havia uma relação de confiança, hierarquia ou amizade, tais como amigos ou colegas de trabalho, trabalhadores da saúde, empregadores., segundo tenha ocorrido a prática de violência sexual ou não
Feminicídio por conexão: O feminicídio por conexão acontece quando uma mulher, na tentativa de intervir, tentar ajudar outra mulher que está em condição de perigo, acaba sendo morta, pelo mesmo homem.
Vejamos abaixo o gráfico que ilustra o aumento gradativo em comparação aos 6 (seis) primeiros meses nos anos de 2018 e 2019:
3.1 – Transfeminicídio
	O Transfeminicídio é caracterizado como a vontade de eliminar a população transexual no Brasil, que tem como principal motivo o nojo e o ódio. Para muitas pessoas este crime é visto mais como um crime de homofobia, mas se parar para analisar cada caso concreto, em que os crimes têm as mesmas circunstâncias que aqueles que são reconhecidos como crime de feminicídio, não há porque não serem reconhecidos como tal.
	Recentemente, no dia 09 de agosto de 2019, a 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por votação unânime, rejeitou um recurso interposto por quatro acusados em um processo de agressão e, manteve como caso de Feminicídio um crime cometido contra uma transexual.
	O caso em questão foi da estudante Jéssica Oliveira, agredida por quatro pessoas dentro de uma lanchonete em Taguatinga, em abril de 2018.
	A iniciativa de indiciar os agressores por tentativa de Feminicídio foi da Policia Civil, que posteriormente foi denunciada nos mesmos termos pelo Ministério Público, a qual foi aceita pela Justiça.
3.2 – Dados Estatísticos de Feminicídio no Brasil 
A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais,  em determinada época se dedicou a estudar o feminicídio para que fossem preenchidas lacunas de dados sobre este crime, realizou uma pesquisa para que pudesse obter dados sobre os indíces de feminicídio que já ocorreram, pois as informações antes existentes não eram muito relevantes e aprofundadas.
Para realização da pesquisa, foi utilizada como fonte de dados oficiais de casos existentes, as declarações de óbito que puderam ser obtidas junto ao Sistema de Informações de Mortalidade, Sistema da Secretaria de Vigilância em Saúde e do Ministério da Saúde, compreendendo os períodos de 1980 a 2013. 
De acordo com o resultado da pesquisa, neste período de 33 anos, foram apuradas 106.093 (cento e seis mil e noventa e três) mulheres vítimas de homicídio. Mas, de acordo com os relatórios analisados não havia como saber quais eram vítimas de feminicídio ou não, por falta de informações sobre o criminoso e se ele tinha alguma relação mais íntima com a vítima. 
Analisando os dados disponíveis para pesquisa, pode-se perceber que no ano seguinte a promulgação da Lei número 11.340/2006, Lei Maria da Penha, as taxas de feminicídio que no ano de 2006 eram de 4,2 por 100.000 (cem mil) mulheres, caíram para 3,9 por 100.000 (cem mil), mas, até o ano de 2010 elas cresceram de forma significativa novamente, chegando a 4,6 por 100.000 (cem mil) mulheres vítimas de feminicídio, taxas estas no mesmo patamar das apuradas equivalente ao ano de 1996.
Com os resultados da pesquisa acima relatada, conclui-se que no ano de 1980 o número de mulheres vítimas de assassinato, que já era absurdo, sendo de 1.353 (mil trezentos e cinquenta e três), em 2013 este número chegou 4.762 (quatro mil, setecentos e sessenta e dois), mais do que triplicou, tendo como média 397 vítimas por mês e 13 vítimas por dia.
Fígura: Taxa de feminicídio por 100.000 (cem mil) mulheres:
 
	Fonte: Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil (Ipea, 2013).
O Brasil está no ranking em quinto lugar na classificação dos países com maior taxa de homicídio de mulheres por feminicídio. 
Cronômetro da Violência contra as mulheres no Brasil
5 espancamentos a cada 2 minutos. 1 estupro a cada 11 minutos. 1 feminicídio a cada 90 minutos. 179 relatos de agressão por dia. 13 homicídios femininos por dia em 2013. Dados compilados no Dossiê violência contra as mulheres:http://www.agenciapatriciaglavao.org.br/dossie/).
De acordo com a Escritora (Rute Pina) para seu site:
Pelo menos 21 casos de feminicídio ocorreram na primeira semana de 2019
(...)
Uma festa de ano novo em Jacarepaguá, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), terminou em tragédia, noticiada nas páginas policiais. Na madrugada da última terça-feira (1º), a manicure Iolanda Crisóstomo da Conceição de Souza, de 42 anos, foi assassinada a facadas após uma briga com o ex-marido.
Segundo testemunhas, eles discutiram porque o homem não aceitava o fim do relacionamento.
Na noite do mesmo dia, uma jovem também foi assassinada a facadas, na zona rural de Casinhas, no agreste de Pernambuco. Rejane de Oliveira Silva, de 24 anos, recusou se relacionar com o agressor. Ele a atingiu com uma facada no tórax (2019, Fonte: Brasil de fato). 
Insta salientar que, ao contrário do que possa parecer para muitas pessoas, grande parte das mulheres que são ou já foram vítimas de violência doméstica, tentativa de feminicídio já tiveram diversas decisões e ações no sentido de cessar a violência, mas muitas vezes não foram bem-sucedidas nas instituições, formas, às quais recorreram. Este caminho truncado de busca de alternativas foi nomeado como rota crítica por pesquisadores da Organização Pan-americana de Saúde, pois ele está cheio de desencontros e, às vezes com a falta de acesso na tentativa de uso de Delegacias, advogados e outras instituições, acaba tornando-se falha a atuação do estado nesses casos que mais precisam de atenção.
3.3 – Casos de maiores repercussões 
			Ângela Diniz: Um crime passional em Búzios abalou a sociedade brasileira no penúltimo dia de 1976. No início da noite de 30 de dezembro, Doca Street, de 40 anos, matou com quatro tiros de pistola Ângela Diniz, com quem vivia havia apenas três meses. Ela, contaram os amigos, pretendia se separar de Doca, por não suportar o ciúme doentio do companheiro. (2019, fonte: oglobo).
Fonte: oglobo.com
			Isabela Miranda de Oliveira: Morreu na madrugada de 07 de março de 2019 após ser queimada viva pelo namorado. Testemunhas que estavam na chácara em que ocorreu o crime relataram que a agressão se deu após o seu namorado, William Felipe Alves de 21 anos, vê-la na cama com o cunhado dele. Há relatos de que a mulher estava bêbada e tinha sido abusada pelo cunhado do namorado, Leonardo da Silva, quando foi vista na cama com ele. (2019, fonte: g1.globo).
Fonte: globo.com
			Tatiane Spitzner: A advogada de 29 anos, foi encontrada morta, na madrugada do dia 22/07/2019, após sofrer uma queda do 4º andar de um prédio no Centro de Guarapuava, na região central do Paraná, onde morava. O marido dela, Luís Felipe Manvailer, foi preso na manhã do mesmo dia da morte, após sofrerum acidente na rodovia BR-277, conforme a polícia.
			O laudo do exame de necropsia do Instituto Médico-Legal (IML) confirmou que a morte de Tatiane Spitzner foi por asfixia mecânica, causada por esganadura e com sinais de crueldade, desta forma, Luís Felpe foi indiciado pela Polícia Civil, por homicídio qualificado. 			Luís Felipe se tornou réu pelos crimes de homicídio com as qualificadoras de asfixia mecânica, dificultar defesa da vítima, motivo torpe e feminicídio; além de cárcere privado e fraude processual. (2019, fonte: g1.globo).
Fonte: globo.com
			Aida Curi: Em julho de 1958, Aída Curi foi jogada do terraço do Edifício Rio Nobre, em Copacabana. Havia marcas de dentes nos seus seios. Ela estava com Cássio e Ronaldo. A Justiça concluiu que ela foi morta por Cássio, que era menor. Ronaldo foi condenado a 37 anos de prisão, e o porteiro João, a 30 anos. (2019, fonte: oglobo).
Fonte: oglobo.com
considerações finais 
O presente trabalho de conclusão de curso nos fez explorar de forma mais completa e abrangente sobre o assunto a violência doméstica e familiar contra a mulher e as suas consequências, sob a análise da Lei de Maria da Penha 11.340/2006 e a Lei do Feminicídio 13.104/2015. 
Desta forma, para demonstrar de uma formar mais clara alcançar melhor desenvolvimento do trabalho, houve a conceituação de o que se trata a violência contra a mulher e de quais formas essa violência pode se manifestar. 
Trabalhamos também com o perfil do agressor e alguns dados estatísticos da violência doméstica familiar e homicídios por feminicídios
Pudemos esclarecer as formas como ambas as leis podem ser aplicadas aos casos de transsexuais, com a demonstração de casos recentemente julgados. 
A violência doméstica assusta a todos, mas principalmente as próprias vítimas, os agressores usam de sua força física como se não fosse nada, visto que para essa pessoa a violência é normal. Com a evidente discriminação e violência contra as mulheres o Estado interveio através da Lei 11.340/06 Lei “Maria da Penha” com a tentativa coibir os diversos tipos de violência, gerando assim, mais segurança para as mulheres.
A Lei proporciona também, como uma forma de combater todos os tipos de violência medidas preventivas que podem ser aplicadas tanto ao agressor quanto a vítima. 
Constatou-se, apartir dos dados coletados e neste trabalho demonstrado, que os dados estatísticos sobre a violência doméstica contra a mulher vêm crescendo todos os dias no Brasil. 
Na maioria dos casos de violência doméstica os agressores são cuidadosos e tentam de todas as formas esconderem os abusos praticados, sejam eles quais forem causando lesões em zonas menos visíveis e que não requeiram cuidados médicos. 
As medidas de prevenção previstas na lei 11.340/06 são gerais e ajudam as mulheres e dão assistência em situação de violência doméstica e familiar. 
O feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas motivações mais comuns são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro. 
A lei 13.104/2015 que promulgou o feminicído para o rol dos crimes hediondos qualificados, tratando mais rigorosamente do assunto. 
Portanto a realização deste trabalho propiciou conhecer de forma um pouco mais abrangente sobre os motibos de as mulheres cotidianamente se encontram em situação de violência.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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XAVIER, Rafael; Feminicídio, 2ª ed. São Paulo, Lumen Juris, 2019.
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito
Universidade Paulista – UNIP
Orientação: Profa. Dra. Cibele Mara Dugaich
Dedico esse trabalho a todas as mulheres que já passaram por alguma violência doméstica e enfrentaram os obstáculos para saírem da situação e, as que ainda não se viram livres, que tenham coragem para se libertarem do grande mal de suas vidas.

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