Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE PAULISTA EDUARDA CAROLINA S. DE OLIVEIRA, RA: C481360 MATHEUS GOMES G. LINOS, RA: C391DI-9 JOSIAS GOMES JUNIOR, RA: MÔNICA AUGUSTA BARBOSA SILVA, RA: C67252-1 MARCELO AURELIO M.S.C.O DE MAURICIO, RA: C72785-7 TALLISSON JUNIO C. DA SILVA, RA: C59762-7 TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL GOIÂNIA 2016 Universidade Paulista TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL Sobre o advogado e suas implicações no NCPC Trabalho entregue à Universidade Paulista, como requisito para obtenção de notas de NP1. _______________________________ Prof. Oto Lima Neto SUMÁRIO Introdução..............................................................................................................................4 1. Da importância do advogado na administração da justiça e da necessidade de arbitramento judicial de honorários advocatícios..................................................................5 2. Natureza alimentar dos honorários advocatícios..............................................................9 3. Princípios que norteiam os juizados especiais civis em harmonia com a atuação do advogado..............................................................................................................................15 4. Honorários advocatícios e os princípios da causalidade, sucumbência e isonomia..... .18 5. Diretrizes do novo CPC e a sua aplicabilidade nos processos afetos à lei 9.099/95, notadamente ao que se refere à execução de seus jurados..............................................20 Conclusão............................................................................................................................23 Referências..........................................................................................................................24 4 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem uma série de objetivos propostos, e a discussão dos temas que se seguem são de suma importância no âmbito jurídico atual. Inicialmente, discutiremos a importância do advogado na administração da justiça, e o arbitramento judicial de honorários advocatícios. Este tópico se faz importante no sentido de que, sem o advogado, não há como se compor adequadamente o sistema judiciário, e por conseguinte, não há justiça. A figura do advogado se faz como um dos pilares para composição da administração da justiça. Quanto ao arbitramento judicial sobre os honorários advocatícios, é questão fundamento quando se trata dos advogados, visto que é o meio de vida destes; e se tornando mais concretos com o arbitramento. Mais adiante, veremos a questão da natureza alimentar dos honorários advocatícios, que é um outro aspecto de suma importância, levando em consideração que é a única forma plausível de um advogado se manter. Veremos também sobre a questão dos juizados especiais, e a necessidade de sua relação harmônica com a atuação dos advogados, visto que o objetivo desses juizados é justamente agilizar os processos, minimizar as formalidades e reduzir custos em todos os aspectos possíveis; fatos que tornam a aplicação da justiça relativamente menos morosa e onerosa, e beneficiando todas as partes envolvidas. No tocante novamente aos honorários advocatícios, veremos também a relação entre estes e os princípios da causalidade, sucumbência e isonomia. Essa relação veio para melhorar as condições mínimas para os advogados, tornando seus honorários mais dignos, consoante com o papel de extrema importância que ocupam para a administração da justiça. Inicialmente, as diferenças propostas pelo novo CPC não são tão abrangentes, mas quando comparadas ao Código de 73, nota-se uma mudança razoável e benéfica. Por fim, analisaremos as diretrizes do novo Código de Processo Civil, sua aplicabilidade no tocante aos processos afetos à lei 9.099/85, principalmente no que se refere à execução de seus jurados. O que ocorre, é que a lei anterior era omissa neste sentido, e no NCPC, esta e diversas outras lacunas são preenchidas. 5 1. DA IMPORTÂNCIA DO ADVOGADO NA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA E DA NECESSIDADE DE ARBITRAMENTO JUDICIAL DE HONORÁRIOS DA ADVOCATÍCIOS Em relação à atividade advocatícia destaca-se que só o advogado possui a capacidade postulatória de promover e ajuizar ações, defesas no âmbito jurídico, sendo que, somente o bacharel em Direito, inscritos nos quadros da OAB, possui tal habilidade relacionada à profissão. Desse modo, o próprio art. 133 da Constituição Federal relata: “o advogado é indispensável à administração da justiça”, portanto, o advogado tem um papel fundamental no contexto social, pois exercer um papel fundamental em prol da coletividade. Mas em alguns casos não terá a necessidade do acompanhamento do advogado, denominado jus postulandi, enquadra-se na Justiça do Trabalho, e nos Juizados Especiais com causa de valores de até 20 salários mínimos, porém na fase recursal trabalhista necessita-se de advogado. Com base na Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, que relata sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, referindo-se da seguinte forma: “Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. § 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social. § 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.” Analisa-se o dissemina dita Miguel Arcanjo Costa da Rocha: “Pode-se dizer que, assim como o médico dedica-se à preservação da vida de seu paciente, o advogado dedica-se à manutenção dos direitos de seu cliente. Mas não é só na esfera privada que o advogado é importante: ele exerce papel fundamental na formação da sociedade quando busca a preservação do direito à liberdade de expressão, do direito à propriedade; liberdade na forma de construção das relações familiares, no modo de atuação do mercado econômico e até mesmo na atuação do Estado.”1 1ROCHA, Miguel Arcanjo Costa da. O papel do advogado na sociedade atual. Disponível em: <http://www.pucrs.br/provas/red031b6.htm>. Acesso em: 16 de setembro de 2016. 6 A partir de tais entendimentos, dá-se para analisar que é de extrema importância a advocacia, ou seja, o advogado exerce uma atividade que faz toda a diferença no meio social, pois está atingindo ao ápice da valorização social com a aplicabilidade coerente da justiça ao defender os cidadãos. Dessa forma, Miguel Arcanjo, relata a respeito do advogado como operador do Direito em prol da sociedade: “A sociedade atual, por ser complexa, exige diariamente associações, contratos, obrigações, e nesse espaço entra o profissional do direito como “decifrador” do emaranhado normativo, como conselheiro, como defensor dos direitos, posto que, conforme sabemos, na vida em sociedade, a liberdade de alguém termina quando começa a do outro. Portanto, entendo que o advogado é peça-chave na formação da sociedade atual e no seu regular funcionamento, pois dele depende vivermos uma sociedade justa, plural e democrática.” 2 Assim, o advogado ele está pronto para atuar de forma ampla na sociedade, defendendo, orientado, as questões que tenham lides entre as partes no processo. Na questão empresarial tem atos que devem ser analisados por advogados para que seja tutelado o ato constitutivo da atividade empresarial que devem ser vistos por esse profissional. E no que tangea questão da advocacia há bários casos em relação aos conflitos entre advogados e juízes, pelo devido fato do arbitramento de honorários advocatícios, pois existem juízes que defendem a tese de que somente eles têm a livre forma de estipular honorários em suas decisões judiciais. Sobre tal procedimento de honorário a Lei 8.906/94 estabelece, no seu art. 22, “caput”, “o direito dos advogados perceberem os honorários convencionados, os fixados por arbitramento judicial e os de sucumbência”. Sendo um direito do profissional de tê-lo. A Lei 8.906/94 relata em seus árticos a partir do 22 ao 26 o Capítulo sobre os Honorários Advocatícios como se vê a seguir: 2ROCHA, Miguel Arcanjo Costa da. O papel do advogado na sociedade atual. Disponível em: <http://www.pucrs.br/provas/red031b6.htm>. Acesso em: 16 de setembro de 2016. 7 “Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. §1º O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da prestação de serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado. §2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por arbitramento judicial, em remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico da questão, não podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB. §3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final. §4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou. §5º O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de mandato outorgado por advogado para defesa em processo oriundo de ato ou omissão praticada no exercício da profissão.”3 (...) De acordo com os artigos pode-se concluir que os honorários advocatícios estão vinculados aos profissionais inscritos na OAB, sendo assim, eles são vinculados judicialmente por arbitramento ou sucumbência. E o advogado quando indicado a defender causa pela ausência da defensoria pública local, o seu honorário será estipulado pelo juiz, de acordo com a tabela do Conselho Seccional da OAB. Nesse contexto, Arthur Rollo destaca: “Essa valoração, entretanto, nunca poderá ser inferior à tabela de honorários da OAB. Para isso caberá ao julgador levar em consideração, no caso concreto, inúmeros fatores como: o grau de zelo, o renome e a qualificação do profissional; o local da prestação e o tempo necessário para a execução dos serviços; o valor econômico e o interesse jurídico envolvendo a causa, assim como a praxe do foro para casos análogos. Esses elementos, dentre outros elementos definidos pelo Código de Ética que convém ao juiz levar em conta, trazem critérios mais objetivos a serem seguidos para evitar a estipulação de valores irrisórios, que afrontam toda a advocacia. Deverão ser considerados não só no arbitramento dos honorários nas ações de cobrança, como também na estipulação dos honorários sucumbenciais.”4 Fabrizio Rodrigues Ferreira, dissemina sobre os honorários por arbitramento judicial: 3 BRASIL, LEI 8.906/94. 4ROLLO, Arthur. Limites ao arbitramento judicial dos honorários advocatícios. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/limites-ao-arbitramento-judicial-dos honorariosadvocaticios/11066>. Acesso em 18 de setembro de 2016. 8 “Em tal dispositivo é possível concluir que serão os honorários arbitrados judicialmente ou quando não haja estipulação ou quando não haja acordo quanto à retribuição pecuniária à efetiva prestação de serviço advocatício. Ou seja, aqui contempla-se a hipótese em que, por qualquer motivo, não fora elaborado contrato escrito de honorários entre cliente e advogado, ficando o pacto na natureza verbal, bem como a hipótese em que, embora existente um contrato escrito, não se vislumbrou e/ou expressou, de forma rica e transparente, o valor exato e/ou preciso desta verba retributiva ao real serviço prestado pelo profissional; e ainda, nestas circunstâncias, houvesse desentendimento invencível entre as partes quanto ao valor a ser pago pelo trabalho advocatício, quer tal serviço tenha sido concluído, quer o tenha sido parcialmente (e aqui havendo novos advogados em substituição ao prejudicado pelo recebimento dos honorários, com o concomitante rompimento do original mandato)”. Com tais casos que acarretam a questão do arbitramento judicial, contata-se que o advogado tem direito aos mesmos desde que não haja contrato na relação de cliente e advogado.Nesse mesmo sentido exemplifica-se com o julgado do TJ- SP: “HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATO VERBAL RELAÇÃO JURÍDICA INCONTROVERSA CONTROVÉRSIA A RESPEITO DO VALOR DOS HONORÁRIOS PACTUADOS NECESSIDADE DE ARBITRAMENTO JUDICIAL, NA FORMA DO ART. 22, § 2º, DA LEI N. 8.906/94, PARA A APURAÇÃO DO JUSTO VALOR DEVIDO PELOS SERVIÇOS PRESTADOS DAÇÃO EM PAGAMENTO DE VEÍCULO, A TÍTULO DE PAGAMENTO DOS HONORÁRIOS IMPOSSIBILIDADE, NA FALTA DE CONTRATO ASSIM DISPONDO IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DE CONVERSÃO DA OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA EM PERDAS E DANOS AÇAO PROCEDENTE EM PARTE. - Recurso parcialmente provido.(TJ-SP - APL: 9168819292009826 SP 9168819- 29.2009.8.26.0000, Relator: Edgard Rosa, Data de Julgamento: 30/11/2011, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/11/2011).”5 A partir desse julgado, analisa a questão da necessidade de arbitramento judicial, sobre contrato verbal. Como exemplo também um julgado em relação de arbitramento de honorários: “APELAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. MANDATO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS. CARÊNCIA DE AÇÃO (AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR). NÃO CONFIGURAÇÃO. PRELIMINAR REJEITADA. AGRAVO RETIDO IMPROVIDO. Na espécie, não se há falar em falta de interesse de agir, visto que a pretensão do autor se evidencia no conflito de interesses e, a par disso, na adequação do pedido. APELAÇÃO. MANDATO. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS. ILEGITIMIDADE? ADCAUSAM? NÃO 5 .(TJ-SP - APL: 9168819292009826 SP 9168819-29.2009.8.26.0000, Relator: Edgard Rosa, Data de Julgamento: 30/11/2011, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/11/2011).” 9 CONFIGURAÇÃO. PRELIMINAR REJEITADA. AGRAVO RETIDO IMPROVIDO. Insubsistente a preliminar de ilegitimidade? adcausam? porquanto a ação foi proposta exclusivamente pela sociedade comercial prestadora dos serviços em discussão. À obviedade, a pessoa jurídica subsiste, não obstante eventual alteração das pessoas físicas. APELAÇÃO. MANDATO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONTRATO OMISSO A RESPEITO DE REMUNERAÇÃO DOS PROCESSOS NÃO INICIADOS OU ENCERRADOS DURANTE SUA VIGÊNCIA. ARBITRAMENTO JUDICIAL. NECESSIDADE. CRITÉRIO RAZOÁVEL PROPOSTO PELO PERITO. ADOÇÃO. RECURSO PROVIDO EM PARTE. 1.- O acervo probatório coligido nestes autos é robusto em fornecer um seguro juízo de certeza no sentido da procedência do pedido do autor, por se reportar a remuneração de processos omissa nos contratos assinados. 2.- Em razão da omissão contratual, o percentual proposto pelo perito como critério de fixação dos honorários advocatíciosmostrou-se razoável e equânime na hipótese, merecendo, assim, ser acolhido para o arbitramento. E tal arbitramento resulta do livre convencimento do órgão judiciário, a teor do disposto nos arts. 436 e 131 do CPC, sem necessidade de nova perícia.”6 2. NATUREZA ALIMENTAR DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Para abordar o presente tema, faz-se prudente, inicialmente, uma tentativa de conceituação do que vem a ser os chamados honorários advocatícios, bem como quais são suas espécies.De maneira simplificada, os honorários advocatícios podem ser conceituados como a contraprestação pecuniária paga ao advogado pela prestação de seus serviços, ou seja, é o modo como a classe é remunerada por seu labor, dividindo-se os honorários, enquanto gênero, em três espécies, quais sejam, honorários convencionais (contratuais), por arbitramento e sucumbenciais. Os honorários convencionais são os valores fixados pelo advogado em contrato com seu cliente por quaisquer serviços eventualmente prestados, referindo- se, portanto, a remuneração resultante do contrato de prestação de serviços advocatícios. Por seu turno os sucumbenciais são aqueles fixados na sentença em virtude de eventual sucesso da demanda proposta pelo profissional da advocacia, ou seja, são devidos em virtude do êxito do advogado na prestação dos serviços. Por outro lado, os honorários advocatícios por arbitramento judicial ocorrem em caso de divergência entre a parte eu o advogado quanto ao valor, bem 6 TJ-SP - APL: 677322820058260000 SP 0067732-28.2005.8.26.0000, Relator: Adilson de Araújo, Data de Julgamento: 23/08/2011, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/08/2011. 10 como em casos de ausência de previsão específica, nos termos do art. 32, § 2°, do Estatuto da Advocacia (Lei 8906/94).7 Ao se proceder o estudo quanto a natureza dos honorários advocatícios constata-se de plano que se trata de questão de grande relevância e causa grande impacto na vida cotidiana do profissional da advocacia, porquanto esta é a fonte primeira de remuneração da classe. Historicamente houve amplos debates quanto o assunto, sendo o ponto central do debate a questão se os honorários advocatícios possuíam natureza alimentar, o que influencia na ordem de pagamento das verbas devidas a títulos de honorários a advogados em diversas situações, como na ordem de pagamento de precatórios, ordem de pagamento em processos falimentares, entre outros. Defensores da tese de que os honorários advocatícios não se enquadravam entre as hipóteses previstas no art. 100, § 1º, da Constituição Federal, o qual estabelece como débitos de natureza alimentícias a serem pagos pela Fazenda Pública “Salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado”. Nesse sentido, diversos autores e tribunais passaram a entender que créditos de natureza alimentícias são apenas aqueles taxativamente indicados no dispositivo transcrito, sendo este um rol taxativo, inadmitindo ampliação, razão pela qual nessa categoria não se enquadrariam os honorários advocatícios, havendo, inclusive, julgados do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido. Em contrapartida, defensores do posicionamento contrário sustentavam que o rol contido no art. 100, §1º, não era um taxativo, mas meramente exemplificativo, o que não impediria a extensão das hipóteses previstas para a inclusão dos honorários advocatícios, uma vez que seria um rol meramente numerus apertus. Em referência especificamente aos honorários de sucumbência a celeuma era ainda mais intensa, haja vista o disposto no art. 20, do Código de Processo Civil de 1973, o qual estabelecia que: “A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta 7 BRASIL, Lei 8.906/94. 11 verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.”8 Tal redação levou diversos autores e Tribunais ao equivocado entendimento de que os honorários advocatícios sucumbenciais, tanto não era verba de natureza alimentar, quanto não era devido ao advogado, mas sim a seu cliente, haja vista estabelecer o dispositivo que seriam pagos pelo vencido ao vencedor. Entretanto, com o gradual posicionamento dos tribunais e o reforço normativo do direito positivo, tal controvérsia foi sanada, sendo atualmente matéria pacífica que os honorários advocatícios, sejam contratuais, sucumbenciais ou por arbitramento judicial, possuem natureza alimentícia. Inicialmente, impende salientar que, com o acatamento devido aos defensores da posição contrária, outra não poderia ser a solução adotada, haja vista que, da simples interpretação teleológica do dispositivo constitucional, os honorários não poderiam ser descartados do rol de verbas de natureza alimentícia, haja vista que são a fonte de subsistência do profissional da advocacia, sendo a contraprestação do trabalho e, portanto, equiparando-se ao salário. Por outro lado, o Estatuto da Advocacia, já estabelecia, em seus arts. 23 e 24, que os honorários advocatícios, seja qual for sua espécie, pertencem ao advogado, possui a natureza de título executivo e constituem créditos privilegiados na falência, concordata (atual recuperação judicial), concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial. Em um primeiro momento já se nota que tal privilegio de tal crédito não possui outra justificativa plausível, se não a própria natureza de tais verbas, a qual é destinada ao sustento do profissional da advocacia e de sua família. Por outro lado, no tocante especificamente aos honorários de sucumbência, o art. 23 do Estatuto da Ordem já era taxativo ao afirmar que honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, o que, a nosso ver, já solapava o entendimento de que tais verbas eram devidas a parte vencedora, conforme o entendimento supradescrito que se embasava no art. 20 do CPC/73, haja vista tratar-se de dispositivo posterior que regulava de maneira satisfatória a matéria, revogando tacitamente o dispositivo do revogado digesto processual civil pelo princípio da especialidade, aplicando-se o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 8 BRASIL. Código de Processo Civil, 1973. 12 Nesse ínterim, a doutrina já vinha, gradualmente, fixando as premissas de que os honorários advocatícios, seja qual for a sua espécie, possuem natureza alimentar, portanto merecendo todos os privilégios legais de tal categorização, conforme se extrai dos seguintes trechos: “Na verdade, o que confere o caráter alimentar aos honorários é a finalidade a que os mesmos se destinam: manutenção, moradia, educação, lazer, alimentos e outras a que os honorários possam suprir, de forma semelhante aos salários. (ONÓFRIO; p. 32, 2002).”9 Assim, a tese da natureza alimentícia dos honorários advocatícios passou a ganhar força gradualmente, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, culminando com a paradigmática decisão do Supremo Tribunal Federal, exarada em 2006 quando do julgamento do Recurso Extraordinário n° 470407/DF, a qual é assim ementada: “CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTÍCIA - ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A definição contida no § 1-A do artigo 100 da Constituição Federal, de crédito de natureza alimentícia, não é exaustiva. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - NATUREZA - EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA.Conforme o disposto nos artigos 22 e 23 da Lei nº 8.906/94, os honorários advocatícios incluídos na condenação pertencem ao advogado, consubstanciando prestação alimentícia cuja satisfação pela Fazenda ocorre via precatório, observada ordem especial restrita aos créditos de natureza alimentícia, ficando afastado o parcelamento previsto no artigo 78 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, presente a Emenda Constitucional nº 30, de 2000. Precedentes: Recurso Extraordinário nº 146.318-0/SP, Segunda Turma, relator ministro Carlos Velloso, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 4 de abril de 1997, e Recurso Extraordinário nº 170.220-6/SP, Segunda Turma, por mim relatado, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 7 de agosto de 1998.”10 No ponto, calha a transcrição de excertos do voto do Ministro Relator do referido Recurso Extraordinário, Marco Aurélio, o qual, de modo magistral e didático, sustentou o seguinte: 9 ONÓFRIO, Fernando Jacques. Manual de Honorários Advocatícios. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002; p. 32. 10 (STF - RE: 470407 DF, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 09/05/2006, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 13-10-2006)” 13 “A Corte de Origem teve como exaustiva a definição de crédito de natureza alimentícia constante do artigo 100, § 1º-A, da Constituição Federal, apenas tomando só tal ângulo salário, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenização por morte ou invalidez, fundada em responsabilidade civil, em virtude de sentença transitada em julgado. O enfoque não merece subsistir. Se por um aspecto verifica-se explicitado do que se entende como crédito de natureza alimentícia, por outro, cabe concluir pelo caráter simplesmente exemplificativo do preceito. É que há de prevalecer a regra básica da cabeça do art. 100 e, nesse sentido, constata-se a alusão ao gênero crédito de natureza alimentícia. O preceito remete necessariamente ao objeto, em si, do crédito afim visado. Ora, salários e vencimentos dizem respeito a relações jurídicas específicas e ao lado destas tem-se a revelada pelo vínculo liberal. Os profissionais liberais não recebem salário, vencimento, mas honorários e a finalidade destes não é outra senão prover a subsistência própria e das respectivas famílias. (…) Então, há de se concluir pelo caráter alimentar, ficando afastado o enquadramento até aqui prevalecente.” Tal posicionamento passou a prevalecer também no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, tendo inclusive constado do Informativo de Jurisprudência n° 0540, de 28 de maio de 2014, o seguinte julgado: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. CLASSIFICAÇÃO DE CRÉDITO REFERENTE A HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO PROCESSO DE FALÊNCIA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ). Os créditos resultantes de honorários advocatícios, sucumbenciais ou contratuais, têm natureza alimentar e equiparam-se aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, seja pela regência do Decreto-lei 7.661/1945, seja pela forma prevista na Lei 11.101/2005, observado o limite de valor previsto no art. 83, I, do referido diploma legal. A questão deve ser entendida a partir da interpretação do art. 24 da Lei 8.906/1994 (EOAB), combinado com o art. 102 do Decreto-lei 7.661/1945, dispositivo este cuja regra foi essencialmente mantida pelo art. 83 da Lei 11.101/2005 no que concerne à posição dos créditos trabalhistas e daqueles com privilégio geral e especial. Da interpretação desses dispositivos, entende-se que os créditos decorrentes de honorários advocatícios, contratuais ou sucumbenciais, equiparam-se a créditos trabalhistas para a habilitação em processo falimentar. Vale destacar que, por força da equiparação, haverá o limite de valor para o recebimento - tal como ocorre com os credores trabalhistas -, na forma preconizada pelo art. 83, I, da Lei de Recuperação Judicial e Falência. Esse fator inibe qualquer possibilidade de o crédito de honorários obter mais privilégio que o trabalhista, afastando também suposta alegação de prejuízo aos direitos dos obreiros. (Resp. 1.152.218-RS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014).” 14 A questão foi definitivamente solapada com a edição pelo Supremo Tribunal Federal da Súmula Vinculante n° 47, a qual logrou êxito em resolver a contenda de modo definitivo, e possui a seguinte redação: “Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza.”11 Por fim, mostra-se oportuno pontuar que o Novo Código de Processo Civil reafirmou a tese no âmbito do direito, positivo ao estabelecer com clareza solar em seu art. 85 que “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor”, que os honorários advocatícios sucumbenciais são devidos ao advogado, superando o entendimento firmado com base no art. 20 do extinto código de que tais verbas seriam devidas a parte.Por todo o exposto se conclui que os honorários advocatícios, seja qual for sua espécie, constitui verba de natureza alimentícia, haja vista ser a fonte de subsistência do profissional da advocacia e de sua família, devendo receber os privilégios legais decorrentes de tal categorização, sendo incluído, a título de exemplo, com prioridade na ordem de pagamento de precatórios e de processos falimentares. 3. DOS PRÍNCIPIOS QUE NORTEIAM OS JUÍZADOS ESPECIAIS CÍVEIS EM HARMONIA COM A ATUAÇÃO DO ADVOGADO Os Juizados Especiais Cíveis têm como objetivo maior alcançar com mais facilidade e rapidez um procedimento. É mais econômico financeiramente para as partes, e diferente da Justiça Comum, tem menos formalidades, visando garantir a satisfação do direito de ação nos litígios individuais. A criação da lei 7.244/84 fundou os Juizados especializados, que surgiram com a tentativa de ajudar o Poder Judiciário que estava passando por dificuldades e problemas na estrutura, e 11 BRASIL, Súmula Vinculante n° 47, STF. 15 representam os órgãos judiciais de primeira instância, apesar de também realizar o segundo grau da jurisdição. Logo em 1994, foi apresentado um projeto de lei que tinha como objetivo regular os juizados especiais civis e criminais. Com a aprovação do projeto pelo Presidente da República, nasceu a lei 9.099/95, que regulou os juizados como um todo e passou a tratar, então, dos Juizados Especiais Cíveis. Existem vários princípios que são espécies do conjunto de normas jurídicas, que compõe o ordenamento jurídico. São usados em determinados circunstancias e pessoas. De acordo com Tourinho Neto: “Sistema de Juizados Especiais vem a ser um conjunto de regras e princípios que fixam, disciplinam e regulam um novo método de processar as causas cíveis de menor complexidade e as infrações penais de menor potencial ofensivo. Uma nova justiça marcada pela oralidade, simplicidade, informalidade, celebridade e economia processual para conciliar, processar, julgar e executar, com regras e preceitos próprios e, também, com uma estrutura peculiar”. 12 Cada aplicação de lei dos juizados está ligada diretamente a harmonia dos princípios. Os advogados exercem a suas funções com base nos princípios explícitos, que norteiam as suas diretrizes, tais como: o princípio da oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade, equidade, auto composição, entre outros.O princípio da oralidade, tem como objetivo e prioridade, a forma oral, o predomínio da palavra oral sobre a palavra escrita. Esse princípio visa às partes possibilitando fazerem com que o processo seja mais rápido, e tudo por meio do diálogo, evitando com que o processo seja mais lento devido às causas notórias de lentidão que a escrita predomina. Apesar da oralidade, não dispensa a documentação escrita. O princípio da simplicidade, dentro da lei, na pratica dos atos processuais, pode dispensar alguns requisitos que se julga formal sempre que a ausência não prejudicar as partes e nem terceiros interessados. A simplificação do procedimento nos juizados especiais busca facilitar o entendimento das partes, de modo que seja simples para qualquer cidadão que deseja praticar atos processuais. O princípio da informalidade são os atos realizados nos juizados especiais desprovidos de certa formalidade, tramitam processos de menor complexidade, 12 NETO, Tourinho. Sobre os juizados especiais; in Revista JusNavigandi. Publicado em 13/07/20515. 16 sendo uma versão mais comum e simplificada. Tem como finalidade oferecer uma solução de forma mais rápida e eficaz. Apesar da informalidade, não pode ter a nulidade de atos. A lei 9099/95 em seu artigo 13° diz que: “Os atos processuais serão validos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados. § 1° Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo. § 2° A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação.”13 Com o princípio da simplicidade, todos os atos processuais devem ser praticados com o mínimo de formalidade possível, evitando qualquer tipo de complexidade. O princípio da economia processual visa o melhor resultado no processo resultando na redução dos custos processuais, e tem a obtenção do máximo rendimento da lei com o mínimo de atos processuais. Esse princípio está voltado à gratuidade processual para pessoas que necessitam deste benefício para darem andamento a algum processo, e não tenham condições financeiras para arcar com todos os custos. O princípio da celeridade, de acordo com a Constituição Federal, o processo deve demorar o mínimo possível, mesmo havendo um determinado tempo para a tramitação normal do processo, observando que devem ser respeitados os prazos processuais existentes. “Art. 5°, CF, inc. LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”14 Este inciso visa ajudar as partes contra as tentativas dos órgãos de deixar os processos parados por muito tempo, mas só pode ser aplicado caso seja respeitado todos os outros que norteiam os juizados especiais. Existem também dentro dos juizados especiais os princípios informativos implícitos.O princípio da equidade se obtém pela consideração harmônica das circunstâncias concretas, sem distinção entre as pessoas, do que pode resultar um ajuste da norma à especificidade da situação a fim de que a solução seja justa. 13 BRASIL, Lei 9099/95. 14 BRASIL, Constituição Federativa do Brasil de 1988. 17 “Art. 5°: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” As decisões mais flexíveis e que não necessitam de muitas regulamentações, são fundamentadas no princípio da equidade, porém, isso não quer dizer que essas decisões são proferidas de forma ilegal. O princípio da auto composição não está implícito na doutrina, mas é muito utilizado por este juizado. Esse princípio pode ser usado para resolver processos litigiosos com mais rapidez e eficaz de forma primitiva é onde ocorre a resolução de conflitos entre duas ou mais de pessoas, onde alguma resolve abrir mão do conflito por inteiro ou em partes. O princípio da instrumentalidade é norteado pelo Código Processo Civil, explicitados assim: “Art.154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. (...) Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.”15 A instrumentalidade dos processos está cada vez mais bem aceito no âmbito jurídico. Este princípio andando junto com a modernização do processo irá deixar a forma de espera com um tempo razoável para a sentença final. 4. HONÓRARIOS ADVOCATÍCIOS E OS PRÍNCIPIOS DA CAUSALIDADE, SUCUMBÊNCIA E ISONOMIA É inegável que o Novo Código de Processo Civil trouxe diversas conquistas para a advocacia nacional, não sendo diferente no que compreende aos honorários 15 BRASIL, Código de Processo Civil de 1973. 18 sucumbenciais. O que se espera com a entrada em vigor do novo códex é que, finalmente, os honorários sucumbenciais sejam fixados de modo digno e respeitem o trabalho essencial realizado pelos advogados em prol dos jurisdicionados. No caput do artigo 85, do Novo CPC, temos uma sútil, mas importantíssima alteração. O referido dispositivo traz expressamente que os honorários são devidos pela parte vencida ao ADVOGADO do vencedor.16 Tal alteração em um primeiro momento pode até não ser percebida como significativa, contudo, comparada ao art. 20 do CPC/73, o qual previa que o vencido pagaria honorários ao vencedor, acaba-se com qualquer dúvida de que o advogado é o legítimo credor dos honorários sucumbenciais. A sucumbência, via de regra, é o fato gerador da obrigação do vencido de pagar honorários ao advogado do vencedor, entretanto, o § 10, do artigo em comento, prevê uma hipótese em que, mesmo a ação sendo julgada procedente, o autor pagará honorários ao patrono da parte vencida. Trata-se da hipótese de perda superveniente do objeto, onde a parte que deu causa ao processo será condenada ao pagamento de honorários. Ademais, tudo leva a crer que esse parágrafo não é taxativo, mantendo- se a lógica da causalidade na fixação dos honorários, de modo que aquele quem deu causa para a ação jurisdicional deve arcar com os honorários advocatícios (exemplo: ação cautelar de exibição de documentos, documentos exibidos em sede de contestação, comprovação de que o autor não tentou obter tais documentos antes da propositura da ação). O § 1º elenca as hipóteses onde são devidos os honorários. Desse modo, restam expressamente previstos os honorários advocatícios em sede de reconvenção e cumprimento de sentença, tal como o STJ já vinha decidindo. Por outro lado, cabe citar que os honorários são devidos até mesmo no cumprimento de sentença provisória, ponto que contraria o entendimento até então adotado pelo STJ. O Novo CPC cria a regra de “graduação dos honorários”. Quer dizer que, respeitados os limites mínimo e máximo (10% a 20%), os julgadores deverão majorar os honorários em decorrência de recursos, sejam estes julgados de maneira monocrática ou colegiada. Logo, a cada novo recurso o julgador deverá 16 BRASIL. Lei Federal n. 13.105, de 16 de março de 2015. 19 estar atento à fixação dos honorários, de modo a levar em conta o trabalho adicional em grau recursal realizado pelo causídico17 (Art. 85, § 11, do CPC/2015). Nesse ponto, sustenta-se que os honoráriossão consequência do efeito devolutivo amplo dos recursos, de tal maneira que mesmo não havendo pedido expresso para condenação da parte adversa ao pagamento de honorários advocatícios, deverá o julgador se atentar as regras do art. 85do Novo CPC. Abaixo, segue exemplos de julgados em que se apresentam os princípios da causalidade, isonomia e sucumbência, respectivamente: “Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.BRASIL TELECOM S.A. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. TELESC.MEDIDA CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS SOCIETÁRIOS. ÔNUSSUCUMBENCIAIS. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.ART. 20, §§ 3º E 4º, DO CPC. SÚMULA N. 7 /STJ. RAZÕES DISSOCIADAS DAFUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA N. 284 /STF. 1. A discrepância entre as razões recursais e os fundamentos doacórdão recorrido obsta o conhecimento do recurso especial, ante aincidência do teor da Súmula n. 284 /STF, segundo a qual "éinadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência nafundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia",aplicável, mutatis mutandis, ao conhecimento do agravo regimental.Precedentes do STJ. 2. Agravo regimental não conhecido.” “Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO MÁXIMO DE INTERNAÇÃO. TRINTA ANOS. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ARTIGO 75 DO CÓDIGO PENAL. ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS DAISONOMIA, PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 1. Em atenção aosprincípios da isonomia, proporcionalidade e razoabilidade, aplica-se, por analogia, o art. 75 do Diploma Repressor às medidas de segurança, estabelecendo-se como limite para sua duração o máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado, não se podendo conferir tratamento mais severo e desigual ao inimputável, uma vez que ao imputável, a legislação estabelece expressamente o respectivo limite de atuação do Estado. 2. Agravo regimental improvido.” “Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. RESCISÃO CONTRATUAL. SENTENÇA DE MÉRITO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PRINCÍPIO DASUCUMBÊNCIA. MITIGAÇÃO. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. 1. A condenação em custas processuais e honorários advocatícios rege-se, em regra, pelo princípio dasucumbência, sendo certo que é consequência imposta à parte vencida e independe de qualquer requerimento da parte contrária, uma vez que se trata de norma que tem por destinatário o próprio Juiz. 2. O princípio da causalidade não se contrapõe aoprincípio da sucumbência, mas sim o mitiga em ocasiões nas quais a aplicação pura e simples deste causaria uma situação de injustiça. 3. Em respeito 17 BRASIL. Lei Federal n. 13.105, de 16 de março de 2015. 20 ao princípioda causalidade, aquele que der causa ao ajuizamento da ação responde pelos ônus da sucumbência, devendo arcar com as custas processuais e honorários de advogado. 4. Apelação conhecida e provida.” 5. DIRETRIZES DO NOVO CPC E SUA APLICABILIDADE NOS PROCESSOS AFETOS À LEI 9.099/95, NOTADAMENTE AO QUE SE REFERE À EXECUÇÃO DOS SEUS JURADOS. Em março de 2016, entrou em vigor o Novo Código de Processo Civil, que tem importantíssima aplicação subsidiária aos Juizados Especiais Cíveis, Federais e da Fazenda Pública. Com a entrada em vigor do novo código, diversos questionamentos surgiram quanto à aplicação do instrumento no dia-a-dia dos operadores do Direito, haja vista a mudança nos procedimentos processuais. No caso do novo Código de Processo Civil a supletividade deste em relação à Lei 9.099/1995 conta com expressa disposição legal contida no § 2º do artigo 1.046, segundo o qual “Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código”. Ou seja, naquilo que a Lei 9.099/1995 é omissa, por imperativo da certeza do direito e da segurança jurídica, a lacuna é colmatada pelas disposições do novo CPC.zzzz Por exemplo, no âmbito dos Juizados Especiais deve admitir-se a interposição de agravo de instrumento nas hipóteses previstas pelo novo CPC; as decisões monocráticas proferidas por relator do Colégio Recursal caberá agravo interno para o órgão competente; as sentenças proferidas pelos juízes do Juizado Especial Cível, dispensado o relatório na forma do artigo 38 da Lei 9.099/1995, deve observar as disposições do artigo 489 do novo CPC, ainda que de modo sucinto, porque os “elementos de convicção do juiz” devem decorrer da síntese que faz a partir da tese e da antítese representadas pelos argumentos relevantes deduzidos pelas partes; os embargos de declaração, contudo, no âmbito do Juizado Especial 21 Cível, possui disciplina especial, de modo que sua interposição não interrompe o prazo para outros recursos, mas apenas o suspende, de sorte que o prazo volta a correr pelo tempo que faltava quando os embargos foram interpostos; por fim, os prazos no Juizado Especial continuam sendo aqueles previstos na lei especial, e só quando nesta não houver previsão é que serão os do CPC; a contagem, porém, deve seguir os critérios adotados pelo CPC, uma vez que a Lei 9.099/1995 não possui qualquer norma que discipline a contagem dos prazos processuais no âmbito do Juizado Especial Cível. O novo CPC tem aplicação supletiva em relação à Lei 9.099/1995. E a aplicação supletiva não é meramente subsidiária, porquanto suplementar significa acrescer o que falta, de modo que as normas do CPC devem aplicar-se aos procedimentos disciplinados pela Lei 9.099/1995 sempre que esta não tenha disciplina própria existente naquele e com a qual não encete conflito frontal. Entretanto, um ponto causou enorme discussão ante a lacuna nas normas adotadas, no que se refere à aplicação das alterações aos Juizados Especiais, que se refere justamente à compatibilidade dessas normas com o novo CPC, o qual também fora desenvolvido para tentar promover a agilização do sistema judiciário, oportunizando as partes, todavia, sanar ou regularizar eventuais vícios para o prosseguimento do feito sem a sua extinção. Outrossim, outras questões debatidas quanto à aplicação do novo Codex no procedimento sumaríssimo, dentre as quais pinçamos alguns enunciados que trarão mudanças no próprio andamento do processo, quais sejam: “Enunciado 42. (art. 339) “O dispositivo aplica-se mesmo a procedimentos especiais que não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis, pois se trata de mecanismo saneador, que excepciona a estabilização do processo (Grupo: Litisconsórcio, Intervenção de Terceiros e Resposta do Réu). Enunciado 93. (art. 982, I) Admitido o incidente de resolução de demandas repetitivas, também devem ficar suspensos os processos que versem sobre a mesma questão objeto do incidente e que tramitem perante os juizados especiais no mesmo estado ou região (Grupo: Recursos Extraordinários e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas). . Enunciado 98. (art. 1.007, §§ 2º4 e 4º5) O disposto nestes dispositivos aplica-se aos Juizados Especiais (Grupo: Ordem dos Processos no Tribunal, Teoria Geral dos Recursos, Apelação e Agravo). Enunciado 247. (art. 133) Aplica-se o incidente de desconsideração da 22 personalidade jurídica no processo falimentar (Grupo: Impactos do CPC nos Juizados e nos procedimentos especiais de legislação extravagante). Enunciado 269. (art. 2206) A suspensão de prazos de 20 de dezembro a 20 de janeiro é aplicável aos Juizados Especiais (Grupo: Impactos do CPC nos Juizados e nos procedimentos especiais de legislação extravagante). Enunciado 418. (arts. 294 a 311; leis 9.099/95, 10.259/01 e 12.153/09).As tutelas provisórias de urgência e de evidência são admissíveis no sistema dos Juizados Especiais (Grupo: Impacto nos Juizados e nos procedimentos especiais da legislação extravagante). Enunciado 483. (art. 1.065; art. 50 da lei 9.099/95; Res. 12/09 do STJ). Os embargos de declaração no sistema dos juizados especiais interrompem o prazo para a interposição de recursos e propositura de reclamação constitucional para o Superior Tribunal de Justiça (Grupo: Impacto nos Juizados e nos procedimentos especiais da legislação extravagante).”18 Conclui-se, portanto que, o Novo CPC terá aplicação restrita ao Sistema dos Juizados Especiais, gerando, indubitavelmente, questões passíveis de mudanças até que seja firmada jurisprudência acerca das controvérsias estabelecidas. CONCLUSÃO 18 BRASIL. Lei Federal n. 13.105, de 16 de março de 2015. 23 O presente trabalho contou com inúmeros objetivos, e consequentemente, várias conclusões. Inicialmente, podemos dizer que o NCPC, que iniciou sua vigência em março do ano passado, veio trazer esclarecimentos a diversas questões ainda obscuras e discrepantes do CPC/73. Sendo assim, a primeira conclusão é a de que, o NCPC veio para melhorar e preencher lacunas existentes em nosso ordenamento jurídico, fato que é sempre de grande importância para o desenvolvimento do direito e da justiça. Quanto aos tópicos apresentados, muito se fez referência aos honorários advocatícios, tema abordado de forma simplista no CPC de 73, sendo tratado agora, pelo NCPC, de forma mais substancial e condizente com a atuação dos profissionais do direito e sua função na manutenção da justiça. Faz-se, inclusive, relação entre estes e os princípios da causalidade, isonomia e sucumbência, o que torna clara a nova abordagem adotada, culminando na conclusão da importância deste tema no nosso ordenamento jurídico. Falou-se também, sobre os juizados especiais, e a relação dos advogados frente a este. Ora, se os juizados especiais são de suma importância para a agilidade de diversos processos, além de ter diversas outras vantagens (menor custo, por exemplo), conclue-se que, aos advogados, resta acatar e manter relação harmônica de convício com estes juizados; com o objetivo inclusive de melhorar toda a atuação do sistema judiciário, e consequentemente, diminuir a morosidade para os advogados também. Ainda no que concerne aos juizados especiais, falou-se também sobre a relação entre as diretrizes do NCPC e a sua aplicabilidade nos processos relacionados à lei 9.099/95 (dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais e dá outras providências), fato que nos levar a concluir ainda, que o NCPC trouxe diversas melhorias e esclarecimentos, em vários âmbitos do nosso sistema judiciário. REFERÊNCIAS 24 BRASIL. Lei Federal n. 13.105, de 16 de março de 2015. Dispõe sobre o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 17 de mar. de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 29/09/2016. BRASIL. Lei Federal n. 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre O Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 05 de jul. de 1994. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8906.htm>. Acessado em 29/09/2016. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Informativo de Jurisprudência n° 540/2014, Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/? acao=pesquisarumaedicao&livre=@cod=0540>. Acesso em 29/09/2016. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário: 470407 DF, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 09/05/2006, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 13-10-2006. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=368534> . Acesso em 29/09/2016. GAJARDONI, Fernando da Fonseca. A problemática compatibilização do novo CPC com os juizados especiais. Publicado 11 de Janeiro, 2016 http://jota.uol.com.br/a- problematica-compatibilizacao-do-novo-cpc-com-os-juizados-especiais GAY, Giovana Andreoli. A inserção do Novo CPC ao procedimento dos Juizados Especiais, publicado em 16 de junho de 2016. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI240823,11049=A+insercao+do+N ovo+CPC+ao+procedimento+dos+Juizados+Especiais>. Acesso em 24/09/2016. MACEDO, Bruno Pereira. Os honorários advocatícios no NCPC. Disponível em: <http://brunopereiramacedo.jusbrasil.com.br/artigos/308532748/honorarios- advocaticios-no-novo-cpc-art-85>. Acesso em 25/09/2016. 25 NIEMEYER, Sérgio.Revista Consultor Jurídico, 23 de maio de 2016, 9h52. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-mai-23/sergio-niemeyer-cpc-aplica- supletivamente-lei-90991995>. Acesso em 28/09/2016. ONÓFRIO, Fernando Jacques. Manual de Honorários Advocatícios. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002; p. 32. ROCHA, Miguel Arcanjo Costa da. O papel do advogado na sociedade atual. Disponível em: <http://www.pucrs.br/provas/red031b6.htm>. Acesso em: 16 de setembro de 2016. ROLLO, Arthur. Limites ao arbitramento judicial dos honorários advocatícios. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/limites-ao- arbitramento-judicial-dos honorariosadvocaticios/11066>. Acesso em 18 de setembro de 2016. VIVEIROS, Estefânia; CAMARGO, Luiz H. V. Salário pode ser penhorado para pagar honorário advocatício. Revista Consultor Jurídico, 22 mai. 2014. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2014-mai-22/salario-penhorado-pagar-honorario- advogado. Acesso em 5 nov. 2014.
Compartilhar