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EAD DIDÁTICA Elaine Arns Elaine Cristina Pereira da Silva Maria Conceição Mússio Bittencourt DIDÁTICA Elaine Arns Elaine Cristina Pereira da Silva Maria Conceição Mússio Bittencourt Apresentação Trabalhar com educação é uma tarefa complexa, tendo em vista os inúmeros fatores envolvidos nesta jornada. As duas principais e fundamentais condições para ser um bom educador são: antes de tudo, o afeto, o carinho pelas crianças e jovens que lhes são confiados; depois, gostar de ensinar e da matéria que ensina. Estando asseguradas essas duas condições, é ainda necessário dar-se conta, de que, na atividade de ensino, a autonomia do professor poderá ser apenas aparente, se ele não considerar os interesses políticos, econômicos e sociais a permearem essa atividade que, por si só, é capaz de manter toda uma sociedade em estado de conformismo, ou levá-la a transformar-se, para atender às necessidades da maioria da população jovem de uma nação. O professor tem nas mãos uma ferramenta poderosa e uma matéria prima a ser trabalhada, que pode impactar as estruturas sociais, políticas e econômicas de um país. Diante disso, eu me questiono: para que, com que intenção estou ensinando didática para os futuros mestres? Resposta difícil para mim, mas buscando toda a reflexão que me é possível, posso dizer que o meu desejo é oferecer-lhes uma pequena colaboração, para que, como eu, embarquem nesta maravilhosa aventura que é ver desabrochar as novas gerações. O que estudarão na didática, será apenas o início da busca pela instrumentalização que lhes permitirá avançar sozinhos, para encontrar os objetivos e métodos adequados aos seus princípios como educador, já que por trás de cada atitude do professor, tem de haver, como uma bússola, os princípios que indicam qual a direção que ele quer dar no desempenho de tão nobre tarefa. Boa sorte neste caminho árduo e doce, mas que traz uma recompensa incomensurável: a alegria do crescimento moral e intelectual de seus alunos, e a gratidão dos pais, que, quando mandam seus filhos para a escola, pensam “se ele se formar, vai melhorar de vida”. Espero, sinceramente, que, no decorrer desta jornada, vocês possam ouvir muitas vezes: “Obrigado, professor(a)”. Maria Conceição Mússio Bittencourt PROGRAMA DA DISCIPLINA DIDÁTICA Ementa: As concepções de didática. A dimensão humana, técnica e política da didática. O planejamento da ação pedagógica e a utilização dos recursos didáticos. A relação professor-aluno na sala de aula. OBJETIVOS GERAIS Identificar o papel da didática na formação do professor, estabelecendo relações entre a didática e a prática pedagógica. Analisar as principais tendências/abordagens pedagógicas presentes no contexto educacional. Discutir e realizar atividades que possibilitem vivenciar experiências de organização do trabalho pedagógico. CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS Educação, instrução e ensino. Didática – Concepções históricas. A Didática e a formação profissional do professor. Didática e democratização do ensino. A didática como atividade pedagógica escolar. Desenvolvimento histórico da didática e tendências pedagógicas. Tendências pedagógicas no Brasil e a didática. A didática e as tarefas do professor. Processos didáticos básicos: ensino e aprendizagem. METODOLOGIA Adotamos para a disciplina Didática uma metodologia que alia a teoria à prática. A leitura contextualizada dos textos da bibliografia básica constitui o eixo principal da organização didática, devendo o aluno vivenciar a aprendizagem também no ambiente virtual, por meio da participação de chats, fóruns de debates, sistematizando esses conteúdos, posteriormente, nas apresentações de seminários. Bibliografia Básica: LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994 VEIGA, I. P. A. (coord.) Repensando a didática. Campinas: Papirus, 2007. MORAN, J. M. MASETTO, M. e BEHRENS, M. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2009. Bibliografia Complementar: ANASTASIOU, L. G. (ORG). Processos de Ensinagem na Universidade. Joinville, SC, UNIVILLE, 2007. FIORENTINI, L. M. R. e Moraes. Linguagens e interatividade na educação a distância. SP: DPA Ed., 2003. FREIRE. P. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996. HAIDT, Regina Célia Cazaus. Curso de Didática Geral. São Paulo/SP: Ática, 2002. MASETTO, Marcos. T. O Professor Universitário em Aula. São Paulo: MG Editores Associados, 1990. PERRENOUD, P. 10 Novas competências para ensinar. Rio de Janeiro: Artmed. 2008. PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas e profissão docente: Três faceta. In: Práticas pedagógicas, profissão docente e formação. Perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993. ZABALA, A. A prática educativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007. UNIDADE 1 - A HISTÓRIA DA DIDÁTICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre a história da didática; Explicitar as principais ideias de Comenius; Propiciar conhecimentos sobre Rousseau e Pestalozzi. ESTUDANDO E REFLETINDO A história da didática está ligada ao aparecimento do ensino como atividade planejada e intencional, dedicada à instrução. Nas comunidades primitivas, os jovens passam por um ritual de iniciação, que pode ser considerado como uma forma de ação pedagógica, embora aí não esteja presente o “didático”, como forma estruturada de ensino. Na antiguidade clássica (gregos e romanos) e no período medieval, também aparecem formas de ação pedagógicas em escolas, mosteiros, igrejas, universidades. Entretanto, até meados do século XVII não podemos falar de Didática como teoria de ensino, como sistematização e estudo científico das formas de ensinar. Comenius: o pai da didática moderna. O termo “Didática” aparece, quando os adultos começam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens, através da direção-deliberada e planejada do ensino, ao contrario das formas mais ou menos espontâneas de antes. A formação da teoria didática, para investigar as ligações entre ensino e aprendizagem e suas leis, ocorre no século XVII, quando Comenius escreve a “Didactica Magna”. Comenius desenvolveu ideias avançadas para a prática educativa nas escolas, numa época em que surgiram novidades no campo da Filosofia e das Ciências e grandes transformações nas técnicas de produção, em contraposição à ideias conservadoras da nobreza e do clero. O sistema de produção capitalista, ainda incipiente, já influenciava a organização social, política e cultural. As ideias de Comenius. Comenius foi o fundador da Didática e, em parte, da Pedagogia Moderna. Foi um pensador, um místico e um reformador social. Quem folheia os novos programas educacionais brasileiros, sente neles, direta ou indiretamente, a presença de Comenius, seja quando propõem “ensino para todos”, seja quando propõem “ensino de qualidade”. O ideal de Comenius. As finalidades da educação, para Comenius são a promoção da “instrução ou erudição”, nas ciências, nas artes e nas línguas; da virtude ou formação moral; da devoção que liga o homem ao Eterno. Esse processo é obra da própria educação formal e informal. É ao processo formal que o autor dá especial atenção, propondo e defendendo um sistema de organização escolar, planos de estudo, escolas específicas por níveis e idades. Para isso, escreveu tratados pedagógico-didáticos, como é o caso da “Didactica Magna”. Para Comenius, a educação é a arte de fazer “germinar a sementes interiores, as quais não se desenvolverão a não ser que sejam solicitadas por oportunas experiências, variadas e ricas”. O seu objetivo fundamental é provar a necessidade, a possibilidade e a facilidade de todos os homens serem educados em todas as coisas e de uma forma total. Eleapresenta planos para “dar a todos aqueles que nasceram homens, uma instrução geral capaz de educar todas as faculdades humanas”. Ensinar Tudo a Todos Comenius insiste, repetidamente, a triologia: omnes, omnia, omnino – “educar todos, em todas as coisas, de uma forma total”. Comenius pretendia uma sistematização e organização unitária do saber humano. Ao referir-se a qualquer parcela desse saber, ele não a isola da globalidade de que faz parte. Isso pode significar que “todo o real é racional” e, portanto, cognoscível. Nada do mundo está vedado à inteligência humana. Mas isto não quer dizer que, em se tratando da organização escolar e dos planos de estudo, este filósofo educador não forneça critérios de seleção e de organização das matérias a incluir. Relativiza o que é possível apreender durante uma vida e defende o que atualmente chamamos “currículos em espiral”: iniciar os assuntos e retomá-los em formas cada vez mais alargadas e profundas. Pretendemos apenas que se ensine todos a conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos de todas as coisas principais, das que existem na natureza e das que os homens fabricam, pois não fomos colocados no mundo só para sermos espectadores, mas também atores. Comissão Internacional sobre Educação para séc. XXI 1996. Democratização do Ensino: dada a identidade universal da natureza humana, a educação para todos, ou o acesso de todos à escola é uma consequência lógica inevitável. Os instrumentos da cultura são dados a todos os homens, e não apenas em uma determinada nação, mas em todo mundo. Entendo por instrumento de cultura: os sentidos (externos e internos), a mente, o coração, a língua, as mãos e a lentidão do crescimento. Toda a juventude, de ambos os sexos, deve ser enviada às escolas. Não apenas os filhos dos ricos ou dos cidadãos importantes, mas todos por igual: nobres e plebeus, e em todas as cidades, aldeias ou casas isoladas. Perante Deus não há pessoas privilegiadas. Comissão Internacional sobre Educação para séc. XXI 1996. Comenius defende um período alargado, ou tronco escolar comum, de modo que se não discriminem e determinem profissões cedo demais, mas aguarde as disposições naturais de cada um. Também defende o respeito pela heterogeneidade dos alunos e pela diversidade de ritmos de aprendizagem de cada um: alguns intelectos são agudos e outros lentos; uns suaves e outros difíceis; uns ansiosos por conhecimento e outros mais ansiosos por aptidões mecânicas. Nem todas as crianças se desenvolvem igualmente. Estudos Superiores: Comenius propõe escolas por níveis etários e com funções especificas: as Escolas Superiores destinam-se à preparação de pessoas para ocuparem cargos superiores na administração da sociedade, do Estado e da Igreja. O acesso a essas escolas se faça por mérito próprio e se não vede aos que têm possibilidades intelectuais, mas não tem condições materiais. “Para este efeito, importa que o Estado providencie para os estudantes bem dotados, das classes pobres, a ajuda material necessária”. ESTUDANDO E REFLETINDO Jean Jacques Rosseau (1712 – 1778). Filósofo suíço, natural de Genebra, não chegou a conhecer a própria mãe, que faleceu após o trabalho de parto. Era filho do relojoeiro calvinista Isaak Rousseau. Aprendeu a ler e a escrever ainda muito novo. Mais tarde, foi aluno do Pastor Lambercier, de rígida disciplina moral e religiosa. Precisou trabalhar desde cedo e sentira o que significava ser maltratado, explorado. Na adolescência, encontrando os portões da cidade fechado, quando voltava de uma de suas saídas, opta por vagar pelo mundo e acaba indo para Paris. Foi uma das principais inspirações ideológicas da segunda fase da “Revolução Francesa”, que deu início a um longo período de terror e instabilidade política, e acabaria por levar à ditadura de Napoleão. Na obra “Do Contrato Social”, de sua autoria, inspirou muitos dos revolucionários e regimes nacionalistas e opressivos, subsequentes a esse período. Inspirados nas ideias de Rousseau, os revolucionários defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. A contestação da sociedade, tal como estava organizada (desigualdade e injustiça), era fruto da competição e da hierarquia mal constituída. Rousseau é associado, frequentemente, às ideias anti-capitalistas e considerado um antecessor do socialismo e comunismo. Foi um dos primeiros autores modernos a atacar a propriedade privada. Rousseau questionou a suposição de que a maioria está sempre correta e argumentou que o objetivo do governo deveria ser assegurar a liberdade, igualdade e justiça para todos. A função principal de sua filosofia é libertar o homem. Rousseau procurou interpretar as novas aspirações educacionais, propondo uma concepção nova de ensino, baseada nas necessidades e interesses imediatos da criança. As ideias mais importantes de Rousseau foram: 1- A preparação da criança para a vida futura deve basear-se no estudo das coisas que correspondem às suas necessidades e interesses atuais. Antes de ensinar as ciências, elas precisam ser levadas a despertar o gosto pelo estudo. Os verdadeiros professores são a natureza, a experiência e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais. São os interesses e necessidades imediatas do aluno que determinam a organização do estudo e seu desenvolvimento. 2- A educação é um processo natural; ela se fundamenta no desenvolvimento interno do aluno. As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para se desenvolver. Rousseau não colocou em prática suas ideias e nem elaborou uma teoria de ensino. Essa tarefa coube a outro pedagogo suíço: Henrique Pestalozzi. Pestalozzi -1746 – 1827 Johann Heinrich Pestalozzi foi um pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional. Seu pai morreu quando ainda era criança. Foi criado pela mãe. Sua família empobreceu. As dificuldades para sobreviver fizeram-no conhecer de perto o preconceito social, tendo que lutar muito para se tornar conhecido numa sociedade dividida entre nobres e plebeus/ entre ricos e pobres. Recebeu orientação religiosa protestante, mas considerava-se um cristão, sem defender qualquer religião. Após a leitura do “Emilio”, de Rousseau, Pestalozzi foi influenciado pelo movimento naturalista e tornou-se um revolucionário, juntando-se aos que criticavam a situação política do país. Gastou parte de sua juventude nas lutas políticas, mas, em 1781, com a morte do amigo e político, Bluntschli, abandonou o partido para dedicar-se à causa da educação. Casou-se aos 23 anos, comprou um pedaço de terra e tentou ser agricultor, mas fracassou. Por este tempo, havia feito de sua casa, na fazenda, uma escola. Escreveu sua obra-prima: “Leonardo e Gertrudes”, um conto, em que narra a reforma gradual feita primeiro numa casa, depois numa aldeia, por uma mulher boa e dedicada. A obra foi um sucesso na Alemanha e Pestalozzi saiu do anonimato. Com a invasão francesa da Suissa, em 1798, muitas crianças vagavam às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado e gastou suas energias, educando-os. Durante o inverno, cuidava delas pessoalmente com extremada devoção, mas em junho de 1799, o edifício foi requisitado pelo invasor francês para instalar ali um hospital e seus esforços foram perdidos. Em 1801, Pestalozzi concentrou suas ideias sobre educação num livro intitulado “Como Gertrudes ensina suas crianças”. Ali, expõe seu método pedagógico, a partir do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo. As crianças mediam, pintavam, escreviam, contavam e assim por diante. Em 1799, obteve permissão para manter uma escola em Burgdorf, onde permaneceu trabalhando até 1804. Em 1802, foi como deputado a Paris e fezde tudo para fazer com que Napoleão se interessasse em criar um sistema nacional de educação primária, mas o conquistador disse-lhe que não podia perder tempo com o alfabeto. Em 1805, ele mudou-se para Yverdon e abriu sua escola. Por vinte anos, dedicou-se ao seu trabalho. Por volta de 1815, surgiram dissenções entre os professores de sua escola e os últimos dez anos de seu trabalho foram marcados por cansaço e tristeza. Pestalozzi deu grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas, como cultivo do sentimento, da mente e do caráter. Atribuía grande importância ao método intuitivo, levando os alunos a desenvolverem o senso de observação; análise dos objetos e fenômenos da natureza; e a capacidade da linguagem, através da qual expressavam, em palavras, o resultado das observações. Nisto consistia a educação intelectual. Também atribuía importância fundamental à psicologia da criança como fonte do desenvolvimento do ensino. As ideias de Comenius, Rousseau e Pestalozzi influenciaram muitos outros pedagogos. O mais importante deles foi Yohan Friederich Herbart, que estudaremos a seguir. UNIDADE 2 - DIDÁTICA – TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar as principais tendências pedagógicas. São as grandes tendências filosóficas e pedagógicas que definem, ao longo da história, as concepções de ensino e aprendizagem. ESTUDANDO E REFLETINDO Tendências Filosóficas da Educação A educação toma como referência algumas correntes filosóficas, que norteiam o fazer pedagógico, a partir de questionamentos, tais como: qual a finalidade da educação? Que tipo de indivíduos queremos formar? O que pretende a sociedade? Que papéis devem assumir os educadores e os educandos? Todos os questionamentos requerem uma reflexão filosófica. Há três tendências filosóficas para explicar a educação: a redentora, a reprodutora e a transformadora. A tendência redentora concebe a educação como um meio de manter a organização social e resgatá-lo quando for necessário. Um dos representantes dessa tendência é Comenius. Para ele, assim como outros pensadores, a educação tem um caráter salvacionista, pois é através dela que podemos proteger a humanidade dos possíveis desvios da sua essência. A tendência reprodutora pressupõe que a educação reproduz a sociedade e as ideologias vigentes. A escola é considerada como um ambiente discriminatório, ela imprime ideologias das classes dominantes e, em vez de democratizar, ela reproduz as diferenças sociais e perpetua o status quo. Podemos destacar como adeptos dessa tendência Louis Althusser, que classifica a escola como um aparelho ideológico de estado (AIE) e Pierre Bourdieu, que afirma ser, no processo de reprodução, a atuação da escola com a violência simbólica, ou seja, um tipo de agressão que não ocorre concretamente, com a utilização da força física, mas no campo dos discursos, das ideias, de maneira sutil. A tendência transformadora, por sua vez, é crítica, busca compreender a educação como mediação de um projeto social. Ela tenta ser intermediária entre as tendências anteriores, pois não considera a educação de modo tão otimista quanto à redentora, nem tão pessimista como a reprodutora. Os teóricos desta tendência admitem que a educação, agindo a partir dos condicionantes históricos, tem um papel ativo na sociedade. Tendo como referência essas três linhas filosóficas, que definem a concepção de homem, educação e sociedade, surgem as tendências pedagógicas, que definem os elementos didáticos a convergirem para o processo ensino- aprendizagem. Concluímos, então, que existe estreita relação entre Educação, Pedagogia e Filosofia. Constatamos que a Pedagogia se delineia, a partir de uma posição filosófica definida. Em suma, as tendências pedagógicas surgem a partir das tendências filosóficas. Introduzimos abaixo o quadro esquemático das tendências pedagógicas. Pedagogia Liberal A Pedagogia Liberal pressupõe a adaptação dos indivíduos aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual. Atente para a citação de Borges (2008), explicitada em “Didática – As tendências Pedagógicas”. Pedagogia Progressista A Pedagogia Progressista pressupõe a análise crítica do sistema capitalista, sustentando as finalidades sociopolíticas da educação, conforme Borges (op. cit.). A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos toma o partido dos interesses majoritários da sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o papel de proporcionar aos alunos o domínio de conteúdos científicos, de estudos e habilidades de modo a formarem uma consciência critica face às realidades sociais, com possibilidades de transformá-las. BUSCANDO CONHECIMENTO Herbart e a Educação Brasileira- (1776–1841) Herbart exerceu influência na didática e na prática docente. Foi e continua sendo inspirador da pedagogia conservadora, mas suas ideias precisam ser estudadas por causa de sua presença constante nas salas de aula brasileiras. Junto com sua formulação dos fins da educação e da Pedagogia como ciência, desenvolveu uma analise do processo psicológico de aquisição de conhecimentos, sob a direção do professor. Segundo Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida através da instrução educativa. Educar o homem, significa instruí-lo para querer o bem, de modo que aprenda a comandar a si próprio. A principal tarefa da instrução é introduzir ideias corretas na mente dos alunos. O professor é um arquiteto da mente. Ele deve trazer à atenção dos alunos as ideias que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente, que, por sua vez, vão favorecer a assimilação de ideias novas. O método de ensino consiste em provocar a cumulação de ideias na mente da criança. Herbart estava atrás, também, de uma formulação de um método único de ensino, em conformidade com as leis psicológicas do conhecimento. Estabeleceu, assim, quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos: 1º) clareza: a preparação e apresentação da matéria nova de forma clara e completa; 2º) associação entre as ideias antigas e novas; 3º) a sistematização dos conhecimentos, tendo em vista a generalização; 4º) o método, que seria a aplicação, o uso dos conhecimentos adquiridos através de exercício. Posteriormente, os discípulos de Herbart desenvolveram ainda mais a proposta dos passos formais, ordenando-os em cinco: preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação, fórmula esta que ainda é usada pela maioria dos nossos professores. O sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores, trouxe esclarecimentos válidos para a organização da prática docente, como, por exemplo, a exigência de compreensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização e o significado educativo da disciplina na formação do caráter. Entretanto, o ensino é entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas com finalidade de reproduzir a matéria transmitida. Com isso, a aprendizagem se torna mecânica, automática, associativa, não mobilizando a atividade mental, a reflexão e o pensamento criativo e independente dos alunos. As ideias pedagógicas de Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Herbart, além de muitos outros, formaram a base do pensamento pedagógico europeu, difundindo-se, depois, por todo o mundo, demarcando as concepções pedagógicas que hoje são conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada. UNIDADE 3 - DA PEDAGOGIA TRADICIONAL À PEDAGOGIA RENOVADA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar as diferenças entre pedagogia tradicional e pedagogia renovada.Explicitar as relações entre Pedagogia e Didática. ESTUDANDO E REFLETINDO A Pedagogia Tradicional, em suas várias correntes, caracteriza as concepções de educação onde prepondera: a ação de agentes externos na formação do aluno; o primado do objeto de conhecimento; a transmissão do saber constituído na tradição e nas verdades acumuladas pela humanidade; e uma concepção de ensino como impressão de imagens propiciadas pela palavra do professor ou pela observação sensorial. Vamos estudar as vertentes da Pedagogia Renovada. A Pedagogia Renovada agrupa correntes que advogam a renovação escolar, opondo-se à Pedagogia Tradicional. Entre as características desse movimento destacam-se: a valorização da criança, dotada de liberdade, iniciativa, interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capacidades e aptidões individuais; individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança. O movimento de renovação da educação recebeu diversas denominações:- educação nova, escola nova, pedagogia ativa, escola do trabalho. Desenvolveu-se como tendência pedagógica, no inicio do século XX. Dentro do movimento escolanovista, desenvolveu-se, nos Estados Unidos, uma de suas mais destacadas correntes: a Pedagogia Pragmática ou Progressivista, cujo principal representante é John Dewey. As ideias desse educador exerceram uma grande influência no movimento da Escola Nova na América Latina e, principalmente no Brasil. Com a liderança de Anísio Teixeira e outros educadores, formou-se, no início da década de 30, o “Movimento dos Pioneiros da Escola Nova”, cuja atuação foi decisiva na formulação da política educacional, na legislação, na investigação acadêmica e na prática escolar. John Dewey (1859 – 1952) No final da década de 1890, Dewey começou a afastar-se da sua anterior visão idealista e adotar uma nova posição, que veio a ser conhecida mais tarde como pragmatismo. Depois de problemas graves na política interna do Departamento de Educação da Universidade de Chicago, Dewey abandonou a instituição para se ligar à Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde permaneceu até o fim da sua carreira no ensino, em 1930. Continuou, no entanto, a ensinar como Professor Emérito até 1939, e continuou a escrever e a intervir socialmente até as vésperas da sua morte. Em suas obras se destacam: “A Escola e a Sociedade” 1889; e “Experiência e Educação”, 1938. Dewey e seus colaboradores reagiram à concepção herbartiana de educação pela instrução, advogando a educação pela ação. A escola não é a preparação para a vida. É a própria vida; a educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio ambiente, através da experiência e da reconstrução da experiência. A função mais genuína da educação é prover condições para estimular a atividade própria do organismo, a fim de que alcance seu crescimento e desenvolvimento. O currículo não se baseia nas matérias de estudo convencionais que expressam a lógica do adulto, mas, nas atividades e ocupações da vida presente, de modo que a escola se transforme num lugar de vivencia das John Dewey nasceu em Burlington, Vermont. Foi um filósofo e pedagogo. Graduou-se pela Universidade de Vermont em 1879 e exerceu as funções de professor secundário durante dois anos, tempo em que desenvolveu um profundo interesse por Filosofia. Em setembro de 1882 deixou o ensino e retornou à universidade para estudar Filosofia na Universidade Johns Hopkins, onde obteve o doutoramento. Dewey exerceu a função de professor de Filosofia na Universidade de Michigan, onde ensinou a partir de setembro de 1884. Três anos mais tarde (1887), publicava o seu primeiro livro, “Psychology”, onde propunha um sistema filosófico que conjugava o estudo científico da psicologia com a filosofia idealista alemã. Esse livro foi importante para o passo seguinte da carreira de Dewey: o cargo de professor de Filosofia Mental e Moral na Universidade de Minnesota, que assumiu em 1888. Porém, no ano seguinte, após a morte súbita de seu mentor, George Morris, regressou à Universidade de Michigan para se tornar chefe do Departamento de Filosofia. Em 1894, no entanto, saiu de Michigan para a recém-criada Universidade de Chicago, onde, em breve, passou a liderar o departamento de Filosofia e o departamento de Pedagogia, criado por sua sugestão. tarefas requeridas para a vida em sociedade. O aluno e o grupo passam a ser o centro de convergência do trabalho escolar. As ideias de John Dewey marcaram dois momentos na educação brasileira: no primeiro, na década de 30 inspirou o “Movimento da Escola Nova” e num segundo momento, na década de 90, o educador aparece a partir da área de formação de professores, em especial, com o conceito de Professor Reflexivo, difundido no Brasil por autores estrangeiros. No primeiro momento (década de 30), é significativo o aspecto político das ideias dewyanas e, no segundo momento, sobressai o aspecto pedagógico, em detrimento do político. BUSCANDO CONHECIMENTO Ao estudar a educação nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos, psicológicos, para descrever e explicar o fenômeno educativo, a Pedagogia recorre à contribuição de outras ciências como a Filosofia, História, Sociologia, Psicologia e Economia. Esses estudos acabam por convergir na Didática, uma vez que esta reúne em seu campo de conhecimentos, os objetivos e modos da ação pedagógica na escola. Sendo a educação uma prática social que ocorre numa grande variedade de instituições e atividades humanas (família, escola, trabalho, igrejas, organizações políticas e sindicais, nos meios de comunicação de massa, etc.) podemos falar de uma pedagogia familiar, política, etc. e também de uma pedagogia escolar. Nesse caso, constituem-se disciplinas pedagógicas: Teoria da Educação, Teoria da Escola, Organização Escolar, e a Didática, como teoria de ensino. Prática Educativa e Sociedade A educação – prática educativa – é uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades, já que todas elas precisam preparar os indivíduos para uma participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. A prática educativa, no entanto, não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornem aptos a atuar no meio social e transformá-los em função das necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos. Em sentido restrito, a educação ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada. As influências educativas podem ser não intencionais ou informais, advindas do meio social em que o indivíduo vive; intencionais ou formais em que há intenções e objetivos definidos conscientemente, como, por exemplo, a educação escolar e extraescolar (pai, professor, adultos em geral – estes, muitas vezes, invisíveis através de televisão, rádio, propagandas, computador, etc.). A Prática Educativa e as Relações Sociais A expressão: “a educação é socialmente determinada”, significa que a prática é determinada pelas exigências sociais, políticas e ideológicas. Desde o início da humanidade, os indivíduos e grupos relacionam-se a fim de trabalharem, conjuntamente, para garantir a sobrevivência. Essas relações vão criando uma divisão do trabalho, conformesexo, idade, capacidade, etc. A evolução da divisão do trabalho passa pelas formas primitivas, onde os indivíduos têm igual usufruto do trabalho comum, caminha para os sistemas escravagistas, feudais e, séculos mais tarde, transforma-se no sistema capitalista, onde os proprietários dos meios de produção, (empresas, máquinas, bancos, instrumentos de trabalho, etc.) compram o trabalho assalariado. As relações sociais, no capitalismo, geram desigualdades econômicas e culturais. A classe dominante (capitalista) retém os meios de produção material e, também, os meios de produção cultural e da sua difusão, tendendo a colocá-los a serviço dos seus interesses. Assim, a educação que os trabalhadores recebem é deficiente e visa a prepará-los para o trabalho físico e atitudes conformistas. A minoria dominante dispõe de meios para difundir sua própria concepção de mundo (ideias, valores, práticas sobre a vida, o trabalho, etc.), para justificar o sistema de relações que caracteriza a sociedade capitalista. Tais ideias, valores e práticas, como representativas dos interesses de todas as classes sociais são denominadas, ideologia. O sistema educativo, formal e informal é um meio para o repasse da ideologia dominante. As finalidades e processos da prática educativa são determinados por interesses antagônicos dessas classes sociais (capitalista e trabalhadores) e, por isso, o reconhecimento do papel político do trabalho docente implica a luta pela democratização dessas relações de poder. UNIDADE 4 - EDUCAÇÃO, INSTRUÇÃO E O PROCESSO DE ENSINO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar a diferença entre educação, instrução e ensino. Discutir o objeto de estudo da Didática. ESTUDANDO E REFLETINDO Educação refere-se ao processo de desenvolvimento da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais, intelectuais, estéticas – tendo em vista a orientação da atividade humana com o seu meio social. Esse processo se traduz em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Nesse sentido, “educação é instituição social” que se ordena no sistema educacional de seu país:- é o “produto” dos resultados da ação educativa, conforme os propósitos sociais e políticos pretendidos, é “processo”, por consistir em transformações sucessivas, tanto no sentido histórico, como de desenvolvimento da personalidade. Instrução é formação e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas, mediante o domínio de conhecimentos sistematizados. Ensino são ações, meios e condições para realização da instrução. Nessa perspectiva contém, pois, a instrução. Há uma relação de subordinação da instrução em relação à educação, uma vez que o processo e o resultado da instrução, através do ensino, convergem para o objetivo educativo, isto é, quando os conhecimentos, habilidades e capacidades propiciadas pelo ensino se tornam convicções e atitudes frente aos problemas e desafios da realidade. Embora sejam processos diferentes, há uma unidade entre educação e instrução, pois, pode-se instruir sem educar, é educar sem instruir, já que o conhecimento de conteúdos e princípios não leva, necessariamente, o indivíduo a práticas sociais condizentes com a instrução que recebeu. O objetivo educativo não é um resultado natural e colateral do ensino, mas destaca-se como campo principal da instrução e educação. Neste sentido, quando mencionamos “educação escolar”, estamos nos referindo ao “ensino”. Ensinar Um dos elementos básicos da discussão sobre a educação refere-se ao ensinar, ao aprender e ao apreender. Essas ações são, muitas vezes, consideradas e executadas como ações disjuntas, ouvindo-se inclusive de professores, afirmação do tipo “eu ensinei, o aluno é que não aprendeu”. Isso decorre da ideia de que ensinar é apresentar ou explicar o conteúdo numa exposição, o que a grande maioria dos docentes procuram fazer com a máxima habilidade de que dispõem; daí a busca por técnicas de exposição ou oratória, como sendo o elemento essencial para a competência docente. Nesse caso, mesmo numa situação que tradicionalmente seja considerada uma boa aula, em geral, explicita-se o conteúdo da disciplina com suas definições ou sínteses, desconsiderando-se os elementos históricos e contextuais, muitas vezes, tomando suas sínteses temporárias como definitivas, desconectando-as de afirmações técnicas das pesquisas científicas que a originaram. Toma-se, assim, a simples transmissão da informação como ensino, e o professor fica como fonte de saber, tornando-se o portador e a garantia da verdade. Segundo Not (1993), isso pode provocar uma adoção da estrutura do outro, e, quando se fala ao outro, inclusive utiliza-se a mesma linguagem, com as mesmas palavras, principalmente na hora da prova. O aluno habitua-se a crer que existe uma “língua do professor”, que tem de aceitar sem a compreender. Nesse processo, ficam excluídas as historicidades, os determinantes, os nexos internos, a rede teórica, enfim, os elementos que possibilitaram aquela síntese obtida. A ausência desses aspectos científicos, sociais e históricos, deixa os conteúdos soltos, fragmentados, com fim em si mesmo. Embora esse tenha sido o modelo que nós, professores atuais, vivenciamos como alunos e com o qual conseguimos efetivar síntese que nos possibilitaram prosseguir em nossa caminhada acadêmica, temos hoje a nossa disposição, dados de pesquisas que nos permitem um caminhar científico, relacionado ao quadro teórico-prático, atual, que a Pedagogia coloca a nossa disposição. A compreensão do que seja ensinar é um elemento fundamental nesse processo. O verbo ensinar, do latim “insignare”, significa marcar com um sinal, busca despertar para o conhecimento. Na realidade da sala de aula, pode ocorrer a compreensão, ou não, do conteúdo pretendido; a adesão, ou não, a formas de pensamentos mais evoluídas; a mobilização, ou não, para outras ações de estudo e de aprendizagem. Como outros verbos de ação, ensinar contém, em si, duas dimensões: uma utilização intencional e uma de resultado, ou seja, a intenção de ensinar e a efetivação dessa meta pretendida. O processo de ensino O objeto de estudo da Didática é o processo de ensino, na medida em que o ensino viabiliza as tarefas de instrução. Podemos delimitar como objeto da didática, o processo de ensino que, considerado, no seu conjunto, inclui: os conteúdos dos programas e dos livros didáticos, os métodos e formas organizáveis do ensino, as atividades do professor e dos alunos, e as diretrizes que regulam e orientam esse processo. A educação escolar é uma tarefa eminentemente social, pois a sociedade necessita prover as gerações mais novas dos conhecimentos e habilidades que vão sendo acumulados pela experiência social da humanidade. Mas para isso não é suficiente que os alunos dominem os conhecimentos; é necessário dizer como fazê-lo, isto é, investigar métodos seguros e eficazes para a assimilação dos conhecimentos. Nesse contexto, a natureza do trabalho docente é a mediação da relação cognoscitiva entre o aluno e as matérias de ensino. Isso quer dizer que o ensino não é só transmissão de informações, mas também o meio de organizar a atividade de estudo dos alunos. O ensino só é bem sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudos do aluno e é praticado, para desenvolver suas estruturas intelectuais. Ensinar e aprender, pois, são duas facetas do mesmo processo, que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a direção do professor. Aprender ou Apreender? Existe uma diferença entre aprender e apreender, embora, nos dois verbos exista a relação entre os sujeitos e o conhecimento. O apreender, do latim “apprehendere”, significa segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender,agarrar. Não se trata de um verbo passivo; para apreender é preciso agir, exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se, entre outros fatores. O verbo aprender, derivado de apreender significa tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação. É preciso distinguir quais dessas ações estão presentes na meta que estabelecemos ao ensinar: se for apenas receber a informação de, bastará passá- la por meio da exposição oral. Nessa perspectiva, uma boa palestra é o suficiente para a transmissão da informação. No entanto, se nossa meta se refere à apropriação do conhecimento pelo aluno, para além do simples repasse da informação, é preciso reorganizar-se, superando o aprender, que tem se resumido em processo de memorização, na direção do apreender, segurar, apropriar, agarrar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender e compreender. Daí a necessidade atual de se revisar o “assistir aulas”, pois a ação de apreender não é passiva. O agarrar por parte de aluno exige ação constante e consciente: exige informar-se, exercitar-se, instruir-se. O assistir ou dar aulas precisa ser substituído pela ação conjunta do fazer aulas. Nesse fazer aulas é que surgem as necessárias formas de atuação do professor com o aluno, sobre o objeto de estudo e a definição, escolha e efetivação de estratégias diferenciadas que facilitem esse novo fazer. BUSCANDO CONHECIMENTO Processo de “Ensinagem” Diante dessas reflexões, surgiu o termo “ensinagem”, usado, então, para indicar uma prática social complexa, efetivada entre sujeitos, professor e aluno, englobando tanto ação de ensinar, quanto a de apreender, em processo contratual de parceria deliberada e consciente, para o enfrentamento na construção do conhecimento escolar, resultante de ações efetivadas na sala de aula e fora da sala de aula. Trata-se de uma ação de ensino da qual resulta a aprendizagem do estudante, superando o simples dizer do conteúdo por parte do professor, pois é sabido que, na aula tradicional, que se encerra numa simples exposição de tópicos, somente há garantia da citada exposição, e nada se pode afirmar acerca da apreensão do conteúdo pelo aluno. Nessa superação da exposição tradicional, como única forma de explicitar os conteúdos, é que se inserem as estratégias de “ensinagem”. Trabalhando com os conhecimentos estruturados como saber escolar, é fundamental destacar o aspecto do saber referente ao gosto ou sabor, do latim “sapere” – ter gosto. Na “ensinagem”, o processo de ensinar e apreender exige um clima de trabalho tal que se possa saborear o conhecimento em questão. O sabor é percebido pelos alunos, quando o docente ensina determinada área que também saboreia, na lida cotidiana profissional e/ou na pesquisa, e socializado com seus parceiros na sala de aula. Leio o artigo a seguir que trata essa questão: Foco na aprendizagem e não na “ensinagem” Estando há poucos dias em Fortaleza, ouvi do próprio filho uma jocosa história que Lauro de Oliveira Lima – cearense, falecido em 2013, autor de mais de 30 livros sobre educação – contava com graça aos amigos professores que acolhia em sua casa: “Estão vendo este meu cachorro? O nome dele é Dog, e eu o ensinei a falar!”, provocava Lauro, diante do espanto de seus interlocutores. E prosseguia: “Vem cá, Dog! Diga boa-noite! Boa-noite, Dog!” Fazia-se um silêncio sepulcral, e evidentemente nada de um grunhido que sugerisse um boa-noite. Então, Lauro se safava: “Ensinar eu ensinei, só que ele não aprendeu”. Evidentemente, por melhor que seja o mestre, jamais há de se ensinar um cão a falar, mas essa folclórica alegoria enseja ensinamentos para nós, seres humanos. Há uma dicotomia entre aprendizagem e “ensinagem” – palavra essa que subverte a norma culta, e como faz boa rima caiu no gosto popular. O professor só ensina se o aluno aprende. “Não ensino meus alunos. Crio a condição para que aprendam” – faz-se oportuno recordar a frase de Albert Einstein. No SalaMundo 2013 – um dos maiores eventos educacionais do Brasil, realizado em Curitiba –o filósofo colombiano Bernardo Toro segue a mesma toada: “Quando o ensino é mais importante que a aprendizagem e algo vai mal, os culpados são os alunos. Se a aprendizagem é mais importante, nós, adultos, é que temos a responsabilidade de mudar as coisas. A escola é lugar de aprender e não de ensinar”. Para ser um bom professor, nada mais relevante que a didática, com a premissa de que no ambiente da sala de aula são intensas e constantes as mudanças, o que requer reciclagem continuada. Destarte, a simbiose entre a paixão pelo ensino e a vontade de investir na própria formação demonstram quem realmente quer ser um bom didata. O professor deve ser um eterno aprendiz, mantendo-se atualizado nos avanços da sua matéria e das novas práticas e tecnologias educacionais. Aula que tem de ser dada merece ser bem dada e, para tanto, bem preparada. É um ganha-ganha, pois agrega valores ao aluno e ao professor. O desafio é dar uma boa aula e manter a motivação e a disciplina. Quase todo dia o professor tem o seu calvário. Conflitos com alunos são inevitáveis. Mas pare e pense: quem é o adulto na relação? Impor autoridade e limites é tarefa precípua do professor. Sem disciplina não há aprendizagem na escola, tampouco na vida. A indisciplina – esse câncer do nosso sistema educacional – é abominada pelo próprio conjunto de alunos, como bem demonstrou um estudo apresentado no SalaMundo 2013 pelos pesquisadores Francisco Soares e James Ito-Adler. Eles próprios se diziam surpresos: perguntaram a cada aluno o que mais o incomodava na escola, e esperavam que as respostas fossem instalações físicas, didática dos professores, merenda etc. Mas não! Resposta prevalecente: bagunça. Quando o diretor investe o melhor de sua energia na sala de aula, todo o ambiente escolar se transforma. A sala de aula representa os metros quadrados mais nobres de qualquer organização educacional, e é nesse espaço que devemos colocar os melhores talentos. Há um mote em que duas palavras merecem reverência: educar com entusiasmo. Educar vem do latim ducere, que significa conduzir, mostrar o caminho. Entusiasmo tem etimologia no grego en-theo (en = dentro, theo = Deus). Para os gregos politeístas, quem tem entusiasmo tem um deus dentro de si. Nada de grandioso pode ser obtido sem entusiasmo e nenhuma missão é mais grandiosa que a de educador, pois ele tem como legado deixar no mundo uma geração melhor que a sua. Jacir J. Venturi, professor e gestor escolar, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). Disponível no endereço eletrônico: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?id=1416933&tit=Foco-na- aprendizagem-e-nao-na-ensinagem UNIDADE 5 - O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA ESCOLA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar as características do processo de ensino; Propiciar conhecimentos sobre a aquisição da aprendizagem ESTUDANDO E REFLETINDO No exercício do magistério, há uma relação recíproca e necessária entre a atividade do professor (ensino) e a atividade de estudo dos alunos (aprendizagem). A condução do processo de ensino requer uma compreensão clara do processo de aprendizagem: em que consiste e quais as condições externas e internas que o influenciam. Em sentido geral, qualquer atividade humana, em qualquer idade ou condição, pode levar a uma aprendizagem. A unidade ensino-aprendizagem se concretiza na interligação de dois momentos indissociáveis:- transmissão/assimilação ativa de conhecimentos e habilidades, dentro de cada situação didática. As relações entre professor, aluno e matéria não são estáticas, mas dinâmicas, por isso, falamos da atividade de ensino como um processo coordenado de ações docentes. A condução desse processo requer uma estruturação dos vários momentosde desenvolvimento da aula ou unidade didática. Características do Processo de Ensino Devemos entender o processo de ensino como o conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, visando a alcançar determinados resultados, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento mental dos alunos. Consideremos algumas características desse processo: a) Visa ao desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos, mediante passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo dos alunos. O desdobramento desse processo tem caráter intencional e sistemático, requerendo as tarefas docentes de planejamento, direção das atividades de ensino e aprendizagem, e avaliação. b) O processo de ensino visa aos resultados em termos de domínio de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, convicções e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Na história da didática e na prática escolar, existe uma propensão para acentuar unilateralmente, ora os conteúdos de ensino, ora o desenvolvimento de capacidades e habilidades, separando o que se costuma chamar de aspecto material e aspecto formal do ensino. Na verdade, o ensino une os dois aspectos, pois a formação das capacidades e habilidades só se efetiva em relação a conteúdos da matéria, ao mesmo tempo em que a assimilação dos conteúdos requer o desenvolvimento dessas capacidades e habilidades. c) O ensino tem um caráter bilateral, porque combina a atividade do professor (ensinar) com a atividade do aluno (aprender), fazendo interagir dois momentos indissociáveis: a transmissão e a assimilação ativa dos conhecimentos e habilidades. O professor organiza os conteúdos e os torna didaticamente assimiláveis, provê as condições e os meios de aprendizagem, controla e avalia; entretanto, a transmissão supõe a assimilação ativa, pois, ensina-se para que os alunos se apropriem de forma ativa e autônoma dos conhecimentos e habilidades. Pode-se concluir que não há separação entre aquisição da bagagem de conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades intelectuais. Sem o domínio dos conhecimentos não se desenvolvem as capacidades intelectuais, pois, à medida que são assimilados conhecimentos, habilidades e hábitos são desenvolvidas as capacidades cognoscitivas (observação, compreensão, análise e síntese, generalização, relação entre fatos e ideias, etc.), indispensáveis para a independência dos pensamentos e o estudo ativo. A tarefa principal do professor é garantir a unidade didática entre ensino e aprendizagem. Para isso, o saber inclui um saber o quê, um saber como, um saber o porquê e um saber para quê. Nesse processo, o envolvimento dos sujeitos, em sua totalidade, é fundamental. Além do “o quê” e do “como”, pela ensinagem, deve-se possibilitar o pensar, situação, em que cada aluno possa reelaborar as relações dos conteúdos, através dos aspectos que se determinam e se condicionam mutuamente, numa ação conjunta do professor e dos alunos, com ações e níveis de responsabilidades próprias e específicas, explicitadas com clareza nas estratégias selecionadas. Assim, propõe-se uma unidade dialética processual, na qual o papel condutor do professor e a autoatividade do aluno se efetivem em dupla mão, num sentido que provoque a aprendizagem, através das tarefas contínuas dos sujeitos, de tal forma que o processo interligue o aluno ao objeto de estudo e os coloque frente a frente. Nesse contexto, é fundamental a mediação docente, que prepara e dirige as atividades e as ações necessárias e buscadas nas estratégias selecionadas, levando os alunos ao desenvolvimento de processos de mobilização, construção e elaboração da síntese do conhecimento. (VASCONCELOS, 1996, p 48). Situamos, assim, as estratégias, como ferramentas de trabalho, definidas pelos docentes e/ ou pelo “contrato didático – expressão utilizada por MASETTO, que indica o contrato proposto pelo professor aos alunos, no início do semestre ou ano curricular, em torno do compromisso que conjuntamente assumem quanto à construção do conhecimento, dentro do currículo que os une”, estabelecido no início do ano ou semestre, fase ou módulo, etc. Como a aprendizagem exige a compreensão e apreensão do conteúdo pelo aluno, é essencial a construção de um conjunto relacional, de uma rede, de um sistema, onde o novo conhecimento apreendido pelo aluno amplia ou modifica o sistema inicial, a cada contato. Quando isso ocorre, a visão sincrética, inicial, caótica e não elaborada, que o aluno trazia inicialmente, pode ser superada e reelaborada numa síntese qualitativamente superior, através da análise, via metodologia dialética. BUSCANDO CONHECIMENTO Aprendizagem Precisamos distinguir a aprendizagem casual e a aprendizagem organizada:- a casual surge espontaneamente pela convivência social, pela observação de objetos e acontecimentos, pelo contato com os meios de comunicação, leituras, etc.; a aprendizagem organizada tem por finalidade específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de convivência social. A escola tem por função organizar as condições especificas para a transmissão e assimilação de conhecimentos e habilidades. A aprendizagem escolar é, assim, um processo de assimilação de conhecimentos e modos de ação física e mental. Os resultados da aprendizagem se manifestam em modificações na atividade externa e interna do sujeito, nas suas relações com o ambiente físico e social. Isso significa que podemos aprender conhecimentos sistematizados (fatos, conceitos, princípios, métodos de conhecimento, etc); hábitos intelectuais e sensório motores (observar um fato e extrair conclusões, destacar propriedades e relações das coisas, dominar procedimentos para resolver exercícios, escrever e ler, manipulação de objetos e instrumentos, etc.); atitudes e valores (perseverança, responsabilidade, senso crítico, camaradagem, solidariedade, valores humanos e sociais, etc.). A aprendizagem efetiva acontece quando, pela influência do professor, são mobilizadas as próprias atividades dos alunos, no estudo das matérias. É o que denominamos de assimilação ativa. O Processo de Assimilação Ativa Entendemos por assimilação ativa ou apropriação de conhecimentos e habilidades, o processo de percepção, compreensão, reflexão e aplicação que se desenvolve com os meios intelectuais, motivacionais e atitudinais do próprio aluno, sob a direção e orientação do professor. O processo de assimilação ativa é um dos conceitos fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Permite-nos entender que o ato de aprender é um ato de conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os fatos, fenômenos e relações do mundo, da natureza e da sociedade, através do estudo das matérias de ensino. Compreender é apreender o significado de um objeto ou de um acontecimento; é vê-lo em suas relações com outros objetos ou acontecimentos; os significados constituem, pois, feixes de relações que, por sua vez, entretecem- se, articulam-se em teias, em redes, construídas socialmente e individualmente e em permanente estado de atualização (MACHADO, 1994, p. 21). O processo de apreensão, de conhecer está relacionado com o enredar, estabelecendo os nós necessários entre os fios a serem tecidos. Para dar conta deste “enredamento”, há que se superarem as dificuldades, vencendo a simples memorização. O aluno tem que ativamente refletir, no sentido de dobrar-se de novo e de novo – tantas vezes quanto seja necessário, para apropriar-se do quadro teórico prático objetivado pelo professor e pela proposta curricular, em relação à realidade visada no processo de ensino. As aprendizagens não se dão todas da mesma forma, dependem tanto do sujeito que apreende quanto do objeto de apreensão, não sendo, assim, iguais: podemoscitar as aprendizagens por imitação de um modelo, por repetição, por ensaio-e-erro ou descoberta (insight). O verdadeiro desafio consiste na construção mental ou na abstração que se efetiva, quando, mentalmente, se é capaz de reconstruir o objeto apreendido pela concepção de noções e princípios, independentemente do modelo ou exemplo estudado, associando ideias, enredando e chegando a se deduzir consequências pessoais e inéditas, através de uma ação, ou uma práxis, que, no dizer de Vasconcelos (1966), pode ser predominantemente motora, reflexiva e/ou perceptiva. Nenhuma criança nasce com as capacidades cognoscitivas, prontas e acabadas. Elas vão se desenvolvendo no decorrer da vida e, particularmente, no decorrer do processo de ensino, no processo de assimilação de conhecimentos. UNIDADE 6 - OS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os níveis de aprendizagem; Propiciar conhecimentos sobre os fatores interferentes no estudo. ESTUDANDO E REFLETINDO Os meios internos pelos quais o nosso organismo psicológico aprende são bastante complexos. Esquematicamente, podemos dizer que há dois níveis de aprendizagem humana:- o reflexo e o cognitivo, sobre os quais abordamos em seguida. Reflexo refere-se às sensações pelas quais desenvolvemos a observação e percepção das coisas e nossas ações motoras. Essas aprendizagens são responsáveis pelas formações de hábitos sensórios motores e predominam na fase inicial do desenvolvimento da criança (por exemplo: agarrar objetos, distinguir cores, formas e sons, andar, etc). Muitas delas aparecem de forma automática e inconsciente. Esse nível de aprendizagem continua ocorrendo durante toda a vida humana. O cognitivo encontra-se entrelaçado com o reflexo, refere-se à aprendizagem de conhecimentos e operações mentais, caracterizada pela apreensão consciente, compreensão e generalização das propriedades e relações essenciais da realidade, bem como pela aquisição de modos de ação e aplicação referente a essas propriedades e relações. No nível cognitivo, os indivíduos aprendem tanto em contato com as coisas no ambiente, quanto com as palavras que designam coisas e fenômenos do ambiente. Isso significa que, como instrumento de linguagem, as palavras constituem importante condição para a aprendizagem, pois formam a base dos conceitos com os quais podemos pensar. Momentos Interligados da Assimilação Ativa No processo de assimilação ativa, a primeira atividade é a observação sensorial das coisas, propriedades, semelhanças e diferenças que as distinguem externamente. A transformação da percepção ativa para um nível mais elevado de compreensão implica a atividade mental de relacionar uns com os outros os objetos e fenômenos estudados, para ir formando ideias e conceitos mais amplos. Não se trata de uma etapa separada da anterior, mas de um aprimoramento das percepções, que agora passam pela análise e síntese, pela generalização e sistematização. Nesse processo, a atividade mental evolui da apreensão do conteúdo da matéria na sua forma visível, exterior, para a “ideia” do conteúdo, de modo que o conteúdo visível se transforma num conteúdo do pensamento. O processo se completa com as atividades práticas, em várias modalidades de problemas e exercícios, nos quais se verifica a consolidação e aplicação de que foi aprendido, O aspecto fundamental a considerar é que o processo interno de desenvolvimento mental é um todo que não pode ser decomposto em elementos isolados, pois, em cada momento, estão presentes a percepção sensorial, as atividades mentais e práticas. Nem sempre é necessário iniciar o processo de assimilação pela atividade perceptiva, material, concreta (manipular objetos, examinar, observar, etc.) porque há situações em que os alunos já possuem conceitos e operações mentais que só precisam ser reavivados. Importância da linguagem Nos vários momentos do processo de assimilação ativa, há um permanente entrelaçamento entre a atividade mental e a linguagem, pois esta é o instrumento que traduz, por meio de palavras, os objetos e fenômenos, suas relações e a “ideia” desse objeto ou fenômeno. Quando é usada a via indireta de ensino, ou seja, o professor e os alunos trabalham com conceitos já elaborados, com representações verbais do professor, ou o texto do livro didático, a linguagem é fundamental tanto para o professor que explica os conceitos científicos, quanto para o aluno que os utiliza para formar suas ideias e noções. Os conceitos científicos e o desenvolvimento dos instrumentos linguísticos do pensamento, assimilados com base na experiência sócio cultural dos alunos, aperfeiçoam a comunicação, propiciam a habilidade de verbalização e ampliam a capacidade de raciocinar. Fatores que Influem no Estudo Ativo O incentivo à aprendizagem é o conjunto de estímulos que despertam nos alunos a sua motivação para aprender, de forma que as suas necessidades, interesses, desejos, sejam canalizados para as tarefas de estudo. Todas as nossas ações são orientadas para atingir objetivos que satisfaçam as nossas necessidades fisiológicas, emocionais, sociais e de autorrealização. A motivação é o conjunto de forças internas que impulsionam o nosso comportamento para objetivos, cuja direção é dada pela nossa inteligência. Entretanto, as forças são condicionadas por forças externas (a família, as relações sociais, os meios de comunicação, a escola e os professores) que modificam o direcionamento da nossa motivação. Na consideração das condições globais em que se realiza o trabalho docente, precisamos ter em conta as condições internas dos alunos, quanto às influências externas da sociedade e do ambiente. Podemos dizer, então, que a motivação influi na aprendizagem e a aprendizagem influi na motivação. Conhecimento das condições de aprendizagem do aluno A incentivação é condição de incitamento das forças cognoscitivas dos alunos e depende do conhecimento das características individuais e sócio culturais dos mesmos, pois não ensinamos a uma criança “em geral”, mas o fazemos a crianças que pertencem a determinadas famílias, a determinada classe social, e cuja prática de vida influi na sua aprendizagem e desenvolvimento. Há uma regra fundamental na Didática: o êxito da atividade de ensino depende de que os objetivos escolares entrem em correspondência com o nível de conhecimentos e experiências já disponíveis, com o mundo cultural e social em que vivem os alunos, com suas capacidades potenciais de assimilação de conhecimentos. O professor deve inteirar-se das experiências sociais e culturais dos alunos: o meio em que vivem, as relações familiares, a educação familiar, etc. Sabemos que as condições de vida (habitação, alimentação, saúde, salário, etc.) e o ambiente sócio cultural (nível de escolaridade dos pais, crenças e costumes, etc.) das crianças pobres, provavelmente, não oferecem os pré-requisitos exigidos pela escola, pelo menos não nas mesmas proporções em que esses pré-requisitos são fornecidos às famílias das classes médias e altas da sociedade. Tais desvantagens, porém, devem ser precisamente o ponto de partida do trabalho docente, não somente ligando e confrontando as experiências de vida e os conhecimentos das crianças com os conhecimentos sistematizados, mas incentivando o desejo de melhorar as condições de vida, mostrando a contribuição que a escola pode dar para superar as desvantagens. Os professores não podem interpretar o comportamento do aluno com base nos valores e práticas do meio social em que ele vive. Essas diferenças devem tornar-se o ponto de partida para o trabalho escolar. Trata-se de mostrar respeito pela linguagem que os alunos empregam, tirar da sua experiência os conhecimentos que já trazem, valorizá-los e, gradativamente, ampliá-los, levá-los dos conhecimentosnão científicos aos conhecimentos científicos. BUSCANDO CONHECIMENTO O reforço que funciona Realizar um trabalho constante ao longo do ano é a melhor forma de lidar com os diversos níveis de aprendizagem em sala de aula Verônica Fraidenraich – Disponível em http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/reforco- funciona-recuperacao-niveis-aprendizagem-600423.shtml Nenhum aluno gosta de ficar de recuperação. Além de ter de enfrentar um possível rótulo - "criança com dificuldade de aprendizagem" -, os estudantes nessa situação encaram a pressão de serem obrigados a fazer uma única prova, decisiva, para saber se serão aprovados ou não. Hoje, porém, sabe-se que não é recomendável esperar o fim do ano para ajudar os que não têm o desempenho esperado. Isso porque em uma turma sempre existirão diferentes níveis de aprendizagem - e isso não quer dizer que os alunos não tenham capacidade de aprender, apenas que cada um avança com ritmo próprio. À escola cabe, portanto, detectar a diversidade presente nas salas de aula e criar condições para que os conteúdos trabalhados, quando não são bem compreendidos, sejam retomados em classe com novas atividades e estratégias de ensino. Esse é o tema da reportagem de capa da edição de setembro de NOVA ESCOLA, que responde a 11 dúvidas que os professores enfrentam sobre o assunto - do diagnóstico à lição de casa. "A recomendação é avançar e retroceder ao mesmo tempo, fazendo com que quem atinge o conhecimento esperado continue aprendendo, enquanto os demais trabalham as dúvidas assim que elas surgirem", diz Maria Celina Melchior, professora de pós-graduação em Educação e coordenadora pedagógica da Faculdade Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre. Para saber com que alunos é possível ir adiante e com quais é preciso retomar os conteúdos, é necessário usar bem as ferramentas de avaliação. O diagnóstico inicial, as provas, a observação de sala de aula, as atividades de sondagem, as tarefas de casa e a análise de cadernos e portifólios são alguns dos instrumentos que ajudam a ter um panorama da turma. O que não vale é olhar apenas as notas das provas. "As avaliações bem feitas têm questões e atividades que já foram trabalhadas em sala de aula e não criam 'pegadinhas' para o aluno", afirma Cipriano Luckesi, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com os resultados, a coordenação pedagógica pode orientar a equipe docente a organizar as informações. As dificuldades apresentadas em determinada disciplina podem ser classificadas de acordo com o conteúdo e a frequência com que aparecem. Isso dará mais clareza em relação aos pontos que devem ser retomados. Quando um ponto não foi entendido pela maioria do grupo, o melhor é procurar com o professor uma abordagem diversificada da usada até então e orientá-lo a retomar o tema com a classe toda. Caso a conclusão seja de que a turma apresenta dificuldades diferentes, o ideal é formar grupos e oferecer atividades específicas para cada um. Pode ser também que apenas um aluno esteja com problema em determinado ponto. A sugestão, então, é oferecer a ele um conjunto de atividades que podem ser feitas em casa e depois corrigidas pelo professor. Também é função dos gestores ajudar na organização dos agrupamentos de trabalho em sala de aula. Rose Maria Antunes de Barros, coordenadora pedagógica da Escola Castanheiras, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, e autora de um estudo sobre grupos de apoio em escolas, dá algumas sugestões. Para atender os diversos grupos ao mesmo tempo, o professor tem de fazer um bom planejamento das aulas, com sequências didáticas ajustadas às necessidades de aprendizagem. O interessante é que o coordenador pedagógico colabore na construção de um banco de atividades variadas, que o docente deve ter no seu arquivo, para usar quando necessário e contemplar o maior número possível de alunos. Também é importante orientá-lo a alternar o uso de materiais pedagógicos - como vídeos, músicas e revistas - e estratégias diversificadas - aulas expositivas, estudos de campo, pesquisas e trabalhos em grupo - como uma maneira de atender às diferentes formas de os estudantes aprenderem. Se as atividades de reforço precisarem ser realizadas em horários no contraturno, cabe aos gestores garantir um espaço ideal para que elas aconteçam. O professor titular da turma necessita ainda de um tempo reservado para a troca de informações com o colega responsável pela recuperação. Na pauta do encontro, devem estar as necessidade dos alunos e a maneira com que eles serão acompanhados e avaliados para ter a garantia de que possam continuar avançando. UNIDADE 7 - OS OBJETIVOS E OS CONTEÚDOS DO ENSINO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os objetivos do ensino; Explicitar os elementos dos conteúdos do ensino. Propiciar conhecimentos sobre como fixar objetivos para o ensino. Os objetivos de ensino antecipam resultados e processos esperados do trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados, de acordo com as exigências metodológicas (nível de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de ensino e características do processo de ensino e aprendizagem). ESTUDANDO E REFLETINDO Os conteúdos formam a base objetiva da instrução – conhecimentos sistematizados e habilidades – referidos aos objetivos e viabilizados pelos métodos de transmissão e assimilação. Os métodos, por sua vez, são determinados pela relação objetivo-conteúdo e dão a forma pela qual se concretiza essa relação em condições didáticas específicas; ao mesmo tempo, pelo fato de caber aos métodos a dinamização das condições e modos de realização do ensino, eles influem na reformulação ou modificação dos objetivos e conteúdos. A prática educacional se orienta, necessariamente, para alcançar determinados objetivos por meio de uma ação intencional e sistemática. Não há prática educativa sem objetivos. Os objetivos educacionais têm, pelo menos, três referências para sua formulação: a) Os valores e ideais proclamados na legislação educacional e que expressam os propósitos das forças políticas dominantes no sistema social; b) Os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados no decurso da prática social da humanidade; c) As necessidades e expectativas de formação cultural exigida pela população majoritária da sociedade, decorrentes das condições concretas de vida e de trabalho e das lutas pela democratização. Essas três referências não podem ser tomadas isoladamente, pois estão interligadas e sujeitas a contradições. A elaboração dos objetivos pressupõe, da parte do professor, uma avaliação crítica das referências que utiliza balizada pelas suas opções em face dos determinantes sociopolíticos da prática educativa. São dois níveis de objetivos educacionais: objetivos gerais e objetivos específicos. BUSCANDO CONHECIMENTO Objetivos Gerais Os objetivos gerais são o ponto de partida, as premissas gerais do processo pedagógico. Representam as exigências da sociedade em relação à escola, ao ensino, aos alunos e, ao mesmo tempo, refletem as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos, em face das contradições existentes na sociedade. Os objetivos gerais são explicitados em três níveis de abrangência, do mais amplo ao mais específico. O professor deve conhecer os objetivos estabelecidos no âmbito do sistema escolar oficial, seja no que se refere a valores e ideais educativos, seja quanto às prescrições de organização curricular e programas básicos das matérias. Esse conhecimento é necessário não apenas porque o trabalho escolar está vinculado a diretrizes nacionais, estaduais e municipais de ensino, mas também porque precisamos saber que concepções de homem e sociedade caracterizam os documentos oficiais,uma vez que expressam os interesses dominantes dos que controlam os órgãos públicos. É preciso que o professor forme uma atitude crítica em relação a esses objetivos, de forma a identificar os que convergem para a efetiva democratização escolar e os que a cerceiam. Para isso, deve ter clareza de suas convicções políticas e pedagógicas, em relação ao trabalho escolar. Isso indica que não se trata simplesmente de copiar os objetivos e conteúdos previstos no programa oficial, mas de reavivá-los em função de objetivos sociopolíticos que expressem os interesses do povo, das condições locais da escola, da problemática social vivida pelos alunos. Nesse sentido, alguns objetivos educacionais gerais podem auxiliar os professores na seleção de objetivos específicos e conteúdos de ensino: a) colocar a educação escolar no conjunto das lutas pela democratização da sociedade. Ela pode contribuir para a ampliação da compreensão da realidade, na medida em que os conhecimentos adquiridos instrumentalizem culturalmente os alunos a se perceberem como sujeitos ativos nas lutas sociais, para a melhoria das condições gerais de vida (educação, saúde, moradia, etc). b) garantir a todas as crianças, sem nenhuma discriminação de classe social, cor, religião ou sexo, uma sólida preparação cultural e científica, através do ensino das matérias. c) assegurar a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de suas potencialidades, tendo em vista, auxiliá-las na superação das desvantagens decorrentes das condições sócioeconômicas desfavoráveis. O ensino democrático supõe a adequação metodológica às características socioculturais e individuais dos alunos, e as suas possibilidades reais de aproveitamento escolar. d) formar nos alunos a capacidade crítica e criativa em relação às matérias de ensino e à aplicação dos conhecimentos e habilidades em tarefas teóricas e práticas. Os objetivos da escolarização exigem a sua vinculação com a vida prática. O professor não conseguirá formar alunos observadores, ativos, criativos, frente aos desafios da realidade, se apenas esperar deles a memorização dos conteúdos. A capacidade crítica e criativa se desenvolve pelo estudo dos conteúdos e pelo desenvolvimento de métodos de raciocínio, de investigação e de reflexão. Através desses meios, sob a direção do professor, os alunos vão ampliando o entendimento das contradições e conflitos existentes na sociedade. e) visa à formação de convicções para a vida coletiva. O trabalho do professor deve estar voltado para a formação de qualidades humanas, modos de agir em relação ao trabalho, ao estudo, à natureza, em concordância com princípios éticos. Implica ajudar os alunos a desenvolver qualidades de caráter como a honradez, a dignidade, o respeito aos outros, a lealdade, a disciplina, a verdade, a urbanidade e cortesia. f) refere-se à instituição de processos participativos, envolvendo todas as pessoas que, direta ou indiretamente, relacionam-se com a escola: diretor, coordenador de ensino, professores, funcionários, alunos, pais. É de fundamental importância o vinculo da escola com a família e com os movimentos sociais (associações de bairro, entidades sindicais, movimentos de mulheres, etc.) Esses objetivos não esgotam a riqueza da ação pedagógica escolar em relação à formação individual e social dos alunos, em sua capacitação para a vida adulta na sociedade. Entretanto, com essa visão de conjunto do trabalho escolar e com a programação oficial indicada pelos órgãos do sistema escolar, o professor está em condições de definir os objetivos específicos de ensino. Objetivos Específicos Os objetivos específicos particularizam a compreensão das relações entre escola e sociedade e, especialmente, do papel da matéria de ensino. Eles expressam, pois, as expectativas do professor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo de ensino. Têm sempre um caráter pedagógico, porque explicitam o rumo a ser imprimido ao trabalho escolar. A cada matéria de ensino correspondem objetivos que expressam os resultados a obter. Eles contem a explicitação pedagógica dos conteúdos. O professor deve vincular os objetivos específicos aos objetivos gerais, sem perder de vista a situação concreta (da escola, da matéria, dos alunos). O que são os conteúdos? Os conteúdos de ensino não podem ser tomados como informações estáticas, cristalizadas, sem que os alunos possam reconhecer nelas um significado vital. Eles devem ser vistos como a ação recíproca entre a matéria, o ensino e o estudo dos alunos. Através do ensino criam-se as condições para a assimilação de conhecimentos, habilidades e atitudes. Nesse processo, os alunos tornam-se sujeitos da própria aprendizagem. Não basta a seleção e organização lógica dos conteúdos. Eles devem incluir elementos da vivência prática dos alunos, para torná-los mais significativos e permitirem o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas, principalmente, o pensamento independente e criativo. Os conteúdos de ensino originam-se da cultura, da ciência, da técnica, da arte e dos modos de ação no mundo. Expressam os resultados da atividade prática do homem, nas suas relações com o ambiente natural e social. Nessa investigação, vão se formando os saberes que denominamos saber científico. Numa renovação contínua, o saber torna-se objeto de conhecimento a ser apropriado pelas várias gerações, através do ensino, que, por sua vez, constitui-se base para a produção e elaboração de novos saberes. Esse fenômeno ocorre, sempre, em uma sociedade específica e em determinados momentos da sua história. Na sociedade capitalista, o saber é predominantemente reservado ao usufruto das classes sociais economicamente favorecidas, que, frequentemente, o transforma em ideias e práticas convenientes aos seus interesses e as divulgam como válidas para todas as classes sociais. Entretanto, o saber tem como característica, a universalidade e disso decorre o direito que têm todos os homens de dele se apropriarem. Na escola, o conhecimento do mundo objetivo, expresso no saber científico, transforma-se em conteúdos de ensino, de modo que as novas gerações possam assimilá-los, tendo em vista ampliar o grau de sua compreensão da realidade, equipando-se culturalmente para a participação nos processos objetivos de transformação social. A aquisição do domínio teórico-prático do saber sistematizado é uma necessidade humana, parte integrante das demais condições de sobrevivência, pois possibilita a participação mais plena de todos no mundo do trabalho, da cultura, da cidadania. Esta é a socialização ou democratização do saber sistematizado. BUSCANDO CONHECIMENTO Os Elementos dos Conteúdos de Ensino A herança cultural, constituída ao longo da história, é extremamente rica e complexa, sendo impossível à escola básica abranger todo esse patrimônio. É tarefa da Didática selecionar os elementos dos conteúdos a serem apropriados pelos alunos, em função das exigências sociais e do desenvolvimento da personalidade. Os conteúdos de ensino compõem-se de quatro elementos: conhecimentos sistematizados, habilidades e hábitos, atitudes e convicções. 1) Conhecimentos sistematizados são a base da instrução e do ensino. Correspondem a conceitos, termos, fatos, fenômenos e leis das ciências; correlações entre os fenômenos científicos; história e métodos de investigação científica; conhecimentos de economia, política, organização social, etc. 2) Habilidades são qualidades intelectuais necessárias para a atividade mental no processo de assimilação de conhecimentos. Habilidades e hábitos são modos de agir que tornam mais eficaz o estudo ativo e independente. Hábitos podem preceder habilidades e há habilidades que se transformam em hábitos. Por exemplo, habilidade em leitura pode transformar-se em hábito de ler e vice-versa. Algumas habilidades e hábitossão comuns a todas as matérias (destacar propriedades essenciais de objetos ou fenômenos, fazer relações, comparar, diferenciar, organizar o trabalho escolar, fazer sínteses e esquemas, etc.); outros são específicos de cada matéria (observação de fatos da natureza, utilização de materiais específicos, resolução de problemas matemáticos, etc.). 3) Atitudes referem-se aos modos de agir diante das situações concretas de vida, como o estudo, o trabalho, responsabilidades pelos seus atos, preservação da natureza, etc. 4) Convicções orientam as atitudes, pois o indivíduo age segundo suas convicções; mas elas dependem de conhecimentos, portanto, do ensino e desenvolvimento das capacidades culturais e intelectuais. Os elementos do conteúdo de ensino estão interrelacionados e convergem para a formação das capacidades cognitivas dos alunos. UNIDADE 8 - A DIMENSÃO CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Discutir as dimensões crítico- social dos conteúdos. ESTUDANDO E REFLETINDO Para a discussão das dimensões crítico-social dos conteúdos, partimos de um questionamento: os conteúdos de ensino, retirados das ciências, são objetivos e universais, ou refletem interpretações de grupos que possuem o poder político e econômico na sociedade? A resposta a essa questão pode ser encontrada a partir dos conhecimentos expostos nesta unidade. Os conteúdos de ensino são as duas coisas: objetivos e universais E refletem interpretações de grupos que possuem o poder político e econômico na sociedade. Uma pedagogia de cunho crítico-social reconhece a objetividade e universalidade dos conteúdos, assim como reconhece que, nas sociedades capitalistas, difunde-se um saber que seja vantajoso para reforçar a atual forma de organização social e econômica. Existe, pois, um saber objetivo e universal que constitui a base dos conteúdos de ensino, mas não se trata de um saber neutro. A objetividade e universalidade dos conteúdos se apoiam no saber científico, que se constitui no processo de investigação e comprovação de leis objetivas expressas nas relações internas dos fatos e acontecimentos da natureza e da sociedade. Nesse sentido, o conhecimento é, também, histórico; pois, ao investigarem as relações internas de fatos e acontecimentos, busca-se apanhar o movimento real, isto é, as transformações que ocorrem na realidade com a intervenção humana. Mas, o conhecimento é sempre interessado, uma vez que é produzido ”em sociedade”, isto é, na relação entre as classes sociais e suas contradições. Apropriado pelas forças que detêm o poder na sociedade, há interesse que as ideias e explicações vinculadas à visão particular de uma classe social, sejam afirmadas como válidas para todas as demais. Neste sentido, a escola, na sociedade capitalista, controla a distribuição do saber científico, ora escondendo aspectos da realidade, ora simplificando esse saber, mostrando apenas as aparências dos fatos e acontecimentos. Além disso, os fatos e acontecimentos não são tomados no seu desenvolvimento histórico, nas suas transformações, mas como algo acabado, estático, solidificado. Esta constatação, entretanto, não deve levar o ensino a sacrificar a riqueza do conhecimento científico e das experiências acumuladas pela humanidade. O que cabe à escola é submeter os conteúdos de ensino ao crivo dos seus determinantes sociais, para recuperar o seu núcleo de objetividade, tendo em vista possibilitar o conhecimento critico da realidade. É o que chamamos “dimensão crítico-social dos conteúdos”. O movimento que leva à consciência critica, vai do conhecimento científico para a aplicação prática, mobilizando a formação de convicções para a participação na vida social. Os conteúdos têm um caráter histórico, em estreita ligação com o caráter científico. O sentido histórico dos conteúdos se manifesta no trabalho docente, quando se busca explicitar como a prática social de gerações passadas e presentes interveio e interveem na determinação dos atuais conteúdos, bem como o seu papel na produção de novos conhecimentos, para o avanço da ciência e para o progresso social da humanidade. A dimensão crítico-social vincula os conteúdos de ensino às atividades da vida prática. A assimilação ou apropriação de conhecimentos e habilidades ganha importância e sentido, se proporcionam o domínio ativo e prático de modos de atuação crítica e criativa, na vida, na profissão, no exercício da cidadania. A dimensão crítico-social dos conteúdos é uma metodologia de estudo e interpretação dos objetos de conhecimento – explicitados nas matérias de ensino – como produtos da atividade humana e a serviço da prática social. Trata-se de situar um tema de estudo nas suas ligações com a prática humana. Como homens, na sua atividade prática coletiva, intervêm, modificam, constroem esse tema de estudos para atender necessidades como os problemas sociais, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, as necessidades humanas básicas, etc. A esse método de apreensão da realidade (sob a forma de conhecimentos), agregam-se e conjugam-se: 1) métodos de conhecimentos gerais (como a observação, a analise-síntese, a indução-dedução, a abstração, a generalização, etc.); 2) métodos próprios da matéria que está sendo estudada; 3)métodos de ensino (como a exposição, o estudo dirigido independente, a conversação criativa com a classe, etc.). O tratamento metodológico dos conteúdos, numa ótica crítico-social, pressupõe que as propriedades e características dos objetos de estudo estão impregnadas de significações humanas e sociais, não só porque os conhecimentos são criações humanas para satisfazer necessidades humanas, mas, também, porque devem ser evidenciadas as distorções a que estão sujeitos, quando são utilizados para o ocultamento das relações sociais reais desumanizadoras existentes na sociedade. Em relação a um determinado tema de estudo, será sempre necessário que nos perguntemos: quais são as características do objeto de estudo deste tema? Como a prática humana está embutida nesse tema? Como as pessoas estão relacionadas com ele? Quem usufrui dos seus benefícios e como usufrui? O que a vida real das pessoas tem a ver com esses objetos de estudo? O professor Demerval Saviani afirma, sobre esse assunto, que a apropriação dos conhecimentos pelos trabalhadores, na medida em que se articula com as condições e lutas concretas dadas na vida prática, podem desenvolver determinadas condições subjetivas – isto é, consciência de seus interesses e necessidades – que, impulsionadas por processos objetivos de luta, podem conduzir à transformação das condições sociais presentes. BUSCANDO CONHECIMENTO Os Conteúdos e os Livros Didáticos A democratização dos conteúdos é uma exigência de humanização, pois concorre para aumentar o poder do homem sobre a natureza e sobre seu próprio destino. Muitos dos conteúdos de um livro didático não conferem com a realidade, com a vida real dos alunos e também dos professores. Passam noções, por exemplo, de que, na sociedade, as diferenças entre as pessoas são individuais e não devidas à estrutura social; que nela todos têm oportunidades iguais, bastando que cada um se esforce e trabalhe com afinco. Ao selecionar os conteúdos da série em que irá trabalhar, o professor precisa analisar os textos, para enriquecê-los com sua própria contribuição e a dos alunos, comparando o que se afirma, com fatos, problemas, realidades. A professora Ana Lúcia G. de Faria (1985) pesquisou em livros didáticos das séries iniciais do ensino fundamental, o conceito de trabalho. Vejamos alguns trechos de livros pesquisados. O homem do campo tem dois tipos de trabalho: pode ser um agricultor, quando planta e colhe o que plantou; pode ser um criador de gado, quando cuida de seu rebanho. O trabalho do lavrador rendepouco e a produção é pequena: essa agricultura é chamada primitiva ou de subsistência. Já na agricultura cientifica, empregam-se máquinas agrícolas, e o agricultor é assistido por agrônomos que orientam no preparo do solo, a seleção de sementes, o emprego de inseticidas e outros recursos, assim a produção é maior, é melhor e o solo é conservado. O agricultor, na agricultura primitiva, está pobre e mal vestido. Usa instrumentos muito simples. Prática uma agricultura primitiva. O da agricultura moderna está sobre um trator, apresenta-se forte e mais bem vestido. Prática a agricultura mecanizada. (FARIA, 1986, p. 24-26). Não é difícil constatar que esses textos dão uma impressão de que a vida no campo é muito tranquila, apesar de o lavrador pobre ser mais simples e atrasado. Existir agricultura primitiva e mecanizada, usar roupas simples ou melhores, usar enxada ou o trator, tudo é muito natural, como se as diferenças sociais fossem também naturais e não decorrentes das formas de organização da sociedade. A vida social no campo aparece como solidificada, como se tudo o que acontece ali fizesse parte da normalidade das coisas. Os textos não revelam as relações internas entre os fatos, não mostram o significado no tema estudado. Há o lavrador, o agricultor, o criador de gado, mas as razões das diferenças entre um tipo e outro de trabalho estão escondidas. O professor não pode esperar que os livros didáticos deixem transparecer os aspectos reais das coisas; as razões que estão por trás das diferenças sociais. Esta é tarefa do professor, sabendo que sua postura crítica nem sempre será aprovada. Outros indivíduos inclusos no sistema educacional também não desejam que o real funcionamento das relações sociais seja revelado. Ao não analisar criticamente o livro didático, o próprio professor pode confirmar aos alunos, valores, ideias, concepções de mundo distantes da realidade concreta passada pelo livro, ou que circulam nas conversas, na televisão, no rádio, etc. Faria descreve, também, opiniões das crianças sobre o trabalho, que refletem o que aprendem nas aulas: os médicos ganham mais, porque são mais inteligentes; os pretos também podem ficar ricos, apesar de o homem branco ter mais possibilidades de arrumar emprego; quem ganha menos é porque não trabalha direito; não fica rico quem não for estudioso; quem não tem boa profissão, para ficar rico precisa fazer hora extra, guardar dinheiro na caderneta de poupança. Esses exemplos mostram a influência que os livros didáticos e as informações do professor exercem na formação das ideias dos alunos. Ser rico, ser branco, ser inteligente é quase a mesma coisa e as crianças recebem tais informações como verdadeiras. Os livros didáticos, ao expressarem o modo de ver de determinados segmentos da sociedade, fornecem ao professor uma oportunidade de conhecer como as classes dominantes explicam as realidades sociais e como dissimulam o real. O professor pode ajudar os alunos a confrontarem o conteúdo do livro com a realidade, a fim de que entendam e transformem as suas condições de vida. UNIDADE 9 - OS MÉTODOS E AVALIAÇÃO DO ENSINO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conceituar Métodos de Ensino; Explicitar os princípios básicos do ensino. Explicitar a importância da avaliação no processo de ensino. ESTUDANDO E REFLETINDO Conceito de Método de Ensino O conceito mais simples de “método” é caminhos para atingir um objetivo. Mas estes não se realizam por si mesmos, sendo necessária a nossa atuação. Os métodos são, assim, meios adequados para realizar objetivos. Cada ramo do conhecimento desenvolve métodos próprios. Temos, assim, métodos matemáticos, métodos sociológicos, métodos pedagógicos, etc. Princípios do ensino são aspectos gerais do processo educacional que expressam os fundamentos teóricos de orientação do trabalho docente. O professor, ao dirigir e estimular o processo de ensino utiliza intencionalmente um conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos, a que chamamos métodos de ensino. Por exemplo, à atividade dos alunos de resolver tarefas, corresponde o método de resolução de tarefas; à atividade que visa ao domínio dos processos do conhecimento científico numa disciplina, corresponde o método investigativo; e assim por diante. O método de ensino expressa a relação conteúdo-método, no sentido de que tem como base um conteúdo determinado (um fato, um processo, uma teoria, etc.). O método vai em busca das relações internas de um objeto, de um fenômeno, de um problema, uma vez que esse objeto de estudo fornece as pistas, o caminho para conhecê-lo. Apanhar os objetos de estudo nas suas relações internas, significa verificar como a ação humana entra na definição dos fatos e fenômenos, isto é, ver nas relações entre as coisas, os significados que lhes são dados, e a que necessidades sociais e humanas estão vinculadas o objeto de conhecimento. Os métodos de ensino devem respeitar a unidade objetivos-conteúdos- métodos e as condições concretas das situações didáticas. Em primeiro lugar, os métodos de ensino dependem dos objetivos imediatos da aula: introdução de matéria nova, explicação de conceitos, desenvolvimento de habilidades, consolidação de conhecimentos, etc. Ao mesmo tempo, dependem de objetivos gerais da educação previstos nos plano de ensino elaborados pela escola, ou pelos professores. Há uma relação mútua entre os métodos gerais de ensino – comuns e fundamentais a todas as disciplinas – e os métodos específicos de cada uma. Não há método único de ensino. Há uma variedade de métodos, cuja escolha depende dos conteúdos da disciplina, das situações didáticas específicas, e das características sócio-culturais e de desenvolvimento mental dos alunos. Na análise do processo de ensino, destaca-se seu caráter bilateral, em que a atividade de direção do professor e a de aprendizagem do aluno atuam reciprocamente. Desse modo, quando, por exemplo, é utilizada a exposição lógica da matéria, predomina a atividade do professor. Quando são organizadas formas de trabalho independente, predomina a atividade do aluno. Nessa ação conjunta realiza-se o processo de assimilação ativa pelos alunos. Na relação objetivo-conteúdo-método, a primeira consideração é que o conteúdo de ensino não é a matéria em si, mas uma matéria selecionada e preparada pedagógica e didaticamente para ser assimilada pelos alunos. É preciso considerar que a matéria de ensino é determinada por aspectos político-pedagógicos, lógicos e psicológicos, o que significa considerar a relação de subordinação dos métodos aos objetivos gerais e específicos. Os métodos, por sua vez, são as formas pelas quais os objetivos e conteúdos se manifestam no processo de ensino. A relação objetivo-conteúdo-método tem como característica a mútua interdependência. Os métodos, à medida que expressam formas de transmissão e assimilação de determinadas matérias, atuam na seleção de objetivos e conteúdos, por exemplo, quando definimos objetivos e conteúdos de História, devem estar incluídos neles os métodos próprios de estudo dessa matéria. Se entendermos que o método de estudo da História privilegia mais a compreensão do processo histórico e as relações entre os acontecimentos, do que a simples descrição de nomes e fatos, esta particularidade metodológica deve ser transformada em objetivo de ensino. O mesmo raciocínio vale para todas as matérias do currículo. Os Princípios Básicos do Ensino Os princípios do ensino são aspectos gerais do processo educacional que expressam os fundamentos teóricos de orientação do trabalho docente. Eles levam em conta a natureza da prática educativa, numa determinada sociedade; as características do processo de conhecimento; as peculiaridades metodológicas das matérias e suas manifestações concretas na prática docente; asrelações entre ensino e desenvolvimento dos alunos; as peculiaridades psicológicas de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, conforme a idade. Os estudos que se têm desenvolvido entre os educadores sobre essas questões ainda são insuficientes para a formulação de um sistema de princípios que abranja toda a complexidade dos nexos e relações existentes no processo de ensino. Entretanto, as exigências práticas da sala de aula requerem algumas indicações que orientem a atividade consciente dos professores, no rumo dos objetivos gerais e específicos do ensino, tais como: Ter caráter científico e sistemático: estar em correspondência com os conhecimentos científicos atuais e com os métodos de investigação próprios de cada matéria. Ao elaborar o plano de ensino, o professor selecionará temas de estudo que representem conhecimentos e habilidades que possam proporcionar o máximo possível de desenvolvimento intelectual. Para isso, é preciso elaborar uma estruturação lógica do sistema de conhecimentos de cada matéria. Ser compreensível e possível de ser assimilado: a cientificidade e sistematicidade devem ser compatíveis com as condições prévias dos alunos em relação às possibilidades de assimilação de novos conteúdos. Isto não significa “simplificar” o conteúdo e o cumprimento dos programas, mas torná-lo adequado às possibilidades reais dos alunos. Assegurar a relação conhecimento-prática: dominar conhecimentos e habilidades é saber aplicá-los, tanto nas tarefas escolares como nas tarefas de fora da escola, enriquecendo-as e desenvolvendo o pensamento e o raciocínio. Não podemos confundir, entretanto, a ligação entre os conhecimentos e a prática, com ministrar somente “conhecimentos práticos”. Muitos professores entendem que ligar o ensino com a realidade significa ensinar apenas coisas práticas. Não é bem assim. Há conhecimentos (por exemplo, alguns conteúdos de Matemática e História), cujo vínculo com a prática é indireto; entretanto, contribuem para desenvolver o pensamento e o raciocínio, ampliam nossas capacidades e habilidades e, com isso, enriquecem nossa atuação na vida prática. Assentar-se na unidade ensino/aprendizagem: refere-se à direção pedagógica do professor, considerando-se que, quando falamos “direção pedagógica” não significa “direção autoritária”, mas uma ação no sentido de estimular nos alunos qualidades e atitudes necessárias à curiosidade científica, atenção, constância, disciplina, etc. Por outro lado, quando falamos em atividade autônoma e independente do aluno, não significa que devemos organizar o trabalho docente somente com base nos interesses e necessidades atuais dos alunos, ou deixá-los trabalhando sozinhos. A autonomia se manifesta, quando os alunos cooperam ativa e conscientemente no processo de ensino. Ao invés de adotar a máxima “Aprender fazendo”, adotar “Aprender pensando naquilo que faz”. Garantir a solidez dos conhecimentos: a assimilação de conhecimentos não é conseguida, se os alunos não demonstram resultados sólidos e estáveis por um longo período. O atendimento desse princípio exige frequente recapitulação da matéria, exercícios de fixação, tarefas individualizadas a alunos que apresentem dificuldades, etc. BUSCANDO CONHECIMENTO A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Por meio da avaliação, os resultados que vão sendo obtidos, no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar, tanto do professor, como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho expressos em juízos de valor acerca do aproveitamento escolar. Uma definição de avaliação escolar:- Segundo o professor Cipriano Carlos Luckesi (1986), “a avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho”. Os “dados relevantes” se referem às várias manifestações das situações didáticas, nas quais o professor e os alunos estão empenhados em atingir seus objetivos. A apreciação qualitativa desses dados, através da análise de provas, exercícios, respostas dos alunos, permite uma tomada de decisão para o que deve ser feito em seguida. A avaliação escolar visa a determinar a correspondência entre os objetivos do aluno e do professor, e daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. A avaliação escolar cumpre pelo menos três funções: pedagógico- didática, de diagnóstico e de controle: 1) Pedagógico-didática: pretende verificar o cumprimento dos objetivos gerais e específicos da educação escolar, com a finalidade de providenciar a correção dos erros cometidos, possibilitar o aprimoramento, a ampliação e o aprofundamento de conhecimentos e habilidades e, desta forma, o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas. 2) De diagnóstico: permite identificar progressos e dificuldades dos alunos e a atuação do professor que, por sua vez, determinam modificações do processo de ensino para melhor cumprir as exigências dos objetivos. Na prática escolar cotidiana, a função de diagnóstico é a mais importante, porque possibilita a avaliação do cumprimento da função pedagógico- didática e é a que dá sentido pedagógico à função de controle. A avaliação diagnóstica ocorre no início, durante e no final do desenvolvimento das aulas ou unidades didáticas: a) no início, verificam-se as condições prévias dos alunos. É uma etapa de sondagem de conhecimentos e de experiências já disponíveis, bem como de provimento dos pré-requisitos para a sequência da unidade didática; b) Durante o processo de transmissão e assimilação é feito o acompanhamento do progresso dos alunos, corrigindo falhas, esclarecendo dúvidas, até que alcancem resultados positivos; c) finalmente, avaliam-se os resultados da aprendizagem no final de uma unidade didática. A avaliação global de um determinado período de trabalho também cumpre a função de realimentação do processo. 3) A função de controle: refere aos meios e à frequência das verificações e de qualificação dos resultados escolares, possibilitando o diagnóstico das situações didáticas. Há um controle sistemático e contínuo do processo de interação professor-aluno, no decorrer das aulas, que permite ao professor observar como os alunos estão conduzindo-se na assimilação de conhecimentos e habilidades e no desenvolvimento das capacidades mentais. Neste caso, não se deve quantificar os resultados. Avaliação na prática escolar: a prática da avaliação em nossas escolas vem sendo criticada, sobretudo, por reduzir-se a sua função de controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa dos alunos (nota da prova). Ao fixarem critérios de desempenho unilaterais, o professor desconsidera as condições de ensino dos alunos, e dos fatores externos e internos que interferem no rendimento escolar. Outro equívoco é o professor acreditar que, sendo a aprendizagem decorrente predominantemente da motivação interna do aluno, toda situação de prova leva à ansiedade, à inibição e ao cerceamento do crescimento pessoal. Por isso, recusam qualquer quantificação dos resultados. O entendimento correto da avaliação consiste em considerar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e qualitativos, de tal modo que a quantificação seja transformada em qualificação, isto é, numa apreciação qualitativa dos resultados verificados. UNIDADE 10 - OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO CONHECENDO A PROPOSTA DAUNIDADE Objetivos: Explicitar os quatro pilares da educação. ESTUDANDO E REFLETINDO Dado que a atualidade oferecerá meios nunca antes disponíveis para a circulação e armazenamento de informações e para a comunicação, o próximo século submeterá a educação a uma dura obrigação: transmitir, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro; simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as referências que impeçam os homens de ficarem submergidos nas ondas de informações que invadem os espaços públicos e privados. À educação, cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo, constantemente agitado; e, ao mesmo tempo, servir-lhe de bússola para que navegue seguro nesse mundo em constante mudança. Nessa visão prospectiva, uma resposta puramente quantitativa à necessidade insaciável de educação – uma bagagem escolar cada vez mais pesada – já não é possível nem mesmo adequada. Não basta, de fato, que cada um acumule no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se indefinidamente. É, antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança. Para responder ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar- se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida serão de algum modo, para cada individuo, os pilares do conhecimento: 1) aprender a conhecer, 2) aprender a fazer, 3) aprender a viver juntos, e 4) aprender a ser. Cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global, para levar a cabo, ao longo de toda vida, tanto no plano cognitivo como no prático, o norteamento do individuo enquanto pessoa e membro da sociedade. 1- Aprender a Conhecer Este tipo de aprendizagem, que visa não tanto à aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes, o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser considerado, simultaneamente, como um meio e como uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais e para comunicar-se. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. Deste ponto de vista, é essencial que cada criança esteja onde estiver, possa ter acesso, de forma adequada, às metodologias científicas, de modo a tornar-se para toda vida “amiga da ciência”. Em nível do ensino secundário e superior, a formação inicial deve fornecer a todos os alunos, instrumentos, conceitos e referencias resultantes dos avanços das ciências e dos paradigmas do nosso tempo. Aprender para conhecer supõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Desde a infância, sobretudo nas sociedades agora dominadas pela imagem televisiva, o jovem deve aprender a prestar atenção às coisas e às pessoas. A sucessão muito rápida de informações mediatizadas, o “zapping” tão frequente, prejudicam o processo de descoberta, que implica duração e aprofundamento da apreensão. Esta aprendizagem da atenção pode adquirir formas diversas e tirar partido de várias ocasiões da vida (jogos, estágios em empresas, viagens, trabalhos práticos de ciências). O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer experiência. 2- Aprender a Fazer Aprender a conhecer e aprender a fazer são indissociáveis. Mas a segunda aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação profissional: como ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será a sua evolução? Aprender a fazer não pode continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada, para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como consequência, as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar. Da noção de qualificação à noção de competência: na indústria, onde as máquinas substituem o homem e são cada vez mais inteligentes, torna-se um pouco obsoleta a noção de qualificação profissional e leva a que se dê muita importância à competência pessoal. O progresso técnico modifica, inevitavelmente, as qualificações exigidas pelos novos processos de produção. As tarefas puramente físicas são substituídas por tarefas de produção mais intelectuais, mais mentais. Este aumento de exigências em matéria de qualificação, em todos os níveis, tem várias origens. No que diz respeito ao pessoal de execução e justaposição de trabalhos prescritos e parcelados, vale dizer que deu-se lugar à organização em “coletivos de trabalho” ou “grupos de projeto”. Por outro lado, à indiferenciação entre trabalhadores, sucede a personalização das tarefas. Os empregadores substituem, cada vez mais, a exigência de uma qualificação ainda muito ligada à ideia de competência material, pela exigência de uma competência que se apresenta com uma espécie de coquetel individual, combinando a qualificação adquirida pela formação técnica e profissional, com o comportamento social, a aptidão para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o gosto pelo risco. Se juntarmos a essas novas exigências, a busca de um compromisso pessoal do trabalhador, considerado como agente de mudança, torna-se evidente que as qualidades muito subjetivas, inatas ou adquiridas, muitas vezes denominadas “saber ser”, se juntam ao “saber fazer” para compor a competência exigida. Isso mostra bem a ligação que a educação deve manter entre os diversos aspectos da aprendizagem. BUSCANDO CONHECIMENTO 3- APRENDER A VIVER JUNTOS Esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação. O mundo atual é, muitas vezes, um mundo de violência que se opõe à esperança, posta por alguns, no progresso da humanidade. A história humana sempre foi conflituosa, mas há elementos novos que acentuam o perigo e, especialmente, o extraordinário potencial de autodestruição criado pela humanidade no decorrer do século XX. A opinião pública, através dos meios de comunicação social, torna-se observadora impotente e até refém dos que criam ou mantêm conflitos. Até agora, a educação não pode fazer grande coisa para modificar esta situação real. Poderemos conceber uma educação capaz de evitar os conflitos, ou de resolvê-los de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade? É de louvar a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros, para lutar contra os preconceitos geradores de conflitos. A tarefa é árdua, porque, muito naturalmente, os seres humanos têm tendência a supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que caracteriza, atualmente, a atividade econômica no interior de cada país, e, sobretudo, em nível internacional, tem tendência de dar prioridade ao espírito de competição e ao sucesso individual. Esta competição resulta, atualmente, numa guerra econômica implacável e numa tensão entre os mais favorecidos e os pobres, que divide as nações do mundo e exacerba as rivalidades históricas. Que fazer para melhorar a situação? A experiênciaprova que para reduzir o risco não basta pôr em contato e em comunicação membros de grupos diferentes (através de escolas comuns a várias etnias ou religiões, por exemplo), se, no seu espaço comum, esses diferentes grupos entram em competição, ou, se o estatuto da escola acentua as desigualdades. Um contato deste gênero pode, ao contrário, agravar ainda mais as tensões latentes e degenerar em conflitos. Pelo contrário, se esse contato se fizer num contexto igualitário e se existirem objetivos e projetos comuns, os preconceitos e a hostilidade latente podem desaparecer e dar lugar a uma cooperação mais serena, e até à amizade. Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda vida, a participação em projetos comuns, parece ser um método eficaz para evitar ou resolver conflitos latentes. A descoberta do outro: O educador tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana; por outro, levar as pessoas a tomarem consciência das semelhanças e interdependência entre todos os seres humanos do planeta. Desde tenra idade, a escola deve, pois, aproveitar todas as ocasiões para esta dupla aprendizagem. Buscando a descoberta do outro, necessariamente pela descoberta de si mesmo, a criança e o adolescente podem chegar a uma visão mais ajustada do mundo. A educação, seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola deve ajudar crianças e adolescentes a descobrirem-se a si mesmos. Só então poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar do outro e compreender as suas reações. Desenvolver esta atitude de empatia, na escola, é muito útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida. Ensinando os jovens a adotarem a perspectiva de outros grupos étnicos ou religiosos, pode-se evitar incompreensões geradoras de ódio e violência entre os adultos. Os métodos de ensino não devem ir contra este reconhecimento do outro. Os professores que, por dogmatismo, matam a curiosidade ou o espírito crítico dos seus alunos, em vez de desenvolvê-los, podem ser mais prejudiciais do que úteis. Esquecendo que funcionam como modelos, com esta atitude omissa, arriscam-se a enfraquecer por toda a vida, nos alunos, a capacidade de abertura as diferenças, e de enfrentar as inevitáveis tensões entre pessoas, grupos e nações. O confronto através do diálogo e da troca de argumentos é um dos instrumentos indispensáveis à educação do século XXI. Quando se trabalha em conjunto sobre projetos motivadores e fora do habitual, as diferenças e até os conflitos interindividuais tendem a reduzir-se, chegando a desaparecer, em alguns casos. Uma nova forma de identificação nasce desses projetos que fazem com que se ultrapassem as rotinas individuais, que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças. 4- Aprender a Ser Aprender a ser é um princípio fundamental para um homem do século XXI. A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado para elaborar pensamentos autônomos e críticos e, para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida. Este imperativo não é apenas de natureza individualista: a experiência recente mostra que o que poderia parecer somente uma forma de defesa do indivíduo perante um sistema alienante ou tido como hostil, é também, por vezes, a melhor oportunidade de progresso para as sociedades. A diversidade das personalidades, a autonomia e o espírito de iniciativa são os suportes da criatividade e da inovação. Num mundo em mudança, em que um dos principais motores parece ser a inovação, tanto social como econômica, deve ser dada importância especial à imaginação e à criatividade: claras manifestações da liberdade humana. O século XXI necessita desta diversidade de talentos e de pessoas excepcionais, essenciais em qualquer civilização. Convém, pois, oferecer às crianças e aos jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação estética, artística, desportiva, científica, cultural e social, que venham completar nestes domínios aquilo que construíram as gerações que os precederam ou suas contemporâneas. Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhe é concedido, para evitar um ensino mais utilitarista do que cultural. A preocupação em desenvolver a imaginação e a criatividade deveria, também, revalorizar a cultural oral e os conhecimentos retirados da experiência da criança ou do adulto. Este desenvolvimento do ser humano, que se desenrola desde o nascimento até a morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade. Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100 Parque Santa Cândida CEP: 13603-112 Araras / SP (19) 3321-8000 ead@unar.edu.br www.unar.edu.br 0800-772-8030 POLO MATRIZ http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br Página 1 Página 2