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Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 1. INTRODUÇÃO A avaliação nutricional é um instrumento diagnóstico que analisa sob diversos ângulos as condições nutricionais do organismo, determinadas pelos processos de ingestão, absorção, metabolismo e excreção dos nutrientes. Neste contexto, tem como objetivo identificar distúrbios e riscos nutricionais, além de mensurar a gravidade destes, para assim, traçar condutas nutricionais que possibilitem a recuperação ou manutenção adequada do estado de saúde do individuo. Existem várias técnicas para avaliar o estado nutricional, porém, não há um método sem criticas, seja para indivíduos saudáveis ou enfermos. Deve-se assim, utilizar a abordagem que melhor se adeque a realidade do indivíduo em avaliação e/ou aquelas nas quais o profissional tenha mais experiência. Independentemente do método escolhido, sempre devem ser respeitadas de maneira criteriosa, a técnica e a metodologia para que se possa obter o diagnostico nutricional mais fidedigno e eficaz. Não há um método considerado padrão ouro para a determinação do diagnóstico nutricional; a escolha da melhor conduta a ser realizada na avaliação dependerá inicialmente da distinção entre avaliação clínica (individual) e avaliação epidemiológica (coletiva). Alguns parâmetros podem ser aplicados em uma avaliação individual, mas não são empregados em populações / coletividades. Desta forma, a escolha do método dependerá do objetivo da avaliação e dos problemas a serem investigados. Os métodos utilizados na avaliação nutricional nos ciclos da vida e nas condições de saúde e/ou doença são: antropometria, avaliação bioquímica, avaliação dietética, incluindo-se ainda o exame físico e as triagens de risco nutricional. Nos capítulos a seguir, serão abordados cada um destes métodos. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 2 CAPÍTULO 1 ANTROPOMETRIA & COMPOSIÇÃO CORPORAL 1. INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE COMPOSIÇÃO CORPORAL O conceito de composição corporal envolve a proporção de diferentes componentes corporais e a massa corporal total, determinados pelos percentuais de tecido adiposo e tecido muscular. Diversos autores propuseram a padronização dos termos e níveis de análise da composição corporal, sendo determinados 5 níveis (imagem 1), com complexidade crescente: • Atômico (nível elementar); • Molecular; • Celular; • Sistema de tecidos; • Corpo como um todo. Imagem 1: Níveis de composição corporal. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 3 Nesta temática, torna-se necessário o conhecimento das seguintes definições: • Massa gorda (MG): todos os lipídeos extraídos do corpo • Massa livre de gordura (MLG): todos os tecidos livres de lipídeos incluindo água, músculos, ossos, tecidos conjuntivos e órgãos • Massa corporal magra: massa magra + lipídeos essenciais • Gordura Subcutânea – tecido adiposo acumulado sob a pele • Gordura visceral – tecido acumulado dentro e em volta dos órgãos, da cavidade torácica (coração e pulmões) e abdominal (fígado, rim, etc) • Gordura intra-abdominal – gordura visceral na cavidade abdominal • Gordura abdominal – gordura subcutânea na região abdominal Conforme a técnica escolhida para análise, a avaliação pode ser vista a partir de um, dois ou vários compartimentos. O modelo de dois compartimentos é normalmente o mais aceito, em função da simplicidade e objetividade de aplicação em relação aos outros modelos. Sendo assim, um compartimento consiste na gordura corporal e o outro na massa magra. A primeira, é um compartimento homogêneo, formada basicamente por gordura, enquanto que a massa magra, é formada por diversos componentes, como água, proteína, osso, glicogênio, lipídeos essenciais (fosfolipídios, esfingolipídios e colesterol) e uma menor quantidade de outros constituintes. A desvantagem desse modelo está no fato de sua aplicação desconsiderar as variações entre os componentes de massa magra, o que levou ao surgimento de modelos de análise multicompartimentais, o que possibilita informações mais precisas sobre água, proteínas e minerais corporais. Destaca-se que embora estes modelos multicompartimentais sejam mais precisos, a desvantagem de analise está na falta de equipamentos, necessidade de maior tempo e custos elevados, dificultando as análises. De forma geral, as técnicas de mensuração da composição corporal podem ser classificadas em diretas, indiretas ou duplamente indiretas (Tabela 1). O método direto realiza a mensuração do elemento que compõe o corpo sem medidas intermediarias; a sua principal vantagem é permitir o acesso direto a estrutura de interesse, porém, entre as desvantagens, destaca-se que há necessidade de medidas invasivas ao corpo humano, instrumentação especifica e adequada, profissional Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 4 capacitado para tais realização da técnica e interpretação de resultados, além de alto custo. O método indireto por sua vez, baseiam-se na determinação de grandezas usadas para determinar suas respectivas derivações. Esse método é importante quando os elementos de interesse não podem ser tocados ou acessados diretamente, como a quantidade de tecido adiposo ou musculo presente no corpo. Nas desvantagens inclui-se os possíveis erros de medida, como no método direto, além da necessidade de elaboração de equações, cujas constantes também podem apresentar erros de confiabilidade, assim, estes métodos apresentam maior tendências a erros de medida. Quadro 1: Métodos de mensuração corporal CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA Diretos - Dissecação de cadáveres Indiretos Inclui: - Princípios físicos ou químicos - Validação de métodos duplamente indiretos - Pesagem hidrostática - Absorciometria de raios X de dupla energia / densitometria óssea - Dexa Duplamente indiretos - Medidas antropométricas - Bioimpedância Fonte: Adaptado de Clarys et al (1999). Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 5 2. ANTROPOMETRIA Método de mensuração da composição corporal, abrangendo seus principais compartimentos: tecido adiposo e massa livre de gordura. Avalia o tamanho corporal e suas proporções, sendo um indicador direto do estado nutricional. A antropometria mede de maneira estática todos os compartimentos corporais e os resultados obtidos compõem os parâmetros objetivos de avaliação nutricional, podendo refletir o histórico do estado nutricional do paciente, o que não pode ser avaliado com tanta confiabilidade por outras técnicas. Tem como vantagens: • Baixo custo; • Uso de instrumentos simples e de fácil aplicação; • Obtém-se resultados imediatos; • Suas estimativas servem para determinar e monitorar o estado nutricional; de forma segura e confiável. Assim como todos os outros métodos, apresenta limitações, como por exemplo: • Seus resultados não devem ser vistos de forma isolada; • Não se pode atestar distúrbios ocorridos em curtíssimo prazo ou deficiências nutricionais especificas; • Pode ocorrer erro na coleta, conferindo falsos positivos / negativos. 2.1 Peso corporal Representa a soma de todos os componentes corporais (água, gordura, musculo) e relaciona-se com o equilíbrio proteico-energético de indivíduo. Destaca-se que na avaliação deste parâmetro, deve-se ter cautela em situações de retenção hídrica (edema e ascite), insuficiência renal, insuficiência cardíaca e desidratação.Definições de peso corporal: • Peso atual: é o peso verificado no momento da avaliação nutricional, em uma balança calibrada, com o indivíduo em pé, no centro da balança, descalço e usando roupas leves. • Peso ideal ou desejável ou teórico: é o peso definido de acordo com sexo, idade, biótipo e altura. Devido as variações individuais no adulto, o peso ideal (PI) pode variar na faixa de 10% para mais ou para menos. Para o cálculo do peso ideal, utiliza-se a seguinte fórmula: Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 6 • O peso ideal também pode ser calculado pela conforme a compleição física ou óssea, utilizando-se a altura e a circunferência do punho (medida distalmente ao processo estiloide da ulna), em seguida aplica-se a fórmula a seguir: • A adequação do peso atual em relação ao ideal, pode ser obtida por meio da fórmula a seguir e classificado de acordo com os parâmetros de Blackburn e cols (1977), descritos na tabela 2: Quadro 2: Classificação da adequação de peso. Fonte: Blackburn e cols (1977). • Peso usual ou peso habitual: Peso que o paciente apesenta antes de procedimentos ou doenças, sendo de forma geral, o que se mantem por maior período de tempo. O peso usual é utilizado como referência na avaliação de mudança de peso (perda de peso). Pode ser obtido por meio da fórmula a seguir e classificado de acordo com os parâmetros de Blackburn & Bistrian (1977). % ESTADO NUTRICIONAL < 69 Desnutrição grave 70 a 79 Desnutrição moderada 80 a 90 Desnutrição leve 90,1 a 110 Eutrofia 110,1 a 120 Sobrepeso > 120 Obesidade Peso Ideal (PI): IMC desejado* x A² *IMC desejado de adultos homens= 22 kg/m² e mulheres=21 kg/m² Peso Ideal (PI): altura (cm) Circunferência do punho %Adequação do Peso= Peso atual x 100 Peso ideal Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 7 Quadro 3: Classificação do percentual de perda de peso. Fonte: Blackburn & Bistrian (1977). • Peso ajustado: também chamado de peso ideal corrigido, é calculado e utilizado quando o paciente apresenta a adequação de peso superior a 110% ou inferior a 90% do considerado ideal. Pode ser obtido por meio da fórmula a seguir: A técnica de aferição do peso, é determinada de acordo com a faixa etária do indivíduo que está sendo avaliado. Para indivíduos menores de 02 anos, utiliza-se a balança pediátrica, também chamada de balança pesa bebê, com capacidade máxima de 16 kg, composta de uma bacia na qual a criança permanece deitada ou sentada. Deve-se seguir as etapas: ü Certificar-se de que a balança está apoiada sobre uma superfície plana, firme e lisa. ü Forrar o prato com uma proteção antes de calibrar para evitar erros na pesagem. ü Verificar se a balança está travada e posteriormente destravar a balança. ü Observar se a balança está calibrada (a agulha do braço e o fiel devem estar na mesma linha horizontal). Caso contrário, girar leve e lentamente o calibrador, até que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. ü Após constatar que a balança está calibrada, ela deve ser travada novamente. ü Colocar a criança despida no centro do prato da balança, sentada ou deitada, de modo a distribuir o peso igualmente. Destravar a balança, mantendo a criança Tempo Perda Significativa % Perda Grave % 1 semana 1 a 2 > 2 1 mês 5 > 5 3 meses 7,5 > 7,5 6 meses 10 > 10 % Perda de peso = (peso usual – peso atual) x 100 peso usual Peso ajustado (kg) = (Peso ideal (kg) – Peso atual (kg)) x 0,25 + Peso atual (kg) Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 8 parada o máximo possível nessa posição. Orientar a mãe/responsável a manter- se próximo sem tocar na criança e no equipamento. ü Mover os cursores sobre a escala numérica, primeiro o maior para os quilos e em seguida, o menor para os gramas. ü Esperar até que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. ü Travar a balança, evitando que sua mola desgaste, assegurando o bom funcionamento do equipamento. ü Realizar a leitura de frente para o equipamento, a fim de visualizar melhor os valores apontados pelos cursores. ü Anotar o peso, retirar a criança e retornar os cursores ao zero na escala numérica. Para indivíduos maiores de 02 anos, utiliza-se a balança antropométrica mecânica, do tipo plataforma, com capacidade máxima de 150 kg, seguindo as etapas: ü Certificar-se de que a balança plataforma está afastada da parede. ü Verificar se a balança está travada e posteriormente destravar a balança. ü Observar se a balança está calibrada (a agulha do braço e o fiel devem estar na mesma linha horizontal). Caso contrário, girar leve e lentamente o calibrador, até que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. ü Após constatar que a balança está calibrada, ela deve ser travada novamente. ü Posicionar o indivíduo de costas para a balança, descalço, com o mínimo de roupa possível, no centro do equipamento, ereto, com os pés juntos e os braços estendidos ao longo do corpo. Mantê-lo parado nessa posição. Destravar a balança. ü Mover os cursores sobre a escala numérica, primeiro o maior para os quilos e o menor para os gramas. ü Esperar até que a agulha do braço e o fiel estejam nivelados. Travar a balança, realizar a leitura de frente para a balança, a fim de visualizar melhor os valores apontados pelos cursores. ü Anotar o peso, retirar o indivíduo da balança e retornar os cursores ao zero na escala numérica. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 9 2.2 Altura É uma medida prática, de simples execução, aferida por meio de um estadiômetro de haste móvel ou fixa, ou por meio de antropômetro. O estadiômetro é um equipamento com capacidade de medida de até 2 metros fixado na parede a 50 cm do chão, sendo indicado para a faixa etária a partir de 02 anos. A técnica de aferição da altura, é determinada de acordo com a faixa etária do indivíduo que está sendo avaliado. Para menores de 02 anos, realiza-se a aferição do comprimento por meio do antropômetro, seguindo as etapas: ü Verificar se o antropômetro está apoiado em uma superfície plana, firme e lisa. ü Deitar a criança no centro do antropômetro, descalça e com a cabeça livre de adereços. ü Apoiar a cabeça firmemente contra a parte fixa do equipamento, com o pescoço reto e o queixo afastado do peito. Os ombros devem estar totalmente em contato com a superfície de apoio do antropômetro e os braços estendidos ao longo do corpo. Para manter a criança nessa posição. É necessária a ajuda da mãe/responsável. ü As nádegas e os calcanhares devem estar em pleno contato com a superfície que apoia o equipamento; os braços permanecem estendidos ao longo do corpo. ü Pressionar, cuidadosamente, os joelhos da criança para baixo, com uma das mãos, de modo que eles fiquem estendidos. Unir os pés, fazendo um ângulo reto com as pernas. ü Levar a parte móvel do equipamento até a planta dos pés, com cuidado para que não se mexam. ü Realizar a leitura do comprimento quando estiver seguro de que a criança não se moveu da posição indicada. ü Anotar o resultado e retirar a criança. Para maior de 02 anos, realiza-se a aferição, seguindo as etapas: ü Verificar se o antropômetro está fixado numa parede lisa e sem rodapé, ou utilizar o antropômetro da balança plataforma. ü Posicionar o indivíduo descalço e com a cabeça livre de adereços no centro do equipamento. Mantê-lo de pé, ereto, com os braços estendidos aolongo do corpo, com a cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos. ü Encostar os calcanhares, ombros e nádegas na parede. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 10 ü Os ossos internos dos calcanhares devem se tocar, bem como a parte interna de ambos os joelhos. Unir os pés, fazendo um ângulo reto com as pernas. ü Abaixar a parte móvel do equipamento, fixando-a contra a cabeça, com pressão suficiente para comprimir o cabelo. ü Retirar o indivíduo, quando tiver certeza de que o mesmo não se moveu. Realizar a leitura da estatura, sem soltar a parte móvel do equipamento e anotar o resultado. Na impossibilidade de aferição da altura, como em indivíduos acamados, a mesma pode ser estimada por técnicas como a estatura recumbente, envergadura, semi envergadura ou a partir da altura do joelho. A técnica da estatura recumbente, inclui as seguintes etapas: ü Colocar o indivíduo em posição supina (deitado de costas), com o leito em posição horizontal completa e colocando a cabeça em posição reta, com a linha de visão no teto; ü Realizar todas as medidas no lado direito do corpo; ü Fazer marcas no lençol na altura do topo da cabeça e da base do pé e medir o comprimento entre as marcas, utilizando uma fita métrica flexível. A obtenção a partir da altura do joelho, deve seguir as etapas abaixo: ü Colocar o indivíduo em posição supina; ü Dobrar o joelho esquerdo em ângulo de 90° e medir o comprimento entre a planta do pé e a superfície anterior da perna, na altura do joelho, utilizando uma régua para medir crianças ou fita inelástica; ü Aplicar a medida obtida na fórmula de Chumlea e cols., (1985), de acordo com o sexo do avaliado: A obtenção a partir da envergadura, deve seguir as etapas abaixo: ü O indivíduo deve estar sem qualquer tipo de vestimenta que dificulte a extensão do braço, em pé, de frente para o avaliador e de costas para a parede, com o Homens: 64,19 – (0,04 x idade em anos) + (2,02 x AJ cm) Mulheres: 84,88 – (0,24 x idade em anos) + (1,83 x AJ cm) Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 11 tronco reto, braços estendidos na altura do ombro, sem flexionar o cotovelo, com calcanhares tocando a parede e peso distribuído em ambos os pés. ü Deve-se marcar na parede (com fita adesiva) a distância obtida entre a extremidade distal do terceiro quirodáctilo direito e a extremidade distal do terceiro quirodáctilo esquerdo (a extremidade final do maior dedo da mão). Para a semi-envergadura, deve seguir as etapas abaixo: ü Localizar e marcar a ponta da clavícula direita (na incisura esternal) com a caneta. ü Pedir que o indivíduo coloque o braço esquerdo em posição horizontal e verificar se o braço do mesmo está na horizontal e alinhado com os ombros. ü Usando a fita métrica, medir a distância entre a marca da linha mediana na incisura esternal até a ponta do dedo médio. ü Verificar se o braço está esticado e o pulso está reto. ü Fazer a medição em centímetros. 2.3 Índice de massa corporal (IMC) O IMC é o indicador mais simples de avaliação do estado nutricional, de fácil aplicação e baixo custo. É obtido a partir do peso atual, dividido pela altura ao quadrado, tendo parâmetros específicos de classificação conforme faixa etária. Tem como limitação, o fato de não distinguir a massa muscular e massa adiposa, destacando-se que sua intepretação em situações de desidratação, ascite, edemas, pacientes graves acamados, atletas ou com elevada massa muscular deve ser cautelosa ou até mesmo contraindicada. A classificação para adultos é realizada de acordo com os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (1997) e para idosos, de acordo com os parâmetros de Lipschitz (1994) ou OPAS (2002). Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 12 Quadro 4: Classificação do índice de massa corporal de adultos. CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m²) Obesidade grau III > 40 Obesidade grau II 35-40 Obesidade grau I 30-34,9 Sobrepeso 25-29,9 Eutrofia 18,5-24,9 Desnutrição grau I 17-18,4 Desnutrição grau II 16-16,9 Desnutrição grau III <16 FONTE: WHO, 1997. Quadro 5 Classificação do índice de massa corporal de idosos segundo Lipschitz. CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m²) Baixo peso <22 Eutrofia 22-27 Sobrepeso >27 FONTE: Lipschitz, 1994. Quadro 6: Classificação do índice de massa corporal de idosos segundo OPAS. IMC (kg/m²) Classificação < 23 Desnutrição > 23 a < 28 Eutrofia > 28 a < 30 Sobrepeso > 30 Obesidade FONTE: OPAS, 2002. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 13 Gestantes apresentam pontos de corte específicos para classificação do IMC, parâmetro a partir do qual, se define o ganho de peso durante a gestação: Quadro 7: Classificação do índice de massa corporal para gestantes. IMC Classificação < 19,8 kg/m² Baixo peso 19,8 a 26 kg/m² Eutrofia 26 a 29 kg/m² Sobrepeso > 29 kg/m² Obesidade FONTE: IOM, 1992. Quadro 8: Ganho de peso recomendado na gestação, de acordo com o IMC pré- gestacional. Classificação do IMC Ganho de peso total (kg) Ganho de peso semanal (g/semana) Baixo peso 12,5 a 18 kg 500 g a partir do 2º trimestre Eutrofia 11,5 a 16 kg 400 g a partir do 2º trimestre Sobrepeso 7,0 a 11,5 kg 300 g a partir do 2º trimestre Obesidade 7,0 a 9,1 kg 200 g a partir do 2º trimestre FONTE: IOM, 1992. 2.4 Circunferências As circunferências aferidas isoladamente ou em conjunto com outra medida antropométrica, são utilizadas para avaliação do tamanho de secções transversais e dimensões do corpo, indicam crescimento, estabelecendo o padrão muscular e verificam a distribuição de gordura corporal. São empregadas também para verificar a predisposição de gordura localizada e a distribuição da gordura corporal. 2.4.1 Circunferência do braço (CB) Avalia a soma das áreas constituídas pelos tecidos ósseo, muscular e gorduroso desse membro. Para sua aferição, deve-se seguir as etapas: ü Escolher o braço não dominante ü Manter o braço do avaliado flexionado em direção ao tórax (90º) Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 14 ü Marcar ponto médio entre o acrômio e o olécrano ü Deixar o braço estendido com palma da mão voltada para a coxa ü Medir no ponto marcado A classificação é realizada por meio do percentual de adequação conforme os parâmetros de Blackburn & Thornton (1979) ou por meio da classificação dos percentis, conforme Frisancho (1984): Quadro 9: Classificação do percentual de adequação da circunferência do braço. Desnutrição Grave Desnutrição Moderada Desnutrição Leve Eutrofia Sobrepeso Obesidade CB < 70% 70 a 80% 80 a 90% 90 a 110% 110 a 120% > 120% FONTE: Blackburn & Thornton (1979) Quadro 10: Classificação do percentil de circunferência do braço. CLASSIFICAÇÃO CB (percentil) Obesidade > 90 Sobrepeso > 75 - 90 Eutrofia > 25 - 75 Risco nutricional 5-25 Desnutrição < 5 FONTE: Frisancho (1984) 2.4.2 Circunferência muscular do braço (CMB) Avalia o tecido muscular, incluindo área óssea, sendo obtida a partir da circunferência do braço e prega cutânea triciptal (PCT). A classificação é realizada por meio do percentual de adequação conforme os parâmetros de Blackburn & Thornton (1979). Adequação de CB (%) = CB obtido (cm)_ x 100 CB percentil 50 CMB: CB (cm) – (0,314xDTC) Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 15Quadro 11: Classificação do percentual de adequação da circunferência muscular do braço. Desnutrição Grave Desnutrição Moderada Desnutrição Leve Eutrofia CB < 70% 70 a 80% 80 a 90% 90 a 110% FONTE: Blackburn & Thornton (1979) A partir da circunferência muscular do braço (AMBc), há a área muscular do braço corrigida, que avalia o tecido muscular, corrigindo a área óssea, dessa forma, reflete adequadamente as mudanças do tecido muscular. É obtida a partir do CB e PCT, conforme o sexo e classificada de acordo com os parâmetros de Frisancho (1990) em percentis. Quadro 12: Classificação da área muscular do braço corrigida. Normal Desnutrição Leve/ Moderada Desnutrição Grave AMBc Percentil > 15 Percentil entre 5 e 15 Percentil < 5 FONTE: Frisancho (1990). 2.4.3 Circunferência do pescoço (Cpe) A circunferência do pescoço é utilizada para avaliar risco de obesidade e correlações com alterações nos níveis de lipídeos séricos como colesterol total e LDL-c, além de distúrbios metabólicos relacionados a resistência a insulina, hipertensão. A medida é realizada seguindo as etapas: ü Cabeça no plano horizontal de Frankfurt e a coluna vertebral reta com o indivíduo em pé ou sentado. Mulher: AMBc (cm2) = (CB (cm) – πx PCT(mm))2 – 6,5 4 π Homem: AMBc (cm2) = (CB (cm) – πx PCT(mm)2 – 10 4 π Adequação de CMB (%) = CMB observado (cm) x 100 CMB Percentil 50 Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 16 ü Posicionar a fita no ponto de menor circunferência do pescoço, logo acima da proeminência laríngea ou sobre a cartilagem cricotireóida. A classificação pode ser feita de acordo com o sexo, seguindo os parâmetros de Yang et al (2010): Quadro 13: Classificação da circunferência do pescoço. Sexo Ponto de corte Interpretação Masculino ≥39 cm Elevado / risco <39 cm Normal Feminino ≥35cm Elevado / risco < 35 cm Normal FONTE: Yang et al (2010). 2.4.4 Circunferência da cintura (CC) É o parâmetro que avalia risco cardiovascular e metabólico. Para aferição, o indivíduo deve estar ereto, com o abdome relaxado (ao final da expiração), com os braços estendidos ao longo do corpo e as pernas fechadas. A medida deverá ser feita no plano horizontal no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca com uma fita métrica inelástica. A utilização da medida da cintura isolada é muito utilizada para avaliar melhor o tecido adiposo abdominal visceral quando comparado à razão cintura- quadril. A classificação é feita de acordo com os parâmetros da OMS (1998), estratificados por sexo. Quadro 14: Classificação da circunferência da cintura. Risco Normal Moderado Alto Homem <94 94-102 >102 Mulher < 80 80-88 > 88 FONTE: OMS (1998). Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 17 2.4.5 Circunferência do quadril (CQ) É o parâmetro utilizado em associação com a circunferência da cintura, para estabelecimento da relação cintura-quadril. Para sua aferição, a fita deverá circundar o quadril na região de maior perímetro entre a cintura e a coxa, (trocanter maior) com o indivíduo usando roupas finas. 2.4.6 Relação cintura-quadril (RCQ) É um método utilizado para adultos (20 a 69 anos), de ambos os sexos, para avaliar o risco de doenças crônicas associadas à obesidade, como hipertensão, diabetes tipo 2 e dislipidemias. 2.4.7 Circunferência abdominal (CA) É a medida aferida na maior circunferência da região abdominal (normalmente no nível da cicatriz umbilical). A medida deverá ser feita na ausência de roupas na região de interesse, com o indivíduo deve estar em posição anatômica, com o abdome descontraído, em posição ereta, com os braços estendidos ao longo do corpo e pernas fechadas. A medida é feita ao final da expiração normal e registrada o mais próximo de 0,1 cm. 2.4.8 Circunferência da panturrilha (CP) É a medida mais sensível para apontar mudanças de massa muscular em idosos. Deve ser aferida na maior proeminência da musculatura da panturrilha, podendo também ser utilizada na estimativa de peso. Em idosos avalia a presença de desnutrição, por meio de depleção de massa muscular, tendo como ponto de corte para desnutrição, valores abaixo de 31 cm. 2.5. Pregas cutâneas A avaliação deste parâmetro baseia-se no fato de que aproximadamente metade do conteúdo corporal total de gordura localiza-se no tecido subcutâneo. É aferida por meio do instrumento chamado adipômetro, e existem mais de 90 locais anatômicos onde a RCQ = circunferência de cintura Circunferência de quadril Pontos de corte: Homens: 1,0 ou 0,95 Mulheres: 0,8 ou 0,85 Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 18 medida pode ser mensurada, porem a maioria dos protocolos utiliza de 2 a 9 locais de medida. 2.5.1 Prega cutânea tricipital É medida na face posterior do braço, no mesmo ponto médio localizado para a medida da circunferência do braço (ponto médio entre o acrômio e o olécrano), com o paciente em pé, braços relaxados e estendidos ao longo do corpo. Deve-se segurar firmemente a dobra, entre o polegar e o indicador da mão esquerda, a 1cm acima do local a ser medido, em seguida pinçar a prega com o adipômetro exatamente no local marcado, com o adipômetro perpendicular à dobra. O percentual de adequação é classificado de acordo com os parâmetros de Blackburn & Thornton (1979): Quadro 15: Classificação do percentual de adequação da prega cutânea triciptal. Desnutrição Grave Desnutrição Moderada Desnutrição Leve Eutrofia Sobrepeso Obesidade PCT < 70% 70 a 80% 80 a 90% 90 a 110% 110 a 120% > 120% FONTE: Blackburn & Thornton (1979) 2.5.2 Prega cutânea bicipital É medida na face anterior do braço, no ponto médio entre o acrômio e o olécrano, com o paciente em pé, braços relaxados e estendidos ao longo do corpo. Deve-se segurar firmemente a dobra, entre o polegar e o indicador da mão esquerda, a 1cm acima do local a ser medido, em seguida pinçar a prega com o adipômetro exatamente no local marcado, com o adipômetro perpendicular à dobra. 2.5.3 Prega cutânea subescapular É a medida da pele tecido adiposo subcutâneo no lado posterior do dorso, executada obliquamente em relação ao eixo longitudinal, seguindo a orientação dos arcos costais, sendo localizada a dois cm abaixo. Adequação de PCT (%) = PCT obtido (mm) x 100 PCT Percentil 50 Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 19 2.5.4 Prega cutânea suprailiaca É obtida obliquamente em relação ao eixo longitudinal, na metade da distância entre o último arco costal e a crista ilíaca, sobre a linha axilar média. 2.6. Músculo adutor do polegar (MAP) O MAP é um parâmetro utilizado para avaliação de redução de capacidade funcional por meio de depleção de massa muscular. É uma medida direta, não havendo a necessidade de aplicação de fórmulas para o cálculo de seu valor real. Deve ser mensurado na mão do lado dominante, com o indivíduo sentado com a face ventral da mão repousando sobre o joelho e o cotovelo em ângulo de aproximadamente 90° sobre o membro inferior homolateral. É classificado de acordo com os parâmetros de Lameu (2004), conforme o sexo, além da classificação do percentual de adequação: Quadro 16: Classificação da média do músculo adutor do polegar Sexo Média (mm) Mediana(mm) Desvio padrão Masculino 12,5 12 2,8 Feminino 10,5 10 2,3 FONTE: Lameu et al (2004). Quadro 17: Classificação do percentual de adequação do músculo adutor do polegar % DE ADEQUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO 100% Ausência de depleção 90 a 99% Depleção leve 60 a 90% Depleção moderada <60% Depleção grave FONTE: Lameu, 2004. Adequação de MAP (%) = MAP aferido x 100 MAP mediano Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 20 2.7 Antropometria não convencional 2.7.1 Dinamometria manual (DM) Avalia a força máxima voluntária de pressão manual ou dinamometria manual (DM), objetivando estimar a função do musculo esquelético. É realizada por meio do dinamômetro, sendo um procedimento rápido, de baixo busco e não invasivo. Vem sendo reconhecida como instrumento útil de avaliação funcional no acompanhamento do estado nutricional de pacientes cirúrgicos, na avalição funcional de idosos e população em geral. 2.7.2 Diâmetro abdominal sagital (DAS) É a medida correlacionada com a quantidade de tecido adiposo visceral, apresentando forte associação com o risco cardiovascular. Estudos demonstram que o DAS comparado com outras medidas antropométricas foi melhor preditor dos níveis de colesterol total, triglicerídeos, glicose, insulina e pressão arterial. Na aferição desta técnica, deve-se seguir as etapas: ü O paciente deve estar deitado em uma mesa examinadora de superfície firme, na posição supina e com os joelhos flexionados. ü A medida pode ser tomada nos seguintes locais anatômicos: o Nível umbilical; o Ponto de maior diâmetro abdominal; o Ponto mais estreito entre o ultimo arco costal e a crista ilíaca ü Verificar a medida sem compressão, após a expiração normal 2.7.3 Razão cintura-estatura (RCE) É determinada pela divisão da circunferência da cintura (cm) pela estatura, apresentando um ponto de corte único independente de sexo, idade ou etnia: >5 anos: 0,50 2.7.4 Índice de conicidade (IC) Parte do princípio de que o corpo humano muda do formato de um cilindro para o de um “cone duplo” com acumulo de gordura em torno da cintura. Tem como limitações fato de não existir ponto de corte definido. Na sua classificação: ü Sugere-se adotar valores próximos de 1,0 como indicativo de baixo risco para doenças cardiovasculares e metabólicas; Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 21 ü Valores próximos de 1,73 sugerem alto risco. 2.7.5 Índice de adiposidade corporal (IAC) É um novo método para estimar adiposidade em adultos, propondo a estimativa direta de gordura corporal em percentual, por meio da circunferência do quadril e altura, sendo classificado conforme o sexo. Quadro 18: Classificação do IAC. IAC (%) CLASSIFICAÇÃO HOMENS MULHERES <11 <23 Baixo peso 11 a 22 23 a 35 Eutróficos 22 a 27 35 a 40 Sobrepeso >27 >40 Obesidade 2.8 índices antropométricos para infância e adolescência Correspondem a duas medidas antropométricas brutas, sendo simples proporções numéricas. São usados 4 índices para a faixa etária até 10 anos, classificados de acordo com as curvas da OMS: estatura para idade, peso para idade, peso para estatura e IMC para idade. Na adolescência, são usados o IMC para idade e estatura para idade. 2.8.1 Peso para idade Define a classificação do peso em relação a idade cronológica da criança, sendo influenciado tanto pela estatura quanto pelo peso e reflete o estado nutricional atual/agudo. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 22 2.8.2 Estatura para idade Caracteriza o crescimento linear da criança para a idade especifica; seus déficits indicam inadequações acumuladas a longa duração, refletindo o estado nutricional pregresso. 2.8.3 Peso para estatura Reflete a harmonia do crescimento, não necessitando de idade para avaliação. Apesar de relacionar dois outros índices, não substitui nenhum outro parâmetro. 2.8.4 IMC para idade Define a relação peso por estatura ao quadro, sendo especifico para idade cronológica. Tem sido pouco aplicado para crianças abaixo de 5 anos e bem recomendado para faixa etária de 5-19 anos. 2.8.5 Interpretação dos índices antropométricos Os dados obtidos são analisas nas curvas de percentil e escore z da OMS, e devem ser classificados de acordo com os intervalos a seguir para crianças e adolescentes: Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 23 Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 24 CAPÍTULO 2 MÉTODO FÍSICO 1. BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA É o método físico que baseia-se no princípio da condutividade elétrica para estimativa dos compartimentos corporais. Os tecidos magros são altamente condutores de corrente elétrica pela grande quantidade de agua e eletrólitos, sendo, portanto, um meio de baixa resistência elétrica; por outro lado, a gordura e o osso são fracos condutores. A avaliação é feita pela passagem de uma corrente elétrica de baixa amplitude e de ala frequência mensurando a resistência, reatância, impedância, e ângulo de fase. Devem ser seguidas as seguintes recomendações para o exame: ü Não utilizar medicamentos diuréticos nos 7 dias que antecedem o teste ü Manter-se em jejum nas 4h que antecedem o teste ü Não ingerir bebidas alcoólicas nas 48h antes do teste ü Não realizar atividades físicas nas 24h anteriores ao teste ü Evitar realizar o teste no período pré-menstrual ü Não realizar teste em pacientes com marcapasso 2. ABSORCIOMETRIA DE FEIXE DUPLO (DEXA) Tem sido considerada como "padrão-ouro" nos estudos de validação de métodos e equações para a avaliação da composição corporal, possibilitando análise da topografia corporal e estimativa de massa muscular e adiposa. Trata-se de uma técnica não invasiva, apresenta boa validade, precisão e fidedignidade. 3. PLETISMOGRAFIA POR DESLOCAMENRO DE AR Avaliação realizada por meio do bod pod, fornecendo os valores da quantidade de gordura, massa magra e sugere a taxa metabólica de basal e gasto total de energia. O Bod Pod funciona sob condições adiabáticas, além do corpo humano apresentar fontes de ar isotérmicas (ar dos pulmões, ar entre cabelos, pelos e roupas) que podem subestimar o volume corporal, desta forma, há a necessidade do uso de roupas de banho e touca para minimizar efeitos. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 25 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA 1. INTRODUÇÃO A utilização de exames laboratoriais na prática clínica objetiva estimar a reserva de nutrientes, identificando carências específicas, além de avaliar eficácia terapêutica (respostas imediatas ao tratamento) e complementar outros métodos de avaliação do estado nutricional. Vantagens: • Detecção de deficiências específicas ainda na fase subclínica; • Tratamento específico e precoce. Desvantagens: • Requer infraestrutura e pessoal especializados; • Pode apresentar alto custo; • Os testes são afetados por fatores biológicos, técnicos, orgânicos e medicamentosos. 2. AVALIAÇÃO DA MASSA PROTEICA SOMÁTICA Os métodos bioquímicos podem em associação com os parâmetros antropométricos, avaliar a massa proteica somática. 2.1 Índice de creatinina-altura Avalia a massa muscular corporal, baseando-se no fato de que 98% da creatinina está localizada nos músculos.A massa corporal magra (MCM) está diretamente relacionada com a creatina. ICA= Creatinina urinária (24h) x 100 Coeficiente de creatinina Coeficiente de creatinina na urina em 24h: ü Homens: 23 mg/kg/dia ü Mulheres: 18 mg/kg/dia Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 26 Tem como limitações: ü Não deve ser utilizado na Insuficiência Renal, na vigência de infecção, febre e na fase aguda pós-traumática; ü Sofre influência de atividade física intensa, imobilização e estresse emotivo; ü Correlação com massa magra não confirmada em pacientes obesos; ü Ingestão de carnes: dieta restrita em carnes e peixes de 24 a 48 horas antes e nos dias de coleta de urina; ü Medicamentos como cefalosporina, levodopa e ácido ascórbico aumentam os níveis de creatinina. 2.2 Balanço nitrogenado É utilizado para estimar o metabolismo proteico, indicando a diferença entre o aporte e as perdas de nitrogênio. Apresenta como limitações as seguintes condições: ü Estado de hidratação ü Variações da função renal durante o ciclo circadiano diário ü Atividade física e treinamento ü Insuficiência renal e hepática INTERPRETAÇÃO: • 90%: Ausência de depleção • 80-90%: Depleção leve • 60-80%: Depleção moderada • <60%: Depleção grave BN= Nitrogênio ingerido – nitrogênio excretado INTERPRETAÇÃO: 0: Equilíbrio >0 ou positivo: anabolismo <0 ou negativo: catabolismo Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 27 3. AVALIAÇÃO DE PROTEINAS PLASMÁTICAS 3.1 Proteína C reativa É uma proteína de fase aguda, cuja concentração sérica está alterada em processos inflamatórios como infecção, presença de inflamação sistêmica por artrite reumatoide, no infarto do miocárdio, na pancreatite necrotizante, em politrauma, neoplasias, além de ser preditor independente de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Considera-se valores de normalidade abaixo de 0,5 mg/dL. 3.2 Albumina É uma proteína de síntese hepática responsável pela manutenção da pressão oncótica do plasma e transporte de substancias no sangue. Pode estar relacionada a desnutrição, porém destaca-se que é um marcador pouco sensível, sendo melhor considerada como preditor de morbidade. Apresenta meia-vida de 18 a 20 dias. 3.3 Pré-albumina É uma proteína se síntese hepática de rápido turnover, que apresenta melhor correlação com alterações a curto prazo no estado de desnutrição, com meia vida de 2 dias. 3.4 Transferrina É uma proteína de síntese hepática, relacionada com o transporte sérico de ferro. Sua meia vida é de 07 a 08 dias, inferior a da albumina, portanto, é mais sensível nos casos de desnutrição aguda e no controle de intervenções dietoterápicas. INTERPRETAÇÃO: Normal: > 3,5 g/Dl Depleção leve: 3 – 3,5 g/dL Depleção moderada: 2,4 – 2,9 g/dL Depleção grave: < 2,4 g/dL INTERPRETAÇÃO: Normal: 20 mg/ dL Depleção leve: 10 – 15 mg/ dL Depleção grave: < 5 mg/ dL Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 28 Está aumentada na carência de ferro, gravidez, hepatites agudas e sangramentos crônicos e reduzida em anemias, doenças hepáticas crônicas, neoplasias, sobrecarga de ferro. 4. AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA IMUNOLÓGICA: CONTAGEM TOTAL DE LINFÓCITOS Mede as reservas imunológicas momentâneas, indicando condições de mecanismos de defesa celular orgânica. Apresenta como limitação o fato de sofrer influência de fatores não nutricionais como infecções, patologias (cirrose, hepatite, queimaduras) e medicações. Quadro 19: Classificação da CTL. Classificação CTL (cel/mm³) Depleção leve 1.200 -2000 Depleção moderada 800-1199 Depleção grave <800 FONTE: Blackburn, 1977. CTL= % Linfócitos x Leucócitos 100 INTERPRETAÇÃO: Depleção leve: 150 – 200 mg/dL Depleção moderada: 100 – 150 mg/ dL Depleção grave: < 100mg/ dL Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 29 CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO DIETÉTICA 1. INTRODUÇÃO A ingestão alimentar tem papel decisivo na avaliação do estado nutricional, pois este é resultado da relação entre o consumo de alimentos e as necessidades nutricionais. Os indicadores dietéticos são importantes para estabelecer um plano de intervenção nutricional e acompanhar a evolução clínico-nutricional do individuo. Tem como objetivo determinar o hábito alimentar e estimar se a ingestão de alimentos e de nutrientes está adequada ou inadequada. Os inquéritos podem fornecer informações qualitativas, quantitativas ou ambas, sobre a ingestão de alimentos e nutrientes em nível individual ou populacional. Podem ser classificados em retrospectivos, como o recordatório alimentar de 24 horas, questionário de frequência alimentar simples, questionário de frequência alimentar, semiquantitativa, história alimentar e prospectivos, como o registro alimentar estimado e registro alimentar pesado. Há ainda a classificação em método quantitativo, que inclui o recordatório de 24 horas e registro alimentar ou método qualitativo, como questionário de frequência alimentar. 2. MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DA INGESTÃO DE NUTRIENTES Os métodos quantitativos englobam o recordatório de 24 horas e o registro alimentar. Ambos avaliam a quantidade de alimentos e bebidas consumidos em determinado período de tempo para estimar a ingestão de nutrientes. As informações sobre o consumo de nutrientes são posteriormente analisadas com base nas necessidades nutricionais para verificar a adequação da dieta. 2.1 Recordatório de 24 horas Permite a definição e quantificação de alimentos e bebidas ingeridas em um período anterior a entrevista, seja no dia anterior desde o desjejum até a ceia ou nas 24h precedentes à entrevista. Representa a ingestão atual, podendo estimar ingestão habitual se aumentados os números de dias investigados. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 30 2.2 Registro ou diário alimentar Permite a descrição detalhada dos tipos e quantidades de alimentos, bebidas, suplementos consumidos no período de 1 a 7 dias. Proporciona a Ingestão atual ou ingestão habitual dependendo do número de indivíduos avaliados e dia investigados (mínimo de 3 dias). 3. MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA INGESTÃO DE NUTRIENTES Permite análise qualitativa do consumo alimentar, com base nas recomendações dos guias alimentares. Pode ser utilizado para avaliar necessidades de adaptações na dieta e em estudos epidemiológicos. 3.1 Questionário de frequência alimentar Avalia o número de vezes que cada alimento de uma lista previamente selecionada foi consumido durante determinado período (semana/mês/ano), a partir de uma lista de alimentos com uma seção de respostas sobre a frequência de consumo de cada alimento ou grupo de alimentos em determinado tempo. Permite identificar o consumo alimentar habitual. 3.2 História alimentar Trata-se da associação de três métodos, sendo o QFA, recordatório de 24h e registro alimentar de 3 dias. Estabelece o padrão de consumo alimentar, porém, não é aconselhável em estudos populacionais devido tempo para execução e custo elevado. As principais vantagens e desvantagens de cada método são descritas a seguir: MÉTODO VANTAGENS DESVANTAGENS Recordatório de 24h Rápida aplicação. Não requer alfabetização do entrevistado.Exige pouco esforço do entrevistado. Necessário somente um contato. Não altera a ingestão de Depende da memória do entrevistado. Dificuldade em quantificar o tamanho das porções. Necessidade de entrevistador treinado. Não estima ingestão habitual e Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 31 alimentos. Estimativa quantitativa da ingestão de energia e nutrientes Baixo custo. comportamento alimentar. A ingestão do dia anterior pode ser atípica. Registro alimentar Não depende da memória; Menor erro quando há orientação sobre o preenchimento. Informação quantitativa. Maior precisão (registro do peso) e exatidão das porções ingeridas. O consumo pode ser alterado pois o indivíduo sabe que está sendo avaliado. Dificuldade em estimar porções. Menor adesão de pessoas do sexo masculino Requer tempo, cooperação, alfabetização e motivação do entrevistado. O indivíduo deve conhecer medidas caseiras. Menor precisão quando se amenta o número de dias de investigação. Questionário de frequência alimentar Estima ingestão habitual. Classifica os indivíduos conforme níveis de consumo. Elimina as variações do dia a dia. Rapidez e baixo custo. Observa modificações da dieta. Requer memória de hábitos do passado. Depende de habilidades cognitivas para estimar o consumo médio em longo período de tempo pregresso. Pode apresentar listagem incompleta dos alimentos. Pode haver erros nas estimativas de frequência e das porções. Quantificação pouco precisa. História alimentar Elimina as variações de consumo do dia-a-dia. Requer profissional treinado. Depende da memória do Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 32 Leva em consideração a variação sazonal. Descreve a ingestão habitual e relação aos aspectos qualitativos e quantitativos. entrevistado. Longo tempo de duração. A aplicabilidade de cada método pode variar de acordo com o grupo que está sendo avaliado, apresentando especificidades a serem levadas em consideração: GRUPO POPULACIONAL CONSIDERAÇÕES Gestantes A ingestão muda neste período, devendo-se estar atento a mudanças devido tabus, crenças. Lactantes A ingestão muda com a intensidade de amamentação. Lactentes com uso de fórmulas infantis A ingestão varia mês a mês Pré-escolares Avaliação da ingestão deve ser feita pelo observador. Escolares Há limitação de memória, vocabulário incompleto, desconhecimento dos ingredientes. Adolescentes Apresentam padrão alimentar variado, cuja ingestão muda de acordo com a maturação sexual; há tendência de omissão de dados pelas meninas. Idosos Há limitação em recordar alimentos ingeridos, dificuldade de escrita, audição, visão. Indivíduos enfermos Apresentam alimentação diferente do habitual, devido sintomas gastrointestinais, períodos de jejum, etc. Analfabetos A avaliação deve ser realizada por outro membro da família ou pelo observador Obesos/magros Apresentam tendência a omissão ou inclusão de alimentos que não foram consumidos Atletas O padrão alimentar depende da fase de treinamento, ingestão de suplementos, líquidos isotônicos, etc. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 33 CAPÍTULO 5 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL HOSPITALAR 1. INTRODUÇÃO A avaliação do paciente hospitalizado permite a detecção da desnutrição, que varia de acordo com a doença de base e sua cronicidade; seu resultado deve ser levado em consideração para o estabelecimento de condutas dietoterápicas. Entre os parâmetros utilizados, inclui-se a antropometria, avaliação bioquímica e consumo alimentar, já descritos anteriormente. Associados a estes, destaca-se a triagem nutricional, como parâmetros subjetivos de avaliação, além da semiologia nutricional, por meio do exame físico, o que permite ainda identificar carências nutricionais especificas. 2. SEMIOLOGIA NUTRICIONAL A semiologia nutricional caracteriza-se pela anamnese e exame físico, que levam em consideração vários aspectos do quadro clínico, como emagrecimento, alterações no apetite, aspecto fisionômico, estado de humor, alterações de grupos musculares, formas de abdômen, evidencias de perdas gordurosas e as correlações destes com a gravidade da patologia de base. 2.1 Fácies Avalia a Repercussão de uma determinada doença na expressão facial do paciente. 2.1.1. Fácies aguda A fácies aguda é caracterizada no paciente aparentemente exausto, cansado, que não mantem olhos abertos por muito tempo. Deve ser desconsiderada em situações de alteração nível de consciência, doença neurológica, drogas sedativas e trauma. 2.1.2 Fácies crônica A fácies crônica é caracterizada no paciente parece deprimido, triste, pouco contactuante. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 34 2.2 Coloração da pele A detecção de alterações na coloração da pele, avalia a presença de palidez, como evidencia de anemia. É avaliada nas regiões palmoplantares e mucosas conjuntival e labial. 2.3 Desidratação A desidratação é uma síndrome multifatorial, causada de forma geral pela ingestão insuficiente de água ou perdas excessivas. Pode ser avaliada por meio da produção de saliva, brilho nos olhos ou umidade das mucosas gengival, conjuntival e cavidade oral na parte inferior da língua. Além destas regiões, pode ser avaliada pelo turgor da pele e elasticidade, pinçando a mesma com o polegar indicador, onde na presença de desidratação, a pele se encontra murcha, e se desfaz lentamente ao soltar após a avaliação. 2.4 Icterícia A icterícia caracteriza-se pela impregnação de mucosas e pele por pigmentos biliares, conferindo coloração amarelada, principalmente na esclerótica e sublingual. 2.5 Análise da musculatura 2.5.1. Atrofia temporal Reflete ausência de mastigação, por alterações na dieta ou redução da ingestão alimentar. Apresenta relação com a competência imunológica e disfagia, hiporexia ou anorexia. 2.5.2 Bola gordurosa de Bichart Reflete redução prolongada de reserva calórica resultando na formação do sinal “asa quebrada”, caracterizada perda de bola gordurosa de Bichart e musculatura temporal. 2.5.3 Região supra e infraclavicular e fúrcula esternal Reflete perda crônica de massa muscular. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 35 2.5.4 Tórax, paravertebral e oco axilar Resulta em menor força respiratória, o que causa menor capacidade de expansão ventilatória e assim, maior tempo de ventilação mecânica. 2.7 Edema É um importante parâmetro para diagnostico de desnutrição proteico-calórica, refletindo hipoalbuminemia. É avaliado pela presença de sinal do cacifo. Quadro 20: Avaliação do edema Edema Excesso de peso hídrico + Tornozelo 1 kg ++ Joelho 3-4 Kg +++ Raiz da coxa 5-6 Kg ++++ Anasarca 10-12 Kg 2.8 Deficiências nutricionais As alterações tróficas na pele, pelos e fâneros podem representar carências nutricionais especificas, sendo descritas a seguir: Quadro 21: Carências nutricionais e manifestações clínicas. Local Manifestações clínicas Carência Cabelo Perda de brilho, seco, quebradiço, despigmentado, fácil de arrancar Ptn, zinco Face Seborreia nasolabial, edema de face B2, Fe e PTN Olhos Palidez conjuntival, xerose, blefarite angular Fe, Vit.A, B2 e B6 Lábios Estomatite angular, quelite B2 Língua Glossite, línguamagenta, atrofia e hipertrofia das pupilas B2, B3, B9, B12 Gengivas Esponjosas, sangramento Vit C Pele Xerose, hiperceratose folicular, petéquias, equimoses excessivas Vit A, C e K Unhas Coiloníquia, quebradiças Ferro Tec subcutâneo Edema, pouca gordura PTN e Calorias Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 36 Músculo esquelético Atrofia muscular, alargamento epifisário, persistência da abertura da fontanela, perna em “x”, flacidez das panturrilhas, fraturas Vit D, B1, Cálcio Sist.Cardiovascular Cardiomegalia B1 Sist. nervoso Alterações psicomotoras, depressão, alterações sensitivas, fraqueza motora, formigamento das mãos e pés B1, B6 e B12 3. TRIAGEM NUTRICIONAL Dentro do processo de avaliação nutricional, o primeiro passo é realizar uma triagem nutricional, que tem por objetivo identificar a existência ou não de risco nutricional. Quando há risco nutricional, o próximo passo é a realização da avaliação nutricional mais detalhada, com os parâmetros antropométricos, bioquímicos e dietéticos para confirmar ou não a presença de alteração nutricional, assim como, identificar a causa do problema. A triagem nutricional deve ser realizada em até 72 horas da admissão. A importância da triagem nutricional é reconhecida pelo Ministério da Saúde, que tornou obrigatória a implantação de protocolos para pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como fator condicionante para o pagamento da terapia nutricional. 3.1 Avaliação Subjetiva Global (ASG) A ASG, proposta por Detsky e colaboradores em 1987, é um método simples e de baixo custo, que pode ser realizado por qualquer profissional da equipe multiprofissional de terapia nutricional, sendo um bom parâmetro preditor de desnutrição. Inicialmente este método foi desenvolvido e validado para uso em pacientes cirúrgicos, sendo posteriormente aplicado e adaptado para outras situações clínicas. A partir do histórico do paciente e exame físico, possibilita a realização de uma avaliação diferencial, uma vez que leva em consideração alterações do peso corporal e de capacidade funcional do paciente, além de sintomas que possam interferir na ingestão alimentar e grau de estresse metabólico a partir da patologia de base. Define a classificação do estado nutricional do indivíduo em bem nutrido, desnutrição leve, desnutrição moderada ou desnutrição grave. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 37 3.2 Triagem para risco nutricional (NRS-2002) A triagem para risco nutricional NRS-2002 (do inglês malnutrition risk screening) é a ferramenta básica de triagem nutricional, tendo como diferencial a inclusão de todos os pacientes clínicos, cirúrgicos e os demais presentes no âmbito hospitalar. Não discrimina nenhum paciente e abrange todas as condições patológicas, pode ser aplicada a todos os indivíduos adultos, independentemente da doença e idade, e desta forma, é o método mais recomendado na prática clínica. Pacientes idosos recebem maior pontuação para classificação do risco nutricional nesta avaliação. A NRS-2002 analisa os pacientes internados segundo o estado nutricional e a gravidade da doença, classificando em normal, leve, moderado ou grave. Pontuação igual ou superior a 3 é considerado em risco nutricional. 3.3 Miniavaliação nutricional (MAN) A MAN é uma ferramenta de controle e avaliação que pode ser utilizada para identificar pacientes idosos em risco ou com presença de desnutrição, oferecendo um método simples e rápido de análise. Desta forma, permite identificar o risco de desnutrição antes da ocorrência de alterações ponderais ou dos níveis de proteínas séricas. Esta ferramenta pode ser usada periodicamente no ambiente comunitário e hospitalar ou em instituições de longa permanência, apresentando boa correlação com a morbidade e mortalidade em idosos. 3.4 Ferramenta universal de triagem de desnutrição (MUST) A ferramenta universal de triagem de desnutrição – MUST (do inglês malnutrition universal screening tool) desenvolvida para triagem do risco nutricional, é composta de dados sobre IMC, perda de peso involuntária nos últimos 3 a 6 meses e a existência de doença aguda com impacto no consumo alimentar por mais de 5 dias. A MUST identifica o risco nutricional de acordo com a pontuação obtida no preenchimento do formulário, no qual o paciente é classificado em alto, médio ou baixo risco de desnutrição; a partir da classificação, há a sugestão para terapêutica nutricional em cada caso. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 38 CAPÍTULO 6 CÁLCULO DE NECESSIDADES ENERGÉTICAS 1. INTRODUÇÃO A energia é necessária para várias funções como respiração, circulação e síntese de substancias, assim como realização de atividades diárias como exercícios físicos e trabalho. O equilíbrio energético depende da ingestão energética diária individual e do gasto de energia. As formas de obtenção de estimativa deste componente serão descritas a seguir. 2. Determinantes do gasto energético total O gasto energético total é determinado pelo gasto energético basal, efeito térmico dos alimentos / termogênese induzida por alimentos, termorregulação e nível de atividade física. • Gasto energético basal (GEB): energia gasta pelo indivíduo ao acordar pela manhã, em estado pós- absortivo (jejum de 10 a 12 horas), ou após repouso de no mínimo 30 minutos, em posição de decúbito dorsal, em ambiente confortável e termoneutro. Sofre influência da idade, sexo, composição corporal e estado fisiológico. • Efeito térmico dos alimentos (ETA) / Termogênese induzida pela alimentação: Quantidade de energia gasta além do GEB no período pós- prandial, nos processos de digestão, absorção, transporte e incorporação dos nutrientes pelo organismo • Gasto energético total (GET): soma do GET, ETA, atividade física, termorregulação. Sofre influência da idade e gênero. 3. Obtenção do gasto energético O gasto energético pode ser obtido por meio da calorimetria indireta, equações preditivas e outros parâmetros. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 39 A calorimetria indireta trata-se de um método não invasivo, prático e seguro, que pode ser utilizado em pacientes com ou sem ventilação mecânica e baseia-se nas medidas das trocas de gases pulmonares: volume do oxigênio consumido (VO2) e do volume do gás carbônico produzido (VCO2). Apresenta como desvantagem o alto custo, porem destaca-se que pode ser utilizada em pacientes com necessidade de cálculos mais precisos, principalmente em pacientes críticos. Na obtenção do gasto energético por meio de equações, destaca-se a equação de Harris & Benedict que leva em consideração a taxa metabólica basal, peso, altura, idade e sexo do indivíduo, além de constantes para fator atividade, fator injuria e fator térmico. Quadro 22: classificação do fator atividade Quadro 23: classificação do fator térmico CONDIÇÃO FATOR ATIVIDADE (FA) Acamado no ventilador 1,1 Acamado 1,2 Acamado + móvel 1,25 Deambulando 1,3 CONDIÇÃO FATOR TÉRMICO (FT) 38°C 1,1 39°C 1,2 40°C 1,3 41°C 1,4 TMB (homem): 66,5 + 13,8 x peso (kg) + 5 x altura (cm) – 6,8 x idade (anos) TMB (mulher): 655,1 + 9,6 x peso (kg) + 1,9 x altura (cm) – 4,7 x idade (anos) GET: TMB x FA x FI x FT Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 40 Quadro 24: classificação do fator injuria. PATOLOGIA FATOR INJÚRIA (FA) AIDS / Câncer 1,1 a 1,45Cirurgia eletiva 1,0 a 1,2 Desnutrição não-complicada 0,8 a 1,0 Desnutrição grave 1,5 DM 1,1 Doença cardiopulmonar com sepse 1,25 Doença cardiopulmonar sem sepse 0,9 Doença cardiopulmonar com cirurgia 1,3 a 1,55 DPOC 1,2 Falência de 1 ou 2 órgãos 1,4 a 1,5 Fraturas múltiplas 1,2 a 1,35 Infecções 1,1 a 1,25 Infecção grave 1,3 a 1,35 Insuficiência cardíaca 1,3 a 1,5 (sem FA) Insuficiência hepática 1,3 a 1,55 IRA 1,3 DRC com ou sem diálise 1,35 Jejum / paciente não complicado 0,85 a 1,0 Multitrauma com sepse 1,6 Multitrauma reabilitação 1,5 Neurológico / coma 1,15 a 1,2 Pancreatite 1,3 a 1,8 Pequena cirurgia 1,2 Pequeno trauma de tecido 1,14 a 1,37 Peritonite 1,2 a 1,5 PO câncer 1,1 a 1,4 PO cirurgia cardíaca 1,2 a 1,5 PO cirurgia eletiva 1,0 a 1,1 PO geral 1,0 a 1,5 PO leve 1,00 a 1,05 PO médio 1,05 a 1,10 Queimaduras até 20% 20 a 50% 50 a 70% 70 a 90% 100% 1,0 a 1,5 1,7 1,8 2,0 2,1 Retocolite / Crohn 1,3 Sepse 1,4 a 1,8 Síndrome da angústia respiratória 1,35 SIC 1,45 TMO 1,2 a 1,3 Transplante hepático 1,2 a 1,5 TCE 1,4 Trauma de tecidos moles 1,14 a 1,37 Trauma esquelético 1,35 Trauma com sepse 1,60 Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 41 Destaca-se ainda as equações estabelecidas pela ingestão dietética de referência (DRI), determinadas necessidades estimada de energia (EER) e contemplam o gasto energético total (GET). Para crianças, gestantes e mulheres na lactação, a EER considera a necessidade energética associada a energia de deposição para formação de tecidos ou secreção do leite. Em crianças de 1 a 2 anos, as equações independem do gênero, porem a partir dos 3 anos, foram estabelecidas separadamente para cada gênero, em função das variações existentes na taxa de crescimento, metabolismo, composição corporal e nível de atividade física, entre outros aspectos. Quadro 25: Necessidade estimada de energia a partir de DRI. Estágio da vida Necessidade estimada de energia (EER) Bebês EER (kcal/dia)= GET + Energia de depósito 0 a 3 meses EER (kcal/dia)=(89 x peso [kg] – 100) + 175 kcal 4 a 6 meses EER (kcal/dia)=(89 x peso [kg] – 100) + 56 kcal 7 a 12 meses EER (kcal/dia)= (89 x peso [kg] – 100) + 22 13 a 36 meses EER (kcal/dia)= (89 x peso [kg] – 100) + 20 Crianças e adolescentes EER (kcal/dia)= GET + Energia de depósito Meninos 3 a 8 anos EER = 88,5 – 61,9 x idade [anos] + atividade física x (26,7 x peso[kg] + 903 x altura [m]) + 20 kcal 9 a 18 anos EER = 88,5 – 61,9 x idade [anos] + atividade física x (26,7 x peso[kg] + 903 x altura [m]) + 25 kcal Meninas 3 a 8 anos EER = 135,3 – 30,8 x idade [anos] + atividade física x (10,0 x peso [kg] + 934 x altura [m]) + 20 kcal 9 a 18 anos EER = 135,3 – 30,8 x idade [anos] + atividade física x (10,0 x peso [kg] + 934 x altura [m]) + 25 kcal Adultos ≥ 19 anos EER (kcal/dia)= gasto energético total Homens EER = 662 – 9,53 x idade [anos] + atividade física x (15,91 x peso [kg] + 539,6 x altura [m]) Mulheres EER = 354 – 6,91 x idade [anos] + atividade física x (9,36 x peso [kg] + 726 x altura [m]) Gestação 1º trimestre EER = EER da mulher adulta + 0 (energia de deposição na gravidez) 2º trimestre EER = EER da mulher adulta + 160 kcal (8 kcal/semana x 20 semanas) + 180 kcal Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 42 3º trimestre EER = EER da mulher adulta + 272 kcal (8 kcal/ semana x 34 semanas) + 180 kcal Lactação 1º semestre EER = EER da mulher adulta + 500 – 170 2º semestre EER = EER da mulher adulta + 400 - 0 kcal Quadro 26: Classificação do fator atividade Classificação do fator de atividade física Características Sedentário (1,0) Atividades diárias típicas (serviços domésticos, pequenas caminhadas) Leve (1,13) Atividades diárias típicas acrescidas de 30 a 60 min de caminhada diária moderada Ativo (1,26) Atividades diárias típicas acrescidas de 60 min de caminhada diária moderada Muito ativo (1,42) Atividades diárias típicas acrescidas de 60 min de caminhada diária moderada + adicional de atividade intensa ou 120 min de atividade moderada. Disciplina: Avaliação Nutricional Profª Msc. Tayana Vago 43 REFERENCIAS ACCIOLY, Elizabeth; SAUNDERS, Cláudia; LACERDA, Elisa M. de A. Nutrição em obstetrícia e pediatria. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2004. BLACKBURN, G. L.; BISTRIAN, B. 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