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- Impossibilidade absoluta da decretação (art.314) Para recordar a aula passada: falamos em várias coisas, da antiga prisão preventiva obrigatória, da justificativa (se era ato discricionário ou vinculado), terminamos falando em quem pode ou não ser preso preventivamente (presidente da república) e aí paramos na: - Ocasião para a decretação: O art.311 estabelece que a prisão pode ser decretada “ em qualquer fase da investigação ou processo penal.” Isso para abranger desde a remessa da cópia do auto de prisão em flagrante, já aqui todos sabem, com a Lei 12403 houve a necessidade da conversão da prisão em flagrante em preventiva, daí a necessidade de acentuar que a partir desse momento pode a prisão preventiva ser decretada. Na redação anterior do art.311 falava-se “em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal”, o que gerava uma discussão de qual seria o alcance da expressão “instrução criminal”. Havia na doutrina discussão sobre até onde duraria a instrução criminal, o que está superado hoje, porque hoje se fala em “qualquer fase da investigação ou do processo penal”, não se atrela numa segunda hipótese a “instrução criminal”. O processo não termina com a instrução criminal, virá a fase postulatória, virá a fase decisória após a fase instrutória, então não vai terminar com a instrução criminal. A redação anterior era um tanto quanto infeliz porque sempre havia discussões se a instrução criminal ia até as alegações finais (porque as partes podiam juntar documentos, então em tese não havia encerramento da instrução. Até porque sempre se informou o processo penal pela busca da verdade, não havendo nunca no processo penal preclusão probatória). Então, havia quem sustentasse que não obstante a referência a instrução criminal, não se compreendia finda a possibilidade de se decretar a prisão terminada as audiências, terminada as diligências. Até não faria sentido, porque se decretada antes de iniciar o processo com base em elementos na fase de investigação, muito mais razão, concluída a instrução criminal e que aqueles elementos se mostrariam até mais fortes no que tange ao fummus, não havia sentido dizer que não cabia o juiz não poder decretar a prisão, se entre o término da instrução propriamente dita e a sentença sobreviesse motivo que indicasse a necessidade. Como por ex.: a descoberta de que o réu planejava fugir ou que adquiriu passagem aérea para país que não tinha relações diplomáticas com o Brasil. Então temos que esperar fugir para depois pedir a extradição? Não podia impedir a fuga decretando a prisão? Lembrando que no modelo anterior não havia cautelares não prisionais, o que tornava ainda mais necessária a prisão. Era a única forma de evitar a fuga no sistema anterior a não ser, aqueles que defendessem o Poder Geral de Cautela. Nunca se interpretou restritivamente a menção a instrução criminal no sistema anterior. Atualmente está superado, pois fala em “qualquer fase do processo” e o processo não termina com a instrução criminal, nem com a sentença porque pode haver recurso. Então hoje não se discute mais essa questão, já está superada. Uma outra questão relativa a ocasião para decretação diz respeito a decretar a prisão preventiva no limiar de outros procedimentos investigatórios diversos do inquérito. Nunca houve dúvida que se aquele procedimento investigatório serviu de suporte ao exercício da Ação Penal, no momento em que a denúncia fosse ser recebida, é claro que podia se decretar a prisão, caso aquele procedimento indicasse a sua necessidade. Se não pudesse não se podia nem exercer a ação penal. A discussão é outra. A discussão é saber se pode haver investigação criminal com base em outros procedimentos, essa que é a questão. Evidente que aqueles que entendem que não pode (só a polícia pode investigar infrações penais) é claro que não vão admitir que se decrete prisão pelo simples fato de nem se poder investigar. É uma posição minoritária, porém não é essa a discussão. A discussão não é saber se pode o juiz ao receber a denúncia com base em outros procedimentos investigatórios decretar a prisão. A discussão é se podem haver outros procedimentos investigatórios. Podendo, é claro que podem servir de base para a decretação da prisão. As vezes confundem a discussão, a questão não era essa. Hoje resumindo, qual a ocasião para a decretação? Desde a comunicação da prisão em flagrante e em tese até a sentença condenatória (art.387,p.único) cabe ao juiz decretar a prisão. Proferida sentença condenatória não cabe mais aquele juiz decretar a prisão, a não ser que os autos sejam anulados pelo tribunal e volte para ele. É nula a sentença, volta tudo novamente. Aí vamos discutir posteriormente se cabe ao Tribunal decretar em grau de recurso. - Decretação pelo Tribunal O Tribunal em se tratando de competência originária dele, claro que pode decretar a prisão preventiva, sem dúvida. Em se tratando de recurso, a questão pode ser um pouco mais complicada sobretudo se tratar de recurso interposto pelo Ministério Público em virtude de sentença absolvitória(?). O que seria muito difícil demonstrar a presença do fummus boni iuris. O réu teria a seu favor uma sentença absolvitória(?). Como é que se conseguiria demonstrar a presença do fummus boni iuris para que o Tribunal então pudesse a partir de recurso interposto pelo MP, identificado algum motivo, decretar a prisão preventiva? Não teria fummus, poderia até ter periculum. O Estado-juiz já se pronunciou absolvendo o réu, somente em uma situação excepcional, aquela que a cultura brasileira advoga abertamente (o “jeitinho”). Então tirada a vocação processual brasileira para o “jeitinho”, parece ao prof. que mesmo diante de uma situação excepcional, fica difícil demonstrar a presença do fummus se já tem uma sentença absolvitória ou absolutória? (13min.47seg.), a não ser que o Tribunal anule a sentença por algum motivo qualquer. Mas com a sentença vigente é difícil demonstrar a presença de fummus por mais(13min.56seg) que seja o periculum (toda cautelar tem que conjugar fummus e periculum). Não haverá genuinamente uma decisão cautelar que não cônjuge fummus e periculum. É difícil demonstrar a presença do fummus diante de sentença que absolve o réu. Essa então é a dificuldade para que o Tribunal decrete em grau de recurso. - Réu pronunciado Em relação ao réu pronunciado não é sentença de mérito, é apenas uma nova etapa do procedimento do júri. É perfeitamente que se decrete a prisão preventiva em virtude de fatos supervenientes a pronúncia. Aquela previsão do art.413.p.3 atual que diz que o juiz com a pronúncia há de se manifestar sobre a prisão do réu, ela não é preclusiva. Não que significa que se naquele momento não houvesse motivos para prender, passando a existir depois da pronúncia, esta não possa ser decretada. Não há a preclusão do p.3 do art.413. não é porque o código fala que o juiz na pronúncia deve decidir quanto a imposição ou manutenção de prisão preventiva do pronunciado, que inexistindo motivos naquele momento e passando a existir após a pronúncia,antes do julgamento do plenário, ele não possa decretar. Esse réu por ex. pode resolver ameaçar uma testemunha arrolada para depor em plenário. Esse que até então tinha um comportamento que não indicava periculosidade, marcada a data para o julgamento, ameaça a vítima ou alguma testemunha que está arrolada para depor em plenário. Então sobreveio a pronúncia, razões indicativas da necessidade de prender. Então nada impede que se decrete a prisão preventiva. É importante ter em mente que o art.413,p.3. não épreclusivo. Mas para o prof. não há surpresa se lá na frente alguém disser o contrário, mas para o prof. seria um equívoco, não tem sentido falar em preclusão, até porque da essência das cautelares há variabilidade de acordo com o tempo. Não é correto supor preclusão em sede cautelar. Então nada impede que depois da pronúncia por razões supervenientes, o juiz possa vir a decretar prisão preventiva. Ex. bom é o de ameaçar testemunha. - Decretação sem denúncia do MP Uma questão que sempre foi debatida e agora ganhou importância com a Lei 12403, é a possibilidade de decretar a prisão preventiva sem denúncia do MP. Isso sempre foi um tema controvertido na doutrina e o prof. tem muito cuidado ao tratar do assunto porque ela era um daqueles que sustentava no sistema anterior, que não cabia decretar a prisão preventiva antes do oferecimento da denúncia, em que pese o art.10 CPP admitir essa possibilidade se lido literalmente. E hoje é importante destacar e voltar ao art.10 porque hoje é uma questão nova a ser debatida, que é a necessidade de converter a prisão em flagrante em preventiva e naquele momento ainda não houve denúncia. Se quer que a prisão em flagrante dure só 24 horas ainda não houve denúncia. Querer que o promotor em 24h, apenas à vista do auto de prisão em flagrante, se virar e extrair elementos para fazer formar opinião e oferecer denúncia, é querer o impossível. Quando muito se tem elementos para demonstrar a necessidade de conversão da prisão, imaginar que se tem para oferecer denúncia, é impossível! Ainda tem prazo de 10 dias para que o inquérito policial seja concluído consoante art.10 CPP. E nesse prazo virão diligencias complementares que a autoridade policial determinou no despacho, lançado no auto de prisão em flagrante. Muito provavelmente o laudo pericial não veio, pior ainda, boletim médico. Até eventuais oitivas complementares (testemunhas que não estiveram presentes no momento da lavratura do auto de prisão, e se bobear, a própria vítima pode estar internada lesionada no caso de roubo por ex.) e esses 10 dias subseqüentes existem exatamente para que se possa prosseguir, colher mais informações. Então imaginar que naquelas 24h que se seguiram a comunicação da prisão, o promotor terá que oferecer a denúncia, sinceramente é querer o impossível. Das duas uma: ou será leviana, desacompanhada de princípio de prova ou então vive-se em outro mundo,porque imaginar que o delegado conseguirá fechar todo o inquérito em 24h, ele seria uma herói. E mais, oferece-se a denúncia, depois vem o inquérito, muda o promotor, vai ter então litispendência, vai ser uma confusão enorme como aconteceu também com a Lei Maria da Penha, quando veio aquele requerimento de medida protetiva. Embora a tendência hoje em dia no MP, com sistema informatizado, detectar isso. Antes era uma loucura, arquivo era na memória do promotor. Hoje Mudou. Mas não é por isso, é claro. A questão é que o art.10 ainda está em vigor, “inquérito deve terminar em 10 dias se o indiciado estiver preso em flagrante ou preventivamente”. Por conseguinte admite-se nos termos do art.10 que a prisão preventiva seja decretada sem denúncia do MP. Claro que se o inquérito tem vai terminar em 10 dias estando o indiciado preso em flagrante ou preventivamente é porque a denuncia não antecedeu ao decreto de prisão. Se já houve denúncia o inquérito não vai terminar, não tem que ter terminado. Então, se o art.10 CPP fala que o inquérito vai terminar em 10 dias, estando o indiciado preso em flagrante ou preventivamente, é porque admitiu sempre a possibilidade de decretar a prisão preventiva sem denúncia. Mas a questão era mais complexa em relação a isso. O art.10 CPP sempre admitiu a decretação da prisão preventiva, sem denúncia do MP e nunca foi novidade. O problema não era no art.10 (nele sempre pode), o problema é que o sistema anterior, não era necessário converter a prisão em flagrante em preventiva. Nessa parte estando o indiciado preso em flagrante, aquela prisão em flagrante o mantinha preso pelos 10 dias em que o Inquérito teria para terminar, e com muito mais razão depois, até a sentença, não precisa sobrepor um título ao outro no modelo anterior. Nesse cenário, o que se discutia era se cabia fora das hipóteses de flagrante, decretar prisão preventiva. Porque se era hipótese de flagrante não era necessário decretar a prisão preventiva. A não ser que ela fosse relaxada pelo juiz, era uma problema a se resolver: se cabia relaxar e ato contínuo decretar a prisão preventiva. Era um problema excepcional que poderia surgir. Nas hipóteses naturais, se o réu foi preso em flagrante, ele em flagrante prosseguia por 10 dias e até mais, até a sentença, até dar a liberdade provisória, já que não era preciso converter o flagrante em preventiva. Então estávamos tratando da hoje denominada prisão preventiva autônoma, daquela prisão preventiva que era decretada fora das situações da prisão em flagrante, era isso que se indagava: se podia o juiz decretar prisão preventiva no limiar do inquérito e dá mais 10 dias para que o inquérito prosseguisse (Afastada a hipótese de réu preso em flagrante porque não era preciso tal medida). Era essa prisão que estávamos discutindo, que hoje se denomina pelas espécies criadas, prisão preventiva autônoma. Era essa a discussão que subsiste, e o prof mantém a mesma opinião, relacionada a prisão preventiva autônoma, não aquela decorrente de conversão. Qual era a questão? Não era o art.10, pois este permitia. Era uma gradação de indícios que o art. 312 exigia para que a prisão fosse decretada se comparada ao antigo art. 43 (hoje art.395) para a denúncia ser oferecida. Para a denúncia ser oferecida bastava indícios de autoria, prova mínima, princípio de prova. Era só aquilo que precisava para a denúncia, era muito pouco o que precisava para denúncia ser oferecida. E o art.312 sempre falou que para prisão preventiva era exigido indícios suficientes de autoria. Vejam a qualificação “qualquer indício”, não há palavras supérfluas na lei. Ora se havia “indícios suficientes de autoria” para decretar a prisão preventiva, parecia evidente que tinha que haver indícios que não precisavam ser qualificados para que a denúncia fosse oferecida. Se era o próprio MP quem requeria a prisão preventiva, demonstrava até uma certa incoerência, porque não havia sentido o MP requerer a prisão preventiva e portanto, constatar que havia indícios suficientes de autoria e ao mesmo tempo não oferecer a denúncia, para o que se bastava só meros indícios não qualificados pelo legislador. Era uma incoerência, ou tem o mais para prender ou tem o menos. ML fazia uma gradação didática dos indícios quando se referia que em determinada situação que até podia ter princípio de prova para o exercício da ação penal, que nada obstante não lhe daria o fummus para decretar a prisão. Porque o fummus para a prisão tinha que ser mais do que aqueles meros indícios necessários ao exercício da ação penal e tinham que ser aqueles indícios suficientes. ML eventualmente diante do caso concreto, tinha motivo para oferecer denúncia, estava perfeitamente calcado em princípio de prova e não tinha porém, motivos para decretar a prisão por não calcar de indícios suficientes da autoria, era perfeitamente possível. Ele dizia à época e continua dizendo em relação a prisão preventiva autônoma, que os indícios suficientes de autoria a que se referia o art.312. estavam a meio caminho daquele princípio de prova mínima necessária ao exercício da ação penal,e aquela certeza necessária a condenação. Não era uma coisa nem outra, estava no meio docaminho. Se fosse uma linha reta, os dois extremos e aí estava no meio, era a coluna do meio esses indícios suficientes de autoria. Não era lógico o raciocínio? Não era a certeza necessária para a condenação (juízo é de perigo e não de mérito) porém, não era aqueles precários, aquela prova mínima sem o mínimo necessário para o regular exercício da ação penal, o que por si só não bastava para prender cautelarmente. Poderia até exercer ação penal, mas não prender cautelarmente. O que não é novidade, no processo civil pode se receber a inicial e entretanto entender que não há fummus para conceder a liminar e entres outras coisas, isso não é novidade. O fummus para antecipar uma decisão desta natureza tem que ser maior do que aquele que justifica o exercício do direito de ação. Então era mais ou menos dentro desse raciocínio que se trabalhava. Ora, se isso era verdade, ficava difícil ao MP requerer a prisão preventiva e não oferecer a denúncia ficava incoerente. Como que o MP requeria a decretação da prisão preventiva e não oferecia denúncia? Não fazia sentido e era isso que ML sustentava. Que não cabia naquele momento decretar prisão preventiva sem denúncia do MP, em que pese o art.10 aparentemente permitir e ainda bem que aparentemente permitiu, porque aí se socorre hoje para falar que no caso de prisão decorrente de conversão de flagrante, pode. Ainda bem que deixaram o art.310 ou 10?? (29min.14seg – acho q ele falou errado, o art.10 tem mais coerência) lá, ML socorre-se dele hoje para fundamentar e tentar com bastante calma não parecer que não está virando a casaca, continua pensando da mesma forma com relação a prisão preventiva autônoma, mas em relação a prisão preventiva decorrente de conversão. Mais importante que isso no modo de entender de ML, com a criação da prisão temporária, que foi em 1989 que é posterior ao CPP (portanto posterior ao art.10), portanto posterior a esse sistema de gradação de indícios, é de 1989, 49 anos depois do CPP. Com a criação da prisão temporária, parece- lhe que essa questão de poder decretar a prisão preventiva sem denúncia não tinha mais que ser discutida. Por que se decretava prisão preventiva e dava 10 dias para o delegado prosseguir no Inquérito? Para amadurecer o inquérito, colher os indícios para proposição da ação penal, que já era uma incoerência. Pois primeiro se afirmava que tinham indícios suficientes para prender (aqueles indícios qualificados), depois se dava prazo para o delegado recolher aqueles indícios que se afirmou existirem. Ora para decretar a prisão, eu só vou ao periculum se tiver o fummus. Por mais perigosos que seja o réu, não tendo o fummus, não posso prender. É como no processo civil, por mais que haja o perigo na demora eu não posso conceder a tutela se não tiver fummus. São as duas pernas sem as quais não cabe nenhuma medida cautelar. Então por si só isso já era uma incoerência. O juiz decretava a prisão, com que ele afirmava ainda que implicitamente que tinha indícios qualificados, e depois dava prazo ao delegado para colher aqueles indícios para oferecer a denúncia. Isso mostrava o desacerto daqueles que achavam que só pelo art.10 sempre cabia decretar preventiva e mandar para delegacia. Depois que se criou a prisão temporária, isso parou de fazer sentido porque aquela prisão para que se amadureça o inquérito e recolha os indícios para o exercício da ação penal é a temporária, para isso que foi criada. Foi criada exatamente para viabilizar as investigações policiais com menos indícios do que aqueles para oferecer denúncia. Agora ficou harmônico. A prisão temporária é a mais precária dos institutos prisionais, pressupõe que não tem ainda nem princípio de prova para oferecer denúncia, porque aí não é caso de temporária, oferece a denúncia se for o caso e pede a preventiva. Então com a criação do sistema de prisão temporária, que veio somar as prisões cautelares até então existentes, aí que se perdeu mesmo o sentido de se decretar a prisão preventiva antes da denúncia naquele sistema anterior e hoje relativa a prisão autônoma. Esse problema só existe hoje com relação a prisão preventiva autônoma, que não é necessário decretar antes da denúncia, para isso servirá a prisão temporária. Só posso admitir no modelo atual decretar a prisão preventiva sem denúncia aquela resultante da conversão da prisão em flagrante, no mais não fará sentido. Se não houve prisão em flagrante e precisa prender o réu para prosseguir as investigações, não é através da preventiva que se deve fazer, mas através da prisão temporária. A temporária não morreu, continua existindo após a Lei 12403, foi até mencionada por ela no art.283 como espécie de prisão cautelar junto da prisão preventiva. Hoje portanto, a discussão permanece e ML permanece entendendo que não cabe prisão preventiva autônoma sem denúncia. É o caso de decretar a temporária, que continua existindo, salvo aquela decorrente da conversão da prisão em flagrante. Antes de arrematar, uma outra situação. Do ponto de vista pragmático inclusive, sempre foi muito melhor decretar a prisão temporária do que decretar a prisão preventiva e devolver o inquérito para complementar em 10 dias. Todos sairiam ganhando, mas não era por isso que teria que usar, tinha que usar porque a prisão temporária foi feita para isso. Esse argumento pragmático veio a somar, não é o principal. Mas somando essa afirmação não se podia desprezar o argumento de ordem prática. Sabemos que o prazo de prisão temporária é de 5 dias prorrogáveis por igual período como regra; por exceção, nos crimes hediondos e equiparados, 30 dias prorrogáveis por igual período. Vamos ver quais as vantagens de utilizar a temporária no lugar da preventiva nesse momento, tanto pela ótica do réu quanto pela ótica do Estado. Pela ótica do réu: qual a vantagem? Era não ficar esquecido na prisão. Alguns dizem: hoje isso não é mais possível, as defensorias públicas estão atentas a isso. É verdade, mas o código é de 1940 e naquela época isso poderia acontecer com muita frequência. De vez em quando ML se deparava com inquérito policial em que o réu tinha sido esquecido na prisão, porque decretada a prisão preventiva e passado os 10 dias o réu não era solto automaticamente. Se o delegado esquecesse de mandar o inquérito ou viesse no bolo e o promotor esquecesse que tinha prazo de cinco dias para denunciar,e por sua vez o réu não tivesse advogado, e por sua vez a defensoria eventualmente precária, nem era comunicada a ela a prisão, ninguém mais se lembrava do réu, ninguém falava por ele. Quando se achava um inquérito empoeirado, sabe se lá onde, aí que se dava conta de que o réu estava preso há mais tempo que poderia. Qual era a saída? Relaxar a prisão, mas quem paga o tempo todo que ficou preso antes? Se bobear tava até detraída qualquer pena a ser aplicada, uma maluquice! E qual seria o ganho dele (réu) na proposta de ML? Isso não aconteceria, porque a prisão temporária ia ser decretada por 5 dias, se esquecer o inquérito, tinha que ser posto em liberdade, sob pena de abuso de autoridade. Porque sabemos que a prisão temporária tem prazo certo para terminar. Terminado prazo para o qual ela foi decretada, independente de alvará de soltura, o delegado tem que por o preso em liberdade a não ser que nesse interregno, antes de terminar o prazo, venha outra ordem de prisão, seja prorrogação temporária, seja a preventiva, no qual oferecida denúncia, se decretou. Aí não precisa soltar. Mas passado um dia de hiato, não há título hábil a mantê-lo preso. Ex.: prisão temporária decretada por 5 dias, se levou 6 dias, só veio a preventiva no7 dia, não há título jurídico a mantê-lo preso. Tem que ser posto em liberdade. Claro que se quisesse cometer abuso de autoridade não seria solto nem de uma forma nem de outra, estaria evidenciado o abuso de autoridade. Não era o caso de esquecimento. Esquecimento por si só não é abuso de autoridade, ML está falando em questão formal, e não em interesse de abusar. Ele simplesmente esqueceu. Então o réu ganha nisso, porque ele sabe que será solto em 5 dias se não vier uma prorrogação antes disso ou decretação da prisão preventiva (após oferecida denúncia) no curso do processo tendo um juiz para zelar por sua apuração. As chances do réu ficar esquecido agora era muito menor. Pela ótica do Estado: onde ganha o Estado nisso? Que ele tem os mesmos 10 dias para investigar à via de temporária (5+5), os mesmos 10 dias que ele teria se aplicasse o art. 10 do CPP e decretasse a preventiva e voltasse o inquérito, o Estado terá na temporária. Se fosse decretado os 5 dias, pede a prorrogação pro mais 5 dias e fica com os mesmos 10 dias também. Ou, se fosse crime hediondo ganhava mais 30 dias (30+30), ganha mais 50 dias em relação aos 10 dias que teria se decretasse a prisão preventiva. Então por todas essas razões, sabemos que a prisão cautelar destinada à conclusão das investigações do inquérito é a temporária e não preventiva. Atualizando o entendimento, ML continua afirmando que não cabe a prisão preventiva autônoma antes da denúncia do MP. Isso passa longe daquela questão do art.311 “ter ou não conferido ao juiz a possibilidade de decretar de ofício”, porque isso poderia ser a requerimento do MP, onde demonstraria incoerência, pois teria que requerer prisão preventiva e não oferecia denúncia. Aí o juiz decretando há requerimento. Então não é porque o juiz não pode decretar de ofício, hoje está claro que não pode antes do exercício da ação penal, o próprio art. fala isso, já examinado. Mas o MP poderia requerer, pega o inquérito, requer a preventiva e devolução por 10 dias, não cabe, pensa ML. só se tratar de prisão preventiva decorrente da conversão da prisão em flagrante. - Prazo da Prisão Outro tema que foi prazo de muita querela foi em relação ao prazo de duração da prisão preventiva ou então a mesma discussão se dava no que tange ao prazo de duração estando o réu preso em flagrante na época em que não era necessário substituir o flagrante pela preventiva. A discussão era a mesma: qual era o prazo de duração de uma prisão cautelar. Fosse o flagrante anteriormente, sem que desse liberdade provisória, ou seja, quando estivesse preso até a sentença; fosse a prisão preventiva que naquela época não era preciso decretar em cima da prisão em flagrante. Qual o prazo? Esse prazo na verdade era pra que? Era o prazo de duração da própria prisão ou era o prazo para prática dos atos processuais respectivos, estando o réu preso? Ora, não havia como ainda não há prazo para duração da prisão cautelar, ainda não há. O PLS156 lamentavelmente institui isso, transforma a prisão preventiva numa espécie de prisão temporária com prazo maior, porque ele fala (se o PLS for aprovado como está) “que a prisão preventiva será decretada por no máximo tanto tempo (ML não se lembra), inclusive com reavaliações periódicas a cada 90 dias. Sob pena de não reavaliada e mantida, entender-se por revogada”. Mas a Lei 12403 não instituiu prazo para duração da prisão, o que é um equívoco, ML concorda com Afrânio, que tem sempre batido nisso. Uma das críticas que a comissão de ML fez ao PLS 156 foi essa: a previsão de prazo para prisão preventiva. Uma medida cautelar não comporta prisão de prazo, ex.: liminar por 30 dias é uma invenção. Não existe fixar prazo para medida cautelar. Ou há perigo e enquanto não cessar, ela se mantém ou não há. Uma coisa não deixa de ser perigosa porque passou 30 dias por exemplo. O prazo para a prisão cautelar durar é enquanto estiverem presentes os motivos que a autorizaram. É típico das cautelares as cláusulas “rebus sic stantibus” (enquanto as coisas se mantém). Então, enquanto se mantiverem as razões, tem que se manter a constrição; desaparecendo as razões, retira-se a constrição, na proporção da necessidade dela, e hoje já até com um leque de opções. Eu posso prender, ao extremo. Depois não há aquela indicação, posso substituir por outra cautelar, depois volta a indicação do perigo (se o réu desrespeita por ex.) tem que voltar a prisão, depois não é mais necessário.. enfim, essa instabilidade é típica da cautelar e é desejável e não indesejável. É típica de decisões que não são de mérito, que são sempre circunstanciais, toda cautelar é por definição circunstancial, por isso não faz coisa julgada material. Então a crítica da comissão de ML lá com Afrânio, é de que não tem menor sentido, o legislador fixar prazo para prisão preventiva. E por que tem prazo para prisão temporária? Devido a sua precariedade, há até quem questione a natureza cautelar da prisão temporária por causa da sua precariedade. Dada a dificuldade para o fummus que é menor do que o próprio exercício da ação penal e também por razões históricas quando tratarmos de prisão temporária iremos abordar. Poucos sabem que a lei da prisão temporária foi oriunda de uma medida provisória, a partir de um caso concreto inclusive. Até se questionou a constitucionalidade formal dela, por ser oriunda de medida provisória. Então assentada essa idéia é equivocado pensar em prazo de duração para qualquer prisão cautelar. O que se tem que pensar é que o processo com réu preso tem que preferir ao processo com o réu solto. É claro que se a medida cautelar é precária, não é mérito, não é possível esquecer o indivíduo preso e não ter pressa para conclusão do processo. Toda prisão cautelar é excepcional, no Estado de Direito a regra é a liberdade; a constrição da liberdade só é desejável que seja feita por decisão de mérito, ainda por cima transitada em julgado, como a constrição de qualquer direito seja no processo penal ou civil; A antecipação disso através de medida cautelar é sempre uma exceção, necessária é claro, mas não é a regra no Estado de Direito. Então é natural que se observe uma preferência absoluta em se tratando de processo com réu preso relativamente aos processos com réu solto. E aí o que se observou? Se observou que o CPP desde a redação anterior, fixava ainda que despretensiosamente prazos para vários atos processuais que nunca foram seguidos à risca com réu solto, que nunca precluiu nada no processo penal em virtude do princípio da busca da verdade. No entanto, àquilo apesar de não precluir pelo princípio da busca da verdade, era uma referência para a regularidade ou não da prisão do réu caso ultrapassado aquele prazo, era o tal excesso de prazo. Não era o prazo da prisão, era o prazo para prática do ato processual que ultrapassado, não ia repercutir sobre perda de nenhuma etapa do processo. Não é porque não ouviu as testemunhas, no sistema anterior em 40 dias, que a acusação perderia o direito de ouvi-la em 20 dias se fosse o réu preso, era o que falava o sistema anterior. (20 dias, réu preso; 40 dias réu solto) não é porque passou 21 dias que ia precluir a prova. No entanto, ultrapassado aquele prazo, demonstrava-se um excesso de duração da instrução criminal, que tornava a prisão cautelar ilegal pelo excesso de prazo, era o que se entendia. Não que houvesse prazo para prisão, havia prazo para prática do ato processual estando o réu preso, seja preventivamente , seja na época em flagrante que durava até a sentença, e aí se tinha que dar bola para os prazos da prática daqueles atos (defesa prévia 3diass;interrogatório não tinha previsão no sistema anterior, mas se entendia que tinha que ser logo na semana seguinte ao recebimento da denúncia; 10 dias inquérito; 5 dias para denúncia; 20 dias para testemunha de acusação; aí tinha alegação final, diligencias, todos com prazos previstos. O que fez a jurisprudência? Somou tudo aquilo e chegou ao numero de 81 dias – antes da reforma ADA). Somaram os 81 dias para concluir que o prazo para conclusão da instrução criminal era de 81 dias. Findos, verificar-se-ia ao menos em princípio o excesso de prazo. Ao menos em princípio porque a própria jurisprudência que construiu esses 81 dias, tratou de temperá-los diante da excepcionalidade do caso concreto. Falava-se: “aqueles prazos todos que chegaram a 81 dias, foram construídos na década de 40 em que as coisas eram mais simples. Não havia organizações criminosas, não havia processos com tantos volumes e muitas testemunhas para serem ouvidas.” A realidade mudou e a jurisprudência tinha que evoluir de acordo com aquela realidade. Então passou-se a aplicar o princípio da proporcionalidade para justificar o excesso de prazo desde que demonstrado a proporção do prazo ultrapassado para a complexidade da causa. E como se demonstrava isso? Excessivo o número de acusados, excessivo número de testemunhas, várias audiências, várias cartas precatórias, ou até diligencias que a própria defesa requeria e insistia e que não era possível realizar em 81 dias, tudo isso justificava o excesso de prazo que a própria jurisprudência criou e ela própria tratou de temperar. O que acabou ganhando força, embora não fosse essa a intenção, foi a EC45 a introduzir a “duração razoável do processo”, tudo isso ainda anterior a EC45. A EC45 foi uma “faca de 2 legumes” pois quando ela instituiu a “duração razoável do processo”, era para aniquilar, mas passou a justificar por força da própria CF o princípio da proporcionalidade. Nesse caso era razoável passar de 81 dias. Foi um “outro legume” da EC45, serviu de justificativa, de reforço a idéia da legitimação do excesso de prazo. E claro que isso ficava muito subjetivo, estamos tratando de um terreno em que a lei não tinha um parâmetro objetivo. Evidente que os excessos eram combatidos, 1 ano, 2 anos aí não há legitimação que justifique o excesso de prazo. Agora, 85 dias,100 dias, podia. Nesse interregno, esboçou-se um parâmetro legal para prazo da instrução criminal. Esse parâmetro legal era a Lei do crime Organizado (lei 9034/95). A lei de crime organizado na sua redação primitiva, falava-se que o prazo para conclusão dos processos por crime organizado em se tratando de réu preso, era de 180 dias, o que causou uma revolta na doutrina. E essa revolta levou inclusive Wiliam Douglas e outra pessoa, que escreveram sobre essa lei dizendo que era 180 dias inclusive para transitar em julgado a sentença e compreendido o recurso extraordinário ou especial, tamanha a indignação com esse prazo dilatado para organização criminosa. Isso levou o legislador pouco tempo depois, através da Lei 9303/96, a modificar aquele art. que era o 8 da Lei de Crime Organizado que tratava desse prazo e, acolheu o que a jurisprudência já fixava: 81 dias réu preso; 120dias réu solto. ( ML está falando de uma lei de 1996, portanto anterior a reforma ADA, que fez o somatório dos prazos para os vários atos processuais e consagrou legislativamente a tese de 81 dias como sendo o prazo máximo de duração da instrução criminal estando o réu preso). E qual era o raciocínio? Ora, se aquela era a Lei do Crime Organizado, um processo por crime organizado que se presume mais complexo por sua natureza, (no mínimo presume-se 4 acusados na organização criminosa, cada um arrolando suas testemunhas, cada um com seu advogado, por isso presumidamente mais complexos que aqueles de furto de galinha) qual era o raciocínio (e nesse ponto correto)? Se o teto era aquele para o crime organizado, com muito mais razão aquele teto se aplicava aos processos comuns que envolvesse um furto de galinha com um indivíduo preso na delegacia do lado do fórum. Não tinha nenhuma razão para ultrapassar 81 dias, se bobear até excessivo 81 dias. Podia até se invocar o princípio da proporcionalidade para dentro desses 81 dias demonstrar a desarrazoabilidade de não ter terminado a instrução criminal. Em Itaperuna por ex. a delegacia ficava no centro e o fórum há duas quadras; então nada justificava não poder apresentar o preso em audiência. Então esse paradigma passou a ser utilizado antes da reforma para assentar a idéia dos 81 dias. Entretanto, o tempero persistiu até porque a essa altura já por força da EC45. O tempero em que se admitia o excesso de prazo por razões excepcionais, invocando o princípio da proporcionalidade continuou, apesar do agora paradigma legal de 81dias. Além do mais, o próprio CPP na redação original permitia que a instrução criminal fosse concluída fora do prazo, que não previu (isso era curioso) prazo específico para instrução criminal, mas previa para ser concluída fora do prazo que não se previu (CPP, na redação original) no art. 402. Que falava lá (redação anterior e não atual): “sempre que o juiz concluir a instrução criminal fora do prazo, consignará nos autos os motivos da demora” quer dizer, era o embrião do princípio da proporcionalidade em 1940, antes da emenda e da própria Constituição e foi incoerente porque não previu o prazo. Falava que podia concluir fora do prazo que não previa, mas era o embrião do princípio da proporcionalidade. Excepcionalmente se admitia que ultrapassasse esses 81 dias. Então nessa linha vieram as súmulas 21,52e 64 do STJ. Nessa linha consolidada quanto ao prazo e admissão por exceção de seu excesso, vieram as súmulas do STJ. Súmula 21 STJ: “pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução.” Primeira delas, falava que aquele somatório se fosse júri, só podia se aplicar até a pronúncia. Da pronúncia em diante não cabia se aplicar, mas calma, tem o princípio da proporcionalidade; Ora, não é porque o réu já foi pronunciado que ele pode ficar preso preventivamente 05 anos a espera de pauta para o julgamento em plenário. Até porque o CPP sempre previu antes da reforma ADA e continua prevendo após ela, a ordem de preferência dos processos para inclusão em plenário do júri. Começa pelos presos em relação aos soltos; dentre os presos, aqueles presos há mais tempo; se no mesmo tempo, aqueles pronunciados em primeiro lugar, era o que previa o CPP no júri. Invertido esses parâmetros fica muito mais fácil demonstrar o excesso de prazo e aplicado o princípio da proporcionalidade, também. Não é porque ele foi pronunciado que poderia ficar 5 ou 6 anos à espera de um plenário. Até porque um dos motivos para o desaforamento era, antes da reforma, a demora no julgamento; era uma das razões que podia levar ao desaforamento. Então todo esse arcabouço temperava a súmula 21 do STJ. Súmula 52 do STJ: “Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo.” O que não significava que não podia usar o princípio da proporcionalidade se o MP por ex. sumiu com o processo com a alegação final, devolveu 1 ano depois. Ora, encerrou a instrução criminal, mas essas excepcionalidades demonstravam constrangimento ilegal. É que os 81 dias, segundo esse entendimento, não se aplicavam a fase postulatória, só ao término da instrução criminal. O que também era relativo, porque a parte podia então pegar a alegação final, tinha um prazo tal, ficar 1 ano; evidente que isso evidenciava o excesso de prazo.Por último agora a súmula 64, todas elas relativas, temperadas, sobretudo pós EC45 quando do princípio da razoabilidade, princípio da duração razoável. O que pode parecer muito subjetivo, mas isso não é no mau sentido não, isso tem que ser mesmo; só no caso concreto vai dizer quando o excesso é justificado. Uma coisa é um processo de furto de galinha, com réu preso há duas quadras da delegacia; outra coisa é o processo do mensalão, imagina o réu preso no processo do mensalão, evidente que não dá para terminar com 81 dias. Cada caso é um caso e às vezes o legislador tem mesmo que ser aberto, é uma espécie de princípio de confiança no judiciário, para imaginar que o juiz porá equilíbrio no caso concreto. Súmula 64 do STJ: “ Não constitui constrangimento ilegal, excesso de prazo na instrução provocado pela defesa.” O que também tinha que ser relativo, a defesa requerer por ex. exame de corpo de delito, e de má vontade o IML não realizou. Aí é importante naquela perspectiva que a gente tratou de como o juiz analisa se a prova da defesa é importante? Se colocando no lugar dela e vendo se é importante para aquela tese que vai sustentar e não ficando em seu próprio lugar para saber se vai convencê-lo ou não. Então, era importante ainda que ele não vá se convencer dela, mas isso se reserva ao mérito. Ora, não é porque foi a defesa que requereu a prova pertinente, tanto que foi acolhida, que o órgão responsável em produzi-la pode levar 3, 4 anos para fazê-lo. Isso é excesso de prazo. Tudo isso era um indicativo, mas tudo isso cedia a norma maior sobretudo pós EC45, que era o princípio da duração razoável, que aqui era propositadamente aberto e todos concordavam com isso. Então esse, portanto era o cenário antes da Reforma ADA. Mudou pouca coisa pós reforma ADA, a começar pelas contas que não dão mais 81 dias. Depois das Leis 11689 e 11719, que mudaram várias coisas na instrução, como audiência única; mudou prazo para defesa prévia (não era mais 3 dias); e terminou até com umas questões interessantes que já aconteceram ex. quando o juiz no interrogatório advertia ao advogado que ele estava intimado a apresentar a defesa no crivo legal (3 dias). Mas agora são 10 dias com a resposta preliminar. Então várias coisas foram implementadas tanto pela Lei 1168 que tratou do júri quanto pela Lei 11719 que tratou do procedimento comum. E o somatório de tudo que foi introduzido nessas leis superou a questão dos 81 dias, não são mais paradigmas hoje 81 dias porque os prazos mudaram. A própria lei do crime organizado está superada hoje nos 81 dias, porque os procedimentos tiveram prazos modificados a partir das primeiras leis da reforma ADA. Como que ficou agora com relação ao prazo após reforma ADA? Em se tratando de júri, o art.412 do CPP fixou um prazo máximo de duração para a primeira fase. Em se tratando de júri ou de fixação (não do prazo da prisão, mas do prazo da conclusão da instrução na primeira fase, aquela que termina com a pronúncia). Então pode-se afirmar, permanecendo o tempero da duração razoável, que se trata de norma constitucional, portanto superior, mas pode-se afirmar que em princípio há de se observar a regra do art.412 (90 dias) e há de se poder dizer pelo menos em princípio que pode ocorrer excesso de prazo se o réu tiver preso e ultrapassar os 90 dias até a pronúncia. Pode se fazer essa afirmação, sempre em princípio. Após a pronúncia, continua sem previsão de prazo (1h;7min.23seg)para conclusão do julgamento plenário, continua. Continua depois da reforma, a lei 11689 não tratou de prazo após a pronúncia até o plenário. Mas no art. 429 repetiu aquelas regras de preferência dos processos, cuja inobservância pode servir de argumento para o excesso de prazo. Se não, só mesmo na lógica da razoabilidade, pois também não faz sentido após a pronúncia ficar 5 anos esperando julgamento. Então continua sem previsão de prazo após a pronúncia, no entanto , essas regras de preferência, que não são novidade, já existiam antes da reforma, foram mantidas e são paradigmas para demonstrar que naquele júri invertido, há excesso de prazo apto ao relaxamento da prisão. Com relação aos processos de competência do juiz singular, não sendo júri, a Lei 11719, que modificou vários prazos para prática dos atos, não fixou prazo global para terminar a instrução. E aí a jurisprudência teve que voltar a fazer as somas que antes fazia. Então pegaram agora 10 dias para terminar o inquérito, 5 dias para denúncia (art.46); 10 dias para defesa preliminar e não mais 3 dias (art.396) 1h.9min.17seg.; 60 dias para AIJ (art.400 caput) e na soma: 85 dias em princípio. Somando tudo isso, chegou-se a 85 dias,o que pode acontecer? Acrescenta 30 no total de 115 caso por algum motivo se interrompa a audiência. E aí virão alegações das partes em 10 dias (não na própria audiência) art.404.parágrafo único; 20 dias para sentença art.404p.único também combinado com 800 parágrafo terceiro, dando no total 115 dias. Sem cisão da audiência, 85 dias; com cisão da audiência 115 dias somando os novos prazos. Mais uma vez de construção JURISPRUDENCIAL embora falando de coisas de pós reforma ADA. Evidente que se sujeita aos mesmos temperos que aqueles 81 dias estiveram sujeitos, pelas mesmas razões sobretudo com a duração razoável do processo que é constitucional. Então em princípio podemos afirmar como fazem Aury, Badaró, que o prazo máximo da instrução em princípio é de 85 dias, podendo chegar a 115 dias. aliás observa Aury e Badaró até 120 dias caso se tenha que somar aqueles 5 dias de algumas diligências excepcionais. Tudo sempre sujeito ao tempero da duração razoável que está no art.5,LXXVIII da CF, instituído pela EC45. É isso que se tem nesse momento quanto a prazo, não da prisão preventiva mas sim da prática dos atos processuais estando o indiciado preso. E assim continuará até o PLS 156 que aí faz pior. Pior na ótica de ML, mas é o que o Aury sempre desejou, aliás ele chega afirmar que tem que se prever prazo para prisão preventiva, pois é um absurdo que não se preveja prazo para prisão preventiva, faz o PLS. O PLS prevê isso e obriga reavaliações periódicas e prevê inclusive o prazo total, inclusive com uma regra de difícil compreensão: fixa o prazo total. E ainda que vá somando aos poucos,não pode ultrapassar. Como irá se operar isso, ML não sabe, mas também não está preocupado com isso pois ainda irá tramitar no congresso o PLS. Depois do Intervalo -Pressupostos de Cabimento (art.313) * Evolução Histórica da versão original nos dias atuais. Descompasso? Bom, vamos tratar agora de quando cabe a prisão preventiva, seja autônoma seja decorrente da prisão em flagrante. ML vai tratar de uma modo geral quando cabe a prisão preventiva, depois examinar cada uma das espécies dela e verificar se existe dentro de cada uma das espécies, alguma particularidade em relação a essa visão geral que faremos a partir de agora. Saber quando cabe a prisão preventiva, pressupõe 4 análises que não podem ser compartimentadas, tem que ser em bloco. E não verdade, uma sempre antecedente a outra. Primeiro de tudo é a premissa, por isso a gente começa por ela que está no art.313 CPP, que o ML chama de pressupostos de cabimento, quando cabe. Porque se não couber,não adianta ter motivo ou não ter motivo, que é necessária ou não, porque NÃO cabe. O art.313 funciona como premissa a qualquer outro exame: cabe ou não a prisão? Se couber, aí a gente examina se estão reunidas todas as condições, então a análise é seqüencial. Embora não siga a ordem do CPP, começa pelo art.313. poderiaaté inverter essa ordem na reforma ADA, para ficar mais seqüencial ainda. O primeiro dispositivo a se examinar é o art.313. que me diz quando cabe a prisão preventiva, depois eu vou examinar se tenho indício de autoria ou não (que são as condições para que eu decrete) e depois vou examinar se estão presentes os fundamentos que autorizam tendo em vista sobretudo agora, seu caráter sempre secundário, sempre quando não for indicada alguma das outras cautelares. Mas só não pode começar de trás pra frente,como cair no equívoco de presente o motivo decretar quando não cabe. Se não cabe, não cabe, por mais motivos que se tenha. ML diz sempre que não é tarefa do operador do direito consertar eventuais bobagens que o legislador fez. Se não cabe, não cabe, paciência, credite-se à demérito do legislador. Se em uma situação excepcional indique que era imprescindível decretar, mas não cabe, o problema é do legislador, não parece que seja tarefa do operador do direito consertar eventuais bobagens que o legislador fez. E aí esse tema do cabimento da prisão preventiva já foi objeto de 4 versões diferentes ao longo de 60 e poucos anos de CPP. O CPP é de 1940 e ao longo de 71 anos, já houve 4 edições desses pressupostos de cabimento da prisão preventiva. Quando é feita essa abordagem, que os manuais não trazem mais, devemos conferir no site do planalto as várias versões tanto do art.313 como do art.312, que também tratava disso na primeira edição. E quando formos fazer esse exame, comparando com a redação original de 1940 até a redação atual dada pela lei 12403/11, veremos que houve um afrouxamento das hipóteses de cabimento da prisão preventiva em relação ao que era antes. Ml não sustenta que o que era antes devesse permanecer no momento atual (onde antes havia caso de prisão preventiva obrigatória), não é isso que ML está dizendo. Mas quer demonstrar que se em 70 anos a sensação de segurança diminuiu, por conseguinte os índices de violência aumentaram. Exatamente aquela prisão responsável por mantê-la, por dar a sensação de segurança eis que mantido até hoje o pressuposto fundamento da garantia da ordem pública, eu vou ler no sentido inverso ao demandado pelo aumento da violência (8min.). Isso é um dado a ser refletido. ML não quer dizer que devemos voltar ao sistema de 1940 com prisões obrigatórias, isso de fato não se coaduna com a linha democrática da atual CF, se coadunava com a CF de 37 (estado novo, na Europa continental as idéias nazistas e fascistas, então naquele cenário político, prisões obrigatórias eram perfeitamente compatíveis, hoje não.). A grande crítica de ML se baseia na última mudança; se realmente esse último relevo dos pressupostos, esse último afrouxamento era acertado ou não. ML está convencido de que o modelo anterior era perfeitamente consentâneo com a realidade política atual e indicado para contenção da violência dos dias atuais. Não se conforma com a última mudança, nada contra as 3 primeiras mudanças, mas essa quarta mudança no seu modo de entender causa uma certa reflexão, por isso faz um apanhado desde a origem até hoje. Para que se pense qual era a sensação de segurança que se tinha em 1940 e qual é a sensação que se tem hoje, para refletir se essa mudança acompanhou isso ou se não transitou no sentido inverso, se não se deram exatamente as respostas contrárias a que a pretensão social demandava. É claro que a versão primitiva foi palco( 10min.3seg)de erro e injustiças, é verdade, não se pode deixar de pensar nisso, mas não é a versão primitiva que ML está defendendo. Vamos conhecer as versões. Os manuais deveriam fazer essa evolução para que se faça o devido confronto com as finalidades de uma prisão cautelar e a evolução em sentido contrário as demandas e sua necessidade. Alguma dúvida que a criminalidade de hoje é mais violenta que na década de 40? Alguém acredita que o problema da criminalidade violenta diminuiu de 1940 p cá? Em 1940 pra cá havia áreas sitiadas no território brasileiro e que só através de operações conjuntas com as forças armadas foi possível penetrar? Isso existia em 1940? ML crê que não. Senão, não com tanta expansão como nos dias atuais, a ponto de se ter que criar uma política própria pública das UPP’s para tentar fazer frente a isso. Qual era a época da criminalidade de 60? Era a época dos crimes passionais, nas décadas de 40,50 e 60. Época em que o grande motivo dos homicídios era descobrir que tinha “sócio” (adultério). Não é fazer apologia ao adultério, mas hoje se alguém disser que matou por isso, as pessoas vão rir, pois hoje os valores são outros, mas essa era a criminalidade violenta daquela época. Hoje é impensável no Tribunal que vingue a tese de legítima defesa da honra, que naquela época produziram inúmeros julgados que a acolheram, inclusive de pessoas famosas como Euclides da Cunha, Senadores também, etc. Qual era o símbolo de transgressão da denominada “juventude transviada”, que não é do sentido atual, que hoje se dá. Era “transviada” num outro sentido, de transgressora e ao no sentido que se tenta empurrar hoje como se fosse normal hoje em dia. Qual era o símbolo de transgressão da época? Fumar maconha. A juventude tinha uma causa para se rebelar, rebelava contra a opressão e manifestava seu descontentamento ou com a crítica política - Pressupostos de cabimento (art.313) (CONTINUAÇÂO) *Evolução histórica da versão original. Descompasso? Que era reprimida, umas escrachadas, outras inteligentes, como a do Juca Chaves, que custavam a ser percebidas, Raul Seixas, que se fazia passar por maluco, e não se dava conta, mas ele era uma pessoa de inteligência acima da média. Poucos se deram conta na época, só se deram mais tarde que uma de suas músicas era uma incitação à greve geral. "O dia em que a terra parou" era uma incitação à greve geral, as pessoas não se davam conta porque ele se fazia passar por maluco. Essa era a transgressão na época. Isso que era transgressão. Hoje qual é o grande problema da juventude? O recrutamento como soldados do tráfico, e a utilização cada vez mais precoce de executores de homicídio, para serem beneficiados pelo ECA. E poucos refletem sobre isso, as nossas respostas legislativas, o Prof. não tem dúvida sobre isso, caminham sempre no sentido contrário à pressão da demanda de controle da criminalidade. Mas poderia se dizer "Mas não é papel do direito penal resolver o problema da criminalidade". Mas o Prof. não fala isso, não se trata de resolver mais de controlar, controlar é papel do direito penal. Resolver não é, isso se resolve com política pública, até porque é impossível o Estado concorrer com o tráfico, ninguém melhor que o tráfico realiza a "Política do primeiro emprego". Ninguém paga melhor que o tráfico, não tem como eu chegar para uma criança de 16 anos e dizer para ela fazer um estágio que tem um programa bolsa-estágio, que ela vai ganhar R$ 400 e uns vales. O tráfico vai dizer: "Eu pago 1000 por semana". Essa criança vai escolher o quê? Isso é um fato. É inevitável. Mas o direito penal tem que controlar isso. Ou então inverte-se, faz-se lícito o tráfico e ilícito o nosso trabalho. O Prof. não vê nenhum problema em utilizar o direito penal como forma de controle dos poderes regularmente constituídos. Claro, não com base em patrulhamento ideológico como foi no passado. Não é esta forma de controle. Como as contravenções penais de vadiagem, de mendicância, não é isso o que o professor defende. Isso é uma distorção, o direito penal serviu como instrumento de patrulhamento ideológico das ditaduras. Mas a gente não vive mais na ditadura, pelo contrário. Controlara criminalidade em favor dos poderes regularmente constituídos parece que é sim o papel do direito penal e do processo penal. Ainda que não vá resolver o problema. Mas não é por isso que se vai sucumbir a ele. O Estado não pode renunciar ao território, nem à garantia da segurança pública de seus cidadãos, que é principal obrigação do Estado, inclusive nos modelos mais não-intervencionistas de Estado, como o (não entendi- 17"15') que é o modelo mais restritivo de atuação do estado, em contraposição ao o Welfare State, que era o estado de bem-estar social. Aquele (nao entendi de novo) era aquele estado retraído que só provinha segurança pública, mais nada. Atividade econômica era um problema do cidadão, era o auge do liberalismo. Ao que se opôs o Estado Social, que visava promover o bem-estar. Então, da forma mais abstêmica de Estado à forma mais intervencionista, a segurança pública sempre foi um de seus objetivos, sempre foi característica comum aos vários modelos de Estado, com muito mais razão no estado de bem-estar, porque não há como usufruir dos direitos constitucionais sem segurança pública, por isso o Prof. acha que não pode abrir mão de controlar a criminalidade através de direito penal e das penas, das medidas cautelares e das penas, na opinião do Prof. Então, parece a ele que isso deve ser levado em conta nessa análise histórica, e o Prof. tenta dar condições críticas para que nós pensemos por nós mesmos. Na versão original do código tratavam os artigos 312 e 313 das hipóteses de cabimento da prisão da seguinte forma: Art. 312. A prisão preventiva será decretada nos crimes a que for cominada pena de reclusão por tempo, no máximo, igual ou superior a dez anos. Art. 313. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal: I – nos crimes inafiançaveis, não compreendidos no artigo anterior; II – nos crimes afiançaveis, quando se apurar no processo que o indiciado é vadio ou quando, havendo dúvida sobre a sua identidade, não fornecer ou indicar elementos suficientes para esclarecê-la; III – nos crimes dolosos, embora afiançaveis, quando o réu tiver sido condenado por crime da mesma natureza, em sentença transitada em julgado. O artigo 312 obrigava a prisão preventiva para os crimes cuja pena máxima cominada fosse igual ou superior a 10 anos de reclusão. Juiz tinha que decretar a prisão preventiva. Todo homicídio o réu estava preso. Por isso que ele tinha que ser intimado da pronúncia pessoalmente, tinha que estar presente no plenário. A premissa era de que estaria preso. Homicídio são 20 anos, na forma simples. Nos demais casos a prisão preventiva era facultativa, cabia em qualquer crime inafiançável e ainda nos afiançáveis quando houvesse prova de o réu ser vadio ou não fosse possível a sua identificação. E ainda se doloso o crime, ainda que afiançável, se houvesse condenação anterior por crime de mesma natureza. Esses outros pressupostos não mudaram, basicamente, com os anos e com as mudanças, na essência se conservaram. Até hoje cabe prisão preventiva se o réu não for possível sua identificação, embora adstrita até a colheita desta identificação, dos dados qualificativos (é o parágrafo único do artigo 313). A hipótese do réu vadio sumiu com a reforma. Em virtude de condenação anterior independente do crime sempre coube e continua valendo, não mudou basicamente, e agora com a novidade da lei Maria da Penha que na época não tinha. A grande mudança era no requisito genérico de cabimento, o tipo de crime que comportava. Na primeira versão, mais de dez anos sempre, era obrigatório. Menos de dez anos, se inafiançável sempre cabia, em caráter facultativo. Isso foi afrouxando, o primeiro inciso do artigo 313 foi afrouxando, com a evolução. Era qualquer crime inafiançável, prosseguiu na primeira mudança sendo qualquer crime inafiançável, só acabou com obrigação para com os crimes punidos com até dez anos. Na terceira mudança passou a não mais ser qualquer crime inafiançável, mas aqueles punidos com pena não superior a dois anos de reclusão, e agora são quatro anos. Esse é o afrouxamento a que se refere o Prof. que é preocupante. Não é o término da prisão obrigatória, ela já foi tarde, essa foi primeira mudança. A redação original do artigo 312 dizia que era sempre com pena máxima superior a reclusão de dois anos, máxima e não mínima, então o leque era maior de crimes. Facultativa nos inafiançáveis, réu vadio ou não identificados e qualquer que fosse casos de crime doloso com condenação anterior por crime da mesma natureza. Isso na primeira versão. Na segunda versão foi com a lei 5349/67 pela portanto 27 anos depois, ela simplesmente aboliu a prisão preventiva obrigatória do artigo 312, permanecendo, no entanto, as mesmas hipóteses de cabimento do 313, só que todas elas subordinadas aos motivos, que até então eram três: a garantia da ordem pública; conveniência da instrução criminal; garantia de aplicação da lei penal - que passarão a reger todas as hipóteses de cabimento de prisão preventiva. Passaram a estar previstas no 312 com a nova redação dada pela lei 5349, antes, o artigo 312 não exigia esses motivos, porque apesar de obrigatória, os requisitos eram apenas objetivos, se fossem 10 anos tinha que estar preso, presumia o perigo dos autores de crime cuja pena máxima excedia a dez anos, eram presumidamente perigosos e tinham que estar presos. Não importava o motivo, não precisava declarar, não precisava dizer que havia o risco à ordem pública, era um critério apenas objetivo, nada mais. Mutatis mutandi era igual o tribunal do júri: tal pena cabe novo júri, outra pena tem que estar preso. Os motivos eram cotejados no caso do artigo 313, eles estavam previstos lá: crime inafiançável, essas outras exceções, aí, se presentes os motivos, cabia prisão, porque aí não era obrigatória, era facultativa. A primeira modificação mudou a redação do art. 312 extinguindo a obrigatoriedade e invocando aqueles motivos como regentes de qualquer espécie de prisão. Acabou, portanto, a prisão preventiva obrigatória. O detalhe era que ainda não havia a possibilidade de liberdade provisória para preso em flagrante na ausência de seus pressupostos. Embora abolida a prisão preventiva obrigatória. Isso só veio a ocorrer com a lei 6416/67, que foi a terceira versão do cabimento da prisão. Aí mexeu, mais uma vez no artigo 312 e 313. Essa lei de 67, portanto, aproximadamente dez anos depois da primeira alteração, nessa terceira versão, portanto, a segunda alteração da prisão preventiva, além de instituir a liberdade provisória por ausência de periculum (artigo 310, parágrafo único) ela passou a dar um tratamento para a prisão preventiva que persistiu até esse ano, com a lei 12.403. Que é o que Prof. se refere como sistema anterior. Quando cabia prisão preventiva? Primeiro, claro, sempre facultativa, não obrigatória. Cabia com crimes dolosos punidos com reclusão, qualquer que fosse a pena. Segundo, se punidos com detenção, prova quanto ao réu ser vadio ou dúvidas quanto à identificação (que não mudou, continua). Independente da pena, reclusão ou detenção, se ostentasse condenação anterior por outro crime doloso, é o terceiro pressuposto. E o quarto, introduzido pela Lei Maria da Penha, que ampliou a possibilidade prisão preventiva independente da pena cominada ao crime se se tratasse de crime cometido no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher. Com isso, passou a se permitir a prisão preventiva em ameaça, que não cabia por causa da pena, por exemplo. Não cabia no modelo anterior. Mas só cabe desdeque a prisão seja necessária para eficácia das medidas protetivas urgentes. Detalhe: no modelo anterior não era possível a prisão preventiva nem em crime culposos, nem em contravenções penais. Agora, que é o que importa, como ficou com a nova redação dada ao artigo 313, pela lei 12.403/11? Como ficou o tema agora? Quando cabe, agora, a prisão preventiva? Primeiro, em princípio, só cabe cogitar de prisão preventiva, como regra geral (os incisos 2 e 3 são exceção, como sempre foram. Na evolução do artigo 313, a regra sempre foi o primeiro caso e os demais a exceção) se se tratar de crime punido com pena máxima, independente de reclusão ou detenção, que for superior a quatro anos. Cabia a qualquer crime punido com reclusão, agora só cabe se for a pena, independente da espécie, superior a quatro anos. Em princípio não cabe no furto, o que antes cabia. O qual a razão disso? A idéia era fazer um paralelo com o artigo 44, I, do CP, que nesses casos de condenação não superior a quatro anos permite substituição por pena restritiva de direitos, então, os defensores dessa mudança faziam a seguinte crítica: "Ora, se o indivíduo condenado vai ter a pena substituída por restritiva de direitos, não pode a cautelar ser mais grave do que o provimento de mérito, por isso que em princípio não cabe." É o que sustenta Paulo Rangel entre outros autores. Qual é a crítica da crítica o que o Prof. faz junto com o Afrânio? Uma coisa absolutamente nada tem a ver com a outra, porque se um dos fundamentos for, por exemplo, a conveniência da instrução criminal (que o réu ameaça testemunha e não adiantou nenhuma daquelas cautelares, porque ele continuou ameaçando), nem à pena restritiva de direitos ele será condenado se não for preso antes. Num primeiro momento, até faz sentido essa vinculação que se quer fazer, mas não resiste a uma análise mais aprofundada. Não tem nenhuma relação direta o mérito com cautelar. Como diz o Afrânio "isso é um turismo acadêmico", que não sobrevive a uma análise do mundo real em que se vive. Por esta constatação, ora, se o réu está ameaçando testemunha e não pode ser preso, sequer à pena restritiva de direitos será condenado. Significa dizer que é um passo para a impunidade. A moda é, portanto, os autores de furto, receptação, crimes que aparentemente não são graves, mas que estão na cadeia de outros mais graves. Quem sai para furtar, o roubo é só uma questão de tempo, de tomar um pouco mais de coragem. O roubo sem arma para o roubo com arma também é mais uma questão de tempo. Professor fala da Teoria das Janelas Quebradas: os pequenos delitos de hoje são a porta de entrada dos grandes delitos de amanhã. Não foi uma teoria desenvolvida por um João-ninguém. Foram dois doutores, um inclusive em psicologia criminal, portanto, com conhecimento da mente humana muito maior do que nós. E nós sistematicamente nos recusamos a discuti-la. Achamos um palavrão a Teoria da Janela Quebrada. E nos recusamos a constatar que em Nova York deu certo. Basta perguntar a quem freqüentou Nova York há trinta anos atrás e que freqüenta hoje. Discutir não significa que concorde, o que o Prof. não se conforma é o medo de discutir. Parece que se tem medo de ser convincente essa teoria, então não se discute. Mas isso democrático? Isso não é democrático, democrático é discutir e combater, tem que ser no argumento e não na negação de informações, que é o que se vê por aí. Tenta-se vencer sonegando informações, omitindo isso que o Prof. está falando, e isso não é democracia, isso é patrulhamento ideológico, típico dos regimes autoritários. Mas voltando ao que interessa, parece ao Prof., e isso é uma crítica que ele faz, que a regra de proibir a prisão para crimes com pena inferior a quatro anos, no que tange ao furto, consagra o direito ao primeiro furto, porque ele pode cair nas exceções do segundo. Ou então que o Prof. diz, faz-se a função social da propriedade através do furto, o que é um equívoco. Não importa o valor, a pena não passa de quatro anos, ainda que se for de uma fortuna no banco, se alguém conseguir sozinho furtar um banco de forma simples (sem qualificadoras, porque se não vai para oito anos), em princípio, não pode ser preso preventivamente, mas furtou um banco. Hoje é melhor furtar sozinho, furtar acompanhado de alguém é burrice duas vezes: primeiro porque vai caber a preventiva, 2 anos. Segundo que tem que dividir o dinheiro, se tiver êxito. Melhor é furtar sozinho, pois se der certo pode ficar com dinheiro todo e se der errado vai ficar solto. Isso parece uma ironia, mas é uma preocupação válida. O Prof. vai tentar colocar alguns temperos nesta regra, que ninguém fala, só o Pacceli. Na hipótese de concurso de crimes, somam-se as penas, evidentemente. Já se fazia isso para fins de concessão da fiança, súmula 81 STJ: na hipótese de concurso material de crimes, somam-se as penas para saber se cabe fiança, quando a fiança só cabia até dois anos. Por que não aplicar o mesmo raciocínio agora para dizer que cabe a preventiva? Se há concurso material de crimes eu somo as penas para saber se passa de quatro anos. Com uma diferença, agora pouco importa se é reclusão ou detenção. Se há concurso formal eu devo comportar na pena máxima o máximo aumento (estou procurando a pena máxima, e para encontrá-la eu pego a pena máxima e faço o máximo aumento), se passar de quatro anos, cabe. Se for a causa de redução eu faço a mínima redução. Se eu quero encontrar a pena máxima e tenho que fazer uma operação com causa de redução, eu vou encontrar a pena máxima aplicando a menor redução. Se quisesse encontrar a pena mínima eu aplicaria a maior redução. Se for o aumento, para encontrar a pena máxima eu aplico maior aumento, para encontrar a pena mínima eu aplico menor aumento. Se for concurso material, eu somo. Pacceli sustenta isso com toda razão. STJ Súmula nº 81 - 17/06/1993 - DJ 29.06.1993 Fiança - Concurso Material - Soma das Penas Não se concede fiança quando, em concurso material, a soma das penas mínimas cominadas for superior a dois anos de reclusão. Agora, um detalhe interessante, tudo na vida tem prós e contras. Essa modificação que passa a desprezar a espécie da pena (reclusão ou detenção) resolveu um problema que era um grande incômodo, pelo menos doutrinário, já que poucos casos se revelaram na jurisprudência, que era o cabimento da prisão preventiva no infanticídio. Antes não cabia, como regra, porque é punido com detenção. Mas a pena máxima era de seis anos. No sistema anterior, em princípio, só se fosse pelas exceções, pelo inciso I não cabia prisão preventiva em infanticídio, porque a pena era de 6 anos de detenção. Só cabia, como regra, na pena de reclusão. Agora como não importa a espécie de pena, e sim a quantidade, e no infanticídio pena máxima de seis anos, passa, em tese, a caber a prisão preventiva no infanticídio, em princípio, tem que ver depois os motivos. Haverá até uma certa dificuldade, a ré estava sob a influência do estado puerperal, talvez não se justifique num primeiro momento o motivo de ordem pública, mas pode até acontecer dependendo do choque que causar o infanticídio, enfim, depende do caso concreto, como, por exemplo, as crianças estranguladas com o próprio cordão umbilical, etc, na época tinha uma razão de ser. Havia gravidez que era escondida naquela época, hoje não, hoje num primeiro momento, pode até chocar, mas logo depois não acontece como antes. Não tem muita razão para não se criar um vínculo afetivo com um filho ao ponto de rejeitá-lo, inclusive matá-lo no nascimento, que era a justificativa do estado puerperal. Na cultura atual há não mais esse motivo, nem o motivo de vergonhapara ninguém ter filho não programado, como no passado já foi. Falava-se em filiação ilegítima há alguns anos atrás, isso, felizmente, mudou. Essa regra, muitos sustentam que não é exigível tempo de prisão na chamada prisão preventiva subsidiária, que vai ser tratada depois. Aquela decretada porque decretou-se uma cautelar não-prisional e não adiantou. Diz o Pacceli que se eu não puder prender, ainda que a pena não ultrapasse 4 anos, nesse caso, fica inócua a cautelar que eu decretei, então como uma espécie de sanção processual ao descumprimento da cautelar não-prisional, abstrai-se a pena, e, segundo Pacceli, cabe sempre (esse "cabe sempre" eu nao tenho certeza se ele falou isso mesmo, tá meio difícil de escutar essa parte -> 37 min. 58 seg.), mas não de cara, só se decretada a cautelar não-prisional e ela for descumprida, como forma de dar eficácia àquela cautelar. Claro, havendo previsão de pena privativa de liberdade, porque do contrário não caberia nem a cautelar não-prisional, e o réu se livraria solto como já demonstrou Prof. Então se respeitaria só piso, estar prevista pena privativa de liberdade, e não ser esta pena superior a quatro anos no máximo. E, recentemente, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu, negando um habeas corpus, afirmando que em se tratando da prisão decorrente de conversão também não importa a pena. O Prof., particularmente, não concorda com essa distinção nesse caso. A subsidiária tem razão de ser, mas a decorrente de conversão, não. Seria imaginar que fosse uma outra espécie de prisão preventiva, e não é. É, didaticamente, mas não em essência. O Prof. colocou no quadro várias espécies para poder explicar a diferença entre uma e outra, mas não é uma prisão própria, porque o que se quis foi exatamente que não fosse. Não se quis mudar o nome da prisão em flagrante para abstrair do link com preventiva, o que se quis foi exatamente linkar a preventiva com o flagrante, então não se justifica no modo de entender do Prof., mas foi um precedente comemorado, inclusive, no ambiente interno do ministério público do Rio de Janeiro, como uma vitória do grupo de habeas corpus. O Prof., particularmente, acha que essa decisão não vai resistir se depois for recorrida, até com HC de HC para o STJ. Num primeiro momento a posição foi favorável, mas o Prof. crê que não vá resistir daqui para frente, mas que se frise que já há precedente no Rio de Janeiro que falou que não se exigia a pena para prisão decorrente de conversão. Nesse ponto Prof. discorda, na doutrina ele não se lembra de ninguém sustentando dos atuais comentaristas das reformas, ele viu no Pacceli, mas com relação somente às subsidiárias, que concorda, mas não com relação à decorrente de conversão. Então, como regra, é aí que cabe o pressuposto. Exceções: inciso II - qualquer crime doloso, independente da pena... No inciso II, cabe prisão preventiva em qualquer crime doloso independente da pena, caso haja condenação anterior por outro crime doloso já transitado em julgado. Essa era a chamada reincidência em perspectiva: se ele for condenado será considerado reincidente. Então, na perspectiva de se condenado for reincidente, independente da pena cominada cabe, em tese, prisão preventiva, desde que se trate de crime doloso, não culposo, o que até rendeu uma discussão: saber se no inciso I caberia prisão preventiva em caso de crime culposo. Porque no sistema anterior, só cabia em crime doloso, por que o caput falava em crime doloso. Logo não cabia, pelo caput, preventiva em crime culposo. Agora, o caput não fala mais em dolo ou culpa, ele fala qualquer crime, não fala se doloso ou culposo, o inciso I fala de pena de quatro anos e o inciso II só fala em doloso. A contrario-sensu, no inciso I cabe preventiva em crime culposo? Mas qual é o crime culposo que tem pena máxima superior a quatro anos? Ainda que não tenha hoje, pode vir a ter amanhã... AGORA O PROF. FALA QUE ESSA EXPLICAÇÃO FINAL SE REFERE AO INCISO III, por que o inciso III que era o inciso IV, estava jungido ao caput, que fechava em doloso. No inciso I não terá esse problema, mas no inciso III terá, se o crime envolver violência doméstica, não fala se doloso culposo, até ampliou, não só a mulher, colocou outros personagens, mas está jungido ao caput, não ao inciso I ou o inciso II, e o doloso saiu do caput e foi para o inciso I e inciso II. O problema, portanto, era no caso do inciso III, se envolvesse violência doméstica. No próprio inciso II tem essa discussão. Se ele hoje comete um crime culposo e foi condenado antes por crime doloso. O próprio inciso II levanta essa questão. Aí o Prof. responde o seguinte: o "outro" fecha. Se ele já foi condenado por "outro" crime doloso significa que esse deve ser doloso também. O inciso I para falar a mais essa discussão se levanta no inciso II e III. Para o Prof., o inciso II é fácil de resolver, porque ao falar em outro crime doloso, significa, implicitamente, que este crime cometido depois também deve ser doloso. Eu posso ter cometido antes um crime doloso, e agora cometi um crime culposo, como um homicídio na direção de veículo automotor (aí só tem que ter cuidado para ver se a pena não vai passar de quatro anos, porque no inciso I não caberia, mas pode caber pelo inciso II, independente da pena, a questão é: caberia a prisão preventiva neste caso? O Prof. acha que a colocação de "outro" crime doloso indica que não, que este também tem que ser doloso, se não o anterior não seria "outro" crime doloso, falaria só "condenação por crime doloso", se fala em "outro" é porque esse também é. (Aí ele repete isso de novo). Alguém pergunta alguma coisa e o Prof. responde: o problema é que não está jungido ao "doloso" do caput. Mas aí também tem uma solução, o Prof. sempre sustentou que só atrai a incidência da Lei de Violência Doméstica o crime doloso, porque não há reprovabilidade no crime culposo, ora, se o marido que nunca teve problemas no relacionamento com sua mulher, bate com o carro e ela morre, não há que se atrair a incidência da lei Maria da Penha, ele acha que a violência a atrair a incidência das regras mais severas da lei Maria da Penha é a dolosa, não a culposa. Se o marido está limpando uma arma de fogo e sem querer dispara e atinge a mulher, e nunca teve histórico de violência doméstica, e nenhuma suspeita de dolo, não há porque atrair a aplicação da lei Maria da Penha. Crime culposo qualquer um pode cometer, o desvalor é da ação, não do resultado, da ação imprudente, não da ação dolosa, o resultado não foi desejado. Claro que seria melhor se falasse "doloso" no caput, porque evitaria todos esses problemas, mas o Prof. continua sustentando que não cabe prisão preventiva em crime culposo, para ele a mudança não alterou isso, mas pode haver polêmica. O que aumentou, foi que no inciso III, a violência não ficou restrita contra a mulher, acrescentaram-se criança, adolescente, idoso, enfermo e deficiente, parece, para Prof., que já preparando o terreno para as legislações já projetadas, como o Estatuto da Juventude, o Estatuto do Deficiente, tentando trazer o mesmo modelo de proteção a esses personagens, como o Estatuto do Idoso que existe, então, consagrou-se o que já existe e já se abriu compatibilidade para o que já está projetado para vir a existir. Na verdade isso era o inciso IV que virou III e que se ampliou incluindo esses personagens não mais adstrito à mulher vítima de violência doméstica. Aí, independente da pena, sempre caberá prisão preventiva sempre que o crime envolver violência doméstica contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo e deficiente, de modo a garantir a eficácia de medida produtiva. E agora
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