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Resenha Didatica

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
MBA EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL
Resenha Crítica de Caso 
Glaucia Ramalho Cruz
Trabalho da disciplina Didática do Ensino Superior
 		 Tutor: Prof. Dalta Barreto Mota
Rio de Janeiro 
2019
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EDUCAÇÃO POPULAR E ENSINO SUPERIOR EM PAULO FREIRE
Referência: 
BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e educação popular. São Paulo: Ática, 1982. [ Links ]
FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Ática, 1968.
FREIRE, Paulo. Cartas à Cristina: reflexões sobre minha vida e minhas práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015. Organização e notas de Ana Maria Araújo Freire. [ Links ]
1 - Sérgio Haddad indicou uma referência importante para esse horizonte de pesquisas sobre o tema, incentivado neste artigo por Beisiegel. No livro de Paulo Freire Cartas à Cristina, a 16ª carta tem o título O papel do orientador de trabalhos acadêmicos numa perspectiva democrática (FREIRE, 2015).
Introdução
No artigo “Educação popular e ensino superior em Paulo Freire”, de Celso Rui Beisiegel, que foi professor titular e diretor da FEUSP, além de pró-reitor de Graduação da USP, o autor se propõe a investigar as possíveis contribuições de Paulo Freire ao ensino superior considerando-as como decorrência de suas concepções sobre o homem, a educação e a sociedade; e colocando-as no contexto das mudanças que ocorreram na educação escolar brasileira desde meados do século XX. Trata-se uma reflexão original, até mesmo inesperada, uma vez que Paulo Freire é geralmente associado à educação popular e à alfabetização de adultos. E só foi possível em razão do profundo conhecimento de Beisiegel sobre o pensamento freiriano, do qual ele se aproximou ainda nos anos 1960. O artigo vem acompanhado de um texto de Marilia Pontes Sposito “Celso de Rui Beisiegel: o legado de um intelectual em defesa da educação popular pública”, que sintetiza a trajetória de Celso Beisiegel e apresenta o artigo publicado.
Desenvolvimento
O texto provoca reflexão, traça inquietações e descortina novas possibilidades. De início, reconhece a pouca presença, nas reflexões do educador, de menções ao ensino superior, mesmo tendo passado pela experiência da docência universitária no Recife, na Suíça, no Chile, nos Estados Unidos, na Unicamp e na PUC paulista. Mas o reconhecimento do pesquisador atento não impede a recuperação de momentos importantes de uma reflexão ético-política. Em um dos momentos do artigo, Beisiegel aponta que Paulo Freire
[...] afirma, enfaticamente, que a aproximação da universidade aos interesses das classes populares não poderia ser entendida como ausência de compromisso com o rigor e a competência. Pelo contrário, envolvia rigorosa preocupação com a qualidade da docência e da pesquisa científica.
Mas uma outra chave se abre na esteira das reflexões empreendidas por Beisiegel sobre a educação popular: as recentes e incompletas transformações observadas no ensino superior e a expansão, ainda que incipiente, da oferta de vagas na Universidade pública nas primeiras décadas do nosso século.
Para Beisiegel, a partir de sua compreensão da Educação Popular, estaríamos diante de uma conjuntura histórica que ampliou as aspirações e o acesso à escolarização, uma vez que segmentos das classes populares começaram a ter presença mais efetiva no ensino superior.
Decorrentes de um conjunto de ações governamentais empreendidas na primeira década de nosso século, as denominadas políticas afirmativas conformaram um conjunto heterogêneo – é forçoso reconhecer – nem sempre voltado para a consolidação do caráter público da educação, mas apontaram novos dilemas para o ensino superior, sobretudo aqueles enfrentados pelas Universidades públicas.
O acesso de egressos do ensino médio público e dos segmentos populares, bem como de negros e de indígenas, a um degrau novo da escolaridade, tornando o contingente discente universitário mais diversificado, suscita o desafio de compreender o sentido de tal presença, resultando no necessário enfrentamento do tema da qualidade do ensino e da permanência daqueles que nela ingressem até a conquista da titulação. Em síntese: do que se trata a defesa da democracia e do direito à educação pública nos dias de hoje, sob o ponto de vista ético-político? Trata-se de uma nova dimensão da Educação Popular concebida como uma oferta da escolaridade que alcança as classes populares? As contribuições de Paulo Freire poderiam inspirar um conjunto novo de problemas a serem investigados?
No início de seus trabalhos Freire, como ele mesmo declara, “não enxergava” uma relação entre educação e política, somente depois descobriu aspectos políticos na educação. Daí a relação educação-política passa a sofrer substanciais mudanças no transcorrer de seu discurso.
  A democracia é tema básico da prática e da teoria de Paulo Freire, uma democracia liberal, social, socialista, mas, sempre democracia. A questão central que percorre todo o discurso freireano, em todos os momentos, é a educação e pedagogia enquanto prática e teoria contribuintes da “radicalidade democrática”. Freire nunca admitiu o autoritarismo.
Educação, uma nova educação, para Freire, só poderia ser possível com uma profunda mudança da sociedade, da política (“politicagem”), da ética, do cotidiano dos indivíduos e dos grupos sociais. Essa nova educação não aceita a constante exploração dos oprimidos. Seria uma educação “para a autonomia e para a capacidade de dirigir”, para formar cidadãos plenos, enfim, uma educação cidadã.
Freire foi um incentivador de programas para a educação de adultos. As implicações políticas da educação de adultos excederam as metodologias de instrução formal. Esses programas são mais ligados às necessidades da comunidade e mais sensíveis às suas pressões do que a instrução formal. Portanto, essa “educação popular” deve ser entendida como uma forma de educação desenvolvida pelo oprimido do que para o oprimido.
Era um homem que tinha a capacidade de constante progressão, defensor do processo de conhecimento crítico. Era consciente de sua incompletude. Paulo Freire não parou de “fazer história” e “ser feito por ela”.
  Suas propostas foram feitas para serem recriadas, conforme o cotidiano, o imaginário, os interesses e os valores, conforme as condições de vida de seu praticante, sejam educandos ou educadores.
 As análises de Beisiegel, é certo, nos convidam a realizar um amplo programa de investigações e uma cartografia aprofundada dessa nova configuração histórica. Estaríamos, assim, diante de novos desafios para a Educação Popular.
Conclusão
Verificamos, neste trabalho, o grau de importância que o pensamento do educador Paulo Freire teve em ressignificar a concepção de Educação popular. A proposta de uma educação que não se limite somente ao contexto escolar, mas que dialogue com as relações sociais que se estabelecem na sociedade foi a principal marca deixada por esse educador. 
É fato, também, que hoje é crescente a luta constante de vários educadores pela garantia de uma escola pública, de qualidade e democrática, na perspectiva de que a Educação popular funcione no sentido de democratizar não somente o ensino, mas também democratizar a sua estrutura, sua mentalidade dominante, suas relações pedagógicas e seus processos educacionais, como é mencionada por Florestan Fernandes (1968). 
Isto nos leva a considerar a Educação popular mais que uma proposta de educação, sendo, sobretudo, uma proposta política da classe trabalhadora, cujo objetivo não se esgota em si mesmo. Sua finalidade torna-se decisiva como instrumento de transformação da consciência para uma luta contra hegemônica. Nesse sentido, a Educação popular deve ser realizada de diferentes esferas, por meio de atividades formais ou não formais, sendo, um produto de práticas sociais. Não se trata, portanto, de uma escolha pedagógica, nem de uma proposta datada e situada num tempo.Ao contrário, através da superação dialética do conhecimento, vão se criando e se recriando novas formas e novas práxis de Educação popular. 
Paulo Freire é, dessa forma, uma leitura primordial a educadoras e educadores preocupados com as condições existenciais de seus educandos. A importância da análise freireana se dá em conjunto com educadores e educadoras num constante e necessário diálogo com o mundo e com as possibilidades de sua transformação. É na prática dialética de escutar, refletir, engajar-se, que a teoria de Paulo Freire encontra sua necessária dimensão pedagógica-política, tão atual e necessária, tantos nos espaços formais quanto nos não formais que pretendam uma emancipação de indivíduos e grupos.
O ponto fundamental de toda esta análise é reconhecer o papel de uma postura ética na atuação educativa no ensino superior e a rica contribuição do autor Paulo Freire sobre a necessidade da obtenção desta postura para uma educação real e significativa. Entende-se, portanto, que a perspectiva educacional adotada pelo professor diferencia totalmente a sua prática docente.
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