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Homem e Sociedade

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Homem e Sociedade
Introdução
Esta disciplina é uma introdução à Antropologia. A Antropologia nos permite entender melhor o contexto na qual os seres humanos desenvolveram suas culturas.
Cultura, natureza e sociedade
A natureza determina a formação e o comportamento de uma sociedade. A sociedade é a forma que os seres humanos encontraram para melhor sobreviverem. A cultura organiza as formas de cooperação entre os seres humanos e assim organiza a sociedade.
O comportamento do indivíduo
Nosso comportamento é resultado da seguinte combinação: nossas capacidades inatas (nascemos com elas); a influência da cultura em que vivemos; nossa história de vida pessoal. Precisamos de referências de comportamento da sociedade. Somos indivíduos sociais.
A herança genética
Ainda não sabemos por que as pessoas têm determinadas habilidades físicas. Algumas dessas habilidades permitem que nós tenhamos sucesso com algumas especializações. A maioria das especializações (plantar, cozinhar, construir etc.) pode ser aprendida. É mais fácil percebermos nossa herança genética a partir das coisas que não podemos fazer (correr rápido, cantar bem, pular alto etc.).
A divisão sexual do trabalho
A cultura foi construída para facilitar a proteção da procriação. Para os seres humanos, importante é garantir que os filhos cresçam e também se reproduzam. Os homens não têm inclinação natural para cuidar das crianças. As primeiras culturas determinaram uma divisão do trabalho pela característica de gênero. Mulheres cuidam dos filhos e da comida e os homens cuidam da proteína (caça) e da segurança.
A divisão do trabalho e a organização da família
A Antropologia percebeu que a divisão do trabalho por gênero também foi seguida por uma divisão do trabalho por qualidade inata: alguns caçam melhor do que os outros; outro sabe pescar melhor; outra sabe cozinhar melhor; outra entende de plantas que servem de medicamentos; outro tem força física para quebrar pedras; outro corre muito rápido e serve de mensageiro.
Para organizar a família, os seres humanos criaram regras de procriação, chamadas de tabus. Essas regras determinam quem pode casar com quem: pai não pode casar com a filha. Os pais entendiam seus filhos como seus bens, sua propriedade. Assim, os pais podiam dar sua filha em casamento para obter a aliança do homem que iria procriar com ela.
A Teoria da Evolução
Até o século 19, acreditava-se que o mundo tinha sido feito em uma semana e que tudo nasceu ao mesmo tempo: todas as plantas; todos os animais. Charles Darwin foi o primeiro a perceber que a vida se desenvolve o tempo todo, criando espécies que sobrevivem às intempéries. A evolução não acontece por mutação da espécie, mas por extinção de uma espécie, que abre espaço para outra espécie.
Consequências da Teoria da Evolução
Adaptação ao meio As espécies se adaptam ao meio ambiente porque as características genéticas mais bem sucedidas naquele meio acabam sendo transmitidas através das gerações. Isto acontece porque os indivíduos da espécie que não nascem com as características necessárias para o sucesso morrem antes de procriar. Este processo dura entre 100 e 200 mil anos.
O ser humano também viveu este processo de adaptação. Nas tribos que formavam as populações na antiguidade, todas as pessoas eram muito parecidas. Se lembramos dos vikings, dos esquimós ou dos zulus, lembramos também que eles eram muito parecidos entre si.
As tribos tinham formas próprias de construir casas, uma alimentação composta de alimentos encontrados ao redor e hábitos culturais que permitiam sobreviver naquele meio ambiente.
A cultura do ser humano se desenvolveu de acordo com a descoberta das plantas comestíveis e das formas de caça mais eficientes. Os antropólogos entenderam que este processo de desenvolvimento de métodos de sobrevivência – a forma original de cultura – facilitou a sobrevivência de apenas determinados indivíduos da tribo. Por isso, nas antigas tribos, todos os indivíduos eram muito parecidos.
A evolução humana mudou com a agricultura
Com a agricultura, o ser humano passou a ter uma nova relação com o meio ambiente. As tribos ficaram fixadas em determinados territórios e aprenderam umas com as outras a cultivar preferencialmente alguns alimentos. Aprenderam a desenvolver suas línguas a partir da imitação dos sons dos pássaros e da imitação dos próprios sons corporais.
A agricultura permitiu maior quantidade de alimento para todos. A comida foi, durante milênios, o bem mais precioso da humanidade. Com o controle cada vez maior do fogo, o ser humano finalmente conseguiu trabalhar os metais, criando, assim, armas mais eficazes. Dessa forma nasceram as primeiras civilizações.
As primeiras civilizações
As primeiras civilizações precisaram organizar as famílias por meio das regras de casamento, organizadas por tabus. Assim, as populações puderam crescer na medida em que o ser humano ultrapassou a barreira que a natureza impõe através da seleção natural. Havia comida suficiente e regras familiares para permitir que até mesmo os menos adaptados pudessem sobreviver.
Período Neolítico – aproximadamente de 12.000 a 6.000 a.C. Começa a divisão sexual do trabalho, que determina as tarefas masculinas e as femininas, e a sociedade se divide em camadas sociais. Primeiras manifestações religiosas, crenças em divindades. Sedentarismo; surge a cerâmica e a tecelagem e a fundição de metais. Surge o comércio e o uso de moeda; surge a propriedade privada. O período Neolítico termina com o domínio da escrita
Com o aumento da população, as pessoas puderam se especializar mais no trabalho que faziam com mais facilidade. Isso deu início à divisão do trabalho e também à hierarquia social. Os antigos caçadores se transformaram em guerreiros. Ao invés de caçarem animais, passaram a combater outras civilizações. Quatro mil anos antes de Cristo, os seres humanos inventaram a escrita e passaram a escrever sua história.
Na medida em que tentavam explicar as coisas da natureza, passaram a explicar o mundo através da invenção de deuses. A primeira grande civilização foi a egípcia, pois eles aprenderam a lidar com o tempo observando as estrelas. Dessa forma puderam planejar melhor a agricultura, tornando-se o reino do Egito o mais rico do mundo por quase três mil anos. Também foram os primeiros a estruturar a sociedade de uma forma duradoura.
A invenção dos deuses
Como o comportamento social acaba permitindo a estrutura da sociedade, surge o espaço para diversas formas de expressão do indivíduo. Para explicar os comportamentos psicológicos diversos, os seres humanos inventaram que estes comportamentos eram inspirados por diversos deuses. Da mesma forma que os deuses influenciavam a natureza, deviam também influenciar os seres humanos.
A família dos deuses
Os deuses antigos eram organizados em famílias, pois assim ficava mais fácil explicar as características das pessoas dentro da família. Como por séculos a principal tarefa dos homens era proteger a família, a hierarquia dos deuses era a mesma das famílias. Os homens mandavam, pois eram os pais que tinham gerado os filhos
Deuses e humanos: as trocas
Quando as tribos se formaram, a partir da expansão das famílias, nasceram as trocas. As trocas são fruto da divisão do trabalho: eu caço, você pesca e aquela mulher cuida da plantação. Para que todos tenham um pouco de tudo, são trocados os bens.
Quando as tribos precisavam que os deuses mudassem o comportamento da natureza, pediam para os deuses. Rezavam para chover ou para parar de chover. Caso os deuses não ouvissem, sugeriam uma troca na forma de um sacrifício. Primeiro sacrificavam animais para que os deuses “comessem” a oferenda. Algumas civilizações chegaram a oferecer meninas em sacrifício para que elas fossem casar com os deuses.
As trocas também incluíam os filhos e filhas das famílias. Os pais consideravam seus filhos como seus bens e trocavam o casamento deles por acordos de cooperação. Uma família guerreira protegia uma famíliade agricultores, pois seus filhos eram casados. Isso criou formas de hierarquia na sociedade, que sempre foram organizadas a partir das famílias dos guerreiros.
As trocas e o desenvolvimento da cultura
As trocas precisavam ser controladas. Para isso, a escrita e logo depois os números passaram a registrar tudo o que era trocado. Isto criou a organização social. Como estes registros são formas de comunicação, a antropologia moderna defende que a comunicação também é parte importante da vida do ser humano.
As trocas não são apenas materiais. Existem também trocas simbólicas. Uma troca simbólica é justamente o casamento dos filhos de duas famílias. A cerimônia não pretende determinar a posse dos filhos, mas principalmente os acordos entre as duas famílias. Essa troca simbólica do casamento é que acabou determinando a importância da virgindade da mulher.
As trocas simbólicas criaram a noção de parentesco. Criaram também a ideia de reciprocidade: eu faço algo por você e você retribui de alguma forma. As trocas materiais e simbólicas acabaram por estruturar as relações sociais. Novamente, a escrita serviu para documentar o que tinha sido trocado, qual tinha sido a combinação feita.
Cada sociedade acabou atribuindo a noção de valor às coisas que eram importantes ou escassas. Para facilitar as trocas, criou-se o dinheiro, que eram moedas de metal precioso que serviam para dar maior liberdade ao sistema de trocas. Com isso nasceu o comércio, que era a profissionalização da atividade de trocas.
Com o comércio, as trocas serviam para que os comerciantes mais espertos acumulassem uma maior quantidade de bens materiais. Com uma maior quantidade de bens materiais, surgiram os deuses para proteger o comércio e os comerciantes. Nasceu também a justiça para regular a relação de trocas.
As trocas criam a moral
As trocas criam a necessidade de uma regulamentação que chamamos de justiça. A justiça cria uma hierarquia de valores, determinando o que é justo e o que não é. A essa hierarquia de valores damos o nome de moral. Então, cada civilização acaba por determinar o que é justo e o que é moral.
A moral varia, portanto, de civilização para civilização. No Ocidente, adotamos os valores morais da civilização judaica. Seguimos os mandamentos que Moisés recebeu de Deus. Então, nossos valores morais estão atrelados às trocas simbólicas que surgem a partir dos Dez Mandamentos.
A moral cria a cultura
O maior valor moral é simbólico: O respeito. A partir dos valores morais organizamos nossos hábitos e costumes. Os hábitos e costumes são a cultura de uma sociedade. Quanto mais regras sociais conhecemos, inclusive de outros povos, mais temos cultura.
Toda cultura é composta de valores simbólicos. Os valores simbólicos, uma vez aceitos por uma sociedade, determinam todas as demais trocas materiais. Assim percebemos que os valores simbólicos se baseiam em valores morais que organizam a justiça na sociedade.
A cultura organiza a justiça Quanto mais os hábitos e costumes incluem o respeito, mais a sociedade inclui a aceitação da diversidade das pessoas. Isto permite o combate ao racismo, à homofobia e colabora para a inclusão social dos deficientes físicos e mentais. O próprio respeito faz com que estes deficientes sejam hoje em dia chamados de pessoas portadoras de necessidades especiais.
A cultura organiza os símbolos
Os hábitos e os costumes acabam sendo representados por símbolos. Isto permite à civilização a construção de significados. Toda sociedade constrói sua forma de ver o mundo através de significados simbólicos. Isto é expresso por meio da língua.
 As línguas têm desenvolvimento próprio. Os hábitos e costumes acabam sendo nomeados de forma especial por uma língua. Quando uma sociedade não tem um determinado hábito ou costume, acaba importando uma palavra e seu significado de outra língua.
Assim, as diferentes culturas acabam promovendo trocas simbólicas entre elas. Às vezes estas trocas acabam por influenciar os costumes de uma civilização. Os comportamentos são importados. Os significados são importados.
As trocas simbólicas entre culturas
Promovendo trocas simbólicas entre culturas, construímos o entendimento entre elas. Com a construção do entendimento comum, diminuímos as diferenças entre as diversas sociedades. Com a adoção de símbolos comuns, criamos um capital cultural.
Franz Boas (1930) – “A cultura inclui todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo na medida em que são afetadas pelos costumes do grupo em que vive, e os produtos das atividades humanas na medida em que são determinados por tais costumes”. B. Malinoswki (1931) – “Esta herança social é o conceito central da antropologia cultural. Normalmente é chamada de cultura na moderna antropologia e nas ciências sociais. A cultura inclui os artefatos, bens, procedimentos técnicos, ideias, hábitos e valores herdados. Não se pode compreender verdadeiramente a organização social senão como uma parte da cultura”.
W.H. Goodenough (1957) – “A cultura de uma sociedade consiste em tudo aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitável os seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoções, mas em uma organização de tudo isso. É a forma das coisas que as pessoas têm em sua mente, seus modelos de percebê-las, de relacioná-las ou de interpretá-las.”
Clifford Geertz (1966/73) – “Se compreende melhor a cultura não como complexos de esquemas concretos de conduta – costumes, usos, tradições, conjuntos de hábitos – mas sim como planos, receitas, fórmulas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam de ‘programas’) e que governam a conduta”. “Cultura é um sistema simbólico, característica fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada, significados e sentidos às coisas do mundo”
Anthony Giddens (1989) – “Cultura se refere aos valores que compartilham os membros de um grupo, às normas que estabelecem e aos bens materiais que produzem. Os valores são ideais abstratos, enquanto que as normas são princípios definidos ou regras que as pessoas devem cumprir”.
Cada vez mais, o ser humano acaba se percebendo como membro da mesma espécie. Isso possibilita maior entendimento e consequente aceitação entre pessoas diferentes. Na medida em que entendemos melhor o planeta, conseguimos ver o meio ambiente como um todo, igual para todos os povos.
As trocas criam uma cultura comum
 Com uma cultura comum, as tradições das sociedades são abandonadas em favor de hábitos comuns. Aqueles que defendem as tradições tentam impedir as trocas simbólicas e defender uma forma antiga de ver o mundo. Neste sentido, toda tradição está condenada a acabar.
Determinismo e ideologia
Teses que procuram explicar o comportamento de populações humanas a partir da determinação de um pequeno conjunto de características externas: “todo brasileiro sabe jogar bem futebol.” Ideologia é um conjunto de ideias que organizam uma forma de pensar. Geralmente, as ideologias geram preconceitos contra quem pensa de forma diferente.
As diferenças culturais são cada vez menores
As maiores diferenças entre as sociedades contemporâneas dizem respeito aos hábitos e costumes religiosos. É a defesa desses hábitos que acaba promovendo a violência moderna. A educação tem, por este motivo, a tarefa de diminuir as diferenças culturais. Isso se faz ensinando os códigos de convivência e cooperação social.
A educação diminui as diferenças culturais
A educação tem, como tarefa maior, preparar as pessoas para conviverem em sociedade. Quanto menos diferenças na forma de ver o mundo, maior a compreensão mútua. Por este motivo, sociedades educadas têm menores índices de violência. Quanto mais educação, mais trocas simbólicas acontecem.
Cultura
Existem vários significados para cultura: forma de fazer as coisas cotidianas; formas de pensar; arte de um povo.
A cultura pode ser estudadapor meio da ciência
Antropologia Começou estudando sociedades primitivas. Hoje estuda as diversas formas de adaptação ao meio ambiente. Estuda, inclusive, os hábitos cotidianos. Pesquisa sociedades e suas diversas formas de habitar o planeta.
Pesquisando uma cultura
 A cultura de uma sociedade consiste em tudo aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitável os seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoções. É a organização de tudo isso. É a forma das coisas que as pessoas têm em sua mente, seus modelos de percebê-las, de relacioná-las ou de interpretá-las.
A cultura é composta de muitos atos
 Atos são todas as ações humanas. As ações humanas são determinadas de formas diferentes, que dependem do sistema simbólico de um povo. O sistema simbólico nasce com a utilização da língua. A língua dá significados aos sentimentos e às coisas materiais, aos objetos. Dessa forma, um povo consegue dar sentido à sua existência. Quando um povo consegue se relacionar entre si e com o meio ambiente, alcançou uma cultura.
O sentido determina valores
Os valores determinam o que é bom para um povo: é bom chover? É bom fazer calor? Os bens materiais são utilizados de acordo com os valores: é bom sair de casa quando chove? É bom usar roupa leve no verão? Os valores são ideais abstratos. Para manter os valores são criadas as normas e regras que as pessoas devem cumprir. Essas normas criam a tradição.
As tradições são como programas de computadores
A tradição normatiza a forma de viver em um determinado meio ambiente. As regras da tradição visam a facilitar a sobrevivência. Por isso, cada povo desenvolve suas tradições. O conjunto das tradições de um povo é sua cultura. As tradições culturais determinam a forma de sentir, de pensar e de atuar de um povo.
Uma cultura exibe significados e atuações
A capacidade de criar, planejar, prever, avaliar, imaginar, atribui significado. Esses atos modificam a natureza por necessidade de sobrevivência e para que as pessoas se sintam bem. A organização desses atos com a atribuição de significado é a capacidade de simbolização. Culturas diversas simbolizam de forma diferente: pense nos nomes dos dias da semana.
A cultura cria formas diferentes para símbolos diferentes
No começo, os seres humanos construíam cabanas. Hoje existem diferenças para as moradias: casas, apartamentos. Os abrigos para o trabalho são as fábricas, lojas e escritórios. Cada povo desenvolve uma arquitetura diferente.
A cultura nunca está parada
 Na medida em que descobrimos novas coisas na medicina, na engenharia e na ciência em geral, modificamos nossos hábitos, portanto, nossa cultura. Nossos hábitos mudam de acordo com as descobertas das ciências.
A cultura determina adaptação
O fato de que em cada lugar exista uma cultura diferente não é algo que tenha que ser solucionado. Isso é próprio de nossa espécie. A adaptação conta com uma série de diferenças: a qualidade da água, as temperaturas médias do lugar, os materiais de construção disponíveis, o conhecimento da matemática etc.
 A cada experiência social deve corresponder um conjunto de valores e práticas. Uma experiência social é qualquer evento partilhado pela sociedade: casamentos, festas religiosas, festas civis (por exemplo, o carnaval), rituais culturais de maturidade etc.
Nenhum povo pode repetir a história dos outros como se fosse uma receita. Mesmo boas ideias que são transportadas para outras culturas precisam de adaptação. Por exemplo, tomar banho era um hábito dos índios. Com os séculos, os portugueses assumiram este hábito. Depois da Segunda Guerra Mundial, povos como os alemães e os norte-americanos passaram a tomar banho diariamente.
Diversidade cultural
 Cada sociedade adota determinados hábitos e eles são realizados de formas diferentes. Antigamente acreditava-se que existem culturas superiores e inferiores. As culturas superiores seriam as que dominam melhor as ciências e criam técnicas e equipamentos tais como automóveis e computadores.
A diversidade cultural é expressa por meio dos idiomas, dos costumes, como a culinária, e dos valores sociais. Cada cultura assume os valores que permitem que uma sociedade conviva melhor entre si e com o meio ambiente.
A cultura é expressa pela comunicação
A formação de uma cultura depende primeiro da língua, da comunicação que ela estabelece e das formas simbólicas que ela desenvolve. Língua, conceitos, valores, ideias, crenças, tudo o que faz parte da cultura humana é baseado em símbolos. Através de uma convenção social, os símbolos são associados pelos indivíduos a um mesmo significado, tornando possível a interpretação dos conteúdos comunicados.
O que é um símbolo? Nós convencionamos que a palavra flor simboliza uma coisa que encontramos na natureza e que é uma parte do organismo de algumas plantas. A palavra flor não é a “coisa real” que existe na natureza. É um som que representa essa realidade. Esse é um primeiro passo para entendermos o processo de simbolização.
A arte é o conjunto de representações simbólicas
 A arte é, em essência, simbólica. O artista procura sempre “representar algo”. Na pintura, na música, na dança, o artista procura, por meio da forma obtida (a forma plástica, a sonoridade ou o movimento), criar um símbolo para algo visto, percebido, sentido ou experimentado antes.
A maior parte de nossa comunicação diária tem como finalidade narrar, descrever, lembrar, conceituar coisas que não estão presentes. Retiramos todas as coisas de seus contextos originais, que não podem ser reproduzidos em toda a sua riqueza e complexidade, e escolhemos alguns de seus aspectos a serem ressaltados. Assim é que nós simbolizamos as experiências vividas e através dessa comunicação simbólica podemos atribuir qualidades ao mundo. “Essa flor tem cheiro de infância”.
Os símbolos são sempre ligados a uma sociedade
Os símbolos são frutos dos significados da rotinização de soluções racionalmente pensadas de significados coletivamente construídos. A cada cultura corresponde um processo coletivo único de criar símbolos, portanto, a maioria dos símbolos cotidianos tem um significado apenas local.
As trocas mercantis, às vezes, são seguidas por trocas de símbolos
A atuação do mercado, que aumenta a necessidade humana das trocas, é responsável pelo deslocamento dos símbolos de seu contexto original e pela incorporação de significados extras locais. Ou seja, os símbolos passam de uma cultura para outra sem carregar necessariamente seus significados originais e atribuídos localmente. Exemplo: dólar, hotel, restaurante, táxi.
Os significados e os símbolos
“Cultura é um sistema simbólico, característica fundamental e comum da humanidade, de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada, significados e sentidos às coisas do mundo.”
Com as trocas, os símbolos podem ganhar novo significado
Como os símbolos cotidianos dependem do consenso em torno da interpretação, é muito comum que, quando usados em um contexto diferente do original, eles sejam interpretados de formas inusitadas ou até mesmo incorretas. Ao saírem de sua cultura original, os símbolos podem chegar a sociedades onde não há convenção sobre como eles devem ser interpretados. Então, as pessoas tendem a dar o sentido mais apropriado ao seu próprio contexto.
Os significados são partilhados em uma cultura
Quando os símbolos são reinterpretados, as culturas começam a se apropriar deles com uma nova interpretação. Cachorro-quente: o que é na sua cidade? Shopping center: esse é o nome em inglês? Jeans: qual o tecido original do jeans?
As relações humanas dependem de valores e regras
 Aprendemos as regras sociais repetitivamente durante a vida, até que se tornem hábitos. O que torna possível essa educação para agir de acordo com as regras de uma sociedade é a socialização. Aprendemos regras do mundo doméstico, da escola, do convívio com amigos, do trabalho, da religião e assim por diante.Em cada universo social existem os valores que são mantidos pelo grupo e fazem parte das condutas pessoais.
Valores e regras
Para participar de um grupo, precisamos abrir mão da maior parte dos impulsos individualistas. Para isso, é necessário adotarmos uma lógica que pressupõe uma forma de controle do grupo sobre os indivíduos. Esse controle se dá por meio da aplicação das normas e dos valores sociais.
Os valores são responsáveis por noções coletivas que possibilitam aos indivíduos considerar/julgar as atitudes dos outros como “boas” ou “ruins”, “certas” ou “erradas”, “justas” ou “injustas”. As normas nos ajudam a diferenciar entre condutas “próprias” ou “impróprias”. As regras são conjuntos de normas que regulam o nosso comportamento
Transformamos algumas regras em hábitos e alguns hábitos em regras. A tendência de um grupo social é estabelecer seu próprio conjunto de valores, que pode estar em consenso total com aquele mais geral ou pode estar em total desacordo. A maioria dos grupos tende a concordar com a totalidade desses valores.
Entretanto, a discordância é bem possível e pode gerar transformações a longo prazo. Depende da relevância e da legitimidade que um conjunto de valores de um grupo possa adquirir perante o resto da sociedade. Exemplo: que tipo de roupa deve ser utilizada em um banho de mar? Que tipo de roupa deve ser utilizada por um advogado em um tribunal?
Existem vários níveis de “vigilância” que a sociedade cria para zelar pelo cumprimento dos valores e normas. Um é o nível institucional: existem instituições para punir quem não se comporta “adequadamente”, como escolas, prefeituras, a polícia, as leis e a jurisdição, o Estado.
Também existe um outro nível de “vigilância”, que é o convívio social. Nos contatos, podemos observar como as pessoas julgam a todo tempo a conduta umas das outras. Se as normas não valem para todos, não há coletividade.
As regras são a garantia do grupo social de que cada um de nós tome atitudes, na maior parte do tempo, de acordo com a convenção e não com os impulsos pessoais. Ao repetirmos os hábitos sociais realizamos a possibilidade de convivência em grupo, evitando atitudes conflituosas e individualistas que exigiriam uma constante negociação das partes envolvidas até chegarem a um acordo.
Cada povo, uma cultura; cada cultura, uma sentença
Novamente, a diversidade cultural: ao formar uma coletividade, o ser humano desenvolve hábitos de convívio e soluções para sua vida social, que podem ser extremamente variados; denominamos essa variação de hábitos de diversidade cultural.
Nossa reação perante as diferenças de comportamento de um lugar para outro podem ser orientadas pelo etnocentrismo ou pelo relativismo cultural. A rejeição do diferente é o etnocentrismo. A aceitação do diferente é o relativismo
Em cada cultura, o ser humano desenvolve respostas e soluções originais e diferentes para sua vida em sociedade. Isso tanto em relação às técnicas de sobrevivência e transformação da natureza à sua volta, quanto às regras de convívio social. Mesmo em ambientes semelhantes, podemos encontrar exemplos de formas culturais bastante diferentes entre si. Quando colocadas em contato, as diferenças culturais suscitam reações que podem ir da simples admiração ou humor até o ódio mais violento.
Quando essa reação ao diferente faz com que as pessoas julguem a sua própria cultura superior à outra, chamamos de etnocentrismo. Praticar o etnocentrismo é o mesmo que colocar minha própria cultura como centro do mundo, a partir da qual todas as outras são comparadas inferiormente, nunca se igualando à superioridade da minha.
Na linguagem antropológica, quando estamos lidando com uma pessoa com hábitos diferentes dos nossos, com uma outra cultura, estamos perante o “outro”. Esse outro pode ser alguém que não fala minha língua, que não se veste como eu, mas também pode ser alguém que compartilha muitos hábitos semelhantes aos meus e outros nem tanto.
A nossa capacidade de nos relacionarmos com o “outro” é chamada de alteridade. Essa capacidade nos torna pessoas mais flexíveis e mais criativas em soluções, pois ampliamos nosso universo de visão do mundo, saindo da própria “casca”. Quanto mais fechados em nosso próprio universo cultural, menos possibilidades temos de compreender a riqueza humana de criar diferentes perspectivas para uma mesma questão.
Quando somos capazes de avaliar uma cultura alheia sem utilizar o tempo todo a nossa própria cultura como parâmetro de comparação, estamos relativizando. Relativizar é aceitar outras soluções de mundo sem querer transpor de forma simples essa solução para um contexto em que ela não se encaixa.
Um índio brasileiro trabalha em média três horas diárias e não frequenta a escola. Ele não precisa se preocupar com sua qualidade de vida, pois todos em uma tribo possuem exatamente o mesmo nível econômico. Sua qualificação para o trabalho se dá durante seus contatos com indivíduos mais experientes e as crianças participam com os adultos de todas as atividades, sendo submetidas desde cedo às estratégias de sua cultura para sobreviver.
Como a sociedade não conhece diferenças econômicas, não existe criminalidade, violência ou problemas sociais como drogas, prostituição e doenças mentais. Assim, não podemos generalizar nossas comparações, não podemos julgar com preconceitos, ou seja, antes de conhecer e ponderar as implicações e os aspectos de cada traço de uma cultura, como sua tecnologia, seu conhecimento, suas leis ou suas crenças. Isso é relativizar, analisar cada aspecto de uma cultura de acordo com seu próprio contexto
Não existe uma objetividade total na forma como o ser humano observa, apreende e conceitua o mundo. Existem, sim, métodos de conhecimento que podem chegar a uma maior objetividade, como a ciência e a filosofia.
Já o senso comum e as religiões não exigem objetividade, pois são formas de conhecimento atravessadas por valores muito próprios, dos quais não podem abrir mão. No caso do senso comum, as afirmações são feitas sem qualquer pesquisa ou indagação; para as religiões, existem os princípios de fé em preceitos e dogmas que afirmam verdades sobre o mundo.
Apesar de vivermos de formas muito diferentes de um lugar para o outro, temos as mesmas necessidades enquanto seres da mesma espécie. Organizamo-nos coletivamente, criamos instituições capazes de resolver certos problemas. Dividimos socialmente as tarefas, criamos grupos de exercício das habilidades sociais, defendemos nossa cultura, educamos as novas gerações de acordo com nossos valores, ritualizamos nossas crenças e ouvimos os nossos chefes. Não existe sociedade perfeita.

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