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MATERIAL DE APOIO II
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
Estimadas alunas e estimados alunos:Nesta coletânea são apresentadas – de forma resumida – as temáticas abordadas nas últimas aulas do semestre. Boa leitura!!!
TEXTO 10 
Violência: um grave obstáculo para o estabelecimento de relações comunitárias
Violência: antes de tudo é um problema de saúde coletiva. Não está restrito ao âmbito da segurança pública.
Incialmente cabe indagar: O QUE É VIOLÊNCIA? Existe diferença entre agressividade, agressão e violência?
Agressividade: constitutiva do eu. A agressividade pode ser sublimada, podeser recalcada, não precisa ser atuada, pois o humano conta com o recurso dapalavra, da mediação simbólica na base da constituição do eu e na sua relação com seus objetos. Agressividade está na ordem libidinal. Agressão: ato que causa dano. Este causar dano, necessariamente, não tem a finalidade de destruir o outro. Por exemplo: pais que não permitem que o filho assista determinados programas na televisão. De alguma forma, causam danos (restringem/limitam), mas trata-se de um dano que se justifica (educação). 
Violência: “[...] emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos (COSTA FREIRE, 2003 apud CAIMI; OLIVEIRA; HAUSHAHN) A violência implica em causar danos que não se justificam, que são direcionados somente para submeter ou coisificar o outro. • A violência, qualquer que seja a sua forma, deve ser significada como um fenômeno relacional e não apenas intrapsíquico ou individual.
As ações do psicólogo social comunitário estão norteadas por estratégias voltadas para o estabelecimento de relações dialógicas, participativas e, portanto, horizontais. Por conseguinte, o tema da violência está presente no cotidiano do profissional que atua neste contexto. 
Assim, a implementação de políticas de prevenção à violência – concebidas a partir do campo da saúde coletiva – tem se tornado uma importante estratégia de enfrentamento das “violências” que incidem sobre contextos comunitários vulneráveis. Cabe aqui salientar que, partindo dos fundamentos do paradigma ecológico contextual da psicologia comunitária (KELLY, 1992), preferimos a adoção do termo “violências” (no plural), em detrimento do termo “violência” (no singular). O plural salienta e melhor define o caráter multicausal desse fenômeno, que envolve aspectos desde um nível macrossocial (fatores políticos, econômicos, culturais), até uma esfera microssocial (fatores psicológicos, entre outros). Aproximamo-nos, assim, do conceito de violência estrutural proposto por Minayo e Souza (1997-1998, p. 8), segundo o qual a violênciase aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte[2: Extraído de: RODIGUES, Anelise L.; SARRIERA, Jorge C. Capacitação de gestores em programa de prevenção da violência comunitária.Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 2, p. 145-151, maio-ago. 2015. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/829. ]
A violência na perspectiva psicossocial[3: Extraído de: MINHAYO, Cecília. Conceitos, teorias e tipologias de violência: a violência faz mal à saúde. FrioCruz. Disponível em: www1.londrina.pr.gov.br/.../205631-conceitos_teorias_tipologias_violencia.pdf]
- A violência é um fato humano e social: Não se conhece nenhuma sociedade totalmente isenta de violência. Ela consiste no uso da força, do poder e de privilégios para dominar, submeter e provocar danos a outros: indivíduos, grupos e coletividades. Há sociedades mais violentas do que outras, o que evidencia o peso da cultura na forma de solução de conflitos.
- A violência é histórica: Cada sociedade, dentro de épocas específicas, apresenta formas particulares. Por exemplo, há uma configuração peculiar da violência social, econômica, política e institucional no Brasil, na China, na Holanda. Da mesma forma, a violência social, política e econômica da época colonial brasileira não é a mesma que se vivencia hoje, num mundo que passa por grandes transformações. Há formas de violência que persistem no tempo e se estendem por quase todas as sociedades. 
- A violência abrange todas as classes e os segmentos sociais•A violência também está dentro de cada um: Do ponto de vista social, o antídoto da violência é a capacidade que a sociedade tem de incluir, ampliar e universalizar os direitos e os deveres de cidadania. No que tange ao âmbito pessoal, a não violência pressupõe o reconhecimento da humanidade e da cidadania do outro, o desenvolvimento de valores de paz, de solidariedade, de convivência, de tolerância, de capacidade de negociação e de solução de conflitos pela discussão e pelo diálogo.
- A violência tem solução: Por ser histórica e por ter a cara da sociedade que a produz, a violência pode aumentar ou diminuir pela força da construção social. Suas formas mais cruéis – que ocorrem nos níveis coletivos, individuais e privados – precisam ser analisadas junto com as modalidades mais sutis, escondidas e simbólicas, de forma muito profunda e aberta, para que todos possam colaborar. Afinal, todos são atores e vítimas.
Organização Mundial da Saúde (OMS): a categorização da Violência
A OMS fornece um modelo útil para compreender os padrões da violência que ocorrem no mundo, na vida diária das pessoas, das famílias e das comunidades. Conforme este modelo, a violência é dividida em três grandes categorias: violência dirigida a si mesmo ou auto infligida; violência interpessoal; violência coletiva.
- VIOLÊNCIA AUTO INFLIGIDA: Comportamento suicida: envolve tentativas desuicídio e/ou pensamentossuicidas.• Auto abuso: inclui atosde automutilação.
- VIOLÊNCIA INTERPESSOAL: (1) Violência da família ou parceiro íntimo ocorre entre membros dafamília e parceiros íntimos. Esse grupo inclui as formas de violênciacomo abuso infantil, violência contra a mulher, violência sexual,violência contra idosos, violência contra pessoas com deficiência. •(2) Violênciacomunitária – ocorre entre pessoas sem laços de parentesco,podendo ser conhecidos ou estranhos. Geralmente ocorre fora decasa, nos espaços públicos. Este grupo envolve os casos de estupro pordesconhecidos, violência juvenil, violência institucional (em escolas,asilos, trabalho, prisões, serviços de saúde etc.) e a violência no trabalho(assédio moral e sexual).
Ressalta-se nesta categoria a violência institucional: Exercida nos/pelos serviços públicos e privados por ação ou omissão. INCLUI: Da falta de acesso à má qualidade dos serviços. Abrange abusos cometidos em virtude das relações de poder desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições.
- VIOLÊNCIA COLETIVA: (1) Social: nesta subdivisão estão os crimes de ódiospor grupos organizados, atos terroristas e violênciasde multidões.(2) Política: inclui guerras e conflitos de violência,violência de estados e atos de grandes grupos. (3) Econômica – ataques de grupos maiores motivadospor ganhos econômicos, para interromper aatividade econômica de um país ou região, negaracesso a serviços essenciais ou criar fragmentaçãoeconômica.
A violência coletiva/estrutural: Está relacionada tanto às estruturasorganizadas institucionalizadas como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de determinadas pessoas a quem se negam vantagens da sociedade, tornando-as mais vulneráveis o sofrimento e à morte. Inclui a violência criminal.
Em relação a violência criminal suas maiores ocorrência não nas áreas mais pobres e sim nas regiões mais dinâmicas onde se processa a atividade econômica. Esse tipo de violência inclui também os pobres que vivem nos municípios ricos. Sem emprego e sem condições de empregabilidade, muitos deles se engajam nos projetos de comercialização de armas e drogas, a troco de um salário, para eles, vantajoso. Entram nos conflitos, na linha de frente dos combates, sobretudo visando ao acesso imediatoa bens de consumo fugazes e caros. Os jovens pobres fazem parte do grupo que mais morre e perde a vida precocemente, alimentando as estatísticas policiais e das penitenciárias
A violência estrutural é difusa, silenciosa e “legitimada” como normal.• Se expressa pela desigualdade social: Fome/desemprego.•Abandono/desrespeito/desconsideração como cidadão.•Discriminação social/racial/etária/gênero/ religião. •Por condição de saúde (pessoas com AIDS, tuberculose, dentre outras).
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA(conceito elaborado por Pierre Bourdieu)
Este conceito é importante porque permite compreender melhor as motivações profundas que se encontram na origem da aceitação de atitudes e comportamentos de submissão.
A violência simbólica permeia a “naturalização” das relações sociais assimétricas (dominação/submissão)•Nesses cenários: os dominados assimilam os valores dos grupos dominantes. Consequência: tornam-se cúmplices da ordem estabelecida sem perceberem que são as principais vítimas dessa mesma ordem. 
A violência simbólica é exercida por meio de um conjunto de mecanismos sutis de conservação e reprodução das estruturas de domínio. 
	Dois exemplos de violência simbólica que permeiam o cotidiano de muitas pessoas
	
	
Violência simbólica, os discurso de ódio e o linchamento digital:Incitar à violência e estimular a prática de crimes são elementos constitutivos do chamado discurso do ódio, que pode ser assim definido:[...]refere-se a palavras que tendam a insultar, intimidar ou assediar pessoas em virtude de sua raça, cor, etnicidade, nacionalidade, sexo ou religião ou que tem capacidade de instigar a violência, ódio ou discriminação contra tais pessoas.[4: Extraído de: SANTOS, Marco A.; CUNHA, Renata A. Violência simbólica nas redes sociais: incitação à violência coletiva(LINCHAMENTO)VII Congresso brasileiro da sociedade da informação regulação da mídia na sociedade da informação São Paulo, 16 e 17 de Nov.2014. • ]
As redes de comunicação são fundamentais na propagação do discurso do ódio. Na atualidade, as redes sociais, em especial, ofacebook, e otwitter, se transformaram em terreno fértil para o discurso do ódio, seja por comunidades criadas com este intuito ou o registro de qualquer comentário incitador. Importante lembrar da expressão “pós verdade”: consistena relativização da verdade,na banalização da objetividadedos dados e na supremaciado discurso emotivo. Isto significa que os fatos objetivos têm menosinfluência(e, em inúmeras circunstânciastal influência é quase nula)na formação da opinião pública do que apelos à emoção e às crenças pessoais. Tal expressão, por sua vez, está articulada aos chamados linchamentos virtuais: exposição e humilhação pública de alguém que começamno ciberespaço, mas não se encerram nele; ou ainda, eventos do cotidiano que foram levadosàs redes sociais para serem julgados. 
Natureza da violência
Violência Física: bater, empurrar, morder, puxar o cabelo, estrangular, chutar, queimar, cortar, torcer o braço...
Violência Moral: fazer comentários ofensivos: humilhar publicamente ou expor a vida intima. Difamação, calúnia, injúria, ou outras atitudes que visem prejudicar a imagem da vítma diante de outras pessoas. 
Violência psicológica: causa danos à saúde mental e a autoestima: humilhações, ofensas, perseguição, chantagem, insulto, exploração, vigilância constante, limites de ir e viretc.
Violência sexual: qualquer conduta que constranja a presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação, uso de força. toda ação na qual uma pessoa, em relação de poder e por meio de força física, obriga outra ao ato sexualcontra a sua vontade, ou que a exponha em interações sexuais que propiciem sua vitimização, da qual o agressor tenta obter gratificação. • A violência sexual ocorre em uma variedade de situações como estupro, sexo forçado no casamento, abuso sexual infantil, abuso incestuoso e assédio sexual.
Violência patrimonial: destruir pertences pessoais, se apossar de objetos particulares ou ameaça-la a transferir dinheiro ou outro bem para o agressor.
VIOLÊNCIA E SAÚDE PSICOSSOCIAL[5: Extraído de :GONCALVES, Hérica Cristina Batista; QUEIROZ, Marcello Roriz de; DELGADO, Pedro Gabriel Godinho. Violência urbana e saúde mental: desafios de uma nova agenda?. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro , v. 29, n. 1, p. 17-23, Apr. 2017 .]
Contribuições do psicólogo social comunitário nos contextos da Atenção Básica da saúde
Os efeitos psicossociais da violência nas grandes cidades, sobretudo para as populações mais gravemente afetadas, revelam um horizonte de necessidades e de possibilidades de suporte ainda a ser explorado e discutido. O reconhecimento das experiências dos trabalhadores vinculados às Equipes de Saúde da Família e dos saberes locais podem possibilitar maior integração entre todos os atores envolvidos no processo, bem como favorecer a descoberta de novas formas de relação, que sejam capazes de gerar o sentimento de pertencimento, necessário para o exercício do protagonismo comunitário e o cuidado em saúde mental. O desenvolvimento de estratégias psicossociais no território tem como vetor a ampliação da rede de atenção primária, mas coloca para esta rede desafios importantes. O principal deles refere-se à migração das estratégias de cuidado, antes restritas aos ambulatórios especializados, para o contexto do território, seja através de parcerias com os CAPS, seja com o apoio do NASF. Deste modo, as estratégias de cuidado em favor das pessoas afetadas pela violência, e também das equipes de atenção primária, necessitam ser desenvolvidas e aperfeiçoadas, incluindo a complexidade teórico-metodológica e a plasticidade operacional, que são atributos do campo da atenção psicossocial brasileiro. Deste modo, o fio condutor do trabalho em comunidades afetadas pela violência urbana é a valorização dos coletivos para o favorecimento de espaços de circulação da palavra, caminho a ser materializado em propostas que valorizem o saber local e as especificidades de cada comunidade.
TEXTO 11
Considerações acerca da formação profissional do psicólogo social comunitário[6: Extraído de: FREITAS, Maria de Fatima Quintal de. Práxis e formação em Psicologia Social Comunitária: exigências e desafios ético-políticos. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 32, n. 3, p. 521-532, set.2015.]
Nos últimos 20 anos, mais especificamente quando surgiram propostas de implementação de políticas sociais e públicas que estivessem preocupadas com a maioria da população, pode-se dizer que dois desafios importantes para a Psicologia foram colocados. Um deles liga-se ao fato de se ampliarem os cenários de inserção e atuação para o profissional de Psicologia, e o outro desafio, em parte decorrente do primeiro, refere-se à necessidade e expectativa de que a atuação seja diferente dos espaços e paradigmas tradicionais, utilizados nos campos mais conhecidos de atuação (como clínica, consultórios, e mesmo parte das escolas) (Martínez, 2005; Sandoval, 2000; Senra&Guzzo, 2012; Silva, 1998).
Espera-se que esse profissional, em sua prática, atenda a três demandas: 
- Atue de maneira não mais individual e psicologizante.
- Integre equipes de trabalho multiprofissional.
- Incorpore como objeto de investigação aqueles fenômenos sociais que pareciam poucorelevantes à psicologia tradicional. 
Estas demandas, por si só, apresentam desafios intrínsecos ao processo de formação, visto que a Psicologia, ao longo dos anos, trabalhou exatamente ao contrário. Em outras palavras, trabalhou de modo a adotar modelos de psicologização das relações e da vida cotidiana, além de ter se posicionado como se fosse um "sujeito único" hegemônico na sua prática, seja quando da produção de conhecimentos, seja quando das decisões sobre o quê fazer com o seu objeto de trabalho e investigação.
Deparamo-nos, então, com um paradoxo. De um lado, há um cenário rico em diversidades e temáticas para a atuação dos profissionais de psicologia, o que poderia contribuirpara uma maior exigência de qualificação em sua formação para lidar com os problemas sociais. De outro, ainda presenciamos a manutenção de uma preparação frágil e compartimentalizada para lidar com esse tipo de prática, cujas exigências ultrapassam mais do que mudanças espaciais e geográficas na atuação. Essas exigências, em verdade, mostram a necessidade de que haja mudanças paradigmáticas e ontológicas que levem a apreender e compreender o objeto, da inserção e atuação dos profissionais de psicologia, dentro de uma relação compartilhada, horizontal, partícipe e histórico-dialética. Com isso estaria sendo garantida a coerência com os pressupostos epistemológicos ligados à construção de uma profissão socialmente relevante e comprometida com a superação dos problemas sociais com os quais trabalha.
[...]
Pode-se, então, perguntar sobre o que existiria entre as práticas da Psicologia Social Comunitária (PSC) e as propostas da sociedade civil para o atendimento das necessidades principais da maioria da população? Este ainda é um debate atual localizado na discussão sobre as relações Profissão e Sociedade, atravessadas pelo processo de formação. Quão distantes ou quão próximas ambas estariam e como isto poderia afetar a vida das pessoas nos espaços sociais em que vivem e atuam?
Após esta breve contextualização a respeito de alguns desafios à formação são apresentadas a seguir, seis necessidade da formação para a práxis em Psicologia social comunitária: 
	
Dimensão epistemológica (Primeira necessidade): é importante o conhecimento histórico-crítico a respeito da construção sócio-política da vida cotidiana dos diferentes grupos e comunidades com os quais se pretende trabalhar, relacionando-o às dimensões local, regional e global. Isto contribuirá para uma análise contextualizada e para a compreensão histórica sobre os determinantes estruturais e conjunturais da dinâmica e contexto comunitários.
Enquadramento teórico central: (Segunda necessidade): é imprescindível que os cotidianos de existência das pessoas e as redes de convivência comunitária construídas sejam tomados como matriz principal, nos trabalhos comunitários. Isto significa compreender a vida dessas pessoas em várias dimensões, interligadas e interdependentes: nos seus problemas cotidianos, nas suas possibilidades de enfrentamento, nos seus projetos de utopia para a sociedade, e na construção de ações coletivas e comunitárias. Significa realizar uma análise conjuntural e estrutural no plano psicossocial, que ultrapasse explicações reducionistas, psicologizantes e pontuais, e que permitam criar novos sentidos e significados para o presente (que inclui a construção de projetos de vida nas múltiplas dimensões: individual, grupal e coletiva). 
Alianças e projetos políticos (terceira necessidade) faz-se necessário compreender como se articulam e se comprometem os diferentes movimentos sociais, grupos comunitários e diversos segmentos da sociedade, em torno de uma proposta coletiva e voltada a fins coletivos e solidários.
Desnaturalização da vida cotidiana e concepção sobre o que é o fenômeno psicológico na dinâmica comunitária (quarta necessidade): liga-se a como fazer com que as pessoas acreditem que vale a pena, também, participar, nas esferas públicas e coletivas, como sendo uma condição importante para o fortalecimento das redes e projetos comunitários. E, também, refere-se às concepções e compreensões que os agentes comunitários têm a respeito do que é e não é um fenômeno psicológico, nas diferentes dinâmicas comunitárias.
Compreensão da dinâmica das relações do trabalho comunitário (quinta necessidade): refere-se às ferramentas utilizadas e ao "olhar" construído para compreender o que se passa na vida cotidiana de tais práticas envolvendo todos os atores sociais. Isto significa compreender as: (a) razões para realização do trabalho (para comunidade, profissionais, stakeholders, agências governamentais, etc.); (b) relações entre agentes internos e tipo de participação construída entre eles; e (c) características da prática desenvolvida e frutos obtidos.
Avaliação e impactos das práticas em comunidade (sexta necessidade): refere-se a construir recursos e ferramentas, colaborativas e participativas, de avaliação. Eles devem ser específicos a cada contexto e dinâmica, com a finalidade de saber se o trabalho é, de fato, prioritário e imprescindível; se estaria atendendo a que necessidades e de quem; se traria mudanças relevantes e, se as produzisse seria na perspectiva de quem.
- Com base nas seis necessidades descritas são apontados cinco princípios norteadores e respectivas categorias conceituais para formar para a práxis em Psicologia Social Comunitária
	Princípios
	Categorias Conceituais e dimensões envolvidas
	1.Análise conjuntural e estrutural sobre a (re)produção da existência humana.
	Construção social da vida cotidiana.Fundamentos da vida societal. Impactos nos processos psicossociais. Conhecimentos inter e multidisciplinares sobre relações humanas e sociais.
	2.Conhecimentos inter e multidisciplinares e trabalho coletivo.
	Aportes da educação popular.Aportes da investigação-ação-participante. Processos grupais. Pressupostos do trabalho comunitário coletivo.
	3.Caráter pedagógico daformação e politização no cotidiano.
	Compromisso social e político com os oprimidos. Processos de participação e conscientização. Desnaturalização da vida cotidiana ('despsicologização' e 'despatologização'da vida cotidiana e das relações sociais).
	4.Construção participativa deobjetivos a posteriori.
	Relações horizontais, partícipes e dialógicas. Conhecimento interprofissional com mesmo status social e científico. Ferramentase instrumentos colaborativos e participativos.
	5.Avaliação da população aotrabalho realizado.
	Caráter temporário do trabalho. (Des)continuidade da prática. 
Psicologia Social Comunitária e compromisso social[7: Extraído de: BOCK, Ana M. B. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Estudos de Psicologia 1999, 4(2), 315-329. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v4n2/a08v4n2.pdf.]
Lembrete antes de tudo é fundamental considerar que não basta querer ajudar para afirmar que determinada prática está em consonância com o compromisso social. Assim, torna-se pertinente indagar: o que significa assumir um compromisso social? 
Assumir um compromisso social em nossa profissão é estar voltadopara uma intervenção crítica e transformadora de nossas condiçõesde vida. É estar comprometido com a crítica desta realidade apartir da perspectiva de nossa ciência e de nossa profissão. É problematizar (e romper)com um saber que oculta esta desigualdade atrásde conceitos e teorias naturalizadoras da realidade social. Assumircompromisso social em nossa prática é acreditar que só se fala do serhumano quando se fala das condições de vida que o determinam.
Termos práticas terapêuticas deve significar termos práticas capazes de alterar a realidade social, de denunciar as desigualdades, de contribuir para que se possa cada vez mais compreender a realidade que nos cerca e atuarmos nela para sua transformação no sentido das necessidades da comunidade social. Assumir compromisso social em nossa ciência é buscar estranhar o que hoje já parece familiar; é não aceitar que as coisas são porque são, mas sempre duvidar e buscar novas respostas. Compromisso social é estranhar, é inquietar-se com a realidade e não aceitar as coisas como estão. 
É buscar saídas.Por conseguinte, é possível afirmar que:
Queremos estar em busca permanente, em movimento sempre. Queremos que o movimento seja a nossa identidade e que a inquietação seja nosso lema.

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