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Bloco 3 - Engajamento, senso de injustiça e meritocracia “É melhor segurar malucos, do que empurrar desengajados.” Partindo de pensamentos como este, Sidnei Oliveira e Eduardo Carmello conversam sobre conceitos como o senso de injustiça e a meritocracia, oferecendo uma noção muito interessante sobre diversas percepções, analisadas pela ótica dos liderados. Os professores abordam também a importância do gestor na aplicação de tratativas diferenciadas e direcionadas que nivelem o engajamento da equipe, gerem resultados e denam um estilo próprio de liderança. Sidnei Tá bom, Du. Nós falamos do líder alinhando para engajar a sua equipe, mas como é que ca o outro lado desta moeda, o prossional? Onde está dentro dele, o que é que ele precisa mexer dentro dele para ele se engajar no projeto, no processo, no trabalho dele? Eduardo Quando você observa os prossionais trabalhando, você consegue identicar três formas de operação, três modus operandi: a gente chama do “engajado”. O engajado é aquele, na equipe, que entrega o prometido e tem uma forte disposição; aquele que, quando você precisa de uma coisa importante, você conta com ele. A gente também tem o “não engajado”. O não engajado é superimportante, é aquele que faz o trabalho dele, mas, se você precisar de alguma coisa, resolver alguma coisa de última hora, ele não dá conta; se você precisar fazer uma inovação, pensar alguma coisa fora da caixa, ele não dá conta – ele faz o que precisa ser feito. E a gente também, principalmente nos momentos de turbulência, a gente tem o “desengajado”. O desengajado é aquele que faz menos do que ele se comprometeu e ele não tem tanta disposição. Então, no Brasil, o engajado – é o que a gente mais espera... É o que a gente mais gosta! Sidnei O sonho do líder é ter toda a equipe engajada, e o líder, quando precisa entregar alguma coisa complexa, ele dá para o engajado, então tem uma questão importante no Brasil. No Brasil, gente que trabalha muito bem tem como recompensa trabalhar mais. Aí, ca preocupante, porque, a rigor, você está me dizendo o seguinte: quem é mais engajado, a rigor, recebe mais desaos ou os desaos mais relevantes, mas isso não cria, justamente, uma desmotivação? Justamente porque ele é sobrecarregado e, eventualmente, ele olha o outro, que é o desengajado, o desengajado é aquele do braço curto, quer dizer, entrega menos do que se espera. De alguma forma, parece que a balança pesa mais para aquele que é mais engajado, e isso não é uma forma de desmotivar? A pessoa não ca assim: “Olha, pô, eu também não estou entregando... O outro não entrega, e eu estou entregando além...” – não ca ruim isso aí? Eduardo Fica, ca ruim, tanto que, nas pesquisas de clima e nas pesquisas de engajamento, pode conferir: os fatores críticos negativos nas pesquisas estão sempre ligados ao que nós chamamos de “senso de injustiça”. É por isso que eu falo que engajamento está ligado a uma questão cognitiva, e não emocional, ou seja, eu posso me tornar desengajado justamente porque eu estou vendo um ambiente em que você tem algum senso de injustiça, porque, veja, o talento que trabalha muito bem – nós, aqui, que somos engajados, você aí que é engajado e que trabalha muito bem –, na verdade, ele não se importa de receber mais trabalho... Ele vai gostar. Onde ele vai se desengajar é quando ele percebe que o líder está dando mais trabalho para ele de alguém que não está fazendo o seu trabalho, então é aí que a liderança se perde, porque ela passa mais trabalho para o engajado e não deixa de, não ensina ao não engajado e não cobra do desengajado. Sidnei Então, mas agora me veio uma outra ideia em cima disso que você falou: meritocracia entra onde nessa história? Eduardo Ela entra de cabeça nesse processo, porque, por mais que a maioria das pessoas não entenda e não goste de meritocracia, mas a meritocracia nesse sentido está dizendo: primeiro, a meri- tocracia a gente pensa só que é pagar para quem faz muito bem, mas essa é uma parte da meritocracia; a outra parte da meritocracia, a essência da meritocracia é você criar um acordo entre o líder e o talento, que é um acordo de produzir excelência, nada menos do que a excelência. Então, é por isso que volta naquela questão: se eu estou trabalhando a mais e estou recebendo a mesma coisa do que o desengajado, eu vou sentir um processo de injustiça. Sidnei É aquele senso de injustiça. Eduardo É, então não é só ligado à questão “Onde é que o líder está falhando?” O líder poderia dar mais trabalho para o engajado, mas ele precisa fazer no seu trabalho de gestão fomentar o desenvolvimento do não engajado e fomentar a cobrança e a gestão de consequências do desengajado, ou seja, se ele está trabalhando de forma singular na sua equipe, aí sim ele tem condições de elevar a régua do engajamento de todo mundo. Sidnei Tá, mas aí não corre o risco de ele nivelar todo mundo? Vamos supor que você tenha uma equipe de dez pessoas – dois são engajados, não engajados, que entregam o esperado, e cinco são desengajados. Você não está nivelando por baixo a equipe? Eduardo Então, o trabalho de meritocracia e o trabalho de engajamento são justamente o contrário: você ter o engajado como o modelo de excelência e o líder oferecer práticas diferenciadas para o desengajado e para o não engajado para que eles subam a régua. Diferentemente do que a gente vê em outros lugares, em que a gente abaixa a régua para ser medíocre, na excelência é justamente o contrário. Então, o que é a gestão do engajamento? É oferecer essas práticas diferenciadas para que você tenha o que nós chamamos de uma “marca de liderança”, ou seja, eu vou, seja qual o meu talento, a gente sabe que eles estão engajados porque o líder fez um trabalho muito bom de gestão desse engajamento. Sidnei É, uma vez eu vi um gestor de RH falando uma presença da cultura da empresa dele: “É melhor segurar maluco do que empurrar o desengajado.” Quer dizer, o líder que consegue engajar melhor, ele provavelmente vai ter menos trabalho porque ele não está empurrando a equipe dele, e sim ele, eventualmente, está segurando, inclusive, o ímpeto de protagonismo de que nós estamos falando, não é? Eduardo Pois é, é por isso que a questão da essência da gestão do engajamento é importante. Eu estou esclarecendo as expectativas, eu estou comunicando muito bem o que precisa ser feito e eu estou dando a tratativa diferenciada para que esse engajado, ou não engajado ou desengajado, consiga entregar e ter disposição à altura para a gente poder lidar com toda a complexidade e alcançar os objetivos que a gente precisa dentro da organização.
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