Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tácio JR Participação em suicídio (art. 122) 1- Conceito “Participação em suicídio” não é o termo correto, este crime, na verdade, divide-se em Induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio. A nomenclatura usada no título serve para fins didáticos apenas. A lei pune apenas aquele que participa do suicídio de outra pessoa realizando uma das três condutas descritas no tipo penal, ou seja, induzindo, instigando ou prestando auxílio ao suicida. Obs: A lei não incrimina aquele que tenta o suicídio e não obtém êxito. O legislador entendeu que a punição nesse caso teria apenas efeitos negativos, como, por exemplo, reforçar a ideia suicida. Induzimento Significa dar a ideia do suicídio a alguém que ainda não vinha pensando nisso. O agente faz surgir à intenção do suicídio. P.ex.: José estava passeando serelepe no terraço de um prédio com seu amigo Fernando, que começou a dar ideia errada pro José. Pela primeira vez na vida, ele cogitou seriamente em se matar, percebeu que se pulasse morreria e simplesmente pulou. Instigação Significa reforçar a intenção suicida já existente. Aqui, a intenção suicida é preexistente à conduta do agente. P.ex.: José subiu em um prédio e estava prestes a se jogar dele para por um fim à sua vida. Fernando, que estava no terraço tomando um sorvete, começou a gritar “PULA, PULA, PULA...”. José pulou e morreu. Obs: No induzimento, a ideia de suicídio ainda não havia passado seriamente pela cabeça da vítima. Na instigação, por sua vez, a ideia já havia surgido na vítima e o sujeito a estimula. Auxílio Significa colaborar materialmente com a prática do suicídio, quer dando instruções, quer emprestando objetos (arma, veneno) para que a vítima se suicide. P.S.: Essa participação, todavia, deve ser secundária, acessória, pois se a ajuda for a causa direta e imediata da morte da vítima, o crime será o de homicídio -> Suicídio Para fins de tipificação deste crime, faz- se necessário entender o conceito de suicídio. Para o direito penal, suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida. Portanto, se no caso concreto não houver esses dois elementos, não se tratará de suicídio. Se Tício “se mata” ao comer um bolinho envenenado por Mélvio, que agiu com animus necandi (intenção de matar), não há o que se falar em suicídio ou em sua participação, e sim, em homicídio qualificado. Tácio JR 2- Participação moral ou material A doutrina constantemente refere-se à classificação da participação moral e material no suicídio. Em ambas, o agente efetivamente participou do suicídio, porém na moral, ele incute a ideia ou a alimenta, enquanto na material, ele colabora com o suicídio, fornecendo os meios necessários ou até mesmo instruindo o suicida. 3- Consumação e tentativa Para entendermos este tópico, necessário se faz a leitura do preceito secundário do artigo em estudo. Vejamos: “Pena: Reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.” Consumação -> Quando há efetiva morte do suicida. Tentativa -> Quando a tentativa resulta em lesão corporal grave (e por consequência lógica, gravíssima). Obs: Não importa o tempo que medeie entre a conduta do agente e a da vítima. Basta que se prove o nexo causal entre eles. ATENÇÃO!!! A tentativa referente no preceito secundário é a de suicídio, não a de participação. Não existe disposição legal a cerca do crime de participação em suicídio tentado. “Não é possível, pois a lei só pune o crime se o suicídio se consuma, ou se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.” (C. Masson). 4- Demais considerações O induzimento, o auxílio ou a instigação têm que visar pessoa determinada ou determinadas. Por isso músicas e livros que estimulem a prática do suicídio não incriminam seus autores. Deve haver relação de causa e efeito entre o auxílio do agente e a conduta suicida da vítima (nexo de causalidade). Se o agente empresta um revólver e a vítima se enforca, não há crime. A existência desse crime pressupõe que a vítima tenha alguma capacidade de entendimento (de que sua conduta irá provocar sua morte) e resistência. Assim, quem induz criança de pouca idade ou pessoa com grave enfermidade mental a se atirar de um prédio responde por homicídio. Dica: A questão irá enfatizar se for o caso. “Zé, possuidor de enfermidade mental, que limita o seu discernimento” ou algo assim. O art. 146, § 3o, II, do Código Penal estabelece que não há crime de constrangimento ilegal na coação exercida para impedir suicídio. Material Auxílio Moral Induzimento Instigação Tácio JR 5- Causas De Aumento De Pena O art. 122, parágrafo único, dispõe que a pena será aplicada em dobro quando: a) O crime for praticado por motivo egoístico. Ocorre nas hipóteses em que o agente visa auferir alguma vantagem, econômica ou não, em decorrência do suicídio da vítima. b) A vítima for menor De acordo com a doutrina majoritária, esta causa de aumento só tem aplicação quando a vítima for maior de 14 e menor de 18 anos. PORÉM, ESSE NÃO É UM ENTENDIMENTO PACIFICO NA DOUTRINA, muitos fundamentam a tese de que a participação em suicídio de criança menor de 14 anos deve ser considerada como tal, e não como homicídio, conforme prevê a tese majoritária. Portanto, muito cuidado com essa temática durante as provas!!! c) A vítima tiver diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Ocorre quando o agente se aproveita de uma situação de maior fragilidade da vítima para estimulá-la ao suicídio, como, por exemplo, no caso de embriaguez, depressão etc. Obs: Veja-se que a lei se refere à diminuição de tal capacidade, já que a sua total supressão implicará o reconhecimento de homicídio.. Questões 1- No que se refere aos crimes contra a pessoa, é correto afirmar que: A) o homicídio funcional é aquele delito praticado contra autoridade ou agente membro das forças armadas, policiais federais em geral, policiais civis ou militares, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou, ainda, contra seu cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau, em razão dessa condição, incidindo pena privativa de liberdade de doze a vinte anos de reclusão. B) a prática de feminicídio na presença de descendente, ascendente ou colateral da vítima implica no aumento da pena de um sexto a um terço. C) é incompatível o crime de homicídio simples tentado com o caráter hediondo. D) a pena é duplicada para crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio praticado contra vítima menor ou com diminuição da capacidade de resistência. (Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) 2- Em conversa reservada, José expõe a João o desejo de acabar com a própria vida, no que recebe o apoio e incentivo de João à empreitada. Posteriormente, José tenta se suicidar, mas é socorrido por sua mãe e sobrevive com lesões corporais leves. Considerando a situação hipotética, assinale a alternativa correta. A) João responderá por lesões corporais leves. B) João responderá por tentativa de instigação a suicídio. C) João responderá por tentativa de homicídio. D) João responderá por instigação a suicídio. E) Joãonão responderá por crime por ser o fato atípico. (Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Prova: VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) Resumo feito, principalmente, com base em: Cléber Masson, Vitor Gonçalves e Qconcursos.
Compartilhar